Nos últimos meses, meu pai vinha lendo o jornal constantemente em busca de uma casa nova, por fim encontrou. Até que barata demais, e abaixo do preço de custo, isso era estranho, mas não nos importamos, pois a casa já era velha e precisaria de algumas reformas, dando a causa do preço baixo. E, além do mais, a imobiliária não forneceu muitos detalhes sobre a história da residência, agradeci por isso, já que eu não gosto nada desses tipos de coisa por me impressionar fácil. Logo após a reforma, nos mudamos o mais breve possível. A casa permaneceu com sua mobília original, já que a nossa era pouca para um lugar tão grande. Até então, só tinha visto tudo por fotos, não conhecia o lugar pessoalmente e estava ansiosa para chegar logo. Assim que mamãe estacionou o carro, desci dele rapidamente e parei na frente da residência. Um sorriso surgiu nos meus lábios chegando a mostrar todos os dentes. Fiquei admirada como tudo ali era lindo. As janelas grandes, a pequena sacada, uma varanda que era envolvida por eras, o jardim. Senti que aquele lugar tinha sido feito para mim, eu amava a natureza. As palmeiras do jardim balançavam com o vento, um cheiro de rosa veio junto, olhei para o lado e vi uma roseira branca. Caminhei até ela e senti seu cheiro mais de perto. Tive a ligeira impressão de estar sendo observada, então me virei para ver se realmente tinha alguém por perto, mas não havia ninguém. Dei de ombros e voltei minha atenção para a casa, por um breve momento achei que tinha visto alguém na janela do quarto da sacada. Uni as sobrancelhas. Será os pedreiros ainda estavam trabalhando? Voltei até o carro para ajudar mamãe com as caixas.
– Mãe, tem alguém na casa? – perguntei tirando meus óculos escuros e mordendo sua haste. Eu ainda encarava a janela perplexa onde tinha uma longa cortina verde musgo que nem se quer havia se mexido com a presença de uma pessoa ali.
– Não, querida, agora me ajude a tirar essas coisas da mala. – falou abrindo o porta-malas. Ainda não tinha me dado por vencida, tenho certeza que havia alguém ali. – Querida, segure essa caixa pra mim. – mamãe pediu, pegando uma caixa enorme de papelão. Coloquei meus óculos na cabeça e fui ajudá–la. – Seu pai deve chegar mais tarde para organizar as coisas. Ande pela vizinhança e encontre alguma alma caridosa que poça nos ajudar com isso. – sim, mãe, se existir alguma alma caridosa ainda nesse mundo.
A caixa era bem pesada, e pra completar estava escrito frágil por ela toda. Não bastando apenas isso, ela estava tampando quase toda a minha visão e como se minha mãe não soubesse que sua filha era estabanada, me encarregando desse trabalho, ela bem que podia ter me dado algo menor e que não quebrasse. Tomei o maior cuidado possível com aquela enorme caixa de papelão. Subi os degraus da varando e o susto foi maior do que eu, joguei a caixa no chão e sai correndo gritando feito uma louca histérica.
– Filha, o que aconteceu? – minha mãe veio de encontro a mim, ela estava preocupada.
– TEM UM VELHO EM PÉ NA NOSSA VARANDA! – minhas mãos estavam geladas, então mamãe começou a rir. Afinal, qual era a graça do meu ataque cardíaco?
– Fique tranquila. – ela falou com uma voz doce e aconchegante, mamãe era um anjo de pessoa, poucas coisas a estressava. – É apenas uma estátua de bronze. – segurou minha mão e me puxou, mesmo que eu estivesse relutante em voltar até a varanda novamente.
E realmente era uma estátua de um velho feito bronze que segurava um livro, como se estivesse lendo, seus óculos ficavam na ponta de seu nariz, o pouco cabelo tornava ele calvo, pude reparar que sua calça e o colete sobreposto com uma camisa de botões, juntamente com seus sapatos estilo scarpin, o deixavam com um ar de sec. XIX. Dei um sorriso achando minha atitude ridícula, além do mais, se fosse alguém de verdade, seria apenas um velho, e não me faria mal algum, mas meu medo era maior do que qualquer coisa, às vezes, até uma simples borboleta inesperada voando ao meu lado me assustada. Sou uma tremenda medrosa. Não espalhe isso pra ninguém, please. Morro de vergonha de contar para alguém que tenho medo de qualquer besteira. Depois que minhas pernas pararam de tremer, consegui ajudar minha mãe com as caixas. Colocamos todas pra dentro. As paredes da casa tinham papeis de parede retro combinando com todo o resto, sendo tão linda por dentro, quanto por fora. Mais tarde, quando já tinha ficado familiarizada com o velho na varanda, voltei até lá.
– Mãe, que nome iremos dar a ele? – perguntei tentando olhar por cima do ombro dele pra ver o que lia. As letras eram bem legíveis, ali se via escrito uma passagem de Romeu e Julieta de William Shakespeare.
Sorri. Quem quer que houvesse morado ali era um amante de romances proibidos. Passei a mão no ombro do velho como se estivesse arrumando sua roupa, eu o respeitava agora, dei a volta por ele e parei a sua frente.
– . – escutei alguém falando atrás de mim. Olhei por cima do ombro e não vi ninguém.
– Mãe, falou comigo? – gritei da porta da varanda.
– Sim, querida. Disse que podíamos dar o nome do seu avô. – olhei pro velho, ele não lembrava em nada meu avô que era um comandante alemão, e sim um velho senhor britânico que gostava de ler.
– Não! Vamos chamá–lo de . Sr ! – dei um enorme sorriso e passei uma flanela em sua careca.
– Que nome feio, filha! Não tinha outro melhor pra dar? – ela perguntou, vindo até a varanda e a porta se fechou bruscamente entre nós. Dei um pulo com o baque forte que ela deu.
Vi a maçaneta girar lentamente, dei passos pra trás com receio e meus olhos pareciam que iriam sair de órbitas de tão arregalados que estavam. Engoli em seco agarrando a flanela laranja com força contra meu peito.
– Esse vento. – mamãe reclamou abrindo a tal. – Vamos ter que colocar um peso nessa porta pra que não fique batendo.
Permaneci quieta e olhei pra meu novo amigo. Sr .
– Que tal darmos o nome dele de Shark?
– Não, eu gosto de . – resmunguei meio triste, mesmo que ele tivesse outro nome, não o chamaria pelo escolhido e sim pelo qual eu escolhesse.
– Está bem, querida, se gosta tanto de , podemos colocar esse nome nele. – pulei em cima de minha mãe e a abracei.
– Você é a melhor mãe do mundo. – beijei sua bochecha.
– Ok, querida, agora pegue o lustrador e limpe o . – soltei mamãe, se não a sufocaria sem querer.
– É Sr. . – corrigi colocando as mãos na cintura.
– Como seja. – se retirou.
Assim quando a mudança acabou de chegar, escolhi meu quarto que era o que tinha sacada, onde coloquei meus pequenos vasos de planta enfeitando o lugar, e agora estava do meu jeitinho, com meus quadros de lata pendurados pelas paredes onde estavam as fotos dos meus amigos e momentos especiais. Depois que acabei de organizar tudo em seu lugar peguei meu iPod e me joguei em minha cama. Fiquei olhando para a janela, que agora tinham cortinas brancas, enquanto escutava música. De repente o vidro ficou embaçado, e eu achei que estava cansada e começando a ver coisas, mas quando algo começou a aparecer nele, entortei de leve minha cabeça observando o que começava a surgir ali. Tirei os fones de ouvido. Me sentei no meio da cama e li a frase que se formou.
“Olá, queria ser formal, então vamos às apresentações.“ engoli em seco, o embaçado começou a desaparecer.
Um grito de pavor tomou conta de minha garganta e ela estava pronta pra liberado-lo a qualquer segundo. Comecei a levantar da cama bem devagar pra chegar até a porta e sair correndo dali feito uma desesperada. Escutei um estalo de vidro se quebrando, olhei pro meu espelho que tinha acima da penteadeira e nele surgiu um pequeno rachado no canto inferior, no qual foi aumentando bem lentamente, o barulho de algo raspando nele estava me causando arrepio e uma agonia extrema. Quando o espelho se quebrou, pulei da cama e corri até a porta, agarrei a maçaneta como se fosse a salvação de minha vida, tentei girá-la de todas as formas, mas ela não ia. Comecei a esmurrar a porta, eu estava tão apavorada que minha voz não saia. A cadeira que ficava na frente de minha penteadeira se arrastou até para perto bruscamente parando a centímetros da minha perna. Olhei pra ela e comecei a chorar. O que estava acontecendo? Socorro, alguém me salva. Eu devo estar sonhando. Isso é fruto da minha imaginação.
– Por favor, sente-se. – escutei uma voz.
Agora abri a boca pra chorar mais ainda, e comecei a gritar. Voltei pra porta e comecei a esmurrá-la novamente com todas as minhas forças. Vendo que aquilo não iria adiantar comecei a passar minhas unhas nela, como se fosse fazer um buraco ali no qual desse pra eu sair. Não era possível que ninguém estava me escutando. Pelo amor de Deus! Olhei pra minha cama onde tinha um terço pendurado em seu encosto. Dei um salto até ela e agarrei no cordão de pedras brancas. Comecei a rezar todas as preces que conhecia, até as que não conhecia. Fiquei sentada abraçada em meus joelhos com os olhos bem fechados, enquanto as lágrimas escorriam de meus olhos e minha voz saia trêmula.
– Fique calma, não vou te machucar. – algo gelado tocou minha perna. Abri os olhos, apavorada, mas não vi nada. – Me perdoe se te assustei. – eu escutava a voz, mas não tinha ninguém ali! Isso era loucura.
– Saia desse quarto que não te pertence. – minha voz de pavor saiu. Me arrastei mais para trás encontrando minhas costas no encosto de minha cama.
– Você me escuta?! – aquilo pareceu mais uma surpresa do que uma pergunta.
– Por favor, vai embora. Eu juro que nunca mais fico escutando música aqui. – enterrei minha cabeça entre meus joelhos. As lágrimas escorriam de meus olhos e iam até a ponta de meu nariz, e pingando no edredom rosa florido.
– Se é isso que quer. Me perdoe pelo que causei. – escutei a porta fazendo um “tec” e ela se abriu.
Olhei pra ela e sai correndo do quarto gritando feito uma maluca que fugiu do hospício. Vasculhei a casa em busca de alguma alma VIVA, mas não tinha ninguém, na geladeira tinha um recado de mamãe avisando que havia ido ao mercado. Naquela casa sozinha eu não ficaria. Corri pra fora e fiquei sentada no meio-fio esperando meus pais chegassem. Hora ou outra olhava pra janela de meu quarto onde poderia ver o semblante perfeitamente de um homem de pé me observando, mas isso me fazia chorar cada vez mais, por fim preferi não olhar mais. Estava tão apavorada com o que tinha acontecido, que minhas mãos e pernas não paravam de tremer. O soluço começou a surgir e as lágrimas não paravam um instante se quer de sair de meus olhos. Eu, uma mulher de 19 anos chorando dessa maneira era humilhante. Sou covarde demais. Já estava escurecendo e o sereno frio começou a molhar meu corpo. Queria entrar em casa pegar um casaco e ligar pra mamãe pedindo que voltasse logo, mas meu medo não deixava dar nem um passo se quer.
Não estava dormindo em meu quarto há mais de um mês, fiz de quartinho um armário que tinha debaixo da escada, onde só cabia uma cama de tão apertado que era, dava apenas para abrir a porta e se deitar. Não arredava o pé dali até minha mãe chamar um padre pra exorcizar aquela casa. E mamãe já estava se irritando com essa minha história de fantasma. Dizia que era tudo coisa da minha cabeça e que se eu continuasse desse jeito me mandaria para um psicólogo. Prefiro ficar trancada aqui e ir a um médico, do que voltar pro meu quarto. Agora estava deitada na cama lendo um livro com a luz acesa e fitava os degraus do interior da escada sempre quando escutava um barulho. Sempre quando alguém descia ou subia as escadas me assustava, ali não era um lugar muito bom pra ficar, mas me senti segura, já que joguei água benta e preguei um crucifixo na parede acima da minha cabeça. A luz começou a piscar ligeiramente, me sentei na cama e puxei sua cordinha pra que desligasse, mas ela não desligou, fiquei puxando a maldita cordinha, só que a luz não se apagava. O pavor começou a crescer em meu peito.
– Não grite, por favor. – a mesma voz daquele dia estava atrás de mim agora. Pulei para o outro lado da cama na tentativa de me afastar ao máximo do quer que fosse aquilo. Agarrei minhas pernas. – Estou tentando me desculpar com você desde aquele dia inoportuno. – a voz era meio rouca e muito bonita. – Mas você não me escutava.
Meus olhos procuravam uma imagem, mas não conseguiram se focar em nada.
– Quem é você? – perguntei morrendo de medo.
– Me chamo . – senti um toque frio em minha mão.
– Bom pra você. – respondi, escondendo minha mão debaixo da perna. – Quero dizer, pelo menos você tem um nome. – eu estava falando sozinha, isso era estranho.
– Seria esquisito se não tivesse. – escutei uma risada breve. – Como se chama?
– . – falei tão baixo que acho que ele não tinha escutado, ou tinha, não sei!
– É o nome mais belo que já ouvi. – tinha um jeito cordial de falar. – Fiquei-me admirado com sua beleza quando te vi a primeira vez.
Senti minhas bochechas corarem, afinal do que eu estava sentindo vergonha?
– Está linda com essas bochechas rubras. – a voz era meiga.
– Pare com isso. – pedi tentando esconder meu rosto que ardia cada vez mais. – De onde você é?
– Sou daqui, vivi toda minha vida pacata nessa humilde casa.
– Desculpe se a invadi, se quiser posso inventar alguma mentira pra que meus pais e nós vamos embora. – era bizarro falar com um “nada”, você fica procurando uma pessoa e não vê.
– Negativo, minha cara, não quero que se vá. – não escutei mais nada, achei que tivesse indo embora. Soltei o ar de meus pulmões. – Fiquei feliz com a chegada de vocês aqui.
– Então por que me assustou daquela maneira? – perguntei feito uma criança que queria saber porquê o céu era azul.
– Não foi minha intenção, mas quando tentei me manifestar, minha energia se canalizou em outros pontos.
– Hum. – o medo não me deixava nem por nada. – Acho melhor eu ir dar uma volta.
– Não. Fique. – um toque extremamente frio encostou em meu braço, o que eu me causou um arrepio tremendo. – Por favor.
As palavras não conseguiam sair de minha boca, como que eu conseguia escutá-lo? Isso só podia ser mesmo coisa de minha cabeça. Assombração não existia. Era loucura. Levantei da cama e sai do “quarto”. E como sempre, quando essas coisas me aconteciam nunca tinha ninguém em casa. Na sala tinha um piano vertical no qual um lençol branco o cobria, pois ninguém aqui em casa sabia tocar e na primeira oportunidade mamãe daria um jeito de se desfazer dele. O pano branco foi puxado dele bruscamente e jogado no chão. Minha mente ordenava que minhas pernas corressem pra bem longe, mas elas não obedeciam de forma alguma. Uma tecla do piano foi tocada e o som ecoou pela sala. Meu coração estava em disparada. Lá fora começou a chover forte e um relâmpago caiu perto de minha casa. Droga, por que essas coisas têm que acontecer logo comigo? Me sentia dentro de um filme de terror. O piano estava cheio de poeira, um risco foi se formando como se alguém estivesse passando o dedo pela madeira e examinando o quanto empoeirado aquilo estava. Uma música clássica e romântica começou a tocar aquilo me deixando calma. Sentei no divã preto perto do piano e fiquei observando as teclas sendo tocadas sozinhas. Gosto de piano, só acho muito complicado tocar. O que será que fazia nessa casa, digo, por que ele não foi embora? Será que a casa tem algum tipo de praga que prende o espírito da pessoa?
– . – chamei, acho que meu estado de loucura chegou a tanto, que já estava falando com fantasmas.
– Sim. – o piano parou.
– Por que está aqui? – perguntei com medo da resposta.
– Me matei. Agora fico vagando no limbo. – preferi ficar quieta. Mas a curiosidade era grande, embora eu não entendesse absolutamente nada dessas coisas.
– O limbo é ruim? – não era isso que queria pergunta.
– O pior lugar que pode existir. Você vê as pessoas, mas não pode tocá-las, e nem te escutam.
– Nossa. Deve ser solitário. Não existem outros como você? – a forma cordial que ele falava ia sumindo.
– Suponho que sim, mas não quis procurar, prefiro ficar aqui com meus livros e minhas coisas. – olhei pra estante que agora não tinha mais nenhum livro. – Sua mãe os guardou em uma caixa no porão.
– Desculpe pela intromissão dela. – não queria irritar um espírito.
– Tudo bem. – o piano voltou a tocar. – Desculpe tocar, nem sei se você gosta.
– Pode tocar a vontade, não me incomodo.
Será que tinha algum outro pertence particular de que revelasse quem ele realmente é? Percorri mentalmente por toda a casa tentando imaginar em que lugar poderia ser encontrado alguma coisa. Vou dar uma olhada no sótão, no porão, eram os únicos lugares onde mamãe guardou os pertences que iria se desfazer. Levantei do divã e subi as escadas, enquanto o piano tocasse sabia que não viria atrás de mim. No final do corredor tinha uma cordinha no teto, na qual puxei e caiu uma escada acertando minha cabeça. Droga. Isso doeu. Subi as escadas passando a mão na cabeça onde tinha sido acertada. A chuva que batia contra o telhado dificultava escutar a doce melodia do piano. Puxei a correntinha da lâmpada acendendo a luz do lugar. Aqui fedia a poeira. Comecei a mexer no meio dos entulhos, não sabia que tinha tanta tralha ali, achei até minha fantasia de halloween de 10 anos atrás, menos o que procurava. Meu nariz já estava coçando de estar mexendo naqueles entulhos. Por fim desisti e desci. A música ainda tocava, passei pela cozinha pra que ele não me percebesse. Agora fui pro porão. Acendi a luz antes de descer as escadas, pra que não caísse por ela. Se eu achava que no sótão tinha muito entulho, aqui então, tinha o dobro, acho que até o triplo. Além de feder a mofo. Tive uma pequena crise de espirros. Peguei uma lanterna velha no que me ajudaria a enxergar melhor, já que a lâmpada que meu pai colocou ali era fraca demais pra iluminar todo o local. Vasculhei todas as caixas e nada. Será que mamãe tinha jogado fora? Não tinha nada nesse monte de lixo. Voltei pra sala e continuava tocando.
– O que estava procurando? – sua voz me assustou. Além daquele piano tocando sozinho, estar chovendo lá fora, ele ainda tinha que falar pra deixar aquilo tudo mais assustador do que já era?
– Nada. – tentei não olhar pras teclas do piano. Me sentei no divã novamente. – Sou uma péssima mentirosa, fui ver se achava alguma coisa particular sua. – escutei ele rir.
– Não tem nada meu aqui além dos móveis. – respondeu com simplicidade. Revirei os olhos e bufei. Continuei na mesma, não iria descobrir quem era ele. – Ficou curiosa em saber mais sobre mim?
– Qualquer um ficaria se descobrisse que tem um fantasma morando em sua casa. – cruzei as pernas e ele riu novamente, mas não respondeu minha pergunta, tinha algo estranho aqui, e vou descobrir. – Vou dormir um pouco, mas se quiser continuar tocando fique a vontade a casa é tanto nossa quanto sua. – subi pro meu quarto e peguei meu notebook.
Procurei o jornal da cidade e sobre alguma notícia que envolvesse suicídio. Mas não achei nada. Que merda! Olhei pro relógio, já estava tarde. Liguei pra mamãe e ela disse que estava na casa de minha tia e que demoraria pra voltar. Acabei por dormir apenas escutando o piano tocar sozinho e com o barulho da chuva lá fora.
Perdi o medo de dormir em meu quarto, e com os passar dos dias, eu e fomos nos tornando amigos. Ele era super legal, descobri que tinha morrido com apenas 21 anos, mas mesmo assim ele se limitava em falar sobre si mesmo e o motivo no qual havia se matado. O que me deixar cada vez mais curiosa. Mamãe começou estranhar deu falando sozinha, porém nem dei ideia, já que ela não acreditava mesmo que tem um fantasma morando em nossa casa. Todos os dias quando voltava da faculdade pela manhã, corria pro meu quarto pra contar ao como foi minha aula, ele ficava empolgado e dizia que comigo por perto se sentia vivo novamente. Nem preciso contar que quando ele disse isso morri de vergonha, né? Será que existe algum jeito de trazer os mortos de volta? Andei pesquisando sobre esses tipos de coisas e achei uma senhora que mexia com isso, mas tive medo de ir lá. Foi em uma tarde chuvosa que não aguentei mais se esquivando da minhas perguntas, peguei minha bolsa e fui na biblioteca da cidade procurar mais informações. Uma menina muito simpática veio me atender.
– No que posso ajudá-la?
– Queria saber de todos os suicídios que tiveram na cidade, algum artigo de jornal velho, não sei, qualquer coisa que possa me ajudar. – balançava as mãos e os braços gesticulando conforme falava.
– Mas sobre o que exatamente você quer saber? Assim ficaria mais fácil lhe ajudar. – deu um sorriso meigo.
– Me mudei pra cá a cerca de um ano mais ou menos, e fiquei sabendo que houve um suicídio na casa onde moro. Queria saber mais.
– Bem... – ela ficou meio sem jeito de falar. – Venha comigo, acho que sei do que você está falando. – a menina deu a volta no balcão e saiu por ele.
A segui por um corredor de estantes onde deu em uma sala com computadores antigos. Ela se sentou no primeiro que viu e digitou “A casa” no campo de pesquisa. Achei estranho, pois isso desencadearia uma série de pesquisas relacionadas. Como dito surgiu um monte de pesquisas, mas apenas o primeiro artigo tinha o nome que ela digitou. A garota se levantou e cedeu a cadeira pra que me sentasse. A manchete dizia: “Fim do toque de recolher.” Comecei a ler o artigo; Depois de muito terror e pânico, finalmente conseguiram descobrir onde foram parar as pessoas desaparecidas. O local denominado como “A casa” foi descoberto depois de uma ligação anônima para a polícia. A ligação relatava que dois irmãos estavam discutindo muito dentro de casa e que logo após teve um silêncio repentino. Foi mandada uma viatura ao local. Quando o sargento Mitchell chegou, ficou sem saber o que fazer. Já estava ficando com medo do que estava por vim. Ele relatou que tinha um rastro grande de sangue que seguia pelas escadas até o primeiro quarto à frente do banheiro. Era meu quarto agora. O corpo do irmão mais novo foi encontrado debaixo da janela, na qual tinha a marca de sangue de uma mão impressa no vidro. Logo depois o sargento pediu reforços e encontraram o irmão mais velho em estado de choque em outro quarto. O homem estava apavorado, não falava com ninguém, mas por fim decidiu confessar que o irmão mais novo estava construindo uma casa feita de corpos, e quando descobriu o que o tal fazia, tiveram uma briga e se trancou no próprio quarto pra sua proteção, pois tinha ficado apavorado com tamanha loucura. Disse que o irmão se matou, mas que ele não viu nada do que ocorreu. Foram encontrados no porão corpos empilhados e amarrados com fita silvertape, formando uma pequena casa. Alguns corpos foram encontrados separadamente faltando pedaços de carne, no qual foi descoberto mais tarde ser usado como alimento para o assassino. Tinha uma imagem da casa de corpos que deveria ser mais ou menos 4m², nela tinha janela onde uma cortina de ceda verde musgo estava pendurada, porta e uma chaminé feita de braços. Não consegui olhar por muito tempo era apavorante demais. Foi comprovado que , o irmão mais novo era mesmo o autor dos crimes, suas digitais estavam espalhadas por todos os instrumentos que foram encontrados pra o uso das mortes. Todas as vítimas foram envenenadas para que a perfeição de seus corpos fosse mantida, uma quantidade de formol era injetada nos corpos diariamente, e eles ficavam juntamente em uma câmara de refrigeração construída no subterrâneo da residência pra que não se decompusessem. Posteriormente também foram encontrados corpos decapitados e cabeças penduradas na parede do porão feito troféus. Fechei a janela. Chega! Já li o bastante pra nunca mais querer entrar naquela casa e ter pesadelos pra mais de anos. EU TINHA UM FANTASMA PSICOPATA MORANDO NO MEU QUARTO! Fiquei olhando pra tela do computador velho. O que vou fazer agora? Tinha que tirar meus pais de lá, antes que seja tarde demais. Peguei meu celular e liguei pra minha mãe. Ela já tinha chegado do trabalho e meu pai estava a caminho de casa, tentei avisar pra que eles saíssem de lá o mais rápido possível, mas ela me ignorou como sempre e me deu o sermão de que isso era tudo bobeira, e que já estava cansada das minhas palhaçadas. Tentei explicar, mas mamãe nem se quer me escutou. Pedi pra menina uma cópia daquele artigo. Voltei pra casa correndo, chegando lá que nem um pinto molhado. Olhei pra escada apavorada imaginando a cena daquele lugar todo sujo de sangue, senti o cheiro de comida então fui até a cozinha. Me deparei com um homem . Ele sorriu pra mim.
– Q-quem é v-você? – gaguejei.
– Querida, ele é o , ex-proprietário da casa. – mamãe disse sorridente.
– , fuja daqui e leve sua família. – escutei a voz de .
– Cala a boca, seu psicopata. – resmunguei irritada, mas com medo de que alguma faca voasse em minha direção. Como que ele poderia ter escondido isso de mim? Contei tudo de minha vida pra ele, confiei no maldito! – Mãe, preciso falar muito com você. – disse, pegando os papéis de minha bolsa.
– O que? , você tem que acreditar em mim! – disse ele depois de um tempo entende o que eu quis dizer.
– Podemos conversar depois, agora vá tomar um banho. – deu uma pausa. – , vai ficar para o jantar?
– Claro. – que cara folgado.
– Mas, mãe. – choraminguei. – É importante.
– Sem mais, . Vá logo. – gesticulou pra que eu saísse da cozinha. – Está molhando meu chão todo.
– Mãe! – ela me olhou nervosa.
Subi pro banheiro, liguei a banheira e fui ao meu quarto correndo pegar uma muda de roupas secas. Tinha que arranjar um plano de qualquer forma! Que tal se eu começasse um incêndio? Não, seria muito arriscado, também alguém poderia se machucar. Olhei a escada assim que passou em minha mente em me atirar nela, quem sabe quebrava um braço ou uma perna, assim conseguiria sair de lá e levaria todo mundo, mas com isso poderia me machucar gravemente. Desisti dos meus planos idiotas, tinha que pensar em algo melhor. Parei na frente da porta de meu quarto com medo de entrar, ela se abriu sozinha. Olhei pra dentro me certificando que não tinha nada de errado. Minhas mãos estavam geladas e não paravam de tremer. Fechei os olhos, respirei fundo e adentrei. A porta bateu atrás de mim com violência e a cadeira de minha penteadeira foi arrastada até a porta, travando o trinco. Sabia que não era uma boa ideia ter voltado pra casa. Agora podia me matar sem problema algum e como ele, parecia que eu teria me suicidado. Mesmo achando que não faz sentindo ele ter se matado. O porquê disso? Não importa, não queria entender a mente de um doente.
– , o que você leu no jornal é mentira! – a voz de me rodeava e isso fazia o pavor crescer ainda mais. – Acha mesmo que se eu tivesse matado todas aquelas pessoas, estaria aqui pedindo pra que fugisse? Além do mais, se quisesse te fazer algum mal, já teria feito! – ele estava indignado. – Olha quanto tempo estamos juntos.
– Não sou psiquiatra pra entender uma mente insana e doentia como a sua! Fique longe de mim e de minha família! – andei até minha penteadeira e me apoiei nela. Estava com medo e apavorada, não queria que nada de mal acontecesse com ninguém. As lágrimas começaram a escorrer de meus olhos. Droga! Plano, tinha que arranjar um! Minha mente ficava cada vez mais lenta. O pior era que eu gostava de , ele era legal. Mas mesmo assim, não era apenas um gostar simples e nem porque eu o achava só legal. Algo mais intenso. ESTAVA APAIXONADA POR UM FANTASMA! Isso não poderia ser verdade, devo estar vivendo um pesadelo, e o da pior espécie. Era tão surreal, tão estranho. – Sou uma inútil! Nem pra inventar algo e dar o fora dessa casa eu consigo. – e se eu ligasse para caça-fantasma? Seria uma boa se não fosse ficção. Sentia uma aperto no peito, queria que todo fosse mentira.
– Você tem que acreditar em mim, não sou capaz de machucar ninguém, muito menos você e sua família.
– Pare de mentir! – mesmo falando isso, eu acreditava nele. Acreditava que era inocente. Olhei pro espelho e vi o reflexo de alguém atrás de mim. Fiquei pasma quando começou a se focar cada vez mais. Me virei bruscamente pra trás, mas não vi ninguém, voltei a olhar no espelho e ali tinha o reflexo perfeito de um homem.
– O que foi? – perguntou ele vendo minha reação assustada.
– Por acaso, você tem os cabelos , e olhos ? – perguntei observando cada detalhe. Era o homem mais lindo que já tinha visto na minha vida. Isso dificultava ainda mais as coisas. Um psicopata tão perfeito.
– Você está me vendo! – ficou surpreso e feliz ao mesmo tempo.
– Droga! – me virei de frente pra ele, mesmo não conseguindo enxergá-lo de tal forma. – Já ouvi dizer que quando escutamos e vemos fantasmas quer dizer que estamos mais pro lado de lá, do que de cá. EU VOU MORRER! – gritei apavorada, seria meu fim!
– O que? De onde arrancou isso? Você não vai morrer! – senti algo frio tocar meus ombros, acho que tentava me reconfortar, mas estava piorando a situação.
– Eu vi em um filme que a mulher morreu depois de ver um fantasma. Mas não foi de susto, foi depois de alguns dias. É como se seu espírito estivesse na linha entre a vida e morte, permitindo que vejamos tanto os vivos como os mortos. – expliquei.
– Essa é a teoria mais louca que já ouvi. – riu. Me virei pro espelho mais uma vez, queria vê-lo. estava de pé bem atrás de mim, sua feição era séria e agora preocupada. – Vai ficar me olhando?
– Desculpe. – sai dali. – , você tem que deixar minha família em paz. – pedi.
– Quantas vezes vou ter que dizer que sou inocente? – ele estava inconformado. – Por favor, acredita em mim.
– Nenhuma! Está no jornal! Foi provado isso. Afinal, por que se matou? – franzi a testa. Eu tinha provas, enquanto ele tinha apenas palavras.
– Eu não me matei. – respondeu com tristeza. – Foi o , ele ficou louco quando descobri o que ele fazia no porão.
– É mentira! Você disse que tinha se matado! – comecei a andar de um lado pro outro, aquilo tudo está dando um nó na minha cabeça. Queria poder tocá-lo.
– Falei isso pra que não achasse nenhuma informação a meu respeito. É mais fácil acreditar em um jornal do que em um cara morto que convive contigo? – ele andava atrás de mim. – Você está me deixando tonto, para de andar. – senti algo gelado atravessar meu corpo. Sensação estranha.
– Nada me tira da cabeça que você está mentindo. – caminhei até a porta e tirei a cadeira de trás dela, tentei virar o trinco de bronze, mas não conseguia. Queria fugir dali, fugir dele, fugir do que eu sentia. – Abra! – a porta se destravou e pude sair, desci correndo até a cozinha onde não encontrei ninguém. Andei até o fogão pra ver o que mamãe estava cozinhando, mas no caminho escorreguei e bati com a cabeça no chão. – Merda. – reclamei passando a mão no local que doía. Olhei pro piso preto que brilhava, ele estava molhado. – O que é isso? – o liquido era meio especo e melado, passei o dedo e vi que era vermelho. Mas tinha um cheiro de óleo. O desespero que tomou conta de mim foi tanto que não estava conseguindo respirar. – Sangue. – eu sempre desmaiava quando via sangue. Minha vista começou a ficar turva.
– ... – alguém me chamou de uma forma cantante. – Bonequinha. – era uma voz familiar. Era .
Eu não podia desmaiar, não agora. Levantei com dificuldade e fui patinando pelo rastro de sangue e óleo que se seguia até a porta do porão. Olhei lá pra baixo onde estava muito escuro, tentei acender a luz, mas ela não funcionava.
– Docinho. – a voz vinha do andar de cima.
Então desci pro porão, caminhei cega no escuro, mais cai em um buraco onde tinha muita água, era fundo, meu pé não alcançava o chão, e não dava pra mim sair, precisaria que alguém me puxasse pra cima. Escutei os passos de alguém descendo as escadas e a luz se acendeu. Rezei pra que fosse mamãe, escutei os passos seguindo até onde eu estava.
– Vejo que encontrou meu frízer. – sorriu. estava falando a verdade. Como fui estúpida! – Será que ele ainda funciona? – andou até um pequeno painel e o ligou. – Hum, continua perfeito. Vamos esfriar um pouco sua cabeça. – disse virando o botão ao máximo.
Eu tentava sair lá de dentro, mas o nível da água não me dava altura pra chegar até tampa. Aqui deveria ter uma escada pra que desse pra sair, ou um bueiro por onde a água evacuasse, algo do tipo, isso não podia ser uma caixa fechada! Afundei e tentei achar alguma saída, mas estava tudo vedado e a água era meio turva. Acho que fizeram isso de caixa d’água. Emergi e estava no beiral me olhando com um sorriso enorme.
– Seu doente! Bem que havia me falado que era você, e eu não acreditei. – o me olhou sério agora, vi a fúria percorrer seu olhar quando citei o nome do irmão mais novo. Me arrependi de ter falado aquilo, não posso provocar um psicopata dessa forma. Sou uma burra mesmo.
– Acho que você vai conversar com ele pessoalmente... no inferno! – ele fechou a tampa, escutei o barulho dela sendo trancada.
Comecei a gritar pra que ele abrisse aquilo. Ali estava ficando muito frio e agora estava escuro demais. O choro desesperado tomou conta de mim, o soluço se apossou de minha garganta, eu tinha que sair dali, mas era impossível. Eu gritava tanto que minha garganta já estava doendo. Já tinha perdido a noção do tempo que havia se passado desde que me trancara ali. A luz do refrigerador foi acesa praticamente me cegando.
– ! – era a voz de . – Ai dentro tem uma escada de ferro! Tente achar, vou tentar abrir a tampa.
– , você está morto! É impossível fazer isso. – minha voz saiu esganiçada.
– Tudo é possível, basta querer. – isso de certo modo me tranquilizou.
Mergulhei, mas meu fôlego estava pequeno e a água super gelada não estava ajudando em nada. Depois de muita dificuldade achei a escada, mas ela estava no fundo e deitada, além de ser pesada. Com todas as forças que me restavam, consegui levantar ela e colocá-la encostada na parede pra que desse altura para chegar na tampa do frízer. Tentei levantar ela, mas a escada escorregou e voltei a cair dentro d’água. Afundei e puxei a escada pra cima novamente, já estava ficando cansada. Escutei um barulho na tampa e ela foi aberta. conseguiu! Dei um sorriso. Sai do frizer vi que era mamãe e ela estava ferida, segurava um pano de prato ao lado de sua barriga no qual estava encharcado de sangue. Ela disse que estava tudo bem e que era pra me esconder, neguei, mandei ela sair pela porta que daria ao jardim e que chamasse a polícia. Assim que ela saiu, vi o carro de meu pai chegar, fiquei olhando pela janelinha que tinha no porão pra ver se mamãe conseguiria avisar papai de que era pra ir embora, mas era tarde. surgiu da escuridão da garagem e pegou meu pai. Dei um grito histérico, no qual não foi escutado pelo barulho da chuva. O estava todo molhado, o vi arrastando o corpo de meu pai pra dentro da garagem. Subi correndo e peguei uma faca enorme na cozinha. Aquele desgraçado iria pagar pelo que estava fazendo com minha família. Fui andando em passos rápidos até a garagem em meio da chuva, mas parei na porta dela desistindo de entrar. Não tinha coragem de continuar. As lágrimas escorriam por meus olhos, eu era tão covarde, nem pra salvar meu pai de um psicopata eu servia.
– , o que pensa que está fazendo? Foge! – escutei a voz de , olhei pro vidro do carro no qual refletiu a imagem dele do meu lado.
Não falei nada, nem tinha o que falar mesmo. Comecei a dar passos pra trás indo embora e correr para longe daquele lugar o mais rápido que minhas pernas conseguissem. Senti o peito molhado e forte de alguém bater contra minhas costas. Fui virando o pescoço lentamente pra trás. Por favor, que seja um policial. Ou um super-herói. Vi parado com um sorriso estampado no rosto.
– BU! – disse ele, o que foi o suficiente pra me assustar.
Tentei sair correndo, mas ele me agarrou por trás. Comecei a gritar desesperadamente e a me debater. Segurei a faca com forma em minha mão e finquei em qualquer lugar nele, o que o fez me soltar na mesma hora, deu um grito de dor. Cai na grama molhada e cheia de terra. Levantei e corri para dentro de casa. Peguei o telefone sem fio e disquei pra emergência, ou pelo menos tentei, meus dedos tremiam tanto que não conseguiam acertar os dígitos. Quando finalmente consegui acertar os três números na sequencia certa, o telefone perdeu a linha, deveria ser por causa da chuva forte. O taquei longe. Merda. Vi o entrar pela porta da sala, ele estava com a mão segurando o braço, reparei que seu rosto estava queimado, foi quando me liguei, mamãe deve ter tacado óleo quente nele quando foi atacada. Assim quando me viu veio na minha direção, subi as escadas, mas ele agarrou meu pé me fazendo cair. subiu pra cima de mim, vi que em sua mão estava à faca na qual havia o golpeado. Ele a levantou pra fincá-la em meu peito. Fechei os olhos esperando o que estaria por vim, mas não senti nada. Abri os olhos devagar e a faca estava a centímetro de mim. fazia uma força tremenda, mas ela nem se quer mexia.
– Empurra ele! Não vou aguentar por muito tempo! – disse com urgência.
Empurrei o maluco pra trás, e ele rolou escada a baixo. Acabei de subir o restante dos degraus e me tranquei no banheiro. Ali estava tudo molhado, olhei pra banheira que tinha esquecido ligada, ela estava transbordando. começou a esmurrar a porta com violência, ele a colocaria a baixo a qualquer momento. Olhei pra todos os lados buscando uma saída, mas o basculante do banheiro era pequeno demais, e eu nunca passaria por ele. Vi minha chapinha em cima da pia, e então surgiu um plano. Subi em cima da pia de mármore, liguei a chapinha e apaguei a luz. Fiquei segurando ela em minha mão esperando o momento certo. conseguiu arrombar a porta, ele ligou a luz e me olhou, assim quando ele entrou e vi que tinha pisado na água joguei a chapinha no chão. Aquilo o eletrocutou, as luzes da casa começaram a piscar. Fechei os olhos com força esperando que aquilo acabasse. O cheiro de queimado invadiu meus pulmões, então o barulho de curto-circuito parou. Abri os olhos, estava tudo escuro, não sai de cima da pia por nada. Depois de um tempo vi as luzes de lanternas entrando, alguém apontou o feixe em meus olhos. Devo ter parecido uma gata assustada, já que semicerrei os olhos e coloquei a mão na frente, fazendo uma careta muito feia. Um homem me estendeu a mão, pra que eu descesse da pia. Sai do banheiro e desci as escadas lentamente, estava escuro e não dava pra ver muita coisa. Quando cheguei à varanda me deram uma manta pra que me cobrisse, aquilo não adiantou muito já que minhas roupas estavam molhada, uma senhora seguiu comigo com um guarda-chuva em mãos até a ambulância, antes de entrar olhei pra trás, especificamente pra janela de meu quarto. Vi de pé lá me olhando, e se aproximava dele cada vez mais dele, e o agarrou por trás, tampando sua boca levando o menino pra escuridão. Quis voltar pra lá e ajudar , mas alguém me impediu.
Depois do que aconteceu mamãe quis se mudar pra outra cidade, mas antes de ir embora decidi ir à senhora que fazia Hoodoo. Conversei com ela tudo o que tinha acontecido, e ela decidiu me ajudar. Disse que com a ajuda do mundo sobrenatural conseguiria trazer de volta, só que isso me custaria algo. E isso teria que ser no dia de halloween onde a linha entre os mundos estaria mais fraca. Achei aquilo tudo uma lorota, mas não custava nada tentar.
Era quase meia noite quando voltamos na casa. Eu ainda tinha a cópia da chave, então não foi nada difícil. A senhora acendeu velas nas quais tinhas uns escritos estranhos e vários alfinetes fincados por todas as partes, enquanto falava umas paradas estranhas que não entendi. Depois a ajudei a puxar o tapete do centro da sala e ela fez um círculo com lasca de tijolo, nele tinha uns desenhos muito loucos e no centro foi colocado uma mesinha com um pote de vidro, e ao lado dele tinha uma adaga. Fora do circulo foi colocado quatro espelhos posicionados como; norte, sul, leste e oeste. Disse a velha doida que espelhos funcionavam como portais, e que sairia por um deles. Ela tinha um mato na mão, que não faço ideia do que seja. Vi no pé da escada me olhando, ele não estava entendendo nada. Mas sorriu quando nos olhamos. Fiquei feliz por ele estar bem e ainda morar ali. As velas subiram as chamas, a velha pediu que me aproximasse do circulo.
– Espíritos presentes nessa casa, por favor, queira se aproximar. – disse ela segurando em minha mão. me olhou achando aquilo tudo bizarro, concordei com a cabeça e ele entrou no circulo.
Ela começou a dizer umas coisas mais estranhas do que antes, depois começou a se balançar freneticamente, parecia que a mulher estava tendo uma convulsão. Comecei a ficar com medo e me arrepender de ter feito isso. As velas aumentaram as chamas, o relógio de pendulo começou a dar suas badaladas anunciando a meia noite. O local ficou frio, os espelhos começaram a estalar e ficar embaçados. Luzes se acenderam e apagaram freneticamente. A mulher falava suas palavras cada vez mais altas, e eu queria sair correndo dali, mas não podia, se aquilo traria de volta teria que permanecer ali. Comecei a me sentir fraca e a senhora segurava minha mão com força. Ela pegou a adaga e cortou minha mão fazendo com que sangrasse e pingasse dentro do pote. A velha soltou minha mão e jogou alguma coisa dentro do pote onde tinha meu sangue depois riscou um fósforo e tacou dentro dele, onde levantou uma chama alta. Minhas pernas cederam, e minha vista ficou turva rapidamente, escutei a última badalada do relógio. Desmaiei. Quando voltei a acordar estava deitada no meio da sala, não tinha mais ninguém ali. Olhei pros lados assustado. Corri pela casa inteira procurando alguém, subi onde era meu quarto e olhei pela janela. Vi do lado de fora, conversando com a velha e... comigo? Como assim? A pessoa que era eu e ao mesmo tempo não era, ela olhou pra janela e deu um sorriso. Um sorriso familiar demais e aterrorizante. Era ele. TINHA TOMADO MEU CORPO! Comecei a esmurrar a janela desesperada tentando avisar . Mas ninguém me escutava. Desci correndo e tentei passar pela porta, mas não consegui, voltei ao quarto e olhei mais uma vez pela janela, eles estavam indo embora. Por mais que eu gritasse ninguém me ouvia. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, agora eu pertenceria eternamente àquela casa.
FIM?
N/A: Quem quer me enforcar ai levanta a mão! \o. Então, não sei muito o que falar com esse final. Fiquei com pena da menina, tadinha, fez de tudo para ajudar o cara e se ferra. Agora es a questão; Será que isso tudo era parte do plano deles mesmo para se libertarem? Bem, quem sabe, né? Dessa vez não vou ficar falando horrores. Quero agradecer a That por ter betado a fic.
Contato via Twitter. Beijos até a próxima.
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