"Esse sábado, duas amigas foram encontradas mortas, uma loira e outra morena. E, como esperado, as duas tinham uma cruz no braço esquerdo com o número dois feito com alguma lâmina. Não sabemos ao certo ainda o significado desse desenho, mas suspeitamos que o dois signifique dois segundos de vida, por isso apelidamos o assassino. Nos últimos meses vem acontecendo esse caso do "Two Seconds Of Life". Adolescentes desaparecem e horas depois aparecem mortos em alguma floresta. O assassino está solto e ninguém sabe quem ele é. E acreditamos que..."
A televisão foi desligada. Agora eu só via o preto naquela enorme tela posicionada no meio da enorme sala dos meus pais, o que eu achava um desperdício de dinheiro. Afinal, para que uma sala do tamanho de um estádio de futebol? Eu estava na mesa de jantar fazendo o dever de geometria e minha mãe assistia televisão há alguns minutos, agora ela assistia a parede. Percebi que ela se mexeu um pouco desconfortável, óbvio. O caso é que meus pais são daquele tipo "super-protetores" e essa história de assassino a solta vem tirando o sono deles nos últimos meses. Meus pais só tinham a mim e meu irmão mais velho que morava em Miami, enquanto eu vivia nesse fim de mundo onde o sol nunca nasce. E ainda por cima tem um viadinho com nome escroto correndo pelas ruas atrás de inocentes. E isso me incluía no pacote, ah, aí vem a tal preocupação dos meus pais. Eu já tinha 16 anos e faltava pouco para acabar o colegial e ter finalmente o baile. Tão esperado pelos alunos da escola de merda que eu estudo. Meu pai fala que eu reclamo muito de tudo, não posso discordar. Minha mãe finalmente parou de autistar e levantou do sofá vindo em minha direção com aquele coque mal feito que eu adorava.
- Filha, tudo bem? - perguntou arrastando uma cadeira para sentar ao meu lado. Ela estava péssima, com olheiras, roupas rasgadas e, apesar do coque ser lindo, o seu cabelo parecia um ninho de pássaros.
- Eu que deveria ter perguntado, não acha? Mãe, tá tudo bem? - deixei o lápis de lado e comecei a prestar atenção na mulher que deu um sorriso franco. Fiquei preocupada ao ver o rosto preocupado que ela obteve segundos depois.
- Estou com tanto medo. Você também não colabora, sai o tempo todo com suas amigas, eu tô ficando desesperada! - sua voz começava vacilar e eu fiquei com uma puta dó dela. Meu pai estava jogado na cama nesse momento, havia passado a noite em claro, novamente.
- Você não precisa se preocupar. Eu estou bem, não estou? E vou permanecer assim pra sempre! Feliz, saudável, forte e protegida de qualquer perigo, seja lá qual ele for - sorri dando um abraço apertado na minha verdadeira melhor amiga. Coisas rondavam minha cabeça. Como uma pessoa pode ser tão cruel a ponto de tirar uma vida por prazer? Isso é horrível. Para mim as coisas sempre tem um por que, e nesse caso eu acredito que esse assassino deve ter sofrido alguma coisa na adolescência, pois até agora todas suas vítimas foram adolescentes! Tanto meninas como meninos. Eu odiava pensar porque sempre acabava pensando merda! Como da vez que Michel Melfoy me chamou para um encontro e eu disse que iria pensar. Qual é! O garoto é o maior gato e jogador do time de futebol da escola, que merda eu tinham na minha cabeça?
- Viu a reportagem de ontem? - Jackson perguntou fechando o armário depois de pegar o uniforme do time de futebol. Vou falar um pouco da minha vida social, tenho quatro melhores amigos. Andamos sempre juntos. Jackson é jogador do time da escola e, se não fosse um dos meus melhores amigos, eu pegava; Christian é a pessoa mais hilária que eu conheço e eu também pegaria se ele não fosse gay. Emily é minha amiga desde a barriga da minha mãe, somo quase irmãs; e por último o Andrew. O cara mais sincero que eu já vi. Também pegava.
- Claro que eu vi. Minha mãe também, e acho que passou mais uma noite em claro. – bufei, sentindo Jackson me abraçar pela cintura.
- Seus pais tem razão de estarem preocupados, afinal, eles são seus pais. Os meus também estão. - ele disse com um sorriso irônico, odeio isso. - Emily, eu e os garotos estamos combinando de sair para ir a algum restaurante hoje mais tarde, o que você acha? - perguntou e eu olhei para ele assustada. Como assim? Pirou?
- Com um assassino a solta? Sério? - parei de andar, olhando para ele de braços cruzados.
- Qual é! Tantas pessoas na cidade, acha mesmo que o assassino vai vir logo em nós? - Voltamos a andar, eu fiquei meio tensa. Suspirei encarando meus pés, cheguei à sala de aula e Jack deu um beijo na minha bochecha, correndo para o ginásio em seguida. A prova seria agora e a única coisa que tinha em minha cabeça era angústia. Sentei ao lado de Emily e atrás de Deise, que era a nerd da turma. Vou me dar bem.
A professoa me entregou a prova e na primeira questão eu já tinha minha atenção em outra coisa. Uma curiosidade enorme bateu de frente comigo e eu me vi tentando descobrir o significado do desenho que aquele assassino fazia nos braços das vítimas.
- Sabe aquele vestido branco justinho que minha mãe me deu no natal passado? Então, é desse que eu estou falando... Mas eu tô com dúvida, vou com ele ou com o preto tomara-que-caia? - Emily falava sem parar sobre que roupa iria usar hoje à noite, eu estava ignorando ela completamente, tinha meus pensamentos em outra coisa. Estavamos andando pelo corredor da escola, indo em direção à saída. Eu estava nervosa de sair à noite com um assassino correndo solto pelas ruas. Mas, pelo visto, meus amigos nem sabiam o risco que tinham. - Mas e você? Vai com que roupa? - aqueles desenhos que eram feitos com cortes nos pulsos das vítimas significavam o quê? O que uma cruz e o número dois podem significar? - ? - mas que droga! O que esse assassino tem de tão misterioso? Odeio ser curiosa. - ! Merda, tá me ignorando? - olhei para minha amiga que tinha parado de andar e estava a alguns passos atrás de mim, nem tinha notado.
- Desculpa, o que você estava falando? - fingi interesse. Arrumei a mochila nas costas, voltando a andar.
- Sobre a roupa que vamos usar hoje à noite. Alguma ideia? - bufei. Fode-se a roupa que iríamos usar. Eu queria passar a noite em casa, assistindo filmes, roncando e de preferência com sorvete ao meu lado.
- Não tenho a mínima ideia, Emily. - será que aquele dois significa algum ano? Tipo, algo que aconteceu em 2002...
- Você podia ir com aquele branco com detalhes vermelhos, é lindo! - ou será que tem a ver com dois anos atrás? Pode ter acontecido alguma coisa dois anos atrás... - O que você acha? - E a cruz? Ah, com certeza significa a morte, pois a cruz é desenhada ao contrário... - ! - pisquei algumas vezes encarando minha amiga.
- O quê? - tampei os ouvidos que ficaram doendo depois do grito super agudo daquela vaca. - Quer me deixar surda!? Que drama, Emily, é só um jantar com amigos. Pra que quer tanto uma opinião pra roupa?
- Porque eu não tô nem ai que é "só um jantar entre amigos". Eu quero estar arrumanda, diferente de você que provavelmente vai aparecer lá como se tivesse acabado de sair de um chiqueiro! - olhei para a cara cínica dela e bufei, virando para a minha rua. Nem percebi que já estávamos perto da minha casa, acenei para minha amiga que tomou outro rumo e sumiu. Suspirei olhando ao redor um pouco nervosa. Odiava andar sozinha pelas ruas depois que os assassinatos começaram.
Olhei no relógio e já eram 20h10min, passei o rímel, um perfume e em seguida peguei minha bolsam saindo em disparada de casa, arrumando o tal vestido branco com detalhes vermelhos. Tive que ir andando já que meu pai estava com o carro no trabalho e o da minha mãe estava no conserto, enquanto eu ainda não tinha um desses bebezinhos. Às vezes me sentinha excluída por ser uma das únicas pessoas da escola que não tinha um carro. Sentia vergonha de entrar na escola com meu pai ou minha mãe no volante, alguns dias pedia até para eles pararem um quarteirão antes para eu continuar o caminho à pé. A vergonha é menor. Comecei a andar a passos largos, eu odiava andar sozinha. Acho que já disse isso, mas eu repito quantas vezes precisar. Eu sei que podia ter pedido uma carona para algum dos meus amigos, mas o problema é que eu só tinha amigos imprestáveis. Emily nem adiantava eu pedir, ela "odiaria se atrasar". Mesmo eu sempre chegando aos eventos antes dela. E o resto do pessoal sempre inventava uma desculpa como "desculpa, meu carro já ta cheio" e quando eu via, eles chegavam sozinhos. Era sempre assim. E a babaca aqui se fodendo sempre, tá certo. Senti alguma coisa vibrando dentro da minha bolsa e parei de andar para procurar o celular. Quando achei, ele parou de tocar e vi que era uma chamada perdida da minha mãe. Ignorei, voltando a andar, só que dessa vez não estava sozinha. Sabia que não. Estremeci quando ouvi o barulho de passos atrás de mim, minha garganta travou e meus olhos começaram a arder, acelerei o passo, já avistando o tal restaurante que Jackson havia falado. Não fui a única a acelerar o passo. Vi um vulto na minha frente e em seguida senti meu pulso ardendo, caí no chão meio atordoada, minha cabeça parecia girar e senti vontade de desmaiar. Olhei para meu pulso que tinha uma siringa espetando-o. E, enfim, apaguei nos braços daquele que fiz de tudo para estar longe todo esse tempo.
Primeiro Dia
Duro. Essa foi a primeira coisa que pensei, eu estava deitada em alguma coisa muito dura. Abri os olhos e percebi que estava deitada no chão de... Um guarto. Certo, eu preferia não ter aberto os olhos. Minha vontade era de gritar, mas se o fizesse as chances de aparecer alguem querendo me matar eram maiores do que alguem querendo me salvar. Optei por ficar calada, claro. O quarto tinha apenas uma cama, aparentemente uma cama de hospital, olhei ao meu redor vendo alguns potes de vidro com líquidos estranhos dentro. Tinham várias siringas espalhadas pelo chão e sangue jorrado na parede, atrás de mim tinha uma faca no chão. Nossa, que assassino burro, eu poderia pegar essa faca e matar ele. Tá, mas minha coragem ficou no vaso que eu dei descarga antes de sair de casa noite passada. Beleza, eu estava exatamente onde eu menos queria estar. E aparentemente o local onde o "Two Seconds Of Life" matava suas vítimas era em um hospício abandonado. De repente me dei conta de tudo que acontecia, eu ia morrer! Eu estava em um hospício abandonado com um psicopata e provavelmente vários corpos pelo chão depois daquela porta de metal enferrujada. Senti alguma coisa em minha bochecha e coloquei a mão para ver o que era, eram lágrimas. Claro, quem não choraria em uma situação dessas? Abaixei meu olhar para meu pulso vendo a tal cruz com o número dois ali. O desespero aumentou mil vezes. Decidi me levantar e andar pelo quarto, era um lugar muito sujo, sangue por todo lado. Queria sair pelo hospício e ver se tinha mais alguma vítima para me fazer companhia. Acumulando toda a coragem que restava em mim, abri a porta do quarto encontrando um corredor cheio de portas. Tinha umas sete: três na parede na minha frente, três na parede do meu quarto, contando com o meu, e um no final do corredor. Dei um passo a frente, olhando pela pequena janela da porta que estava na minha frente, era um quarto exatamente igual o meu, a diferença era que tinha uma mão cheia de sangue no meio do quarto. É, só uma mão, sem corpo. Não tinha sinais de ninguém lá, nem do assassino. Ouvi um barulho de porta abrindo e no mesmo momento olhei para a última porta no final do corredor, uma garota saiu de lá e me encarou assustada. Já eu a encarei aliviada. Sorri me aproximando dela, parei quando a vi dando um passo para trás.
- Quem é você? - ouvi a voz dela, isso me acalmou. Sabia que não estava sozinha.
- Sou . Me ajuda, eu tô com medo, acordei hoje em um desses quartos e não sei o que fazer. Lembro só que ontem à noite eu estava indo para um resaurante encontrar meus amigos, mas fui pega e agora estou em um hospício. - disparei, em seguida olhei para baixo sentindo uma lágrima escorrer pela minha bochecha.
- Escuta, , eu me chamo Melody, pode me chamar de Mel. Já estou aqui há três dias então vou... Te ajudar, ok? Vou explicar o resto da sua vida a partir de agora. - ela me deu um sorriso, mas eu não gostei de sua última frase. - Olha, estamos em um hospício. Está vendo esses seis quartos? Certo, a quantidade de quartos é a quantidade de pessoas que tem aqui. Quantidade de vítimas. Os quartos sempre têm que estar ocupados, todos ficam uma semana aqui dentro, quando os sete dias de uma pessoa aqui acabam, ela é morta. – a percebi engolindo em seco, fiz o mesmo. - E em seguida novas pessoas ocupam os quartos. Como aconteceu com minhas amigas, provavelmente elas apareceram no noticiário. - lembrei da garota morena e da loira que vi uns dois dias atrás. Assenti e a esperei prosseeguir. - Você e mais um garoto estão ocupando o lugar delas.
- Garoto? Que garoto? - perguntei enquanto ela segurava minha mão, me levando para algum lugar.
- Ainda não acordou, não tive a oportunidade de falar com ele. Mas vi você e ele vindo ontem à noite nos braços do assassino. Eu estava espiando pela janelinha na porta do meu quarto. - ela sorriu abrindo a porta que estava no final do corredor. Vi um local que aparentava ser uma cozinha abandonada, tinha aparencia fantasmagórica e sorri ao ver mais pessoas andando pelo local. Nem parecia que ia morrer em poucos dias, estavam muito felizes pelo o que eu via. - Te aconselho a não fazer amizade com as pessoas daqui, por que quando elas forem você vai sentir falta. - ela sorriu triste. Olhei para o fundo do local que tinha uma porta de metal enorme. - Isso aqui é a cozinha, caso você não tenha percebido. Aqui no hospício só tem os quartos e a cozinha. E bem, a porta que você está encarando é onde o você-sabe-quem fica. Não se atreva a entrar lá. - ela me encarou e eu tremi toda, com certeza não entraria lá. Eu e Melody olhamos para a porta da cozinha que se abria novamente, e dela surgia um garoto com os olhos vermelhos e lágrimas por eles, sua roupa cheia de sangue e seu olhar assustado mostravam que ele era o novato, assim como eu.
Notei que o pessoal aqui passava a maior parte do tempo na cozinha, e iam para os quartos só de noite. Mel disse que o assassino raramente saía do quarto dele. Quando saía era para pegar alguma pessoa que estava no sétimo dia ou para procurar a próxima vítima pelas ruas. Mel disse que o viu saindo ontem à noite para ir atrás de mim e de . Enquanto Melody conversava com a mesma coisa que conversara comigo minutos antes, eu parei para observar as pessoas a nossa volta, todos, inclusive nós três, estávamos sentados em uma das mesas no local. Vi que tinha um garoto sentado sozinho com a cabeça baixa e aparentemente chorando.
- Hoje ele completa uma semana. - virei para Melody analisando as palavras dela, fiz uma cara de confusa. - O garoto que você estava encarando, hoje é o sétimo dia dele aqui. - assenti voltando a olhá-lo. - Ele se chama John. Foi pego quando estava andando sozinho na rua, indo para a casa da namorada.
- Como você foi pega, Melody? - ouvi a voz de pela primeira vez, encarei ele assustada. Tinha uma voz bonita... Eu acho.
- Eu estava em um parque com minha irmã mais nova, ela estava em um brinquedo e eu a esperava na saída do mesmo. Quando fui surpreendida... - ela fechou os olhos com força para não chorar. - Deixei minha irmã de oito anos sozinha. – a abracei de lado, sentindo dó.
- Sinto muito. - disse. Suspirei encarando . - E você? Como foi pego? - ele demorou para responder, ficou me encarando de um jeito estranho que fiquei até com medo de ouvir sua história. - Não... Precisa con... - antes mesmo de completar a frase ele me interrompeu.
- Fui atropelado por ele ontem à noite.
Segundo Dia
Um silêncio estava instalado na mesa. Eu comia aquela gororoba em silêncio, de vez em quando observando os dois na minha frente. ainda estava sujo de sangue e tinha uma cara de sono muito engraçada. Mel também tinha uma cara de sono, mas a dela não era engraçada, era assustadora. Parecia que estava acabada. Literalmente. Não quis entrar em nenhum assunto, poderia ferrar tudo. Vai saber.
- Mas, então. - comecei, eu não estava mais aguentando ficam em silêncio. Porra, Emily tagalerava o tempo todo, tenho que me acostumar, poxa...
Emily. Lembrei de minha amiga e no segundo seguinte senti meu coração ser esmagado pela desgraça da ideia de que morreria sem vê-la. Aquela que conheci aos cinco anos de idade e nunca mais desgrudei. - Sabe, eu não sou uma pessoa que suporta muito pessoas mudas. - soltou uma risada baixa e eu o encarei confusa. O que tinha de engraçado naquilo?
- Me diz, como era a vida de vocês antes de entrarem aqui? - Melody perguntou realmente interessada enquanto apreciava aquele prato de... Uhm, aquele prato.
- Bem, minha família era feita por meu pai, minha mãe e meu irmão mais velho. - começou, olhei para ele tentando prestar atenção. - Meu pai era muito brincalhão, sempre fazia uma piada, minha mãe já era mais séria. Mas era uma mulher muito... - ele parou repentinamente e mordeu o lábio, fechando os olhos com força. Depois de respirar fundo voltou a falar. - Doce, gentil... E meu irmão, apesar de brigarmos várias vezes, era evidente que nos amávamos. Muito, aliás. - ele então me encarou como se implorasse para eu contar minha história. Encarei meu prato, enquanto balançava a perna freneticamente. Sabia que se entrasse naquele assunto, não iria ser forte. Mas foda-se.
- Não tenho muito o que falar... Sou só eu, meu pai e minha mãe. Meus pais normalmente trabalham muito, mas desde que esse assassino começou a ir atrás de adolescentes, eles se prenderam em casa e deram cem por cento de atenção a mim. Chegou a me sufocar... - dei uma risadinha baixa, provavelmente tão baixa que eles nem escutaram. - Pelo jeito a preocupação deles não adiantou em nada... - murmurei ficando séria de repente. Abaixei a cabeça e cocei os olhos. - Acho que ainda não contei sobre minha história para vocês. - encarei os dois que me olhavam com atenção e senti uma pitada de pena nos olhares deles. - Meus amigos tinham me convidado para ir a um restaurante à noite, eu estava hesitante, não queria correr risco... Mas eles insistiram tanto e eu achei que não iria acontecer logo comigo, né. Mas eu estava indo para o restaurante à pé quando fui pega de surpresa. - suspirei olhando para minhas mãos. - São nessas horas que o arrependimento de não ter seguido o caminho da sua consciência aparece. - fiz um barulho estranho com a boca, finalmente encarando Mel e . Ela tinha um sorriso triste nos lábios, enquanto ele não se decidia entre pena ou angústia. Não consegui definir direito sua reação, a única coisa que consegui naquele momento foi sentir meus olhos ardendo e em seguida minha bochecha estava encharcada. Eu não era de chorar muito, mas naqueles dias isso era uma exceção. Fechei os olhos com certa força e senti minha cabeça batendo contra a mesa com uma pequena violência. Eu sabia que seria fraca. Senti dois braços envolverem minha cintura e duas mãos segurarem meu rosto, fazendo-me encarar a pessoa.
- Vai ficar tudo bem, . - Melody disse enquanto apertava os braços na minha cintura.
Depois de certo tempo, nem muito e nem pouco, finalmente me acalmei. Funguei algumas vezes enquanto sentia olhares intensos em minha direção. Senti uma mão se aproximando pela mesa e envolvendo a minha por cima, olhei para frente vendo encarando nossas mãos com os olhos fechados e a cabeça baixa. Ele estava em processo de superação, assim como eu. Mel me lançou um olhar um tanto quanto estranho, significativo. Resolvi dar de ombros sentindo uma espécie de carinho nas costas da minha mão.
brincava com o próprio sapato, enquanto Melody brincava com uma mão no meio do quarto. Nojento, eu sei. Estávamos no quarto do , e por sinal estava um tédio. Suspirei pela terceira vez encarando o chão com sangue já seco. Era muito estranha a sensação de estar em um hospício abandonado, com os dias contados e sua amiga brincando com uma mão cheia de bichinhos nojentos.
- Melody, larga essa coisa. - me pronunciei já achando aquilo muito estranho.
- Por quê? - ela e me encararam, Mel com uma expressão tediosa e ele com uma expressão risonha. - Cansei de vocês. Mal se conhecem a já estão cheio de segredinhos. - Encarei-a confusa.
- Como assi...
- Você sabe muito bem, . - se ela não tivesse soltado uma risadinha no final da frase, iria me assustar com o tom da voz que ela usou. - Eu tô aqui na minha, e vocês ficam trocando olhares e risadinhas. Isso irrita, falou?
- Você tá viajando - dessa vez o garoto que se pronunciou. Assenti vendo Melody se levantar e se jogar na cama que fez um barulho muito irritante.
- Não estou nã...
- Cala a boca - disse um pouco alto para que Melody ouvisse, o tom de voz dela estava muito alto...
- Por que você mandou eu...
- Sh! - coloquei o dedo na frente da minha boca, novamente pedindo por silêncio enquanto os dois me encaravam confusos. Levantei de onde estava e caminhei silenciosamente até a porta do quarto, me esticando um pouco para olhar pela janela. - Ouvi alguém... - antes que pudesse terminar a frase, um grito ecoou por todo o hospício. Arregalei os olhos vendo aquela cena. Eu havia esquecido que era o último dia de vida de John. Levei a mão até a boca quando percebi que estava prestes a soltar um grito. O homem vestia uma máscara extremamente assustadora, enquanto com uma faca tirava cada membro do corpo do jovem. Braço, perna, cabeça...
- , tira ela dali! - ouvi a voz de Melody e, no minuto seguinte, alguém me puxava pelo braço e me envolvia em um abraço aconchegante. Sabia que era . Ele envolveu minha cintura e eu enterrei minha cabeça no seu pescoço, sentindo o desespero de ter visto aquela cena me dominar. Daqui a poucos dias, seria eu no lugar de John, e só de pensar nisso o meu desespero aumentava bem mais. Comecei a soluçar e o senti passar a mão pelo meu cabelo em um pequeno cafuné. Apertei meus braços em torno dele com mais força, não querendo sair de sua proteção nunca mais.
- Como ele consegue fazer isso com uma pessoa inocente? - sussurrei com o rosto enterrado no pescoço dele, percebi que ele se movimentou desconfortalvelmente. Suspirei tentando parar o choro, mas foi uma tentativa falha. Aquela imagem nunca sairia da minha cabeça.
Terceiro Dia
- Lalalala você não me pega! - gritou a menina que corria alguns passos a sua frente. Ela tinha os cabelos bem encaracolados, cachos que todas adorariam ter. A cor deles era um dourado lindo, qualquer uma faria de tudo para nascer com aquele cabelo. Mas a menina a frente não ligava, ela era despreocupada com tudo. - Você é muito lerda! - gritou parando de correr, enquanto deixava a cabeça pendurar para trás e uma alta gargalhada sair pelos seus lábios.
- Sou nada! Você que é muito rápida. - a mais baixa disse ofegante encarando o sorriso da amiga. - Mas dessa vez você que não me pega! - gritou voltando a correr e ficando em sua frente. Era engraçado o modo como se divertiam com coisas simples. Meninas nessa idade provavelmente estariam se preocupando se usariam a blusa ou o vestido. Elas não ligavam para a aparência, se estivessem juntas e brincando tudo seria perfeito. Eram amigas inseparáveis, eram amigas verdadeiras, eram amigas para sempre. Emily e nasceram quase juntas, e morreriam juntas.
Abri os olhos reparando no que estava ao meu redor, estava deitada naquela cama suja de hospital. Sentei-me e levantei os braços tentando me alongar, um bocejo escapou de meus lábios e caí novamente na cama, soltando um suspiro frustrado. Minha cabeça doía e me sentia um pouco enjoada. Contei até dez e levantei de uma vez da cama, sentindo uma tontura forte me dominar, pelo menos consegui me equilibrar. Fiquei frustrada ao percebi que não me lembrava do meu sonho, era como se tivesse sonhado um nada. Simplesmente um preto, e só. Odiava isso. Estiquei-me novamente fazendo com que meu corpo estalasse praticamente todo. Caminhei até a porta e a abri, me dirigindo para a cozinha, ou seja lá que porra é aquela. Parei um pouco para pensar e percebi que aquele hospício era diferente. Era pequeno, estranho ter somente alguns quartos e uma espécie de cozinha. E sendo abandonado... Achava que um lugar abandonado tinha coisas fantasmagóricas, corpos espalhados por todo lugar... Pricipalmente sendo um hospício abandonado. Quando encontrei Melody sentada sozinha na mesa encarando um ponto fixo, me dirigi até ela com um sorriso tímido no rosto.
- Não me lembro de ter ido andando para meu quarto ontem à noite. - disse de repente pegando a maçã de suas mãos e dando uma mordida.
- Porque você não foi andando para seu quarto noite passada. Você dormiu nos braços do - ela disse e eu parei de mastigar na mesma hora. - E ele te levou para seu quarto, no colo. - ela sorriu e senti uma leve queimação em minhas bochechas. Então parei para analisar o sorriso dela. Malicioso.
- Opa, opa, opa! Para de pensar merda. - disse devolvendo a maçã para ela e negando com a cabeça.
- Ah, qual é! Vocês dois se deram muito bem rápido demais. É até fofo. - ela disse dando uma mordida na maçã. Encarei-a com uma sobrancelha levantada, essa menina não tem jeito.
- Tudo bem, senhorita acho-que-sei-a-verdade-mas-tô-enganada. Mas me diz ai! Como a gente toma banho aqui? - perguntei tranquilamente, juro que não esperava uma risada vinda dela.
- A gente não toma. - ok, fudeu tudo. Se é para morrer no final, quero morrer limpa, porra.
Ouvi o barulho de passos se aproximando e notei os olhos de Melody mudando de posição e caindo atrás de mim, logo depois vi se sentando silenciosamente ao lado da peste e a minha frente. Ele coçou os olhos e mostrou um sorriso para a gente. Aquele jeito calmo e silencioso dele me irrita. Fala, droga! Gosto de ouvir as pessoas falando. Maldita Emily, para que fazer tanta falta?
- Eae! - Mel disse fazendo um joinha com a mão, só retribuiu o joinha, deu para perceber que ele não se pronunciaria tão cedo. Mel bufou se virando para mim novamente, enquanto eu sentia um par de olhos penetrantes direcionados a mim também. Odiava isso, eu sempre ficava sem saber o que fazer quando me encaravam. Principalmente com um sorrisinho no canto dos lábios. Argh! Olhei para ele e o desgraçado nem desviou o olhar. Certo, a besta aqui desviou porque a besta aqui é uma bela de uma anta. Besta. Comecei a tentar me destrair ouvindo as conversas alheias e percebi que praticamente todos do local comentavam sobre a morte de John na noite passada. Isso me causou arrepios novamente. Foquei em uma das conversas, uma menina e dois meninos falavam que ouviram o grito e olharam pela janela da porta no mesmo momento, assim como eu. A menina começou a falar coisas sem nexo e algumas frases que eu entendi melhor, como "por que esse cara quer matar a gente?" "o que nós fizemos?" e coisas desse tipo... Voltei minha atenção para a minha mesa e Mel tinha sua atenção completamente em cima da maçã, enquanto ainda me encarava. Tomei coragem para uma análise rápida nele e vi que ele tinha os braços cruzados, um sorriso que repuxava o canto dos lábios e os olhos em uma expressão divertida. Mas uma coisa em especial chamou minha atenção.
- ... Seu nariz... - apontei para o nariz dele, o mesmo tocou no lugar assustando-se quando viu a mão cheia de sangue. - O que você fez para seu nariz sangrar?
- Nada. - ouvir a voz dele pela primeira vez naquele dia e me tirou dos eixos. Por nada não, mas sua voz estava rouca e mais grossa que o normal. Ele puxou um pedaço da blusa para limpar o sangue no nariz e sua blusa acabou levantando e deixando seu abdômen totalmente definido exposto, para minha alegria. Um sorriso involuntário surgiu nos meus lábios e, sinseramente, isso me assustou.
- Mas então. Como era a vida amorosa de vocês? - do nada ouvi a voz de Melody ressoar baixinha enquanto a garota continuava encarando a fruta que estava praticamente acabada.
- Eu não tinha namorado. Apesar do garoto mais lindo e popular do colégio, digamos assim, me chamar para jantar e tal... Mas eu meio que disse que ia pensar e fodi com tudo. - disse soltando uma risada no final da frase. Melody arregalou os olhos, me olhando com certa frustração. Parecia Emily.
- Que babaca! Por que você disse que iria pensar?! Por que não pulou no colo do moleque e o beijou?! - perguntou meio afobada, me fazendo rir.
- Hum, por que ela não parecer ser o tipo de garota que dá para qualquer um. - disse encarando Mel com uma expressão fria. Ele me tratava como se eu fosse a irmã mais nova dele, sendo que nos conhecíamos há três dias. Agora, focalizando na frase dele. Que frase é essa?! Pelo amor de Deus! Que vergonha. Mel arregalou os olhos olhando para , que continuava com a mesma expressão, a garota olhou para mim e sorriu. Ah, não.
- Mas e a sua vida amorosa, ? - perguntou ela, logo ficou vermelho. Tive vontade de apertar as bochechas dele. Não, esquece o que eu disse.
- Eu também não namorava, e nunca tive nenhuma garota aos meus pés. Ao contrário do que vocês devem pensar, eu sou um garoto tímido. Mas tenho meus momentos de misterioso. - ele disse, arrancando risadas nossas. Quem diria que esse garoto com pose de machão é tímido? Difícil de acreditar.
- Mas você parece falar tudo na cara. - Melody disse, espera, aquilo foi uma indireta?
- Erm, só quando eu acho que preciso - deu para perceber que ela havia o deixado sem jeito. Senti vontade de rir, mas segurei o riso. Ele ficaria mais envergonhado ainda.
Ouvimos o barulho de uma porta se abrindo, encarei a porta que dava para os quartos, mas não havia sido daquela porta o barulho. Senti meus musculos travarem e meu corpo se arrepiar todo. Olhei para os dois a minha frente e me assustei ao ver os olhos arregalados e as mandíbulas presas. Quando consegui reunir coragem o suficiente para virar o rosto para trás e ver o tão temido assassino, desejei nunca ter feito isso. O homem vestia roupas pretas que estavam em um estado deplorável, a roupa toda cheia de cortes e sangue seco. Engoli a seco quando meu olhar se direcionou para sua márcara. Uma máscara macabra que poderia te causar meses de pesadelos. Enquanto ele andava em direção aos nossos quartos, notei um colar pendurado em seu pescoço. O pingente era uma chave. Logo várias perguntas apareceram em minha cabeça, me deixando tonta. O que será que aquela chave abria? E por que eu senti a mão de fazendo carinho na minha, em cima da mesa?
Quarto Dia
Ouvi uma risada extremamente escandalosa ao meu lado, não tive nenhuma reação a não ser arregalar os olhos. Eu, e Melody havíamos encontrado vodka no canto da geladeira na cozinha e estávamos bebendo sem nos preocupar com absolutamente nada. Fazia uma hora que Mel havia me acordado com uma garrafa nas mãos. E já era notável o quanto ela estava bêbada.
- EU AMO VOCÊS! - ela gritou enquanto me passava a garrafa, eu não tinha coragem de beber até ficar daquele jeito. Sempre consegui me segurar e nunca fiquei bêbada. O que é bom. Dei um mísero gole, passando a garrafa para o único homem no ambiente, que parecia querer ficar bêbado também, já que deu uns dois golões direto.
- Já basta essa maluca bêbada, quer ficar também? - ouvi minha voz resoar alta, não consegui controlar o tom dela.
- Relaxa. - ele deu uma piscadinha e passou a garrafa para Mel, mas antes que ela pudesse se quer pensar em pegá-la, eu tomei a vodka das mãos do .
- EI! – gritou, me fazendo arregalar os olhos novamente. - ME DÁ!
- Não, você já está bêbada. - disse tomando um gole, mas quando ela teve uma tentativa falha de fazer uma expressão raivosa, não aguentei segurar a risada.
- Isso é covardia, ! Deixa eu aproveitar! Amanhã à noite é o meu fim, porra! - O QUÊ!? Não, não, não...
- Pera aí! Repete o que você disse! - pedi com a voz vacilante, meus olhos se arregalaram e eu os senti arderem, olhei para que estava com a mesma expressão que eu, só que ele tinha a boca aberta em um perfeito "O".
- Que isso é uma corvardia! - ela disse enquanto revirava os olhos.
Coloquei a mão na região do coração, sentindo-o apertar.
- Não... A outra coisa que você falou! Mel, como assim amanhã à noite é o seu fim?! - com o resto de voz que me restava, consegui completar a frase. Quando a garota conseguiu assimilar o que eu havia dito, suspirou pesadamente.
- Amanhã é o meu sétimo dia aqui. - agora sua voz era baixa, apesar de muitas palavras saírem enroladas, eu consegui entender perfeitamente. O que só causou mais dor no coração.
- Não... Melody, não... Você não pode... - deixei a garrafa escorregar pela minha mão e cair no chão, derramando todo o líquido, nenhum dos três se importou. O foco no momento era outro. Senti meus olhos arderem ainda mais quando a frase dela me acertou em cheio, seria doloroso ouvir o grito dela, ouvir o pedido de socorro sem poder fazer nada... Acordar no dia seguinte sem a presença dela... Quando notei, minha vista já estava embaçada e minhas bochechas levemente molhadas. Não hesitei em levantar e correr em sua direção para abraçá-la, depois de amanhã ela não estaria mais aqui. Não tinha escapatória, esse assassino era esperto. Quando senti suas lágrimas molhando meu pescoço, soltei algum murmúrio indecifrável e logo depois mais um par de braços se juntaram a nós, ouvi um soluço ecoar pelo local e soube que era de Melody. Claro, quem não choraria sabendo que teria somente mais um dia de vida?
- Você não pode nos deixar... - murmurei com a voz de uma criança de cinco anos. Ela havia me conquistado e virado uma amiga tão rápido, eu não aguentaria. - Prefiro ir no seu lugar...
- Você tá maluca? Eu tive sete dias de vida aqui, você merece ter sete também, não só quatro. Eu - soluço - sei exatamente a dor que vocês dois estão sentindo. Também perdi amigas quando estava aqui. - saí do abraço encarando seu rosto, ela limpou as lágrimas que caíam e a senti limpando as minhas também.
- Você vai fazer mais do que falta. - finalmente disse, percebi a voz vacilante dele. Ele devia estar sentindo a mesma coisa que eu.
Minha expressão se contorceu em dor e eu voltei a chorar, queria me mostrar forte para ela, mas eu estava mais fraca que qualquer coisa no mundo. Torcia para o dia de hoje acabar o mais lento possível.
E o foco muda novamente quando uma batida na porta chama a nossa atenção. Um minuto depois um garoto com a situação deplorável aparece com a respiração falha e os olhos arregalados olhando em nossa direção. Olhei para o pulso dele e notei o sangue presente ali e o corte, era atual. Certamente, era o garoto que substituía John.
Depois de um tempo, chamou-o para se sentar com a gente, ele o fez, mas permaneceu o tempo todo em silêncio somente olhando para nós com uma expressão assustada. Depois de mais um tempo tentando acalmá-lo, nos sentimos confortáveis para fazer algumas perguntas.
- Então... Qual é o seu nome? - perguntei com a voz calma, Mel ainda respirava fundo e eu percebi que ela já estava um pouco mais sóbria.
Ele me encarou, seus olhos eram lindos, preciso dizer.
- . - disse simplesmente, olhei para que assentiu, soltando um suspiro. Melody segurava a minha mão.
- Como foi pego? - perguntou meio indeciso, essa pergunta era meio perigosa naquele momento. Provavelmente ele lembraria da noite anterior e se desmancharia em lágrimas, como eu. Lembrei do assassino saindo ontem, provavelmente tinha ido atrás de .
- Eu estava voltando de uma balada, admito que não estava completamente sóbrio e por isso acho que foi mais fácil ser pego. Ele injetou alguma coisa em mim e eu desmaiei na hora. Acordei pouco tempo atrás em um quarto estranho e essa porra no meu pulso, saí desesperado e bati na primeira porta que vi. Que era essa. - ele explicou com o olhar penetrado no teto. - Por favor, me expliquem o que tá acontecendo. Estou meio confuso e desnorteado com isso, eu sabia dessa parada do Two Seconds alguma coisa, mas nunca pensei que fosse acontecer comigo. - exatamente o que aconteceu comigo, Jackson tinha me falado que com tantas pessoas nessa cidade isso não iria acontecer justo comigo, e no momento devem estar todos a minha procura. Senti um aperto no coração ao imaginar o que deve estar acontecendo, meus pais devem estar viajando pelo mundo inteiro, meus amigos se culpando... Tenho medo só de pensar.
- A partir de agora, você só tem sete dias de vida. Essa é a sua nova realidade. - Melody foi direta, isso não foi legal.
- Melody! – a repreendi, segurei a mão de e suspirei fundo. - Isso que ela disse é verdade, mas não se preocupe com isso agora, você tem a nós. - disse calmamente enquanto ele assentia. - Vamos te explicar tudo. O corredor que você passou é onde ficam os quartos e, no final dele, não sei se você notou, mas tem uma última porta que leva para a cozinha. Onde a maioria das pessoas aqui ficam. - sorri demonstrando confiança.
- A maioria? Quer dizer que tem mais gente aqui? Mais vítimas? - olhei para os outros dois ao meu redor um pouco receosa. Sabia que era loucura, ele tinha razão de estar espantado. Assenti soltando sua mão.
Algum tempo depois, estávamos sentados em uma roda, Melody conversava com enquanto eu e só prestávamos atenção a conversa. Ela falava sobre a experiência dela aqui dentro, falou sobre amanhã ser o último dia dela e mais algumas coisas... Senti o olhar de sobre mim, ele estava ao meu lado, senti meus lábios serem repuxados em um sorriso de lado. O ouvi soltando uma risadinha, então virei o rosto em sua direção. Ele olhou para baixo, analisando a própria mão. Movimentou-se um pouco, levando a mão em direção a minha e começou a brincar com os meus dedos. De repente eu fiquei paralisada, minha respiração descompassada e eu me senti extremamente estranha. ainda brincava com meus dedos e eu não conseguia assimilar qual era a graça daquilo. Meus olhos não mudavam de direção, estavam penetrados no rosto dele. Soltei uma risada bem baixa e curta, ele olhou para mim e sorriu.
Pisquei freneticamente, tentando me concentrar antes que fizesse merda, mas senti seus dedos em minha bochecha, fazendo carinho, então voltei a encará-lo e sua expressão tinha mudado de divertida e risonha para séria e preocupada. Seus dedos faziam desenhos imaginários em meu rosto. Minhas bochechas, meus lábios... Fiquei com vontade de perguntar o porquê da expressão dele, mas nem precisei.
- Não quero que você morra.
***
Se ela soubesse que sua vida viraria uma bela merda com o desaparecimento de , não teria parado para tirar aquele pequeno cochilo e deixado ela sair à noite. Melissa estava novamente aos prantos deitada no chão da cozinha com uma faca em mãos enquanto o marido tentava tirar o objeto de perto. Havia dias que sua filha estava desaparecida, tentou ligar milhares de vezes, mas sempre caía na caixa postal. A polícia já estava informada, mas todos agiam como se ela já estivesse morta. Matt também estava preocupado, ele é o pai da garota. Quem não ficaria preocupado em seu lugar? Mas o seu papel era mais difícil, ele tinha que se mostrar forte na frente da mulher e tinha que ficar vinte quatro horas ao lado dela, caso contrário, ela fazia alguma besteira. Desde o dia em que desapareceu, Melissa vai para a cozinha e pega uma faca dizendo que se a polícia não encontrar e matar o sequestrador, ela mesma irá fazer isso. Era a vida de sua filha que estava em jogo, era a vida de , sua pequena princesa. Era a vida de sua melhor amiga que estava no fim.
- Eu não vou aguentar mais um dia sem ela, Matt. - disse entre lágrimas, enquanto levantava do chão.
Matt passou os dedos pelas bochechas da mulher na tentativa de limpar as lágrimas. Abraçou-a. Simplesmente mostrando que ela não estava sozinha. E que podia contar com sua ajuda.
- Vamos esperar o tempo que for, eu garanto que esse pesadelo vai passar, meu amor - e com um beijo na testa, um promessa foi fechada.
O grande casaco cinza dificultava um pouco os passos da garota. As ruas londrinas estavam mais frias que o normal naquele dia, as árvores pareciam que criariam vida e fugiriam para um lugar ensolarado. Várias folhas eram arrastadas pelo vento frio, algumas batendo em seus pés. Suas botas faziam um barulho irritante, mas esse era um mísero detalhe. Estava voltando para casa depois de horas na cafeteria com Andrew, Jackson e Christian. Estavam conversando sobre a enorme burrada que fizeram, é claro que se culpavam. De quem mais seria a culpa? estava indo se encontrar com eles aquela noite e nenhum dos quatro foi capaz de oferecer uma carona. Tudo podia ter sido diferente, tudo. Emily não iria se acalmar enquanto não recebesse pelo menos uma notícia de sua amiga, as lágrimas já eram frequentes em seu rosto.
Jackson vivia com os olhos inchados e vermelhos. Ele sempre dizia: "Eu insisti, eu insisti para ela ir".
Sentiu um vento mais frio ainda correr pelo local, seus passos foram diminuindo a velocidade até cessarem totalmente. Ouviu um barulho estranho e olhou pra cima, vendo um corvo, se arrepiou toda. Não gostava desse animal, sua mãe sempre disse que ele atrai azar. Não precisava de mais azar em sua vida.
Depois de um tempo encarando o animal, ele finalmente sumiu de suas vistas. Ou não. Abaixou meio hesitante para pegar a pena que estava caída no chão, olhou para a pena e sentiu-se totalmente dferente. Faltou um pouco de oxigênio em seus pulmões e tudo que ela conseguiu fazer foi correr. Emily corria como se não houvesse amanhã, ela não sabia para onde seu corpo a levava. Mas parecia que seus pés havia ganhado vida própria e não queriam obedecê-la.
Seus passos só cessaram quando ela chegou a um cimitério, sentiu um frio percorrer a espinha e fechou os olhos com força. Ouviu passos se aproximando e olhou para trás vendo Jackson, Christian e Andrew com penas nas mãos. Manteve a expressão assustada no seu rosto enquanto os meninos se aproximavam. Os quatro olharam pra frente se deparando com uma estátua onde em uma pequena plaquinha tinha os dizeres: "Eu não quero morrer, não agora - em 1930".
- Puta que pariu - ouviu a voz de Andrew e em seguida fechou os olhos. O que aquilo significava?
Quinto Dia
- Sei lá, cara, só sei que quero sair logo daqui. - murmurou dando um mordida em uma maça velha, nojento.
- Não reclama, já estou aqui há cinco dias. - respondeu com a cabeça jogada na mesa de qualquer jeito. Estávamos na cozinha esperando Melody acordar, a noite anterior havia sido bastante agoniante e eu não sei por que, mas estava com um péssimo pressentimento. A única coisa que passava na minha cabeça era que essa ainda não era a minha hora. Eu não quero morrer, pelo menos não agora...
- , não olha pra trás, tem um zumbi vindo pra cá. - disse com um sorrisinho no canto dos lábios.
Senti um par de mãos encostarem nos meus ombros e estremeci. , sua idiota, não tinha zumbi ali, cara. Com esse pensamento soltei uma risadinha e olhei para trás, deparando-me com um zumbi chamado Melody.
- Meu Deus, o que aconteceu com você? - perguntei enquanto a garota sentava ao meu lado e pegava a maçã da mão do .
Mel tinha os cabelos totalmente bagunçados, seus olhos estavam tão vermelhos e suas olheiras eram mais fundas do que o fundo do oceano. Ela me lançou um leve sorriso triste e eu senti meu coração afundar.
- É hoje. - pronto, acabou com meu dia. Lembrei que noite passada ela havia comentado que hoje a noite seria a vez dela partir. Meus olhos se arregalaram e eu senti uma vontade súbita de chorar até alagar esse hospício. - É hoje. - repetiu, seu rosto deu uma leve contorcida. Levei minhas mãos até seus cabelos e fiz um cafuné naquele ninho. Ela se tornou uma amiga tão rápido, seria doloroso vê-la partir, seria mais doloroso ainda ouvi-la gritar e não poder fazer nada além de chorar.
- Então hoje tem que ser um dia cheio, vamos fazer tudo que vier em nossas cabeças. - ouvi a voz do , mas acho que não funcionou muito.
- Em um hospício? O que tem de legal aqui? - Melody perguntou enquanto limpava as poucas lágrimas que deixara escapar.
Olhei pra frente e vi me encarando com um sorriso largo de orelha a orelha. Ai vem bomba.
- Vocês sabem jogar Verdade ou Desafio? - Ahn?
- Tá falando sério? - perguntei pela décima vez, agora estávamos no quarto de e tinha uma garrafa vazia em mãos. Esse moleque não bate bem da cabeça.
- Sim, se não quiser jogar pode ficar só olhando - ele disse, me encarando com um sorriso sacana.
- Todas as vezes que brinquei disso, sempre rola beijo, cara - falei apoiando meu cotovelo nas coxas.
- Essa é a graça! - soltei uma gargalhada, mas ao perceber que fui a única em achar graça, parei. me olhava como se eu fosse uma idiota, Melody tinha a expressão cansada e também parecia me achar uma idiota, já me encarava com um misto de ansiedade e diversão. Peguei a garrafa da mão de e eu mesma girei aquele treco. Quando parou de girar, minha vontade de rir aumentou bem mais.
- pergunta para mim - falei. - Posso rezar antes?
- Chega de frescura, verdade ou desafio, pequena?
- Gosto de uma pressãozinha, verdade! - bati palmas esperando a pergunta que sairia da boca daquele infeliz.
Ele me lançou um olhar malicioso e eu me arrependi de ter aceitado jogar.
- É verdade que... Você usa enchimento? - esse garoto é muito estranho.
Cara, parece que eu uso essa porcaria?
- Nunca usei na vida - falei a mais pura verdade.
- São verdadeiros?!
- São, ! Para de encarar meus seios, caralho - esse garoto esqueceu o cérebro em casa.
- Posso tocar? - Minha cara de reprovação não foi o suficiente, precisou dar um tapa na testa do garoto. - Eu estava só brincando, aliás, são belos - e com uma piscadinha, ele girou a garrafa.
Caiu em e . O vai detonar com esse jogo, cara.
- Quero desafio. - encarei com um sorriso no rosto, ele escolheu desafio de primeira. Esse garoto não é mole, é até triste pensar que ele já está na reta final da vida.
- Desafio você a continuar o jogo todo sem usar as calças! - disse cruzando os braços e olhando para mim e para a Mel, que estava vermelha, assim como eu.
se levantou e tirou a calça jeans preta, deixando uma boxer cinza à mostra. Não vou mentir, eu notei o volume que tinha ali. Melody girou a garrafa, e dessa vez ela respondia e eu perguntava.
- Verdade ou desafio, amiga? - perguntei juntando o meu cabelo em um coque alto, deixando meu pescoço à mostra.
- Desafio - fiz uma cara maldosa e ela logo percebeu que eu tinha más intenções. - Posso mudar?
- Não. Eu desafio... - parei para pensar um pouco. Olhei para o , que estava sem calça, e a idéia veio na hora. - Desafio você e jogar o jogo todo sem a blusa!
- ! - coitada, ela virou um pimentão. - Por favor, muda.
- Não pode! - disse chamando nossa atenção, dei de ombros e me virei para Mel, que me lança o olhar de "conversamos sobre isso depois". Ela não precisou nem levantar para tirar a blusa, seu sutiã era rosa bebê, eu queria aquele sutiã. O meu era feio, e se ela me fizesse tirar a blusa também, eu estava ferrada. Depois de assobiar, girou a garrava e caiu novamente em mim e na Melody, só que agora ela perguntava e eu respondia. É, me ferrei.
- Desafio. Já escolhi verdade uma vez. - fui direta, provavelmente todo mundo ia acabar aquele jogo de roupas íntimas mesmo.
- , posso incluir outro jogador no desafio dela? - ela perguntou e assentiu, estremeci. - , tira a sua cueca por favor?
- O QUÊ?! - ele gritou e arregalou os olhos, eu também arregalei. Mel é maluca. O que ela tá pensando em fazer? - Por quê?!
- Vai pra trás da cama e tira lá, e depois entrega pra .
- Bem... Cara, tá legal, mas, por favor, quando eu escolher desafio não me façam tirar a calça. - soltou uma gargalhada alta enquanto o ia para trás da cama. Encarei Melody com os olhos arregalados. Ela sabia se vingar, eu iria tomar mais cuidado da próxima vez.
Depois que voltou com a boxer preta em mãos, Melody disse para ele me entregar. Feito, e agora?
- Agora a vai colocar a boxer na cabeça. - a maldita ainda mostrou um sorrisinho no final da frase. Hesitante, coloquei aquilo na cabeça. girou a garrafa e caiu em mim e no . Ótimo.
- Verdade ou desafio? - ele perguntou e eu parei para pensar. O pessoal aqui é esperto, eu poderia me ferrar mais uma vez.
- Desafio. - eu não conseguia ser esperta.
- Desafio você a tirar a calça. - esse garoto deve odiar calças. Tá, pensem merda. Levantei-me e tirei a calça, deixando minha calcinha de renda à mostra. Que lindo. A propósito, eu já não usava mais o meu vestido desde ontem. Encontrei uma blusa e uma calça jeans em uma gaveta do meu quarto. Não quero nem saber por onde essas roupas andaram. assobiou, tinha um sorriso sacana no rosto e Melody gargalhava. Ótimos amigos.
O tempo passou e nós jogamos bastante, acabou que ficou apenas de boxer e com a calcinha de Melody na cabeça. Melody ficou com a calça, mas a blusa não estava no seu corpo. ficou com a calça, mas sua blusa não estava em seu corpo e o meu sutiã estava preso em seu pescoço. Eu estava com a cueca dele na cabeça, usava minha blusa e minha calcinha. A calça estava jogada pelo quarto. e trocaram um selinho graças a mim e Mel enfiou a mão dentro da boxer do graças ao . Tava na hora deles ferrarem a gente.
- Desafio. - disse alargando o sorriso, olhei para ele com a expressão de "cara, você é louco?" porque o ia ferrar com a gente.
- Desafio você a ter amassos bem ferozes com a garota da calcinha rendada. - Melody soltou uma gargalhada alta e eu fiquei séria. encarou como se dissesse que essa foi longe demais. - Você fez a Melody enfiar a mão no meu amigão, cara! Tô dando o troco. - suspirou me encarando como se pedisse permissão. Nesse caso eu fui obrigada a permitir. - E eu exijo que tenha chupão, lambida no pescoço, beijo e... Mão boba.
- E eu acho que você tem que procurar um médico - eu disse batendo a mão na minha própria testa, se aproximava de mim com o lábio preso entre os dentes e eu acho que vi brilho nos olhos dele. Cara, que saudade de casa. Não vou negar que o era muito sexy, mas... Eu não era acostumada com essas coisas... Não que eu nunca tenha dado amassos, mas é que eu sou santinha... Tá, mentira.
Ele sentou na minha frente e me colocou em seu colo. Meu coração pareceu finalmente reagir, acordar. Senti sua respiração no meu pescoço e me arrepiei toda, quando sua língua finalmente tocou em minha pele, eu soltei um longo suspiro e ouvi a risada abafada de . fazia movimentos com a língua em meu pescoço, soltei uma leve risadinha quando imaginei o porquê dele ter tanta habilidade com a língua. Que merda eu tô pensando?
O ouvi soltando uma risadinha também, isso me fez arrepiar ainda mais. Senti uma pressão no meu pescoço e automaticamente levei minha mão até sua cabeça, segurando-a. Ele havia começado os chupões, ah, cara, eu amo isso. Ele se afastou um pouco e depositou um leve beijinho ali, logo depois voltando com a língua. Estranhei o gesto, mas esqueci no minuto seguinte quando sua língua foi parar no lóbulo da minha orelha. E quase que eu deixei um gemido escapar. Nossa, eu ia me dar muito mal se deixasse escapar. Senti a mão dele se movimentando em baixo da minha blusa, logo depois sua língua já não estava mais em meu pescoço e eu percebi que minha mão se direcionou para a nuca dele. Sorri ao sentir ele se arrepiando e então parou e ficou me encarando enquanto tinha os lábios presos nos dentes.
Sabe aquela sensação de um vazio no estômago? Borboletas no estômago, frio na barriga... Tudo a mesma coisa. Senti isso após se aproximar de mim e iniciarmos um beijo. O começo não foi calmo como eu pensei que seria, na verdade, foi muito veloz. Quer dizer... Eu comecei a sentir um calor enlouquecedor, no momento em que nossas língua se tocaram eu senti como se fogos de artifícil estivessem dentro de mim. Ele explorava toda a minha boca, a mão dele foi parar na ponta da minha blusa e, no momento que nossos corpos caíram no chão e ele ficou em cima de mim, percebi que já estávamos indo longe demais.
Mas eu não conseguia parar, estava fora de mim. Senti algumas mãos afastarem nossos rostos e quando abri os olhos, segurava enquanto ria escandalosamente alto. E Melody me olhava com os olhos arregalados. Sentei no chão, passando a mão pela testa que estava um pouco suada, depois olhei para , que me encarava com as bochechas extremamente coradas. Estava bem claro a sua vergonha. Sorri para ele enquanto levantava para ir atrás de minhas roupas em seguida.
Eu não estava mais suportando. Não aguentava mais aquela ideia estúpida. Eu sei que estava há poucos dias aqui e que conhecia Melody muito pouco. Mas ela se tornou uma grande amiga para mim e eu percebi que ela era verdadeira. Conseguia ver um pouco de Emily nela, às vezes achava até que ela era melhor. Sei também que estou quase completando uma semana nesse hospício abandonado, e eu. Está quase no nosso fim também. Isso é muito sufocante, saber que vou morrer sem um por que, que vou morrer sem dizer um último "eu te amo" para os meus pais e amigos. E essa dor me dominou por completo tarde demais. Quando eu percebi que está a minutos de perder uma amiga. Meu quarto é perto do dela e eu não estava mais conseguindo ouvir seu choro abafado, por isso estou sentada sozinha na cozinha. Olhando para a parede com sangue seco e com lágrimas nos olhos. Nesses sete dias que estive aqui, aconteceram tantas coisas. É até difícil de imaginar que eu vou morrer, eu me sinto completamente viva ao lado de Mel e . Quer saber? A vida é uma bela de uma filha da puta, só serve para foder com a gente. Conhecemos pessoas incríveis, e elas se vão em um piscar de olhos.
Com os olhos fechados, ouvi passos se aproximando de mim. Logo Melody veio em minha mente, mas quando senti braços musculosos me abraçando, mudei de ideia. depositou um beijo em minha cabeça e eu senti as lágrimas voltando junto com um soluço extremamente alto. Virei-me para ele, retribuindo o abraço, eu precisava daquilo. Não bastava eu estar no fim da linha, eu teria que sofrer com a morte de uma amiga. me entendia perfeitamente e tenho certeza que ele pensa como eu. Eu não pensava só na minha morte, ou na da Mel. Eu também estava mal pelo , que, definitivamente, não merecia morrer. E pelo , que iria sofrer vendo todos nós morrendo antes dele. E iria ficar sozinho, provavelmente. Era triste pensar que tudo isso iria acontecer, mas, pelo menos, estava aqui me confortando. Enfrentando os medos dele e até mesmo os meus. Quem diria que aquele garoto todo ensanguentado com cara de sono poderia virar um heroi para as minhas dores?
- Fica calma - ele pediu baixinho. - Eu tô aqui pra cuidar de você. E eu irei permanecer aqui, ao seu lado, literalmente, até o fim.
- Eu sei que vai - suspirei, levantei minha cabeça para poder olhá-lo nos olhos. Sorri dando um beijo em sua bochecha e fazendo carinho em seu nariz. - Obrigada.
- Vamos para o meu quarto - ele pediu. - Não quero que você veja a cena - abaixei a cabeça, voltando a sentir meus olhos ardendo. "A cena". Verdade, eu odiaria ver "a cena".
Acenei com a cabeça e nós seguimos para o quarto dele. estava sentado no chão dele, brincando com um pé. Esse garoto me surpreende e eu mal o conheço.
- Hey, pequena! - ele sorriu quando me viu, mas o mesmo se desmanchou quando notou lágrimas secas nas minhas bochechas.
Ele se levantou vindo em minha direção, tirando uma mecha de cabelo que caía em meu rosto. - Sinto muito.
- Já é tarde para receber consolo - apenas o abracei. Na verdade não era tarde, mas eu adorava ser dramática.
Ouvi um pigarro logo atrás e lembrei que estava ali. Virei-me para ele e apenas fiquei encarando-o, percebi que ele ficou sem graça, mas segurei o riso.
- Mas então... - disse. - Vamos conversar?
- Claro, sobre o quê? - perguntei me dirigindo para a cama de hospital e sentando. Enquanto os outros dois ficavam em pé, me olhando como dois idiotas.
- Vocês já viram a máscara do assassino? - ouvi a voz do . Claro que já havia visto aquela coisa assustadora.
- Eu nunca vi o assassino, pra falar a verdade. Quando ele me pegou, não consegui enxergar muito bem, pois estava de noite, muito escuro. E, bem, ele me fez desmaiar. - disse sentando ao meu lado, eu apenas abaixei a cabeça lembrando daquela máscara.
- Eu já vi, é muito assustadora. E por que ele usa aquela coisa? - pergutei. - É muito estranho.
- É uma forma dele de se esconder. Ele é um assassino, . Claro que ele não quer mostrar o rosto para a gente. - respondeu com um sorriso no canto dos lábios.
Fazia sentido, mas mesmo assim aquela máscara não deixava de ser assustadoramente horrível.
- Mas, galera. - começou. - E essa coisa aqui que ele faz em nossos pulsos? - ele levantou o pulso esquerdo, colocando-o praticamente em minha cara. - O que significa?
- Eu não faço idéia - falei. - Podíamos tentar descobrir.
- Deve ser um tipo de código, sei lá. Podíamos tentar, mas acho que vai ser difícil... - se aproximou e sentou no meu colo. - Se importa?
- Pra falar a verdade, você é pesado. - disse soltando uma risada, sorriu.
- Então que tal você sentar no meu colo? - ele perguntou e eu senti minhas bochechas queimarem, mas concordei me levantando e sentando no seu colo em seguida. - Bem melhor - ele sussurrou, mas deu para ouvir perfeitamente.
Ouvimos um grito agudo muito alto, meu coração acelerou e eu arregalei os olhos. Não, não, não! Melody...
- Droga - ouvi um dos dois murmurar, mas não dei muita importância, levantei do colo do , me dirigindo para a porta. - Aonde você pensa que vai? - era o .
- Eu... Não sei. Eu preciso... - não conseguia completar a frase, e também não sabia o que estava prestes a fazer. Eu definitivamente não podia ver aquela cena. Não podia ver "a cena".
Senti um puxão forte do braço e encarei , que apertava a mão em meu pulso, me impedindo de ir ver a cena pela pequena janela. Ele balançou a cabeça negativamente, senti meus olhos se encherem de água.
Logo depois mais um grito ecoou pelo local e o barulho estridente de uma serra elétrica podia ser ouvido. Meu desespero aumentou bem mais, ela iria sofrer mais. Eu não me perdoaria nunca. Puxei meu braço com força, fazendo me soltar e me lançar um olhar preocupado. Corri em direção à porta, ouvindo o grito de , não esperei nem um minuto para abri-la e me arrepender no minuto seguinte. Quando coloquei os pés no corredor, pude ver o assassino com a serra na mão e a cabeça daquela que me fez rir durante dias, estava completamente jogada no chão. Sem vida, sem um corpo grudado ao pescoço, sem esperanças de que um dia voltaria a sorrir.
O assassino levantou a cabeça e me encarou com a serra ainda em mãos, ele a ligou novamente e começou a andar lentamente em minha direção. Puta merda, eu ainda não tinha completado uma semana!
Senti novamente alguém me puxando e fechei os olhos com força. Tudo que aconteceu em seguida foi muito rápido, só consegui ouvir um grito e ver a porta do quarto se fechando, podendo, então, sentir aqueles braços musculosos me envolverem em um abraço. Um abraço que continha dor, sofrimento, carinho, consolo, desespero, amor. Vários sentimentos juntos que fazia minha cabeça doer. Suspirei tentando aproveitar e me concentrar ao máximo apenas naquele abraço.
Abri os olhos vendo apenas a escuridão. Escuro. Era como eu me sentia, me sentia escura, vazia por dentro. Sentia que faltava alguma coisa. Mas faltava mesmo. E eu estava determinada a preencher aquele escuro, estava determinada a descobrir. E eu precisava de ajuda. Uma ajuda de alguém em especial. Levantei-me e saí do meu quarto, andando pelo corredor como um corpo sem alma e indo em direção à porta do quarto do . Quando a abri, seus olhos colaram em mim como se estivessem esperando que eu entrasse ali bem naquele momento. Andei até o meio do seu quarto, quando parei, olhei no fundo dos seus olhos para que ele entendesse bem o que eu iria dizer.
- Eu preciso da sua ajuda. Eu devo isso à Melody, à minha família e aos meus amigos. Eu preciso descobrir o significado desse desenho em meu pulso e eu preciso de você, . Como eu nunca precisei antes. E eu quero - parei para encolir em seco. - Eu quero arriscar minha vida para salvar todos que estão presos nesse hospício.
Sexto Dia
Eu estava sentada em uma mesa da cozinha com a minha frente. ainda dormia. Sentia-me muito incomodada por que ele não tirava os olhos de mim, ele não parava de me encarar com desespero, medo e angústia. já havia tentado me impedir, mas eu não vou desistir. Olhe bem, é a nossa vida que está em jogo, a vida de tanta gente que está aqui dentro que eu nunca falei, mas sei que preciso salvar. Depois de ver Melody morrendo, percebi que não iria aguentar mais, que aquilo estava errado, tanta gente inocente que nunca fez mal nem a uma formiga! Eu olhava para minhas mãos como se elas me entendessem e concordassem comigo. O que o desespero não faz com a gente, né? Tô "conversando" com a minha mão.
- Quer parar de me encarar, ? - finalmente me pronunciei, mas mantive o olhar nas minhas mãos apoiadas em cima da mesa.
- Você é incrível - certo, eu tive que olhar para ele e assimilar melhor suas palavras. Não entendi.
- Ahn?
- É incrível saber que você é uma pessoa tão boa assim, que pensa muito nos outros, você com certeza não merece a morte amanhã - meu corpo se arrepiou todo. Amanhã? Já? Passou muito rápido! Eu teria muito pouco tempo para colocar o plano que eu ainda nem pensei em prática!
- , nós precisamos bolar um plano o mais rápido possível! Se não amanhã será tarde demais! - comecei a suar frio, ele percebeu que eu havia ficado um pouco mais tensa e colocou a mão em cima da minha para uma tentativa (falha) de me acalmar.
- Relaxa, vai dar tempo - ele deu um pequeno sorrisinho que permanesceu no canto dos lábios. Eu adoro esse sorriso. - Já pensou que, como ele matou Mel, não falta muito para ir atrás de uma nova vítima - apenas assenti. - Quando ele estiver indo, nós entramos em ação. - um bom plano, mas preciamos de mais especificação e habilidade.
- Gostei, mas precisamos detalhar o plano - disse e ele logo assentiu, tirando a mão de cima da minha.
- Quando ele estiver indo atrás da vítima, eu entro no...
- Epa! Não! Eu que quero entrar! - o cortei de uma forma que o fez arrelar os olhos de uma maneira fofa, mas qual é! Eu queria entrar na sala...
- Tá maluca?! - dessa vez ele segurou o meu rosto em suas enormes mãos. - Eu nunca deixaria você entrar lá e se arriscar tanto - sorri.
- Você não tem que querer, eu que vou, - seu olhar agora tinha medo, muito medo. Eu sinceramente não entendi esse olhar. Se eu morresse quando o assassino me visse em sua sala, qual seria a diferença? Eu morreria de qualquer jeito depois. Para que tanto medo? - O que foi?
- Eu realmente não quero te ver indo para aquela sala, - de medo foi para tristeza e seus olhos começaram a brilhar. - Eu tenho medo de ouvir o seu grito pedindo por ajuda e eu simplesmente não poder fazer nada.
- Mas nós iriamos morrer de qualquer jeito depois.
- Eu sei - ele fechou os olhos e ficou uns três minutos respirando fundo. Talvez tentando não chorar e se mostrar forte. - Mas eu tenho medo de te perder. E eu sei que vamos morrer de qualquer jeito, e eu venho sentindo mais medo ainda só de pensar que não tem escapatória, eu vou te perder amanhã. E vou morrer e nunca mais ver minha família novamente.
- Tem escapatória! Nós estamos montando um plano, !
- Não tem escapatória, ! Não para você, nem para mim! - ele estava vermelho, eu senti meus olhos arderem, mas os fechei com força em seguida. - Os únicos que vão ser salvos serão os que sobraram aqui.
- ...
- Eu... Não vou aguentar - ele me cortou, não me importei muito. abaixou a cabeça, deixando-a sobre a mesa.
- Não vai aguentar exatamente o quê? – perguntei, hesitando um pouco. Não sabia se queria ouvir, minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento!
- Eu não vou aguentar... Ficar nem cinco minutos sabendo que você está morta - e finalmente aquela lágrima que ele tanto prendeu seguiu seu caminho pela bochecha dele. Levantei-me e o abracei, ele precisava daquilo tanto quanto eu. Estávamos presos em uma bolha que estouraria a qualquer minuto, dando fim à nossa existêcia.
- Nos conhecemos somente há uns seis dias... - murmurei em seu ouvido. Era pouco tempo, nos conhecemos há muito pouco tempo. Ele não poderia sofrer tanto com a minha partida assim.
- Seis dias foram o suficiente para eu saber que você é importante para a minha vida – eu, definitivamente, vou lutar para não salvar somente aqueles ao nosso redor, mas salvar também o e a mim, que em breve poderia se tornar um nós.
Mantive o abraço com o durante bastante tempo, para falar a verdade. Eu não queria soltá-lo, sentia que não devia soltá-lo. Um barulho ecoou pelo local e viramos o rosto na mesma direção, assim como todos no local. Uma pergunta ecoou na minha cabeça. Se aquele local não tinha saída, como ele buscava suas vítimas? Como ele saía daqui? O assassino começou a andar pela cozinha, em seguida foi em direção à porta dos quartos e ele parecia dar uma geral em tudo, ver como as coisas andavam aqui. Seu rosto virou em nossa direção, não deu para assimilar muito bem se seus olhos nos encaravam por causa da máscara assustadora. Senti apertar mais as mãos em minha cintura. Logo o assassino se virou novamente, indo para seu quarto. Virei-me para , que continuava com os olhos presos a porta. Aliás, que perfil lindo...
- Como ele sai daqui para ir atrás da vítima? - perguntei, ele virou a cabeça e olhou em meus olhos para responder.
- Boa pergunta, acho que deve ter alguma outra porta dentro daquele quarto. Vai saber - ele deu de ombros.
- Então vamos descobrir agora – disse, vendo-o arregalar novamente os olhos.
- ...
- Me deixa ir, por favor. É agora ou nunca - toquei em sua bochecha, fazendo um carinho leve ali. fechou os olhos e deu um sorriso sereno, ele levou sua mão até o meu rosto e tocou em meus lábios. Logo depois levou seus dedos para meus olhos, como um pedido silencioso para que eu os fechasse. Arrepiei-me toda, mas fiz o que ele pediu. tocou em meus lábios com os seus de um jeito carinhoso e sensível, ele manteve os lábios entreabertos, somente encostados ao meu. Quando percebi que ele avançaria, quis sorrir. Ele encostou a língua em meus lábios, pedindo passagem, e eu cedi no mesmo momento. não parecia querer avançar ainda mais com o beijo, estava calmo, sensível. Não tinha jogo de verdade e consequência envolvido, não tinha nada além do frio na barriga e a sensação de alívio. De quero mais. Ele partiu o beijo com selinhos, senti seus braços me apertarem ainda mais, como se pedisse que eu não fosse. Balancei a cabeça, me soltando.
- Deixa que eu me arrisco, por favor.
- Eu não aguentaria te ver gritar por ajuda e eu não poder fazer nada, . Entendo sua dor. Me desculpe, eu volto aqui com informações.
Guiei-me para o quarto do assassino, antes de entrar, rezei para que ele não estivesse lá dentro e que a hipótese do de ter uma porta aqui dentro fosse verdadeira. Quando toquei a maçaneta, senti todos os olhares do refeitório se virarem para mim. Tentei ignorá-los, mas isso parecia um desafio impossível. Girei a maçaneta, entrando direto, como um furacão. Não esperei para fechar logo a porta atrás de mim. Respirei aliviada quando não vi o assassino em lugar algum.
Encaminhei-me para uma mesa de tamanho médio, que estava abarrotada de papeis. Algum deveria servir para que eu descobrisse informações importantes. Tinha muita folha, coisas desinteressantes, tinha nomes espalhados por todas elas. Vi o meu nome em uma folha de papel e peguei para ler.
Vítima: .
Como vai morrer: Facadas.
Uma palavra para descrevê-la: Gostosa.
Lembrete: Tentar estuprá-la antes de matar.
Meus olhos se arregalaram. Como uma pessoa pode ser tão suja assim? Senti um nojo enorme de estar ali, só de pensar que aquele monstro poderia me tocar antes de me matar com facadas...
Dei várias olhadas e achei muitas folhas como a minha. Eu não tinha muito tempo, ele poderia voltar a qualquer hora. Mas eu tinha muita curiosidade. Encontrei a ficha de Mel, e .
Vítima: Melody Thay
Como vai morrer: Serra-elétrica.
Uma palavra para descrevê-la: Gata.
Lembrete: Quero ouvir muito grito.
Vítima: Como vai morrer: Afogamento.
Uma palavra para descrevê-lo: Merda.
Lembrete: Fazê-lo desmaiar e acordá-lo quando chegar ao lago.
Vítima: Como vai morrer: Tiros.
Uma palavra para descrevê-lo: Filho da puta.
Lembrete: Socá-lo muito antes de matar.
O nojo por aquele homem aumentou muito mais. Como ele podia pensar em fazer essas coisas? Eu não poderia deixar os meninos sofrerem assim. E eu também não quero ser estuprada... Dei mais uma olhada no monte de papel que tinha ali e encontrei uma espécie de diário. Quem diria, o assassino tem um diário. Abri e já nas primeiras folhas me supreendi.
Hoje: 09/11/2008 Comprei essa porra para descontar minha raiva e frustração em alguma coisa. O merda do meu pai morreu ontem, e na minha frente. Por causa do trabalho estúpido dele. Eu sabia que ser um assassino era uma péssima "profissão". Mas as últimas palavras daquele velho gordo foram "Filho, por favor, acabe meu serviço." E, bom, a porra do serviço é matar. Não que eu não goste, na verdade, eu já cometi alguns assassinatos. Mas o meu pai fazia diferente, ele fazia direto. Eu sei que ainda não estou preparado para viver da morte dos outros. Mas eu sei que, em breve, isso será mais prazerozo do que sexo.
Hoje 08/11/2009 Exatamente um ano atrás, meu pai morreu e deixou um peso em minhas costas. Eu sinto que o meu desejo por matar está aumentando... E sinto que a humanidade precisa sofrer. Morte, morte, morte, cruz, sangue. Eu só consigo pensar nisso recentemente.
Eu não acreditava no que meus olhos viam. Quando passava as folhas, vi uma foto cair de uma delas, abaixei-me para pegá-la e era um homem com a cara fechada. Podia ser o assassino. Guardei no meu bolso e voltei a folhear o diário.
Hoje 20/08/2011 Quando era menor, meu pai fez um desenho em meu pulso com uma caneta. Ele disse que aquele desenho iria ser muito usado em minha vida e que eu deveria focar nele. Desde então, a cruz nunca saiu da minha cabeça, assim como o número dois, que passou a ser considerado o meu número favorito. Meu pai tinha dito que a cruz significava a morte e o número dois era quem eu era. Meu pai era sempre o número um e eu seu companheiro. Ele escrevia o número um e fazia o desenho de uma cruz em suas vítimas. Era como se fosse sua marca, no futuro eu também quero ter uma marca. E vai ser essa, eu sou o número dois. Por que ninguém nunca pega o lugar número um, que pertence ao meu pai.
Hoje 06/07/2013 O serviço começou.
Depois disso as folhas seguintes estavam completamente brancas. Então era isso que significava? O assassino só queria mesmo uma "marca".
Guardei o pequeno diário no meu bolso também, já me preparando para sair do quarto quando uma coisa chamou minha atenção. Atrás de várias roupas espalhadas tinha realmente uma porta, fiquei curiosa para saber o que tinha atrás dela. Meus olhos seguiram para baixo, encontrando uma arma. Abaixei-me e andei até ela, guardando-a também em meu bolso. E então eu pude finalmente sair.
- PUTA MERDA! GRAÇAS A DEUS VOCÊ TÁ VIVA! - gritou, correndo em minha direção depois que eu entrei no quarto do . Ele me abraçou tão desesperadamente que eu saí do chão. - Pensei que ele tinha te pegado.
- Você tinha que ver, ! O estava quase chorando! "Ela tá demorando muito, !" "Eu tô com medo!" "Para de me zoar!" - soltou uma gargalhada e eu o acompanhei, enquanto o corava. Fofo.
- O que você conseguiu achar? - perguntou e eu sorri para ele, o puxando pela mão até a cama de , onde o mesmo estava.
- Essa foto - mostrei a foto. - Deve ser o assassino, peguei também essa arma. - tirei a arma do bolso e eles arregalaram os olhos.
- ! - exclamou, pegando-a de mim.
- Vamos precisar, caso o assassino queira nos matar antes. E nós vamos sair vivos daqui! Bom, eu achei também um diário e descobri o significado do desenho - fez gestos com a mão para eu prosseguir. - A cruz significa morte e o dois é quem ele é. É, tipo, toda uma história. Tá tudo nesse diário - dei o mesmo nas mãos do . Enquanto um verificava se a arma tinha munição, o outro lia o diário. Aproveitei para soltar a bomba. - Ele também escreveu em um papel coisas... Sobre nós.
- Como assim?
- Vou esplicar, . Em uma folha estava escrito: , morrerá afogado, ele é um merda... - me encarou incrédulo.
- Como assim afogado!? Eu não quero morrer assim! - ele manteve os olhos arregalados e eu prossegui, hesitante.
- Na outra estava escrito: morrerá com tiros, ele é um filho da puta e eu vou socar muito ele antes de matá-lo. - me encarou pasmo, ele já sabia que ia morrer, mas... Saber essas coisas é doloroso. - E em outra estava escrito: morrerá esfaquiada, é gostosa e eu vou estuprá-la antes de matá-la... - COMO É QUE É?! - se levantou rapidamente e seu rosto ficou vermelho. - Quem esse merda pensa que é? Ele acha que pode te estuprar?
- Na verdade, ele pode fazer o que quiser. Estamos na terra dele e sem saída, . - disse. estava começando a dar medo, sua raiva cresceu de uma forma muito estranha e muito rápida. Levantei e o abracei.
- Ele não vai conseguir tocar um dedo em mim porque ele vai morrer antes - dei um selinho nele e me afastei, vendo o rosto confuso de . Isso me fez rir.
- Então esse é o plano? - perguntou e eu assenti.
- O que vocês acharam? - perguntei me levantando da cama e comecei a passear pelo quarto.
- É arriscado, mas parece infalível. - se pronunciou levantando da cama também, ele andou até mim e me abraçou pela cintura. Encostou seu nariz no meu, como se fizesse carinho.
- Er... Vou lá na cozinha beber... Água. - passou por nós, parecendo sem graça, dei de ombros e soltou uma risadinha.
- ?
- Sim?
- Você gosta de mim? - ele perguntou e, para falar a verdade, eu não entendi muito bem a pergunta.
- Claro...
- Você não entendeu. Você gosta de mim? Pra valer? - Ahn!? Eu gosto? Quer dizer, não sei. Foi um período muito curto para eu decidir isso agora. Eu não saberia responder e eu não queria magoá-lo. Mas ele me encarava apreensivo e ansioso para que eu respondesse, acho que fiquei muito tempo encarando ele sem nenhuma resposta, que ele tirou suas próprias conclusões. - Entendi.
- Mas eu não disse nada!
- Exatamente. - ele se afastou e eu me senti mal. E então um sorriso fraco e um pouco triste se formou em seu rosto. O pirou, só pode. Minutos depois voltou ao quarto e nós voltamos a falar sobre o "plano infalível".
Sétimo Dia
- Nós temos que pensar que pode dar tudo errado também! E se der? O que vamos fazer? - parecia estar mais nervoso do que eu e . Hoje seria nosso último dia de vida, então... É agora ou literalmente nunca. Tinhamos poucas horas para preparar tudo e colocar o nosso plano em ação. As pessoas a nossa volta nos escaravam como se fôssemos malucos porque estávamos sussurrando coisas o tempo todo, já que eles não podiam saber. Poderiam prejudicar o plano. Eu nunca vi uma pessoa tão insegura como o . Nesse momento, o garoto não parava de batucar na mesa e balançar a perna, e isto estava me irritando!
- Vai dar certo, ! Para de falar isso! - não consegui controlar o riso, também perdera a paciência, pelo visto. Ele me encarou curioso e eu dei de ombros.
- Mas e se... - bati minha cabeça contra a mesa, fazendo um barulho muito alto. Ele é muito inseguro, nossa. Já estava cansada de tanta desconfiança. - Desculpa.
- Nós podiamos já começar a colocar o plano em prática, a qualquer minuto o assassino pode sair daquela porta e nós teremos que fazer alguma coisa. - murmurou enquanto brincava com um dedo sangrento, esses meninos são muito estranhos.
- Verdade, podemos ser pegos de repente e ai já era. Não temos muito tempo, para falar a verdade... - me levantei para esticar um pouco os músculos da perna, estávamos sentados ali conversando sobre o plano há umas três horas, se não me engano. Daqui a pouco daria seis da tarde e... É, temos que agir logo. Fiz um sinal para os meninos me acompanharem e nós andamos lado a lado até o meu quarto. Depois de todos estarem dentro, fechei a porta atrás de mim e me encostei na mesma. Encarei os dois meninos na minha frente, apreensiva, encarava-me e em seus olhos via algo diferente. Parecia um misto de orgulho e curiosidade. Dei de ombros, saindo do quarto para pegar uma garrafa de vodka para nós. Um pouco de álcool pode nos dar mais coragem. Por um minuto senti falta de um cigarro.
- ? - o menino que estava encostado na parede olhou na direção de . Ele se aproximou e também encostou as costas na parede.
- Pode falar, ... - suspirou cansado. podia se mostrar forte diante das pessoas, mas por dentro. Queria chorar de saudade de sua familia e a quase certeza de que teria seu fim hoje. Além disso, tinha as estranhas sensações que lhe proporcionava.
- Você não acha que foi um curto período para... Você sabe...
- Na verdade, não entendi - virou seu rosto para o amigo, querendo entender aquela pergunta sem sentido.
- Não acha que foi um curto tempo para... Você ter se apaixonado tão rápido? - tentou dizer as palavras com muita calma para não assustar , mas foi em vão. O garoto arregalou os olhos na mesma hora e entreabriu os labios.
- Não estou apaixonado pela !
- "". - zombou do apelido que o amigo dera à . o encarou incrédulo, mas não aguentou e riu junto a ele.
- Não acho que esteja apaixonado, mas... Ela realmente me faz sentir coisas diferentes, estranhas...
- Isso se chama "estar apaixonado", . - o encarou com um sorriso no canto dos lábios e as bochechas um pouco vermelhas.
- Você tem razão – assentiu, olhando para a porta do quarto. - Talvez eu tenha me apaixonado muito rápido. Mas... Eu já vi em algum lugar que, quando a pessoa se apaixona rápido demais é porque... O seu amor é o seu verdadeiro futuro - deu um leve sorriso, escorregando o corpo até o chão, sendo acompanhado por . - Mas o triste é que o meu futuro é o presente. - entendera o que aquela frase significava. "O meu futuro é o presente." queria dizer que seu futuro era , e ele era o presente. A morte. Logo ela não iria estar ao seu lado para sempre. Assim como ele. Mas pelo menos iria traçar o mesmo caminho. Hoje.
- Não fala isso, cara. - o encarou com os olhos vermelhos. - Nós vamos conseguir matar aquele desgraçado. - assentiu e voltou a encarar o sangue seco que predominava na parede que um dia já foi branca.
Desencostei o ouvido da porta do meu quarto e encarei a garrafa de vodka em minhas mãos. O que acabara de ouvir? E a questão maior era: por que meu coração estava tão acelerado? Então era verdade, conseguiu gostar de mim em um período tão curto e... Sofredor. Mesmo vendo mortes e ouvindo gritos desesperados, ele conseguiu se concentrar em amar. Ele conseguiu aflorar aquele sentimento tão complexo e verdadeiro. conseguiu sentir amor diante de... Tanto desespero. Enquanto a idiota aqui, nem sequer conseguiu olhar em seus olhos. foi injustiçado por mim. Ele aguentou a minha dor e a sua própria. Em silêncio. Enquanto eu não parava de pensar em sair viva daqui, ele nem ligava para a questão "vou sobreviver, ou não?". Ele só queria passar um tempo ao meu lado, um tempo que, se fosse curto ou longo, não importava. Era só... Um tempo. Senti meus olhos arderem e meu corpo começou a tremer. A porta do corredor abriu e aparentemente todos que estavam no refeitório correram para seus quartos. Uma garota que passou correndo por mim me lançou um olhar de dó e compaixão. Sussurrando um "vou sentir sua falta". Imediatamente meus olhos se arregalaram e senti todos os músculos de meu corpo travarem. A garrafa escorregou de minhas mãos, se espatifando no chão no minuto seguinte. O assassino estava vindo? Quer dizer que... O meu fim finalmente chegara?
A porta fora aberta novamente e aquele homem alto, que usava uma máscara totalmente medonha, começou a dar pequenos passos em minha direção. O pior era que eu não conseguia me mexer, se não já teria feito algo há muito tempo. Encarei os grandes pedaços de vidro espalhados pelo chão e não pensei duas vezes para pegar o maior deles e apontar para o mais velhos. Finalmente senti minhas forças voltando à tona e um grito alto e desesperado sair de minha garganta, arranhando-a. abriu a porta do quarto com uma força tão anormal que eu pensei que a porta ia sair do lugar. Ele me segurou pela cintura fortemente e aproveitou para sair do quarto também, só que com uma arma em mãos. Eles aparentemente pisaram no vidro, já que eu via um pouco de sangue no chão. Mas eles ignoraram aquilo como se ignora a morte de uma formiga ou mosquito inocentes. deu alguns passos para trás.
- Solta ela, moleque! - fora a primeira vez que eu ouvi a voz daquele que permanecia em meus pesadelos nos últimos dias. não me soltou, ele só apertou seus braços em volta de mim, cada vez com mais força. - Eu mandei soltá-la!
- Você não irá nos matar! - gritou de volta e eu queria saber de onde veio toda aquela coragem.
O assassino soltou uma risada alta e grossa que poderia te fazer chorar. Mas isso eu já estava fazendo.
- Não vou matá-la agora, antes... Nós dois teremos uma conversinha... - ele se aproximou de mim, nos encarou com medo, sem saber o que fazer. Ele andou para trás, nos alcançando enquanto o assassino já alcançara meu rosto e fazia um carinho em minha bochecha. Senti ficar rígido e tremer. Dava para perceber que ele exalava raiva. O mais velho tocou em meu pulso e me puxou. Tomei um susto quando senti as mãos de me soltando tão facilmente, encarei-o e ele parecia estar sem forças. As lágrimas rolavam por suas bochechas vermelhas. Olhei para apreensiva e ele pareceu entender o recado, se esticou até mim e entregou-me a arma. O mais velho olhava para frente e nem percebera o que acabou de acontecer. Encostei a arma em sua nuca e ele parou de andar na mesma hora. Lentamente virou seu rosto e encarou a arma que agora estava em sua testa e meu rosto desesperado. Nós já estávamos na cozinha, ouvi passos e logo e já estavam ao meu lado novamente.
- Eu... - tentei formular alguma frase, mas minha garganta parecia que se fechara sozinha. Apertei a arma mais forte em minhas mãos e ouvi a voz de pedindo para eu atirar, mas... Eu não conseguia. Olhei para ele e pedi súplica. A risada do assassino ecoou novamente, me fazendo estremecer. Meu corpo ficou mole e eu senti a arma se afroxando em meus dedos. Fechei os olhos com medo do que iria acontecer em seguida. Mas foi tudo muito rápido. O homem deu um tapa em meu braço, me fazendo arremeçar a arma longe, ele me segurou novamente e me jogou no chão com força. correu até mim, mas o assassino deu um soco em seu rosto, fazendo-o cambalear para trás. Eu queria gritar, queria me levantar, queria ajudar, queria ter atirado... Mas eu não conseguia fazer nada. Só... Assistir. , que estava parado até o momento, talvez estivesse igual a mim, correu até para ajudá-lo. Senti o homem deitar em cima de mim e começar a tirar minha blusa com força, rasgando-a. Soltei um grito desesperador. Ele ia mesmo fazer aquilo? E fazer ali?! Na frente de ...? Gritei ainda mais por finalmente notar a situação em que eu me encontrava. No minuto seguinte, dera um soco no mais velho, fazendo-o se afastar de mim. Eu não conseguia olhar para a cena deles quase se matando. Quando consegui me levantar e correr em direção à , o abraçando com força, ouvi um barulho ecoar pela cozinha. Um barulho extremamente alto e ensurdecedor. Encarei , que levou seu olhar para mim e sorriu. Olhei em cima de seus ombros para um homem jogado no chão com a cabeça encharcada de sangue. Afastei-me dele e virei meu corpo para trás, me deparando com segurando a arma apontada ao assassino e os olhos fechados. Lágrimas escorriam pelos seus olhos. Andei em sua direção e fiz carinho em seu rosto para que ele abrisse os olhos.
- Em quem eu atirei? - sua voz estava vacilante, tremida. - , em quem eu atirei?
- Pode abrir os olhos, ... - sussurrei em seu ouvido. O garoto abriu os olhos lentamente e quando viu sorrir para ele, suspirou jogando seu corpo no chão.
Virei-me para o outro garoto e sorri, murmurando em seguida a frase que todos queriam ouvir nesse dia.
- Nós conseguimos.
Logo a porta da cozinha foi aberta e todos saíram para corredor comemorando a abraçando nós três. Pessoas choravam sabendo que iriam voltar para casa.
Encaminhei-me até o corpo jogado no chão e puxei a chave prateada que estava em seu pescoço, chamei a atenção de todos e caminhamos até o quarto do homem. Abri a porta secreta com a chave e entrei no recinto. estava ao meu lado, segurando minha mão. Fiquei surpresa ao passar os olhos pelo o que tinha atrás daquela porta. Parecia que o resto do hospício estava todo lá, o local não era nem um pouco pequeno. Tinha macas cheias de sangue espalhadas por todo lugar, milhares de corpos no chão, sangue nas paredes, armas jogadas por todos os lados... Encarei uma porta bem no final daquilo tudo e apertei mais ainda a mão do garoto. Finalmente aquele pesadelo iria acabar.
O local estava cercado por pessoas chorando, outras se abraçando e principalmente policiais. e eu conversávamos com um sobre o que passamos lá dentro. Tudo o que ocorreu com a gente. Todos aqueles dias de sofrimento... Falamos também sobre o que significava aquilo em nossos pulsos... Ouvi uma voz gritando meu nome e olhei para trás, me deparando com minha família e amigos, todos com lágrimas e um sorriso no rosto. Corri na direção deles e abracei-os em grupo. A saudade era tanta, minha mãe falava para mim coisas que eu nem entendia. Emily estava se acabando de chorar e não me largava de maneira alguma. Meus olhos percorreram todo aquele lugar, parando em um grupo de médicos fazendo curativos em quem precisava. estava sentado em um banco com um médico cuidando de seus ferimentos causados pela briga, andei em sua direção. Quando ele percebeu minha presença, um sorriso se estampou em seus lábios. Sentei ao seu lado quando o médico foi atender a outra pessoa. Ele não parava de me encarar, mas ter seus olhos presos em mim era uma sensação tão boa, que eu poderia viver para sempre assim. Ele segurou minha mão e eu achei que precisava contar que ouvira sua conversa com e eu precisava de explicações.
- ... Eu ouvi sua conversa com no meu quarto. Sobre você estar...
- Apaixonado por você? - ele me cortou, levei até um tempo para assimilar que ele completou minha frase com tanta segurança. - Eu estou. Não dá para negar - encarei seu rosto aliviado, talvez por finalmente ter colocado aquilo para fora.
- Eu queria pedir desculpa por ter meio que ignorado tudo isso...
- Você não ignorou - ele sorriu, me fazendo sorrir também. - Só demorou para perceber a verdade.
- A verdade?
- Sim, que... Eu amo você e que talvez você...
- Eu amo você - falei querendo completar a frase dele também, seus olhos se direcionaram para mim com um misto de alívio e uma felicidade que eu nunca pensei que veria em alguém. se aproximou de mim, depositando uma mão em minha nuca e a outra em minha cintura. Eu não sabia onde colocar as minhas então as deixei em meu colo. Aproximou seu rosto do meu e colou nossos lábios. A sensação parecia uma coisa nova para mim, nunca havia sentido aquilo antes. Nossas bocas tinham uma sincronia perfeita, se encaixavam muito bem. parecia querer explorar cada pedaço de minha boca. Afastei-me lentamente, conseguindo dessa vez olhar em seus olhos e perceber o tempo que havia perdido. O que eu fiz? Como eu não percebi que o amava desde o momento que o vi entrar naquela cozinha, com o rosto assustado e cortes nos braços...? Eu finalmente acordei e percebi que estava errada. Eu nunca me preocupei que iria morrer, nunca senti medo de ir embora para sempre. O meu medo, na verdade, sempre fora perder , enquanto os meus dias passavam, cosequentemente os dele também. Nunca senti medo da minha morte, meu medo era nunca mais olhar nos olhos cheios de vida desse garoto novamente...
- Eu também amo você, - e com essa frase, selamos nossos lábios novamente. Mas também selamos o amor que já permanecia em nossos corações há, exatamente, uma semana.
FIM.
Nota da Autora: SOCORRO PRECISO DE AR. Preciso comentar que eu simplesmente AMEI escrever essa short? No início era para ter umas 19 páginas, mas olhando agora no word posso comentar que tem exatamente 36 páginas e 16300 palavras. Eu sempre amei escrever, principalmente drama. Mas é isso ai, amores, eu só quero saber o que vocês acharam da short! Comentem =D. Ah! E essa é a primeira de MUITAS shorts minhas. Tô começando também uma long com uma amiga. Eu sempre vou atualizar meu status no grupo de minhas fics/shorts no facebook. Fiquem atentas lá! Despois dessa, virão muitas outras. Beijoooos!
E-mail (julia-audi@hotmail.com)
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Nota da Beta: Caso tenha algum erro nessa fanfic, não use a caixinha de comentários. Entre em contato comigo pelo twitter ou pelo e-mail. Obrigada. Xx
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