É complicado quando você está começando uma vida nova, mas logo já perdendo tudo. Sim, essa sou eu. Sempre é assim... sempre perco as coisas. Bem, vou explicar melhor. Há dois meses me formei na faculdade, já com um emprego fixo e um noivo – chamado – porém, perdi quase tudo. Quero dizer, o meu noivado acabou por motivos realmente ridículos, perdi o meu emprego por causa dele, pois trabalhava para o pai dele e a nossa convivência estava se tornando horrível, - eu não conseguia nem direcionar o meu olhar para ele -, perdi o meu apartamento e agora não tenho para onde ir.
Desde que meus pais morreram num acidente de carro, tinha me mudado para a casa do porque não conseguia viver na antiga casa dos meus pais, a qual eles batalharam muito para conseguir e a qual passei minha adolescência. Haviam muitas memórias e eu simplesmente não conseguia. Então agora a minha última alternativa foi o meu melhor amigo, o , que eu conhecia desde que cheguei em São Paulo. No caso, nos conheciamos há 13 anos. Ele me convidou para morar com ele, enquanto eu estivesse nessa situação e eu não tinha como dizer não. Então cá estou eu, terminando de pôr as minhas coisas no quarto ao qual iria viver até ter condições de me mudar.
- Prontinho... aqui a ultima caixa - falou pondo a ultima caixa no cômodo.
- Muito obrigada, , sério mesmo. Sem você eu não sei o que seria de mim.
- Ah para com isso, . Você sabe muito bem que eu sempre vou estar aqui e que não precisa agradecer.
- Mas mesmo assim!
- Tá bom - resmungou-, agora eu tenho que ir, vou lá encontrar com uma gata. - falou brincalhão.
- Tudo bem, seu mulherengo - sorrimos -, boa sorte no encontro.
- Não vai reclamar? - Neguei. - Sério? Você sempre reclamava por eu sempre trocar de garotas como se estivesse trocando de roupa! - Ele falou sorrindo.
- Eu não tenho o que reclamar, eu estou na sua casa, só vou pedir pra que não faça muito barulho durante a noite, amanhã tenho que acordar cedo e preciso dormir bem. - Falei, também rindo.
- Ok - sorriu-, não vou fazer, prometo. Agora vem cá. - falou, ainda sorrindo e me puxou para um abraço.
Nossos corpos se chocaram levemente e eu senti uma sensação um pouco estranha. Seu perfume levemente amadeirado me inebriava e a sensação só aumentava. Nos separamos, ele sorriu, deu um tchauzinho e saiu do quarto. Assim que ele saiu, comecei a arrumar as coisas, que eram poucas.
Acordei em um sobressalto e um pouco suada. "Foi apenas um pesadelo", pensei. Passei a mão pela minha testa, arrumei um pouco o cabelo e me levantei, saindo do quarto e indo em direção ao banheiro. Lavei meu rosto, fiz a minha necessidade e quando saí do banheiro reparei que ainda estava de madrugada. Fui até a cozinha, peguei um copo, botei um pouco d'agua e quando já estava bebendo, quase tive um ataque cardíaco por causa do susto que o me deu quando entrou na cozinha.
- Você quer me matar? - Perguntei ainda assustada e olhando para ele que estava apenas de samba-canção.
- Claro que não, você é que quer! Ainda acordada?
- Na verdade, só acordei por causa de um sonho ruim e você? Chegou agora?
- Não - sorriu -, cheguei há um tempo... só fiquei com um pouco de sede.
- Hum - murmurei -, ela tá aqui?
- Não, na verdade o encontro não deu muito certo... ela não é do meu ritmo.
- Ah sim... então já vou indo, tenho que acordar cedo.
- Ok.
Dias se passaram
Ultimamente tenho me sentindo tão estranha. Quero dizer, quando o chega, o meu coração dispara ou quando ele diz que vai ter um encontro fico irritada... eu não posso estar gostando dele. Ele é meu melhor amigo, isso é errado. Ele nem sente o mesmo que eu e vive a sua vida de mulherengo... esse sentimento pode acabar com a nossa amizade. E era totalmente verdade, por isso estou tentando retirar certos pensamentos e esse sentimento de mim.
Encachei a chave na fechadura, abri e quando adentrei na sala, vi uma mulher sentada no colo do aos beijos com o mesmo. Fechei a porta tentando fazer o menor barulho possível para eles não me perceberem, mas não foi possível. Eles olharam pra mim imediantamente parando os beijos, então fiz o meu caminho até o meu quarto a passos largos e de cabeça baixa, fechando a porta rapidamente atrás de mim. Larguei a bolsa em cima da cama, retirei o meu uniforme do restaurante da bolsa, retirei os sapatos – colocando os mesmos embaixo da cama -, prendi meus cabelos em um coque desarrumado e no topo da minha cabeça e saí do quarto, indo em direção ao banheiro com a minha muda de roupa em mãos. Quando estava cruzando a sala, vi eles parando de se beijar novamente, então falei:
- Não precisam parar, eu não me incomodo.
sorriu e então entrei no banheiro, mas aquilo era mentira. Me incomodava sim.
Estava na lavanderia esperando minhas roupas secarem, quando comecei a ouvir I Wish da Cher Lloyd no meu celular e aquela música estava me definindo nos últimos dias. Nunca fui alta, nem tive tanta bunda e peitões, nunca me destaquei muito entre as outras mulheres/meninas, nunca tive tanto estilo também... e geralmente o pega mulheres desse tipo. Realmente tive sorte de ter tido o , sinceramente.
- Moça? Suas roupas já secaram.
- Ah sim, me desculpe - falei pegando as minhas roupas e saindo da lavanderia.
- Ué, porquê você está sozinho? - Perguntei assim que entrei no apartamento.
- Ela começou a reclamar que você estava nos atrapalhando... mas você mora aqui também e tem o direito de andar pelo apartamento quando bem quiser, então a mandei embora. Ela era chata mesmo e eu não estava sentindo vontade. - Falou dando de ombros.
- Ah sim... hum - pigarreei -, me desculpe por isso.
- Você não precisa se desculpar, sabe disso.
- Tudo bem. - Falei e quando já estava entrando no meu quarto, ele falou:
- Vem cá, fica um pouco aqui comigo.
Aquela frase fez o meu coração dar pulos e quase me sufocar, pensei seriamente que ele iria sair pela minha boca e ficar correndo por aí. Deixei as roupas em cima da minha cama e voltei até a sala, me sentando ao lado dele no sofá.
- Você tem planos para essa sexta-feira?
- Depois do trabalho? Não mesmo, por quê?
- Nada... só queria sair um pouquinho com você, faz tempo que não saímos juntos. - Ele falou.
- Sei...
- Vai ou não? - Ele perguntou olhando pra mim sorrindo, ele sempre conseguia me persuardir.
- Tá bom. - Falei rindo.
Já era sexta-feira e eu estava um pouquinho atrasada para chegar em casa, tomar banho e sair com o , com toda certeza ele iria me matar. Subi todos os degraus correndo, até chegar ao ''nosso'' andar, abri a porta e encontrei um de cara feia de frente para a porta.
- Pensei que você iria me dar um bolo - resmungou.
- Claro que não! O transito hoje estava horrivel, você sabe...
- Tá bom, vai tomar banho, vai! Já fiz o favor de separar a sua roupa, então vai logo.
- Ok, seu estressadinho.
Passei por ele, o encarando um pouco espantada e fui em direção ao meu quarto. Assim que entrei no cômodo, encontrei um dos meus vestidos azuis-marinho em cima da cama. Eu adorava aquele vestido por ele ser simples e ainda bonito. Peguei o vestido de cima da cama e vi que embaixo dele estava minhas peças íntimas, também azuis... "Não acredito que ele mexeu nas minhas roupas íntimas", pensei. Ao menos ele não tinha se atrevido a pegar um sapato também.
Peguei a roupa, passei pela sala, vendo ele assistindo TV distraído e entrei no banheiro. Tomei uma ducha rápida, me vesti, fiz uma trança em meu cabelo úmido e voltei para o meu quarto para me calçar e passar uma maquiagem de leve.
- , vai demorar muito?
- Não, já estou pronta. - Falei terminando de passar meu perfume.
- Okay, então vamos.
Estávamos andando pela calçada, um pouco afastado um do outro, mas logo ele se aproximou mais e segurou a minha mão. Sorri um pouco nervosa e o meu coração acelerou. Ele sorriu e falou:
- Eu adoro quando você está vestida de azul.
- Obrigada... por isso escolheu, certo?
- , me desculpe por mexer em suas coisas, é que eu não queria que demorássemos demais e...
- Não precisa se desculpar, okay? - O interrompi. - Eu adoro esse vestido, ele é o meu preferido.
- Mas eu não estou falando disso, eu invadi sua privacidade.
- Já disse que não precisa se desculpar, tudo bem? Vamos esquecer isso? Eu já esqueci.
- Tudo bem - sorriu -, o que estávamos falando mesmo?
- Para aonde estamos indo, hein?
- Pra casa de uns amigos meus - apertei sua mão, o repreendendo -, calma é um casal... mas depois claro que nós vamos fazer outra coisa... é que eles me convidaram.
- Ah, sim. - Pra aonde estamos indo? - Perguntei enquanto ele segurava a minha mão e ia me puxando.
- Só vamos nos divertir um pouquinho, . Você só vive trancada naquela casa, tem que sair um pouquinho, mesmo que estejamos em período de provas.
- Não acredito nisso - resmunguei -, meus pais vão me matar se souberem que eu 'tô saindo e não estudando.
- Eu adoro o seu sotaque nordestino, sabia? - ele falou se virando pra mim e sorrindo.
- Ah, cala boca, oxe!
Ele sorriu e avisou que haviamos chegado. Estávamos numa casa enorme, com pessoas saindo e entrando a cada minuto. Entramos na casa e ele falou:
- Vamos dançar!
- Não mesmo! Eu não sei dançar e você sabe muito bem disso.
- Qual é, ! Vamos! - Ele falou me puxando e paramos no meio da sala, com várias pessoas dançando ao nosso redor.
Eu era uma péssima dançarina, nunca soube rodar direito, sempre me atrapalhava. Mas ele insistia em rodar e cada vez que eu girava, me sentia agoniada e que a minha perna sumcumbia, e a cada passo que eu dava ia perdendo a esperança que poderia melhorar sobre o assunto dança na minha vida. Ele percebeu que eu estava atrapalhada e manerou na condução da dança.
- Você disse que era apenas um casal.
- , eu não sabia que eles tinham convidado mais gente, né? Virei adivinha agora?
- Não.
- Então pronto... vamos lá falar com o pessoal, quero te apresentar pra eles.
O jantar tinha sido maravilhoso, principalmente a sobremesa – sou viciada em sobremesas. Era uma pequena festa, apenas entre amigos, algo bem tranquilo. E todos estavam dançando neste momento, enquanto eu estava sentada no sofá conversando com um dos amigos do .
- Vamos dançar, ? - Perguntou se aproximando de mim.
- Ah, você sabe que eu sou uma péssima dançarina, não dá certo... por que não dança com outra pessoa?
- Qual é! Você dança direitinho comigo, você sabe. Vem. - Falou me puxando. n/a: escute essa música enquanto lê.
Fomos até o centro da sala enquanto os outros dançavam ao nosso redor, ele pôs suas mãos em minha cintura, eu pus meus braços ao seu redor e fomos nos movendo lentamente ao ritmo da música. Essa era uma música que me definia, porém pra vida toda. Sempre me atrapalhava rodando e ele resolveu me girar, porém mesmo esse giro ser meio atrapalhado e meio certo, minha perna sumcumbiu. Ele percebeu que eu estava um pouco desconfortável e manerou na condução.
Você me chamou pra dançar aquele dia
Mas eu nunca sei rodar
Cada vez que girava parecia
Que a minha perna sumcumbia de agonia
Em cada passo que eu dava nessa dança
Ia perdendo a esperança
Você sacou a minha esquisofrenia
E manerou na condução
Voltamos para o "ponto inicial", nos movendo lentamente para um lado e para o outro, porém sem querer pisei em seu pé.
- Me desculpe.
Ele sorriu e disse:
- Não se preocupe... relaxa e deixa que eu te conduzo.
Toda vez que eu errava cê dizia
Pra eu me soltar porquê você me conduzia
Mesmo sem jeito eu fui topando essa parada
E no final achei tranquilo
Só sei dançar com você
Isso é o que o um amor faz
Só sei dançar com você
Isso é o que um amor faz
- Sabe, , eu preciso te falar uma coisa.
- Pode falar.
- Em todos esses anos, guardei isso pra mim, tentei esquecer e afundar esse sentimento lá no fundo. Durante um tempo eu consegui esquecer e me acustomei com a minha vida, mas nesses últimos dias esse sentimento voltou e eu não estou conseguindo guardar mais pra mim. Você sempre me disse que eu tinha um coração de pedra por não ter me apaixonado por alguém, mas ele não é de pedra. Ele sempre bateu e bombeou todo o sangue por você... sempre fui apaixonado por você, , porém não conseguia te dizer... não conseguia te demonstrar e sempre percebia que não era recíproco. Então tinha decidido tocar com a minha vida, já que você tinha seguido com a sua, sempre seguiu... mas eu não consigo mais guardar esse sentimento pra mim.
- ...
- Por favor, me deixa terminar - me interrompeu. - Eu sei que talvez você não me ame como eu te amo e que por causa disso tudo que eu estou falando agora, a nossa amizade acabe, mas eu só quero te dizer que... eu te amo.
- Eu também te amo... - ele arregalou os olhos, então continuei. -É, é recíproco... nesses ultimos dias, você não sabe o que eu tenho sentido só de te olhar com aquelas mulheres que você trazia pra casa... não é nada bom, ouviu? Pode retirando esse seu sorrisinho daí... eu só sei dançar com você.
Ele abriu um sorriso largo, aproximou seu rosto do meu com um contato visual intenso e me fazendo sentir sua respiração calma em meus lábios. Ele se aproximou mais ainda de mim como se a lei física que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço não existisse e grudou nossos lábios em um beijo calmo e lento.
- Só sei dançar com você, isso é o que o amor faz. -repeti o ultimo verso da música assim que separamos os nossos lábios, o fazendo rir e me beijar novamente.
Isso é o que o amor faz...
Fim.
Nota da Autora: Enfim... eu tenho essa short já há algum tempo e gostaria de compartilhá-la com vocês além de algumas amigas a qual mostrei. Espero que realmente tenham gostado, afinal, ela é um xodó pra mim e espero que tenha tornado um pra vocês também, mas se não, eu respeito completamente a sua opinião. Xx Tori. Quem quiser ler as minhas outras fanfics/shortfics:
If You Say So [Outros/em andamento]
On My Way [Outros/ finalizada]
The Narnian Boy [Outros/finalizada]
01.10.2014
Nota da Beta: Caso seja encontrado qualquer erro nessa atualização, por favor, notifique-me por twitter ou e-mail. Não utilize a caixinha de comentários para tal. Obrigada. xx ;D