“A Companhia de Dança de Londres apresenta “Somos o que somos”, o novo espetáculo coreografado por Adam Linder. A coreografia apresentada neste espetáculo é uma exploração física da existência de estados alterados de consciência dentro da experiência humana. Incorporando estados arcanos...” lia sem muita atenção o folder em suas mãos, queria apenas que o tempo passasse depressa. Gostava de estar com sua mãe, mas assistir a uma apresentação de dança não era exatamente o que ele tinha em mente quando a senhora telefonou dizendo que havia conseguido ingressos para um programa que ela definiu como “diferente e legal”. Sendo sincero, ele havia pensado em um jogo de futebol, mas logo riu ao perceber o quão absurdo era essa ideia. Kathy, assim como a grande maioria das mulheres que o cercavam, odiava o esporte, apesar de ter acompanhado o filho na escolinha de futebol durante anos. Voltou os olhos ao papel, agora lendo as informações dos dançarinos. Andrew Nibert, Brianna Morrison, , Rachel Brown, Norman Webber e mais alguns nomes que ele não se deu ao trabalho de prestar atenção. Seus olhos estavam fixos apenas a . A voz em sua cabeça repetiu o nome diversas vezes, já que ele tinha a impressão de que soava familiar. Mais algumas repetições e nada. Seria alguém da empresa? Da faculdade? Alguma mulher com quem ele havia passado a noite e depois fugido?
- Oh, não acredito! – os pensamentos de foram interrompidos pela voz da senhora a seu lado e ele encarou a mãe com preocupação.
- Aconteceu alguma coisa?
- Lembra-se da , filha da Martha e sua coleguinha de escola? – ela perguntou e ele sentiu-se como uma criança ao ouvir “coleguinha” e sabia que nenhum resmungo sobre isso iria adiantar, já que senhora sempre dizia e repetia: “você sempre será o bebê da mamãe”.
- Ah, sabia que esse nome não era estranho! – exclamou, feliz por suas dúvidas terem sido sanadas.
Kathy ia fazer mais algum comentário, mas foi interrompida pela voz do cerimonialista, que anunciava o início do espetáculo.
Todas as luzes do teatro se apagaram e segundos depois o centro do palco foi iluminado por alguns refletores de luz baixa. Apenas um dançarino se encontrava ali, para decepção de que, sabe-se lá porque, estava ansioso para rever a ex-colega. Logo, outros dançarinos apareceram e ele demorou um pouco, mas por fim reconheceu , ou , como era conhecida por todos. Lembrou-se de quando a conheceu, aos 14 anos, na oitava série. Por conta da dança, ela sempre tivera um corpo bonito, mas não gostava de exibi-lo e não aparecia nas listas idiotas que amigos criavam sobre os atributos físicos das meninas. No entanto, sempre havia reparado nela, e, se naquela época já exibia um corpo mais desenvolvido do que as outras de sua idade, atualmente ela estava deslumbrante, para não dizer outra coisa. A roupa vermelha que a mulher usava era a mistura de um collant de ballet com uma blusa solta, que a cobria da cintura para cima, deixando as belas pernas dela de fora para que ele pudesse admirá-las. O que no começo era uma dança em grupo, transformou-se em uma dança dois a dois, com movimentos complexos e sensuais ao mesmo tempo. Focado apenas na movimentação do corpo de , ele não pode deixar de desejar estar no lugar do dançarino que agora se encontrava segurando-a pelas coxas. Forçou sua mente a se concentrar no show e não nos pensamentos impróprios que estava tendo com a dançaria, ou então algo tremendamente impróprio para aquele local e situação aconteceriam dentro de suas calças. A apresentação durou cerca de 40 minutos e o homem sabia que ficaria entediado cinco segundos após o início se não tivesse descoberto que havia uma de suas conhecidas no palco.
Depois de levar sua mãe para casa, dirigiu até seu apartamento onde ligou a televisão em um canal de esportes e jogou-se no sofá. Sua semana de trabalho fora estressante e tudo o que queria era relaxar, mas de alguma forma sua mente sempre voltava à e as memórias do ensino médio. Por mais estranho que pareça, apesar de estudavam na mesma classe e de dividirem Eric - o melhor amigo de ambos -, não eram o que poderiam chamar de amigos. Quando o grupo da Luluzinha formado por , Rory, Violet, Kate e Callie se reunia com o grupo do Bolinha composto por ele, Eric, Peter, Mark e George, eles conversavam mais com os outros do que entre si. De volta à oitava série, sabia que a dançarina tinha muita implicância com ele, mas nunca soube o motivo por trás daquilo. Nos anos seguintes a implicância diminuiu e ela voltou a tratá-lo como colega, mas nunca tiveram abertura para se tornarem amigos ou algo mais, como ele quisera. Sem conseguir cessar seus pensamentos, teve uma ideia que julgou ser genial e que começaria a por em prática na manhã seguinte.
- Fala, cara! - Eric atendeu com seu jeito animado de sempre.
- E ai, mano! Como ‘tá? - perguntou. Algumas semanas haviam passado desde a última vez em que saíram para beber.
- Tudo tranquilo e ai?
- Suave na nave - riram - Estava pensando que poderíamos juntar as Luluzinhas e os Bolinhas novamente para um reencontro. O que você acha? – por sorte Eric não estava perto para vê-lo com os dedos cruzados, desejando que o amigo respondesse positivamente.
- Curti! De vez em quando sai algo que presta dessa sua mente idiota - comentou e ouviu algumas palavras não muito bonitas saindo da boca de . - Tem que ser num lugar maneiro.
- Podemos fazer na casa de campo, como nos velhos tempos. - comentou, lembrando-se das inúmeras festas ocorridas naquele local.
- Isso vai ser épico. Que saudade, cara. E que mal lhe pergunte, de onde surgiu essa ideia? – sabia que isso não havia surgido do nada.
- Erm... eu vi a esses dias... - confessou.
- , , . Você não muda - Eric afirmou rindo. - E como foi?
- Não cheguei a falar com ela. Minha mãe me arrastou para uma apresentação de dança e, coincidentemente, estava lá se apresentando - mordeu o lábio ao lembrar-se dos movimentos do corpo dela.
- Você já foi mais rápido, . - o amigo provocou.
- Ah, vai a merda cara! - riram.
Conversaram mais um pouco e imediatamente após desligar o telefone com Eric, se trocou e dirigiu rumo à casa da mãe, pois sabia que não conseguiria organizar nada sem a ajuda de uma mulher.
- Filho, pare de me enrolar e conte o que está tramando! - só faltava ela cruzar as mãos fingindo estar implorando para que ele falasse logo.
- A curiosidade matou o gato – riu, mas parou ao ver a cara da mãe, que fingia estar irritada. – Pensei em fazer um reencontro com os colegas de ensino médio.
- Ótima ideia! – Kathy respondeu animada. – Eu posso ajudar com todos os detalhes, desde a decoração, a comida, os convites...
- Calma ai, mãe. – ele riu – Não queria fazer o reencontro aqui em Londres, tudo bem se eu locar a casa de campo da família por um final de semana?
- Claro, já faz tempo que ninguém vai para lá mesmo – ao responder isso, ela já estava pegando papel e caneta para começar as anotações.
- Local definido, agora só falta contatar todo mundo, marcar uma data viável... –
- Pensando bem, acho que não quero mais fazer isso – interrompeu a senhora à sua frente.
- Deixa de ser preguiçoso! Sabe que tem sua mãe aqui para te ajudar com todos os detalhes – a senhora respondeu carinhosa, recebendo um abraço do rapaz.
Enquanto Kathy terminava o almoço, desceu até o porão para buscar seu anuário do terceiro ano, que continha o nome e sobrenome de todos os colegas. Riu ao ver uma foto sua dez anos atrás e logo subiu para o escritório da mãe onde ligou o computador e deu início a procura pelos ex-companheiros de sala, já que além dos caras ele havia mantido contato apenas com Kate. Acessou o perfil de Eric no Facebook, digitou “” na barra de pesquisa e logo achou o perfil dela. Voltando a adolescência, ficou literalmente babando nas fotos da mulher. “Gata desse jeito só pode estar casada; se bem que eu sou lindão e ainda estou no mercado”, gargalhou sozinho. Queria perguntar ao melhor amigo detalhes da vida dela, mas achou melhor tentar descobrir sozinho. Procurou, e, para sua felicidade, tudo indicava que não havia ninguém ao lado dela.
~*~
“ gostaria de ser seu amigo no Facebook”. quase caiu da cadeira ao abrir o e-mail e ler a notificação que o site havia lhe mandado. Dez anos haviam se passado desde que eles se formaram e nunca mais tiveram contato, “talvez porque nem na escola nós conversávamos direito”, completou seu pensamento.
~*~
15 de abril de 1999 - St Edmund's School, 8ª série. estava rabiscando uma folha do caderno quando sentiu alguém se aproximar e parar ao lado de sua mesa.
- Hey! - ela olhou para cima e deu de cara com Ross, um de seus melhores amigos e sua dupla na apresentação de dança. - O que aconteceu com você? - apontou para o braço engessado do garoto.
- Estava jogando futebol, o trombou em mim e acabei caindo, o resto você já pode imaginar – ele respondeu fazendo careta de dor.
- Tá doendo muito? – perguntou preocupada.
- Na hora doeu pra caramba, mas agora não tanto.
- Vai ficar com isso no braço por quanto tempo? - A apresentação aconteceria dentro de uma semana e a aflição na voz da garota era perceptível.
- Três semanas. Sinto muito, . - respondeu fazendo beicinho ao ver lágrimas formando-se nos olhos dela. - Você pode quebrar meu outro braço, se quiser.
- Deixa de ser bobo, garoto. Eu vou é matar o – riu fraco, porém querendo fazer aquilo mesmo. - Se cuida, tá? Mais tarde quero assinar esse gesso – forçou um sorriso.
- Sim, senhora! - deu um beijo na bochecha da amiga e ouviu alguém chamá-lo.
Assim que Ross se afastou, ela até tentou refrear as lágrimas, mas foi inútil. Abaixou o rosto na mesa e deixou que elas rolassem por sua face. Sabia que as amigas diriam que ela ainda teria várias danças pela frente, mas simplesmente não conseguia se controlar. Dançar era o que ela mais gostava de fazer e, graças a Maldito , ela ficaria de fora da apresentação para a qual ela e Ross treinaram por meses.
Era um motivo idiota, ela sempre soube disso. A culpa não era de , mas sua frustração precisava ser descontada sobre alguém e ele foi o escolhido. Por isso, quando ele tentou criar amizade, ela o mandou para longe e, depois, quando o sentimento de raiva misturado com rancor passou, a garota teve vergonha de procurá-lo e a situação deles ficou por isso mesmo.
Assim como o homem havia feito, ficou encarando a foto dele por algum tempo, mas a curiosidade falou mais alto e ela foi revirar o perfil de . Não achou nenhum vestígio de que ele estivesse namorando, o que a fez erguer uma sobrancelha como se ele estivesse na sua frente e ela estivesse tentando seduzi-lo. Riu de si mesma e levantou-se da cadeira, indo para a cozinha.
All I want is one more chance to be young and wild and free
Graças a Mark Zuckerberg, conseguiu retomar o contato com a turma da Luluzinha já no dia seguinte. Criou um grupo fechado para sugerir o reencontro, ideia que foi adorada por todos. Por mais que todos os “melhores amigos do mundo” saiam da escola dizendo que jamais perderão contato, poucos realmente cumprem a promessa. Seria bom rever aqueles que marcaram sua adolescência, saber como estavam, qual rumo suas vidas tinham seguido.
- Hora da verdade... – o homem sussurrou para si mesmo, enquanto enviava uma mensagem à perguntando se ela ainda o odiava. A resposta veio com bom humor e um pouco de sarcasmo, exatamente como ele se lembrava do colegial, quando eles ainda eram adolescentes.
“Não é que eu te odeie, mas se você estivesse pegando fogo e eu tivesse um copo de água... eu o beberia. (Não leve a sério, estou apenas brincando)” – nem tentou esconder a risada que saltou de sua garganta. Saber que ela não o odiava o deixou aliviado, e fez com que ele ficasse ainda mais animado e ansioso para vê-la. O estado emocional da dançarina não estava muito diferente, apenas acrescentando a ansiedade o sentimento de mal estar por tê-lo tratado de maneira rude durante todo o colegial. Agora, dez anos depois, ela queria “recompensar” sendo o mais agradável possível, mas de seu jeito. Continuaram trocando mensagens para discutir sobre o reencontro, que foi marcado para o último final de semana daquele mês de julho já que eram poucas pessoas e a senhora se ofereceu para dar todo o apoio possível. Organizar festas era com ela mesma! Secretamente, a dançarina e o contador não viam a hora de se reencontrarem.
~*~
estava na cozinha buscando cerveja para os amigos quando ouviu o barulho de um carro sendo estacionado em frente à casa. Foi até a porta e deu de cara com quem ele tanto esperava.
- Rory estava quase tendo um treco achando que você não vinha mais – falou enquanto a garota caminhava em sua direção.
- Aquela mala não vive sem mim – ela riu. – Olá, – abraçou o homem e lhe deu um beijo na bochecha, costume que havia herdado de sua mãe brasileira.
- Olá, Coelho. – sorriu, retribuindo o abraço. - Fique a vontade – deu um passo para trás, deixando espaço para que ela entrasse no local. – Quer uma cerveja?
- Desculpa, , mas eu odeio cerveja – sorriu de canto. Cadê o povo? – perguntou animada para rever toda a turma.
- Estão lá atrás, vem. – apontou com a cabeça para o corredor do lado esquerdo, já que suas mãos estavam ocupadas segurando algumas garrafas.
- Achei que você tinha ido fabricar a bebida. – Eric berrou. – Puta que pariu, não acredito que você arrumou tempo para vir aqui! – exclamou, levantando-se da cadeira e puxando a amiga para um abraço.
- Continua o mesmo babaca que eu vi há dois meses – ela riu da expressão ofendida que ele fez. – Onde está a família? – Eric fora um dos poucos com quem ela havia mantido a amizade e sempre que podiam eles jantavam juntos.
- Foram para Brighton visitar minha sogra querida – riram. Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, um ser pulou em cima da mulher.
- ALELUIAAAAAA, VOCÊ CHEGOU! – era Rory, sua melhor amiga desde que tinham nove anos de idade e sua irmã de coração.
- SAI QUE ELA É MINHA! – Callie juntou-se ao bolinho, empurrando a outra.
- Vamos parando que tem para todo mundo. – a mulher disse rindo, caminhando em direção aos ex-colegas. George e Mark jogavam pebolim, enquanto os demais conversavam sentados na sombra feita por uma grande e bonita árvore, que ela não soube identificar qual era. Sentou-se na cadeira ao lado de Eric, ficando de frente para . Os dois que antes se divertindo jogando se juntaram ao grupo, que engatou um papo descontraído sobre suas vidas atuais, contando sobre o passado e o que eles fizeram depois que saíram da escola, sobre o que estavam fazendo atualmente, assuntos comuns numa conversa de pessoas que não se veem há anos. havia ficado com medo de que o clima ficasse meio tenso no começo, como é comum quando as pessoas não se veem a muito tempo ou quando mal se conhecem. No entanto, o ambiente estava bem diferente, todos estavam confortáveis, fazendo com que a conversa e as brincadeiras fluíssem naturalmente. Parecia até que eles haviam voltado para o ano de 2013. Descobriram que a solteirice não era exclusividade do contador e da dançarina, o que causou certo alívio em , que sempre era julgada por não se importar se algum dia se casaria ou acabaria sendo uma velha dona de 70 cachorros.
- Eu... continuo dançando – ela fez todos sorrirem juntos, pois sempre souberam que se tornar dançarina profissional era seu maior desejo. Surgiram várias perguntas sobre sua carreira e ela respondia com tanto brilho no olhar que não pode conter o sorriso bobo que surgiu em seu rosto. Há um mês ele havia visto o quanto ela era boa no que fazia e quanto mais sucesso ela ainda teria.
O relógio marcava três horas da tarde e, pouco a pouco, as pessoas foram entrando na piscina - menos as duas melhores amigas -, que decidiram aproveitar a sombra por mais alguns minutos.
- Como é que nós, as mais inteligentes da turma, não tivemos a ideia do reencontro? – Rory arqueou as sobrancelhas, mas logo caiu na risada com a dançarina.
- Não dá pra fazer tudo, minha cara. É bom estar aqui, eu precisava urgentemente dessa pausa – suspirou e lançou um olhar em direção a , que estava dentro da piscina e lhe mostrou a língua, fazendo a mulher rir baixinho.
- E pelo visto precisa de outra coisa também... – deixou a frase no ar.
- Vou fingir que não ouvi nada.
- É sério, sugar. Eu acho que o quer seu corpo nu, e você também quer... – dessa vez a frase ficou no ar porque Rory estava sendo estapeada pela amiga.
- Façam amor, não guerra – Peter surgiu ao lado delas e, sem aviso algum, pegou Rory no colo e jogou-a dentro da piscina. Ela disparava milhões de xingamentos, enquanto apenas ria da cena. O riso deu lugar a falta de ar, causada pela visão de ver saindo da piscina. Ficou observando as gotas de água caindo dos cachos da franja dele, escorrendo por seu rosto e descendo até o pescoço – no qual ela adoraria dar algumas mordidas -, finalmente escorrendo pelo tanquinho. Impressão ou a sensação térmica tinha chegado aos 50ºC? Acordou para o mundo quando viu o homem caminhando até ela, sorrindo maliciosamente. Havia percebido os olhares dela e sabia que estava na hora de agir.
- Nem mais um passo a frente, . – esticou os braços numa tentativa de pará-lo. Totalmente inútil, pois ele se aproximou e balançou os cabelos, fazendo com que algumas gotas atingissem a ex-colega. – É sério, . Eu vou voltar a te odiar – falou séria.
- Todo esse ódio é amor reprimido – respondeu divertido, recebendo uma gargalhada gostosa de , que agora caminhava rapidamente para longe dali, fugindo do perigo de ser jogada na água.
– Só nos teus sonhos! – foi o que ele pode ouvir antes de vê-la atravessando a porta da cozinha.
Parou na sala para olhar algumas fotos penduradas na parede. Abanava-se com uma revista enquanto tentava reconhecer a família em uma fotografia e foi surpreendida por braços fortes e úmidos abraçando sua cintura. Não conseguiu evitar o grito de susto, provocando riso na pessoa que a segurava.
- Perdeu a noção do perigo? – havia reconhecido pela risada e o indagou, tentando transmitir naturalidade enquanto seu coração batia acelerado.
- Vi você se abanando e pensei que precisava se refrescar – ele sussurrou próximo ao ouvido dela, sorrindo ao perceber que sua respiração estava um pouco descontrolada.
- Eu estava me virando bem... – retrucou rapidamente.
– Garanto que está melhor agora – com a mão esquerda ele pressionou a cintura da mulher e com a direita tirou a revista das mãos dela. – Mal posso esperar para te ver dançando hoje à noite. Por ironia da vida ou não, o volume da música lá fora havia sido aumentado e eles puderam ouvir “I Like it” do Enrique Iglesias.
- Baby I like it, the way you move on the floor... (Baby, eu gosto da maneira que você se move na pista...) – cantou com a música, trazendo o corpo de para mais perto do seu. “Agora ele me paga!”, ela pensou ao que começou a mover seu corpo de acordo com o ritmo da música. Sua cintura foi agarrada com mais força, o que a fez sorrir e dar um passo para trás, colando seu corpo ao dele enquanto continuava rebolando. Ouviu o homem suspirar pesadamente e girá-la para ficar de frente para ele. subiu uma mão para a nuca dela, que agora tinha as mãos espalmadas no peito dele. Encararam-se sorrindo e, quando ele fez menção de inclinar a cabeça para beijá-la, ouviram um estrondo vindo da cozinha e se afastaram.
- Eu vou matar o filho da mãe que nos atrapalhou – sussurrou e riu fraquinho, sussurrando de volta.
- Ainda temos o resto do fim de semana – ela sussurrou e saiu logo dali, antes que ele visse suas bochechas queimando de vergonha pelas palavras proferidas segundos antes.
- VAMOS ACABAR COM VOCÊS! – Violet berrou para Lisa, Mark, Callie, Peter e George, que estavam do outro lado da rede de vôlei colocada dentro da piscina.
- Isso é o que veremos, dona gritona – Eric respondeu, sendo apoiado por seu time.
foi a primeira a sacar em sua equipe e, sabendo que Callie nunca tivera muito jeito com esporte algum, mirou na amiga e obviamente conseguiu marcar um ponto.
- Te pego lá fora, sua vaca – Callie ameaçou a dançarina, fazendo todos rirem. Ao recuperar o fôlego, sacou novamente e o jogo continuou entre muitas risadas e reclamações divertidas. Fazia tanto tempo que a dançarina não tirava tempo para si mesma que ela não parava de pensar no quão feliz estava por participar desse reencontro. Estava longe de tudo, mas perto de pessoas especiais.
Enquanto todos estavam bem próximos a rede discutindo se era ponto do time A ou B, ela se manteve distante, apenas rindo e lembrando-se das aulas de educação física. Continuavam os mesmos. Sem prestar atenção ao seu redor, não percebeu que se aproximava. A presença do moreno atrás de seu corpo só foi notada quando ele apertou a cintura dela embaixo d’água, tapando sua boca no mesmo instante, pois sabia que ela ia gritar. Afinal, quem não grita ao sentir algo tocando seu corpo quando está na água?
- Ai! – exclamou baixinho ao receber uma mordida na palma da mão, que logo levou para o outro lado da cintura da mulher a sua frente. Mordiscou o pescoço dela rapidamente e voltou para o seu lugar, berrando para que a discussão encerrasse e eles voltassem a jogar.
- Mais um ponto, muahahaha! – Violet ria, pois agora havia marcado um ponto na distraída . Mal os ex-colegas sabiam que ela estava assim pelo acontecimento de poucos segundos. Não querendo que ninguém percebesse, forçou-se a voltar com tudo para o jogo.
- Vai ter volta – rebateu e se preparou para interceptar o próximo saque da amiga.
~*~
- Preciso te contar uma coisa, mas você precisa prometer que não vai gritar – olhou para a amiga, que fez o famoso gesto de “passar o zíper na boca”. As duas estavam se arrumando em um dos vários quartos da casa e a dançarina resolveu aproveitar para contar as novidades.
- PUTA QUE PARIU! COMO ASSIM? – Lisa estava tendo a mesma reação que tivera diversas vezes antes, como por exemplo, quando a amiga lhe contou sobre o primeiro beijo, o primeiro amasso mais intenso e por assim em diante.
- Dá próxima vez pega um megafone porque acho que o pessoal do Brasil não conseguiu ouvir o grito que você acabou de dar– ralhou, lançando um olhar de censura.
- Ok, desculpa. Mas me conte todos os detalhes – praticamente implorou.
descreveu a cena que havia se desenrolado na sala e Lisa teve que tapar a boca para não sair pelo quarto gritando e correndo em círculos.
- Você voltou a ter 12 anos? AIIII, VACA! – agora foi a vez de gritar, ao ser beliscada pela amiga.
- Cala a boca e vem cá que eu vou te deixar ainda mais gata pro ! – Lisa piscou. No momento em que a morena ia replicar, Rory, Violet e Kate entraram no quarto.
- Você vai fazer alguém ter um treco – Lisa falou baixinho no ouvido da amiga, que se limitou a balançar a cabeça negativamente. Deram mais alguns passos e chegaram à entrada do galpão, onde encontraram um painel com fotos da turma formando “SES”, as iniciais da escola.
- Meu Deus, olha meu cabelo! – Kate apontou para uma foto dela no início do Ensino Médio; digamos que não foi uma escolha de corte de cabelo muito feliz. – E eu achava que arrasava. Pobre de mim! – escondeu o rosto, arrancando risadas de todas. Alguns balões e mais fotos antigas compunham a simples decoração do local, tudo obra de Kathy , obviamente. Havia apenas uma grande mesa no meio do galpão, repleta de comidas e bebidas. Por ser o anfitrião, ficou encarregado de garantir que tudo saísse como planejado. Para não dar muita pinta e não deixar a dançarina desconfortável, manteve um pouco mais de distância durante o jantar. O único “contato” mais próximo que tiveram, além das conversas em grupo, aconteceu quando ele foi entregar um copo de bebida a ela e sussurrou rápido sobre o quão bonita ela estava. Lisa acompanhou a cena e quando ele se afastou, mandou um “joinha” para , que respondeu lhe mostrando a língua, já que mandar o famoso dedo do meio seria rude demais para o momento.
- Agora que todo mundo tá com a pança cheia, calem a boca e prestem atenção aqui – disse Lisa, sempre amável. – Eu e a Sugar temos um vídeo surpresa!
- Fotos nuas? FINALMENTEEEEEEEE! – George berrou e gargalhadas preencheram o local.
O vídeo iniciava com retratos de infância, que fizeram as mulheres presentes soltarem exclamações. As fotografias eram acompanhadas por um texto divertido escrito pela amiga da dançarina, relembrando alguns apelidos e momentos que marcaram aquela fase da vida de todos. Depois começaram as fotos da adolescência e muitas risadas e comentários do tipo “queima isso!” foram ouvidos.
- É isso, esperamos que tenham gostado – disse e elas receberam aplausos e assovios.
Mais alguns pequenos discursos foram feitos e anunciou que Eric havia trazido seus equipamentos de som e, enquanto as mulheres se arrumavam, eles improvisaram uma pista de dança no jardim, onde também foram colocados refletores coloridos para deixar o ambiente com ar de uma verdadeira festa.
- UM BRINDE A TURMA DE 2003! – Mark berrou e os sons ouvidos em seguida foram o de pessoas gritando animadas enquanto levemente encostavam suas taças e bebiam o líquido incolor contido nelas.
Entrando no clima de “Walks like Rihanna” do The Wanted, começou a se mexer como se realmente não soubesse dançar.
- Estou imitando você na noite da formatura – ela disse a , quando ele chegou perto.
- Muito engraçadinha – inclinou-se, para que só ela ouvisse. – Prefiro você dançando comigo.
- Desculpa, mas já tenho um parceiro de dança e ele se chama... – parou de falar e começou a rir quando viu o olhar de indignação que ele lhe lançava.
- Oi, . Sei que você vai me querer me matar, mas eu preciso roubar a pra dançar essa música. Depois vocês podem se pegar – puxou a amiga pela mão, não dando tempo para resposta. Quando chegaram ao bolinho com as outras, resmungou algumas coisas fez sinal de que iria matá-la, sendo ignorada pela outra. Ao som de “Double Vision” do 3OH!3, a dançarina mostrou suas habilidades enquanto cantava animadamente.
- And baby you're the one thing on my mind, but that can change anytime...(E, baby, você é a única coisa em minha mente, mas isso pode mudar a qualquer momento...) – cantou essa parte olhando diretamente para o homem, que tinha os olhos cravados em seus movimentos. sorriu maliciosamente, estava gostando de ser provocado, mas mal podia esperar para finalmente beijá-la.
Muitas músicas e bebidas depois, os únicos que ainda se mantinham normais eram , por causa do cuidado com o corpo que sua profissão exigia, e , que queria lembrar-se de cada momento daquele dia. Aproveitando o fato de que os ex-colegas estavam pra lá de Bagdá, ele chamou e levou a mulher para um lado mais afastado do jardim.
- Tenho que confessar uma coisa – ele comentou.
- Vish! Vai me dizer que você é casado e tem cinco filhos? –ela arregalou os olhos. era uma mulher linda; traços delicados, corpo definido; cachos lindos... ele podia perder muito tempo listando adjetivos para ela, mas o que mais o atraía era, definitivamente, a personalidade.
- Na verdade, são dez filhos – respondeu rindo. – Eu te vi dançando no mês passado, na Royal Opera House.
- Wow! – ela estava realmente surpresa - Por que diabos você estava numa apresentação de dança? – perguntou curiosa, arqueando as sobrancelhas.
- Minha mãe ganhou ingressos e me chamou para ir junto, dizendo que eu ia amar a programação. Eu achei que ela ia me levar para um jogo do Bolton! – ambos riram. – Estava frustrado, até ler seu nome no folder. – sorriu para ela, cujos olhos castanhos brilhavam. – Foi naquela noite em que eu tive a ideia do reencontro, achei que seria mais seguro com todo mundo junto, já que você passou o ensino médio inteiro me odiando – falou divertido.
- Já disse que não te odiava, ! Ok, no começo da oitava série eu te odiei mesmo... Você machucou o Ross e arruinou minha apresentação de dança! – ela confidenciou.
- Aaaaah, então esse era o motivo para tanta hostilidade! - exclamou - Desculpa por ter arruinado isso para você, mas eu posso recompensar agora – dito isso, ele se aproximou, posicionando uma das mãos na cintura dela e outra em sua nuca. Sorriu uma última vez antes de inclinar a cabeça e, finalmente, selar seus lábios. emaranhou seus dedos nos cabelos dele e, assim como era na dança em dupla, ela se deixou ser conduzida pelo cavalheiro, que ditava um ritmo calmo para o beijo.
- Você está muito longe de pagar sua dívida – ela disse sorrindo quando eles se afastaram.
- Espero que essa dívida não termine nunca – sorriu de lado, antes de voltar a colar sua boca na dela.
Só voltaram ao mundo real e se separaram de vez quando ouviram gritos e barulho de água. Como alguns estavam bem alterados, eles voltaram para a concentração e se depararam com uma Lisa muito braba por ter sido jogada na piscina pela segunda vez.
- Você me paga, desgraçado! – a mulher esbravejou contra Eric, que mandava beijos no ar.
- Como se amanhã ela fosse lembrar – comentou, se divertindo com a cena.
- Mas você vai lembrar-se de tudo, inclusive disso – pegou-a no colo e pulou com ela para dentro da piscina.
- !!!Você realmente não tem medo de morrer? – agora quem se divertia era ele.
- Não mesmo. Você escapou à tarde, mas uma hora sabia que isso ia acontecer – encheu-a de selinhos.
- AEEEEEEEE , FINALMENTE! – George berrou, chamando a atenção de todos para o novo par. “Ensino médio nunca termina”, é o que dizem, não é mesmo?
A atitude de foi repetida por George, que jogou Callie na água e logo a piscina estava preenchida com pessoas bêbadas e muito, muito alegres.
- Fico feliz que dona Kathy tenha te arrastado para a apresentação. Fico feliz de ter reencontrado todo mundo, principalmente você – ela falou timidamente, fazendo o coração do homem ser inundado por uma sensação gostosa e confortável.
- Eu também. Nunca imaginei que um festival de dança fosse render tanto. E, se depender de mim, nos reencontraremos muitas mais vezes depois que voltarmos à Londres – ele respondeu com um sorriso de orelha a orelha. A concordância dela não veio através de palavras, mas veio na forma de um beijo cheio de desejo. A trilha sonora daquele momento não poderia ser melhor: junção da boy band favorita de com versos que combinavam perfeitamente com o que eles estavam vivendo. separou seus lábios apenas para acompanhar as vozes que saíam das caixas de som.
- The sun goes down, the stars come out and all that counts is here and now. My universe will never be the same, I’m glad you came (O sol se põe, as estrelas aparecem e tudo o que conta é o aqui e agora, meu universo nunca mais será o mesmo, estou feliz por você ter vindo)– cantou para ela, antes de puxá-la para debaixo da água e beijá-la pela milésima vez naquela noite.
FIM
Nota da autora (13/07/2015): Turma de 2003 foi escrita originalmente em 2013 para uma troca de fanfics em que eu tirei a fantástica Abby e quase chorei de medo. Depois de muito enrolar, consegui reescrever algumas cenas e enviá-la para o site. Devo dizer que sem os pitacos da Lu Katto e da Samya G. essa fanfic nunca seria postada, então, obrigada meninas! Dona Abby, eu demorei, mas cumpri a promessa, viu? Aqui está a sua fanfic estilo old school do FFOBS <3 [N/Abby: AEAEAE! Muito obrigada, Mari ♥] Caso queiram bater um papo, é só utilizar o e-mail da tabela ou me procurar no FB. Beijocas! xx