Caindo em Boas Mãos
Por Júlia Proença
(Apoio: Giulia M.)
O dia amanhecera cedo na casa dos . A luz morna da manhã fria entrava por uma fresta na cortina de , que resmungava reclamações por ter que acordar cedo e pelo barulho que Sally, sua mãe, e seus dois irmãos mais novos faziam do lado de fora da porta.
Sally e as duas crianças acordaram para que pudessem ir logo até a cidade; seria um dia cheio de ocupações. Embora o natal fosse dali a duas semanas, Sally e seu marido, Roger, gostavam de sempre fazer tudo com antecedência. Comprar presentes, enfeitar a casa, preparar cada detalhe da ceia... O espírito natalino naquela família era grande ou, pelo menos, na maioria dela. não gostava tanto do natal quanto o resto de seus parentes, afinal, motivos não lhe faltavam. Há três anos, descobrira na semana de natal que estava com câncer no intestino. No ano seguinte, na época do natal, seu irmão mais velho, com quem era muito apegado, fora mandado pra um internato na Suíça.
Depois de mastigar algumas colheradas de cereal com leite, ouvir os gritinhos histéricos de excitação de sua mãe e os comentários de Eric e Beatrice sobre os presentes que ganhariam, os quatro se mandaram para o carro a caminho de um dia cheio de compras.
Os moravam na Finlândia, em um pequeno vilarejo perto de uma cidade grande. Era uma família bem-sucedida, mas como tiveram toda uma sorte de problemas, resolveram se mudar para um lugar mais calmo. Então compraram uma pequena fazenda e se mudaram pra lá. passara três anos numa incansável luta contra o câncer, e, como em todos os casos, sua família também. Mas agora ele estava curado e bem, tentando levar a vida. O seu maior fardo era o peso da culpa que sentia em relação ao seu irmão mais velho. Desde pequeno, Richard era o favorito da família toda; seus avós, tios, pais. Richard era o capitão do time de futebol, um aluno exemplar, apegado aos pais e um ótimo irmão, até que sua atenção fora trocada e quem virara o foco era seu pequeno irmão mais novo. A saída que encontrara foi se rebelar, matar as aulas, sair no meio da noite, chegar bêbado em casa, usar drogas e vendê-las. A pior parte veio depois, quando as pessoas com quem havia se envolvido apareciam em sua porta, em busca de dinheiro ou vingança, e os riscos aumentavam a cada dia. Até que a saída encontrada por seus pais foi mandá-lo para um lugar afastado onde ele estaria seguro. De todos, quem mais sofreu foi Sally, sua mãe. Era muito apegada ao seu filho, e quando teve que deixá-lo partir, entrou em depressão. Curou-se tomando seu tempo com e seus filhos mais novos, mas falar do assunto ainda era muito doloroso. Roger também teve um papel fundamental na cura de sua depressão. Sempre fora muito atencioso e amoroso com os filhos e a esposa; acompanhou e Sally na maioria dos seus tratamentos e passou noites com as crianças pequenas, Eric e Bea, enquanto sua esposa tinha ataques. Eric era o menino caçula, tinha seis anos e era muito esperto. Bea tinha quatro, e, como crescera com e Eric, era muito inteligente e apegada aos dois.
Sally parara para abastecer o carro e ir ao banco, enquanto e seus dois irmãos ficaram no carro esperando.
Uma garotinha ajudava uma senhora a atravessar a rua, um rapaz ensinava a um garoto como colocar os adesivos de promoção no vidro da loja, os frentistas recém-chegados se cumprimentavam dentro da conveniência do posto, Sally atravessava a rua...
- ! ! Eric está dizendo que papai-noel abandonou as renas e agora ele viaja por aí numa BMW conversível. Isso é verdade?
- É claro que sim, o papai-noel é rico e tem dinheiro pra comprar várias BMW’s.
- Não, Bea, Eric está enganado. E, Eric, quem te disse que papai-noel é rico? Se ele fosse, não usaria o mesmo raio de roupa todo natal.
- Mas, , ele compra todos esses brinquedos para o Natal. Será que vamos encontrá-lo na BlackFriday? Aposto que ele aproveita as liquidações.
- Eric, de onde você tira essas coisas?
- , aquela moça, ela está... PRESTES A DESMAIAR! , ELA CAIU! – Beatrice começou a gritar no banco traseiro, e resolveu ir ajudá-la.
- Fiquem aqui, crianças.
atravessou a rua e ficou sem saber como agir. Geralmente quem era socorrido era ele, e por isso não sabia o que fazer. Como “reacordar” uma estranha no meio da rua?
- Cara, fala comigo. – deu tapinhas nas bochechas da garota, e procurou pela pulsação dela, então ela simplesmente abriu os olhos e respirou fundo, como se tivesse acabado de recuperar a respiração. A garota tinha olhos doces, mas assustados, e sua respiração era falha, mas ela se levantou rapidamente e se apresentou.
- Meu nome é , e, bem, eu costumo cair por aí com falta de ar.
- Eu sou, hã, . – estendeu sua mão num gesto amigável e sorriu, mas então se lembrou das duas crianças pequenas sozinhas no carro e saiu andando.
Esse fora o acontecimento mais marcante da manhã. Almoçaram no shopping, viram o Papai Noel, fizeram compras e mais compras, e finalmente voltaram pra casa, cansados no final do dia. Mas ainda pensava na menina e no quão estranha ela parecia. Ela disse que desmaiava por falta de ar?
- , me ajuda um pouquinho?
Roger queria ajuda para colocar luzes coloridas na varanda da grande casa.
- Você sobe aí e passa os fios pelos pregos, enquanto eu desenrolo esses emaranhados.
O vento gélido era cortante no rosto dos dois. Nessa época de ano, a Finlândia era praticamente congelada. O sol dava as caras em torno do meio dia, e o resto do dia era escuro e nevolento.
- Como foram as compras?
- Tudo beleza, pai.
- Conseguiram trazer tudo que precisamos?
- Acho que sim.
- Ótimo.
Algum tempo depois, os dois terminaram e entraram. Roger colocou mais feixes de lenha na fogueira da sala, Sally trouxe sopa, Eric e Bea montavam uma cidade de Legos e espolegava Snowball, o gato. A árvore toda enfeitada reluzia em tons de vermelho, verde, amarelo e azul, conforme as luzes do pisca-pisca mudavam. O crepitar da lareira mal aparecia em meio às conversas e risos das crianças. Então, neste momento, sentiu falta do irmão. Richard sempre lhe contava como seu dia correra; e sempre podia conversar com alguém enquanto todos estavam ocupados com seus afazeres. Eles podiam jogar bola no quintal, fazer guerra de neve e pregar peças em animais distraídos. sentia falta dos velhos tempos; queria que tudo voltasse ao que era antes.
- Venha nos ajudar a embrulhar os presentes, querido.
Sally e Roger se perdiam em meio a embrulhos e laços, enquanto a TV anunciava milagrosos aparelhos para emagrecer. sentou-se perto o suficiente para observar a agilidade da mãe em empacotar e cortar fitas, enquanto seu pai enrolava as fitas em formato de laços e cachos. O telefone tocou do outro lado da sala, e levantou-se para atendê-lo.
- Casa dos .
atendeu ao telefone indiferente, mas quando ouviu a voz do outro lado da linha, sua expressão mudou completamente. Era Richard.
- Quem era filho? – Roger se apressara em perguntar. Não estava muito ligado ao seu redor, preocupava-se apenas em embrulhar e enfeitar os pacotes.
- Richard. Ele vem para o natal.
Sally e Roger pararam de empacotar. carregava uma expressão séria no rosto, seus ombros estavam rígidos. Talvez não houvesse razões para tanta angústia ao se lembrar de Richard, mas, por algum motivo, era um assunto proibido. Ninguém ousava falar sobre Richard no dia-a-dia, e, portanto, aquela era uma notícia um tanto perturbadora.
- Ele... Foi ele quem ligou? – Sally abaixara a cabeça e recomeçara a cortar as sobras de papel-presente dos embrulhos devagar.
- Sim. Ele está liberado pra visitar a família. E ele disse que tem algo a dizer, mas que precisa ser pessoalmente.
- Que dia ele vem? – Roger voltara toda sua atenção para agora. Seu olhar o fitava desconfiado. Procurava talvez um resquício de ressentimento ou culpa, ou talvez estivesse apenas pensando em outra coisa. Algo que confirmasse que aquilo não era um sonho estranho ou um pensamento longínquo.
- Semana que vem. Ele liga antes de desembarcar.
Sally e Roger terminaram os pacotes e guardaram-nos no armário do porão. estava sentado, pensando em quando era mais novo e saudável e era próximo a Richard.
“- Vai, ! Para de ser mole, rapaz! Pega a bola, fica atento na sua defesa, arremessa!
Richard tentava ensinar alguns truques de basquete ao , já que ele era realmente ruim nisso, e seria obrigado a participar de um campeonato beneficente contra outras escolas.
- ISSO, MUITO BOM! CESTA DE TRÊS PONTOS! Pode repetir isso?
- Não sei nem como eu fiz.
- Vamos lá, , você não está tão mal assim. Vamos mais uma vez.
Richard jogou a bola para o alto e deixou pegar, já que era mais alto e velho que ele. saiu correndo pela grama e arremessou a bola em direção à cesta do meio do campo com um pulo. Na queda, se atrapalhou e caiu no chão, estatelado.
- Você está bem? – Richard correra até , rindo, mas parou quando viu a expressão de dor eu seu rosto.
- Acho que torci o tornozelo. – disse encobrindo o rosto com os antebraços pra esconder as lágrimas que insistiam em cair.
Naquela tarde, Richard e o pai correram com até o hospital e passaram boas horas lá.
- Ei, cara, você conseguiu. Não vai mais precisar jogar. – Richard dizia sorrindo pra . Só os dois estavam no quarto, e gostava do tempo que passava com o irmão. o admirava.”
- ? Você está bem? – Roger colocara as mãos nos ombros de .
- Eu, sim... Já vou dormir. Boa noite, mãe e pai.
se colocou de pé e se apressou em subir as escadas que davam no segundo andar da grande casa. Entrou no quarto e caminhou até o banheiro. Encarou-se no espelho por alguns segundos e girou lentamente a torneira, observando a água cair gradativamente à medida que abria mais o registro.
Jogou água no próprio rosto e pegou a escova de dente de dentro do copo que era mantido no canto da pia. Fazia movimentos circulares nos dentes enquanto pensava nos tempos antes de sua doença. Numa hora pensava em como todos eram unidos e felizes, em outra tinha lembranças dele e dos irmãos no balanço, no escorregador, correndo pela grama amarelada da estação.
deitou em sua cama e tentou fechar os olhos, mas um sentimento o incomodava. Não havia motivo para ficar tão chocado com a visita do irmão, mas ele estava. Estava assustado e com medo. Medo por sentir culpa. Tinha medo que o irmão guardasse rancor por ele, medo que Richard o odiasse. Essas ideias rondaram a cabeça de por toda a noite.
- Bom dia, mãe.
- Bom dia, filho. Você não parece ter passado bem à noite. – Sally servia café na xícara de , e parecia esgotada. Com olheiras fundas e olhos vermelhos e inchados.
- E você também não, mãe. – disse enquanto segurava a xícara com as duas mãos sobre os lábios. Sally soltou um sorriso fraco e triste.
- Nós somos dois bobos, não é mesmo? – Sally sentou-se em frente ao , também segurando uma xícara fumegante.
- Acho que sim. Cadê o pai?
- Saiu cedo pra cidade. Foi consertar alguma coisa no carro e ia aproveitar para comprar o que ele precisa para a operação pisca-pisca. – sorriu. A operação pisca-pisca nada mais era que uma forma boba de chamar a tradição de Roger enfeitar a casa com várias luzes natalinas. Esse ano inteiro ele passara cuidando do jardim frontal para que estivesse impecável, e estava.
- E onde estão Bea e Eric?
- Na casa de Caroline.
A manhã passou depressa. Talvez porque acordou tarde, talvez porque ele e sua mãe se ocuparam limpando o porão. Perto do meio dia, foi buscar as crianças na casa de Caroline.
Caroline era uma velha amiga de sua família. Era uma senhora de idade avançada muito doce e, agora, sozinha. As crianças adoravam visitá-la, já que os avós moravam longe demais e não eram afetivos. Caroline foi vizinha dos há muito tempo, mas se mudou faz alguns anos para a cidade. adorava o caminho que ligava a fazenda até a cidade, pois era cercado por árvores e animaizinhos fofinhos, e era um lugar muito calmo também. A casa de Caroline era um casarão antiquado e muito bem conservado, ajustado para acolher uma senhora sozinha.
- Bom dia, senhora Ferguson. Meus irmãos estão aí? – perguntou simpático pra senhora que abriu a porta com luvas de forno.
- Estão sim, , entre.
- Na verdade, só vim buscá-los mesmo, precisamos voltar para o almoço ou minha mãe ficará furiosa. – disse sorrindo.
- Então nesse caso... – Caroline fora interrompida pelas crianças que ajeitaram-se ao seu lado.
- Oi, ! – As duas disseram em uníssono.
- Olá. Vamos? – abaixou-se até ficar da altura de Eric e ajeitou seu casaco. – Digam tchau para a senhora Ferguson e agradeçam-na por aturar vocês dois. – Disse desarrumando os cabelos de Beatrice.
- Adeus, senhora Ferguson.
- Obrigada por nos aturar! – Bea esticou a mão para e Eric caminhou para a escadinha da frente.
- Até mais, Senhora Ferguson – já ia se virando para sair com seus irmãos, mas Caroline o chamou antes.
- Ah, , espere! – Ela caminhou de volta à sua sala, até um móvel, e de lá tirou um envelope. Senhora Ferguson o entregou para ele. – Quero que você e sua família venham para a ceia de natal deste ano. Todos os anos, o pessoal da rua organiza uma ceia coletiva na véspera do Natal, em que um dos vizinhos empresta a sua casa para isso, e este ano eu serei a sortuda! – Caroline riu.
- Ah. Bem, vou perguntar para a minha mãe, mas acho que estaremos aqui! Até mais, Senhora Ferguson.
Deixaram-na acenando na porta enquanto percorriam seu jardim até o portão da entrada. Quando fechava o portão, uma menina parou como quem fosse entrar. Não qualquer menina, a menina que desmaiara no chão na cidade.
- Você? – virou a cabeça, exasperado.
- Eu. – A menina respondeu com uma das sobrancelhas erguidas. – Algum problema?
- Eu só... Nunca te vi... O que faz aqui? – cruzara os braços e mudara o peso do corpo para a outra perna.
- Vim visitar a minha vó. Posso? – A garota respondeu com sarcasmo e gesticulou para que lhe desse licença. saiu da sua frente e ela passou, rindo dos movimentos mecânicos dele.
- Vem, ! – Eric voltava da metade do caminho que percorrera só pra puxar . Só então ele se deu conta dos dois sozinhos no meio das árvores.
- Eu tenho que ir, então tchau. – saíra trotando enquanto seu irmãozinho puxava sua mão.
Os dias se passaram, e e sua família ficaram mais nervosos. Finalmente o dia de Richard desembarcar chegara, e todos estavam indo para o aeroporto buscá-lo, com exceção de , que precisara ficar em casa para que Richard servisse no carro além de suas malas.
Sally, Roger, Eric e Bea esperavam ansiosos no portão de desembarque. A maioria dos passageiros desceram, mas Richard demorava a passar pelo portão cinza escuro. Eric tinha memórias vagas sobre Richard, e Bea praticamente não o conhecia, pois era só um bebê quando ele fora para a Suíça.
Sally apertava a mão de Roger com força, enquanto Roger mantinha a mão livre no bolso, mania que adquiriu para disfarçar a ansiedade. Depois de alguns minutos, o garoto, agora rapaz, caminhava simpaticamente com um sorriso no rosto em direção aos pais.
- Olá. – Richard falava com a cabeça um tanto baixa. Parecia que estava nervoso e envergonhado.
- Richard, meu filho... – Sally o encarava com os olhos incrivelmente doces cor-de-mel, como quem queria estender os braços para um abraço. – Como... Como você está?
- Estou bem, mamãe. – Os grandes e marcantes olhos amêndoa encaravam-na com fulgor, em busca de qualquer resquício de raiva ou qualquer outro sentimento parecido.
- Pai, eu...
- Tudo bem, filho. – Roger dava tapinhas no ombro do filho e o olhava com cumplicidade. – Estávamos todos esperando por você.
Richard então pareceu entender o que o pai acabara de dizer, e com uma voz esganiçada soltou a frase que o rondava desde o começo.
- Onde está o , pai? – Seus olhos demonstravam uma emoção diferente, e seu coração batia em disparada. Ele olhava em volta e não conseguia encontrar o foco de sua atenção. O desespero começou a rondá-lo e seus olhos logo começaram a encher-se de lágrimas.
- Ele está em casa, Richard.
Enquanto eles não chegavam, ficou andando de bicicleta pela fazenda, se preparando para o momento em que teria que encarar Richard. Ele percorreu o caminho para a cidade até a metade, e parou para se certificar de que o carro não estava vindo. Richard chegaria de cabelos cortados bem curtos? Provavelmente sim.
pedalou mais um pouco até se sentir cansado e resolver voltar. Ele avistou uma bicicleta lilás parada no canto da estradinha e achou aquilo estranho. nunca tinha visto uma outra pessoa andando de bicicleta pelo caminho que ligava a fazenda até a cidade, além dele.
Ele voltou a pedalar em direção à sua casa. Estava absorto em pensamentos quando ele se deu conta de que a qualquer momento seus pais voltariam com seu irmão mais velho.
- Você mora ali?
tentou brecar, e acabou caindo com a bicicleta em cima dele, no chão. Ele levantou a cabeça e olhou para a garota parada ali, no meio da estrada.
- O quê?!
- Eu vi que tem uma fazenda lá para o final do caminho. É ali que você mora? - perguntou enquanto ele se levantava e tirava a terra dos joelhos todos ralados. levantou sua bicicleta.
- Hã, é. Se importa? – ele olhou para ela para que ela desse licença. deu um passo mecânico para o lado.
subiu em cima da bicicleta e começou a pedalar. Alguns segundos depois, lá estava ao seu lado, tentando caminhar no seu passo.
- Você não quer saber o que eu estou fazendo aqui?
- Não.
- Ah, qual é. Isso não é esquisito? Você encontra a garota que você viu desmaiar no meio da rua, caminhando pelo caminho que leva diretamente até a sua casa e você não quer saber o motivo?
- É.
olhou para ele surpresa. tentou pedalar um pouco mais rápido, mas estava muito cansado.
começou a andar mais rápido ao lado dele, o observando. tentou ir mais rápido, mas não estava conseguindo. Até que ele não viu mais ao seu lado. Ele olhou para trás, e a viu, caída no chão. ficou na dúvida se parava ou não, mas desceu da bicicleta. Ele correu até ela e se agachou ao seu lado.
- Qual é, acorda. – Ele a observou, ansioso, mas continuava desacordada. deu alguns tapinhas no rosto dela e a chacoalhou de leve, já se sentindo mal por ter feito ela correr. Na verdade, ela andou mais rápido porque quis, pensou. - ?
Ela abriu os olhos de repente, o assustando. o chamou com uma das mãos.
- Chegue mais perto – ela sussurrou. olhou em volta, vendo se mais alguém via aquela cena estranha. Ele se aproximou dela. – Mais perto. - se aproximou mais ainda. segurou na gola de sua camisa e se aproximou de sua orelha, logo sussurrando: - Eu vi um esquilo.
olhou para ela, com um ponto de interrogação estampado no rosto.
- O quê?
- É, quando eu vim para a estradinha, sabe? Eu vi um esquilo e o segui até aqui. Depois eu o perdi - disse indiferente e suspirou, revirando os olhos. Ele se levantou e caminhou de volta para sua bicicleta. se levantou em um pulo e tirou a terra das roupas. – Aonde você vai?
- Para casa. Eu tenho que esperar os meus pais lá.
- Posso ir também? – ela começou a andar atrás dele, enquanto montava de novo em sua bicicleta.
- Eu deveria deixar?
- Eu não sei... Eu nunca fui a uma fazenda antes - sorriu, esperançosa. olhou para ela e a observou por um tempo, pensativo. Então suspirou e olhou para frente.
- Pega a sua bicicleta e anda logo. Eles já estão voltando e meu irmão mais velho está com eles.
sorriu e saiu atrás de sua bicicleta, o mais rápido o possível.
- A salada de batatas está ótima, Senhora .
- Sally. Por favor, me chame de Sally, querida - sorriu, enquanto ajudava a mãe de a tirar a mesa.
Richard estava em seu quarto, se instalando. estava na sala, brincando com Snowball, enquanto as crianças estavam brincando lá fora e seu pai, Roger, estava lavando a louça.
- Então quer dizer que é primeira vez que você vem para Alavus, ? – Roger perguntou.
- É sim. É uma cidade muito bonita, na verdade. – Ela respondeu.
Depois de tudo arrumado, todos se sentaram em frente à TV e começaram a assistir um filme qualquer. Richard e tinham conversado bem pouco, mas ao menos ele tinha certeza de que o irmão não guardava rancor dele. também se sentou no sofá, e depois de falar, e falar, e falar, e falar, o dia começou a escurecer e ela teve que ir embora. a acompanhou até ao portão da fazenda e quando ele voltou para dentro de casa, seu pai estava sorrindo para ele, e ergueu o polegar, dizendo “Isso aí!”.
- Ela é muito bonita, querido – sua mãe disse, quando veio até ao seu quarto dar as roupas já lavadas para ele.
- Quem?
- , oras.
- Ah. É, é verdade. - estava mexendo no celular.
Sua mãe olhou para ele e jogou uma das cuecas dobradas em seu rosto.
- Vê se aproveita, poxa – Sally deixou o quarto. tirou a cueca do rosto e olhou para o espaço onde antes a mãe estava e deu de ombros, sorrindo.
Os dias passaram rápido. Richard e se entendiam melhor que nunca. Eric e Bea podiam correr pelo quintal o dia inteiro sem problemas, já que agora Richard os olhava a cada minuto. conhecera melhor , e descobrira que eles eram muito parecidos e isso os deixara muito próximos. Roger terminara sua decoração no jardim da frente, e Sally decidira que ele iriam para a ceia na casa da senhora Ferguson, assim todos da rua dela seriam convidados.
Richard e jogavam futebol pela manhã, enquanto Eric e Bea gostavam de brincar no balanço feito com a ajuda de Roger.
- Ei, , você melhorou muito nos últimos anos.
- Obrigado, eu tenho treinado.
Então era véspera da ceia, e Sally havia preparado o jantar preferido de : frango com batatas. Todos sentaram-se à mesa, e começaram a se servir. Richard se colocou de pé, e então se pronunciou.
- Eu gostaria de dizer algo. – Dizia com a voz calma e suave. – Tenho pensado nisso há algum tempo, e gostaria muito de ter o apoio de todos vocês. Eu... Vou entrar para o exército.
Sally prendera a respiração inconscientemente. Roger encarava com frieza o copo de suco de uva pela metade. Beatrice chacoalhava os pés sem sequer ligar pros outros à sua volta, e Eric formulava alguma coisa pra dizer. Por fim, seu comentário chegou:
- Acho melhor você levar muitos pacotes de Oreo’s então. Ouvi dizer que a comida de lá não é tão boa quanto a da mamãe.
Isso tirou a atenção de Richard, e segurava o riso com a boca cheia de comida. Sally e Roger olhavam o filho mais novo pasmos com o comentário, e Eric apenas continuava a mastigar sua comida calmamente.
- Você tem o meu apoio, filho. – Roger se posicionara em frente a Richard e estendia-lhe a mão para um aperto.
- O meu também. – Sally sorria-lhe fraco sentada na outra ponta da mesa.
acenou-lhe com a cabeça, e Richard respondeu-lhe com um piscar dos dois olhos. Assim que todos fizeram seus comentários e o assunto se dissipou, terminaram de comer e foram até a cozinha ajudar Sally com a louça e a bagunça.
O dia amanheceu cedo para todos em Alavus. Os vizinhos ajudavam-se entre si num ritmo fervoroso. estava com ajudando Caroline a preparar sua parte da ceia, enquanto Eric e Bea brincavam de limpar o quintal com Richard.
tinha 16 anos e sofria de problemas respiratórios por culpa de um pulmão mal-formado. Às vezes desmaiava por alguns segundos pela falta de ar e então precisava da ajuda de um cilindro de oxigênio para se recompor. Ela e eram realmente muito parecidos, gostavam das mesmas coisas e se entendiam muito bem. era a única parente viva de Caroline, pois sua mãe morreu há três anos num acidente de carro. Desde que se conheceram de verdade, e não se desgrudavam.
Roger reajeitava as luzes no jardim no final da tarde, e Sally e as crianças levavam os pratos até a casa da senhora Ferguson. Todos pareciam felizes com o resultado de seus esforços, e não estava diferente. Ajudara a decorar e a cozinhar, e isso o fazia muito satisfeito. Muitas pessoas chegavam com presentes e comida.
Então chegou a hora da ceia.
Todos estavam sentados na grande mesa. Joffrey, um dos vizinhos da rua, se levantou e pigarreou alto o bastante para fazer com que as conversas paralelas da mesa se calassem e todos prestassem atenção nele.
- Eu quero dizer algumas palavras antes de comermos este maravilhoso peru que a Caroline teve a bondade de assar para nós. - Ele olhou para a Senhora Ferguson sorrindo. - Bom, eu queria agradecer aos meus pais, por terem deixado eu morar sozinho; aos meu filhos, por terem se comportado hoje; a Caroline, por ter organizado tudo nesta noite e a minha ex-mulher, Jenna, por ter me deixado. Jenna, vai se foder. Feliz Natal, pessoal!
As pessoas demoraram, mas aplaudiram o discurso... Diferente de Joffrey.
A ceia seguiu calmamente enquanto todos comiam. A fartura fez todos ficarem com os olhos maiores que a boca, isto é, comeram até não aguentar. Algumas pessoas só comiam, outras riam, outras conversavam e outras olhavam pro nada, paradas, porque já haviam acabado de comer. Assim que todos acabaram, a conversa continuou até o cansaço bater e aí sim começaram a se levantar e se despedir. Na verdade, foram todos pra sala com suas taças de bebidas ou refrigerantes e fizeram um brinde àquele momento. Era lindo ver tudo em harmonia e eles agradeciam internamente por ter passado o natal com as melhores pessoas, que, por sorte, eram seus vizinhos. Assim que saiu da casa, Joffrey viu que estava nevando. A neve começou a cair mais rápido e todos pararam para apreciar aquela bela paisagem. E então, eles agradeceram mais uma vez por morarem naquele lugar. Alavus era a cidade que todos mais gostavam, e até quem iria embora daquela cidade, estava agradecendo por ter morado ali e descobrido o que era felicidade. O melhor natal de suas vidas havia acabado naquele momento.
Beijando o Destino
Por Thami Sanchis
Depois de uma longa noite de sono, estava acordando. Não fazia a mínima ideia de que horas eram, apenas sabia que estava sozinha em casa, pela falta de barulho na mesma. Sua janela estava fechada, mas uma parte da cortina aberta a fazia ver que o dia estava um pouco melhor que o dia anterior – havia caído uma nevasca na cidade de Alavus.
Não demorou muito pra sair de sua cama e ir para o andar de baixo, onde ficava a sala de estar e de jantar e também a cozinha. Logo estava sentada no sofá assistindo qualquer coisa na televisão enquanto comia torradas. Sabia que era tarde, mas não ligava muito. Estava acostumada a comer tarde nas férias. E por mais que estivesse consciente de seus atos, sabia que algo estava errado. Sentia que tinha algo pra fazer naquele dia e estava esquecendo.
Não deu tempo pra ela pensar muito, já que o telefone de sua casa estava tocando. Esticou-se um pouco para acabar com o barulho que vinha da mesinha ao lado sofá, que, no caso, ela estava sentada do lado oposto, e atendeu.
- Alô? – Terminou de mastigar e escutou a voz de sua tia.
- ? – Amelie falou.
- Oi, tia. Sou eu mesma. – Sorriu um pouco, por mais que sua tia não pudesse ver.
- Ah, sim. – Pigarreou e continuou: - Só liguei mesmo para te lembrar da festinha do Theo. Não esqueça que marcamos de você passar aqui pra irmos juntas.
- Oh! É mesmo. – confirmou que tinha algo pra fazer e deu um tapa leve em sua testa. – Pode deixar, tia. Não irei faltar. – Sentou-se no sofá melhor. – Que horas fica melhor?
- Bom, a festa começa às 16:00, então seria bom se você chegasse às 15:30, tudo bem? – Falou meio longe, parecia estar dando atenção pra outra coisa ao mesmo tempo.
- Tudo bem. Vemo-nos mais tarde. Um beijo. – desligou o telefone e o colocou no gancho, voltando-se à outra ponta do sofá e comendo sua última torrada.
Assim que terminou de ver um desenho qualquer na televisão, desligou-a, e foi até a cozinha deixar o pote de torradas lá. Logo que virou pra uma parede pôde ver o relógio que marcava 12:30. Não se importava de desperdiçar sua manhã dormindo. Aliás, não dormir que é um desperdício.
Foi até seu quarto e escolheu uma roupa um pouco mais fresca já que o tempo dera uma trégua. Pegou uma calça de strass preta, uma blusinha de seda branca e seu casaco de lã azul. Tomou um banho, escovou seus dentes, e calçou uma pantufa. Não teria o que fazer até a hora de ir. Pegou seu notebook e sentou-se em sua cama. Sem se importar, passou uma hora ali, e só se levantou para descer e preparar algo pra almoçar. Fez um macarrão instantâneo que achou no armário da cozinha e comeu vendo um de seus filmes preferidos: O melhor amigo da noiva. Num dos intervalos viu o horário: 15:10. Correu para seu quarto, escovou o dente o mais rápido que pôde e se agasalhou. Colocou sua sapatilha preta e checou se seu celular estava em seu bolso. Assim que confirmou, desceu correndo as escadas, e ficou mais tranquila em ver que fez aquilo tudo em cinco minutos.
Já na rua, apreciou um pouco aquele tempo um pouco menos frio e sorriu ao ver algumas crianças tentando fazer a neve do dia anterior “reviver”. Não se atrasou pra chegar à casa de sua tia. Sem demoras, pegou Theo no colo e sua tia Amelie abriu um largo sorriso vendo que sua afilhada estava cada vez mais bonita.
Não foi necessário um carro, já que o salão que fora alugado ficava a apenas dois quarteirões da casa de Amelie. Foram andando e enquanto isso foi se distraindo com seu priminho de quatro anos.
Chegaram ao lugar e o colocou no chão. Deu a mão a ele e entraram no salão. Este tinha suas paredes pintadas de branco e também havia alguns enfeites de natal. Era uma festa de fim de ano feita pela escola que fazia isso todo ano. Todas as crianças do maternal até o jardim 3 faziam uma apresentação com um tema do natal. Theo, que pertencia à última turma, teria que colocar uma roupa de Papai Noel e estava empolgado por aquilo.
Amelie e se direcionaram a uma mesa que estava perto do lugar onde seria a apresentação e trocaram poucas palavras. Na verdade estavam mais interessadas em ver as crianças chegando e comentar como elas eram fofas.
Depois de dez minutos uma das professoras chegou perto delas.
- Olá! Quanto tempo que não te vejo, ! – Aquela era a professora Taylor Roberts. Ela deu aula pra toda família , a qual tinha , o irmão dela Francesco, o primo James e mais uma prima de segundo grau. – Como vão seus pais?
- Oh, vão bem. – Sorriu amigavelmente para a professora que sentara numa das cadeiras acopladas à mesa.
- E você, Amelie? Como vai o Theo? – Falou Taylor, mas ainda olhando para . Ela estava enorme e cada vez mais bonita. Nem acreditava que um dia dera aula pra ela.
- Theo está muito bem. Não para de falar do natal. – Amelie comentou rindo um pouco. – Mas como vai seu filho? Não o vejo faz quase um ano.
- Ele estava por aí. Acho que saiu pra atender o celular, mas já deve estar voltando. – Falou virando um pouco o pescoço para procurá-lo.
Depois de mais alguns minutos conversando, Taylor sentiu a presença de alguém atrás dela e virou seu rosto. Assim que viu seu filho abriu um sorriso.
- Meu Deus! Como está grande! – Amelie disse e pôs a mão na boca, enfatizando que ela estava desacreditada.
- Sente-se, filho. – Taylor falou puxando uma cadeira, a qual sentou-se.
estava quieta apenas escutando a conversa. Lembrava-se um pouco dele, mas nunca havia prestado atenção no mesmo quando eram mais jovens. Já ele estava fingindo que ela não estava o olhando e fitava outro lugar.
- Acho que já está na hora da apresentação do maternal. Vou ajudar as outras professoras e já volto. – Taylor pronunciou-se quando viu que já não tinha mais nenhuma professora pelo salão.
Amelie tentou puxar mais algum assunto, mas nenhuma das outras pessoas da mesa – vulgo e – estavam colaborando. Logo que a primeira turma começou a apresentação, ela virou sua atenção para a mesma e deixou os dois ali na mesa, já que preferia ver as crianças dançando. Eles esperavam pela turma de Theo já que nas outras turmas não conheciam nenhuma criança.
Taylor reapareceu com mais uma turma e fitou o filho como se o mandasse falar algo. Ela adorava e adoraria se seu filho virasse amigo dela. O que custava ele começar uma conversa?
- Hm... – virou seu rosto pra , que fitava as mães que filmavam as apresentações, e ela virou o rosto pra ele pensando que o ouvira falar algo.
- Falou algo? – Disse sem importância. Por mais que não transparecesse, estava meio deslocada.
- Não. – Explicou rápido por estar envergonhado. Nunca tivera problemas pra falar com garotas, mas não se sentia confortável ali.
Os dois voltaram a olhar para as mães e puderam ver Taylor coordenar algumas das pequenas crianças na dança. Ela fazia movimentos com a mão e tentava dançar como nos ensaios, mas parecia mais um boneco de fantoche. Eles não aguentaram e começaram a rir baixo. Quando repararam estavam se olhando e já riam alegremente. Sem nenhum receio.
Com o clima um pouco ameno, tomou coragem e tentou uma conversa de novo.
- Então, você já faz faculdade? – Olhou para baixo depois de falar.
- Uhum. – o copiou, fitando a mesa. Voltou o olhar para o rosto dele e se acomodou na cadeira direito. – E você?
- Também. – Sentiu-se um pouco menos desconfortável e também se ajeitou na cadeira tentando passar uma impressão melhor. – Comecei esse ano. – Olhou-a melhor e foi mais direto. – Você faz o quê?
- Psicologia. E você? – Já se sentia mais a vontade e não hesitou mais em falar.
- Engenharia. – Sorriu um pouco. – Sempre gostei de exatas, acho que me dou melhor nessa área. – Não sabia o que dizer, mas achou que não mandou tão mal.
- Entendo. Eu já prefiro humanas e linguagem. Gosto de analisar as pessoas. – Nesse momento eles se olharam no olho e por incrível que pareça não se sentiram constrangidos.
- Mas antes você estudava em outra escola, não? – pigarreou.
- Uhum. Sai da Stevens School e fui pra outra chamada Saint Ethieny Academy. Conhece? – Falou levemente.
- Já ouvi falar, sim. Acho que devo conhecer alguém de lá. – Sorriu de novo. reparou o quanto o sorriso dele era bonito.
- E você? Estudou aqui sempre? – Deu-se a liberdade de sorrir igual a ele. Sinceramente.
- Sim. Só quando eu era pequeno mesmo, lá pelos três anos, que eu estudava numa escola mais distante. Nem lembro o nome. – Riu um pouquinho e virou seu rosto para multidão de pessoas. Mais uma turma estava se apresentando e logo depois dela viria a turma de Theo.
- Ah, sim. – acompanhou o olhar dele e viu sua tia pulando animada enquanto terminava de ver a apresentação e esperando seu filho aparecer. Um minuto se passou e a última turma apareceu.
- Acho que a turma do Theo é agora. Vamos? – empurrou a cadeira pra trás um pouco e levantou-se. Olhou para ela e esperou a resposta.
- Ah, sim. – sorriu e levantou imediatamente.
Foram para onde Amelie estava e ela, reparando que eles estavam ali, olhou para trás e sorriu. Sorriram em cumprimento e olharam pra frente vendo a professora de Theo organizar os lugares das crianças. Theo ficou quase em frente a eles e o sorriso de Amelie permaneceu durante toda a apresentação. e também estavam animados e sorriam que nem bobos, às vezes se olhando. Parecia que já era para eles terem se conhecido. Não sabiam o motivo de nenhum dos dois terem reparado no outro na adolescência. Só agora, já fazendo faculdade, que houvera outra oportunidade. Pelo menos houve.
Acabou a apresentação e aplaudiram a turma. Assim que todas as pessoas se acalmaram, pegaram seus devidos filhos e foram para a mesa mimar e babar um pouquinho neles. Taylor pegou sua afilhada que era da turma de Theo e sentou-se com as mulheres da família também.
- Quer ficar um pouco com a prima? – Amelie estava com Theo em suas pernas e não aguentava mais aquele peso, por isso queria deixá-lo com , por mais que pensasse que estaria abusando um pouco. – É só pra eu pegar um copo de água, tudo bem? – Falou já com e deixando-o na perna dela.
- Uhum. – Ela colocou um sorriso falso no rosto, mas logo virou o rosto para Theo, fazendo virar o sorriso, antes falso, em verdadeiro.
ficou observando brincando com a criança, mas depois de alguns minutos sua mãe o chamou para uma conversa e acabou brincando com sua prima Cleo também.
- Vocês podiam levá-los nos brinquedos, não? – Taylor falou se referindo à e e eles gostaram da ideia, já que estavam ficando cansados e também poderiam deixar as crianças brincando sozinhas, já que tinha brinquedos não tão perigosos e professoras naquela área.
Foram até o lugar recomendado e puderam ver que era maior que esperavam. Havia uma cama elástica e alguns brinquedos comuns.
Theo e Cleo saíram correndo e deixaram os dois lá sem falar nada. Já não se sentiam tão desconfortáveis, mas ainda assim demorou pra surgir um assunto. Para não perder oportunidade, sentaram-se num banquinho ali perto e falaram de coisas comuns. Das aulas que tinham na faculdade, dos amigos que perderam depois da escola e sobre como era ruim ter que admitir que crescer era difícil.
Sem perceber, já estavam falando do pouco tempo que tinham pra sair por causa dos estudos e também do lado bom disso, já que não tinham realmente algo útil para fazer já que os dois não tinham muitos amigos.
- Ah, mas não faz mal sair. Às vezes nos sábados de manhã eu ando um pouco no parque. Acho que criei esse costume. – falou.
- Poderíamos aproveitar pra sair. – falou sem querer, mas ao mesmo tempo em que não queria falar aquilo, sua mente sim processava a informação. Mesmo assim tentou consertar. – Claro, só se você quiser.
não sabia o que dizer, já que não saía com um cara há algum tempo. Mas não iria negar que a companhia dele era boa. Além disso, precisava sair um pouco mesmo. Toda aquela rotina já estava a matando.
- Que isso... Estou precisando sair mesmo. Aceito seu convite. – Sorriu sem graça e viu aquele sorriso sincero aparecer novamente no rosto de .
- Então, me passa seu número para gente não perder contato. – Ele falou tirando seu celular do bolso e checando o horário entregou-o a ela.
- Ah, sim. – pegou o celular e anotou o número do celular dela. Passou o dela pra ele e o olhou para ele entender o que ela queria e ele fez o mesmo.
Começaram a falar de modernidades e nem perceberam o tempo passar. O assunto rendeu tanto que só perceberam que era 18:00 quando uma das professoras apareceram com Theo e Cleo e entregou a eles. Repreendeu-os pelo o olhar e avisou que as crianças estavam correndo entre as mesas. Eles riram daquilo quando a mulher saiu e ficaram brincando com as crianças um pouco. Logo estavam cansados e voltaram para a mesa.
- Meu Deus! Theo está imundo. – Amelie abriu a boca em sinal de espanto e fez todos dali olharem para ele.
Começaram a rir quando repararam que Cleo também estava da sujinha e botaram a culpa em e . Naquele momento perceberam que já estava na hora de ir embora já que até as estrelas já estavam aparecendo.
- Acho que está na hora de ir, né? – Amelie disse com Theo ao seu lado comendo um brigadeiro.
- Está, sim. – Taylor falou e reparou que seu filho ainda tagarelava com . Sorriu de lado e ficou feliz por eles. Pegou sua bolsa, botou no ombro e chamou seu filho para eles irem.
Todos foram até a porta se despedindo das poucas mães que ainda estavam ali e quando chegaram a porta seguiram caminhos diferentes. Os acenos duraram até as esquinas onde as duas famílias viraram. também se despediu de sua tia e foi para sua casa.
Assim que chegou a casa, percebeu que estava sorrindo desde o momento que saíra do salão. Foi pro quarto e deixou o celular em cima da cama, logo entrando no banheiro e tomando um banho. Theo também tinha a sujado.
Logo depois colocou uma roupa confortável de manga comprida e desceu para preparar um sanduíche quente e um copo de cappuccino. Era tudo o que ela precisava agora além de terminar de ver “O melhor amigo da noiva” já que não tinha terminado de ver mais cedo. Deu um jeito de encontrar na internet e depois de comer o que tinha preparado acabou dormindo. Acordou no final do filme porque o barulho da televisão, a qual o computador estava conectado, a incomodava e aproveitou para deixar o prato e a xícara que tinha utilizado na pia da cozinha.
Assim que desceu as escadas ouviu um barulho na porta e viu sua mãe passar pela mesma.
- Oi, filha! – Falou sorrindo deixando sua bolsa na cadeira da mesa de jantar.
- Oi, mãe! – Cumprimentou-a do mesmo jeito e depois de colocar a louça na pia, deitou-se no sofá procurando o controle da televisão. Assim que achou, ligou-a e ficou procurando algo pra ver.
Enquanto isso sua mãe estava preparando um jantar para elas, como todos os dias ela fazia. Seu irmão logo apareceu e confirmou o que ela achava: passou o dia com os amigos. Não se importou muito. Já havia se acostumado com aquela rotina.
Os dias foram passando e continuou com a mesma rotina, esquecendo-se completamente de qualquer compromisso, mas às vezes lembrando do sorriso de . Seria impossível esquecê-lo depois daquele dia que se conheceram.
Depois de escutar durante uma semana sua mãe quase implorando para que ela saísse de casa um pouco, acabou a escutando e combinaram de sair num sábado já que sua mãe não trabalhava em finais de semana. Aprontou-se e resolveram ir ao shopping.
Passaram em frente de milhares de vitrines, mas ao menos se importava com o que via. Achava tudo chique demais ou fora de moda. Sentaram-se numa lanchonete e comeram fast-food como todas as vezes que queriam sair do regime rigoroso que sua mãe tinha posto na casa. A própria Sra. Rachel não se importava com algumas batatas fritas, um hambúrguer e um copo de refrigerante.
Logo que acabaram de comer o celular de começou a tocar. Nunca recebia ligações e espantou-se em ver que era . Controladamente atendeu e fingiu não estar com vontade de sorrir.
- ? – Ouviu a voz dele.
- Oi. – Finalmente sorriu sem se importar.
- É o . Tudo bom? – Falou pensando que não tinha sido identificado.
- Oh, está tudo bem sim. E com você? – Perguntou interessada.
- Tudo muito bem. – Hesitou um pouco, mas perguntou logo o que tinha em mente desde o momento que pensou em ligar para a menina. – Você... Gostaria de sair comigo?
- Hm... –Mordeu o lábio inferior e olhou para sua mãe que agora prestava atenção numa vitrine que tinha ali perto. Então respondeu: - Sim, sim. Quando? - Empolgou-se.
- Se eu te disser que estou no shopping e que te vi aqui, você acredita? – Falou engraçado e rindo um pouco.
- Sério? – Ela riu junto e continuou a falar. – Onde você está?
- Na entrada. Já estava de saída, mas lembrei de que te vi e queria saber se não queria tomar um sorvete. – Falou rapidamente desconfiando que pudesse escutar um não.
- Tudo bem. Só preciso avisar a minha mãe. Encontro-te aonde? – Falou se movimentando já levantando da cadeira e chamando a mãe com a mão.
- Pode ser perto da praça de alimentação? – falou também andando para lá.
- Ok. Estou indo pra lá. Até mais. – Desligou após ouvir um “até” e virou seu rosto para sua mãe que continuava analisando vitrines. – Mãe? – Chamou-a.
- Oi, filha. – Virou o rosto bruscamente e depois de alguns segundos sorriu.
- É que um amigo meu encontrou-me aqui no shopping e queria saber se eu podia tomar um sorvete com ele. – Sem esperar uma resposta continuou. – Tudo bem para a senhora, né?
- Claro! – Sorriu contente. – Mas depois quero saber quem é esse rapaz. Não sabia que você tinha amigos homens.
- Está bem, mamãe. – Sorriu abraçando-a. – Te vejo no estacionamento daqui a uma hora. – E saiu andando em direção à praça de alimentação.
Não demorou muito para se encontrarem e já estavam se falando. Pareciam outras pessoas. Parecia que eles já tinham se visto pelo menos umas dez vezes e que já eram íntimos. E os dois adoraram aquilo.
- Estava aqui com sua mãe? – perguntou sentando-se num banquinho que ficava no meio dos corredores enquanto tomava um pouco de seu sorvete.
- Uhum. – fez o mesmo e lembrou-se do que combinou com sua mãe. – Em falar nisso, tenho que encontrá-la daqui a pouco no estacionamento. – Pegou mais um pouco do sorvete e tomou, vendo a observar. Corou mas ainda pôde escutar o que ele disse.
- Ah, então já tem que ir? – Focalizou seu olhar na loja da frente e tentou tirar os lábios dela de sua cabeça. Como saía com uma menina pela segunda vez e já queria beijá-la?
- Não. Marquei faz quinze minutos então acho que ainda tenho pelo menos quarenta e cinco restantes. – Riu um pouco e ele, feliz, sorriu.
- Então vamos andar um pouco. – Puxou-a com uma mão livre e sentiu sua mão gelada em contato com o antebraço dela quente. Ela fechou os olhos e seguiu-o.
Sem mais nenhuma situação constrangedora, o passeio não demorou muito e quando foram perceber já estavam no estacionamento se despedindo. Haviam conversado bastante e arriscariam falar que se conheciam há pelo menos um ano. Não se importaram muito com a despedida, assim como a primeira vez que se viram. Estranhavam, mas sabiam que iriam se ver novamente. Por isso não tinham receios com momentos de adeus.
foi embora primeiro no seu carro e esperou sua mãe aparecer com algumas bolsas. Foram conversando sobre qualquer coisa e quando chegaram a casa, Rachel se lembrou de perguntar sobre o rapaz que havia encontrado.
- Quem era o rapaz? – Perguntou sem demoras enquanto abria a porta de casa.
- Um amigo. – falou meio incomodada. Sua mãe nunca fora de se intrometer na sua vida e não achava necessária aquela conversa que se seguiria se ela não parasse. Viu o olhar de sua mãe a repreendendo e continuou. – .
- É alguém que conheço? – Rachel falou forçando a memória, pois tinha certeza que conhecia aquele nome.
- Uhum. Ele é filho da professora Taylor. – Tirou a bolsa de seu ombro e a esparramou no sofá logo acompanhando seu corpo.
- Hm... – A mãe a espiou de rabo de olho e abriu um sorriso de lado. – Tem alguém aqui me escondendo alguma coisa? – Falou virando-se para filha e sentando-se noutro sofá.
- Só se for o Francesco porque eu não sou. – Odiava sua mãe a fiscalizando. Ela não tinha mais 16 anos. Não saía beijando qualquer um. Não que ela já tenha feito aquilo um dia, mas já teve suas épocas.
- Sei, sei... – Viraram-se para televisão e deram atenção pro programa de culinária que passava.
subiu pro seu quarto e ligou seu computador. Foi direto pro facebook e não encontrou ninguém legal o suficiente para uma conversa online. Resolveu procurar, hesitando um pouco, mas enfim o fez, na rede social e o achou. Reparou no como ele era bonito e o adicionou. Não esperava que ele aceitasse o pedido de amizade rápido, mas depois de quinze minutos pôde ver a confirmação. Fez o que qualquer garota fazia e viu algumas fotos dele. Não encontrou nada comprometedor e nem rastro de namoradas. Sorriu contente e desligou o computador. Deitou o corpo na cama e pensou nele de novo. Mal esperava para vê-lo novamente.
Mais alguns dias se passaram e os dois estavam na mesma situação. Pensavam um no outro pelo menos três vezes por dia e imaginavam o dia que se veriam novamente. Mas como já tinham percebido, se eles não fizessem nada, talvez o destino mesmo se encarregasse daquilo.
As férias se passaram, junto com ano novo, e logo quando perceberam voltou-se os dias de estudo. Como se fosse apenas um acidente encontraram-se numa das sedes da mesma faculdade. Na verdade, tinha amigos na faculdade dela e resolveu passar lá para não só vê-los, mas ela também.
Depois daquilo não pararam de se ver. Saíam toda sexta-feira, às vezes com a turma de amigos e às vezes só com a companhia um do outro. Conheciam-se cada vez mais e tinham a certeza que estavam apaixonados.
Numa ocasião dessas, resolveram ir ao cinema e acabou rolando o bendito beijo que pensaram que nunca aconteceria tamanha a falta de jeito que tinham para que aquilo acontecesse. E como se fosse esperado, todo desejo que tinham um pelo outro não durou só ali como também nas idas de na faculdade de e vice versa.
Todo dia que ia dormir, se lembrava dos lábios dele e de como gostava de estar perto dele. E também pensava no dia que seria pedida em namoro. Era impossível não pensar naquilo.
Depois de tanto esperar, no dia do seu aniversário, 14 de abril, escutou a pergunta que tanto a incomodava e ao mesmo tempo fazia a sua barriga remexer de nervoso.
“Quer namorar comigo?” perguntou aquilo quando a levara para um restaurante mais sofisticado. Tudo estava perfeito e ela pensava que nada podia melhorar. Pois melhorou. a levou para casa e deu um anel de compromisso pra ela. estava radiante e abraçou sua mãe tão feliz que foi impossível não dar a notícia. Ela estava oficialmente namorando!
As ligações eram frequentes, os batimentos cardíacos não podiam ficar mais acelerados, e as mãos suavam a cada vez que se tocavam. Estava tudo perfeito demais. Temiam por alguma coisa. Por qualquer coisa. Por isso sempre estavam lá, cheios de amigos e sempre juntos um do outro. Aproveitaram o quanto podiam e não iam desperdiçar tempo por bobagens.
- Precisamos conversar. – Foi o que escutou no dia 24 de setembro. Fazia dez dias que tinham completado cinco meses de namoro. Tudo estava a mil maravilhas até escutar aquela frase.
- O que aconteceu, ? – Era o apelido de e por mais que o clima estivesse meio estranho, tentou amenizar.
- O meu pai... Ele quer se separar da minha mãe. – Falou olhando para baixo, sentada na escada de sua casa. pegou a mão dela e a fez olhar nos olhos deles.
- Mas o que isso interfere no nosso namoro? – Ele perguntou calmamente. Eles estavam sozinhos na casa, já que os pais de estavam trabalhando e Francesco estava estudando na casa de uma “amiga”.
- Ele quer levar meu irmão com ele para outra cidade. – Ela falou com lágrimas nos olhos. – E minha mãe também quer se mudar. Ela diz que não quer mais morar na casa que eles estiveram tantos momentos felizes juntos. – Agora as lágrimas já caíam. passou seu polegar na bochecha dela tirando as lágrimas dali e a aninhou em seus braços.
- Você podia tentar falar com eles. Pergunta se você não pode ficar com a casa. Ou comprar um apartamento por aqui. – Falou afagando os cabelos da menina.
- Eu vou tentar. – Tentou acalmar suas lágrimas. – Mas eu tenho tanto, tanto medo de ficar longe de você. – Abraçou-o mais forte.
Ele segurou o rosto dela e colocou na sua frente, assim tendo a liberdade para beijar-lhe os lábios. O beijo parecia calmo, mas quando percebeu estava sentada em suas pernas com as pernas dela envolta de sua cintura. O frio que fazia já fora substituído por um calor que só subia. O medo que eles tinham de ter de se separar foi substituído pelo desejo carnal que eles ainda não tinham vivido.
segurou na cintura dela firme e levantou-se com ela em seus braços e foi andando pra trás no corredor do andar de cima. Logo estavam entrando sorrindo no quarto dela e assim que a porta se fechou eles tinham certeza que o que mais queriam era aquilo. Queriam viver pra sempre juntos e os pais de não impediriam isso.
Depois de viver um dos melhores momentos de suas vidas, caíram cansados na cama e abraçaram-se tão forte que poderiam sentir que eram um só.
- Eu te amo. – Os dois falaram juntos pensando que aquela era a hora para dizer as três palavras que eram tão difíceis de sair de sua boca num momento comum. Começaram a rir, e olharam diretamente dentro do olho do outro. Os lábios tornaram-se num sorriso mais calmo e assim que iam se tocar os dois sussurraram: - Eu também te amo.
O dia acabou tão lindo que eles mal esperavam pra que falasse logo com Rachel e William. E foi o que ela fez no dia seguinte. Rachel não podia dizer não. Sua filha já era independente, tinha 21 anos e tinha o direito de comprar um apartamento. Mas William não gostava daquilo, por ter no meio. Ele sabia que de uma maneira ou outra eles iriam querer morar juntos e tinha medo de ser cedo demais. Ele era seu pai e também tinha o direito de se preocupar. Mas não de tomar decisões no lugar dela.
Os dias foram se passando e tinha quase a certeza que seu pai não iria ceder. Por mais que ela fizesse tudo que ele pedia, ele parecia perceber qual era o objetivo de com todos aqueles “mimos” pro pai.
Assim que novembro acabou, o clima de natal foi reacendido e e não podiam ficar mais felizes. Fazia um ano que tinham se conhecido e o clima era de festa. A senhora Caroline estava planejando a ceia da rua e a família tinha convidado para participar. O que ele e não esperavam era a surpresa que os pais dela estavam tramando.
Então, 24 de dezembro chegou. William, o pai de , por mais que estivesse decidido de que iria se mudar, ainda comportava-se amigavelmente com Rachel, por isso fez o que fazia todos os anos. Assim que deu 19:45, foi buscar seus pais na casa deles, pois eles iriam passar o natal junto da família e da vizinhança. Rachel foi ajudar a senhora Ferguson com os detalhes da ceia, já que as duas se conheciam bem e adoravam a companhia uma da outra.
Na casa dos , terminava seu banho enquanto Francesco já estava arrumado e esperava por , que também passaria a ceia com a namorada.
demorou mais trinta minutos se arrumando e logo que desceu viu que seu irmão e seu namorado estavam a esperando sentados no sofá, vendo um programa qualquer. Logo que escutou os passos vindo da escada, os dois homens viraram o rosto e viram . Ela estava vestida com um vestido preto que ia até dois dedos do joelho e calçava um salto que cobria seu pé, pois o frio apenas aumentava. Numa mão estava uma bolsa de mão e na outra uma jaqueta, já que seu vestido não a esquentava o necessário. Sua maquiagem não era forte, só havia passado base, rímel e lápis.
Sem mais demoras, e se cumprimentaram com um beijo enquanto Francesco ria um pouco enquanto ia para porta. Nunca iria se acostumar com aquilo.
Haviam combinado de chegar na casa de Caroline às 21:00. O horário, que estava voando, anunciava às 20:35. Isso sinalizava que tinham tempo suficiente. Foram a pé, até o fim da rua, rindo das coisas que um deles falavam e apreciando o tempo que decidiu que era hora de parar com a neve.
Logo que chegaram, viram a porta aberta e entraram. Passaram pelos cômodos abertos e sentaram-se no sofá que ficava na sala de estar, esperando mais alguns convidados chegarem. Não tinham muitas pessoas ali, e logo chegaram mais pessoas. Acenavam para todos.
sentia-se feliz, mas ao mesmo tempo angustiada. Sabia que seus pais iriam se mudar de qualquer forma e tinha medo que eles ao menos anunciassem quando e para onde. E, além disso, já sentia falta de seu irmão. Teria de suportar a distância de qualquer forma e isso estava esmagando aos poucos sua felicidade. Aquela que pensou que não poderia ser tocada.
sabia que ela de qualquer forma ficaria daquele jeito, mas não poderia imaginar como estava se culpando. Também não suportaria ficar longe dela e faria o que pudesse para que aquilo não acontecesse.
Rachel saiu da cozinha e logo foi para a sala.
- Olá, queridos! – Passou a mão no cabelo de cada um enquanto dava um beijo na bochecha deles. Voltou-se à e perguntou: - Viu o seu pai?
- Ahn... Não. – Ela nunca mais saberia como falar de seu pai perto de sua mãe. Era estranho pensar que aquela família tão unida há três anos, agora estava sendo separada.
- Tudo bem. Se o vir, me chama. Preciso falar com ele. – Assim que os olhos de sua mãe desviaram dela, ela rolou os olhos e passou a mão no cabelo. A outra mão que estava parada, foi acolhida pela mão de , que observava a cena.
- Está tudo bem. – Ele a olhou, fazendo a mesma fazer aquilo. – Uma hora tudo vai voltar ao normal. – Ela sorriu para ele e olhou para baixo, vendo suas mãos juntas. Ele a apertou em seus braços e ficaram abraçados. Até que finalmente William chegou com os avós dela e de Francesco.
- Meus netinhos! – A senhora Rebecca foi chegando perto e logo viu os dois levantarem e indo abraçá-la.
- Como a senhora está? – falou suavemente, passando as mãos no cabelo ralo da avó junto de um sorriso em seu rosto.
- Bem, minha querida. – Ela sorriu também.
cumprimentou seu avô, olhou para seu pai, que estava observando a cena, deu meia volta e sentou em seu lugar novamente. Deu espaço para seus avós sentarem junto dela e apresentou a eles.
- Vó, este é . Meu namorado. – Sorriu e olhou serenamente para o garoto que estava agora em pé.
Os dois o cumprimentaram e soltaram aquelas piadinhas que avôs sempre fazem nessa ocasião. Acabou que levou na esportiva e logo entraram em qualquer assunto, fazendo todos em volta entrarem no clima e apreciarem aquele tempo que tinham para que assim compartilhassem um pouco de suas histórias.
- Mas e você, Francesco? Sua irmã está namorando há quase um ano e você não teve nenhum “casinho”? Conheço vocês, jovens... Pode ir me contando! – Vovó soltou, os fazendo rir e deixou o bom humor levá-la naquela conversa.
- Sim, vovó. Fran já deve ter tido pelo menos cinco casinhos nesse tempo todo. – Então todos começaram a rir. Até alguns grupinhos que não participavam da conversa, estavam curtindo toda aquela harmonia.
A discussão continuou rolando enquanto as comidas foram colocadas na mesa. Algumas mães cuidavam das crianças enquanto outras ajudavam a senhora Ferguson naquela tarefa. Logo, a mesa estava pronta e enfim, William foi chamá-los.
- A ceia está na mesa. Venham! – Falou com um grande sorriso. Assim que ia passar, ele a puxou. – Espere. Quero falar com você. – Andaram até a sala novamente, mas dessa vez resolveram ficar de pé.
- O que foi? – Ela estranhou a atitude de seu pai.
- Bom... Eu queria fazer isso depois da ceia. Mas você merece passar essa noite feliz, então... – Ele tirou algo do bolso da frente da calça e só abriu a mão quando teve coragem. – Isso é para você. – Entregou na mão de uma chave. Não sabendo o que era aquilo ela perguntou:
- O que é isso? Um carro? Mas eu nem sei dirig... – William a cortou.
- Não, minha filha... – Riu de leve. – Veja direito e entenderá.
olhou para sua mão e depois para o outro cômodo, onde William estava indo, vendo aparecer e seu pai dando um tapinha nos ombros do genro. andou até ela e olhou para a mão dela tentando entender o que havia acontecido. Mas rápido que ela, logo entendeu, e então a abraçou forte.
- Não acredito! – Falou com sorriso enorme, quase gargalhando. Soltou-a e pegou o resto dela, que ainda estava estática, olhando fixamente em seus olhos. – Você vai ficar!
- O q-quê? – Ela finalmente falou.
- Você não entendeu? Olhe! – Ele pegou a chave da mão da menina e balançou: - É a chave de uma casa! Só pode ser! – Sorriu lindamente.
- Isso... É sério? – Os olhos de só faltavam saltar das órbitas.
- Claro! – Não aguentou a emoção e rapidamente a beijou.
Podia dizer que aquele beijo foi o melhor que deram desde que se conheceram. Tudo estava ali. Todas as emoções que tinham sentido dentro daquele estranho mês, junto com aquelas já estavam na vida deles desde a primeira vez que se viram. Amor, paixão, emoção, paz, medo, alegria, tristeza. Tudo. Era como se fosse uma explosão. Foi isso o que destino fez com eles. Deu o melhor presente de suas vidas e no final (seria o final?) um beijo completo, uma explosão de sentimentos.
Acabaram o beijo ofegantes e deram as mãos. A chave que ainda estava na mão de Ethan, logo foi colocada dentro da bolsa de . Deram um último sorriso e foram em direção do cômodo certo. Sentaram-se, sobre o olhar de todos, e sorriram como todos estavam sorrindo. Agora sim, a felicidade pairava sobre aquele milagroso lugar.
Todos estavam sentados na grande mesa. Joffrey, um dos vizinhos da rua, se levantou e pigarreou alto o bastante para fazer com que as conversas paralelas da mesa se calassem e todos prestassem atenção nele.
- Eu quero dizer algumas palavras antes de comermos este maravilhoso peru que a Caroline teve a bondade de assar para nós. - Ele olhou para a Senhora Ferguson sorrindo. - Bom, eu queria agradecer aos meus pais, por terem deixado eu morar sozinho; aos meu filhos, por terem se comportado hoje; a Caroline, por ter organizado tudo nesta noite e a minha ex-mulher, Jenna, por ter me deixado. Jenna, vai se foder. Feliz Natal, pessoal!
As pessoas demoraram, mas aplaudiram o discurso... Diferente de Joffrey.
A ceia seguiu calmamente enquanto todos comiam. A fartura fez todos ficarem com os olhos maiores que a boca, isto é, comeram até não aguentar. Algumas pessoas só comiam, outras riam, outras conversavam e outras olhavam pro nada, paradas, porque já haviam acabado de comer. Assim que todos acabaram, a conversa continuou até o cansaço bater e aí sim começaram a se levantar e se despedir. Na verdade, foram todos pra sala com suas taças de bebidas ou refrigerantes e fizeram um brinde àquele momento. Era lindo ver tudo em harmonia e eles agradeciam internamente por ter passado o natal com as melhores pessoas, que, por sorte, eram seus vizinhos. Assim que saiu da casa, Joffrey viu que estava nevando. A neve começou a cair mais rápido e todos pararam para apreciar aquela bela paisagem. E então, eles agradeceram mais uma vez por morarem naquele lugar. Alavus era a cidade que todos mais gostavam, e até quem iria embora daquela cidade, estava agradecendo por ter morado ali e descobrido o que era felicidade. O melhor natal de suas vidas havia acabado naquele momento.
O Menino Dos Olhos Azuis
Por Giulia M.
Uma manhã normal como todas as outras.
acordou em sua enorme cama de casal e tentou se lembrar de que dia era esse. Levantou-se, desceu para a cozinha e comeu seu café da manhã, sentada na cadeira da ponta da mesa. Viu o sol pela janela, iluminando o seu jardim.
Quando terminou o café, saiu de sua casa e respirou o ar que tinha cheiro de mato. pegou a mangueira e começou a regar suas plantas e flores, enquanto olhava para a rua. Ela olhou para a casa verde da rua, cujos donos eram os . Ficou sabendo que este era o último dia deles naquela casa, pois estavam se mudando. nunca foi de fazer amizades, por isso não sabe bem se isso é bom ou ruim, mas, na verdade, ela acha que é como se nada estivesse acontecendo.
Ela olhou para as suas plantas e desligou a mangueira. O sol ainda estava lá, iluminando o céu. entrou na sua casa e lavou as mãos. Olhou-se pelo espelho e ficou se observando por alguns minutos. Encontrou pequenas rugas nos cantos dos olhos e se surpreendeu. Estava envelhecendo mais rápido do que gostaria. Ela levou os dois dedos médios de cada mão às rugas e esticou a pele naquela área; se viu com olhos puxados e parou de esticar a sua pele. A senhora Ferguson disse uma vez que as rugas vinham com cada momento e tinham seus motivos, e aquelas que se concentravam ao lado dos olhos mostravam que você foi uma pessoa feliz. Mas agora estava morando em uma casa, completamente sozinha. E aquela era uma manhã normal como todas as outras.
passou a manhã inteira sentada em seu escritório, trabalhando. Ela estava absorta em pensamentos. Não se sentia bem em estar ali o dia todo, mas ela não tinha o que fazer. Seus pais morreram fazia quatro anos, seu irmão mais velho morava no Japão com a nova esposa e Henry, seu irmão menor, estava viajando pelo o mundo com um grupo de cinco amigos. não tinha com quem passar aquele final de ano e parecia que todos tinham se esquecido dela. Então nada lhe restava a não ser ficar presa ao computador, fingindo que trabalha, enquanto só está jogando joguinhos do facebook.
Depois de se entediar o bastante para desligar o computador, ligou a televisão e começou a assistir o secretário municipal da cidade de Turku declarar o inicio da Paz de Natal. Ela não sabia o que fazer o resto do dia até a hora da homenagem, mas ligar a televisão lhe deu uma ideia.
vestiu botas por cima da calça do pijama, colocou um casaco e, por cima desse casaco, colocou outro mais quente ainda. colocou um cachecol e uma toca e luvas, e estava pronta para sair de casa. Deveria estar fazendo uns sete graus negativos, motivo para ela estar coberta de várias peças de roupa.
Ela desceu os degraus da escada e caminhou até a porta. No momento em que ela abriu a porta, um vento gelado a atingiu em cheio. O sol continuava lá, apesar das nuvens, mas o frio havia chegado.
caminhou até a sua caixa de correio e a abriu, para conferir. Encontrou dois cartões postais e um envelope. Um dos cartões era de Madson, seu irmão mais velho, lhe desejando um feliz natal. O outro era de Henry, e, amarrado a ele, um colar de pano. No cartão dizia que ele estaria de volta no ano novo e lhe desejava um feliz natal. Ela arrancou o colar do cartão postal e o observou. Sua corda era de um tecido marrom e o pingente era uma cruz de madeira. Atrás da cruz, estava escrito um “Presente! Beijos”.
- Bem, obrigada, Henry – ela disse baixo enquanto ainda observava o colar. Aquilo não parecia bem um presente, mas estava valendo. Ao menos ele teve a delicadeza de lhe enviar algo.
Ela pegou o envelope e já imaginava do que se tratava. Sabia que teria essa ceia maluca que todos os anos eles propõem, e já tinham a convidado das outras vezes, mas algumas vezes ela tinha preferido ficar em casa, assistindo a algum programa da televisão de especial de natal. Todos os anos é um vizinho novo que dava esse tipo de festa com a ceia de natal e neste ano seria a velha Caroline Ferguson. já a conhecia de antes. Encontrou-a algumas vezes no mercado do bairro, mas nunca teve uma longa conversa com ela. Senhora Ferguson tinha perdido o marido no ano passado, exatamente no dia 24 de Dezembro. Depois disso, ela não apareceu mais no mercado do bairro e não conversou mais com ela. Caroline era exatos 50 anos mais velha que ela e parecia se encontrar na mesma situação de : ambas estavam sozinhas neste natal. O que salvaria a sua solidão seria a ceia de natal deste ano. Como será que a senhora Ferguson está? fazia uma pequena ideia.
colocou o cordão e fechou a caixa de correio com a correspondência dentro. Iria pegá-la novamente quando voltasse do lugar que estava pretendendo ir. Ela colocou as mãos dentro dos bolsos e começou a caminhar.
Aquele começo de tarde estava mesmo frio. Ela sentia seu nariz ficar vermelho e o vento gelado estava congelando o seu rosto. Mas caminhar ajudava o sangue a manter a circulação e o lugar pelo qual ela estava andando estava quase chegando. O lugar estava a trinta passos de onde ela estava e correu até lá.
Quando ela empurrou a porta do lugar, um sino soou. Ele não estava muito cheio, o que a deixou imensamente alegre. Adorava olhar os antigos sucessos da música, observar os discos e os CDs. Hoje em dia as pessoas se esquecem completamente deles, agora com os Downloads de Músicas, mas ainda existiam pessoas que se interessavam em ter o material sólido.
Aquela loja existia desde o tempo em que ela estava na escola, se lembrava das tardes que ela gastava com o pai quando ia para lá, ouvir o que ele tinha a lhe dizer sobre os músicos daquelas estantes. Todas as tardes era um novo artista, de um gênero diferente, e cada vez mais ela se apaixonava pela música. Chegava até a ser engraçado como as pessoas se sentiam em relação às músicas. Era esquisito como surgiam sentimentos diversos a cada minuto da canção, e tipos assim, de clássicos ou não, eram os que ela mais amava. Aquelas tardes eram as melhores.
entrou em uma fileira de CDs, e se alegrou apenas a observar as variedades de gostos que ali estavam. Certos CDs permaneciam no mesmo lugar do tempo em que ela visitava a loja com seu pai e a lembrança a fez se sentir pesada por dentro. Gostaria de estar com o seu pai agora, ou com a sua mãe, ou com qualquer pessoa. Bastava ser um conhecido qualquer, desde que não seja um idiota.
Havia uma música tocando de fundo quando ela passou para um corredor onde tinha diversos DVDs de filmes, ou shows, ou até mesmo uma coletânea de vídeo clipes. Ela foi passando pelo corredor, enquanto observava o material das estantes à sua direita. sentia como se alguém estivesse a observando, mas ignorou isso. Talvez fosse só uma pequena loucura dela.
parou de andar e observou um DVD do Pearl Jam. Ela ficou olhando para ele por um tempo, pensando que Henry iria gostar de ganhar algo assim de natal. Ele amava aquela banda.
- Com licença, senhora.
se virou e não viu ninguém.
- Aqui em baixo. – Ela olhou para um pequeno garoto, com cabelos escuros e olhos azuis. sorriu. – Você poderia pegar uma coisa para mim?
- Ah – ela olhou em sua volta, procurando o responsável por esta criança que não deveria ter mais de seis anos. olhou para ele e sorriu. – Claro. O que você quer que eu pegue?
O menino a chamou com a mão e pegou a mão dela, trazendo-a com ele na direção que ele escolhera. não teve outra escolha, a não ser segui-lo.
O menino de cabelos escuros a levou até a uma prateleira encostada na parede onde havia vários CDs. Ele apontou para um que estava lá em cima, na última prateleira.
- Aquele? – ela perguntou e o menino assentiu. não conseguia distinguir de quem era o CD, mas tentou pegá-lo do mesmo modo. Ela começou a esticar-se toda, mas não estava conseguindo o pegar. suspirou e olhou para o menino que a observava com expectativa. – Já sei.
o pegou no colo e o esticou até o CD. O menino pegou a caixinha e sorriu para ela, que sorriu de volta. Ela o voltou em seu colo.
- Obrigado, senhora. – Disse ele e o colocou no chão.
- Não por isso.
O menino continuou a observá-la com um sorriso no rosto e com o CD apertado contra o corpo. Então ele olhou para trás dela e sua expressão mudou para uma de medo.
- Leo! Eu já disse que você tem que parar de pedir as coisas para as pessoas, você não pode incomodá-las, poxa. – ouviu a voz de um homem atrás dela e esse mesmo homem caminhou até ao lado de Leo e o pegou no colo.
- Desculpe-me pelo o meu filho, ele... – o homem parou de falar quando olhou para e, assim como ele, ela se surpreendeu. O homem começou a abrir um sorriso, assim como . – ?
- ? – ambos começaram a rir. – Eu não acredito!
- Pois pode acreditar. – Ele continuava a sorrir. – Nossa, há quanto tempo...
- Faz o quê? Uns sete anos?
- Exatamente isso – ele disse e riu. – Você está ótima.
- Olha, agradeço por dizer isso a uma mulher que está usando pijama em baixo de uma montanha de roupa – riu. – Você também não está nada mal.
- Ah, obrigado por dizer isso a um pai que não dorme há seis anos – riu. – Ah, este é o Leo, meu filho. Mas você já deve conhecê-lo.
- Oi – Leo disse e sorriu.
- Você ainda mora aqui?
- Claro, eu passei a minha vida inteira aqui.
- E você está namorando ou, sei lá, está casada?
- Diferente de você, não – ela fez um barulho com a boca e se balançou para frente e para trás. continuava a sorrir com um sorriso fraco.
- Eu... Eu não sou casado. Não mais.
olhou para ele e desmanchou seu rosto para um mais sério.
- Ah...
- É. – Ele riu fraco e foi a vez de fazer um barulho com a boca e se balançar para frente e para trás. Os dois permaneceram em silêncio por um minuto. – Hã, você já almoçou?
abriu a boca para responder, mas ficou um tempo sem dizer nada. Ela passou a manhã inteira só com o café da manhã no seu estômago, e a ideia de almoçar pareceu completamente maravilhosa.
- Não – ela sorriu e riu pelo nariz. sorriu de lado e ergueu uma das sobrancelhas, sugestivo.
*****
- Nossa, como eu sentia falta desse sanduíche de carne! – disse de boca cheia. Os três tinham ido a uma lanchonete perto da igreja principal da cidade.
- É – respondeu também com a boca cheia. – Eles fazem o melhor molho do mundo aqui.
- Você se lembra de quando nós viemos aqui pela primeira vez? – disse engolindo o bolo de carne. – Teve um tipo de leilão de encontros que a faculdade estava fazendo, para arrecadar dinheiro para a nossa formatura, e Mabel foi comprada pelo esquisito do Malcom.
- É, eu lembro disso – ele riu. – Ela pediu para a gente acompanhá-la no jantar, porque ela não queria ficar sozinha com ele.
- E ai ela se trancou no banheiro, conseguiu fugir pela janela e o Malcom tentou flertar comigo – limpou os cantos da boca com um guardanapo e bebeu alguns goles de seu refrigerante. riu.
- É, daí você disse para ele que você era gay para ele não tentar nada com você.
- E ele me perguntou o motivo de eu estar saindo com você...
- ... E você disse que eu também era gay e era por isso que nós estávamos namorando – riu quase se engasgando com o refrigerante.
- Você é gay, ? – Leo perguntou um pouco decepcionado, enquanto enfiava uma batata frita na boca.
- Não, Leo – ela sorriu para ele.
- Ah, ótimo. Se não tudo iria para a culatra – ele começou a beber o seu refrigerante. riu dele e deu uma risada envergonhada. A música que tocava de fundo na lanchonete tinha acabado de terminar e outra começou.
- Ah, eu não acredito – ela disse parando de comer e começou a prestar atenção na música. – É The Shins isso?
- Espera – ele também parou para ouvir melhor. Então olhou para , sorrindo. – É, são eles, mesmo!
- Cara, como eu amava essa banda!
- Eu me lembro – ele sorriu.
- Você também gostava, pai? – Leo perguntou, olhando de um para o outro.
- The Shins era praticamente a nossa banda – respondeu. – Ela não era muito conhecida na época que começamos a ouvi-la.
- Ela era como se fosse uma coisa nossa – riu se lembrando de quando disseram um para o outro sobre isso. – Os caras são bons.
- Eu gostei dessa música – Leo disse sorrindo. – Como ela se chama?
- Acho que Alguma-Coisa-Song.
- Simple Song – respondeu.
- É, deve ser. Como sabe?
- Ele fica repetindo isso a música inteira, pai – respondeu Leo. – Qual é.
- O.K., me desculpe, ué.
- Tudo bem – Leo disse roubando uma alface do prato de , que sorriu olhando para o garoto.
- Bem, eu preciso ir ao banheiro. – Ele disse e se levantou. – Com licença, eu já volto.
- Claro, estaremos esperando – disse e se foi. Leo olhou o pai entrar no banheiro masculino e se virou para .
- Obrigado por ter pegado o CD para mim, – disse Leo.
- Ah, não há de quê, Leo.
- Não, é sério. Obrigado, isso deve ter sido a melhor coisa que aconteceu para mim neste ano – Leo voltou a terminar seu lanche, como se tivesse se esquecido de que ela ainda estava lá. o olhou dar algumas mordidas no hambúrguer.
- Como... Como assim?
- Eu venho tentando isso há um bom tempo. E dessa vez me parece que vai funcionar. – Leo sorriu com a comida ainda na boca.
- Isso?
- A missão – ele respondeu sussurrando e olhou na direção do banheiro. – Eu não posso falar agora, ele está voltando. Shhh – Leo pressionou o dedo indicador contra os lábios e empurrou o último pedaço do hambúrguer na sua boca.
- E ai, o que vocês conversaram enquanto eu estive fora?– se sentou e sorriu.
- Hã, nada de mais... Eu acho – lançou um olhar furtivo para Leo e sorriu para . Seu celular começou a apitar e ela pediu licença para usá-lo na mesa. – Ah, essa não!
- O que foi?
começou a se levantar correndo, enquanto pegava a sua bolsa, e colocava o celular dentro dela.
- Eu estou atrasada!
- Para o quê? – se levantou também.
- Eu tenho que ir para a homenagem, eu... – ela olhou para Leo, que a olhava com esperanças. – Eu preciso realmente ir.
olhou para , que em um minuto a olhava sem entender e no outro tinha entendido tudo. Ele pegou seu casaco e empurrou a cadeira.
- Eu posso te dar uma carona.
- Não precisa, , é aqui perto...
- Não, . Eu também preciso ir até lá – ele disse e Leo olhou para ele, mas a encarava. também o encarava, percebendo o que ele queria dizer. Leo parecia o único que não estava entendo, até se tocar.
- Ah. – Soltou Leo.
Aquele fim de tarde estava sem sol há um bom tempo, quando as nuvens começaram a aparecer. Sem sombra de dúvida, iria chover naquele dia.
Embora o frio estivesse de matar, o corpo de estava quente por debaixo de toda aquela roupa. Estar naquele cemitério era confuso, medonho e triste. Olhar todas aquelas pessoas caminhando com velas nas mãos, a fazia pensar que aquela pessoa que tinha morrido tinha deixado alguém para se preocupar com ela, ao menos uma vez no ano. Todas as vésperas de Natal na Finlândia eram daquele jeito, os finlandeses iam até os cemitérios e acendiam uma vela em memória de seus familiares. Os cemitérios viravam belos mares de velas acesas e essa visão ficava ainda mais maravilhosa quando se era noite.
estava caminhando na direção da sepultura de seus pais, com a vela ainda não acesa na sua mão, e uma caixinha de fósforos. e Leo não estavam com ela naquele momento, pois eles estavam visitando outras pessoas. Ela caminhou até chegar à frente ao lugar onde seus pais foram enterrados. Os dois tinham sido enterrados um ao lado do outro, entre os pais da Senhora e os pais do Senhor . Tinha sido há muito tempo, mas se lembrou do dia em que seus pais resolveram levar os seus três filhos para um país que fizesse calor o ano inteiro, para passar o fim de ano lá. nunca tinha saído do país naquele tempo e Henry tinha apenas quatro anos, enquanto Madson estava começando a aprender a dirigir. Eles não tinham conseguido esta viagem, mas, na noite de Natal, eles saíram para ver as luzinhas e os pisca-piscas da cidade. Até tinham deixado Madson dirigir e Henry tinha trazido um caderninho para anotar quantas luzinhas e pisca-piscas eles viram.
Ela suspirou e se agachou. olhou para a lápide de seus pais e por um momento se sentiu só. Henry não tinha mais quatro anos, Madson era CEO em uma empresa de grande valor no Japão e ela morava sozinha em uma rua com um monte de vizinhos que ela nunca conversou durante todos os anos que ela viveu ali. Seus pais tinham a abandonado, assim como todos.
Do mesmo jeito, ela continuava a visitá-los todos os anos, não só no dia vinte e quatro de Dezembro, mas em dias aleatórios da semana, quando queria se lembrar de alguma memória vivida no passado, em uma família que era unida... E feliz. pegou um fósforo da caixinha e o acendeu. Ela olhou para a vela que tinha deixado por alguns minutos no chão coberto de neve e a pegou. Ela acendeu a vela e a observou por um momento. Pensou em todas as pessoas que morreram e naquelas que realmente faziam falta para alguns. E se lembrou de que a Senhora Ferguson agora tinha mais uma pessoa para acender uma vela todos os vinte e quatro de Dezembro que ela viveria de agora para frente. E se perguntou quem iria acender uma vela para ela no futuro.
observou as chamas da vela que estava entre as duas sepulturas. Ao menos seus pais estariam aquecidos naquele inverno pesado.
- Obrigada por serem os melhores pais do mundo – ela sussurrou para as duas sepulturas e deu um pequeno sorriso. se levantou e, poucos minutos depois, e Leo estavam caminhando na direção dela. Ela se virou para os dois e logo eles estavam ao seu lado. olhou para as duas sepulturas no chão e abriu a boca para dizer algo, mas nada disse. Ele olhou para e ela sorriu sem mostrar seus dentes.
- Quanto tempo...?
- Quatro anos.
- Ah – ele disse e olhou mais uma vez para as sepulturas. disse alguma coisa que não conseguiu escutar e então ele deu um pequeno sorriso. Talvez aquilo fosse um Adeus.
Leo olhava sem entender para as duas sepulturas e, por perceber que aquelas pessoas enterradas deveriam ser especiais para , ele a abraçou. Por um momento ela não soube o que fazer, não soube o que sentir. Por um momento ela considerou a ideia de que aquilo era extremamente estranho, até perceber que aqueles pequenos bracinhos, apertando-a contra o seu pequeno corpo, conseguiam irradiar calor para seu corpo já quente. Sentiu a respiração de Leo bater em sua barriga e percebeu que ele a estava a olhando novamente.
- Sinto muito pela a sua perda, .
Era como se aqueles olhos azuis mostrassem o universo, como se o universo estivesse ali, uma imensidão de possibilidades e um infinito maior do que todos os infinitos. Os olhos de Leo na verdade não eram azuis, eram o universo em cor-de-infinito.
- Eu também sinto, Leo – ela disse e sorriu para ele.
- Eu sei como você se sente, sabe. Eu também já perdi muitas pessoas importantes, mas meu papai disse que todas as pessoas boas no mundo, quando morressem, iam para um lugar melhor ainda. Então você não deveria ficar triste, você deveria ficar feliz por eles. – Leo sorriu com seu sorriso cheio de dentinhos tortos. olhou para , que sorriu fraco e mexeu seus ombros, como se confirmasse o que Leo acabou de dizer. Ela soltou um fraco riso e passou a mão pelos os cabelos escuros do garoto. Sem perceber, seus olhos ficaram mais úmidos.
- Você tem razão. Aliás – ela olhou para – vocês dois têm.
e ela continuaram a se olhar até ela soltar outro riso e desviar o olhar para Leo, que observava as chamas das velas por todo o cemitério.
- Você... Você gostaria de ir conosco até a minha casa e tomar um café, talvez? – disse , cortando o silêncio. o olhou e sorriu.
- Claro, seria... – ela olhou para Leo. – Seria adorável.
*****
É verdade que eles deveriam estar na missa de Natal naquele instante, mas estavam ali, em um lugar mais quente e longe de tantas pessoas. Ouviram falar que seria transmitido a missa, naquele dia, na televisão.
estava sentada no sofá com Leo, enquanto estava na cozinha, provavelmente preparando um café para eles tomarem. A televisão não estava ligada e Leo ficou a observando o tempo inteiro. estava estudando o lugar com os olhos, observando a estante branca na parede ao lado da televisão, que estava cheia de livros. Encontrou vários da faculdade como também encontrou livros literários. Reconheceu alguns livros e algumas séries, mas mesmo depois de observar todos aqueles livros duas vezes, ela preferiu continuar a olhar para a estante do que olhar para aqueles olhos grandes que a encaravam ao seu lado.
- – ele sussurrou.
- Sim? – ela continuou a olhar para a estante.
- Eu preciso te contar sobre a missão agora – ele sussurrou outra vez. olhou para o chão, depois para o seu próprio colo e então tomou coragem de o olhar. Os dois ficaram se observando por alguns minutos em silêncio. Ela ficou se perguntando quem seria a mãe de Leo, pois ele tinha alguns traços dela.
- Manda. – Disse ela.
- Você está enamorada por alguém?
- Enamorada?
- Você sabe, apaixonada. - Ele sorriu orgulhoso. – Aprendi esta palavra anteontem.
não pôde não sorrir.
- Depende do modo como você está se referindo.
- Você gosta de alguém como... Você sabe, namorado? – Leo não havia parado de sussurrar nem um minuto, nem mesmo para se gabar por seu “vasto” vocabulário.
- Ainda não...
- Sério? Isso! – ele comemorou sozinho. Leo voltou-se para . – Vai facilitar tudo. O que você teve, realmente, com meu pai?
se sentiu surpresa. O filho de seu namorado na faculdade estar te perguntando sobre sentimentos que existiram tempos atrás foi muito surpreendente.
- Hã, eu não sei como te responder esta pergunta.
- Shhh – ele fez um gesto indicando para que ela falasse mais baixo. – Eu sei que é fácil, . Você só não quer me responder, porque acha que eu não vou entender.
- Não é verdade.
- Então diga logo – ele olhou para a cozinha. – Ele é lerdo na cozinha, mas nem tanto.
riu baixo.
- Eu não sei, acho que... – ela parou para pensar. – Defina a sua pergunta, por favor.
- Eu quero saber se o que você sentia por meu pai era amor, .
- Ah. – Ela olhou para a cozinha. Já fazia tantos anos... Não sabia se era amor, mas na época jurara que era. Sua mãe sempre dizia que amor era eterno, mas paixão não. Bem, de fato, ele e ela nunca tinham terminado oficialmente, apenas se afastado. A verdade é que eles deram um tempo depois que ele se mudou para outra cidade, e desde então nunca mais se falaram. namorou outros rapazes durante esse tempo, mas todos, no fim, não eram aquele que ela procurava. E, pelo visto, tinha se casado, tido um filho, e se separado. Se fosse amor, eles estariam juntos até hoje e Leo seria filho dela, não? Talvez não, mas ela ainda não sabia como responder aquela pergunta. – Talvez sim.
Leo a observou confuso.
- Como assim?
- Eu não faço ideia.
Ele ainda continuava com a expressão de ponto de interrogação no rosto.
- Mas você não sabe?
Ela fez que não.
- Faz muito tempo.
- , você está mentindo?
- O quê?
- Você está mentindo, não é? Você só não quer falar para não estragar o meu plano – ele suspirou.
- Não, claro que não. Eu nem sei que plano é esse, mas eu tenho uma leve ideia.
- Então você admite que esteja mesmo fazendo isso para não estragar...?
- Não, Leo! – ela sussurrou mais alto. – Eu quero dizer que eu não sei o que era.
- Então vamos supor que era amor.
Ela olhou mais uma vez para cozinha, quando um barulho de talher caindo soou e um resmungo logo em seguida.
- Tudo bem, vamos supor.
- Muito bem. Se você já sentiu amor pelo o meu pai antes, quer dizer que você ainda possa sentir, certo?
- Aonde você quer chegar?
Leo olhou para cozinha, e passos foram ouvidos. Ele se virou rapidamente para , para sussurrar mais uma vez:
- Eu só quero ganhar o meu presente de natal.
não entendeu o que ele quis dizer com aquilo, mas era tarde demais para ela perguntar. estava com as mãos atrás do corpo, as escondendo. Ele parou de andar e encostou-se à parede da televisão.
- Leo, você poderia me deixar a sós com a Senhorita por alguns instantes? – Ele perguntou olhando para .
- Claro, papai. Eu estava mesmo querendo jogar videogame lá no meu quarto. – Leo desceu do sofá e se virou para ela. – Até mais, . – Ele piscou um dos olhos para ela e se virou para subir as escadas. o observou subir todos os degraus, e quando percebeu que o filho já não estava mais presente no cômodo, caminhou até e revelou que suas mãos carregavam uma garrafa de vinho e duas taças vazias.
- Desculpe-me por não trazer um café, é que eu não estava conseguindo fazer. Acho que a máquina deve ter pifado e tive que improvisar – ele sorriu. – Não podia abrir isso na frente dele, senão ele iria querer tomar também.
- Leo gosta de vinho já nesta idade? – Ela perguntou quando lhe entregou uma taça.
- Bem, Leo é um garoto muito inteligente. Às vezes não acho que ele seja realmente meu filho, mas eu estava lá quando resolveram fabricá-lo.
riu. Sem dúvidas, o menino é realmente inteligente, pensou ela.
- Deve ter puxado a mãe. – Ele riu mais com este comentário.
- É, talvez sim – encheu a taça de quase que toda.
- Está querendo me embebedar? O que pretende fazer depois do vinho, Senhor ? – Ela sorriu e riu novamente.
- Espero que eu não esteja tomando o seu tempo – ele disse se sentando ao seu lado no sofá.
- Não, na verdade eu não tinha nada para fazer nesta tarde mesmo – ela deu de ombros.
- Oras, mas é véspera de natal. Eu não acredito. – Ele se convenceu e deu um gole na bebida.
- É, pode acreditar. Livre da silva – respondeu. a encarou por um tempo com um pequeno sorriso no rosto, fazendo-a se incomodar um pouco. – Então... O natal.
- É.
- O Papai Noel já fez o presente de Leo? – perguntou , apontando com a cabeça para as escadas.
- Na verdade, ele não disse o que queria de natal. – olhou para as escadas e sussurrou: - Então vou ter que improvisar.
- Hum – bebericou o vinho, pensativa. Se Leo não disse ao seu pai o que queria de natal, como ele esperava recebê-lo?
- Mas e você? O Papai Noel já fez o seu presente de natal?
Ela o olhou e sorriu.
- Na verdade, eu não disse a ele o que eu queria de natal.
- Ah, não? Poxa – ele bebericou seu vinho.
- Eu não costumo manter contato com o Santa, sabe como é... Ele não mora muito longe, mas eu sou muito atarefada.
- Verdade?
- Não. – riu, fazendo com que sorrisse. – Eu não vou ganhar um presente este ano por ser uma má pessoa.
- Você? Má? – pareceu chocado, mas sabia que ele estava tirando sarro dela.
- O.K., pode parar agora – ela o empurrou, e ele quase derramou o vinho no sofá. – Ah. Desculpe.
riu e sorriu.
- Tudo bem, esse sofá está cheio de manchas de vinho.
Ela riu novamente, e abriu mais seu sorriso. Ele ficou a observando parar de rir e então apenas sorrir. gostaria de saber o motivo de estar na casa de um meio estranho, com um garotinho meio maluco, em uma tarde de um meio natal. E se lembrou do que Leo disse minutos atrás.
- Leo é um garoto muito adorável. – sorriu sem abrir a boca logo em seguida. Não sabia se poderia perguntar, mas estava se corroendo para falar sobre o assunto. – Sua mãe...?
- Se ela também era assim? – perguntou e ela assentiu. Ele olhou para a taça de vinho em sua mão e tomou mais um gole. – Bem, sim. Ela era bastante adorável.
ficou o observando olhar para a taça de vinho.
- Como você a conheceu? – perguntou ela, e sorriu.
- Não foi na diretoria, como você, mas foi um modo mais ou menos parecido. Eu a conheci na minha casa. – sorriu.
- E o que a sua casa tem a ver com a diretoria?
- Não estou dizendo o lugar, mas sim o modo. Digo, eu abri a porta da sala, e lá estava ela sentada no meu sofá, bebendo o meu refrigerante e abraçada com o Lion.
- Não brinca. Quer dizer que você se casou com a Leslie?
- É. – Ele sorriu. não podia acreditar. Leslie nunca tinha falado muito com ela, mas ela se lembrava de como o Lion e ela andavam grudados, por todas as partes. Lion era o melhor amigo de e no fim, quem tinha conseguido a garota foi ele, o . – Não pense que eu roubei ela dele, por favor. Lion e ela terminaram e... Eu não estava em um relacionamento sério na época. – percebeu que ele falava do romance que eles tiveram e que não se terminou por completo.
- Ah. – Ela começou a observar a taça de vinho dele.
- É. Mas nem tudo foi as mil maravilhas. No primeiro ano de casado estava tudo bem, ela até conseguiu engravidar. E no próximo ano tivemos o Leo. Houve uma época em que brigávamos demais. E eu nem lembro os motivos das brigas – ele sorriu. – Mas... – parou de falar e ficou um tempo em silêncio. – Ela se foi quando ele tinha quatro anos.
se manteve quieta. Ela conseguiu completar tudo em sua cabeça e entender, finalmente, o que Leo estava querendo dizer. Ver com aquela expressão triste a deixava triste. Talvez ele tenha amado a Leslie de verdade e depois que ela morreu, ele não deve ter nunca mais se apaixonado de novo.
- Sabe de uma coisa? Estamos perdendo a missa, mas tudo bem. Desde que façamos algo mais legal, é claro. – Ela disse e sorriu.
- E qual seria a sua ideia de mais legal, Senhorita ? – Ele olhou finalmente para ela. deu de ombros.
- Eu não sei. Acho que vai chover logo e a sua casa está bem quente para eu ir embora agora.
- Está se convidando para ficar, é isso? – ele a olhou com uma sobrancelha erguida e um sorriso de lado no rosto.
- Na verdade, eu só estou dizendo para fazermos algo aqui. – Ela sorriu e riu. Ele se levantou e a ajudou a se levantar também.
- Eu posso te mostrar a minha coleção de CDs, o que acha? – perguntou e riu.
- Por mim tudo bem.
Ele a trouxe até a um móvel onde havia um aparelho de som e duas prateleiras em cima, cheias de CDs. escolheu um dos CDs e o pegou. Não tinha nada na capa, mas havia um papel atrás, com os nomes das músicas escritos a mão.
- Eu fiz este CD para tocar em uma festa, mas, no fim, ele nunca foi ouvido. - o colocou para rodar e a música de John Mayer começou a tocar. pegou a garrafa de vinho e encheu um pouco mais o copo dela e o dele. Os dois ficaram encostados na bancada, ouvindo a música Free Fallin soar pela sala inteira. – Então, você vai viajar na virada do ano?
- Ah, não. Eu vou ficar em casa. O Henry disse que viria, então... – Ela deu alguns goles na sua bebida.
- Por falar em Henry, foi ele que te deu isso aí? – apontou com a cabeça para o colar de pano no pescoço de .
- É, foi um presentinho de Natal, ele disse. – Ela sorriu e segurou em sua mão a cruz, observando-a.
- É bem a cara dele. – sorriu. – E a sua também... Eu acho.
riu e largou o colar.
- Que outras músicas têm nesse CD? – ela perguntou e pegou a caixinha. passou os olhos pelos nomes e encontrou algumas músicas conhecidas. – Ah, você gosta de The Killers?
- Claro – ele sorriu como se fosse óbvio.
- Sério? Sério mesmo? – ela perguntou e riu.
- O quê? Você não gosta?
- Eu não disse isso, só não acredito que você gosta. – Ela deu de ombros e continuou a olhar os nomes. colocou para a próxima música, até encontrar aquela que ela tinha escolhido.
- Ah – bebericou sua bebida. – Essa você vai ter que dançar essa comigo.
Ele a puxou pela mão, mas tentou resistir.
- Ah, qual é, ? – ela sorriu e assentiu.
- Vai sim, anda – ele pegou a taça de vinho dela e bebeu tudo, depois a colocou em cima do móvel. pegou as duas mãos dela e a levou até o meio da sala. Ele abraçou sua cintura com um dos braços e a outra mão segurou a dela, enquanto foi obrigada a abraçar seus ombros com o outro braço.
Ela riu quando começaram a dançar e sorriu.
- Não sei se você se lembra, mas eu não sou boa dançando – ela disse. não quis saber e a fez girar, para depois voltar a dançarem juntos.
- Para de se gabar – disse ele e riu.
- Você já pediu algo de natal? – Ela perguntou.
- Ainda não. Mas acho que eu já sei o que eu quero – respondeu. – Escuta... Você tem alguém para passar o natal?
sorriu e dessa vez foi ela quem o fez girar.
- Talvez...
- Para de rodopiar no assunto e diz – disse quando parou de girar e a puxou um passo mais perto.
- Talvez. – fez um careta. – Por quê?
- Ah, sei lá. – Ele deu de ombros. – Eu e Leo vamos ficar aqui, sozinhos, e uma companhia feminina às vezes faz bem.
- E eu seria ela?
- É – sorriu e sorriu também.
- Bom, talvez eu possa estar livre. – a olhou com uma expressão que dizia “Fala sério, ”. – Vocês também não vão viajar no ano novo?
- Para falar a verdade, ainda não decidi.
- Eu ainda não entendi o que você está fazendo aqui, nessa cidade.
- Ué, eu morei a minha vida inteira aqui.
- Nem toda ela – o lembrou.
- Tem razão. Foi por esse motivo que nos separamos? – ele perguntou fazendo uma cara de quem tinha se esquecido.
- Acho que sim. A não ser que você tenha outro motivo para falar, pois pode botar para fora agora. – Ela disse e sorriu.
- Nah. – Ele tirou a mão da cintura dela e a esticou ao seu lado. Quando a fez voltar para seus braços, a fez girar e então segurou sua cintura e sua mão novamente. Ele continuava a sorrir para ela quando os dois estavam dançando, agora mais perto do que nunca. – Eu nunca me separaria de você por outro motivo.
- Sei – ela diz para quebrar o clima. riu.
- É verdade.
- Cala a boca, .
- Me dá um motivo, então.
- Eu sou gay.
riu.
- E eu também ou se esqueceu? – ele perguntou. riu também.
- É verdade.
- Então é só ele?
- Ele o quê?
- O motivo.
- Não... – Ela pensou em algo, enquanto ele a fazia rodopiar pela a sua sala. – Ah, eu quebrei seu dente uma vez com um soco.
- Mas o colamos de volta. E isso nem pode ser um motivo. Você só me deu um soco, porque eu tinha furado a fila na sua frente.
- Bem... Tem razão.
- E eu nem te conhecia direito.
- Claro que conhecia, seu mentiroso! – Ela sorriu indignada. – Você vivia me irritando na sala de aula.
- Sério?
- Ah, qual é, ! – Ele começou a rir.
- Eu só estou brincando – ele disse e aumentou o espaço que tinha entre eles, antes de voltar a diminuí-lo. – Eu adorava te irritar.
- É, todo mundo diz isso. – Ela revirou os olhos e riu.
- Mas nem todo mundo levou um soco no rosto como aquele que você me deu. – riu.
- É verdade.
sorriu.
- Fazia anos que eu não escutava a sua risada. E sabe de uma coisa? – ele perguntou.
- O quê? – riu fraco.
- Acho que ela é um remédio.
- Um remédio? – ela perguntou segurando o riso.
- É. – ainda sorria. – Você sabe, para quem está se sentindo triste... Ou solitário.
- E você é um deles?
deu de ombros e fez que não.
- Não mais. – sorriu e ele a fez girar uma última vez. Assim que ela voltou para seus braços, ele parou de dançar. observou seus olhos e percebeu que Leo não tinha os mesmos olhos do pai. Mas muito provavelmente os olhos de Leo eram uma mistura dos de com os de Leslie. – Eu queria que você ficasse mais tempo.
não entendeu o que ele quis dizer de primeira, mas percebeu logo depois. A música estava chegando ao seu final e o dia já iria escurecer completamente. Ela e se separaram fazia sete anos, mas não era para sempre que estavam assim. Apenas deram um tempo e talvez isso significasse que ainda voltariam um dia. Ele a tinha convidado para ficar mais tempo na sua casa e passar o Natal com ele e Leo, mas era isso mesmo que ela gostaria? Talvez aquilo não significasse que eles voltariam, mas sim que só queria uma companhia feminina e uma amiga seria um ótimo pedido. Mas Leo queria ganhar seu presente de Natal e ela e não se falavam fazia longos anos, quem garantia que isso daria certo?
ainda continuava a olhar para ela, mas não conseguiu responder a tempo.
- Pode sair daí, rapazinho. – disse e suspirou. e ele se largaram e logo Leo estava descendo as escadas, chateado. – Você sabe que espionar os outros é feio.
- Não tem problema, eu... – ela olhou para o relógio e passou a mão em seu rosto. – Eu preciso ir mesmo.
pegou seu casaco mais quente no sofá, e o colocou.
- Não, não, não! Eu prometo que eu subo e fico no meu quarto, mas, por favor, , fique – Leo segurou sua mão e a balançou de um lado para outro.
- Eu não posso, Leo – ela passou a outra mão pelos cabelos do garoto e soltou sua mão da dele. olhou para um quieto, a alguns passos atrás do filho. – Me desculpe, eu preciso realmente ir.
- Tudo bem – sorriu sem mostrar os dentes. – Eu te levo até a porta.
- Até mais, Leo – se agachou em frente a ele e ergueu sua mão para ele.
- Você estava indo tão bem... – ele sussurrou triste quando apertaram as mãos. não soube o que responder e apenas sorriu.
- Vamos, Leo, ela precisa ir. – disse e Leo deu um beijo no rosto de . Ela levantou e bagunçou os cabelos do menino com as mãos. Aqueles olhos iriam ficar marcados em sua cabeça depois.
*****
- Você veio!
Caroline Ferguson sorriu de braços abertos para , quando ela apareceu em sua porta. Ela carregava uma torta nas mãos.
- Entre, entre! - entrou na casa, que estava cheia, por sinal. – Vamos levar isto até a cozinha, sim?
Caroline caminhou com ao seu lado até a cozinha, passando pela sala cheia de pessoas e colocou a torta em cima da pia, ao lado das outras comidas. Era estranho reencontrá-la, depois de tanto tempo. Até que Caroline parecia muito bem.
- E então... Como você anda?
- Ah... Eu quem deveria perguntar isso, não? - sorriu. Caroline riu.
- Fiquei sabendo que o Henry arranjou uma namorada... – Caroline disse, encostando-se ao balcão da pia.
- E da onde você ouviu isso? – perguntou .
- Passarinhos me contaram... E a sua correspondência veio parar na minha casa.
- Sabia que alguém tinha lido antes! O envelope não podia ter vindo aberto.
- Ela é bonita?
- Ele ainda não enviou uma foto. - respondeu. Caroline riu.
- E o Madson? Está tudo bem com ele?
- Está sim. Morando no Japão... - preferia falar sobre a Senhora Ferguson, mas, pelo visto, ela não queria isso.
- Hum. – Caroline a olhou distante. - E você?
- Eu o quê?
- Arranjou alguém?
se sentiu um pouco mais triste, mas não respondeu. Caroline sorriu.
- Deixe-me adivinhar... Você não arranjou alguém, esse alguém arranjou você. - se manteve quieta, e ela riu. – Isso é ótimo! Qual é nome dele?
- Ele não existe. - disse dando de ombros. – Não tem ninguém, Senhora Ferguson. E nem nunca vai ter...
suspirou e Caroline olhou para ela, com uma das sobrancelhas erguidas.
ficou observando as crianças brincarem enquanto a ceia estava sendo colocada na mesa. Viu-as dançarem e pularem, feito loucas. Uma música tocava de fundo no toca-discos e o clima de natal não poderia ser melhor...
Ela olhou para a taça de vinho na sua mão e deu uma mexida, antes de engolir todo o resto da bebida.
Anunciaram que a ceia estava na mesa e todos saíram correndo em direção à sala de jantar. colocou seu copo em cima da mesa do toca-discos e foi com seus vizinhos na direção da mesa. O colar que Henry tinha lhe dado de natal ainda estava nela, por baixo de suas roupas.
Ela se sentou e olhou para a variedade de pratos que estavam lá. Procurou por sua torta e lá estava ela, entre o peru e salada. Tinha passado o começo da noite tentando prepará-la, mas quase explodiu o seu fogão. Por isso, antes de ir para a casa da Senhora Ferguson, ela passou na padaria e comprou uma torta já pronta. Esperava que as pessoas acreditassem que foi ela, mas todos sabiam que ela não era muito boa na cozinha.
estava se lembrando da tarde de hoje. Estava se imaginando agora sentada em um banquinho, com um copo de vinho ou qualquer outra bebida na sua frente, enquanto a música estava tocando. Viu Leo dublar o Black Eyed Peas, enquanto fingia que a colher de pau era um microfone. Viu cozinhar alguma coisa, enquanto balançava o quadril no ritmo da música. E viu a neve caindo, pela janela da cozinha. Tudo parecia perfeito...
... Até perceber que todo mundo tinha parado de falar e que Joffrey estava de pé, em seu lugar, falando alguma coisa. Ela olhou, decepcionada, para seu vizinho.
- ... E a minha ex-mulher, Jenna, por ter me deixado. Jenna, vai se foder. Feliz Natal, pessoal!
As pessoas demoraram, mas aplaudiram o discurso... Diferente de Joffrey.
olhou para as comidas na sua frente e suspirou, antes de pegar a colher do arroz e se servir.
Depois que todos tinham ido embora, ficou para ajudar a Senhora Ferguson a arrumar a mesa. Só tinham ficado elas duas na casa toda, tirando a sua neta, a . Uma estava lavando os pratos, enquanto a outra os tirava da mesa. Eram muitos, mais de trinta pessoas estavam presentes naquela ceia.
As duas se mantinham quietas. observava o tempo lá fora, enquanto lavava os pratos. Não estava nevando naquele horário, mas estava com cara de que isso iria acontecer. Caroline ficava a observando o tempo inteiro, como se esperasse que ela fizesse algo. Mas ela não fez.
Depois de tudo lavado e arrumado, tirou o avental de cima dela e o colocou em cima da bancada da pia. Tirou as luvas e as prendeu para secar.
- Muito bem, é isso, Senhora Ferguson - olhou em volta, para ter certeza de que não tinha sobrado mais nada para lavar. – Eu já vou indo.
- Muito obrigada pela ajuda, ! - Caroline disse a olhando com os olhos bondosos. – Você vai para onde, agora?
- Para casa – ela pegou o casaco em cima de uma das cadeiras da mesa e o vestiu. Caroline estava a seguindo.
- Tem certeza?
- Hã... Tenho.
- Então, tá. Achei que você poderia ir fazer outra coisa agora, mas tudo bem...
- Você quer que eu a ajude em mais alguma coisa, Senhora Ferguson?
Caroline sorriu.
- Eu não preciso de ajuda, garota. Não mais. Eu ouvi risadas, eu conversei com as pessoas, eu estou me sentindo completamente bem. E você? – Caroline Ferguson sorriu sugestiva para , que não entendeu direito as intenções dela. Senhora Ferguson abriu a porta para que saiu, mas se virou para ela, antes de ir. – Boa Noite, querida. E feliz natal.
(Coloquem essa música para tocar agora, por favor: The Antlers - Two)
começou a caminhar pela neve, enquanto olhava para seus pés. Suas mãos estavam quentes dentro dos seus bolsos do casaco, e uma fumaça branca saía de seu nariz. O começo da madrugada estava mais gelado do que todos os dias deste inverno.
Caroline estava arrumando sua bancada e se preparando para dormir. Ela se sentia fraca e cansada, mas estava feliz apesar de tudo. Ela tinha quase certeza do que faria agora e isso a deixava mais feliz do que tudo.
estava se lembrando da missão de Leo. E do que ele lhe dissera: “Eu só quero ganhar o meu presente de Natal”. E ela? Qual seria o seu presente de natal?
Caroline olhou para a foto do seu marido no criado-mudo e se deitou na sua cama. Olhou para o teto e ouviu os passos de sua neta no outro quarto. Ela já deveria estar indo dormir.
chutou uma pedrinha e, sem perceber, já estava na frente da sua casa. Ela olhou para a fachada dela por um tempo, pensando. Então olhou para o lado, para a continuação da rua. E sorriu.
Caroline rezou, agradecendo a Deus pelo maravilhoso Natal e pedindo para cada uma das pessoas que estavam presentes hoje. Para sua neta, , e a família , e aquele menino, o , para e para todo mundo.
Quando terminou de rezar, continuou a olhar para o teto e continuou a pensar.
começou a caminhar cada vez mais rápido, até começar a correr. Ela seguiu pelas ruas de Alavus, seguindo atalhos, até chegar na rua que ela desejava chegar. parou de correr e começou a caminhar.
Então, ela agradeceu por ter conseguido ganhar o seu último presente de natal. Caroline sorriu e desligou o abajur na cômoda ao seu lado, se deitando de lado e fechando os olhos. Deu um último sorriso, antes de apagar.
olhou para a casa à sua frente. Estava ofegante pela corrida.
pensou mais uma vez em seu presente de natal. E pensou no presente de Leo. Irá dar a ele o que ele queria.
Ela correu até a porta e parou. Apertou a campainha e desejou não ser tarde de mais. Esperou, olhando distraída para o lugar à sua volta, quando ouviu o barulho de chaves. se virou e a porta se abriu.
a olhou com um sorriso no rosto, como se soubesse que ela voltaria. Conseguia ver Leo, o menino dos olhos cor-de-infinito, a alguns passos dele. Ele estava se esticando para conseguir ver quem era e, quando ele conseguiu ver que era ela, um enorme sorriso surgiu em seu rosto. olhou para os dois e sorriu.
- Olá.
Nota Das Autoras
Olá, aqui quem está falando é a Giulia, a Thami e a Júlia! Pois é, este tema está um pouquiiiinho fora de época, porém ainda dá tempo de desejar a você, que conseguiu ler tudo isso, um feliz natal!
Queremos dizer que foi muito difícil escrever tudo isso a tempo, e que, como sempre, achamos que dava para melhorar. Ah, e só para avisar, em relação aos gays, eu (a Giulia) não tenho nada contra eles (Sei lá, sempre tem alguém que entende errado). E nos desculpem pelo final não muito, hum... Legal. Sabemos que poderia ser melhor, mas, pois é, não deu :(
Esperamos que você tenha gostado - pelo menos um pouquinho - das histórias, que você tenha um ótimo ano novo e que tenha uma vida legal! Até a próxima! xoxo
Ass: Giulia M., Júlia Proença e Thami Sanchis.
Nota da Beta e NÃO da Autora: Encontrou algum erro de script/html/português? Avise-me através deste e-mail ou pela ask. Não use a caixa de comentário com essa intenção. Obrigada.
Agradecimentos sobre a fiction? Somente com a autora!
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