The Best Way


Escrita por: Myu
Betada por: Flávia C.




O dia era 31 de dezembro de 2013, que havia começado bem cedo para , que queria que tudo estivesse perfeito para a chegada de 2014. Ela não iria passar com os seus padrinhos, como sempre fazia, dessa vez seria com apenas seus pais e sua avó. Nada muito elaborado, mas também não seria tão simples assim.
- , querida, onde está seu pai? – a mãe da garota disse, se aproximando apressada.
- Não sei, mãe. O que houve? – perguntou preocupada, vendo que sua mãe estava com uma cara nada boa.
- É a sua avó... Ela não está passando muito bem e eu tenho que levá-la ao médico, mas eu não sei dirigir, então preciso do seu pai para nos levar até o hospital – a mulher respondeu apressada.
- O que a vovó tem? – por mais que fosse crescida, continuava chamando sua avó de vovó. Era uma forma carinhosa e ela gostava de chamá-la assim.
- Parece que a pressão caiu, mas como ela já não vem muito boa nesses últimos dias, eu prefiro levá-la ao médico. Aí está você, Ricardo! – a mãe de disse ao localizar seu marido.
Sem muita demora, os pais de levaram a avó dela para o hospital. O pai dela não poderia retornar para a casa, já que sua esposa não sabia dirigir, e ele não poderia ficar sozinho com sua mãe no hospital, já que não saberia explicar para o médico o que estava acontecendo, então aconteceu o inevitável: ficou sozinha em casa, arrumando as coisas.
Como ainda eram 11h10, ela não se preocupou muito. Não poderia demorar tanto assim no médico, não é mesmo? Continuou cantarolando e arrumando a casa.
“Filha, tem arroz no fogão e frango na geladeira, é só você fritar. Acho que vai demorar um pouco mais aqui, porque os hospitais estão lotados. Esse que estamos agora já é o quarto! Parece que todo mundo resolveu passar mal hoje.” Era o que dizia a mensagem de texto que havia recebido.
***
O enorme relógio pregado na parede da cozinha dizia que já eram 18h. começou a ficar preocupara com o estado de saúde da avó, então ligou para a mãe, que não pode atender, então mandou uma mensagem, que logo foi respondida:
“Parece que a sua avó está com pouco sódio e potássio, ou coisa assim. Não entendi direito o que o médico falou, mas sei que teremos que ficar aqui até ela ser liberada. Desculpe, querida”.
não podia negar, estava chateada, até com um pouco de raiva. E se eles não chegassem a tempo? Ela passaria o Réveillon sozinha em casa? Mas ela não podia fazer nada, e mesmo irritada, estava preocupada com a avó. Ela já era bastante idosa e tinha vários problemas de saúde, não queria nem pensar se algo de ruim acontecesse à tão amada vovó.
***
pegou o celular que havia acabado de apitar, avisando que uma mensagem havia chegado. Sua mãe avisando que Dona Glória passaria por uma bateria de exames e que eles poderiam demorar mais um pouco. bufou e saiu da tela da mensagem, notando que já eram 20h e correu para se arrumar. Iria passar o ano novo sozinha, mas não precisava estar desarrumada.
Uma hora depois a garota já havia saído do chuveiro e ficou certo tempo para poder escolher a roupa. Ficou em dúvida entre um vestido com manga ¾, todo florido e com um laço na cintura e um short jeans escuro e uma regata branca com algumas coisas escritas. Acabou optando pelo segundo conjunto e colocou uma sapatilha, a primeira que achou, porque não tinha muita paciência pra escolher sapatos. Prendeu habilidosamente seu longo cabelo em uma trança lateral e estava pronta.
Voltou para a cozinha, na intenção de beliscar alguma coisa da mesa, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, encontrou algo que realmente não gostaria de ver, algo que fez seus olhos arregalarem e ela sair correndo e gritando pela casa. Não era uma assombração, não era um fantasma, nem sequer um ladrão. Era algo menor, mais inofensivo, mas que trazia muita repulsa para a garota. Uma barata. Barata que quando viu a garota, começou a voar, deixando com mais medo e nojo do que já estava. Foi uma cena cômica, se me permite dizer.
- Eu prefiro passar o ano novo sozinha a passar com uma barata! – disse indo para a dispensa, onde pensava encontrar um inseticida. Achou SBP e foi na direção da barata, que agora estava no chão, imóvel – Te achei, sua maldita!
apertou o botão, mas nada aconteceu.
- Não acredito que acabou! – a garota tentou girar a tampa na esperança de não ter destravado, mas o produto havia realmente acabado.
Com raiva, ela tacou o inseticida no chão, o que fez com que a barata voltasse a voar e a menina se desesperasse. Saiu correndo para fora de casa e ficou lá, pensando no que poderia fazer.
Olhou pra os lados. A rua estava vazia, todas as casas com as luzes apagadas. Movimento apenas a duas ruas acima da sua, se seu ouvido não a enganasse. Todos haviam ido passar o Réveillon em um lugar legal, sem baratas... Agora sentia inveja dessas pessoas. Olhou para o lado e seus olhos brilharam ao ver uma luz acesa em uma casa. Era a esperança dela.
Chegou ao portão e procurou a campainha, que não demorou muito a achar. Apertou e escutou um “plin plon” soar dentro da casa. Esperou algum tempo até escutar o som de alguém descendo escadas correndo, logo a pessoa abriu a porta.
- Oi – disse o garoto.
- O-oi – engasgou um pouco ao falar. O rapaz que havia atendido a porta era lindo, como ela nunca o havia visto? – Er... Por um acaso você teria um inseticida para me emprestar?
- Inseticida? – o garoto perguntou confuso, franzindo o cenho.
- É. Raid, SBP, Mortein, Detefon… - a menina começou a enumerar marcas mais conhecidas. Como ele não sabia o que era um inseticida?
O garoto riu e disse para ela esperar um pouco. Entrou e dentro de alguns instantes, ele reapareceu na porta segurando o inseticida e as chaves do portão.
- Meio incomum alguém bater na porta do vizinho para pedir inseticida. Já pediram açúcar, fermento, chocolate, mas inseticida é nova. – ele dizia enquanto abria o portão, com um ar de riso.
Ele tinha o cabelo , olhos e usava uma calça jeans, uma camiseta branca e uma camisa xadrez preta e vermelha. No pé, um tênis de skatista vermelho e preto. Ele também usava um perfume muito bom, que poderia ficar sentido para o resto da noite. Sem falar nos olhos dele. Ele tinha um olhar profundo, sexy, encantador e...
- O inseticida – o garoto estendeu o produto para a menina, que estava quieta até então.
- Oh sim, claro. Desculpe – ela estava um pouco sem jeito. – Apareceu um monstro na minha casa e o meu inseticida acabou.
- Monstro? – ele perguntou rindo de leve.
- É. Dois metros, oito pernas, nove asas... – ela tentou descontrair, fazendo gestos.
- E inseticida mata esse monstro?
- Espero que sim. Não estou querendo passar a noite de ano novo acompanhada apenas de uma barata. – ela respondeu um pouco desanimada – Bom, eu vou indo. Já venho te devolver.
A menina deu um sorriso balançando o inseticida e foi na direção da sua casa para poder enfrentar aquele monstro gigante e horrível.
- Agora eu tenho um inseticida, barata! – disse para o inseto enquanto mostrava a latinha – Vamos ver quem é que manda!
A garota foi apertar o botão, mas antes que pudesse fazê-lo, a barata começou a voar, e foi na direção de , que começou a gritar e correu para fora de casa novamente.
- Não acredito que vou ter que ficar aqui fora... – estava completamente desanimada.
Sem muitas opções, bateu novamente na casa do vizinho para poder devolver o inseticida que nem ao menos havia sido usado.
- Conseguiu derrotar o monstro? – o rapaz perguntou.
- Não. Ele começou a voar e... – ela fez uma pausa – Eu odeio baratas. Mas obrigada por ter me emprestado o inseticida. Agora eu vou para o capô do carro olhar o céu, porque é o que temos para hoje. – riu fraco.
- Você está sozinha? – ele perguntou curioso.
- Pois é. Meus pais estão no hospital com a minha avó e eu não sei quando eles vão voltar. Provavelmente eu vou receber 2014 sozinha. – ela se lamentou – E você?
- Eu estou... Bom... – ele hesitou um pouco – Sozinho também. Meus pais sempre passam o Réveillon na praia, e eu não sou muito chegado... Você... Você não quer entrar? Quer dizer, você não pode passar o ano novo na rua e ainda por cima sozinha. Eu também não estou fazendo nada e... Espero que não ache o convite estranho... – ele deu um sorriso torto e coçou a nuca – Tem pudim. – ele tentou uma última alternativa para convencer a garota de entrar.
- Obrigada pelo convite, mas eu não estou com fome. – ao terminar de dizer, a barriga de roncou. Ela não colocava nada no estômago desde o almoço, que foi apenas um pão com queijo na chapa, porque ela havia ficado com preguiça de fazer o que sua mãe havia mandado.
A garota deu um sorriso amarelo e xingou mentalmente seu estômago por ter roncado tão alto.
- Qual é, é pudim. Vai me dizer que não gosta de pudim? – ele perguntou.
hesitou um pouco, mas acabou cedendo. Como ele havia dito, era pudim. Não se recusa pudim! Ou melhor, não se recusa pudim quando o seu vizinho gato está lhe oferecendo.
Ele abriu espaço para a garota passar e logo que ela o fez, ele fechou o portão.
- Ai meu Deus! Você tem um gato! – a garota disse se aproximando do bichano e pegando-o no colo – Que gracinha! Qual é o nome?
- Marshmallow. – ele respondeu – por causa do pelo branco...
- Ele tem um olho de cada cor, que lindo! – constatou e deu um abraço no gato.
Depois de brincar um pouco com o animalzinho, entrou na casa e sentou-se onde o vizinho indicou, mais precisamente na ilha da cozinha. Ele foi para a geladeira e de lá de dentro tirou um prato com um pudim que parecia estar delicioso. Cortou dois pedaços e serviu a garota.
- Eu ainda não sei o seu nome. – a garota disse pouco antes de dar uma colherada na sobremesa.
- . – ele respondeu – E você?
- . – ela sorriu simpática – Você mudou faz pouco tempo, não é?
- Pode se dizer que sim... Dois meses, na verdade.
- O QUÊ? – a garota arregalou os olhos – Impossível, eu já teria notado que tinha um cara li...ving here. – a garota tentou concertar, dando um sorriso forçado em seguida, fazendo rir.
- É sério, eu moro aqui há dois meses. Quando eu me mudei, lembro de ter visto você dando banho no seu cachorro – constatou – ou melhor, o seu cachorro estava dando um banho em você – riu.
- Pois é... A Pri faz isso de vez em quando... – riu junto.
- Pri?
- Princesa. É o nome do meu cachorro. – explicou.
- Belo nome para se dar a um pastor alemão que late até para a formiga que está passando. Realmente uma lady.
- Dá um desconto que eu dei esse nome quando eu tinha dez anos, ok? – tentou se defender – E ela é um amorzinho!
- Posso notar. Aqueles dentes afiados exalam simpatia. – ele ironizou.
- Ela é mesmo! Não a odeie sem conhecê-la. – ela deu mais uma colherada no pudim.
- Eu não a odeio, ela que me odeia. – acusou – Na verdade, o único cachorro que eu odeio é o pinscher do vizinho. Aquele cachorro é insuportável!
- Quando pequenos, o Boris e a Princesa brincavam juntos, mas depois eles cresceram. Quer dizer, a Princesa cresceu...
- Então o nome daquela coisa é Boris?
- Sim.
- Uma vez esse Boris começou a latir meia noite e não parou mais. Eu estava quase conseguindo dormir, mas depois aquele cachorro não me deixou mais em paz. Eu fui à sacada ver o que tinha na rua que estava fazendo o pinscher latir sem parar, e me deparei com uma menina de Maria Chiquinha subindo e descendo a rua.
- Eu não estava conseguindo dormir também, e estava muito calor, então eu decidi dar uma volta. – se explicou.
- Sozinha? À meia noite? – perguntou – Você é maluca.
- Não vejo nada de mais. – ela deu de ombros – Relaxa. Você deveria tentar fazer isso algum dia desses. – ela convidou e ele disse que ia tentar.
Eles terminaram de comer o pudim e continuaram conversando por algum tempo, mas foram para o sofá da sala, que era mais confortável, onde podia admirar o vizinho enquanto fazia carinho no pelo macio do gato, que agora estava no seu colo. Acharam várias coisas em comum e outras completamente opostas, mas que não atrapalhava em nada a nova amizade que estava surgindo ali. deu uma rápida olhada no celular e notou que o relógio indicava 23h.
- É... Realmente meus pais não vão chegar aqui esse ano... – ela se lamentou – mas pelo menos eu quero ver a queima de fogos. Acho tão bonito.
- Vamos arrumar um lugar bom para assistir, então. – se levantou do sofá e deu a mão para a garota, ajudando-a a se levantar também.
Os dois foram para fora procurar um lugar bom, que desse para ver perfeitamente a queima dos fogos, mas os sobrados da rua atrapalhavam completamente a visão do que eles queriam. O centro da cidade não ficava tão próximo assim, então da posição em que eles estavam, as casas tampavam a visão.
- Seria legal se essas casas sumissem daqui... – bufou.
- Tive uma ideia! – disse – Vamos, vou te levar em um lugar incrível.
O rapaz foi caminhando na frente, voltou para dentro da casa, sendo seguido pela garota, que estava curiosa para saber onde ele estava a levando. Ela estranhou quando ele entrou na casa, mas não disse nada, apenas o seguiu. subiu as escadas e abriu a porta do que suspeitou ser o quarto dele. Ao confirmar suas suspeitas, ela ficou estática. Por que ele estava levando ela para o seu quarto? Mil e um pensamentos passaram pela cabeça de e ela não sabia como reagir.
- Anda logo! – apressou.
Dando passos lentos, foi se aproximando do quarto e viu o rapaz na sacada, olhando para o alto.
- Vou ter que procurar uma escada... – ele disse baixinho, mais para si mesmo do que para a garota – Espere um pouco, eu já volto.
Assim que ele saiu do quarto, ela sentou-se na cama dele e olhou 360°. O quarto era arrumado, diferente do que ela imaginava que um quarto de garoto de 18 anos seria. Tinha uma estante com livros empilhados e alguns CDs espalhados pela mesa, apenas isso fora do lugar. Logo descobriu uma coisa muito divertida: o colchão era de molas. Sem perder tempo, a garota começou a dar alguns pulinhos sentada, que foram aumentando de intensidade conforme ela ficava mais a vontade no ambiente.
- A criança poderia parar de pular e me ajudar? – escutou a voz de e rapidamente parou de pular, ficando com vergonha e um pouco corada, indo ajudar o rapaz, que achou fofa a reação da primeira.
Os dois levaram a escada até a sacada do quarto e estava curiosa para saber o que ele faria.
- Sobe. – ele disse ao apoiar uma ponta da escada no telhado.
- O quê? – a garota perguntou sem entender.
- Sobe. – ele repetiu.
- Eu tenho medo de altura! – ela confessou, dando dois passos para trás.
- Vamos, vai ser divertido! Dali do alto vai dar pra ver direitinho os fogos de artifício! Você quer vê-los, não quer?
torceu a boca e olhou para cima, se aproximando lentamente daquela escada que parecia ser infinita. Subiu em um degrau e olhou para cima novamente.
- , eu tenho medo de altura...
- Você não vai cair, fique tranquila. – ele tentou convencê-la – Se você cair, eu vou estar em baixo, então não vai doer. Pra você.
Respirou fundo e subiu mais dois degraus.
- ... – ela disse baixo – Já te disse que tenho medo de altura?
- Já – ele riu –, agora suba. Está chegando! É só não olhar para baixo.
- Ok, eu vou subir. – tomou coragem e subiu mais três degraus, mas em seguida voltou todos os que havia subido.
- Por que desceu? – ele perguntou
- Não dá. Não consigo.
- Qual é, ? Vamos, por favor! – ele pediu fazendo uma cara irresistivelmente fofa.
começou a encarar a escada de braços cruzados, enquanto pensava se subia ou não. Olhou para o outro lado e viu fazendo a carinha do gato do Shrek.
- Mas e se eu subir e não conseguir descer? – ela ficou de costas para ele e de frente para a escada, tentando não ser influenciada pela cara de pidão que o garoto estava fazendo – Eu vou ficar morando no seu telhado para sempre?
- Não seria má ideia. – ele respondeu baixo.
- Oi? – ela perguntou sem entender o que o rapaz havia dito.
- Nada.
- Mas isso é tão alto e... – falava e gesticulava, o que não foi uma boa ideia, pois logo depois de falar “alto”, levantou um pouco os braços sem saber que estava tão próximo e o inevitável aconteceu. – Ai meu Deus! Desculpa! Desculpa, desculpa, desculpa!
O rapaz colocou a mão no nariz, fingindo que estava colocando-o no lugar.
- Não foi nada, eu acho. – ele disse ficando um pouco vesgo, tentando ver o nariz, o que fez rir – Mas para eu te desculpar, você vai ter que subir no telhado.
- Não tem outra forma?
- Não.
- Nem se eu...
- Não – ele interrompeu – Agora suba.
Sem ver outra alternativa, se voltou para a escada e subiu lentamente, se agradecendo mentalmente por ter escolhido vestir o short em vez do vestido. Um degrau se foi, agora faltam mais... Infinitos.
- -...
- , você já me disse que tem muito medo de altura, mas pense que vai ser legal quando você chegar ao telhado! Vai poder ver a queima de fogos de um ângulo que não terá outro igual a não ser em cima desse telhado. Agora suba. Eu estou logo atrás de você. – ele disse subindo junto.
Finalmente chegou ao telhado. Tentando se equilibrar, ela foi andando até um lugar mais seguro, longe da borda, sendo seguida por , que estava admirando a paisagem.
- Não te disse que é lindo? – ele disse fazendo com que a garota olhasse ao redor.
- Wow – ela disse baixinho – É lindo mesmo, mas...
- O que foi? Não vai me dizer que quer ir ao banheiro?
- Não, não é isso – ela riu – É que... Falta muito tempo até dar meia noite... O que faremos nesse tempo?
ficou pensativo por uns instantes e logo os dois se sentaram.
- Baralho? – ele sugeriu e ela concordou – Vou descer para pegar, já volto.
- Ok. – ela respondeu.
não podia acreditar no que estava acontecendo. Primeiro porque ela estava em um lugar considerado por ela com a altura das Cataratas do Iguaçu, segundo por ela estar lá com um cara lindo. Só podia ser um sonho, um sonho que ela não queria nunca acordar.
- Eu não achei baralho – disse enquanto subia de volta para o telhado –, mas eu achei isso aqui. – ele levantou uma pequena caixinha azul - Pictureka.
- Pictuquem? – perguntou confusa.
- Pictureka. – repetiu – É um jogo de tabuleiro, que tem umas figuras estranhas desenhadas e...
- Tem um tabuleiro dentro disso aí? – a garota perguntou surpresa. A caixinha tinha o mesmo formato que uma caixinha de baralho. Se tinha realmente um tabuleiro ali dentro, não duvidaria mais de nada nessa vida.
- Claro que não. Não cabe um tabuleiro aqui dentro! – disse se sentando ao lado da garota – É uma versão de viagem – ele tentou explicar – Aqui dentro tem umas cartas e rezo eu para ter as regras também, porque eu não tenho ideia de como se joga.
Ele abriu a caixinha e tirou um papel que estava dobrado de lá de dentro. As regras, ainda bem.
- Diz aqui que tem quatro formas diferentes de jogar... – ele disse forçando a vista para conseguir ler aquelas letras pequenas naquele escuro – Tem uma lanterna aí?
- Tem um celular, pode ser? – estendeu seu celular ele pegou, apertando qualquer botão para que o visor acendesse.
- Hm...
- O quê? – ela perguntou.
- Não entendi nada. – ele riu de si mesmo e riu junto.
- Me dá isso aqui. – ela pegou o papel e o celular que estavam na mão do garoto – Vamos ver... Esse aqui. – acendeu o a luz do celular – Objetivo – ela começou a ler em voz alta – Ser o primeiro jogador a juntar quatro cartas missão executando as missões das suas próprias cartas. O que são essas cartas missão?
- Deve ser essa carta que tem umas coisas escritas. – ele disse enquanto olhava o baralho.
terminou de ler as regras e ensinou para o rapaz que estava ao seu lado e eles passaram a meia hora que se seguiu jogando.
***
- Pictureka! – gritou – a minha missão é “algo assustador”. Essa mulher com três olhos é assustadora, esse ladrão é assustador e esse biscoito segurando um guarda-chuva debaixo do chuveiro é assustador. Ganhei.
- Ei! Isso não é assustador! – disse pegando a carta do biscoito.
- Eu acho assustador. Eu tenho... Biscoitofobia. – disse com a cara séria.
- Nossa, coitado. Tem cura? – perguntou se fingindo de preocupada.
- Não... – ele disse fingindo estar chorando.
Logo a brincadeira foi cortada pelo celular de que começou a tocar. Ele olhou para , que fez um sinal de que ele poderia atendê-lo.
- Alô? – ele disse assim que aproximou o celular do ouvido.
- , SEU BOSTA, VOCÊ NÃO VEM? – a voz masculina do outro lado da linha gritou, e afastou o telefone para que não ficasse surdo.
- Não. – ele respondeu voltando o celular para perto do rosto – Surgiram uns imprevistos aqui e eu tive que ficar, desculpa.
- Ah, sério? – mesmo que não estivesse gritando, conseguiu ouvir claramente o que o rapaz falava – Que pena. Tem um monte de gatinha aqui, você não vem mesmo?
- Eu não vou, . Fica pra a próxima. Vou desligar agora, tchau. – nem esperou o amigo responder e já desligou o telefone.
- Desculpa, eu não sabia que você tinha compromisso... – disse um pouco desanimada.
- Imagina. Eu nem queria ir, na verdade. – ele guardou o celular - E realmente está divertido jogar Pictureka com a minha vizinha no telhado da minha casa. Não é sempre que isso acontece.
- Nossa, e perder a oportunidade de pegar um monte de gatinha? – a garota imitou a voz do amigo de , o que fez o rapaz rir.
- Eu não quero pegar um monte de gatinha. – ele respondeu imitando a imitação.
- Qual é, , sejamos sinceros. – ela olhou diretamente para os encantadores olhos do rapaz – Você tem cara de ser aqueles que pegam todas quando vão em festas.
- Nossa, assim você me ofende. – ele disse limpando uma falsa lágrima – Ok, isso foi bem estranho, mas enfim. – ele voltou a olhar pra ela – Eu tenho cara de galinha?
hesitou um pouco, mas fez que sim com a cabeça, e logo completou:
- Você parece aqueles garotos que seduzem menininhas inocentes e depois que consegue o que quer, vai embora. Aqueles que não conseguem ter um compromisso sério...
- Eu não sou assim. – ele disse fazendo um bico – Eu até já tive uma namorada! E foi ela que terminou comigo, para você saber.
- Você não é do jeito que eu descrevi mesmo? – quis ter certeza.
- Aham. – ele confirmou – Quando eu gosto de uma garota de verdade, eu faço de tudo para fazê-la feliz. Não meço esforços para realizar o desejo dela, e se eu receber só um sorriso como agradecimento, eu vou me sentir o cara mais feliz do mundo por poder ter uma garota tão legal ao meu lado. – ele disse olhando bem no fundo dos olhos de , o que a fez ficar um pouco corada.
Ela não sabia mais o que dizer, ele apenas a encarava com um sutil sorriso nos lábios, que deixava ainda mais sem graça. O silêncio foi interrompido pelos fogos de artifício que começaram a aparecer no céu.
- Que horas são? – perguntou surpresa enquanto olhava no relógio e ficou surpresa ao notar que já havia dado meia noite.
e começaram a olhar a queima de fogos. Na verdade, começou olhar fascinada a queima de fogos e olhava encantado para o rosto de . Ela parecia uma criança observando aquelas explosões que formavam lindos desenhos no céu, deixando-o iluminado.
- Não é lindo? – ela perguntou sem tirar os olhos do céu.
- Perfeito. – respondeu, mas não se referia aos fogos.
- Feliz ano novo. – disse se virando para o garoto que estava ao seu lado.
- Feliz ano novo. – ele respondeu se aproximando lentamente do rosto da garota, que permaneceu imóvel.
Faltavam milímetros até que não houvesse mais espaço entre os dois, mas parou ao escutar o celular da garota que havia começado a tocar. Ele sorriu como quem não acreditava e ela pediu desculpas.
- É a minha mãe, eu...
- Vá em frente – ele respondeu.
Antes de atender, ela se desculpou mais uma vez.
- Filha?
- Fala, mãe.
- Feliz ano novo! Está tudo bem por aí? – a voz feminina do outro lado da linha perguntou.
- Está tudo bem sim. – respondeu, querendo desligar logo o telefone.
- Desculpa por não estar aí agora. Você me desculpa?
- Claro, não tem problema. A vovó está melhor? – a garota perguntou um pouco preocupada.
- Está sim, mas não sei ainda que horas ela será liberada... Juro que depois eu te compenso por passar o ano novo sozinha, querida... – é, sozinha...
- Não tem problema, mãe. Sério. Eu estou bem. – ela disse fazendo uma voz de pessoa alegre.
- Você não colocou fogo na casa não, né? – a mulher perguntou e a filha riu, dizendo que a casa estava inteira – Filha, está tudo bem mesmo? Aconteceu alguma coisa? Você está muito feliz pra quem virou o ano sozinha trancada em casa.
- Feliz? Eu? – não sabia o que poderia falar para a mãe acreditar. Normalmente, ela estaria com uma voz irritada por ter ficado sozinha, mas ela estava se sentindo completamente o oposto de irritada.
- Sim. Achei que eu ia encontrar uma muito brava, e você está aí, toda mansinha...
- Ah... É que... – ela fez uma pequena pausa – É que eu estou assistindo a queima de fogos e está muito bonito.
- Querida, onde você está? – parecia que a mãe de tinha um aparelhinho que informava quando ela estava mentindo.
- Estou em casa, ué. Onde mais eu estaria? – fez uma voz de indignada – Onde você acha que eu estou? No telhado da casa do vizinho com um garoto que parece um deus grego? – o arrependimento apareceu logo que a garota terminou de proferir as palavras. Essas duas últimas palavras não deviam ter saído da boca dela.
, que ainda estava ao lado da garota, riu abafado para que não fosse possível que a mãe da garota ouvisse sua voz.
- É... Mãe? Eu vou desligar agora, acho que a água que eu coloquei pra fazer chá já ferveu. Mais tarde eu te ligo. Beijos. – desligou.
não sabia onde enfiar a cara. Se tivesse um buraco, pode ter certeza que ela já estaria dentro dele.
- Eu pareço um deus grego? – perguntou rindo convencido.
Ela não conseguia nem olhar para o rosto do rapaz, que estava a encarando enquanto esperava a resposta. A única coisa que conseguiu fazer foi olhar para o lado oposto de onde estava, que era o quintal da casa do vizinho.
- Minha nossa, seu vizinho tem uma piscina enorme! – ela mudou de assunto.
- Tem? – o rapaz olhou para o mesmo lugar que ela – Caraca, tem mesmo!
- Imagina só que delícia mergulhar agora... – mordeu o lábio inferior.
- Quer entrar? – convidou como se a casa fosse dele – O dono da casa foi viajar e não volta tão cedo...
- Você tem a chave? – a garota perguntou espantada.
- A gente pula o muro. – ele respondeu como se fosse a coisa mais normal do mundo.
- Tá louco? Tem cerca elétrica!!
- Está desligada, veja – ele colocou o dedo na cerca e nada aconteceu – Viu?
olhou para a distância que ficava o telhado do chão e disse:
- É muito alto...
- Temos uma escada – ele apontou para a escada que eles haviam usado para chegar até o telhado.
- Eu não trouxe o meu biquíni e tem uma barata ENORME lá em casa. Eu não volto até matarem aquele monstro.
- Pare de arrumar desculpas. – deu um tapa de leve no ombro da garota – Eu vou lá com você. Pode ser?
Agora sem hesitar nada, aceitou o que disse e os dois se dirigiram para a escada. Foi um sacrifício fazer a garota descer. Ele teve que descer primeiro e ficar lá em baixo dizendo onde ela tinha que pisar, porque ela alegava não estar enxergando nada.
Depois de finalmente descer as escadas, os dois foram rumo a casa dela. Ao chegar à porta, empurrou para ir na frente e o usou de escudo, caso a barata resolvesse aparecer novamente. Eles foram andando lentamente até o quarto da garota, e ela olhava para todos os lados, com medo de ser surpreendida pelo ser asqueroso e voador.
Quando chegou ao seu quarto, se sentiu mais segura e saiu de trás do rapaz, pegou uma bolsa e foi para o armário pegar os utensílios que precisava, que se resumiam apenas a um biquíni e uma canga, depois ela foi para o banheiro e pegou uma toalha, socou tudo na bolsa e voltou a usar como escudo para atravessar a casa.
olhava por cima do ombro do rapaz e segurava em seu braço, que ela descobriu ser bastante musculoso. Ao chegar na cozinha, a garota gritou ao ver algo que ela julgou ser a barata.
- A BARATA ESTÁ EM CIMA DA MESA! – ela pressionou o rosto nas costas de .
- , é só uma uva passa. – ele disse rindo.
- Sério? – ela perguntou olhando para a uva.
- Sim. A barata está ali – ele apontou para a parede.
Ao ver o inseto, gritou de novo e se escondeu mais ainda atrás de .
- Mata ela! – ela pediu.
- Com o quê?
- Não sei, se vira.
abaixou, levantou o pé da garota e tirou a sapatilha que ela usava e atirou na barata. Ele tinha uma mira muito boa, pois acertou ela em cheio, que logo caiu no chão, morta.
- Com a minha sapatilha?? – ela perguntou indignada.
- Era isso ou ela ficaria viva, voando por aí, subindo nas suas coisas...
- Para, para, para – ela pediu – já entendi. Obrigada por me ajudar. Agora vamos embora. - ela foi empurrando o garoto para e porta e logo eles estavam na rua, voltando para a casa do para que eles pudessem invadir a casa do vizinho.
Antes de voltar para o telhado, parou no banheiro para poder colocar o seu biquíni.
- Não ouse abrir essa porta, ! – ela gritou de lá de dentro.
- Ok. E a menos que você não queira me ver pelado, não abra a porta sem antes perguntar se eu estou vestido, ok?
Cinco minutos se passaram até que a garota voltasse a falar.
- Posso abrir a porta?
- Pode. – ele respondeu.
Ela abriu a porta lentamente, olhando por entre a fresta que se formou para ver se não tinha um nu, mas não encontrou isso. Na verdade, ele estava sentado na cama dele com uma cara de impaciente esperando ela sair. Ele usava uma bermuda preta e uma regata branca, que possibilitava à ver os músculos do rapaz.
- Vamos agora, madame? – disse se levantando e a garota o seguiu.
- Tem que subir de novo? – perguntou desanimada.
- Pense que vai ter uma piscina te esperando.
Depois dessas palavras mágicas, tomou toda a coragem do mundo e subiu de uma vez só. Até parecia que ela não tinha medo de altura.
- Vamos fazer assim – começou –, você passa para o telhado do vizinho, eu te passo a escada e em seguida eu atravesso.
- Ok. – ela respondeu e logo foi caminhando vagarosamente sob aquelas telhas.
Com alguma hesitação, finalmente passou para o telhado da casa do vizinho e tentando não cair, ela segurou a escada e lentamente foi abaixando ela, até encostar no chão.
- Desce você primeiro. – a garota pediu – Se eu cair tem alguém lá embaixo para me segurar.
desceu as escadas e ficou segurando para que pudesse descer. Pronto, eles já estavam dentro do quintal do vizinho e não se sentiam mal por isso.
foi para perto da borda da piscina e colocou a mão para saber a temperatura em que a água se encontrava.
- Está um pouco gela... – não conseguiu terminar sua frase, pois ficou boquiaberto ao ver o corpo descoberto da garota. Ela usava apenas um biquíni roxo na parte de baixo e com algumas flores estampadas na parte de cima. O garoto ficou babando na figura feminina que se encontrava ao seu lado e só voltou ao normal quando jogou um pouco da água no próprio rosto.
chegou perto da água e colocou o pé, mas logo o tirou, alegando que estava muito frio.
- Nós chegamos até aqui, agora você entra. – disse antes de empurrar a garota para dentro d’água, que caiu de barriga.
Quando voltou a superfície, xingou o garoto por ter jogado ela na piscina, mas logo parou de falar, pois ficou encarando enquanto tirava a camisa e exibia seu peitoral agora completamente descoberto. Ele deu uns passos para trás e começou a correr.
- UHU! – ele gritou ao se jogar em direção à água.
Com a água que espirrou do salto, pode voltar a raciocinar e voltou a brigar com .
- Por que você me jogou aqui? – ela jogou um pouco de água no rosto dele.
- Você ia entrar de qualquer jeito, eu apenas agilizei o processo que saberia que ia ser lento. Você é lenta por natureza. – ele fez o mesmo que a garota.
- Eu não sou lenta! – ela voltou a jogar água nele.
- Para de jogar água em mim.
- Para de me chamar de lenta.
Em poucos instantes, as duas crianças estavam jogando água uma na outra, e só pararam quando acabou engolindo um pouco da água e começou a tossir.
- Tá tudo bem? – perguntou preocupado enquanto tentava se aproximar o mais rápido possível da garota.
- Está. Eu apenas engoli um pouco de água. – ela respondeu finalmente conseguindo se recuperar. – Uma pergunta: o que acontece se alguém pegar a gente aqui?
- Hm... Acho que a pena por invasão de domicílio é de... Dez anos. – ele respondeu fazendo a garota arregalar os olhos.
- De-dez anos de prisão? COMO ASSIM? – ela estava desesperada.
- Calma, é brincadeira – ele disse rindo – Eu não sei o que pode acontecer, mas também ninguém vai pegar a gente aqui. Se alguém passar na rua e nos escutar, não vai achar que dois adolescentes invadiram a piscina da casa do vizinho, e o dono não volta tão cedo, como eu te disse.
- Não me assuste mais desse jeito, ! – disse colocando a mão no coração e olhando para o lado – Hey, o que é aquilo? – ela apontou para a janela de um quartinho que havia ali do lado.
Antes que respondesse, ela saiu da piscina e foi em direção aquele cômodo, que para sua surpresa, estava aberto. Na verdade, seria estranho estar fechado, pois era aquele típico quartinho da bagunça que algumas casas têm, e não tem nada de valor lá dentro.
- Veja, ! – ela disse olhando para o garoto que ainda estava na piscina – Aqui tem aquelas boias gigantes que você pode deitar em cima. Como chama mesmo? Olha, tem aqueles espaguetes também! – ela disse entrando para pegar.
saiu da piscina e foi explorar a casa também. Atrás do balcão ele encontrou um painel. Mexeu em alguns botões, colocou no “on” e para a sua surpresa, umas luzes coloridas começaram a piscar na piscina.
- Que incrível! Olha isso, ! – ele disse fascinado, mas a garota estava mais interessada em encher a boia que havia acabado de encontrar.
foi para aquele quartinho também e saiu de lá com uma bomba, que logo entregou pra a garota, que se esforçava pra conseguir encher a boia com o ar de seus pulmões.
- Use isso, vai ser mais fácil.
- Obrigada. – ela respondeu pegando a bomba – O que você fez com a piscina?
- Achei uns botões legais e isso aconteceu. – ele respondeu – Legal, né?
- Que desigualdade social... Uns com muito e outros com muito pouco... Eu estava sofrendo lá em casa com uma piscina de mil litros, sabia? – ela se virou para o garoto, que apenas riu dela e voltou a mergulhar na piscina.
se aproximou da borda, colocou a boia dentro da água e tentou sentar, mas era algo muito difícil. Sentar naquela boia sem cair dentro d’água... ficou olhando enquanto a garota tentava inutilmente não se molhar, mas ela acabou escorregando e caiu de cabeça na água. Ele riu e foi tentar ajudá-la a subir. Depois de algumas tentativas, estava deitada na boia, desfrutando a luz do luar.
***
havia pegado um espaguete e ficou com a cabeça apoiada nele enquanto boiava, continuava em cima da boia. Calma, silenciosa, apenas passando os dedos sob a superfície da água.
Sem perder tempo, mergulhou e vagarosamente se aproximava da boia da garota, e esta estava com os olhos fechados apenas aproveitando o momento. não percebeu a aproximação e quando ela menos esperava, pegou um lado da boia e levantou, fazendo com que a garota caísse dentro d’água.
- ! – ela ameaçou começar outra discussão, mas ou ver o garoto morrendo de rir, cedeu e começou a rir junto.
Ao passar a crise de riso de ambos, o rapaz começou a encarar , que também estava olhando para ele. Sem saber o que fazer e com um pouco de vergonha, ela submergiu até que a água cobrisse completamente sua boca. riu da reação da garota e se aproximou dela.
- Obrigado pela noite maravilhosa. – ele disse fazendo com que ela levantasse.
- Obrigada por me fazer companhia na virada do ano. – ela disse um pouco corada.
foi se aproximando dela cada vez mais e quando o espaço entre os dois era bem pequeno, ele passou suas mãos na cintura dela. A cintura era o ponto fraco de , o calcanhar de Aquiles. No instante que ela sentiu o toque, sentiu um arrepio percorrer o corpo todo, do dedão do pé à ponta do último fio de cabelo. Percebendo a reação dela, riu satisfeito e continuou se aproximando.
finalmente olhou para os olhos do garoto, que estavam mais brilhantes do que nunca. Ela adorava aquilo. Poderia passar o resto de sua vida olhando para aqueles belos olhos e não reclamaria um segundo sequer. Meio hipnotizada por tamanha beleza, passou as mãos por trás do pescoço do rapaz e o puxou, selando seus lábios.
O beijo começou calmo e gradativamente foi aumentando a velocidade. puxava para mais perto, mesmo que a distância entre eles não existisse mais, ele continuava a pressionar a garota no seu corpo. Ela colocou uma de suas mãos no peitoral descoberto dele e eles ficaram assim por mais um tempo, até bater um vento gelado, fazendo com que a parte do corpo de que não estava submerso se arrepiasse de frio. interrompeu o beijo e colou sua testa na dela.
- Está ficando frio, não quer sair da piscina? – ele sugeriu e ela concordou.
Ao sair da piscina, se enrolou na toalha e pegou a boia que ainda estava dentro d’água e começou a esvaziá-la, para poder devolver onde ela havia achado. Depois de guardar as outras coisas que havia pegado, sentou-se no gramado e aguardou até que apagasse a balada que havia feito na piscina.
sentou-se ao lado da garota e passou os braços em volta de sua própria perna e ficou olhando para ela. Nenhum dos dois sabia o que falar, então permaneceram em silêncio por algum tempo. estava pensando no que havia acabado de acontecer. Ela não sabia o que ele estava pensando agora, não sabia o que aquilo havia significado para ele. Será que ele ia continuar sendo aquele garoto doce com ela como havia sido desde que eles se encontraram mais cedo, ou agora que ele já havia conseguido o que queria, não iria mais falar com ela? Como seria a relação dos dois daí em diante? se fazia essas e diversas outras perguntas, até que seus pensamentos foram interrompidos pela voz do garoto.
- Me chame para os seus futuros passeios noturnos.
Era isso. Um sorriso surgiu do rosto de e ela olhou para . Era isso que ela precisava saber, que ele queria continuar encontrando com ela, que ele queria continuar a vê-la, passar um tempo com ela.
- Pode deixar. – ela respondeu ainda com aquele sorriso bobo no rosto.
O vento frio mais uma vez voltou a bater e dessa vez os dois se arrepiaram.
- Vamos embora? – perguntou se encolhendo.
- Por favor. – ela respondeu se levantando.
O mesmo esquema usado para ir eles usaram para voltar. Os dois subiram na escada, passou para o telhado da casa de , que passou a escada e logo foi para o mesmo lugar que a garota. Eles dessa vez não ficaram no telhado, desceram para a sacada do quarto de e ficaram lá por um tempo, até olhar no celular e ver que já eram três horas da manhã.
- Meu Deus, está muito tarde! Tenho que ir embora.
- Já? Está cedo. Fique mais um pouco. – ele pediu fazendo um pequeno bico.
riu da ousadia do rapaz e disse que não poderia ficar.
- Okay... – ele disse cabisbaixo – Obrigado de novo pela noite. Quando quiser invadir a piscina do vizinho novamente, já sabe onde me encontrar. – ele completou e ela riu.
acompanhou até a porta da casa dela, mas antes dela entrar, ele a puxou para outro beijo.
- Agora eu tenho que ir. – ela disse se desvencilhando dos braços dele.
- Amanhã eu estava pensando em fazer um bolo, mas eu só vou descobrir na hora de colocar o açúcar que o meu acabou... – começou – Será que vai ter alguém aqui com um pouco de açúcar para me emprestar?
- Você sabe fazer bolo? – perguntou surpresa, se atentando apenas para a primeira parte da frase.
- É... Não. – ele riu passando a mão na parte de trás do cabelo.
- Eu acho que você tem uma vizinha super simpática que vai adorar te emprestar um pouco de açúcar e te ensinar a fazer bolo. – ela disse enquanto abria o portão e entrava em casa.
- Acho que eu vou pedir para essa vizinha super simpática. – ele riu – Boa noite, .
- Boa noite.
Ela entrou e ele voltou para a casa dele, indo direto para o chuveiro tomar uma ducha fria para pensar no que havia acontecido com ele. Realmente era difícil de acreditar que a garota que ele estava babando há dois meses havia batido na porta da casa dele e melhor, havia passado a noite inteira com ele. Era incrível, inacreditável. Agora ele se considerava o cara mais sortudo de toda a face da Terra e sorria feito um bobo.
Desde que ele havia a visto dando banho no cachorro, não conseguiu mais tirá-la da cabeça. Pensou diversas vezes em puxar assunto com ela, talvez chamá-la para sair, tomar um sorvete, mas ele nunca via a oportunidade para fazê-lo. Era meio estranho, mas agora agradecia mentalmente à barata, que mais cedo havia matado, por lhe proporcionar tamanha satisfação.
Aquela noite havia sido ótima para ambos. O que parecia ser o pior Réveillon que passaria em toda sua vida, acabou se tornando o melhor e o primeiro dia de muitos em que ela e passariam juntos.

FIM



Nota da autora:


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