Escrita por: Kiera
Betada por: Ebonny


The Cold and the Dark


Os olhos que encaravam através do espelho não pareciam ser os seus. Exibiam um brilho triste, melancólico, cansado. O sorriso em seus lábios tingidos de um tom escuro de vermelho era frio, obviamente forçado. Seus cabelos negros, que nem sequer chegavam aos ombros, contrastavam contra sua pele pálida e dando-lhe a impressão de que era feita de porcelana. O vestido que ela usava era um dos mais belos que já vira. Uma faixa branca de cetim ia de um ombro ao outro, deixando parte deles à mostra. A saia era cheia, de um belíssimo azul-marinho, e caía em cascatas até seus pés. A parte que cobria o restante de seu tronco, de mesma cor, era justa a ponto de levar-lhe a ter dificuldades para respirar, mas modelava seu corpo e ajustava sua postura de modo a poupar-lhe de precisar se preocupar com este último detalhe. Incrustados por todo o vestido haviam pequenos diamantes que brilhavam de acordo com seus movimentos e faziam-lhe lembrar-se de um céu estrelado.
Aquela era a noite em que ficaria noiva. Seu futuro marido, o príncipe do reino vizinho. Mas não era esse o real motivo de tanta melancolia. O fato era que a data escolhida por seu pai para a realização da cerimônia fora justamente o dia em que completavam exatos seis anos desde que perdera o único que amara verdadeiramente em toda sua vida. E isso simplesmente a destruía por dentro. Seis longos anos se passaram, mas ela ainda se sentia como se aquele fosse o dia seguinte ao acontecimento. Seis anos e aquela dor insistente ainda ardia como ferro em brasa em seu peito. Ardia como as lágrimas que agora derramavam-se de seus olhos negros como a mais escura noite, riscando seu rosto e pingando em seu vestido. Ela sabia que aquela dor não a levaria a nada, sabia que deveria deixá-lo ir para que um dia pudesse ter paz, mas falar sempre foi mais fácil que fazer.
Não havia um só dia em que o pensamento de que ela poderia ter evitado tudo aquilo não cruzasse sua mente, atormentando-a como um fantasma. Você não teria como saber que aquilo ia acontecer, repetia para si mesma como um mantra. Você não estava lá. Não havia como ajudá-lo. Mas nenhum argumento que pudesse encontrar poderia convencê-la de que a culpa não fora sua. Sua mãe costumava dizer que o remorso era como um parasita que, se não fosse rapidamente eliminado, sugaria suas forças até que só restassem a raiva, o medo e a dor. Após seis anos convivendo com esse sentimento, podia afirmar com certeza que ela estava certa. Porque, naquele momento, ela estava resumida àquilo. Raiva de si mesma, por deixar-se chegar àquele ponto. Medo de, apesar de seus esforços, acabar machucando alguém como foi machucada. E dor, ah, como sentia dor. As lembranças, os sentimentos, o vazio que agora reinava absoluto em seu peito, tudo aquilo doía mais do que qualquer dor física que alguém um dia poderia sentir. Mas era tudo o que lhe restava. Se abrisse mão daquilo, o que se tornaria? Ela não sabia, e temia demais a resposta para se arriscar a tentar.
— Lady , seu pai a espera no Salão Principal — Juliet, uma de suas criadas, avisou-a do outro lado da porta de seu quarto.
apressou-se em secar as lágrimas e respirar profundamente, abrindo mais uma vez um sorriso falso e forçado para seu reflexo. Era seu noivado, afinal. Não poderia deixar transparecer qualquer tipo de tristeza.
— Diga-lhe que estou me aprontando —respondeu, com a voz firme. — Descerei ao Salão em breve.
Dito isto, permitiu-se fazer um último gesto em memória de seu amado, um gesto que seu povo costumava usar em sinal de respeito e amor a quem se foi: levou dois dedos aos lábios e em seguida cortou o coração duas vezes, formando um "x". Fechou os olhos por um instante e respirou profundamente mais uma vez, antes de dar os toques finais em seu visual. Pôs o colar de diamantes ao redor de seu pescoço e a coroa de prata no topo de sua cabeça. Por fim, pegou a máscara que jazia sobre sua penteadeira e cobriu a parte superior de seu rosto com ela. Olhou uma última vez para seu reflexo no espelho e ficou contente com o que via. Ela estava bonita. E, o mais importante, ninguém sequer desconfiaria que há poucos segundos encontrava-se aos prantos, e isso era tudo o que ela queria.
Desceu as escadas com certa dificuldade devido à sandália alta — nunca se acostumaria àquele tipo de sapato — e dirigiu-se rapidamente ao Salão Principal do castelo. Naquela noite, ele estava especialmente decorado em tons de branco e azul, como o vestido que ela usava. Na extremidade direita, havia uma mesa que cruzava toda a extensão do salão, com um dos maiores banquetes que já vira em toda a sua vida. O centro era cortado por um tapete vermelho que se bifurcava ao chegar à metade do caminho, levando às duas extremidades opostas, por onde os convidados recém-chegados passavam ao entrarem. Na outra extremidade, encontrava-se uma parte mais elevada do salão, onde jaziam cinco tronos, três deles ocupados por sua mãe, seu pai e seu irmão mais novo. Ocupando o espaço entre estas coisas estavam centenas de pessoas, que conversavam, dançavam, riam, comiam e bebiam alegremente, todos exibindo suas melhores roupas e com máscaras cobrindo o rosto. Transitando entre elas, vários criados carregavam bandejas contendo os mais variados tipos de pratos e bebidas que se podia imaginar.
Assim que adentrou o Salão, a atenção de todos voltou-se para ela, um súbito silêncio tomando conta do lugar enquanto caminhava calmamente pelo tapete de veludo. À medida que passava, os convidados curvavam-se em reverência e ela retribuía a gentileza com o sorriso mais caloroso que pôde formar em seus lábios. Subiu lentamente as escadas que levavam aos tronos, concentrando-se em fazer isso da forma mais elegante possível, e curvou-se diante de seu pai e sua mãe, murmurando um cumprimento. Sentou-se no trono ao lado do de sua mãe, que lançou-lhe um olhar orgulhoso e pôs a mão por sobre a sua, acariciando-a levemente com o polegar.
— Você está linda, querida. Absolutamente linda — elogiou.
ficou extremamente surpresa. Nas poucas vezes que sua mãe dirigia qualquer palavra a ela, desde que voltara da guerra, fora para repreendê-la por algum motivo. Nunca um elogio. Nunca um gesto carinhoso. Nunca. Ela abriu a boca algumas vezes para responder, mas não conseguia encontrar uma resposta. Era como se as palavras houvessem fugido de sua mente. Os olhos de sua mãe analisaram-na minuciosamente, cobrindo cada centímetro de seu rosto, pescoço, ombros, e parando subitamente ao concentrar-se em seu colo, mais especificamente em uma linha irregular, ligeiramente mais branca que sua pele, da largura de um dedo mínimo, que cortava o espaço entre seus seios, encurvando-se um pouco para a direita logo antes de desaparecer sob o pano do vestido.
— Cubra essa cicatriz! — ordenou, num sussurro, seus lábios contorcendo-se em desgosto.
Ela assentiu e puxou rapidamente a faixa de cetim para cima, escondendo a marca, e sua mãe assentiu em aprovação antes de tirar a mão da sua e desviar o olhar. odiava ter de sentar ao lado dela em toda e qualquer cerimônia que ocorresse no Salão, mas aquela era a ordem correta segundo o protocolo e não havia nada que ela pudesse fazer. Sem alguém para conversar, se perdia facilmente em seus pensamentos, e isso não era algo que ela apreciava. Principalmente naquela data.
Logo, o tapete vermelho parecia um filete de sangue escorrendo pelo chão branco do salão. Os casais que dançavam em círculos pareciam engajados numa dura luta. Aos poucos, o cenário a sua volta desapareceu, dando lugar a uma colina cercada por belas florestas de ambos os lados. No vale logo abaixo, os resquícios da batalha mais sangrenta desde o ataque dos bárbaros, séculos atrás, ainda podiam ser vistos. Milhares de corpos estirados no chão, amontoados um sobre o outro. A fina camada de neve que cobria o chão estava tingida de vermelho. Alguns soldados caminhavam entre os mortos, arrancando flechas e lanças em bom estado de seus corpos sem vida e lamentando a morte de seus conhecidos. Fora uma guerra dura. Dois terços do exército, metade da cavalaria e praticamente todo o Corpo de Arqueiros do Rei foram sacrificados. A vitória tinha o gosto amargo e metálico do sangue.
sabia que, em algum ponto lá em baixo, uma versão seis anos mais jovem dela própria estava fazendo o mesmo que os outros soldados. Em vista da brutalidade com a qual aqueles homens foram mortos, o enorme corte em seu peito não parecia tão ruim. Apesar das perdas e do enorme cansaço que sentia, estava feliz por terem ganho a luta, por ter sobrevivido. Provara que era capaz, a despeito de tudo o que seus pais lhe disseram. Mas essa alegria durara muito pouco.
Quando recebeu a notícia de que houvera uma emboscada que massacrou todo o grupo dos Arqueiros, as forças que ainda restavam dentro dela se esvaíram completamente, e caiu de joelhos no chão, cobrindo as mãos com o rosto enquanto chorava desesperadamente. Não podia acreditar que o homem que amara por meses, com quem planejara comemorar a vitória com um noivado, estava morto. O disfarce que sustentara por todo aquele tempo se desfez, e ela exigiu que conduzissem uma busca por sobreviventes. No mesmo dia, fora levada de volta ao castelo, onde sua mãe e seu pai a esperavam, furiosos por ter desacatado sua ordem. Eles a proibiram de deixar o castelo novamente até que se casasse, mas, algumas semanas depois, uma de suas criadas lhe contou que encontraram apenas sete sobreviventes, e nenhum deles era quem ela procurava. E foi quando toda aquela melancolia começou.
! — O chamado áspero de sua mãe trouxe-a de volta à realidade. — O Príncipe acabou de chegar. Seque essas malditas lágrimas, pelo amor de Deus!
Só então ela percebeu que estava, mais uma vez, chorando. Por sorte, a chegada de seu futuro marido, Príncipe , distraiu os convidados o bastante para que ninguém notasse suas lágrimas.
era um homem gentil, doce e amável. Seus cabelos eram castanhos como a terra molhada em dias de chuva e seus olhos eram verdes como o mar nos dias mais ensolarados. Tinha um sorriso terno que era capaz de confortá-la mesmo nos dias mais difíceis. Era sempre educado, mas sabia ser firme quando necessário. Sem dúvida, nascera para ser um rei. detestava o fato de ele estar atado a ela por um tratado estúpido entre seus pais, não por não poder escolher com quem se casaria, mas porque ele não podia. merecia uma garota a sua altura, alguém doce como ele, alguém que o amasse. Ela tentara ao máximo ser esse alguém, mas sabia que nunca conseguiria. Só se encontra o amor uma vez na vida, e, para ela, essa oportunidade já havia passado. Mas, apesar de tudo, eles se tornaram bons amigos. Ele era o único que sabia o real motivo do sofrimento sem fim de , e ela fazia de tudo para agradá-lo, fazê-lo sentir confortável e acolhido em sua presença, apesar de ele haver garantido que aquilo não era necessário.
Diferentemente do que ocorreu durante sua entrada, um enorme burburinho tomou conta do Salão enquanto caminhava lentamente pelo tapete. Um sorriso acolhedor ocupava seus lábios, tão largo que formava rugas no canto de seus olhos. A cada vez que seu olhar cruzava com o de alguma das moças ali presentes, elas tinham reações engraçadas que iam desde desviar os olhos enquanto suas bochechas ferviam em vermelho a quase desfalecer nos braços de suas amigas. Quando chegou à bifurcação e virou-se na direção dos tronos, seus olhos encontraram os de , que, numa imitação exagerada do que vira há poucos instantes, fingiu desmaiar, arrancando uma risada baixa de seu noivo.
Ela se pôs de pé assim que começou a subir as escadas, sendo seguida por seus pais e seu irmão. Após fazer uma reverência ao rei e à rainha e apertar a mão de seu futuro cunhado, ele finalmente parou em frente a , segurando uma de suas mãos e beijando-a delicadamente, seu sorriso mudando para algo mais triste e fraco, numa tentativa de lhe pedir desculpas pela escolha da data.
— Não se preocupe — sussurrou ela, tão baixo que ele mal pôde ouvir.
— Acho que nunca te vi tão bela em toda a minha vida — comentou, erguendo a mão que segurava até acima da cabeça de e rodopiando-a rapidamente.
— Creio que seja a máscara — brincou, repuxando os lábios em um sorriso sem muito entusiasmo. — Aliás, onde está a sua?
— Não gosto de máscaras. — Deu de ombros, depositando um beijo na testa da princesa. — Acho que temos um discurso a fazer.

***


— Um brinde aos noivos! — o rei exclamou, sorridente, levantando a delicada taça de cristal que segurava e sendo imitado por todos os que estavam ali presentes.
— E à união entre nossos reinos! — complementou no tom mais alto que pôde para que pudesse ser ouvida dentre as centenas de vozes, segurando a mão de seu noivo e exibindo um sorriso que ia de uma orelha a outra.
Até aquele momento, saíra-se muito bem em seu papel de noiva alegre e apaixonada. Durante o discurso, as palavras saíam de sua boca com tal facilidade que mal podia acreditar que era ela mesma quem as pronunciava. Durante o banquete, mal teve tempo para realmente comer. Conversara com vários dos convidados até que, já ao final, seu pai iniciara os brindes.
Levou a taça aos lábios, tomando um longo gole do vinho que a enchia. Logo em seguida, tomou seu rosto em suas mãos e encostou delicadamente os lábios aos dela, fazendo com que o salão fosse tomado por um coro de vivas. Apesar de ter sido pega de surpresa pelo gesto, não se afastou de imediato, como faria em qualquer outra ocasião. Por ser seu noivado, julgou necessário que ela e compartilhassem um beijo ao menos uma vez na noite. Mas isso não impediu que suas bochechas ficassem quase tão vermelhas quanto o vinho em sua taça. Quando percebeu esse detalhe, ao separar seus lábios dos dela, não pôde evitar que uma risada baixa escapasse por seus lábios.
— Me desculpe por isso — sussurrou, com um sorriso divertido brincando em seus lábios.
respirou profundamente, implorando aos céus que ninguém mais houvesse percebido aquilo, mas, assim que voltou a olhar para frente, deparou-se com um par de olhos fitando-a fixamente a alguns metros de distância. Eles eram de um azul tão claro que chegava a ser quase branco, do mesmo tom que o gelo fino que se forma por sobre um lago, e tão indecifráveis quanto o mais difícil dos enigmas. O homem a quem eles pertenciam era igualmente enigmático. tinha certeza de que nunca o havia visto na vida, apesar de o número de bailes, festas e cerimônias no castelo sempre terem sido maiores do que ela gostaria. Seus cabelos eram da cor da areia, curtos e, naquela noite, estavam penteados para trás. A metade superior de seu rosto estava coberta por uma máscara negra com detalhes prateados, e a inferior era tomada por um meio-sorriso um tanto frio e agressivo, como se estivesse com raiva de alguma coisa. Ele ergueu a taça que segurava em sua direção, tomando todo o seu conteúdo em um só gole e só então voltando a atenção para uma das damas que encontravam-se ao seu lado.
? — chamou, num tom entre impaciente e preocupado, virando-a em sua direção. — Aconteceu alguma coisa? Você parece ter visto um fantasma!
— Eu estou bem, não se preocupe — garantiu, piscando rapidamente algumas vezes e encolhendo ligeiramente os ombros ao abraçar o próprio corpo. — Apenas... me distraí por um instante.
— Tem certeza disso? — fitou-a, desconfiado, e ela afirmou repetidas vezes com a cabeça. — Bem, nesse caso... me concede uma dança? — Estendeu-lhe uma das mãos, curvando-se levemente para frente em uma reverência.
hesitou por alguns segundos, lançando um rápido olhar em direção ao homem que estivera observando-a há pouco, porém não o encontrou mais ali. Por fim, aceitou a mão que lhe era estendida e foi guiada por por entre as pessoas até encontrarem um lugar com espaço suficiente para que pudessem dançar.
Ambos dançavam com tamanha graciosidade que ninguém se arriscou a separá-los, embora uma fileira de garotas estivesse à espera de uma brecha para ocupar o lugar de — o que não se resumia apenas à dança. Moviam-se em círculos, em perfeita sincronia tanto em relação ao outro quanto à canção. Vez ou outra, a rodopiava, fazendo seus cabelos esvoaçarem de encontro a seu rosto e um leve sorriso surgir em seus lábios. E assim se seguiu, até que se cansasse e cedesse seu lugar a uma das damas, que não conseguiu suprimir um grito agudo de felicidade ao dar as mãos para o príncipe.
Por um instante, desejou ser como ela. Uma simples garota fútil e ingênua, suspirando pelo príncipe do reino vizinho, cuja única preocupação era estar bela o suficiente para chamar sua atenção e, quem sabe, conquistar seu coração. Mas escolhera um destino diferente. Escolhera assumir o papel de guerreiro que deveria ser ocupado por seu irmão mais velho, caso possuísse um. Era o dever do filho mais velho assumir a frente das batalhas quando o rei já não pudesse mais ocupá-la e, sem irmãos naquela época, ela não vira outra saída. Se pudesse voltar até aqueles dias e desistir dessa tarefa, desistiria de prontidão. Mas não se pode mudar o passado. Só se pode lamentar por ele.
— Se eu fosse Vossa Majestade — uma voz grave soou ao seu lado, despertando-a de seus devaneios em um susto. — Ficaria de olho em seu príncipe. As donzelas de Greymount sabem agir como as mais sujas cortesãs quando julgam necessário.
— Felizmente, não tenho com o que me preocupar — rebateu, num tom hostil, voltando-se para o homem que lhe falara, encarando sem nenhuma surpresa aqueles mesmos olhos azuis, que, vistos de perto, não lhe pareceram tão frios. Na verdade, eram até um tanto quanto... familiares. — A não ser, é claro, com o fato de que você não tirou seus olhos de mim durante toda essa noite.
— Não posso argumentar contra isso. — Encolheu os ombros, abrindo ambas as mãos ao lado do corpo em sinal de rendição, com um sorriso de escárnio tomando conta de seus lábios.
— E o que você quer de mim? — ela perguntou, um pouco mais rude o que o esperado, cruzando os braços e encarando desafiadoramente seus olhos.
— Uma dança — respondeu-lhe, simplesmente, estendendo a mão e curvando-se em reverência assim como fizera alguns instantes atrás.
— E por que eu deveria? — Ergueu uma das sobrancelhas.
— Porque seria descortês de sua parte caso não aceitasse. E creio que, como princesa, a descortesia é algo inaceitável para você — argumentou, levando-a a revirar os olhos antes de dar-se por vencida e depositar sua mão sobre a dele de um modo nada gentil.
Ele logo adiantou-se em envolver sua cintura firmemente com uma das mãos, enquanto a outra continuava junto à de , que, contrariada, levou sua mão livre até seu ombro, e os dois logo começaram a mover-se. Ao contrário do que acontecera com , não se sentia confortável enquanto dançava com ele. A proximidade excessiva, os olhos que pareciam enxergar no fundo de sua alma e o modo como eles lhe pareciam tão familiares a espantavam, faziam-na querer afastar-se de sua presença tão rápido quanto possível, mas ele não abrira nenhuma brecha que lhe permitisse escapar.
— Diga-me, sobre seu príncipe... — Sua expressão agora era tomada por seriedade, o escárnio e a frieza abandonando-a por completo. — Você o ama?
— Esse assunto não diz respeito a você — respondeu, com tamanha rispidez e hostilidade que o fez recuar um passo. — Aliás, eu nem mesmo sei quem é você.
— Ah, eu lhe garanto que sabe. Apenas não se deu conta ainda— afirmou, com tamanha seriedade que ela não pôde evitar percorrer seu rosto com os olhos uma vez mais, procurando por mais traços familiares, mas a máscara que cobria o rosto do rapaz dificultava sua busca.
— Não sei do que você está falando — tentou soar firme, mas sua voz saiu fraca e trêmula. Ela sabia, sim, do que ele estava falando. Lembrara-se de onde conhecia aqueles olhos, embora se recusasse a acreditar no que estava acontecendo. Era tudo mais um de seus sonhos. Tinha de ser.
Subitamente, ele parou de dançar, o que a desequilibrou de tal forma que por pouco não caiu no chão. Desatou sua mão da dela, levando-a até sua máscara e removendo-a no que pareceu a uma eternidade lenta e agonizante. Por um instante, ela fechou os olhos, certa de que, quando os abrisse novamente, estaria deitada em sua cama, mas isso não aconteceu. Aquilo era real, ele era real, e ela mal podia acreditar no que estava diante de seus olhos.
— sussurrou, num fio de voz, e ele abriu o primeiro sorriso gentil e caloroso que ela presenciara naquela noite, abrindo os braços como quem espera receber um abraço.
Ela gostaria de dizer que ele ainda possuía as feições das quais se lembrava tão claramente, mas não seria verdade. Os únicos traços que permaneciam os mesmos eram os olhos cristalinos, os caninos proeminentes que sempre fizeram-na lembrar-se dos contos sobre vampiros e a fina cicatriz que cortava seu rosto desde abaixo do olho esquerdo até a sobrancelha direita em uma perfeita linha reta. Não era mais o menino que pertencia a suas memórias, mas sim um homem. Um homem demasiadamente atraente, em sua opinião.
Vê-lo ali, vivo e crescido, depois de anos de sofrimento por sua suposta morte, deixou-a sem palavras, sem ação. Ela queria chorar, gritar, abraçá-lo, xingá-lo, beijá-lo e acertá-lo com um soco tão forte que o faria desmoronar, tudo ao mesmo tempo. As emoções eram um turbilhão em seu peito, as palavras formavam um nó em sua garganta e sua cabeça parecia girar. Ela se sentia como se fosse vomitar, mas estava perplexa demais até mesmo para isso. Antes que pudesse perceber, avançou na direção de e acertou um tapa tão forte em sua bochecha que a marca de seus dedos brilhou em púrpura quando ela se afastou, deixando-o completamente confuso.
— Por Deus, o que foi isso? — ele perguntou, expressando sua surpresa e dor em sua voz, cobrindo o local onde ela lhe acertara com uma de suas mãos.
— Perdoe-me! Eu não... — apressou-se em se desculpar, segurando seu rosto e afastando sua mão para analisar as cinco marcas que começavam lentamente a desaparecer.
permaneceu paralisado enquanto ela continuava murmurar pedidos de desculpa até que as marcas desaparecessem. E foi só então que percebeu o grau de proximidade em que se encontravam. Seus olhos estavam a poucos centímetros dos dele e ela podia sentir sua respiração de encontro a seus lábios, o que provocou um arrepio em sua espinha. Teve vontade de beijá-lo ali mesmo, na frente de todos, mas sabia que não podia. Até o fato de estarem tão próximos era inaceitável, mediante a ocasião em que se encontravam. Ela estava noiva, afinal. E seu noivo estava a apenas alguns metros de distância.
— V-você... — gaguejou, num sussurro, enquanto se afastava lentamente. — Por todos esses anos... eu pensei que...
— Eu estava morto. Eu sei disso. — Suspirou pesadamente e desviou os olhos dos dela, fixando-os no chão. — Ouvi rumores de que você ordenara uma busca por sobreviventes. Mas, veja, eu não...
! Aí está você! — A voz de uma mulher o interrompeu, fazendo-o olhar em direção ao chamado com certa frustração e até mesmo um pouco de desespero em seus olhos.
Ela era uma das mulheres mais belas que já vira em toda sua vida. Os longos cabelos dourados caíam em ondas por sobre seus ombros, em contraste com sua pele levemente bronzeada, o que definitivamente não era comum naquela região. Seu vestido era inteiramente coberto por pequenos cristais alaranjados e vermelhos que faziam-na parecer estar coberta por chamas. Andava com tamanha elegância que levou a princesa a ajustar inconscientemente sua postura. Seus olhos azuis, mas não como os de . Eram de um tom mais escuro, cheio de vida e brilho. Cada parte dela parecia irradiar calor, e isso deixava completamente desorientada.
— Lady Diena, essa é a Princesa , de Mondlicht — apresentou e Diena curvou-se em reverência, os cabelos caindo-lhe por sobre os olhos.
— É um enorme prazer conhecê-la, Majestade.
— Diena veio dos reinos ao sul — ele explicou. — Está em Greymount há dois anos.
— Ela provavelmente deve sentir muita falta do sol — comentou, mas imediatamente desejou ter ficado de boca fechada. A frase soara tão hostil e sarcástica que até mesmo a repreendeu com o olhar.
— Um pouco, é claro. — Sua expressão logo mudou de ofendida para extremamente feliz e radiante ao enlaçar os braços ao redor do tronco de . — Mas meus motivos para ficar são imensamente maiores que a falta de sol.
passou um longo instante fitando o rosto de um e de outro alternadamente, procurando entender o que estava acontecendo ali. Algo no modo como Diena pronunciara aquela última frase, juntamente com toda a intimidade que ela demonstrava ter em relação a , demonstrava que eles não eram apenas simples conhecidos. A realidade atingiu-a como um soco no estômago, e aquilo partiu seu coração em milhões de pedaços. Esperara seis longos anos apenas para descobrir que seu amado encontrava-se tão fora de seu alcance quanto estivera durante todo o tempo em que ela pensava que ele estava morto. Lágrimas começaram a formar-se em seus olhos e tudo o que ela queria era sair correndo dali para tão longe quanto fosse possível.
— Eu... uh... bem... — gaguejou, procurando uma desculpa para se retirar, fixando seu olhar no chão sob si e levando uma de suas mãos à nuca. — Preciso encontrar... uh... o príncipe. Se me dão licença...
— Foi um prazer conhecê-la, princesa. — curvou-se, tomando a mão de que ainda se encontrava livre e depositando sobre ela um beijo quente e carinhoso, mas ela removeu a mão abruptamente. Estava demasiadamente magoada para sustentar aquela farsa. — Diga ao Príncipe que Lorde Craith mandou lembranças e congratulações pelo noivado.
Mas, ao terminar de pronunciar aquelas palavras, seus lábios não pararam de se mover. Pronunciaram mais algumas palavras sem som algum, uma mensagem silenciosa para : encontre-me na torre oeste ao fim da festa. Ela assentiu brevemente antes de retirar-se dali, deixando algumas lágrimas descerem por seu rosto assim que virara as costas para eles. Como ele tinha a audácia de convidá-la a encontrá-lo após a cena que ela presenciara? Não. Ela não faria o papel de idiota novamente. Ele estava morto quando ela acordou. E continuaria assim.

***


A lua já mergulhava no horizonte quando a última carruagem partiu dos portões do castelo em direção a uma das hospedarias do vilarejo que o cercava. Os corredores estavam escuros e o silêncio tomava conta do lugar. Tudo o que podia ouvir além da própria respiração era sua consciência, ordenando que ela desse meia-volta e retornasse ao quarto a cada passo que ela dava. Por mais que tentasse, ela não conseguia resistir à possibilidade de vê-lo uma vez mais, de tocá-lo, de ouvir sua voz, apesar de cada um desses fatores ser extremamente doloroso, considerando que ele estava completamente fora de seu alcance. Só uma última vez, disse para si mesma. Assim que ele me der as devidas explicações, acabou. E continuou repetindo aquela frase, convencendo a si mesma de que era verdade.
Mal chegara à torre oeste quando um par de braços a envolveu, puxando-a para dentro de um cômodo iluminado apenas por uma pequena tocha, prestes a apagar-se, presa à parede oposta à porta. Ela lançava uma luminosidade fraca e avermelhada pelo pequeno cômodo que ela identificou como um armário de vassouras, repleto de objetos nos quais ela tropeçava a cada passo. Quase gritou com o susto, mas uma mão cobriu seus lábios, impedindo-a de abri-los até que ela se acalmasse.
— Céus, você quer me matar? — perguntou em um sussurro, completamente irritada, ao remover a mão dele de sua boca.
Ele soltou uma risada baixa, apressando-se em fechar a porta para evitar que alguém os visse ou ouvisse. Sua cicatriz parecia brilhar de modo sombrio à fraca luminosidade. Ele tinha um sorriso divertido em seus lábios, o que só serviu para irritá-la ainda mais. Por que ele precisava ser tão inoportuno com seus sorrisos encantadores e sua noiva incrivelmente maravilhosa? Ela não entendia.
— Pensei que você não viria. — Aproximou-se dela, tocando-lhe o rosto com as pontas dos dedos, mas ela recuou, deixando-o um tanto confuso.
— Lorde Craith*? — perguntou, num tom debochado, cruzando os braços e encarando-o com uma sobrancelha erguida. — Foi o melhor em que você conseguiu pensar?
— Não é muito criativo, eu sei. Mas dispensa explicações. — Deu de ombros despreocupadamente e, por um instante, pareceu-se muito com o garoto que ela conhecera seis anos atrás.
— Por que me chamou aqui? — perguntou, sem rodeios, virando um dos baldes que ali se encontravam de cabeça para baixo e sentando-se sobre ele.
— Porque, bem, eu te devo algumas explicações. — Coçou a nuca, fitando-a, incerto se deveria ou não continuar. Ela permaneceu em silêncio absoluto e ele então começou a narrar o que acontecera desde a guerra.
Contou que fora levado como escravo pelo exército inimigo, juntamente com outros dois arqueiros, e vendido para um poderoso Barão de Greymount. Aprendera a manejar a espada e a lutar como um guerreiro e, quando a oportunidade chegou, foi mandado para a guerra, da qual voltou como herói, por ter salvado a vida de um dos irmãos de . Ganhou a simpatia do rei, que, em agradecimento a seus feitos, concedeu-lhe a liberdade e o título de Lorde. Desde então, liderara o exército do rei em inúmeras batalhas, sendo promovido em pouco tempo a General. E então chegou à parte que menos agradara . Conhecera Diena dois meses após sua chegada, no banquete de comemoração do fim de mais uma batalha bem-sucedida. Tornaram-se amigos e, durante um ano e alguns meses, isso foi só, até que seu pai ofereceu-lhe sua mão em casamento, e ele aceitou. Alguns dias depois, recebera a notícia de que se casaria com a princesa de Mondlicht.
— Quando soube de seu noivado, decidi que precisava vir até aqui. — Suspirou pesadamente, passando a mão por seus cabelos e bagunçando-os. — Veja, , não houve um só dia em que eu não pensei em você durante todos esses anos.
— Então o que te impediu de vir até aqui antes? — ela perguntou, num tom baixo e frio, a dúvida corroendo dolorosamente seu coração.
— Eu... eu não sabia o que fazer, o que falar — confessou, desviando os olhos dos dela para suas mãos, que se remexiam incessantemente. — Eu tinha medo de chegar aqui e perceber que você já não se importava mais. Que já encontrara outro que amasse tanto quanto ou até mesmo mais do que um dia já me amou. Eu sei o quanto é doloroso perder alguém que se ama, . Assim como você também sabe.
O silêncio tomou conta do cômodo por vários e vários minutos. não tinha coragem de olhar para cima e encontrar novamente aqueles olhos negros tão frios quanto a mais densa escuridão. permanecia imóvel e em silêncio, sem encontrar as palavras certas para dizer. Até que, enfim, ela decidiu manter-se calada. Não havia o que dizer. Ergueu uma mão e tocou os cabelos de , ajeitando-os carinhosamente, o que o fez erguer os olhos em confusão. Seus lábios tocaram lentamente os dele, quentes e macios assim como ela se lembrava. Ambos estavam inicialmente hesitantes em relação ao beijo, mas logo se entregaram completamente a ele. Uma das mãos de permanecia nos cabelos loiros do lorde, enquanto a outra estava pousada delicadamente sobre seu ombro. Já as de envolviam a princesa, mantendo-a o mais perto possível de si.
Uma sensação diferente de tudo o que ela já experimentara percorreu seu corpo quando suas línguas se tocaram, algo entre o frio e o calor, deixando-a arrepiada da cabeça aos pés. Não estava acostumada àquele tipo de toque, o que fazia cada movimento parecer uma experiência completamente nova e maravilhosa. É claro que o sabor cítrico e adocicado de vinho nos lábios de também contribuía para deixar tudo imensamente mais delicioso. Era, definitivamente, a melhor coisa que já experimentara e, a cada segundo que se passava, parecia ficar ainda melhor.
Quando seus lábios finalmente deixaram os dele, única e simplesmente porque seus pulmões doíam pela falta de oxigênio, ela não se atreveu a abrir os olhos. Podia sentir a respiração quente e acelerada de de encontro a seus lábios, as mãos dele em volta de sua cintura e o calor que irradiava de seu corpo, mas ainda temia que tudo aquilo fosse algum tipo de sonho. Lembrou-se do que prometera a si mesma antes de encontrá-lo e um sorriso se formou em seus lábios. Nada correu como o planejado, e ela adorara aquilo. Quando finalmente abriu os olhos, encontrou as belíssimas íris azuis, que fitavam-na em um mix de confusão, surpresa e desejo, tão próximas que ela podia ver cada mínimo detalhe presente nelas.
— Por que você fez isso? — ele perguntou, encostando a testa à dela.
— Porque eu te amo — respondeu sem hesitar, acariciando seu rosto com ternura. — E nunca sentirei por outra pessoa nem mesmo um terço do que sinto por você.
— Fuja comigo, . — Tomou as duas mãos da princesa nas suas, depositando um beijo em cada uma delas. — Para tão longe quanto conseguirmos chegar.
ficou atônita demais com o pedido para responder imediatamente. A perspectiva de viver ao lado de , por mais que precisassem fugir, era demasiadamente atrativa, é verdade, mas ela não pôde deixar de pensar em sua família e, principalmente, em . Não que sentisse algo pelo príncipe, mas não parecia certo abandoná-lo daquela maneira. Ele fora seu único amigo por um longo tempo, e ela se acostumara de tal forma a tê-lo por perto que a possibilidade de perdê-lo parecia inexistente até aquele momento.
, eu... isto é, esse pedido foi... — Mordeu seu lábio inferior com certa força, procurando a palavra certa a dizer. — Inesperado. Quer dizer, é claro que o que eu mais quero é estar com você, mas, por outro lado... Eu preciso de algum tempo para pensar.
Ele assentiu, um pouco contrariado. Esperava que ela dissesse sim sem hesitação, mas não foi o que aconteceu. É claro que ela tinha razão, havia muito a se perder caso fugissem — família, amigos, sem falar no conforto que ambos possuíam, especialmente —, mas ele estava disposto a abrir mão de tudo aquilo por ela. Entretanto, aparentemente, ela não estava.
— No fim desta semana, em cinco dias. Quando a lua desaparecer nas montanhas, logo antes do sol nascer — ele estabeleceu e ela concordou, assentindo. — Estarei no portão lateral, por onde passam os servos, à sua espera.
E, com um beijo curto, mas não menos intenso que o primeiro, eles selaram o acordo.

***


Ao final do último dia de seu prazo, ainda estava completamente perdida. A sensação dos lábios de nos seus ainda parecia estar presente, lembrando-a da escolha que teria que fazer em poucos minutos. Metade da lua já havia se perdido por trás das montanhas e o restante desaparecia mais e mais a cada segundo. Uma fina camada de neve cobria as ruas do vilarejo, deixando tudo com um brilho prateado que seria lindo, não fosse a agonia em que a princesa se encontrava.
Ela estava no quarto de hóspedes que fora cedido a , onde adentrara secretamente algumas horas atrás. Não tivera coragem de contar a ele o que pretendia fazer e vê-lo ali, dormindo calmamente, apenas servia para aumentar a culpa em seu peito. Ela desejava ter aceitado imediatamente o pedido de seu amado, afinal, esses dias que se passaram fizeram-n a encontrar diversos motivos para ficar, o que só aumentou sua indecisão. Se ela fugisse, seu reino ficaria sem uma princesa, sem alguém para com que se casasse e, assim, o acordo de paz fosse mantido. Ela sozinha poderia desencadear uma guerra entre os dois reinos, simplesmente por ser egoísta o suficiente para fugir. Mas, em contrapartida, não sabia se aguentaria perder mais uma vez, não depois de tudo o que passara sem ele durante todos aqueles anos.
Ela mal percebeu quando o último pedaço do brilho pálido da lua foi engolido pelas montanhas. Aquele era o momento em que deveria decidir-se de uma vez por todas. Vasculhou o pátio ao redor do portão lateral, encontrando-o facilmente ali, à sua espera, como prometera. Usava uma capa escura, assim como a pelagem do cavalo sobre o qual encontrava-se montado. Parecia impaciente, olhando de um lado ao outro em busca de um sinal de que ela estivesse ali, mas ela não estava.
Um forte aperto tomou conta do coração de quando ela finalmente se decidiu. Debruçou-se sobre a janela, observando-o uma última vez e, como se pudesse sentir o olhar sob si, ele se virou em sua direção. Ela tinha lágrimas nos olhos, que escorriam livremente por seu rosto. Ergueu uma das mãos e levou dois dedos aos lábios e, em seguida, ao coração, cortando-o duas vezes em um "x".
— Eu te amo, meu lorde — sussurrou, num fio de voz, antes de afastar-se da janela.
Abraçou o próprio corpo e deixou-se cair sentada no chão, chorando em silêncio até que não restassem mais lágrimas dentro de si. Os primeiros raios de sol já brilhavam do lado de fora quando finalmente se levantou. Deitou ao lado de na larga cama, encostando suas costas ao tronco dele. Deixar ir após tanto tempo de sofrimento fora, sem dúvidas, o ato mais difícil e doloroso que já tomara em toda a sua vida. Mas, quando fechou os olhos, um sentimento que ela há muito desconhecia apoderou-se de seu peito.
Após anos e anos carregando o enorme fardo que era seu remorso, ela finalmente estava em paz.


FIM



Nota da autora: 04.12.2014 –
Ahm... Olá, folks! Bem, essa é a primeira shortfic que eu escrevo na vida e devo dizer que quase enlouqueci tentando encaixar um enredo inteiro nessas pouquíssimas palavras. Ok, talvez não tão poucas assim. Pra quem não fez a ligação, o título está relacionado aos olhos dos dois pps — os azuis do Lorde representando o frio e os negros da nossa queridíssima princesa representando a escuridão —, e estes estão ligados à personalidade dos dois. Eu sei, pode ser difícil reconhecer isso no texto, mas está lá, eu juro. Espero que, depois desse final, vocês não estejam querendo me torturar até a morte — as pessoas têm essa vontade quando leem minhas fanfics —, mas é que eu tenho um gosto enorme por finais não tão felizes e meio inesperados. Caso vocês não sejam igual a mim, é só parar quando o lindíssimo pp fez o pedido, fingir que ela aceitou e fica tudo certo, ok? Então, acho que é só isso. Não sou de ficar implorando comentários, mas seria legal se vocês me dissessem o que acharam, assim eu posso melhorar nas futuras short e longfics, não é mesmo? Um beijo estalado na bochecha de cada um(a) de vocês e até a próxima!
XX – Kay
*Craith é a palavra em gálico equivalente a "cicatriz".

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