Escrita por: Yash
Betada por: Cocó


Londres: Domingo; Janeiro – 1994

O menino ainda olhava curioso para a pequena menininha nos braços de sua tia, atentamente. Tinha percebido que seus olhos eram null, iguais aos de sua mãe e seus pequenos cabelos que nasciam eram loiros, a pele clara, bochechas rosadas. Lembrou-se da versão de uma princesa que vira na televisão. A mãe de menina a segurava, e o chamou, fazendo ele se distanciar de todos os seus pensamentos possíveis, e então a olhou:

– Você gostou dela? – a mulher perguntou, com um sorriso no rosto.
– Ela parece uma princesa – falou, estudando a garotinha que movia-se nos braços da mãe.
– Talvez ela seja mesmo – ela sorriu. – Você quer segurá-la? – a mulher perguntou, e null hesitou antes de assentir com a cabeça; tinha medo de deixá-la cair.
Sentou-se no sofá ao lado da mulher e chegou para trás, a mulher de cabelos loiros entregou-lhe com cuidado a menininha, que para ele, parecia uma das bonecas de sua irmã.
– Ela é bonita – o menininho falou, olhando os pequenos olhos null da menina, que quando encontraram com os seus, sorriu, fazendo-o sorrir também.
– Sim, ela é – a mãe respondeu.
– Qual é o nome dela? – null perguntou, curioso, sem tirar os olhos da menina e a segurando firmemente, com medo de deixá-la cair.
– O nome dela é null.

Londres: Segunda-feira; Março – 1997

– Hey, null, me espera! – a pequena garotinha percorria atrás do menino que corria em direção ao parquinho. null sorriu, parando para esperá-la.
– Você tem que correr mais rápido, Mari – null disse, com a voz ofegante por causa da corrida.
– Eu não consigo – a garotinha falou, correndo em sua direção, parando quando estava à centímetros de distância de null.
– Eu sei que você consegue, me dá a sua mão – null estendeu a mão para a garotinha, que a pegou firmemente. E assim correram, o mais rápido que puderam, como se não existisse distância ou tempo, apenas correram.

Londres: Terça-feira; Junho – 2001

null se sentou na calçada e abraçou os joelhos, ainda chateada pelo fato de null não ter falado com ela o recreio inteiro – ele só queria saber de conversar com os garotos da sua classe e olhar para as garotas mais velhas que passavam por eles, e aquilo realmente a tinha deixado chateada, ou, pelo menos, irritada. Ele tinha que ser apenas seu amigo, era assim que tinha que ser, sempre. O carro de sua tia parou em frente à escola, e Mari se levantou, caminhando até o carro – ela sempre vinha lhe buscar quando sua mãe não podia.
– Oi, meu amor, como foi a escola? – Emma, melhor amiga de sua mãe, (null considerava-a como sua própria tia) e mãe de null, perguntou animada, e a garota apenas deu de ombros.
– Foi normal, como todos os dias – falou, olhando para o vidro, na esperança de ver null.
– Cadê o null? – ela perguntou, e null a olhou.
– Eu não sei, acho que ele não vem... – Emma pôde sentir o tom de desapontamento em sua voz e suspirou.
null, eu sei que o null tem mudado um pouco com você, mais isso é coisa da idade... Você sempre vai ser especial pra ele, nunca duvide disso – a mulher pegou em suas mãos, e null a observou.
– Acho que ele não gosta mais de mim, agora ele acha só as outras garotas mais interessantes – null disse, dando de ombros, e sua tia ligou o motor do carro, dando partida.
– Ninguém nunca vai ser mais interessante que você, meu amor, você é um doce – sua tia lhe disse. Ela apenas assentiu, e ficou calada, olhando a paisagem passar pela janela, pois sabia que as coisas não eram mais como antes.

[...]

null chegou em casa e bateu a porta atrás de si, lembrando-se de como sua mãe ficava irritada quando ele a esquecia aberta. Olhou em volta e não viu ninguém, espiou pela janela com visão para o quintal dos fundos, e viu null sentada no balanço, sozinha, perdida em pensamentos. Não havia falado com ela naquele dia, e lembrou que não se falavam direito fazia, pelo menos, um mês. Era hora de corrigir isso. Abriu a porta do quintal, e caminhou em direção à garotinha que agarrava as correntes do balanço, olhando para a árvore.
– Oi – null disse, sentando-se no outro balanço, e null sorriu, fraco, olhando para o garoto.
– Oi – disse.
– Porque tá aqui sozinha? – null perguntou, com a voz calma, e null o encarou.
– Sua mãe foi na mercado e minha mãe não tá em casa, tô esperando ela vir me buscar – explicou.
– A gente costumava fazer alguma coisa quando não tinha ninguém em casa, que tal roubar os biscoitos do armário? – null perguntou, e null negou com a cabeça.
– Não, tudo bem, tô bem aqui – respondeu-lhe. null suspirou, saindo do balanço e agachando em frente à garota, para poder olhá-la nos olhos.
– Eu sei que a gente não tem se falado direito e eu peço desculpas por isso... Eu vou tentar mudar essa situação.
– Você encontrou amigos melhores, e garotas mais bonitas – Mari abaixou a cabeça, e null sentiu um nó no coração. null tinha dez anos, e ele, doze; tinha crescido e agora se interessava por outras coisas, mas nunca deixaria de amá-la.
– Você sabe que sempre vai ser a única garota mesquinha e a mais importante do meu coração – null sorriu.
– Você promete? – ela o encarou, e ele pôde ver seus olhos null brilhando, do jeito que ele mais gostava.
– Prometo, princesa – null beijou-lhe o rosto. – Então, agora podemos assaltar a geladeira? Tô morrendo de fome! – null disse e null riu.
– Tudo bem, vamos. Mas o bolo de chocolate é meu, e eu não vou dividir – null riu e null deu língua.
– Mesquinha! – null disse, correndo casa adentro, e null o seguiu.
– Eu não sou mesquinha!

Londres: Memory Lane - Quarta-feira; Setembro - 2004

null, seu idiota, me espera! – null gritou, andando rapidamente, ao ver que a chuva já se aproximava. Abraçou o corpo, sentindo ódio de null.
– Anda logo! – null disse.
– Antigamente você me esperava! – falou, irritada.
– Disse muito bem, antigamentenull falou, apressado.
– Por que essa pressa toda? – perguntou, tentando manter o mesmo ritmo.
– Porque eu tenho uma festa pra ir hoje, e se não chegarmos em casa logo, a gente vai pegar uma puta de uma chuva – respondeu-lhe.
– Ah tá, agora eu entendi – null falou com a voz irritada, cruzando os braços e parando de andar. null só foi notar que ela tinha parado, mais ou menos, um metro depois, virou-se e viu a garota com a expressão completamente fechada e irritada.
– O que foi agora? – ele perguntou, olhando para o céu quando um trovão ecoou, e a chuva começou a cair, deixando-os completamente encharcados.
– PODE IR! Vai encontrar com aquela Lisa e divirta-se! – null falou com a voz embargada, descruzou os braços e virou-se para o caminho contrário, voltando a andar. Sua voz vacilara; qualquer poderia notar que, ao mesmo tempo em que estava irritada, estava triste e queria chorar e null a conhecia muito bem para saber disso. Pela primeira vez na vida, gostaria que ele não a conhecesse tão bem.
null, para – null disse, seguindo-a, tentando secar os olhos molhados pela chuva. – Você vai acabar caindo numa poça e vai acabar se machucando – avisou.
– POR QUE VOCÊ ME TRATA COMO SE EU FOSSE UMA CRIANÇA? – dessa vez, ela parou de andar e virou para encará-lo. – Eu não sou mais uma criança, null! PARE DE AGIR COMO SE EU FOSSE UMA BEBÊ INDEFESA! – null gritou.
– Eu nunca te tratei como uma! – null gritou, aproximando-se da garota, vendo o quanto ela realmente estava chateada.
– Eu tô cansada de te ver com outras garotas, tô cansada de você me tratar como um bebê, tô cansada de ser apenas uma “garotinha que fez parte da sua infância e que é como uma irmã pra você” – falou, a voz ríspida, dando ênfase a última frase. null olhou em seus olhos, os tãos conhecidos olhos null pelos quais sempre fora apaixonado. Sentia raiva por ela pensar isso de si, e sentia mais raiva ainda por deixá-la pensar essas coisas.
– VOCÊ NÃO ENTENDE QUE NUNCA OUVE “OUTRAS GAROTAS”? – null gritou. – SEMPRE FOI VOCÊ, ! EU SÓ NÃO TINHA CORAGEM DE ADIMTIR ISSO! – null engoliu em seco.
– ENTÃO POR QUE VOCÊ MUDOU, , POR QUÊ?! – o tom em sua voz era de mágoa, e aquilo acabava com ele, odiava fazê-la sofrer.
– Porque eu tenho medo de te fazer sofrer, princesa – “Princesa”, era assim que ele a chamava desde que se entendiam por gente, e ainda se perguntava o porquê; ela não se parecia com uma e nunca fora uma, mas aquilo se tornara um apelido diário, carinhoso, que apenas ele sabia o significado.
– Isso jamais aconteceria, porque a única coisa que pode me fazer sofrer, é não te ter ao meu lado – ela falou, deterninada. Não houve mais palavras, apenas o barulho da chuva. Quando null fez menção de abrir a boca para falar algo, null se antecipou e selou seus lábios e a beijou. Beijou-a sem pensar duas vezes, porque aquilo era o que ele mais queria fazer. Sabia que a garota nunca fizera nada parecido antes, e que aquele seria seu primeiro beijo, e claro que ele sabia que tinha que ser com ele, como tudo que tinha que ser, pois ela era seu passado, presente e futuro.

Londres: Quinta-feira; Agosto – 2006

– Você acha que finais felizes existem? – null perguntou, de repente. Estava deitada entre os braços de null; assistiam um seriado qualquer na TV, aproveitando que as mães de ambos faziam biscoitos na cozinha.
– Depende do ponto de vista – null respondeu, e null o fitou.
– Como assim? – perguntou.
– É você quem faz o seu “feliz para sempre”. Se você quer que algo dure, vai durar. Se não, some, como o vento. Não depende do destino, e sim de nós mesmos. Você quem faz a sua história.
– E a nossa história? – null sorriu, erguendo-se para encarar seus olhos.
– Você é o meu passado, presente e futuro – null tocou a ponta do nariz de Mari com o anelar, que sorriu, beijando seus lábios em seguida.


Londres: Sexta-feira; Setembro – 2006

null segurou a cauda do vestido em suas mãos, ainda nervosa pelo que estava prestes a acontecer. O enorme tapete vermelho estava a sua espera, então, pisou com seu pequeno salto e aproximou-se. Quando todos os convidados da festa olharam-na, ela deu mais um passo, e alguns fotógrafos posicionaram-se para registrar aquele momento, que para sua mãe – e sua tia, era mais que inesquecível. Afinal, era sua festa de 15 anos! Chegou à frente do salão, e sua mãe pegou o microfone, para proferir o discurso no qual decorava há semanas, que em momento algum a deixou ler, pois deveria ser surpresa.

Há quinze anos, em 1991, nasceu a coisinha mais fofa do mundo, que para uns parecia uma boneca de porcelana, e para outros, não passava de apenas uma linda princesanull sorriu, lembrando-se de null. Olhou ao seu redor, imaginando onde ele poderia estar. – null, nunca duvide, em momento algum de sua vida, de que você não é amada. E como eu disse anteriormente, você é uma princesa, filha. E toda princesa, tem seu príncipe – Então, null , de terno e gravata – coisa que null quase nunca havia presenciado desde que nasceram – entrou, deslizando pelo tapete vermelho, segurando um buque de rosas amarelas, suas favoritas, e entregou-lhe, beijando sua testa. null seguiu até o palco, centrado na pista de dança, onde null, null e null o esperava. A garota sem entender nada, o olhou, confusa. null posicionou-se em frente ao microfone.
– Bom, essa música se chama “I Wanna Hold You”, e ela foi feita para a minha princesa – ele, então, piscou para null, que sorria com o buquê de flores pressionadas contra o peito. null sorriu, pegando a guitarra e soando os primeiros acordes da música.

Tell me that you want me baby
Tell me that it's true
Say the magic words and I will change the world for you
Not before the broken hearted
Marching through the streets
Every cities burning to the ground under your feet

Me diga que você me quer baby
Me diga que é verdade
Diga as palavras mágicas e eu mudarei o mundo para você.
Um exercito de corações partidos
Marchando pelas ruas
E toda a cidade esta queimando e caindo debaixo de seus pés.


I wanna hold you
My skies are turning black
Feels like a heart attack
(And I) Do anything you ask
I wanna hold you bad

Eu quero te abraçar
Meu céu está ficando preto
Sinto como um ataque cardíaco
E eu faria qualquer coisa que você pedir
Eu quero muito te abraçar


Melt the polar ice caps baby
Watch them flood the earth
I'd do anything to show you what your love is worth
Won't you show me your devotion?
To heal my aching heart
It's like a neutron bomb explosion tearing me apart

Eu derreteria as calotas polares baby
Assistiria elas inundarem a Terra
E eu faria qualquer coisa para mostrar que seu amor tem
valor então me mostre sua devoção
Cure meu coração dolorido
é como uma explosão de bomba atômica acabando comigo


I wanna hold you
My skies are turning black
Feels like a heart attack
(And I) Do anything you ask
I wanna hold you bad

Eu quero te abraçar
Meu céu esta ficando preto
Sinto como um ataque cardíaco
E eu faria qualquer coisa que você pedir
Eu quero muito te abraçar

Não sabia se era real ou não, porém, null correu, levantando seu vestido com uma das mãos, para os braços de null, que a abraçou fortemente. Ela encostou a cabeça em seu ombro, antes de deixar uma lágrima cair.
– Eu te amo – sussurrou. Era a primeira vez que dizia, desde que começaram a namorar, contudo, não era necessário dizer aquelas três palavras várias vezes, porque ambos sabiam o quanto se amavam; conheciam-se muito bem para conhecer cada sentimento que tinham um pelo outro.
– Eu também te amo – null respondeu, beijando seus cabelos. – Feliz aniversário, princesa – ele sussurrou.
– Você é quem faz dele, feliz... – null o encarou, envolvendo os braços ao redor do pescoço de null. Assim que começou a tocar “Daughters” do John Mayer, null observou null cantarolando a música, como se fosse feita pra ela. E na verdade, era.

I know a girl
She puts the color inside of my world
But she's just like a maze
Where all of the walls all continually change


Eu conheço uma garota
Ela coloca a cor dentro do meu mundo
Mas ela é como um labirinto
Onde todas as paredes mudam continuamente completamente


And I've done all I can
To stand on her steps with my heart in my hands
Now I'm starting to see
Maybe it's got nothing to do with me


E eu fiz tudo que eu posso
Para estar em seus passos com meu coração em minhas mãos
Agora estou começando a ver
Talvez não tenha nada a ver comigo


null admirava a beleza do rapaz, e o quão sua voz era linda. Tinha cansado de vê-lo cantar, mas, hoje era especial. Ele estava cantando para ela, em pé, aos sussurros. Sentiu-se completa, como se nada pudesse dar errado enquanto estivesse em seus braços, e na realidade, nada podia, porque null sempre estava ali, pronto para defendê-la. Aquilo não era mais uma coisa que ela odiava, como se fosse uma criança em apuros, mas, visto por outro ponto de vista, aquilo significava que ele a amava, e que a queria por perto sempre, e enquanto se sentisse assim, nunca o deixaria mudar.
– Aquela música foi linda – null disse, a voz embargada e os olhos fixos em null.
– É a minha forma de demonstrar o quanto eu quero te abraçar – null respondeu, e null sorriu.
– Então me abraçe, pra nunca mais soltar – null riu, abraçando-o ainda mais forte; ele riu.
– Doug? – null chamou.
– Hm?
– Ainda é o meu aniversário...
– E..?
– Posso te pedir uma coisa? - null perguntou, levantando o rosto e encarando os olhos de null enquanto dançavam os passos lentos pela pista de dança.
– Pode – null respondeu, dando-lhe um selinho.
– Por que “princesa”? – perguntou, referindo-se ao apelido que ele havia dado a ela, quando ainda era um neném. Ele fez bico.
– Ah, isso é segredo – respondeu.
– Não, null, por favor!
– Não.
– Vai...
null, você é muito chata!
– Eu sei! – sorriu, vitoriosa. – Agora fala.
– Quando eu era pequeno, você tinha uns três anos, sei lá, e eu uns cinco. Eu te vi pela primeira vez, no colo da sua mãe, e ela me deixou te segurar. E quando eu olhei pra você, lembrei instantaneamente de uma princesa que a minha irmã via nos desenhos dela – deu de ombros, achando aquilo a coisa mais idiota possível, mas a garota abriu um largo sorriso.
– Você ainda vai me fazer chorar nessa festa, null! – null disse, dando um tapa de brincadeira em seu braço. – Obrigada, por tudo – ela disse, a voz afetada. null esticou o sorriso nos lábios e envolveu-a em seus braços.
– Obrigado por existir, obrigado por mais um ano com você, princesa – respondeu, antes de beijá-la.

[... ]

[Flashback Off]

“Havia quebrado seu coração. E faria de tudo para consertá-lo.”

Londres: Aeroporto – Sábado; 07h30 da manhã – 2012

Era estranho voltar ali. Era estranho voltar ao lugar que lhe dava tantas marcas em seu coração. Já fazia três anos – três anos desde que nunca mais o vira, e aquilo, por um lado, acabava com ela, e por outro, a fazia querer voltar a se esconder como se fosse uma criança. Mas, tinha que erguer a cabeça, não era mais uma criança, e nem uma adolescente em apuros e tinha que se conformar com a sua história, e que as coisas, na verdade, nunca acontecem como planejamos – pelo menos, não para null. Agora era hora de encarar todas as cicatrizes e estragos que tinha deixado para trás e, mesmo que a culpa a consumisse, precisava voltar. Fazia 24 horas desde que recebera o telefonema de Emma, dizendo que sua mãe havia morrido. Sua ficha ainda não havia caído, não entendia o que realmente estava acontecendo. Na verdade, sentia-se um lixo, destruída; e, agora, não tinha mais ninguém. Suas escolhas tinham lhe trazido tudo, menos as pessoas que amavam.

Apertou a campainha da casa que conhecia tão bem, sentindo toda a nostalgia passar pelo seu corpo. Aquilo tudo fazia parte da sua infância, e aquela casa, aquele bairro... Não tinha mudado simplesmente nada. Então a porta se abriu, e a tia que ela tanto amava apareceu. Ela mudara um pouco, sua aparência agora era mais velha, e viu que ela andava chorando. Sem pensar muito, null a abraçou fortemente, e só ali pôde desabar, pôde entender tudo o que havia perdido, e de todas as escolhas que a fizeram perder tudo o que realmente importava.

– Eu sinto muito, querida – a mulher disse, ainda no abraço. – Vai ficar tudo bem.
– Tia, me perdoe! Perdoe-me por ter abandonado vocês – null falou, em soluços, e Emma passou a mão pelos seus cabelos.
– Você foi atrás dos seus sonhos, querida, você não tem que se sentir culpada – ela disse.
– Ela não podia me deixar, tia – choramingou.
– Shh, vai ficar tudo bem, meu amor – Emma a tranquilizou.

[...]

Era um dia nublado, o sol parecia ter se escondido atrás das nuvens, e todos à sua volta usavam preto – ela, inclusive. Pegou uma rosa amarela, e caminhou pelo cemitério, onde todos acompanhavam o caixão de sua mãe. Caminhava de cabeça baixa ao lado da tia, questionando-se se aquilo era real ou apenas um pesadelo; queria, mais que tudo, que aquilo fosse um pesadelo, no qual que pudesse acordar e fizesse tudo diferente. Queria poder voltar no tempo. Fora ela que a encorajou de partir, mas, a decisão final fora somente dela, e ela sabia disso. No começo, as ligações eram constantes, e de todos os dias, passaram a ser de dois em dois, passando para uma vez na semana. Contudo, sempre ligava, nem que fosse pelo menos uma vez ao mês, para saber das coisas. Aquilo tinha acontecido tão rapidamente que nem tinha se dado conta, tinha sido tão brutal, afinal, sua mãe era tão saudável que nunca chegou a imaginar que ela pudesse morrer tão inesperadamente.
Finalmente, depois de alguns instantes, olhou para frente e viu alguém que não via há muito tempo, e que se não estivesse ao lado de null, quase não o reconheceria. Era null. Sua aparência era de descuido; barba por fazer o deixava com uma expressão mais velha do que ele realmente era, e segundos depois, null encarou os olhos null que conhecia tão bem, que, naquele momento, pareciam estranhos. O coração de null doeu mais do que já doía, como o órgão estivesse sendo esfaqueado várias e várias veze. Doía, doía muito, e era uma dor que só o tempo curaria, e por mais que dissessem que não, sabia que tudo o que estava acontecendo era por sua culpa, culpa de todas as suas escolhas. O garoto olhava para ela firmemente, e sua face não demonstrava nenhum sentimento. Ele girou os tornozelos, virando-se para o lado oposto, caminhando ao lado de null, e null sentiu uma pontada no peito muito forte, que ela achou que merecesse, afinal – você sempre colhe o que planta.

[...]

Fazia uma semana que null estava em Londres, e ainda não sabia se ficava ou voltava para Flórida, mesmo que todo seu orgulho lhe dissesse para fugir, parte dela queria ficar. Há um ano concluíra o curso de Fotografia na Flórida era uma das melhores fotógrafas do país. Após acabar o curso, pensara seriamente em voltar, porém null passara por sua cabeça, e tudo o que se perdeu. Não sabia se era a hora certa de encarar as coisas, ou se seria certo largar a sua vida para voltar ao passado. Mas os planos mudam, nada nunca é como a gente quer, e o destino acabou a mandando de volta a Londres, de forma tão brutal e inesperada. Ficava imaginando se um dia null ainda a perdoaria, e imaginava também o quanto ele a odiava. Na verdade, se fosse ao contrário, nem ela sabia se seria capaz de perdoar a si mesma.
Era um dia chuvoso, como quase todos os outros; passar tanto tempo no calor da Flórida a fez se esquecer do clima habitual de Londres, e de como o tempo frio era bom – e extremamente horrível – pra ela. Caminhava rapidamente em busca de seu carro, abraçando o corpo por conta do vento, e quando achou, desligou o alarme, entrando rapidamente. Tinha uma banda famosa para fotografar hoje, segundo o cara que a telefonou. Disse que as fotos precisavam ficar prontas em uma semana para a revista Vogue, e precisavam que elas ficassem perfeitas. Já que conheciam seu trabalho, e como estava em Londres, não pensaram antes de ligar para null.
Quando entrou no estúdio foi recebida por várias pessoas responsáveis pela banda, e não sabia o porque de estar sentindo um frio na barriga, e aquela maldita ansiedade que não sentia desde que havia se formado.
– Bom, Srta. null, o nome da banda é McFly, como você já deve saber – na verdade, ela não sabia; nem tinha lido o contrato! Estava ciente de como eram esses contratos para revistas, eram sempre a mesma palhaçada burocrática, e achava aquelas cinco folhas um desperdício de árvores.
– Eles estão no estúdio nove – o agente, que tinha se apresentando como David, disse e Mari assentiu, seguindo em direção à porta.

– Mari? – ouviu um null sorridente a chamar, e seu rosto congelou.
– Oi – disse, recebendo um abraço do amigo que não via há anos. – O que vocês estão fazendo aqui? – disse, recebendo abraços de null, null e null, sorrindo por estar com eles. – Você é cega? Não lê os contratos antes de fotografar alguém? – null disse, em um banco distante, tragando um cigarro. Engoliu em seco, e sentiu seu peito doer, pela forma seca com qual null lhe tratara, e null, olhando pra ela, sorrindo, disse.
– Somos a McFly, Mari.
– Oh, meu Deus, vocês conseguiram? Viraram famosos? – falou, sorrindo.
– Acho que você andou meio desinformada! Na Flórida não tinha internet, TV, essas coisas? – null brincou, e ela deu a língua.
– Tinha, só que eu nunca procurei saber sobre essas coisas, acho que fiquei muito focada e...
– Tudo bem, null, você não é obrigada a saber de tudo – null a abraçou, e ela respirou fundo, dando mais uma olhada em null, que a observava agora com uma expressão que jamais vira, e que talvez, nunca conseguisse decifrar o que estava por trás dela. Tinha quebrado seu coração, e isso havia consequências.
– A gente pode começar logo? Acho que o segurança quer tirar vocês daqui, e rápido, por causa das fãs – ela falou desajeitada. Os meninos riram, – menos null, que manteve distância – e null foi até o lado do amigo, sentando-se, enquanto null ocupava-se do outro lado do estúdio, ajustando as câmeras.
– Você consegue fazer isso, cara – null falou, encostando no ombro do amigo.
– Só que eu não quero – disse, seco.
– Que se dane então, faça pela banda. Agora larga essa droga de cigarro e vamos tirar as fotos! – arrancou o cigarro dos lábios de null, e o jogou no chão, seguindo até null.

Aquilo estava sendo tenso (e intenso) demais para ambos. Sabiam que não podiam deixar o lado profissional esbarrar no pessoal – tão fodido. null, pela primeira vez na vida tinha desfocado três fotos, e quanto às outras, não havia sorrido para nenhuma. Quando o ensaio acabou, null e null pegaram a câmera de Mari para ver o resultado, enquanto ela se sentava com null em um dos sofás do estúdio. null tinha voltado para o banco no fundo, juntamente com o cigarro.
– O que aconteceu por aqui, null? – Mari falou, com a voz afetada, observando null.
– Ele tá todo fodido, não quer saber de mais nada, ele tá mais pra rebelde com causa – null deu de ombros.
– Desde quando isso começou? – perguntou, mas, no fundo, já sabia a resposta, só não sabia se estava pronta para ouvir.
– Desde o dia que você foi embora, eu nunca o vi assim antes, sabe? E a cada dia que passava, ele se afundava mais e mais, e parece que a fama também ajudou nisso – null suspirou, então null sentiu como se seu coração estivesse sendo despedaçado em milhares de pedaços. Aquilo era sua culpa, ele estava assim, por sua culpa. Tinha estragado sua vida e ainda tinha levado null junto.
– É minha culpa – falou, baixinho, abaixando a cabeça, e null a ergueu.
– Tudo vai ficar bem, Mari – ele sussurrou, abraçando-a.
null, essas fotos ficaram ótimas, não é à toa que você é a melhor! – null disse, sorridente, e null pegou a câmera de sua mão, confirmando a afirmação.
– Obrigada, null – sorriu.
– Acho que vamos querer você como nossa fotógrafa pessoal depois dessa – null piscou e null gargalhou.
– Ainda não sei se vou ficar por aqui – disse.
– Caso ficar, é melhor dizer pra todo mundo que queremos você, que já está contradada pelo McFly.
– Mal cheguei e já tô sendo disputada sem eu saber? – ela riu pelo nariz.
– Talvez porque você realmente seja a melhor – null disse.
– Melhor em fazer a vida dos outros um inferno? – null levantou, com seu cigarro entre os dedos, e encarou a menina, que devolveu o olhar, visivelmente assustada por aqueles olhos null – agora indecifráveis. Sentiu uma pontada no peito; às vezes as palavras tinham o poder de machucar mais que qualquer arma no planeta, porém, ela tinha que ser forte e se fosse ficar, teria que aprender a lidar com null.
– Parabéns, null, você é mesmo a melhor do mundo. A melhor do mundo em foder a vida de todos que ficam ao seu lado, até da sua própria mãe – ele cuspiu as palavras, vendo uma lágrima solitária rolar pelo rosto da garota. Pele clara, olhos null, cabelos loiros... Ela não tinha mudado nada, e mesmo que estivesse puto de raiva, aquelas palavras tinham doído muito mais nele. Não era para ter dito aquilo, mas as pessoas só se dão conta das consequências, depois que se arrependem. Tinha que pensar duas vezes antes de falar, só que com ela ali, era difícil ficar concentrado em qualquer pensamento bom. Ficou quieto, vendo os olhos da menina marejarem, e seus olhos, buscando, talvez, encontrar o conforto nos dele, ou, talvez encontrar onde estava o antigo null, seu null. Ele não existia mais, e ficar ali, deixando-a procurar, seria uma grande perda de tempo, já que aquele null nunca mais retornaria. Então saiu da sala, batendo a porta, tentando se livrar daquela porra de estúdio rodeada de fãs.

– Você tá bem? – null perguntou, abraçando a garota que chorava compulsivamente.
– Ele tem razão, null – soluçou.
– Ele é um idiota – null disse, impaciente.
– Ele precisa de um rumo. A sua chegada mexeu com ele, e tem toda aquela coisa de “orgulho ferido”, mas eu garanto que ele se arrepende do que disse – null falou, passando a mão pelos cabelos, e então null sussurrou:
– Como o null disse, ele se arrepende do que disse, e toda vez que ele se arrepende de algo...
– Ele foge – null disse, cortando-o. Ela era a pessoa que o conhecia mais do que ninguém, sabia de todos os seus hábitos, de suas mágoas, do que o fazia sorrir, e o que o fazia chorar. Sabia o que ele estava sentindo – tinha quebrado seu coração. E iria fazer de tudo para consertá-lo.

Londres, West end: Quarta-feira; 19h28

Não tinha ideia do que estava fazendo, só sabia que precisava fazer aquilo, precisava fazer aquilo mais que tudo, e agora não tinha mais volta, pelo menos, era o que parecia. Poderia sair correndo, como quando apertava a campainha dos vizinhos da rua, mas não era mais criança, e sabia que tinha que consertar aquilo, ou pelo menos tentar. Tinha que haver um “pelo menos eu tentei”. Alguém tinha a ensinado a nunca desistir do que realmente importava, e era por causa desse alguém que estava ali, hoje. Então a porta se abriu, e um null, sem camisa e com a jeans desabotoada, apareceu na porta. Ela entrou, sem nem ao menos ser convidada, porque sabia que ele não a deixaria entrar.
– Você já foi mais educada, null, mas acho que esqueceu sua educação lá na Flórida – null disse, em um tom debochado, fechando a porta e olhando para a garota que o fitava, sem deixar transparecer qualquer emoção.
– Preciso falar com você – disse.
– Mas eu não tenho nada pra falar com você!
– MAS EU TENHO, DROGA! – gritou, olhando para o lado, vendo uma menina, que deveria ter sua mesma idade, de longos cabelos negros, usando uma camisa de null, encostar no batente da porta que dava para a sala.
– Tô com saudades de você na cama, gatinho – ela piscou para null; ele bufou.
– Sai daqui, Nina, pega as suas coisas e vai embora, não preciso mais de você – disse, seco.
– Mas eu pensei que...
– Você não pensou nada, você só queria transar com um dos caras do McFly e, pronto conseguiu, agora... VAI EMBORA – disse, apontando para a porta da entrada. A menina deu meia volta até o quarto, retornando segundos depois, já vestida e com a cara mais emburrada que null já havia visto na vida. E, antes que fechasse a porta, sussurrou.
– Você me paga, – bateu a porta, e null riu, jogando-se no sofá.
– Então é assim? – null cruzou os braços. – Esse é o “novo null”? – deu ênfase, visivelmente irritada, e null bufou.
– Ela só queria uma foda, então foi isso que ela conseguiu, null. Todas dizem que eu pagarei no final, mais até agora nada, né? E não vai ser você quem vai mudar isso – falou, seco.
– Como você pode ficar assim, null? – null disse, indignada, olhando pro garoto que conhecia desde que se entendia por gente, que agora parecia mais um estranho.
– VOCÊ NÃO TEM QUE DAR PALPITE EM PORRA NENHUMA DESDE QUANDO VOCÊ SAIU PELA PORRA DAQUELA PORTA! – falou, furioso.
– EU TAVA CORRENDO ATRÁS DOS MEUS SONHOS – null gritou de volta, deixando que as lágrimas caíssem. – EU NÃO FUI EMBORA PORQUE DEIXEI DE TE AMAR, EU FUI PORQUE ERA O MEU SONHO. E EU SABIA QUE SE NÃO FOSSE, IRIA ME ARREPENDER PRA SEMPRE – engoliu em seco.
– Eu entendi essa parte, null, só não entendi como você pode ter esquecido tudo tão rápido – cuspiu as palavras. – Você tem razão, eu mudei. Mas eu garanto que quem mais mudou, e pra pior, foi você, não eu.
– Eu não passei um segundo naquele lugar sem pensar em você, null – limpou as lágrimas. – A gente se falava todos os dias, eu mandava cartas, mas você estava comelando sua carreira, tinha vários planos com a banda, estavam começando a ficar famosos na época, e tinham garotas aos seus pés. Das mil aulas que eu assistia, em só uma eu conseguia prestar atenção, porque eu não conseguia pensar em nada, o meu coração estava sempre com você – ela soluçou, enquanto null ouvia atentamente, sem demostrar nenhuma emoção. – Quando eu parei de responder os seus e-mails, quando eu parei de ligar, quando eu demonstrei parar de me importar, não fiz isso por mim, fiz isso por nós dois – disse por fim, suspirando e limpando as lágrimas com o antebraço, enquanto o garoto parecia assimilar tudo aquilo. O pior de tudo era vê-la chorar, odiava, e aquilo era o que mais doía, mesmo que ela fosse a culpada por tudo aquilo, não suportava vê-la chorando.
– Para de tentar consertar as coisas, null! Mesmo que fosse essa sua intenção, deu errado! E sabe o que eu aprendi nesses três anos em que você foi embora? Que é melhor perder, do que ser deixado. Porque é bem mais fácil conviver com a dor da perda de alguém que você ama, do que com a certeza de que essa pessoa te deixou, como se você fosse um nada, como se todos os anos em que passaram juntos, não importassem absolutamente nada – null ficou quieta depois daquelas palavras; não podia acreditar no que acabara de ouvir. Então mesmo que não quisesse, lágrimas escorriam por todos os lados – mas quem tinha colocado a droga da chuva em seus olhos? Se descobrisse, mataria a pessoa. Queria sentir ódio, raiva, tudo... Menos dor, menos tristeza, menos vontade de querer que tudo acabasse de uma vez.
– Então você preferia que eu estivesse morta? – null disse, firme, olhando para os olhos null do rapaz. Ele engoliu em seco e encarou a garota.
– Vai embora, null – disse.
– RESPONDE!
– VÁ EMBORA, DROGA! – gritou, então a garota andou até a porta em passos largos e abriu a porta, mas antes que a fechasse, olhou pra trás, como a última lembrança que precisava ter do menino que tinha lhe dado razão para viver, e que agora tinha lhe dado mil e uma para querer estar morta. Pela primeira vez, tinha se arrependido de voltar, mesmo que fosse o que mais queria na vida, tinha se arrependido. Porque era bem mais fácil ter lembranças de quando deixou seu país, sua cidade, do que quando voltou. Lembranças doem demais e se pudesse fazer um pedido, um único pedido, pediria que pudesse escolher o que queria lembrar e o que poderia esquecer. Como os vampiros que via em sua série, que tinham o poder de desligar a humanidade. Mas aquilo não era ficção, era vida real, a tão cruel vida real.

Londres: Quinta feira; 15h20 da tarde – Estudio Vogue

Em Londres nevava como null nunca tinha visto na vida desde que se entendia por gente, as ruas estavam congestionadas e não se via ninguém andando nas ruas. Quando conseguiu chegar à revista, null deu graças a Deus por ter chegado e estacionou bufando, mal tinha acordado e já sabia que seu dia iria ser ruim, como havia sido no dia anterior. O fato era que não tinha conseguido pregar o olho a noite inteira, pensando nas palavras de null, palavras que ela nunca suspeitou que um dia fosse sair de sua boca. Mas se ele queria guerra, se ele queria ser o rebelde, ela também poderia ser, estava cansada de se mostrar fraca e se jogar era o que ele queria, jogar com todas as mágoas que ele tinha, ela estava disposta a entrar nesse jogo.

Na primeira coisa que viu ao entrar no estúdio onde os meninos estavam, foi null e null numa brincadeira de arremessar bola pro lado e pro outro, enquanto null e null riam compulsivamente dos amigos. Ela ficou ali mesmo, na porta, observando, enquanto os dois se divertiam e como ele se divertia. Fazia tanto tempo que não o via sorrir, que mesmo estando puta da vida com null e extremamente chateada, vê-lo sorrir era como se ganhasse o melhor prêmio que poderia receber, e sabia que por trás daquela armadura toda, ele também sentia o mesmo.
– Oi, gente – disse entrando no estúdio, tentando pôr o melhor sorriso no rosto. Os meninos pararam de jogar e null sorriu para null.
– Eu tô tipo, muito atrasada – falou correndo, pegando as câmeras. – Vocês já tão maquiados? – perguntou, ajeitando as câmeras.
– Tá tudo ok, Simon passou aqui agora pouco pra ajeitar o figurino – null avisou e null assentiu.
– Ok, null e null atrás, null e null lado a lado na frente, todos cruzando os braços – parecia que eles tinham entendido, fazendo assim como ela pediu. Um flash foi dado e então a garota pediu para que eles mudasem de posição, agora dois estavam em pé e os outros dois sentados, fazendo exatamente como ela tinha falado. Depois de alguns minutos e de várias fotos, null resolveu dar uma pausa para que a maquiadora retocase a os meninos, enquanto trocava os cartões da câmera. Andava em um dos mil corredores que tinha naquela revista, quando uma porta aberta chamou sua atenção. Lá dentro estava null, sentado em uma cadeira e com os pés em uma mesa qualquer, fumando um dos seus famosos cigarros e com uma garrafa de bebida na mesa. Então null bufou e entrou na sala, null olhou para menina de braços cruzados, assustado.

– Acho que tá virando alcoólatra, , cuidado, viu? Vai acabar indo pra Rehab – null riu sárcastica, sentando em cima da mesa. null arqueou as sobrancelhas.
– Isso não é da sua conta – bufou.
– Tem razão – null deu de ombros.
– Sabe, tava pensando no que você disse ontem, é verdade eu preferia está morta, null falou simplesmente, encarando null, que parecia assustado.
– Eu não quis... – o rapaz tentou dizer, mas null o cortou. – Você também tinha razão quando disse que muita coisa tinha mudado – null riu, sarcástica. – Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim – tirou do bolso um cigarro, acendeu com seu isqueiro e pôs na boca, soprando logo a fumaça da mesma.
– Você não deveria tá fumando essas coisas – null falou, irritado, e null bufou, tomando a garrafa de bebida da mesa de null e bebendo um pouco.
– Isso também não é mais da sua conta – disse simplesmente, saindo da sala. Deixando null ali, perdido em todos os pensamentos possíveis, imaginando se aquilo era um sonho, porque nunca tinha imaginado a sua garota, sua null, aquela menina doce e meiga que sempre tinha conhecido, tirar um cigarro do bolso e pôr na boca. Aquilo era algo que tinha o deixado irritado, irritado e puto da vida, mas se ela quisesse jogar, que os jogos comecem.

Depois de 30 minutos de fotos, finalmente tinha chegado no fim e null deu graças a Deus por isso.
– Boa! – sorriu, olhando pro resultado na câmera e os meninos saíram do set.
– Acabou por aqui, né? – null perguntou e null assentiu.
– Uhum, preciso dar o material pro Simon – respondeu, pegando o cartão de memória da câmera.
– Tchau, gente, até algum dia – abraçou cada um deles e quando olhou null em um dos sofás da sala, apenas piscou sinicamente pra ele saindo da sala.

Entrou no estacionamento vazio do prédio e ligou o alarme de sua audi-vermelha, quando foi surpreendida por um null de braços cruzados. Então ela o encarou, esperando que ele disesse qualquer coisa, e ele disse:

– Então tá bancando a fodona? – null rolou os olhos.
– Você tá longe de me conhecer, null, não foi só você que mudou – respondeu, seca.
– Então vamos ver o quanto você aguenta, me encontra na praça perto da minha casa às onze em ponto – jogou um sorriso falso para a garota, que manteve sua expressão fechada. Logo depois que o rapaz foi embora, null entrou no carro, ligou o motor e respirou fundo, pensando no que null queria com ela. Sabia que mesmo por trás dessa face durona que o garoto passava, jamais iria machucá-la, isso ela tinha certeza. Mas se ele queria testá-la, ele ia ter o que queria.

Deveriam ser onze e quinze quando null apareceu na praça, complemente deserta, onde null havia marcado com ela. Era como se pudesse esperar que ele estivesse dando um bolo nela, deixando-a plantada ali feito uma idiota. Ele queria vingança e aquilo estava irritando ela de verdade. Tênis sneakers preto cano alto, calça de couro preta e um sobretudo da mesma cor. Quando ela colocou a mão no bolso do casaco e resolveu voltar para o seu hotel, que ficava a poucos metros dali, um Ranger Rover preto parou na sua frente. Então o vidro se abaixou e null apareceu por trás do vidro.
– Entra – fez menção para null entrar e a garota olhou pros olhos null de null, deu a volta e entrou no carro, batendo na porta. Já não estava de bom humor e se ele falasse mais uma gracinha sobre ela, iria quebrar a cara dele ali mesmo.

Era uma rua movimentada, daquelas que null nunca tinha visto. Ficava fora da cidade e num lugar que nunca tinha pensado em conhecer, daqueles onde havia homens agarrados com prostitutas pelos muros das casas e drogas rolando solta pelas pessoas, que pareciam tão estranhas que estavam lhe dando medo. Então null saiu do carro e ela fez o mesmo, batendo a porta e ouvindo o leve estrondo. null pegou a mão da garota, de uma forma que não demonstrasse nenhum carinho, mas sim para guiá-la até a boate.

– Que lugar é esse, null? – null perguntou em sussurros, enquanto dava a mão para o garoto, que caminhava sempre olhando pra frente, ao mesmo tempo em que null olhava de um lado pro outro, explorando o lugar com os olhos.
– Um lugar que você nunca deve ter conhecido – null disse, passando pelos seguranças sem ao menos dar sua identificadão. Estava cara que ele não iria para boates no centro de Londres, onde havia um milhão de paparazzis, prontos para uma foto que acabaria com sua carreira. Mas null nunca imaginou que ele frequentava um lugar tão sujo como aquele, sentiu aperto no coração algo que nunca, jamais poderia explicar.

Quando entrou no pub pode sentir o cheiro forte de cigarro e bebida, sentindo um embrulho estômago. Olhou em volta, vendo pessoas de todos os tipos naquele lugar: garotas que pareciam ter sua idade agarrada em um polydance; caras fumando e enchendo a cara, enquanto beijavam pessoas que nem sabiam o nome, e sentiu uma dor profunda ao pensar que null era uma daquelas pessoas. Não queria que ele passasse por isso, não ele, não seu null. Ela o olhou, vendo que ele corria os olhos pelo lugar, parecendo procurar alguma coisa. Então ele a olhou, sentindo o incômodo da garota e sentiu uma leve culpa por trazê-la nesse lugar de merda, ela não merecia isso, ela era mais que isso, e ele também, mas não sabia porque ainda vinha aqui todo final de semana.

– Eu vou pegar alguma coisa – o rapaz disse, desviando olhar de Mari indo para o bar, deixando-a espiando tudo o que havia de ruim naquele lugar.

***


– Então, é aqui que você se diverte? – a garota sentou ao seu lado, em um dos bancos do bar, e null rolou os olhos. – Putas, muitas drogas, cachaça... Uma boa forma de viver a vida – deu de ombros, roubando seu copo de cerveja e bebendo em um só gole. null a encarou, porém não respondeu sua pergunta, apenas encarou o nada, bebendo de seu whisky.
– Na Flórida não era tão legal como é aqui – null disse. – Mas acho que foi preciso ir.
– Cada um faz o que acha ser certo – respondeu-lhe, sem olhá-la. null olhou para ele e depois voltou o olhar na direção que null e respirou fundo.
– Mas hoje eu quero errar – null falou, levantando-se e bebendo um copo inteiro de caipirinha. O garoto arqueou as sobrancelhas, assustado com aquela atitude.
– Se você beber demais, eu não vou te carregar pra casa! Que você fique aqui até tomar consciência de que é uma pessoa sóbria – null bufou, levantando, e null o olhou.
– Aonde você vai? – perguntou.
– Me divertir. null, é isso o que eu faço – ele sorriu falso pra garota, que bufou vendo null se aproximar de uma outra qualquer, beijando-a ferozmente. null viu o olhar de null em sua direção durante o beijo. E durante a cena, ela se perguntava: as pessoas não se beijam de olhos fechados? Porque sempre diziam que tudo o que é bom não precisava ser visto, apenas sentido, certo? Por que ele não? Quem tinha roubado seu coração? Mas, fazendo essas perguntas, lembrou-se que uma das suspeitas era ela mesma. Engoliu em seco, voltando a se sentar no bar e bebendo mais um gole da bebida, sentindo o gosto amargo descer pela garganta. Essa era a única coisa boa daquilo – a faria esquecer sua dor, que sempre fazia questão de se permanecer presente.

– Oi! – um cara moreno, na base dos seus vinte e quatro anos, sorriu para null, sentando-se ao seu lado. Tinha barba por fazer, cabelos castanhos e um sorriso “colgate”, daqueles que poderiam encantar qualquer pessoa.
– Oi – null sorriu.
– Você não é daqui, né? – ele perguntou.
– Não mesmo, acho que não tenho cara de quem frequenta esses lugares – respondeu.
– Você tá mais pra quem vai ao shopping e estoura o limite dos cartões de créditos – riu, e null sorriu.
– É, quase isso – gargalhou, olhando para o rapaz, que parecia encantado.
– Meu nome é null – disse, sorrindo fraco
– Josh – apresentou-se e null sorriu, desviando o olhar, encontrando null conversando com uma loira, duas mesas depois da sua. Ele notou que ela o observava, e passou a encará-la também. null, então, voltou sua atenção para Josh. Se era guerra que null queria, era o que ele teria.

– Você vem sempre aqui, Josh? – perguntou, entre sorrisos.
– Quase sempre, vim com uns amigos – ele respondeu.
– Que bom você ter vindo hoje – null sorriu, sabendo que depois daquilo ele a beijaria, e era exatamente o que ela queria. Então, inclinou-se, segurando o pescoço do rapaz, beijando-o como null fizera anteriormente com a tal garota. Não conseguiu fechar os olhos, só conseguiu focar o olhar onde ele estava, e quando estes se encontraram, ainda beijando Josh, sentiu a fúria no rosto dele. null sorriu vitoriosa, podendo finalmente fechar os olhos e desfrutar daquele momento que, para ela, não importava droga nenhuma.
Provocações, joguinhos... Era isso que se passava pela cabeça de null e null.

Meia hora depois, null conversava com alguns amigos, e viu-se observando null, que permanecia no mesmo lugar, com o mesmo cara, em uma conversa, ao que parecia, muito animada. Bufou, com ódio, com uma vontade imensa de acabar com a raça de quem quer que fosse o tal. Despediu-se dos amigos, voltando-se na direção deles. Em seu rosto, a pior expressão possível. Ela o encarou, rolando os olhos em seguida.
– Vamos embora – null disse.
– Mas já? Não quero ir – deu de ombros.
– Agora, null! – puxou os braços da menina, sendo surpreendido pelo acompanhante.
– Você não manda nela – disse. null riu, irônico, querendo esfregar o rosto do homem a sua frente no asfalto.
– Quem você pensa que é para falar alguma coisa? – null cruzou os braços.
– Tudo bem, Josh, eu vou com ele. É meu irmão mais velho, você sabe como eles são, complemente autoritários e chatos – null mentiu, encarando null, de cara fechada, e bufou, rumando à porta da boate, tendo ele em seu encalço.

* * *


– Você não acha que já bebeu demais? – null perguntou, correndo atrás de null, que já estava a bons passos de distância da boate, seguindo em direção ao Range Rover preto de null. Esperou que ele desligasse o alarme e destrancasse as portas, e assim que ele o fez, entrou no lado do carona, batendo a porta.
– Não, não acho – null riu, bebendo a cerveja que segurava pelo gargalo, enquanto null dava partida no carro, visivelmente irritado.
– Mas eu acho – null disse, tomando a garrafa da mão da garota, abrindo a janela para jogar a garrafa fora. null bufou.
– POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?! – perguntou, irritada.
– Você já está bêbada o suficiente – disse.
– Como sempre, bancando o anjo da guarda – null riu, irônica. – Talvez você tenha razão, coisas mudam com o tempo. Mas o que nasce com a gente, morre com a gente.
– Isso, use minhas próprias palavras contra mim – a encarou.

– A única coisa que eu tô fazendo, é tentar fazer você não descarrilhar e acabar saindo dos trilhos, igual eu sai – null sussurrou, fazendo-a o olhar. Pela primeira vez, ele tinha dito algo... Gentil. Observou seu rosto concentrado na estrada, e abriu a boca para responder.
– E a única coisa que eu tô tentando fazer, é colocar de volta aos trilhos alguém que eu descarrilhei – suspirou.
– Boa sorte então, null – ele riu, irônico, e null rolou os olhos, vendo que o orgulho tinha voltado a tomar conta do seu ego.
– Posso te perguntar uma coisa? – disse, assistindo-o dirigir. null olhou para a garota, esperando.
– Aquela música... Memory Lane... Ela é daquele dia... O dia que a gente se beijou pela primeira vez? – null perguntou, esperançosa, e viu o rosto de null ficar tenso.
– Só porque a música fala de um cara, que sente falta de alguém, e fala de uma rua, que ele sente falta, quer dizer que a música foi feita pra nós? – null riu, incrédulo. – A vida não gira em torno de nós dois, null – null falou, tenso, e null desviou o olhar do garoto para a janela, observando a paisagem escura. Resolveu ficar quieta, não porque tinha medo de falar algo, e sim, porque não sabia mais o que falar.

Londres; Casa dos s – 21h40 da noite.

– Por que chamou a gente aqui, mãe? – null bufou, cruzando as pernas ao sentar-se no sofá branco de couro de sua mãe, olhando impacientemente para ela e null, que estava do outro lado do sofá, apoiando o queixo nas palmas da mão e olhando para o nada; deveria estar perdida em pensamentos. A Sra. abriu a boca e null despertou, olhando para a mulher de cabelos castanhos.
– Como vocês sabem, irei me casar – ela não pôde deixar de sorrir, e null rolou os olhos, bufando. null reprovou a atitude do rapaz com uma careta, e depois sorriu, levantando-se para abraçar a tia.
– Eu não sabia! Parabéns, tia, a senhora merece toda felicidade do mundo! – sorriu, sincera, e a Sra. segurou em sua mão, olhando para null em seguida.
– Eu sei que vocês estão afastados, e sei que os dois mudaram muito durante todo esse tempo. Mas eu queria um presente dos dois, porque pra ser sincera, dói cada vez mais ver essa casa vazia, sem minhas duas crianças correndo por ela, e por causa disso que você, null, – olhou para o rapaz que ouvia atentamente – vai entrar com a null no meu casamento com o Davi, e é claro, que a null vai ser a minha madrinha, e você, o padrinho. O casamento vai ser daqui a uma seman, na Itália, onde a família de Davi mora – ela sorriu. null arregalou os olhos; null, no entanto, abriu a boca, surpresa. Ele bufou.
– Agora não já bastava a senhora se casar com esse cara, eu vou ter que ser padrinho? E ainda vou ter que entrar com ela? – null apontou para null, que mordiscou o lábio inferior; aquilo a chateara, de verdade, sentindo um ódio profundo pelo garoto, e continuou quieta, vendo a estrela do rock dando seu show de rebelde com – ou sem causa.
– Não interessa, null! Eu já aturei você com essa mudança ridícula, aguentei vendo você beber, se afundando nessas malditas drogas! Aguentei ver notícias escandalosas sobre os seus comportamentos malcriados, aguentei tudo que uma mãe tem que aguentar, mesmo que me destruísse por dentro. Mas eu não vou aguentar ver o meu filho ausente no dia do meu casamento, e você vai com a null, querendo ou não. E acabou! Você não é mais criança, ou quer que eu te trate como uma? – Sra. disse, autoritária, e a vontade que tomou conta de null era a de gargalhar, contudo, sentou-se, quieta, no sofá e null rolou os olhos novamente. Se ele continuasse fazendo aquilo com tanta frequência, era capaz de seus olhos virarem bolinhas de bing pong, null pensou, rindo baixinho.

– E esteja no aeroporto, quinta-feira, às seis em ponto! – Sra. gritou. null só então se deu conta de que null já havia saído da casa. Os olhos de Sra. fixaram-se nos dela.

– Desculpe-me por isso querida – ela disse docemente, e null sorriu, tímida.
– Tudo bem, tia, ele ainda tá remoendo tudo isso, e a culpa é minha. Quem te deve desculpas sou eu – disse, culpa jorrando de seus olhos. A mais velha sentou-se ao seu lado.
– Nada disso é sua culpa, null, as pessoas mudam porque elas querem, se você quer andar na luz, você anda. Mas quando se quer andar na escuridão, não tem ninguém que a impeça. Tudo depende das nossas escolhas, cada um faz a sua. E é possível mudar, sempre é possível. Só basta ter força de vontade.
– Talvez null só precise de um empurrãozinho para sair desse lugar escuro... Talvez a luz não tenha se apagado completamente, às vezes ela ainda existe, bem fraquinha.
– É sempre possível retornar da escuridão – null sorriu.
– Só basta achar o interrupitor – a mais velha abriu um sorriso, e null completou.
– Ou seja, no coração. E onde quer que ele estaja, eu vou encontrá-lo.


Era uma sexta-feira de verão na Itália. Um dia se passaram desde que chegaram, e null teve que que aturar o mau humor de null durante toda a viagem de avião, pois a Sra. reservara os dois assentos juntos, e ela tinha certeza que aquilo fora proposital, não havia dúvidas. Mais cedo, Davi tinha mostrado todos os cantos de sua grande mansão na Itália – os campos, colheitas, até o lago depois do campo da cavalaria, que null achou digno de ostentação, e ficava se perguntando se tudo aquilo não era um cenário de um filme sobre a máfia italiana e riu, mentalmente, daquilo. Alguns caseiros a olhavam, e ela imaginou que talvez, pensassem que fosse louca. Mas sabia que talvez, null, à sua frente, com uma cara de sono interminável, pensava o mesmo. null, null e null tinham resolvido ficar na cama por conta da viagem longa e estressante, coisa que tanto null e null sonhavam em fazer ao invés de dar tal bela caminhada logo pela manhã com Davi como guia, mostrando todos os seus campos de ervas, enquanto a Sra. se encantava com a paisagem.
null estava sossegada, ou, pelo menos, era o que achava quando se sentou em um dos sofás visivelmente macios da sala-de-estar, folheando seu livro favorito e supirando, mas antes que pudesse ler a primeira frase, null entrou na sala.

– Minha mãe tá obrigando a gente à ir até o ateliê daquela velha pegar as roupas para o casamento – null bufou e null riu, arqueando as sobrancelhas.
– Não fale assim da Sra. Pillsbury, seu sem coração!
– Não me estressa, null! – null bufou. – Se você não estiver lá fora às 17h em ponto, eu te deixo aqui – ele disse, mau humorado, e null rolou os olhos.
– Hm, virou o garotinho pontual agora, ? Muito estranho para um astro do rock rebelde – null riu, e null lançou-lhe um olhar ameaçador.
– Você não deveria falar assim comigo.
– Por quê? Vai me bater? – null debochou. Antes que pudesse piscar, o garoto passou por ela como um raio, arrancando o livro de sua mão. Ele a conhecia bem, e sabia do cuidado absurdo com todos os seus livros; ninguém poderia amassá-los, ou ao menos, tocá-los sem que ela tivesse um ataque .

– DEVOLVA MEU LIVRO AGORA, ! – gritou, correndo pela casa atrás de null, que ria compulsivamente.
– VEM PEGAR, ENTÃO! – disse o rapaz, parando quando já estavam no quintal perto do lago. Estendeu o livro sobre a água, e null levantou as sobrancelhas.
– Não, por favor – disse.
– Por que eu não faria? – null disse.
– Porque esse livro é a minha vida, eu lutei muito pra consegui-lo – null se espantou o desespero da garota, vendo-a se aproximar com a cabeça baixa, prestes a chorar.
– Por favor, null – null sussurrou, falando perto demais do garoto, o suficiente para fazê-lo perder a consciência de quem ele realmente era. Quando null estava a poucos centímetros e seus olhos sem encontraram, o menino fitou os lábios da garota, perfeitamente avermelhados por conta do batom, em um contorno simétrico. Só aí se lembrou de como sentia saudade daquela boca. O rosto de null se aproximou mais do rosto de null, e quando ele tinha fechado os olhos, por apenas um segundo, a garota roubou o livro de sua mão, empurrando-o em direção ao lago, e o fazendo cair.
– PORRA, ! CARALHO! – null disse, furioso, levantando-se, completamente encharcado. null bufou mentalmente pelo lago não ser fundo, então riu da situação do garoto, enquanto tentava se levantar do lago. Lembrou-se daquela cena de “O Diário da Princesa 2”. O lago ou a fonte, eram quase idênticos, a única coisa diferença era que apenas ele havia caído, e não ela.
– Socorro – null colocou as mãos na barriga, rindo, enquanto o garoto se levantava, dando passos de soldado, marchando para conseguir sair dali. Ele lançou um sorriso sínico.
– Engraçado né, null? – null riu, e ela continuava a gargalhar vendo-o todo encharcado.
– Por que nós não fazemos as pazes? Eu te perdoo, vem me dar um abraço! – estendeu as mãos, indo em direção da garota, então, ela parou de rir e olhou para null.
– NÃO! – disse. – Por favor, não! – então ela correu, vendo null a seguir pelo canto do olho, rindo daquela cena bizarra. Quando se deu por si, estavam no meio da colheita de milho de Davi, pisando em todas as espigas em que passavam.
null, PARA! EU NÃO AGUENTO MAIS! – null gritou.
– Você vai se ver comigo, null – null gritou de volta. null viu um monte de feno, vários quadrados de palha, e subiu rapidamente, olhando para null e rindo.
– Vem me pegar aqui, null disse lá de cima, e null assentiu com a cabeça.
– É melhor você sair daí por bem, do que por mal, null – null fez-se ameaçador, e null deu uma gargalhada gostosa. null olhou para a garota rindo, e simplesmente sentiu falta de momentos como aquele, sentiu falta de sua infância, da sua adolescência, de todos os momentos que havia passado ao lado dela.
– E o que seria, “sair por mal”? – null perguntou, fazendo aspas com as mãos. O olhar de null era malicioso, e então, começou a jogar os quadrados de palha para todos os olhos, e null arregalou os olhos, assustada com a agilidade do rapaz.
– Não, null, eu vou cair! – gritou. Cada vez em que ele tirava um pouco de palha, null subia mais alto, sabendo que uma hora ou outra, tudo aquilo desmontaria e ela cairia. Contudo, não deixaria que null vencesse tão facilmente. Sentiu o feno amolecer abaixo de seus pés, que se desequilibrarem para trás, e de passo em passo, caiu bem em cima de null. Os dois tombaram no chão em um baque quase surdo, mas dolorido.
– Puta merda, null! – null falou, e null começou a rir; na verdade, ter uma crise de risos. null ainda deitado virou a cabeça pro lado vendo a garota se contorcer no chão com todas aquelas risadas e sentiu voltade de rir também.
– Por que você tá rindo tanto? – null pergunto, também rindo, e null finalmente parou, e virando a cabeça para olhá-lo. Então, os olhos null se encontraram com os null, e tudo pareceu se desligar, como se nada mais importasse, a não ser os dois. null pensava no por que tinha ido embora, quando tinha uma vida inteira ao lado dele a esperando, e null, agora, perguntava-se o por que de sentir tanto ódio, pois naquele exato momento, vendo a garota com aquele olhar tão inocente, bochechas rosadas, e a mesma expressão no rosto que fazia ele se lembrar de todos os dias mais felizes de sua vida, não sabia como, mas parecia que era impossível se lembrar dos ruins, com aquele sorriso sincero.
– Porque fazer essas coisas idiotas com vinte e tantos anos, é algo que só pode ser esperado de null e null – null disse, ainda olhando para null, que sorriu, fraco.
– Acho que esquecemos que não somos mais crianças quando estamos um perto do outro – null disse, simplesmente, e null sorriu. – Mas não somos mais crianças, null, e muita coisa mudou – null a cortou, levantando-se e indo embora. null se levantou rapidamente, vendo-o se afastar
– EU ACHO QUE VOCÊ TEM MEDO, ! – null gritou. null parou, virando-se para ela.
– MEDO DE QUE, ?
– MEDO DE SE PERMITIR, MEDO DE SE APROXIMAR DE NOVO, MEDO DE DEIXAR AS COISAS BOAS ENTRAREM NOVAMENTE! – null engoliu em seco, e null fixou seu olhar no dela, mesmo estando a metros de distância um do outro.
– TALVEZ EU SEJA UM COVARDE MESMO! MAS, TALVEZ, EU SEJA ASSIM PORQUE ALGUÉM PARTIU MEU CORAÇÃO! – ele gritou de volta, e null sentiu um aperto no peito, então ele se virou e foi embora. null se sentou na grama e ficou observando o milharal se mexer conforme o vento.
Era hora de pensar um pouco na vida.


Deveria ser umas seis horas da tarde, null não sabia. Só tinha certeza de que gostaria de matar null por perder o endereço que sua mãe havia o dado para pegarem as roupas do casamento de amanhã. E, ainda por cima, acabou a gasolina, o que fazia seu ódio aumentar cada vez mais.
Endireitou-se na poltrona do banco do carona, vendo null do lado de fora, xingando todos os palavrões possíveis, enquanto falava com null no telefone. Depois de alguns minutos, viu null desligar o celular e jogá-lo no banco de trás, então encarou os olhos null do garoto, esperando alguma resposta que lhe fosse útil. Ele abriu a boca para falar:
– A droga do celular tá engasgando, e agora ficou sem sinal de vez. Ótimo, estamos fritos – null rolou os olhos
– COMO VOCÊ FOI PERDER A DROGA DESSE ENDEREÇO, ? – null saiu do carro, gritando, como se fosse comer o rapaz vivo. Ouviu um trovão e viu o céu se fechar; sabia que a chuva logo, logo cairia.
– Tava na porra da gaveta do carro, droga! Eu não tenho culpa – null bufou.
– Você pelo menos sabe onde a gente tá? – null perguntou, colocando as duas mãos na cintura. null a olhou, depois encarou a estrada que parecia infinita; do lado direito, um campo verde enorme que não sabia se tinha um fim, do lado esquerdo, uma praia completamente deserta. Não tinha a menor ideia de onde estavam!
– Não faço a minima ideia – null disse, ouvindo null xingar.
– COMO UMA PESSOA FAMOSA, QUE FAZ TURNÊ NO MUNDO INTEIRO, NÃO SABE DA DROGA DE LUGAR QUE A GENTE TÁ? – peguntou, furiosa.
– AH, ME DESCULPE POR NÃO SABER TODOS OS LUGARES DA ITÁLIA. MAIS EU DUVIDO QUE SE A GENTE ESTIVESSE NA FLÓRIDA, VOCÊ SABERIA DE COR TODA A PORRA DAQUELE LUGAR! – null gritou de volta, e null fez uma careta. Dessa vez, saiu andando em direção a praia deserta, deixando null sozinho. Aos poucos, a chuva começou a cair, mas ela nem se importou, abraçou seu próprio corpo, sentindo o vento frio tomar conta de todas as suas células, e continuou caminhando sobre a areia.

– O que foi agora? – null perguntou, andando atrás da garota.
– Eu percebi uma coisa – null disse, virando-se para olhá-lo, e esfregou seus braços em seu corpo para diminuir o frio.
– O quê? – ele perguntou, ela o encarou.
– Não importa o que eu faça, não importa o que aconteça, você sempre vai me culpar por eu ter ido embora! – a garota falou com a voz arrastada, engolindo o choro. Pela primeira vez desde que se encontraram, essa era a primeira vez que sentia vontade de abraçá-la. Mas não o fez, apenas ficou calado. Depois de um tempo, a garota começou a espirrar e null lembrou-se mentalmente que null tinha alergia.
– Vem, eu vou tirar você daqui – o rapaz disse, aconchegando a garota em seus braços. Avistou uma caverna bem perto dali, andou em direção a ela e deu graças a Deus quando finalmente se livrou da chuva. Colocou null em baixo da pedra que protegiam os dois da chuva, e sentou-se ao lado da garota que abraçava as pernas, encolhendo-se depois de fungar.
– Tudo bem? – null perguntou, preocupado, e null assentiu.
– Tá sim, é só falta de ar, daqui a pouco passa – respondeu.
– Você tem que parar de pegar chuva – null disse.
– Estamos perdidos, null, e técnicamente não temos muita opção – null disse simplesmente, e null assentiu.
– Quando o tempo limpar, acho que já vai ter sinal, daí eu ligo pro null pra gente poder sair desse lugar.
– Tudo bem – a garota assentiu.
– Juro que nunca mais piso nesse lugar tão cedo – null bufou.
– Você tem uma turnê pra fazer, seus fãs da máfia italiana vão ficar muito tristes se você não voltar – null falou e null riu.
– Em falar em máfia italiana, você não achou o... – null riu e interrompeu null, bem antes de ele completar a frase
– O Davi da máfia italiana com aquela mansão enorme? – null riu. – Achei, e tava pensando se você também achava isso.
null deu um pequeno sorriso.
– Então é por isso que você tava rindo quando ele tava mostrando a casa pra gente? – o rapaz perguntou entre risos, e null assentiu, tentando engolir o riso. Tinham que concordar de como os dois sabiam exatamente o que um pensava sobre o outro, era como telepati, como se um precisasse do outro, mesmo com todas as brigas e doces que faziam. null não tinha ideia de que horas eram, só sabia que tinha escurecido. null tinha trazido do carro uma lanterna e seu violão. O garoto dedilhava algumas notas, enquanto null apenas observava e pensava em como ele era talentoso. Lembrou-se da surpresa que ele tinha feito a ela em seu festa, lembrou-se da música que tinha feito especialmente pra ela, lembrava-se de cada nota de “I Wanna Hold You”, como se ele tivesse tocada para ela ontem.

Então, null começou a dedilhar no violão o começo de uma música, que ela nunca havia escutado antes e que tinha quase certeza que ele estava compondo agora.

I wonder what it's like to be loved by you
I wonder what it's like to be home
And I don't walk when there's a stone in my shoe
All I know that in time I'll be fine


(Eu me pergunto como é ser amado por você
Eu me pergunto como é estar em casa
E eu não ando quando tem pedras em meu sapato
Só o que eu sei é que com o tempo eu ficarei bem)


null olhava para null enquanto cantava, fazendo-a fixar os olhos nele. Tinha esquecido como era bom ouvi-lo cantar, então fechou os olhos, deixando que a voz calma e afinada do garoto entrasse pelo seus ouvidos.

I wonder what it's like to fly so high
Or to breathe under the sea
I wonder if someday I'll be good with goodbyes
But I'll be ok if you come along with me


(Eu me pergunto como é voar tao alto
Ou como respirar embaixo do mar
Eu me pergunto se algum dia eu serei bom com despedidas
Mas eu ficarei bem se você vier comigo)


null sentiu algo estranho em seu coração, como se estivesse em casa. Como se cada palavra que saia da boca de null fosse para ela.

Such a long, long way to go
Where I'm going I don't know
Yeah I'm just following the road
Through a walk in the sun
Through a walk in the sun


(É um longo, longo caminho para ir
Para onde eu estou indo, eu não sei
Yeah, só estou seguindo a estrada
Caminhando sob o sol
Caminhando sob o sol)



null dedilhou as últimas notas e parou de cantar, depois disso, null abriu os olhos e continuou deitada sobre seu cotovelo, observando null que só depois de alguns minutos notou o olhar da garota sobre ele.

– Essa música é linda – null disse, simplesmente.
– Ainda não tá pronta, quando voltarmos dessa droga de viagem, eu vou tentar terminar – null disse.
– Ela me acalma – null disse, sonolenta. – É uma das mais lindas que eu já ouvi – falou antes de fechar os olhos completamente, deixando null a observando, sentindo um mix de sentimentos em seu interior.

Itália: Sábado; No meio do nada: 07h30 da manhã

– Caraca, porra, como você foi perder o endereço e ainda ficar perdido? – null disse, saindo do carro, olhando para null e null.
Quando amanheceu, null finalmente conseguiu falar com null, explicando mais ou menos onde poderiam estar.
– Eu não sei cara, tava na gaveta do carro e quando eu fui ver tinha sumido! – null bufou.
– Pelo menos é um bom motivo pra me acordar essa hora da manhã – null bufou. – Pronto, tá cheio – disse jogando a garrava vazia de gasolina longe, e null suspirou, aliviado, por finalmente saírem dali.
– Ok, você pegou o endereço do ateliê? – null perguntou, e null assentiu.
– Aqui – falou, entregando. – Vocês tem mais ou menos duas horas até chegarem lá, hoje fecha cedo – disse, conferindo no relógio. – E se não se apressarem, vão acabar indo de roupas íntimas pro casamento da Sra. null riu e null gargalhou, entrando no carro.
– Até que não é uma má idéia – null entrou no banco de carona e null deu partida. null estava logo atrás, em seu carro; tinham apenas duas horas até chegarem no ateliê da Sra. Pillrsbugy.

Itália: Sábado; 9h02 da manhã

– Ok, deixa que eu vou lá – null saiu do carro, assim que null estacionou em frente ao ateliê, e null fechou a porta, de cara emburrada.
– Até parece que você vai aguentar carregar as roupas sozinha – riu nasalado, e null fez uma careta.
– Tá me chamando de fraca, ? – cruzou os braços, e jogou um olhar ameaçador para null, que riu.
– Ah, sem tempo pra brincadeirinhas, null, vamos logo pegar as roupas com a velha – null saiu na frente, esbarrando em null propositalmente, fazendo a garota rolar os olhos e depois segui-lo até o ateliê.

* * *


O casamento da mãe de null e Davi estava realmente lindo. Foi no jardim da mansão, com uma decoração de dar inveja a qualquer casamento; havia rosas por todos os lados, e o restante dos ajustes tinham tons claros e pasteis, que traziam serenidade e felicidade a todos os presentes. Na hora de chamarem os padrinhos, null entrara com a namorada, Lize, e null com Claire, assim como null entrara com Lana. null e null eram os últimos, graças a Deus, porque null andava nervoso pelo lado de fora da igreja, imaginando onde null estava, e a amaldiçoou mentalmente. Agora iria ser deixado com cara de taxa na porta da igreja, ou melhor, na porta da casa de Davi, porque sua mãe havia decidido fazer um casamento ao ar livre e não poderia aparecer no jardim enquanto null não chegasse. Dava graças a Deus por não ser o noivo, só sabia que quando a visse, iria falar umas poucas e boas para a garota.

– Me procurando, ? – então null se virou, com o queixo caído, graças a aparência da garota. O vestido era rosa, pouco acima do joelho, junto com um chale da mesma cor em volta de seus braços, cachinhos soltos por seu cabelos longos e loiros que caiam pelo rosto angelical de null. Agora tinha certeza de que quando a chamava de sua princesa, era de fato, porque ela realmente parecia com uma. Sempre pareceu, pelo menos para ele, mas ele estava longe de ser seu príncipe encantado. null demorou um pouco para responder, observando cada detalhe da garota deslumbrante a sua frente. Mari apenas soltou um risinho tímido.
– Vamos? – ela perguntou, dando os braços para , que estendeu o antebraço, e null o segurou, prontos para entrarem na igreja.
– Você está linda – ele sussurrou baixinho, antes de darem os primeiros passos, e Mari sentiu seu coração borbulhar até não houver mais palavras.

O casamento fora lindo. null até havia deixado uma lágrima solitária cair, lembrando de como sua mãe estaria feliz de estar ali, presenciando o casamento de sua melhor amiga. Engoliu em seco, limpando a lágrima com cuidado com um paninho que guardara em sua bolsa. Tinha reencontrado null, estavam finalmente jogando pétalas de rosas enquanto os noivos passavam pelo tapete vermelho pela primeira vez casados. null sabia que por mais que null bancasse o durão, estava feliz e emocionado pelo casamento de sua mãe, e no fundo, ela sabia que no final de contas, nada importava do que a felicidade dela. Tinha ficado escuro e a festa havia começado há cerca de trinta minutos e uma banda cover tocava “Lego House” do Ed Sheeran.

null sentou-se em uma mesa com Tom, Claire e mais duas garotas, e null pôde notar aquele sorrisinho galanteador de null para uma delas, e bufou, indo sentar-se com null e Lize. Tinha que se acostumar com o novo jeito de null, de beber sem ter hora pra acabar, de levar as garotas pra cama e dispensá-las no dia seguinte, e só de imaginar ele beijando aquela garota que ele parecia estar numa conversa empolgante, a fez murchar, e sentir a típico dor que todo mundo sente quando quer alguém que não pode ter. Imaginou se não tivesse indo embora, então null estaria naquela cadeira vazia ao seu lado e, quem sabe, noivos enquanto falavam de planos para o futuro, e todos ficariam emocionados com o quanto se amavam...

null? ALÔ, TERRA! – despertou-se de seu devaneio, e tirou o cotovelo da mesa em que apoiava seu rosto, olhando para null e abrindo um sorriso torto.
– Desculpem, tava viajando – disse e Lize riu.
– Então, a Lize sempre quis conhecer a Flórida, por que não conta um pouco pra ela de lá? – null sorriu.
– É, null, por que não conta a ela? Eu também adoraria ouvir – null apareceu do nada, sentando-se na cadeira vazia ao lado dela, e null abriu e fechou os olho, ainda tonta com tudo aquilo e sorriu fraco.
– Ok – disse. – Ah, é como aqui, só que tem muito sol, e as pessoas são mais liberais. Tem pubs abertos todos os dias, e o que eu mais gostei de lá foi a Rosemary Beach... É a praia mais linda que eu já vi. Só de olhar praquela mar tranquilo, não dá vontade de ir embora...
– Ahh – null abriu um sorriso que null tinha certeza que era sínico.
– Então deve ser por isso que você não voltou mais... “Por causa do mar tranquilo” – null fez aspas e null bufou.
– Muito melhor do que ficar ouvindo essa sua voz irritante e irônica – null replicou.
– Nossa, null, eu amei – Lize sorriu, ignorando null. – Um dia poderíamos ir lá, amor! – Lize olhou apaixonadamente para null, que sorriu.
– Quando você quiser, amor – disse, dando um selinho na namorada e null admirou a cena, depois virou-se para olhar null, que não expressava nada em seu rosto.

– E AÍ, PESSOAL?!– alguém falou ao microfone, despertando a atenção de todos. – É hora da dança dos noivos e os padrinhos! Então, por favor, todos aqui na pista de dança! – o cara, que null e null tinham certeza que estava bêbado, falou, e null e Lize, assim como todos que haviam participado da cerimônia, levantaram-se, indo até o local.

– Ah, não! – null reclamou, suspirando, e null o repetiu o gesto.
– Anda, vamos logo, – pegou o rapaz pelo braço e seguiu em direção à pista.

(Coloque para tocar: John Mayer – Slow Dancing In A Burning Room)

Tudo parecia estar calmo quando “Slow Dancing In A Burning Room” do John Mayer começou a tocar, e null e null se aproximaram, deixando que a música os levassem em uma direção que não sabiam onde deveria ter fim. null envolveu seus braços no pescoço de null e deixou seu olhar sobre seu peito, com medo de perder-se nos olhos null do garoto, que sempre amara. Havia piscas-piscas amarelos por todo o lugar, como o cenário em que a Bella e Edward dançaram no baile, em Crepúsculo. Então null e null deixaram que a música os levassem.

It's not a silly little moment
It's not the storm before the calm
This is the deep and dying breath of
This love that we've been workin on
Can't seem to hold you like I want to
So I can feel you in my arms
Nobody's gonna come and save you
We pulled to many false alarms


(Não é um momento bobo
Não é uma tempestade antes da calmaria
Esse é o final e ofegante suspiro
do amor que estivemos mantendo
Parece que não posso mais te segurar como quero
Então eu posso te sentir em meus braços
Ninguém virá te salvar
Demos muitos alarmes falsos)


Então, olhos null e null finalmente se encontraram e null e null dançaram a música conforme o ritmo, sem falar nada, porque a ligação que um tinha com o outro, era maior que qualquer palavra dita naquela noite.

We're going down
And you can see it too
We're going down
And you know that we're doomed
My dear
We're slow dancing in a burning room


(Estamos afundando
E você pode perceber isso também
Estamos afundando
E você sabe que fracassamos
Minha querida
Nós estamos calmamente dançando num salão em chamas)


– Essa música, – null disse com a voz arrastada, quebrando o silêncio. – parece com a gente.
– Talvez porque seja – ele disse, simplesmente.
– Mas a nossa música era “I Wanna Hold You”, era pra sempre ser assim.
– As coisas mudam, Mari – null disse, com uma voz calma e null percebeu que era a primeira vez que ele a chamava pelo apelido desde que tinha voltado.
– Estamos afundando – ela confessou.

I was the one you always dreamed of
You were the one I tried to draw
How dare you say it's nothing to me
Baby, you're the only light I ever saw


(Eu era a pessoa que você sonhou
Você era a pessoa que eu tentei desenhar
Como você pode dizer que não significa nada pra mim
Você foi a única luz que eu pude ver)



– Como fomos nos destruir assim, null? – null perguntou, chorosa.
– Você se lembra de quando finalmente ficamos juntos? – null perguntou e null assentiu. – E eu te disse que finais felizes não dependem do destino e sim de nós mesmos?
– Lembro – null concordou.
– Nós fizemos nossas escolhas, e por mais que doam agora, não tem mais volta – null respondeu, com a voz rouca, e pela primeira vez, Mari pôde sentir o quanto ele estava sofrendo por admitir isso. E pela primeira vez, null tinha deixado a menina ver o que estava por trás daquela casca, e que por mais que seu coração estivesse ferido, ele ainda batia ao ritmo de casa sussurro.

I'll make the most of all the sadness
You'll be a bitch because you can
You'll try to hit me just to hurt me
So you leave me feeling dirty
cause you can't understand


(Eu farei o melhor dessa tristeza
E voce será uma vadia porque voce pode
Voce tentará me atingir só pra me machucar
Então você me deixará me sentindo sujo
porque você não pode entender)



– Me desculpe – null sussurrou, e null viu uma lágrima solitária cair pelo rosto da garota. – Me desculpe por quebrar seu coração. E por mais que doesse, fazendo isso, eu quebrei o meu também. Pois somos apenas um coração, e quando um está machucado, o outro também está. Sempre vai ser assim, null.
– Às vezes, as coisas ruins são feitas para darmos valor as coisas boas, princesa, e se não cairmos, nem que fosse por uma vez, nunca iríamos conseguir medir o tamanho do nosso tombo – ele disse, olhando fixamente os olhos da garota. “Princesa”, e pela primeira vez, viu em seus olhos, o null que tanto amava retornar, e sorriu consigo, deixando outra lágrima cair.

We're going down
And you can see it too
We're going down
And you know that we're doomed
My dear
We're slow dancing in a burning room


(Estamos afundando
E você pode perceber isso também
Estamos afundando
E você sabe que fracassamos
Minha querida
Nós estamos calmamente dançando num salão em chamas)



– Eu amo você – null disse entre as lágrimas, e null engoliu em seco e olhou pra null.
– Eu também amo você – ele disse. – Eu nunca deixei de amá-la, mesmo estando todo fodido...
– Você não está fodido, null – null segurou seu pescoço, deixando seus rostos lado a lado. – Você nunca mudou, você só precisa dar a volta por cima – null disse e null negou com a cabeça, encostando os lábios nos da garota, beijando-a. Era um beijo calmo, mas que significava todo o amor e saudade que sentiam um pelo o outro, significava carinho, amor, e acima de tudo, paixão, e que não importava o quanto brigassem ou se distanciassem, o amor que sentiam um pelo outro, sempre prevaleceria.
– Eu sempre vou amar você, Mari – null disse depois de um beijo – Você tem razão. Mas o nosso tempo já foi, nós escolhemos como iríamos seguir nossas histórias, fizemos nossas escolhas, o nosso caminho. E no caminho que escolhemos, não há saída para nós dois – null disse, firme, afastando-se de null e saindo para fora do salão de festas, deixando a garota ali com a cabeça explodindo. Ela não daria a mínima, não agora, deixou que as lágrimas rolassem pelo seu rosto e saiu dali correndo, para um lugar que ninguém a poderia encontrar.

Go cry about it why don't you
Go cry about it why don't you
Go cry about it why don't you
My dear
we're slow dancing in a burning room
Burning room, burning room
Don't you think we oughta know by now
Don't you think we shoulda learned somehow
Don't you think we oughta know by now
Don't you think we shoulda learned somehow
Don't you think we oughta know by now
Don't you think we shoulda learned somehow
Don't you think we shoulda learned somehow


(Vá chorar por isso, porque não vai?
Vá chorar por isso, porque não vai?
Vá chorar por isso, porque não vai?
Minha querida
Nós estamos calmamente dançando num salão em chamas
calmamente dançando num salão em chamas
Não acha que já deveríamos saber?
Não acha que já deveríamos ter aprendido?
Não acha que já deveríamos saber?
Não acha que já deveríamos ter aprendido?
Não acha que já deveríamos saber?
Não acha que já deveríamos ter aprendido?
Não acha que já deveríamos ter aprendido?)





Londres: 15 de julho – 2009

“Querido null,
Quando você ler esta carta, eu já estarei muito longe. A noite de ontem foi perfeita, e só Deus sabe o quanto eu amo você. Nunca duvide disso, nem por um segundo dessa vida, ok? Me perdoe null, me perdoe, mas eu precisei ir. Eu sei que você vai me detestar quando acabar de ler essa carta, mas eu precisei ir... Você sempre me dizia que nunca deveríamos desistir dos nossos sonhos. Mas eu tenho dois, um deles é querer ficar com você pra sempre, e o outro é me formar, estudar em uma das melhores faculdades do mundo e ser, quem sabe, a melhor fotógrafa que Londres já conheceu. Eu recebi uma carta da Flórida cerca de um mês atrás dizendo que eu ganhei uma bolsa para estudar lá, e bem, durante três anos... E essa chance seria minha única sorte de realmente virar o alguém que eu sonho em ser. Me perdoe null, me perdoa, mas eu precisei ir... Faz parte do meu sonho e eu não posso deixá-lo agora, mesmo arrancando fora uma parte do meu coração por te deixar. Eu não consegui te falar, não consegui me despedir porque eu saberia que se fizesse isso, eu não iria conseguir partir, porque só de olhar pra você, eu desistiria de tudo. Porque você null, você será a minha droga; quanto mais eu uso, mais fico viciada. Você é a minha droga que eu preciso todos os dias para me fazer sorrir e, quem sabe, até sobreviver. E ficar sem você, é como um drogado ir para a rehab e por mais que lute, chore, não consegue se livrar. Mas você é minha droga boa, a que me faz sorrir ao invés de chorar, você é a droga que me faz sentir viva, a droga que me diz, que mesmo com todas as críticas, eu ainda vou vencer. Porque eu quero te abraçar, ah, como eu quero te abraçar! Eu não estou te deixando só por mim, estou te deixando por você, por nós dois. Olha só pra você, acabou de assinar um contrato com uma gravadora e logo logo estará lotado de compromissos, shows e fãs, e garotas lindas aos pés de todos vocês. Eu sei que você me ama, eu nunca iria duvidar disso. Mas vivemos juntos a nossa vida inteira, e essa é a nossa deixa de voar, e se nos reencontrarmos um dia, será porque nem a distância, nem a fama, e nem nenhuma ambição, nos impedirá de ficarmos juntos. Porque por mais que você ame uma pessoa, você tem que deixá-la ir, pois se voltar é seu, mas se não, é porque nunca foi.”
Eu te amo, nunca duvide disso.
null.

Londres: Segunda-feira; 09h10 – Hoje.


null andava irritada pela ruas, com pressa em chegar a mais um de seus compromissos, já que havia resolvido ficar em Londres de vez, assim que voltara da Itália. Várias empresas, incluindo a Vogue, haviam a contratado e estava com a agenda extremamente cheia. Na verdade, estava esgotada, estava cansada e mal dormia todas as noites, parecia até uma velha de sessenta anos com aquele mau humor de se dar ódio. Entrou na Vogue e foi até o estúdio, tinha cinco modelos para fotografar para a próxima revista, e pelo que seu relógio anunciava, já estava atrasada.

– Bom dia, Liv! – null sorriu, pegando um café, e a garota, que parecia ter sua idade, sorriu bebericando do seu próprio copo.
– Bom dia, Mari – ela sorriu. – Como está na sessão de fotos? – ela perguntou, e Mari fez uma careta.
– Ah, tá indo, hoje não é um bom dia
– É, essa semana também não é o nosso, tivemos alguns problemas com os meninos do McFly – ela disse, e null arregalou os olhos.
– O que aconteceu dessa vez? – perguntou, preocupada, e Liv sorriu torto.
null foi visto saindo de um Pub com três dançarinas semi-nuas, e um fotógrafo registrou tudo e ele acabou partindo pra cima dele – ela terminou de falar e deu um suspiro, bebericando seu café, e null estremeceu. Fazia quase dois meses que não se falavam, muito menos com alguém da banda. Na verdade, ela tinha se desligado, tinha resolvido ficar em Londres e tinha ficado quase todo esse tempo ocupada resolvendo as coisas de seu novo apartamento e de seus trabalhos na cidade. Mas, hoje, era hora apertar o botão ON, e saber o que realmente estava acontecendo.

Cinco horas mais tarde, chegou em casa quando já estava começando a escurecer, e dava graças a Deus por ter escolhido um apartamento com janelas que tinham uma bela vista para o pôr-do-sol, mesmo com o frio que fazia lá fora. Foi até o banheiro e tomou um banho quente, colocando um short surrado e sua blusa dois números maiores do Bob Esponja, fez um coque frouxo e se sentou na mesa, ligando seu notebook enquanto tomava uma xícara de café, pronta para saber de todos os baphos do mês.

Vogue – Astro do McFly, null , é visto saindo de pub completamente bêbado.

Team Magazinenull é visto brigando em balada, seguranças tentam separar o garoto que parecia enfurecido com um dos frequentantes do pub.

Revista Pooplenull null e null Fletcher são vistos carregando null , supostamente bêbado, em um hotel em Nova York onde faziam show.

Ok!null é visto saindo com coelhinha da playboy em balada na América onde faziam show com McFly.

– PORRA! – foi a única coisa que null conseguiu dizer, colocando as mãos sobre a cabeça. Tudo aquilo em duas semanas? Não queria nem ver o que havia acontecido nos últimos dois meses. Sem pensar muito no que fazer, pegou seu celular e ligou para null, torcendo para que ele finalmente atendesse.

– Hey, Mari! – ele disse, com uma voz alegre.
– Onde vocês estão? – perguntou.
– Voltamos de Nova York faz dois dias, já estamos em Londres. Por quê?
– Porque eu fico dois meses sem notícias, e quando eu vejo, me deparo com notícias nada agradáveis sobre o amiguinho de vocês – falou, irritada.
– Você viu? Ele tá impossível desde o casamento. Eu, o null e o null até tentamos, mas ele tá na merda.
– Preciso falar com ele – disse, firme.
– Ele tá dormindo, ressaca – null explicou. – Hoje vai ter uma festa na casa do Josh, você pode ir se quiser.
– Josh? Não é aquele que o null quase arrumou uma briga quando eu fui no pub com ele? – Mari perguntou, confusa e null riu.
– Deve ser esse mesmo. Te mando o endereço via SMS, ok?
– Tudo bem – disse, desligando.


Londres: 22h40 da noite : Residência dos Walkers

Havia cervejas por todos os lados, coisa que null não estranhou, afinal, a casa estava lotada e imaginou se a casa era realmente de Josh ou se ele estava fazendo aquela festa aproveitando que seus pais haviam saído. Estava com um vestido preto, um pouco acima do joelho, um cinto prata na cintura, e com um salto 15 no pé, que a deixava sexy sem parecer com aquelas putas que iria encontrar por ali. Quando entrou na casa, a primeira coisa que viu, foi null e null perto do bar, e sem pensar muito, foi até eles tentando não se esbarrar em ninguém, mesmo que aquele lugar estivesse completamente cheio.

null! – null sorriu, abraçando-a, e null fez o mesmo.
– Nossa, tá gata – null riu e Mari deu um sorrisinho tímido.
– Se o te ver assim ele vai babar – null gargalhou e null fez o mesmo, e null deu a língua.
– Obrigada pelo elogio, se é que isso foi um elogio – null riu, virando-se para o bar.
– Uma tequila, por favor – disse amigável para o garçom, como se fosse uma criança pedindo bala, e null riu quando viu a menina levando a garrafa até a boca e dando um golão de uma vez, retorcendo-se com uma careta.
– Vai com calma, cara – null riu.
– Hoje, a última coisa que eu quero, é manter a calma – null disse, e null apareceu. null riu quando ele a olhou de baixo pra cima, abrindo a boca.
null null, você é a coisa mais mordível que esse mundo já fez – ele falou, dando um abraço na amiga, que sorriu.
– Obrigada, null. Você também tá um gato, cadê a Lize? – perguntou e a viu aparecer repentinamente, com um copo de cerveja na mão.
– Tô aqui – ela disse, dando um abraçado em Mari.
– Que saudade, vocês sumiram, poxa! – null fez biquinho e null gargalhou.
– Vamos dizer que nossos shows em Nova York não foi um dos melhores, então nem valeu a pena ter ido – null disse, e null encostou a cabeça em seu ombro.
– Sai daqui, null, eu tenho mulher – null o empurrou de brincadeira e ambos riram.
– Mas você sabe que eu sempre vou ser o seu primeiro amor – null disse, manhoso, e Claire apareceu, rindo.
– O que houve dessa vez? – ela perguntou.
– Você que roubou meu homem de mim – null disse, e todos gargalharam, inclusive Claire.
– Eu roubei? Não tenho culpa se você não segurou ele na sua cama! – ela falou, brincalhona.
– Não acredito nisso – null riu.
null, dá uma chance pro null, vai? – null riu, dando mais um gole em sua tequila.
– É, ouve a null, ela sempre tem razão – null riu.
– Agora chega, deixa meu homem em paz, null – Claire disse, pegando null pela gravata e saindo do bar, e null deu um suspiro.
– Agora só me resta pegar as gatinhas daqui – falou, antes de beber um último gole de sua cerveja e sair andando.

null olhou pro lado e viu null e Lize se pegando, soltando um longo suspiro e saindo, andando pela casa em busca de alguém conhecido. Logo, um menino sorridente que parecia ter uns dezoito para dezenove anos, sorriu servindo uma das cervejas que estavam em copos de plásticos vermelhos, e null retribuiu o sorriso, pegando um dos copos e assistindo o garoto se afastar.

– Hey, null! – virou-se e deu de cara com um Josh sorridente.
– Boa festa – disse, sorrindo fraco, e Josh riu.
– Mas pela sua cara, vejo que não tá curtindo muito – ele disse.
– Só estou um pouco cansada – respondeu, e ouviu um menino gritar o nome de Josh, ele se virou e pediu que esperassem.
– O McFly vai tocar daqui a pouco, quem sabe isso não te anime – Josh deu um sorrisinho fraco, e null assentiu. Os meninos iam tocar?
null, preciso resolver uma parada, a gente se encontra depois? – ele sorriu maroto e null assentiu.
– Tudo bem, vai lá – disse. Josh deu um beijo no rosto da garota, correndo para onde seus amigos o chamavam. null, então, virou-se, esbarrando em alguém

– Olhaaa, já tá bêbado o suficiente pra esbarrar em todo mundo? – falou e depois bebeu um gole de sua cerveja, fazendo null rir.
– Tem razão, agora o que eu não entendo é você num lugar como esse! Pera aí, deixa eu adivinhar, o Walker te convidou? – null riu, irônico, e null resmungou.
– Não, , não foi o Walker, foi o null – null falou, olhando para null. – E cuidado para não beber demais e cair do palco como um babaca – disse, seca.
– Ah, eu te garanto que eu posso ser muita coisa, menos um babaca!
– Você já foi muita coisa, , só que agora você não tá sendo nada. E cuidado pra não sair em mais nenhuma revista de fofoca com suas coelhinhas da playboy e estragar a porra da sua banda, se isso ainda é algo que você ainda se importe – falou, seca, antes de sair e deixar null ali, olhando para o nada.

Quando null notou, o McFly já tinha subido no palco, e ouviu-os dando os primeiros acordes de uma música que ela conhecia tão bem como a palma de sua mão. Então null começou a cantar “I Wanna Hold You”, fazendo null congelar.

“Eu quero te abraçar, meu céu está ficando preto, sinto como um ataque cardíaco e eu faria qualquer coisa que você pedir. Eu quero muito te abraçar” – dizia a música.

Mas por que ele estava fazendo isso com ela? Por que estava cutucando sua ferida, quando na verdade ele que tinha dado motivos para ela cicatrizar? Por que ele fazia isso com ela? Por que tinha que lembrá-la todos os dias o quanto fora amada por ele, e que agora não havia sobrado mais nada, a não ser uma simples e velha música, mas que pra ela significava tudo?

Viu null e null sorrirem um para o outro, como se o mundo estivesse completamente perfeito, enquanto Lize e Claire estavam ao lado de null, rindo para os namorados, que retribuiam de cima do palco. Sentiu seu mundo parar; aquela música mexia com ela, como se ele estivesse cantando somente para ela, e não havia ninguém, além dos dois, ali naquela sala.

Quando os meninos deram os últimos acordes da música, null sentiu vontade de sumir, e era o que ela iria fazer naquele exato momento, queria chorar, queria ficar sozinha com sua dor que era incapaz de esquecer. Fez menção de sair da sala, quando ouviu a voz de null no microfone, voltando-se para o palco.

– Bom, essa música foi feita pra uma pessoa muito especial, uma pessoa que me dá motivos para sorrir todos os dias e que, acima de tudo, me ajuda quando eu preciso. Essa música se chama “Walk in The Sun” – null trocou a guitarra por um violão, dando os primeiros acordes no instrumento.


I wonder what it's like to be loved by you
I wonder what it's like to be home
And I don't walk when there's a stone in my shoe
All I know that in time I'll be fine


(Eu me pergunto como é ser amado por você
Eu me pergunto como é estar em casa
E eu nao ando quando tem pedras em meu sapato
Só o que eu sei é que com o tempo eu ficarei bem)


null, null e null saíram do palco, deixando apenas null cantando. Foram em direção as suas respectivas namoradas, abraçando-se enquanto ouviam null cantar.
Na verdade, quase todos dançavam coladinhos naquele ritmo calmo da música. E Mari continuava ali, estática com o copo em suas mãos, ouvindo e vendo null cantar tão perfeitamente. Era estranho, quando ele cantava, seu rosto parecia tão complexo, ele parecia tão mais calmo e sereno. Muito ao contrário de como agia quando estava perto dela, e dos outros. Mas ela sabia que as pessoas mudam com o tempo. Ninguém nunca vai ser o mesmo para sempre... E, bom, o para sempre não existe. Tudo um dia acaba, inclusive as pessoas.

I wonder what it's like to fly so high
Or to breathe under the sea
I wonder if someday I'll be good with goodbyes
But I'll be ok if you come along with me


(Eu me pergunto como é voar tao alto
Ou como respirar embaixo do mar
Eu me pergunto se algum dia eu serei bom com despedidas
Mas eu ficarei bem se
você vier comigo)


Mesmo que tivesse passado dois meses, ainda se lembrava daquela música. Ele havia a tocado quando estavam na caverna, e pelo que ele tinha dito, ele tinha a criado naquele dia, no meio daquela tempestade sem fim, perdido com ela em um lugar da Itália, dentro de uma caverna escura, sem sinal de telefone, sem internet, sem nada. Apenas ele, ela e o violão.

Such a long, long way to go
Where I'm going I don't know
Yeah I'm just following the road
Through a walk in the sun
Through a walk in the sun


(É um longo, longo caminho para ir
Para onde eu estou indo, eu não sei
Yeah, só estou seguindo a estrada
Caminhando sob o sol
Caminhando sob o sol)


Ele havia terminado a música como tinha dito a ela naquele dia. Às vezes, ficava se perguntando se era para ela, e há três anos, ela com certeza diria que sim, mas agora não tinha certeza de mais nada. null tinha se tornado alguém fechado, incapaz de transmitir sentimento algum, entretanto, por dentro, null sabia muito bem que ele sofria, mas sofria calado, porque era mais fácil esconder uma dor, do que ter que explicá-la para alguém. Isso era mais doloroso, ela mesma sabia disso.

I wonder how they put a man on the moon
I wonder what it's like up there
I wonder if you'll ever sing this tune
All I know is the answer is in the air


(Eu me pergunto como eles colocaram um homem na lua
Eu me pergunto como é lá
Eu me pergunto se algum dia você cantará essa canção
tudo que eu sei é que a resposta está no ar)


Então o olhar de null encontrou-se com o dela. Ele apenas a observou enquanto cantava e null sentiu seu rosto queimar; queria chorar, ah como queria. Fitava null atentamente, o choro estampado em sua face, assim como a saudade. Em seu rosto, havia a expressão de quem nunca havia o deixado de amar.

Such a long, long way to go
Where I'm going I don't know
I'm just following the road
Through a walk in the sun
Through a walk in the sun


(É um longo, longo caminho para ir
Para onde eu estou indo, eu não sei
Yeah, só estou seguindo a estrada
Caminhando sob o sol
Caminhando sob o sol)


Ele cantarolou “Walk In The Sun” e fez uma cara engraçada, franzindo o cenho para Mari de um jeito engraçado, fazendo a garota sorrir pela primeira vez naquela noite.

Sitting and watching the world going by
Is it true when we die we go up to the sky whoa
Whoa
So many things that I don't understand
Put my feet in the sand when I'm walking in the sun
Whoa...
Walking in the sun


(Sentado e olhando o mundo passar
É verdade quando nós morremos, que nós vamos para o céu? Ooh
Oh
Tantas coisas que eu não entendo
Coloco meus pés na areia quando estou caminhando sob o sol
Ooh
Caminhando sob o sol)


Não sabia porque, mas aquela música estava mexendo com ela, dava uma sensação de saudade, sensação de estar em casa, uma paz que nem ela saberia desvendar. Então, por um segundo, teve certeza de que aquele alguém especial era ela.

Such a long, long way to go
Where I'm going I don't know
I'm just following the road
Through a walk in the sun
Through a walk in the sun
Yeah
Whoa
Whoa
Whoa


(É um longo, longo caminho para ir
Para onde eu estou indo, eu não sei
Só estou seguindo a estrada
Caminhando sob o sol
Caminhando sob o sol
Yeah
Ooh
Ooh
Ooh)




Aplausos surgiram e null sorriu, e os olhos de ambos se encontraram através da multidão mais uma vez, interrompidos pela gritaria demais. Então era isso. Mas, naquele dia, as coisas teriam que se resolver, ou era dado um ponto final ou a continuação daquela história que parecia mais uma novela mexicana. Levantou-se, indo atrás de null, e que se danasse aquelas meninas loucas por uma foto, falaria com ele, por bem ou por mal.

“– Que bom que você gostou da música – a risada de null era percebida.
– Você acha que isso vai dar certo? Essa coisa entre nós dois? – null perguntou, e a garota riu.
– Já deu, meu amor, você sabe que não importa o que aconteça, eu sempre vou estar ao seu lado.
– Você sabe que é muito especial na minha vida, não sabe? E não importa o que as pessoas dizem... Eu tô tentando mudar.”


Mari afastou a mão da maçaneta da porta, quando estava pronta para abri-la, e sentiu uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto. Aquela garota era a pessoa especial. null tinha encontrado alguém enquanto ela estava ali, tentando consertar as coisas, sentindo-se estúpida por achar que tudo poderia voltar a ser como antes, afinal, nada é para sempre, né? Não existem finais felizes, isso não passava de histórias infantis estúpidas, ninguém era feliz de verdade na vida.
Estava ali, ainda parada em frente aquela porta, sem ao menos se mexer. A porta abriu, null e uma garota de cabelos castanhos deram de cara com ela. null arregalou os olhos, vendo a garota com o rosto vermelho, encharcado de lágrimas.
– Desculpe eu... Eu não deveria ter vindo – null disse, limpando o rosto com as mãos, saindo dali correndo. Para um lugar que ninguém a poderia encontrar. Correu, esbarrando em todos que estavam em seu caminho até estar livre daquela casa. Andou rápido pela calçada, fungando e tentando limpar as lágrimas que caiam desesperadamente por seu rosto. E sentiu ódio por estar chorando, por que nada dava certo na sua vida? Por que uma simples escolha podia estragar tudo para sempre? Agora até seus sapatos doíam, então os tirou, segurando-os na mão e andando descalça pela rua. Ótimo, era tudo o que ela queria, estava realmente ferrada. Descalça, com um vestido amassado, com a maquiagem completamente borrada, e com lágrimas no rosto que não paravam de cair. Mas que droga, oque poderia ficar pior?

null! – ouviu uma voz arrastada e percebeu logo a quem pertencia. Ótimo, era tudo o que precisava! Mas a verdade, é que não queria conversar com ele, não queria nada relacionado com ele, queria apenas ficar sozinha, ou quem sabe se jogar do London Eye?!
– Vai embora, null! – falou com a voz embargada, continuando a caminhar.
null por favor, me escuta! – null falava enquanto corria atrás dela.
– Não tem nada que eu possa escutar, droga – null respondeu.
– Mas tem muita coisa pra falar, olha, eu não sei o que você ouviu atrás da porta, mas...
– Ótimo, era tudo o que eu queria, me desculpe por me intrometer na sua vida, null, eu juro que isso não vai mais acontecer – null disse, chorosa. De repente, sentiu os braços de null sobre os seus, fazendo-a se virar para olhá-lo.
– Eu não tenho nada com a Angel – ele disse.
– O que isso importa? – null riu, limpando o rosto e seguindo em frente. null voltou a segui-la. Depois de um tempo, virou-se pra trás .
– E sabe o que é mais engraçado?– disse, ficando apenas a alguns metros de distância de null. – Eu pensei que eu era aquela “pessoa especial” – ela riu e fungou, limpando novamente as lágrimas que insistiam em descer. – O mais engraçado, era que eu pensei que você ainda me amasse, e que um dia podíamos seguir de onde paramos.
– Eu não quero seguir de onde paramos! – null disse, simplesmente, e null sentiu mais uma pontada no coração.
– Eu quero começar de novo, porra! – ele falou, olhando para a garota, que ergueu as sobrancelhas em indagação. – A Angel é a minha melhor amiga, e eu não sei o que você ouviu, mas a verdade é que ela é sim, uma pessoa especial, mas ela não era a pessoa especial que eu me referia quando comecei a tocar aquela música. Ela tá me ajudando a parar de fazer merda, e ela quem abriu meus olhos, Mari.
– Como assim? – null perguntou, sem entender. null voltou a falar.
– Desde o casamento da minha mãe, eu perdi o rumo; você me faz perder o rumo. Eu queria falar para você, de verdade, o que eu sentia, falar que eu queria ficar com você, que sem você eu sou um merda fodido na vida, mas o meu ego parecia falar mais alto. O orgulho faz isso com as pessoas, null, ele destrói as vidas da gente. E desde aquele dia, eu me perguntei o que eu queria pra minha vida. Então depois que eu sai em várias colunas de sociais com a minha imagem de merda, a Angel veio me procurar. Ela me fez enxergar quem eu era e quem eu queria ser de verdade.
– E quem você queria ser, null? – a garota perguntou, em um sussurro.
– O mesmo cara que fez com que você se apaixonasse por ele, o mesmo cara que ao invés de te chamar pelo sobrenome, te chamava de princesa. Aquilo que você tinha dito mais cedo naquela festa me quebrou de vez, eu estava sendo um merda, estúpido, e foi ali que eu me liguei o que eu queria de verdade. Era você! – null choramingou, enquanto lágrimas rolavam descontroladamente pelo rosto de Mari.
– Se lembra naquele dia, que a gente tava no carro e você tinha me perguntando se Memory Lane era pra nós? E eu disse que isso não passava da sua imaginação? Era mentira, caralho, a verdade é que todas as músicas são pra você. Desde o começo até o fim, Mari – ele disse rapidamente e tudo ficou em silêncio, então seus olhares se encontraram, e antes que Mari tomasse sã consciência do que estava fazendo, correu até seus braços e ele a abraçou fortemente, como se nunca mais fosse soltar.
– Eu te amo, princesa – ele disse, choroso, e null colocou as mãos em seu rosto, olhando para os seus olhos.
– Eu também te amo, null – respondeu.
Então null a beijou, beijou-a sem pensar duas vezes, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo.
E na verdade, era. E depois do beijo, abraçaram-se novamente, ali, no meio daquela rua deserta. Depois de muitos anos, null tinha constatado que aquilo era algo que ele queria fazer todos os dias, porque a sensação de tê-la em seus braços era a melhor coisa que um homem poderia ter.
null – null, sussurrou rindo, ainda no abraço.
– Hm? – ele disse.
– Essa é a mesma rua que demos o nosso primeiro beijo – null sussurrou, saindo do abraço para poder olhá-lo, então null observou o lugar, e viu que era a rua mais linda de Londres, que dava em frente para o London Eye, com várias árvores iluminadas ao seu redor.
– A nossa rua da lembrança – ele disse.

(Coloque para tocar: McFly – Memory Lane)

Three years away, got back today
Tried calling up this girl I used to know
But when I said hello, she didn't know
Just who the hell I was supposed to be.


(Três anos atrás voltaram hoje
Tentei ligar para essa garota que eu conhecia
Mas quando eu disse "olá" ela não sabia
Nem quem diabos eu deveria ser)


– Não importa o que aconteça, null. Promete que nada vai separar a gente? – null implorou, e null franziu o cenho, em um tom pensativo. null deu um tapa leve em seu braço, fazendo-o rir.
– Ai! – ele reclamou. – Eu prometo – ele disse, enchendo a garota de beijos.
– Pra quem era um badboy, essa cena tá me impressionando – null riu.
– Não começa, null!

Memory Lane
We're here again
Back to the days
When I'll remember you always
So much has changed
Now it feels like yesterday I went away


(Rua da lembrança
Nós estamos aqui de novo
De volta aos dias
Onde eu vou lembrar de você sempre
Tanto mudou
Agora parece que ontem eu fui embora)


– Eu pensei que você iria voltar a me chamar de princesa!
– Vamos pra casa, princesa faladeira! – null colocou os braços ao redor de null, e ela abraçou o corpo dela contra o dele.

The words around, that she's moved town
About a thousand miles away from here
And I found something she wrote a long time ago
And it reminds me of a place I know called


(Rumores de que ela se mudou da cidade
Cerca de mil milhas longe daqui
E eu achei algo que ela escreveu a muito tempo atrás
E isso me lembra de um lugar que conheço chamado...)



– Não importa o que eu fale, você sempre vai ser a minha garota especial. Ainda não tô acreditando que você achou que a música fosse pra Angel – null riu, debochado.
– Pelo que eu li naquelas revistas de fofocas, não tava esperando mais nada de você – null riu.
– Então, pra onde vamos? – ele disse e null sorriu.
– Pra um caminho onde caiba eu e você. Porque escolher caminhos separados, tá fora de cogitação.
– Me disseram que nós quem fazemos nossos finais felizes, e que tudo depende de nós mesmos.
– Bom, o meu eu tenho certeza que é com você – null riu, – E você, tem certeza disso?
– Tenho certeza de que não importa o que aconteça, meu caminho é você. E essa é a nossa rua da memória.

Memory Lane
We're here again
Back to the days
When I'll remember you always
So much has changed
Now it feels like yesterday I went away


(Rua da lembrança
Nós estamos aqui de novo
De volta aos dias
Onde eu vou lembrar de você sempre
Tanto mudou
Agora parece que ontem eu fui embora)



Londres: 15 de julho – 2009 [Flasback on 3 anos atrás]

null colocou a carta que ela havia deixado em cima do criado mudo, e olhou pela janela, ainda tentando assimilar o que ela havia feito, e o que ela havia escrito. Seriam três anos sem ela. Três anos sem seu sorriso, três anos sem poder abraçá-la, três anos sem conviver com sua risada gostosa, que o seu combustível

“Se você ama alguém, deixe-o ir, se voltar é seu, se não, é porque nunca foi.”

Saiu de casa, indo à gravadora para gravar seu primeiro disco, e se um dia se reencontrassem novamente, era porque realmente pertenciam um ao outro. Mas, se nunca mais a visse, tinha certeza de que como ela havia escrevido, o destino não quisera que ficassem juntos.

[Flasback Off]


Fim.



Nota da autora: Ai meu Deus! Não chora Yash, Não chora!!! Impossível não chorar! Cara é apenas uma shortific mas eu me apeguei nela de um jeito que só Deus. Eu escrevi essa fic com muito carinho, me dediquei a ela em todos os dias que tive tempo e deixei que a inspiração tomasse conta de mim. Espero que todos gostem, porque foi feita com todo o carinho do mundo, e foi apenas uma observação para dizer a vocês, que todos os finais dependem de nós mesmos. Nossos finais felizes podem até ser por conta do destino. Mas a verdade é que quem decide que caminho tomar é você mesmo. Tudo depende de escolhas, se você fizer a certa, tudo da certo no final. Super beijo!– Yash
E não deixem de participar do grupo Fanfics da Yash no facebook ;)
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