Ele era lindo! Eu o admirava sempre que podia. Mania ridícula de andar sem camisa! Como pode um cara alto, com o corpo definido, não por academia, mas por pura genética, não gostar de usar camisa? Só pode ser pra se exibir para as amigas da filha dele. E eu era uma das amigas, que sempre babava nele. Sempre. Mesmo sem ele saber. O nome dele é . 36 anos, barbudo, nariz bem desenhado, lábios finos e olhos claros. Um Deus grego a meu ver. O único defeito era ser o pai da , minha melhor amiga e melhor amigo do meu pai. Médico, e que médico! Trabalha no Hospital Geral da cidade. Já cuidou de mim algumas vezes, quando eu ficava doente claro! Eu era apaixonada por ele.
Meu nome é . Tenho 21 anos, moro nessa cidade desde o dia que nasci e conheço praticamente todos os moradores daqui. Não por querer, mas porque meu pai tem uma lanchonete e todos vão até lá. Hoje é sábado e eu me recusei a trabalhar lá e estava na casa da , porque ela é minha amada amiga e bem... Ela tem um pai delicioso e hoje ele estava em casa.
- Amiga vamos fazer o que hoje? – sentou-se no sofá da casa com duas maçãs na mão: uma pra ela e outra pra mim.
- Ir à lanchonete concorrente? Eu não quero que meu pai me veja beijando um cara... - Sorri.
- E você vai ter um encontro e nem me conta cachorra? Como assim? – deu uma mordida em sua maça.
- Ah, é um cara que vai direto à lanchonete do meu pai, o nome dele é . – Disse sem graça.
- Quem é que vai ter um encontro? – se intrometeu na nossa conversa, deixando-me constrangida. Até então, ele estava entretido em seu celular.
- A Alice, pai. Finalmente, vai desencalhar! – jogou uma almofada na minha cara, que acertou em cheio já que eu estava olhando para o pai dela. Quando consegui me concentrar novamente percebi que me olhava também.
- Esse cara ai vai ter muita sorte! – Dito isso, saiu da sala em direção a cozinha, mas será que só eu percebi a malícia em sua voz? E o que era ele me olhando? tem outra mania, a de implicar comigo, eu pra não ficar por baixo respondo a altura. No fim, acaba sendo legal, mas por essa frase eu não esperava.
***
À noite eu estava pronta pra sair com o . Nada demais, era um lanche, um encontro bobo. Vesti uma calça jeans, camiseta e sapatilha. Deixei os meus cabelos soltos e brilho nos lábios. Peguei minha bolsa, guardei meu celular, identidade e dinheiro. Sai às pressas, pois se demorasse mais alguns segundos eu estaria atrasada.
Meu celular vibrou na bolsa e quando vi era mensagem da , que sempre me desejava sorte aos meus encontros, sorri com o teor dos xingamentos, coisa que só melhores amigas entendem. O guardei antes de atravessar a rua indo de encontro com .
- Oi minha linda! – Disse ao me ver, ele tinha um sorriso lindo e olhos azuis, agora me diga como consegui um encontro com ele? Nem eu sei.
- Oi ! Tudo bem? – Dei dois beijos em seu rosto e entramos na lanchonete concorrente.
- Não sei o porquê de não querer me encontrar na lanchonete do seu pai. – disse curioso.
- Exatamente por ser o trabalho do meu pai. Não quero que me veja com homens por ai... – sorri, enquanto me sentava em uma das mesas.
- Mas eu sou conhecido dele, ele não veria problemas veria? – fez careta, o que me fez rir. – E homens? – perguntou curioso - Você sai com tantos assim? – sorriu e eu fiquei constrangida, aquela frase não pegou nada bem pra mim.
- Não se assuste , mas meu pai te vê como um cliente, e não como um pretendente. – Ri de mim mesma por assumir isso a ele. – E não são tantos assim, é que deve ser complicado pra um pai ver sua filha com alguém. Ciúme sabe? – Sorri.
- E você me vê como um pretendente? – Quis saber.
- Vamos ver com o decorrer da noite. – o atendente chegou á mesa e fizemos nossos pedidos.
Conversamos bastante e descobri várias coisas sobre o . Dentre elas descobri que ele estuda engenharia, tem 28 anos, sua cor favorita é verde e que ele mora sozinho há um ano e, o melhor, não tem namorada. Sorri quando ele me passou essa informação.
- Você é bem legal mesmo , bem mais do que eu havia imaginado – corei. Com certeza.
- Obrigada . Você também é muito legal, além de lindo – cantei e, pra disfarçar, bebi um pouco do meu suco.
- Isso foi uma cantada? Não acredito! – disse surpreso. Um surpreso bom.
- Sim! – Respondi convencida. – Eu te acho muito bonito. E sim você pode ser um pretendente – conclui.
- Você é muito modesta. – Foi sarcástico. Mordeu um pedaço da pizza de calabresa. – E não é fresca pra comidas. Eu to cansado das mulheres que eu conheço que me matariam se a chamassem pra vir aqui.
- Por mim, pode me chamar sempre. Ok, sempre não, pois assim eu ficaria uma baleia. – Fiz menção com as mãos ao tamanho de uma baleia e riu, gosto quando ele sorri.
- Você é mesmo uma graça . – Segurou minha mão, encarando-me. Ao ver que fiquei sem graça a soltou.
- Sou? Você que é um conquistador de mão cheia ! Vou me sentir uma rainha desse jeito.
- Mas você é. E merece todos os elogios do mundo. – mais uma vez segurou em minha mão, deixando-me sem reação.
- Bem, preciso ir embora, ainda tenho um aniversário pra ir, tenho que encontrar com meu pai. – Menti. Fiquei desconfortável, por um momento.
- Tudo bem, eu te levo até lá. Pode ser? – Olhou-me como um cão pedindo carinho.
- Com esses olhos lindos como resistir? – Sorri abertamente para ele e me levantei, se levantou em seguida indo ao caixa pagar a conta.
Caminhamos pela rua e riamos bastante, era bem humorado, coisa que admiro em um homem. Inteligente, independente, charmoso e lindo. Ponto pro .
Chegamos à rua da lanchonete do meu pai e por sorte ele estava do lado de fora na companhia de nada mais e nada menos que , ai sim! Agora minha noite estava ótima.
- Olha o seu pai ali. – apontou para os dois homens na calçada.
- É. Ele deve estar me esperando para ir à festa. – Continuei com a mentira. – Pode me deixar aqui se quiser. – Tentei fazer com que ele não fosse até meu pai, caso contrário, descobriria minha farsa.
– Aqui mesmo? – insistiu.
- Sim. Aqui está ótimo. Ele já deve estar me vigiando de lá. – Cochichei.
- Então eu vou pra casa daqui. – parou de andar, parando-me de frente a ele.
- Foi ótimo te ver – beijei seu rosto. - Apareça mais vezes lá na lanchonete, será um prazer te atender.
- Só? Eu não posso aparecer e chamar pra sair outras vezes? – Indagou.
- Pode. Sua companhia é maravilhosa. – Fui sincera, desta vez.
- Bom, já vou, seu pai está olhando pra cá. Você vai apanhar quando chegar em casa se eu te pedir um beijo? – Sorri incrédula.
- Tá me chamando de criança? – Esbravejei com as mãos na cintura, mas com um sorriso no rosto.
- Não! Longe disso. Mas é que seu pai e aquele cara com ele estão olhando. Eu quero muito um beijo seu. – estava sem graça e isso me deixou atraída. Ainda mais sabendo que também olhava.
- Um beijo, ok? E pode deixar que em casa eu me viro. Não sou mais uma criança. – Aproximei-me mais de .
- Isso eu posso perceber. – olhou-me de cima abaixo com um sorriso safado de canto de boca, dei-lhe um beijo suave em sua boca.
- Só isso? Não! – puxou-me pela cintura beijando-me de verdade. Com a força do impacto, segurei em sua nuca aprofundando o beijo. O cara sabia o que estava fazendo. apertava minha cintura enquanto eu sentia minhas pernas amolecerem. Respirei fundo querendo que aquilo não acabasse, mas eu precisava ver a cara que o poderia ter feito. Cortei o beijo.
- Eu tenho que ir... – soltei-me de suas mãos.
- É uma pena, eu queria continuar. – Ameaçou beijar-me de novo.
- Eu também, mas eu preciso mesmo ir – virei para trás, os dois ainda nos olhávamos.
- Tá. Até a próxima – beijou-me outra vez.
- Até a próxima . – Sai antes que ele dissesse ou tentasse mais alguma coisa. Continuei andando sem olhar para trás, espero que tenha seguido o seu caminho.
***
Cheguei próximo aos dois que me olhavam cada um com uma expressão. Meu pai com cara de “quero explicações sobre o que vi” e com cara de “cara de sorte/eu queria estar no lugar dele”. Olhei para meu pai sorridente, ele não ia estragar minha noite.
- Boa noite papai! – Dei um beijo em seu rosto. – Boa noite – o cumprimentei de longe.
- Boa noite! Agora pode me explicar o que foi aquilo? – apontou em direção onde eu estava com o .
- Aquilo? Foi um encontro! E um beijo de despedida pai. Não seja ranzinza. Você já foi um adolescente. – riu do que eu disse, dando um tapa no ombro do meu pai que parecia estar furioso.
- Relaxa . tem razão, já fomos adolescentes...
- Você sabe quantos anos aquele cara tem, ? – Meu pai começou o interrogatório. Ele não era tão chato, apenas ciumento. Contando que ele não visse, ele não reclamava quando eu saia com alguém, ele só precisava estar informado. - Você fala isso porque não é com a ... – meu pai respondeu ao .
- Que está em casa essa hora, eu espero. – olhou o relógio checando as horas. – Nossa, vai dar meia noite. Nem me dei conta.
- O Nicolas tem 28 anos. E o senhor o conhece da lanchonete, eu achei que vocês fossem colegas... – recostei-me nos ombros do meu pai exausta, ele olhou-me assustado dando um passo para o lado se desvencilhando de mim.
- Ele é muito velho pra você. Arranje um mais novo. – Papai estava extremamente ciumento hoje.
- Pai foi só um beijo de despedida, não vou me casar com ele! – Respondi mal criada e apenas ria da nossa conversa.
- Vamos entrar. Não somos maricas fofoqueiras que ficam na rua falando da vida dos outros.
- Ah não, eu quero ir pra casa, eu estou cansada, você vai comigo? – Choraminguei.
- Não. A lanchonete ainda está cheia, devo ir embora em uma ou duas horas. Quer esperar? – Alisou meu cabelo.
- Não quero, não. Eu prefiro ir embora. Vou andando.
- Eu posso te levar se quiser. – ofereceu a carona.
- Você a leva? – Meu pai perguntou aliviado.
- Levo sim. Eu to indo para o plantão no hospital. Passei aqui só pra falar com você. E sua casa é caminho pra mim, se quiser vamos agora. – Colocou as mãos nos bolsos procurando as chaves.
- Claro! – Saltitei de alegria, eu poderia jogar um charme pra ele no caminho. Por mais que eu fosse apaixonada por ele, eu evitava tentar algo, mas esporadicamente não faz mal né. Abracei meu pai dando-lhe outro beijo no rosto. – Te espero acordada? – Perguntei ao velho.
- Não, pode ir dormir se quiser. Não sei se saio em duas horas daqui. – Olhou para lanchonete que estava mais cheia do que na hora que cheguei.
- Ele deve estar escolhendo quem levará para casa hoje, . – brincou com meu pai.
- Ai dele se levar! Se eu não posso, ele também não! – Disse séria.
- Você é minha filha, eu o seu pai. Eu crio as regras e você as cumpre. Eu não. – Meu pai disse rindo e apertando minhas bochechas. – Você é muito nova pra isso , já te disse. Não quero você com namoradinhos na nossa casa. Traga quando for um namorado de verdade.
- Cara, às vezes eu acho que você é muito inocente perto da sua filha. – gargalhou da cara que meu pai fez. apertou o alarme do carro para destravá-lo e eu entrar e sentar no banco do carona.
***
- É serio que aquele cara tem 28 anos? – pôs-se curioso com meu encontro.
- Sim. – Continuei olhando pela janela sem dar continuidade aquela conversa. Eu não queria, mas ele sim.
- Então gosta de homens mais velhos... – pareceu falar com ele mesmo.
– Gosto. – Respondi mesmo sem saber se era ou não uma pergunta.
- E por que você foi pra lanchonete do seu pai e não o deixou te levar até a sua casa?
- Eita, que hoje você está bem curioso hein . Você é assim com a quando ela tem seus encontros? – fui ríspida sem querer e logo me arrependi. O olhei nos olhos como pedido de desculpas e ele não disse mais nada. Burra!
O caminho foi silencioso, talvez ele não quisesse se arriscar a levar mais uma patada da filha do amigo dele. E eu não quis tentar puxar assunto. Eu tinha acabado de perder uma chance de tentar algo. Em frente ao prédio, assim que parou o carro, ele virou-se de frente a mim.
- Chegamos. – Ele disse apenas.
- Me desculpa tá? – virei de lado ficando de frente a ele. – não quis ser ríspida com você, e eu voltei pra lanchonete porque achei melhor. Ele é um cara legal, mas por algum motivo não quis que ele me trouxesse. – Ficamos nos olhando intensamente e eu queria que ele dissesse alguma coisa, mas não aconteceu. Seus olhos apenas me convidavam pra chegar mais perto, uma coragem percorreu minhas veias e quando vi, eu já estava fazendo.
Joguei meu corpo pra mais perto dele e o beijei. E por incrível que pareça ele correspondeu meu beijo, mesmo sem se mexer de seu lugar. Eu apenas segurava seu rosto beijando-o e ele correspondia. Os segundos se passaram e eu o soltei ofegante. nada disse, apenas sorriu. Destravei a porta do carona e antes de sair olhei novamente e disse: - Você também teve a sorte daquele cara. – Sorri mais uma vez e sai do carro.
***
Cheguei ao apartamento afoita! Sorrindo loucamente. Imediatamente, peguei o celular para enviar um sms pra , ela precisava saber, não do pai dela, mas do , claro! “O encontro foi legal, rolou só um beijo na despedida, mas não sei o que houve que não deixei ele me trazer em casa. :s” Não demorou muito para que ela respondesse. “Você é maluca, deveria ter aproveitado e dado uns amasso nele. Eu o faria” – claro que faria. – Pensei. “Ok, vou dormir a minha noite foi longa. Beijos :*”
Noite longa e maravilhosa
Domingo, para mim devia ser o dia oficial da preguiça. Acordei quase na hora do almoço e meu pai havia deixado um bilhete na geladeira, dizendo que o almoço seria na casa do . Ah, que sorte a minha! O cara não vai nem olhar na minha cara depois do que eu fiz ontem... Ou não. Talvez ele tenha gostado.
Corri para um banho demorado, não ia sair correndo para a casa dele. Deixei o celular no quarto e quando voltei ele estava vibrando, era mensagem do . “Noite maravilhosa, adoraria repeti-la.”- Ele era um fofo, mas eu tinha planos pra hoje.
Vesti um short jeans com uma camiseta estampada. Deixei meus cabelos soltos. Base e pó para melhorar a cara de sono, um gloss pra realçar meus lábios e óculos escuros pra amenizar a claridade. Eu estava pronta. Peguei meu celular e disquei o numero que sabia de cor: o celular da .
- Fala comigo gostosa! – atendeu com voz animada.
- Fala delicia. A comida já ta pronta? To indo pra ai já.
- Que comida tá doida? O almoço é no . – Espantei-me.
- Que ? Meu pai deixou um bilhete dizendo que o almoço era ai. – Havia algum mal entendido.
- Meu pai não chegou ainda do plantão. Tem algo errado ai.
- Pensei a mesma coisa, vou ligar pro meu pai. – Ouvi um apito.
- Espera, meu telefone apitou, deve ser meu pai. Segura ai. – abafou o telefone, mas pude ouvir o som das teclas ao fundo. Um tempo depois ela voltou.
- É aqui em casa mesmo, meu pai já está vindo com o almoço. Vai passar no seu pai e trazer ele. Pode vir pra cá. Ah! Quero saber como foi a noite de ontem. – Com isso lembrei-me do beijo em e corei, queria outro.
- Ok. Eu to indo, me espera ai. – Como se ela fosse sair, né.
O caminho do meu prédio para o apartamento da não era longo, morávamos perto, graças à amizade do meu pai com o dela, eram amigos de infância, mesmo com uns anos de diferença entre eles. Foram pais muito jovens. O meu, foi pai aos 18 e o com 17, mas a diferença entre eles são de três anos. E pra ajudar, são pais solteiros, agem como se fossem adolescentes. Minha mãe morreu no parto, infelizmente. A mãe da quando ela tinha seis anos se separou do e eles compartilharam a guarda até ela completar a maioridade. Foi quando ela escolheu morar com o pai. Sempre que pode visita mãe. E ela também vem visitá-la.
Caminhei tão distraída que nem percebi que havia chegado ao meu destino. Dei um oi rápido para o porteiro e corri para o elevador que ia fechando as portas. Apertei o botão número sete. Não entendia o porquê, mas estava me sentindo nervosa. O elevador parou e as portas se abriram. No hall estavam e um amigo, que pelo sorriso era algum pretendente dela.
- Boa Tarde, ou bom dia, ainda estou perdida. – Interrompi o casal passando feito furação pelos dois. Fui para a cozinha, não tinha comido nada depois que acordei. Peguei uma pera pra comer. Casa de médico é sempre assim? Cheio de fruta e coisas saudáveis? Voltei pra sala assim que ouvi a porta se fechar, podia ser o , eu precisava da minha dose diária daquele homem sem camisa.
- Me diz ai, quem era o gato na sua porta? – Sentei no sofá. Era a .
- . Ele é da minha turma. Você não o conhece. – sentou ao meu lado tacando uma almofada na minha cara. Ei mania maldita. – Agora me diz um beijo só ? Que fraca!
- Ah dá um tempo! Eu não quis prolongar, quero deixar um gostinho de mais. Hoje eu recebi um sms dele. Ele quer mais.
- Caraca, tua arrasa garota. – era uma besta né? Adorava o jeito que ela falava.
- Tu que é muito besta. – Comentei - Enfim, to só esperando o próximo contato. Daí eu marco alguma coisa.
- E eu aqui esperando o lerdo do tentar algo. É uma lesma. Aff! – jogou o corpo pra trás, deitando no sofá colocando seus pés sobre o meu colo. Eu batucava a sua perna para distrair a mente, eu queria ver o . Onde diabos esse homem se meteu?
- Cadê os homens? To com fome.
- To com fome também. Àquela hora ele ainda tava saindo do hospital. Vai demorar um pouco. Hoje vai ser comida japonesa. – passou a mão na barriga.
- Gorda! – Xinguei . – Mas com o a fome que eu to vão ter que trazer o dobro... – enviei um sms pro meu pai dizendo que era melhor trazer o dobro do que comprarem, pois eu estava com muita fome. Papai respondeu que levaria e que tinham surpresa. Que não seja mulher...
Meia hora depois ouvimos o som da porta se abrir, olhamos uma para outra felizes aquela pera só aumentou meu apetite. Quando olhei em direção a porta pude ter a visão do paraíso, , infelizmente ainda vestido da cintura pra. Atrás dele a visão do inferno. Uma loira aguada. Rindo parecendo uma hiena. Quem era aquela mulher? Olhei pra que retribuiu sem entender nada, fechamos a cara na hora. Ela por ciúmes do pai e eu bem, também.
- Oi, oi, oi! – parecia animadinho e sorria abertamente. Filho da puta mesmo.
- Oi! – respondemos em coro. Com a cena terrível que eu presenciei, virei para frente e não percebi meu pai junto deles.
- Meninas! Essa é a , uma amiga nossa da época de escola. essas são Alice e Naiara, nossas filhas.
- Ei meninas tudo bem? Mas vocês são um casal? Nossas filhas... – A tal imitou meu pai zombando dele. Não sei se ria ou chorava, ela era um fantasma do passado dos dois.
– Ai , a mesma zombeteira de sempre. - Meu pai bagunçou o cabelo da mulher, parecia um adolescente, e os dois pareciam disputar a atenção da loira. Idiotas.
- Não gostei dela. – sussurrou, cruzando os braços.
- Muito menos eu, esse almoço vai ser um saco. – Descansei minha cabeça no encosto do sofá, eu precisaria de forças pra aguentar isso.
- Olha a coincidência, fui buscar o e ela estava na lanchonete. Resolvemos chamá-la para almoçar – manifestou-se finalmente, olhando pra mim, cumprimentou-me com um aceno de cabeça. Ele sorriu amenizando minha raiva e ciúme por ele, trazer essa loira azeda pra almoçar com a gente, não, né?
***
O almoço não foi tão ruim, parece que os homens da casa repararam na nossa cara de “não gosto nada disso” e se comportaram na nossa frente, a loira fantasma, parecia ser legal, mas por ser uma ameaça, não dei o braço a torcer. saiu da casa do por volta das três da tarde. Pra mim durou a eternidade, mas o meu conforto foi ver que quem estava tentando algo com ela era meu pai e não o , sim, eu estava preocupada com isso. E falando em pai, este me deixou largada na casa da para deixar a loira na casa dela. Safado!
- Acho que seu pai se deu bem hoje hein . – Implicou sentando-se ao lado da filha – Não acha, ? O pai da desencalha hoje ou não? – riu sarcástico.
- Não vejo problema nenhum nisso – mentira! – ao menos ele larga do meu pé e eu poderei ter encontros tranquilos. – Respondi encarando-o. Ele sorriu cafajeste. Era a primeira vez que ele ria daquela forma. Só eu que sentia meu coração saltitando de alegria?
- Eu vou pra casa, já que fui abandonada e trocada por uma loira. – Resmunguei.
- Mas você também é loira. – retrucou com o resto de consciência que tinha. Estava deitava no colo do pai, ele mexia em seus cabelos de forma carinhosa. Estava quase dormindo.
- A diferença é que ela faz coisas que eu não faço... – fingi lixar as unhas.
– Isso é verdade! – Concordou .
- Então, eu vou indo. Beijos pra quem fica. – Levantei do sofá caminhando em direção aos dois para despedir-me. Segui olhando pra o que me encarava descaradamente. Ao chegar bem perto me curvei para dar um beijo numa quase dormindo. Ela sorriu e aconchegou-se no colo do pai. – Tchau! – Dei um beijo demorado no rosto dele. Sai do apartamento, sem olhar para trás e assim que chamei o elevador ouvi uma voz deliciosa me chamar.
- ! – Era ele.
- Fala – não olhei pra ele.
- Acho melhor você passar o resto do dia aqui. – caminhava em minha direção.
- Deixa pra outro dia, quero ir pra casa mesmo... - o elevador chegou e as portas se abriram. Dei um passo para frente e ele correu segurando as portas do elevador.
- Acho melhor você ficar, seu pai mandou um sms dizendo que mudou os planos e está com na sua casa. – Mostrou o celular.
- O quê? – respondi incrédula. – Não quero ficar aqui e não posso ir pra casa, o que eu faço? – cruzei os braços, ainda dentro do elevador.
- A gente dá um passeio e depois volta? – entrou no elevador e apertou o botão da garagem.
- E a , ela não vai? – assustei-me com a ideia de que estava saindo com ele e sem saber para onde.
- Ela dormiu. É só mexer nos cabelos dela que ela dorme. – Ele disse isso em tom diabólico.
- E nós vamos pra onde? – perguntei ao sair do elevador.
- Não sei – pensou um pouco – que tal um sorvete? Hoje o dia está tão quente!
- Só se for na minha sorveteria favorita.
- A senhorita que manda! – Abriu a porta do carro para mim. Um verdadeiro cavalheiro.
***
No rádio tocava uma música qualquer, mas animada, fazendo-me batucar os dedos na janela aberta. Sentia o vento forte bater em meu rosto sem me importar com quem me visse de olhos fechados. O carro parou e eu continuei de olhos fechados, mas senti alguém me olhar. Isso estava me incomodando.
- Você é muito linda. Igual a sua mãe. – me olhava intensamente.
- Obrigada, ela era linda mesmo. Ao menos pelas fotos que vejo.
- Éramos muito amigos, nós três. Foi uma perda terrível, mas ao menos nos deixou você. –Ele tocou em meu nariz, fazendo-me rir. Um sorriso triste, mas um sorriso.
- Obrigada, mais uma vez. – Eu o olhava triste. Péssima hora pra falar da minha mãe. Pelo menos ganhei um elogio. Os carros atrás de nós buzinaram loucamente, pois o sinal estava aberto. sorriu sem graça. Eu não me importaria de ficar ali trocando olhares com ele.
Chegamos a minha sorveteria favorita, que por sorte estava com pouco movimento, o que era um milagre, pois era um domingo caloroso, como ninguém pensou em sair pra se refrescar? Escolhi o meu sabor e fez o mesmo. Sentamos em uma mesa de canto de dois lugares. Ficamos ali conversando como velhos amigos, eu contava como era trabalhar com meu pai, o porquê não segui direto para a faculdade depois do ensino médio, e ele me contava como era trabalhar no hospital, em poder salvar vidas nas emergências, ou como era ajudar as pessoas que iam ao consultório, mas que ele gostava mesmo era de ficar na emergência, que era bem mais movimentado do que ficar dando consultas. Ouvi-lo falar daquilo com tanto amor e orgulho me deixava cada vez mais encantada por ele. Nem percebemos, mas passou-se um tempo e a sorveteria estava cheia. Um rapaz veio nos perguntar se podia sentar ao me lado no sofá e emprestar a cadeira, pois já não havia lugar pra ele. se levantou rapidamente cedendo a cadeira para o menino que agradeceu sorrindo. Aquele corpo todo sentando ao meu lado fez-me lembrar do desejo que sentia por ele.
- Milagre, você de camisa! Ainda mais sendo um dia quente assim. – Lembrei-o do fato.
- Eu tenho que me comportar no meio das pessoas, . – Olhou-me sapeca, como um jovem de vinte anos. Talvez se sentisse como um.
- Eu prefiro você não comportado! – Ironizei sorrindo safada pra ele. Coloquei uma colherada de sorvete na boca, eu já estava na segunda rodada.
- É mesmo, senhora safadinha? Deixa seu pai saber disso. – Repreendeu.
- Eu prefiro deixar meu pai fora dessa! – Ofereci um pouco do meu sorvete a ele, abriu a boca para que eu o servisse. Ao provar o sabor do sorvete fez uma expressão de prazer, que acionou meu lado pervertido mais uma vez, imaginando que seria assim que fazia quando tinha prazer. – Eu disse que o sorvete era bom.
- Era de se esperar com um sabor chamado pavê com torta alemã.
- Eu sei o que é bom nessa vida. – Sorri apanhando mais um pouco do sorvete.
- Tem sorvete no canto da sua boca – ele apontou.
- Onde? – Perguntei curiosa e louca para que ele limpasse com um beijo. Tudo culpa desses filmes clichês.
- Aqui. – Passou o dedo em meus lábios retirando o excesso de sorvete e o pôs na boca olhando nos meus olhos. Era demais pra mim. Ele estava me provocando daquele jeito.
- Nossa quem ver essa cena vai achar que você está me seduzindo. – Brinquei.
- Talvez eu esteja mesmo. – Ele murmurou e sorriu de lado. Eu não ia conseguir resistir nem mais um segundo sem tentar algo. Fiquei olhando pra ele pensando se devia ou não tentar algo outra vez, seria atrevimento demais? Não foi preciso pensar muito, agiu em seguida.
Beijou-me os lábios com desejo e eu só poderia retribuir, pois eu o desejava a mais de dois anos, mesmo achando que era coisa de adolescente, aquilo não saía da minha cabeça e muito menos do meu coração. Sentia-o bater com mais força. Dessa vez não foi eu que tentei, mas ele. Ele também queria. Senti sua língua brincar com meus lábios e abri a boca para sentir todo o seu sabor, mesmo misturado ao do sorvete, era muito bom. Segurei em seu rosto com uma das mãos e com a outra alisei seus cabelos com cuidado. Queria aproveitar cada segundo daquilo. O beijo infelizmente foi perdendo a intensidade e acabou com selinhos demorados, não queríamos mais nos soltar.
- Me desculpa, mas eu fiquei querendo mais depois de ontem. – Sorriu sem graça.
- Não tem o que desculpar , eu quis tanto quanto você.
- Deu pra perceber. – Passou as mãos nos lábios vermelhos. Seu telefone tocou e ele assustou-se.
- É a , a esquecemos em casa! – Mostrou o celular para que eu visse seu nome no visor.
- Você a esqueceu. Eu perguntei por ela.
- Oi, filha. – fingiu não me ouvir e atendeu ao telefone. - To comprando sorvete pra você e pra . – se explicava – Ela tá comigo, o pai dela tá com a na casa deles e ela desistiu de ir pra lá – ele continuava a falar – é desde aquela hora... Já estamos indo . To pagando a conta. – levantou-se me chamando pra levantar também e caminhou até o caixa para pagar a conta. – A conta, por favor. Tá filha, tchau.
- , o sorvete dela. Tem que levar. – Lembrei a ele. Escolhi o sabor e entreguei a moça do caixa.
***
No estacionamento do prédio, deixou o carro e quando entramos no elevador ele prensou-me na parede e voltou a me beijar segurando em minha nuca. Senti seu corpo encostar-se ao meu com malícia e sorri entre o beijo. O elevador parou e ele me soltou com rapidez. A senhora que entrou no andar da portaria nos cumprimentando sorridente e apertou o nove.
- Dessa vez você me deve desculpas. Eu não queria. – sussurrei séria, mas era puro teatro, eu adorei a surpresa.
- Oh! Me perdoa , achei que também queria. – respondeu, assustado.
- To brincando. – O elevador parou no sétimo andar e nos despedimos da senhora sorridente.
- não pode saber, hein . – O homem ao meu lado lembrou-me do nosso segredo.
- Ela não vai saber. – Roubei um rápido beijo dele enquanto ele abria a porta.
nos esperava na sala com cara amarrada. Ela não gostou nada de nos ver juntos.
- Nossa que demora! Foram fabricar o sorvete? – Ela estava estranha.
- Não. Só tomamos todo o estoque da sorveteria. – O pai dela ria da situação, sabia que a filha estava com ciúmes, mas logo de mim?
- Toma , o seu favorito. E se acalme que eu não fiz nada com seu pai. – Brinquei com a menina pra abrandar o clima.
- Eu sei que não faria. – Ela pegou o pote de sorvete. – Morango, meu favorito, mas porque demoraram tanto? Vocês saíram cedo.M
- Ficamos conversando, minha filha. Enrolando pra ver se o liberava a casa, e você estava dormindo.
- Mas a saiu e não tinha dormido ainda, como não vi você sair? – Ela tava desconfiada.
- Acontece que você dormiu assim que ela saiu pela porta, na verdade você já estava quase dormindo quando ela saiu. O me mandou o sms assim que ela bateu a porta pedindo pra distrair a até ele liberar a casa.
- Falando assim parece que meu pai tem 15 anos de novo. – Queixei-me, sentando no sofá. – Aliás, a casa já ta liberada?
- Me deixa ver. – já estava sentado no mesmo sofá em que estava, esta recebia massagens no pés do pai com uma das mãos, que com a outra vasculhava seu celular para achar alguma mensagem do meu pai. – Aqui. “ liberada a voltar pra casa só as 22h”
- Puta que pariu! – soltei um palavrão involuntário.
- Olha a boca garota! – repreendeu.
- Tudo isso? – cruzei os braços.
- Deve ser porque ele é velho e precisa de ajuda extra. – comentou rindo, o clima por ali deu uma melhorada e pude sorrir também. – Quer dormir aqui? Você não estuda mesmo. – convidou.
- Eu aceito. Vou mandar um sms pra ele avisando, daí ele pode até dormir com a loira dele. – Rendi-me ao fato do meu pai estar com alguém.
- Eu queria uma filha dessas. – implicou com fazendo cócegas nela, que ria descontroladamente.
Sai da sala indo à cozinha, precisava beber água. Mandei um sms pro meu pai informando que dormiria por lá e ele poderia ser feliz com a loira dele. Desliguei o celular pra ter bateria pra hora de ir dormir. Ao fechar a geladeira senti a presença de alguém atrás de mim. Quando ia me virar fui envolvida pela cintura e beijos em meu pescoço foram distribuídos.
- Tá maluco? E só porque eu te beijei na sorveteria, não quer dizer que pode me beijar a hora que quiser.
- Primeiro a foi tomar banho – guardou o sorvete no freezer. - Vamos sair pra jantar mais tarde. E segundo, eu posso sim beijar a hora que eu quiser. Eu sei que você também quer. Acha que eu nunca reparei em você me olhando pelos cantos? – Assustei-me com a declaração dele.
- Eu não tenho roupa pra sair com vocês. E quem disse que eu ficava assim? – com as mãos na cintura e o indaguei.
- Você pega uma roupa com a , vocês vestem parecido. E eu sempre reparei, mas nunca dei confiança, você é filha do meu melhor amigo. Como ia te olhar de outra forma? – com as mãos em minha cintura, conduziu-me até a pia deixando-me encurralada entre a pia e ele. Sua respiração era falha, estava louco pra beijar-me outra vez.
- Você esta me olhando de outra forma hoje. – Enlacei meus braços em seu pescoço. Ele sorria enquanto beijava meu pulso.
- Porque você me mostrou que eu não era um apenas capricho.
- Como sabe que não é um capricho meu? – olhávamos nos olhos um do outro.
- Eu sei que não. – parou de falar pra beijar-me a boca finalmente. Sugava meus lábios, querendo mais, as mãos que estavam na minha cintura, desciam com cuidado até minhas coxas causando-me arrepios. De surpresa impulsionou para cima me sentando na beirada da pia. Cruzei minhas pernas em sua cintura e sua mão repousou em uma delas. A outra foi parar na minha nuca puxando alguns fios de cabelo com cuidado. Sua boca já estava em meu pescoço, sugando a minha pele com fúria. As minhas mãos arranhavam suas costas como forma de controlar meus instintos em querer tirar sua camisa. Eu precisava me conter.
- a , pode aparecer a qualquer momento. É melhor parar.
- Você quer parar? – perguntou ofegante. Sua cara de suplica era engraçada. Fez-me rir.
- Quero. – Ainda ria e dava beijos leves em seus lábios. – É mais seguro. Não quero encrencas.
- É. Você tem razão. Você já é uma encrenca na minha vida... Não quero mais uma não.
- Eu uma encrenca? Tá fazendo o que me beijando, então? – desci da pia com raiva.
- Ei, calma, mas você acha que vai ser legal quando seu pai souber? A vai surtar. Vocês tem a mesma idade praticamente.
- E você vai contar alguma coisa pra ele? É pra ser um segredo !
- Segredo? – às vezes ele era meio lerdo, mas só às vezes.
- É. Pelo menos por enquanto. Meu pai vai surtar! E o proibido é sempre mais gostoso.
- Você me vê como algo proibido? – mexia na geladeira para distrair, ele tentou disfarçar, mas eu pude perceber sua excitação.
- Você era. Agora não mais. – Caminhei até ele. - E como você mesmo disse, pode me beijar a hora que quiser. – Dei um selinho nele e saí em direção ao quarto da , eu precisava de um banho.
***
No dia seguinte, eu estava um caco, pois por mais bobo que pareça eu demorei a dormir achando que o ia até o quarto me chamar pra uns amasso as escondidas. Mas isso não aconteceu. Acabei pegando no sono de madrugada e acordando cedo com se arrumando para a faculdade.
- Não aguento mais estudar! – bufava, enquanto procurava por alguma coisa no quarto.
- Eu falava a mesma coisa no último ano. – Balbuciei enquanto levantava com preguiça, já que acordei, ia levantar.
- Ô amiga, não quis te acordar. Mas você não foi pra faculdade como eu. Ainda me restam alguns anos pra estudar. Volta a dormir.
- Tudo bem. Pelo menos você conseguiu decidir o que fazer da vida depois do ensino médio, eu ainda não.
- Você um dia saberá. E vai fazer a faculdade e saber o que é sofrer. – sorriu a ao encontrar um livro de arquitetura. Uma profissão totalmente diferente do pai.
- Uma coisa eu sei, não vai ser medicina e nem Arquitetura.
- Você devia fazer administração pra cuidar dos negócios do seu pai. – pegou suas roupas e foi para o banheiro tomar banho. Deixando-me pensar em que faculdade fazer.
- Eu vou a cozinha fazer um café. Só isso pra me animar de manhã. Passa lá antes de ir pra facul – gritei do lado de fora do banheiro e ouvi um “tá” de volta.
Na cozinha preparei o café na cafeteira e a liguei. Corri para o banheiro escovar os dentes. Quando voltei, encontrei sentado á mesa, comendo. A mesa estava posta para três.
- Café da manhã em família? – ironizei.
- Se você for a minha mulher, sim. – Gelei. Sorri sem graça. Peguei um suco na geladeira e até esqueci que ia tomar café e não beber suco. Passei por pra pegar o copo.
- Vem cá mulher! Cadê meu beijo? – segurou meu braço e sentou-me em sua perna, puxou minha nuca com cuidado, dando um beijo longo. Sorri. Eu estava gostando disso.
- Tá se achando o garotão só porque tá pegando uma novinha... – sorri mais uma vez com nossas testas coladas e ainda no colo dele.
- CARALHO!!! – ouvi . Puta que pariu. Meu coração parou por um segundo, ela só pode ter visto. Sai do colo do às pressas. Isso não pode ter acontecido. Virei em direção à voz e ela estava agachada recolhendo seu material ainda no caminho entre a sala e a cozinha. Respirei aliviada. – Desculpa o palavrão pela manhã, mas eu to atrasada e irritada, então já to indo. – Pegou uma maça na fruteira, que fica na mesa, e saiu sem nem nos olhar direito. Ouvi gargalhar com o acontecido e quando o olhei ele chorava de tanto rir.
- Não estou tão velho. Não morri do coração, dessa vez. Acho que não morro mais. – Levantou-se da cadeira, segurando minha mão.
- Espera eu tomar um banho, eu vou te deixar em casa antes de ir para o hospital.
***
Ao chegar em casa, encontrei meu pai e a tal deitados no sofá, dormindo, por sorte, estavam vestidos, não queria trauma a essa altura da vida. Caminhei lentamente para o meu quarto. Tomei meu banho relaxante só trabalharia á tarde. Ao menos, eu deveria, pois meu pai deveria estar desde às oito da manha, mas como ele é o dono ele tira essas folgas.
Deitada em minha cama, ainda não acreditava que eu e tínhamos ficado. Mesmo que tenha sido só uns amasso rápido, saber que ele não me vê mais como uma menina, era maravilhoso. Decidi dormir mais um pouco, ainda tinha tempo pra descansar. Antes de pegar no sono, senti meu celular vibrar, era mensagem do . “Saudades de você mulher” - Adormeci sorrindo.
Ouvi batidas na porta e acordei resmungando, detestava ser acordada, me arrastei até a porta e abri. Á minha frente um pai com cara de que aprontou sorrindo pra mim. Seus cabelos ainda estavam bagunçados, estava de bermuda e descalço.
- Fala pai, o que foi? – Encostei-me no batente da porta.
- Você chegou que horas? Eu não vi. – Estava envergonhado e estava engraçado vê-lo daquele jeito.
- Devia ser nove ou dez da manha pai, o senhor estava deitado no sofá com aquela .
- A gente tinha um assunto inacabado na juventude. – Sorriu sem graça.
- E o assunto já acabou, ou vai durar mais um tempo? – Meu pai nunca levava as namoradas lá pra casa. Não quando eu estava em casa. Sempre se preocupou comigo.
- Não sei ainda. Ontem foi algo muito carnal. – Caminhou até minha cama, mesmo sem pedir permissão, ele queria conversar. – Eu gostei muito dela por um tempo depois do que aconteceu com sua mãe, mas eu não quis me envolver por respeito a ela e a você. percebeu e deixou as coisas acontecerem, perdemos o contato por alguns anos até que ela apareceu ontem na lanchonete. Solteira – respirou fundo – conversamos e a convidei pra almoçar com a gente e o resto você sabe. – Olhou-me perdido, ele queria minha opinião.
- Você não a pediu em casamento, pediu? – sorri tentando descontrair o clima.
- Não!!- respondeu assustado. – Só estou confuso.
- Pai, vocês ficaram. Foi legal? Leva a diante, mas sem pressão. Ela não fez nada comigo ainda pra eu odiá-la. E se der certo? Ela vai fazer você feliz e eu estarei também. Não se preocupe comigo. Já estou grandinha o suficiente pra entender que o senhor precisa de alguém. – Meu pai segurou em minha mão, aliviado.
- Não sei se ela vai querer algo, talvez seja mesmo o nosso assunto inacabado. Mas farei de tudo para que dê certo. – Beijou-me o rosto. – Agora vá tomar banho que vamos para a lanchonete. – Ah o trabalho...
Eu estava nervosa, tinha um encontro com a noite e não sabia o que vestir ainda. tentava me ajudar, mesmo sem saber quem era o cara que ia sair comigo e mexia tanto com meu sistema nervoso.
- Não vai mesmo me contar quem é esse? – estava sentada no sofá, estilo namoradeira que tem abaixo da minha janela.
- Não amiga, me desculpe, mas dessa vez não vai dar. Se tudo der certo hoje, eu te conto amanhã, ok? Com todos os detalhes. – Talvez ela não quisesse saber como é o pai dela na cama.
Íamos comemorar três meses juntos. Ninguém sabia. Eu sempre contava pra quando ia sair com ele, mas inventava um nome ou dizia que era o mesmo cara. Ela morreria. Não me perdoaria se soubesse que dei em cima do pai dela, mas eu sou apaixonada por ele e quero ter certeza de que ele sente o mesmo. Eu queria contar pra todos que eu o amava que eu o queria pra mim, pra sempre. Eu não posso esconder das pessoas que eu amo, meu pai e , que estou feliz e com o cara que eu sempre quis. Meu pai também vai pirar, afinal, seu melhor amigo vai namorar a filha dele. Aquela menina que ele viu nascer, crescer. Ai, acho que eu mesma vou pirar com essa história toda.
À noite eu estava pronta, usando um vestido vermelho com decote em tule, comprimento até o joelho, um pouco rodado. Cabelos escovados todo para o lado esquerdo deixando parte da nuca a mostra, brincos grandes para chamar atenção para o pescoço. Salto nude, para alongar as pernas e maquiagem leve com um batom claro. Eu estava me sentindo linda!
me ajudou com o look e estava orgulhosa do resultado.
- Você está linda, amiga! – ela sorria boba.
- Obrigada. Eu estou me achando linda também, você fez um ótimo trabalho viu. – Voltei minha atenção ao espelho e me encarei sorrindo pra mim mesma. Seria hoje a nossa noite. sempre me respeitou, nunca fui de me entregar a um homem no primeiro encontro, não por achar errado, mas por apenas não achar que era a hora. Sempre deixava para o próximo. E esse era o nosso primeiro encontro, digamos oficial. Nesses três meses nos víamos ou na minha casa ou na dele, sempre dávamos um jeito de ficarmos a sós, mas nunca houve a oportunidade de consumar o ato. Porra. Foi muito difícil não consumar, mas o clima de quero mais era delicioso.
- Bom amiga, eu tenho que ir, meu pai pediu pra eu chegar cedo em casa. Parece que ele vai sair com uns amigos e não tem hora pra voltar, vai dormir na casa de algum deles e de lá vai para o trabalho. – Ai meu Deus! Ele tem planos de não dormir em casa.
Na sala, meu pai e conversavam. Ela frequentava o apartamento há mais de um mês e parecia que eles estavam se acertando. Depois da última conversa que tive com ele a respeito dela, ele não tocou mais no assunto, mas dava pra ver em seu sorriso que a relação dos dois era muito mais que amizade. E eu estava feliz por isso.
- Uau! Está linda, minha filha! Pra onde você vai? – o homem levantou pra falar comigo.
- Eu tenho um encontro, pai. E não sei exatamente aonde vamos. Só sei que vamos jantar! – dei uma volta para que me vissem por inteira.
- Está linda, ! Se esse cara não quiser você pra ele, simplesmente não te merece! – se pronunciou. Sorri em forma de agradecimento, estava sendo muito simpática comigo. Nas tardes que passou conosco, deixou escapar que ajudou meu pai a cuidar de mim nos primeiros meses, junto com a mãe da . Isso me emocionou e cativou. Ela entendera os sentimentos do meu pai na época e o respeitou. Contou-me também que assim que pôde, voltou para a cidade para tentar encontrá-lo, pois mantinha contato com pessoas da cidade que contava a ela como ele estava. Ela devia mesmo gostar muito dele, para guardar um sentimento por mais de 20 anos...
- Obrigada , vou pedir pra você cuidar bem do meu paizão, pois não sei se volto pra casa hoje. – Dei meia volta e corri para a porta.
- Como assim, senhorita? Onde pensa que vai passar a noite? – ria da tentativa do meu pai de ser bravo comigo.
- Pai, paizinho. Não sei nem onde vou jantar, quem dirá onde vou dormir. Se eu tiver sorte, será nos braços de quem vou me encontrar. – Pisquei pra ele e saí. Tínhamos esta liberdade. Não dava detalhes. Mas meu pai sabia que eu não era mais virgem. Desde os dezoito anos. Éramos amigos, era só eu e ele.
***
Assim que saí, enviei um sms pro dizendo que já estava fora de casa. Esperei-o ao lado da portaria. Não demorou muito e vi o carro preto do homem que fazia meu coração bater mais forte, minhas mãos suarem e sorrir sem motivos, chegar. Desci as escadas que havia naquele prédio e o encontrei na calçada.
- Você está linda, minha loira. – Disse enquanto saía do carro e me beijou antes de me ajudar a entrar no veículo, mal saímos e já está fazendo a noite ser perfeita.
- Gosto quando me chama de minha loira. Aliás, quando me chama de minha. – Sorri pra ele quando fechou a porta. deu a volta e entrou no carro, antes de dar partida beijou-me mais uma vez. – Desse jeito não vamos sair daqui. – O repreendi.
- Eu não sairia. – Respondeu com segundas intenções.
- ! – Exclamei.
- O que foi? É o nosso primeiro encontro, eu quero estar a sós com você, ué! Nada demais. – Voltou sua atenção ao volante e arrancou com o carro.
levou-me ao melhor restaurante da cidade, que ficava ao alto de um morro, onde tínhamos a vista da cidade toda iluminada. Escolheu uma mesa ao lado da janela que era de vidro do chão ao teto. O lugar era simplesmente magnífico. O garçom se aproximou da mesa e pediu um vinho para apreciarmos enquanto esperássemos a comida. Optei por uma massa, e o homem a minha frente escolheu o mesmo.
- aqui é lindo! – sorria boba. Era muito bom estar com ele.
- Você pode me chamar de amor aqui, . Gosto e muito quando me chama assim. – Corei completamente sem graça.
- Obrigada por essa noite, amor. – Frisei a ultima palavra e ele riu.
- Já te disse que você está linda? Está vestida com a minha cor preferida. – Segurou minha mão a apertando maliciosamente. Eu sentia meu corpo começar a aquecer. Eu ficaria vermelha em segundos.
- Disse sim, e para com isso ou eu vou ficar da cor deste vestido, mas fico feliz que tenha gostado. Você está muito bonito também. – O homem estava vestido de calça e camisa social, que marcava seu corpo o evidenciando, sapato preto e sem gravata. Cabelos arrumado, seco e um pouco arrepiado. As mulheres o olhavam desejosas, fazendo-me sentir poderosa por ser eu a escolhida naquela noite.
- Doutor! – o Garçom interrompeu – seu jantar. – Serviu-nos com calma, abriu o vinho e o colocou nas taças. Deixando-nos a sós.
- Doutor? É acostumado a vir aqui? – bebi um pouco do vinho.
- Sim. Geralmente os médicos se reúnem aqui. – Não mencionei, mas foi promovido no Hospital Geral da Cidade. Além de Clinico Geral e chefe da emergência de lá, uma vez na semana, quando não está de plantão, ele passa o dia na administração do hospital.
- Entendi, agora que faz parte da administração tem que ter essas reuniões, né?
- Sim. E ultimamente tem sido frequente. Estão querendo abrir uma nova franquia do outro lado do estado.
- Nossa! – disse espantada e interessada no assunto. Enquanto comíamos, me olhava com outras intenções e o vinho estava fazendo seu efeito, deixando-me libertina.
Já estávamos na sobremesa, e me sentia oferecida quando decidi acariciar as pernas do por debaixo da mesa. Olhou-me sem reação e eu sorria maliciosa para ele. Mordi meus lábios após beber o ultimo gole do vinho. O homem chamou o garçom pedindo a conta. Este acenou de longe entendendo seu pedido.
- Agora será a melhor parte. – Olhou-me safado.
- Que parte? – fiz-me de desentendida.
- Você me provocou a noite toda com esse vestido e acha que não vai ter nada além, depois daqui? – A conta chegou e deixou o dinheiro em cima da mesa. Levantou segurando-me pela mão. – Hoje você vai ser minha, . – Puxou-me pra mais perto de seu corpo e encarou o decote do vestido que mostrava parte dos seios. Nada exagerado.
- Sempre fui, . – O respondi sussurrando em seu ouvindo. Senti suas mãos apertarem minha cintura. – E achei que nunca teríamos está chance. – Falei olhando em seus olhos antes de beijá-lo e deixarmos o restaurante.
***
No elevador, acariciava minha mão, enquanto eu batucava meu pé no chão. Ele percebeu meu nervosismo e abraçou-me colando nossos corpos fazendo-me relaxar em seus braços. Senti-me segura.
- Tá tudo bem. – Simplesmente olhou em meus olhos e sorriu.
- Eu me sinto tão segura com você. – Retruquei baixinho recostada em seu peito. – O elevador parou.
- Vamos! – pela mão me direcionou até o quarto do hotel. Lindíssimo, por sinal, andei pelo quarto até a cama, prestando atenção nos detalhes. Uma cama enorme bem no centro do quarto, com roupas de cama aconchegantes. Alguns móveis em tons escuros para contrastar com as cores claras que dominavam o ambiente. Uma poltrona próxima à janela, que era do chão ao teto, bem parecido com o do restaurante, cortinas lisa dando alongamento ao lugar. O banheiro ficava no canto direito atrás da porta de entrada.
- Tá tudo bem? Você parece nervosa hoje. – Sentou ao meu lado, acariciando meu rosto. Sorri em resposta, um pouco mais confiante, senti sua mão escorregar para minha nuca puxando-me com carinho para mais perto de seus lábios. Com mais calma que o costume, beijava lentamente minha boca e respirava fundo, parecia com medo de estragar alguma coisa ou fazer algo errado, que estragasse tudo e eu corresse dali. Mas não era essa a minha vontade, eu queria sim estar em seus braços, sentir seus beijos e toques mais firmes. Sempre sonhei com esse dia. Apoiei-me na cama virando-me de frente a ele, o abraçando trazendo-o pra mais perto de mim. Ele respirou fundo aprofundando o beijo, com cuidado, desceu meu corpo deitando-me na cama. Suas mãos lutavam contra seu desejo sem saber muito bem onde tocar, com sorriso nos lábios o direcionei até minha cintura descendo-a devagar. Ele olhava em meus olhos indagando onde iria parar. Sorri e a deixei em minha coxa esquerda um pouco a baixo da barra do vestido. Ele sorriu. Voltou a me beijar e sua mão subiu por minhas pernas com firmeza até o cós da minha calcinha, soltei seus lábios e beijei seu pescoço deixando o sem reação, apenas aproveitando os carinhos recebidos.
Deitou-se de lado, apoiando-se na cama, apoiei uma mão em seu peito e com o clima esquentando naquele quarto o arranhei levemente e mordeu meus lábios. Sentia meu corpo pegando fogo e precisava dele mais perto de mim e com menos roupa também. partiu o beijo.
- Ta mais calma agora? – zombou puxando-me pra apoiar meu corpo no seu.
- To sim. Não sabia bem o porquê estava assim, mas com esses beijos deu sim pra ficar mais tranquila. – Sorri sem graça.
- Eu sei como cuidar de uma pessoa. – Apertou-me contra seu corpo enroscando nossas pernas.
- É mesmo, doutor? E o senhor pode me mostrar como faz isso? – brinquei.
- Mostro. Quantas vezes você quiser. – segurou minha nuca e toda aquela enrolação estava me deixando aflita.
- Eu vou querer mesmo ver. – O empurrei na cama ficando por cima, rindo vitoriosa, ameacei beijar sua boca, mas desviei beijando seu pescoço provocando-o. Eu o teria por toda a noite.
***
Pela manhã acordei sorrindo, sentindo seu corpo colado ao meu. Sua mão segurando minha cintura e sua respiração calma e tranquila batendo em meu pescoço. Eu não podia estar mais feliz! Eu estava com quem mais amava. Sim, eu amava aquele homem e pude ter certeza naquela noite. Tão carinhoso e cuidadoso comigo, mesmo sabendo que não tinha sido o primeiro homem da minha vida, agiu como se fosse e depois como se fosse o último, como se dissesse que depois dele não haveria mais ninguém. Eu não queria mais ninguém depois dele.
se mexeu na cama preguiçosamente, com aquele corpo espetacular, definido por natureza se espreguiçando na minha frente, foi difícil não admirar.
- Sou muito feio quando acordo? – aconchegou-me em seus braços, beijando o topo da minha cabeça.
- Não. Só um pouco de cara amassada, mas quem não acorda assim? – sorri mesmo sem ele ver.
- Você não acordou assim, só um pouco bagunçada. Dormiu bem? – se esquivou para ver meu rosto e encontrou uma boba, encantada e sorridente.
- Não podia ter dormido melhor! Obrigada pela noite. – Acariciei seu rosto.
- Eu que agradeço por você não ter desistido de mim. – Me soltou e virou de barriga pra cima. - Já me sentia cansado de procurar alguém pra cuidar de mim e você aqui tão perto e eu não via. Agora eu vejo e não quero mais deixar você sair de perto de mim. – Voltou para a posição inicial, de lado olhando para mim. Meu coração acelerou de tal forma que achei que iria parar no hospital, sorte o ser médico, já iria prestar os primeiros socorros ali mesmo. Não podia acreditar no que ele disse. Estava dizendo que gosta de mim, que me quer pra sempre com ele. Eu sorria abertamente e meus olhos encheram de lágrimas. Pra não me deixar chorar, encheu meu rosto de beijos até encontrar minha boca e a beijar ternamente.
- Você foi maravilhoso. Muito mais do que pensei que seria. – Mudei de assunto.
- E a senhorita ficava pensando em mim, é? – ameaçou a fazer cócegas. Contrai-me por impulso.
- Eu e a escola inteira, né? Quando você ia buscar a , todas te olhavam com desejo, no colegial. – Sentei na cama, a fim de acordar de verdade.
- Então, eu era o gostosão das adolescentes e não sabia? – surpreendeu-se. Sentou-se do outro lado da cama pegando sua boxer no chão para se vestir.
- A morria de raiva e advinha pra quem sobrava ouvi-la reclamar? Eu fingia que você não era nada pra mim. – me olhou surpreso.
- Sim, mas na verdade eu babava em você e sonhava com esse dia há anos. – Engatinhei até onde estava sorrindo maliciosa.
- E agora é finalmente minha e por mim será todos os dias até a minha morte. – correspondeu meu sorriso e beijando-me, começando tudo outra vez...
Ele andava de um lado para o outro do quarto procurando suas roupas apressado. Já havíamos tomado café da manha no quarto mesmo. E relaxávamos na cama, quando lembrou que trabalharia à tarde. Estava atrasado para o plantão no hospital e vestia-se às pressas pra não demorar tanto.
- Você pode ficar aqui, porque eu já paguei à diária. Vou avisar na recepção que você sairá mais tarde. – Deu-me um beijo no rosto.
- Tem certeza que não quer que eu vá com você? Eu me visto rápido. – Ameacei sair da cama.
- Não! Eu to mesmo muito atrasado, esqueci completamente que troquei o plantão com um colega pra poder passar a noite com você. – Sorriu, enquanto vestia a calça.
- Tudo bem. Assim que você sair eu vou tomar um banho e me vestir. Saio antes do meio dia.
- Ok. ? – ponderou se falava ou não, mas agora já chamara minha atenção, teria que falar.
- Fala. – Estimulei.
- Nós estamos juntos, certo? – assenti com a cabeça – Como vamos fazer com seu pai e com a minha filha? Eles vão pirar. Seu pai não vai querer olhar mais na minha cara. Vai me acusar de violência! – Ele pareceu apavorado com a opção. – Ele vai me odiar. – Sentado na cama pra calçar os sapatos, colocou as mão na cabeça, parecendo cair na real do que tinha feito ao deixar seus desejos e sentimentos falarem mais alto.
- Ei, calma. – O abracei por trás, enquanto ele se calçava. – Você não tem que ir trabalhar? – acenou afirmativamente – então, não pense nisso agora, vamos achar uma solução. Você não me obrigou a nada, eu sou maior de idade, gosto de você desde os dezoito anos. Não fizemos nada de errado. Só porque somos tão próximos, não podemos nos envolver?
- Eu tenho idade para ser seu pai, minha filha tem quase sua idade. – Se levantou pegando as chaves do carro e sua carteira.
- Mas você não é. Meu pai é o , seu amigo de infância três anos mais velho que você. Relaxa. Vamos passar por isso, juntos, mas só se você quiser. Eu sou adulta, amor. Sei muito bem o que quero. O que eu quero é você, comigo. – Parei em sua frente próxima a saída, segurei seu rosto o trazendo pra mim. Ele respirou aliviado.
- Eu também quero, é só que eu me coloquei no lugar do seu pai e não consigo imaginar ele com a , entende.
- Eu entendo, eu acho. Acabei de imaginar a cena e não é muito agradável, mas se eles se amassem que mal haveria? Não há laços de sangue entre eles.
- Somos como uma família, ! – derrotou-se. Ele lutava contra seus princípios. Princípios esse que pareciam sólidos demais pra deixar um sentimento o ultrapassar.
- , vai trabalhar. Pense bem no que você quer, se o que você sente é forte o bastante pra passar por tudo isso, que não vai ser fácil, eu estou pronta. E você? – o beijei carinhosamente como se fosse o último, talvez o fosse mesmo. Não sei se aguentaria viver com ele as escondidas, eu queria um relacionamento sério com ele. E caso não me assumisse, eu daria um jeito de esquecê-lo.
- Eu quero você . Eu confesso que isso é tudo muito confuso pra mim. Essas coisas só vieram á minha mente nos últimos dias, mas eu to tão feliz com você. – Me abraçou antes de abrir a porta pra sair.
- Eu também estou. E muito, mas não quero você pela metade e da forma errada, quero tudo correto, como nunca quis alguém antes.
- Eu já vou. Descansa e vá pra casa até meio dia, ok? – segurou meu rosto e beijou-me, mais uma vez. Saiu ainda atordoado, mas ao menos soube que eu o queria e passaria por tudo por causa dele.
***
Já se passavam das onze da manhã e eu ainda estava debaixo do chuveiro chorando, não sabia o real motivo, mas me sentia chateada por perceber que ainda estava em dúvida. Eu já havia pensado no que dizer pra e meu pai quando eles soubessem, eu estava com medo também, como ele lembrou, parecíamos uma família, nos víamos assim. ia me matar e meu pai ia matar o . Mas teríamos que passar por isso. Juntos. Decidi terminar o banho ou sairia do hotel depois do meio dia. Enrolei-me na toalha e voltei para o quarto para me vestir. Lembrei-me do . Eu precisava conversar com ele. Ao perceber minha queda pelo amigo do meu pai, tornou-se meu amigo. Respeitou meus sentimentos por outro cara e me dá conselhos desde então. Mandei um sms pedindo pra me encontrar no centro da cidade para almoçarmos. Recebi um “ok” como resposta. Terminei de me vestir e sai daquele lugar que me proporcionou uma noite maravilhosa e uma manhã conturbada.
O movimento no centro da cidade era muito grande e confuso por ser horário de almoço. Minha chateação de mais cedo já havia diminuído e só conversando com o que tudo ia melhorar, falar com ele era muito bom. Eu gostava dos mais velhos, sempre com mais conteúdo e experiência.
Avistei do outro lado da rua e acenei, recebi um sorriso dele como cumprimento. Peguei meu celular para avisar ao meu pai que estava bem e que ia almoçar com o , quando voltei minha atenção para o cara que me esperava do outro lado da rua dando um passo a frente, ainda o olhando, seu semblante mudou e só ouvi gritar meu nome e o ar me faltar, tudo ficou escuro e doloroso.
***
Odeio que me acordem por besteira, esse falatório perto de mim não é legal. E esse frio todo? Ah, o geladinho do ar condicionado, mas espera meu quarto não tem isso! Forcei meus olhos para abri-los e uma claridade me atrapalhou. Ouvi meu nome ser pronunciado por ao menos três pessoas e eu conhecia todas elas. Meu pai, e . Assim que me adaptei a claridade, abri meus olhos e pude os ver a minha frente, ao canto me olhava apreensivo. Sorri para os três, sem muito entender o que houve, apenas que estava no hospital. Senti uma pontada na costela esquerda e pousei minha mão lá.
- Ai! – Reclamei.
- Calma ! Você sofreu um acidente mais cedo e fraturou uma costela, por isso a dor. – Isso realmente me assustou. A enfermeira me informou.
- Como eu fui atropelada? Eu atravesso aquela rua com frequência... – sussurrei deitando na cama, a dor era forte e até respirar doía.
- A culpa foi minha. – alegou – Você estava falando comigo, que estava do outro lado da rua, e não percebeu o carro, eu ainda te gritei, mas não deu tempo.
- Eu devia estar distraída com uns assuntos meu. – Por instinto, olhei pra o , que como estava de plantão na emergência do hospital, acabou me atendendo.
- Mas agora você está bem, não foi nada grave, em dois dias irá pra casa. – Meu pai segurou minha mão, parecia aflito. – E sua noite como foi? Deixou-me preocupado, ! – sendo pai até nessas horas...
- Pai eu to bem. – Ironizei – Minha noite foi boa, o cara não era nenhum tarado maníaco – como podia ter humor nessas horas? – passamos a noite juntos, de manhã ele teve quer ir embora e me deixou ir mais tarde. Chamei o pra almoçar. Alias, você não teve culpa alguma, ok? Eu que estava descontraída.
- Mas você me assustou, estava me ligando, não estava? Eu atendi ao telefone e ouvi o barulho e depois só ouvia alguém dizer o seu nome e gritar para não chegar perto e não mexer em você, eu fiquei... Fiquei apavorado!
- Pai... – tentei mais uma vez me mexer. – Ai! – respirei fundo e doeu de novo – já fui cuidada, pelo e o motorista na rua, eu acho – ouvi confirmar – já fui medicada pelo aqui no hospital. Agora o que mais quero é ir pra casa.
- Mas só daqui a dois dias. – finalmente se aproximou de mim com lágrimas nos olhos, e eu lembrei-me da conversa que tive com pela manhã, como ia contar pra ela? Por enquanto, ia ter que adiar o assunto, tinha que me recuperar primeiro.
- Bem vocês já viram que ela tá bem, tá medicada, mas já, já vai pra casa. Deixem-na descansar.
- Falou o chefe da emergência do hospital. – disse orgulhosa do pai e o abraçou, me olhou apreensivo. Ele queria me dizer algo, eu sentia. veio falar comigo, beijou meu rosto. – Te amo, amiga. Vê se não assusta mais a gente, ok? – e saiu do quarto.
- Filha, se cuida, coma a comida que trouxerem, quero você forte, a disse que vai fazer um almoço pra você quando você chegar em casa.
- Já houve todo esse progresso de ontem pra hoje? - sorri mesmo sentindo dor, ver meu pai com um sorriso bobo no rosto não tem preço.
- Você não dormiu em casa, eu aproveitei. – Meu pai falava como um garoto de quinze anos.
- Vamos, vamos todos pra casa, porque a senhorita aqui tem que descansar. – expulsou todos. olhou-me mais uma vez, sentindo-se culpado.
- Tá tudo bem, . Pode ir. – Confirmei a ele para que ficasse tranquilo. Quando todos saíram do quarto, se achegou até mim.
- , nunca mais faça isso comigo! Te ver desmaiada naquela maca com aquele cara desesperado ao seu lado, me deixou louco. O que houve?
- não te disse? Eu fui encontrar com ele pra almoçar e quando fui atravessar a rua, estava no celular tentando falar com meu pai e não vi o carro.
- Então, nós temos um encontro oficial, passamos a noite juntos e quando eu te deixo pra trabalhar você almoça com outro cara? – Não acreditei no que ouvi.
- Amor, ele é meu amigo. Você sabe! – senti o ar faltar, eu já havia falado muito e sentia bastante dor.
- Mas ele é aquele cara que beijou você uma vez perto da lanchonete. Não gosto dele. – O médico encostou a porta do quarto e me ajudou a ficar no canto da cama, se mexer com dor não era fácil, deitou ao meu lado, fazendo de seu braço meu travesseiro.
- Tá fazendo o que, ? – Meu coração acelerou.
- Cuidando da minha paciente favorita. – Beijou meu rosto com carinho, até encontrar a boca, recebi um selinho suave.
- Você costuma cuidar das suas pacientes dessa forma? – Não me respondeu, apenas ficou me olhando.
- Eu achei que ia te perder. Logo agora que eu a encontrei.
- Não foi nada grave , você mesmo disse.
- Mas eu não sabia quando você chegou. Me assustou. – Me abraçou, mesmo que desajeitado.
- Eu to cansada. Quero dormir.
- Vou ficar aqui com você, meu plantão só termina mais tarde.
- Se alguém te pega aqui, você pode perder o emprego. – Estava quase dormindo, os remédios para dor me deixaram com sono e com o cansaço de tanto falar, tudo o que eu queria era dormir.
- Fique tranquila, assim que você dormir eu saio pra ronda. Isso se não houver uma emergência antes... – não ouvi mais nada. Peguei no sono.
Depois de dois dias naquele hospital tudo o que eu queria era estar em casa, e isso estava sendo realizado naquele instante. e foram me buscar juntamente com meu pai, mesmo ele não podendo ir pra casa comigo, por ter que resolver uns problemas da lanchonete, ele foi ao menos me ver sair daquele lugar.
- Nem acredito que to indo pra casa. – Disse, aliviada.
- Eu estava com saudades, minha filha. – Meu pai me ajudou a sair do quarto.
- Duvido que a não tenha cuidado muito bem de você, nem sentiu minha falta. – Fingi ciúmes.
- Deixa de ser ciumenta garota. – pronunciou-se.
- Sou mesmo, e você também é que eu sei. – Discretamente, olhei pro .
- É sou, também. Ah, falando nisso, tenho que te contar umas novidades. Tio, deixa ela ir lá pra casa enquanto o senhor tá nessa reunião, quero matar saudades da minha amiga. – Meu pai me olhou, em dúvida, e eu fiz que sim com a cabeça. Eu estava bem, não sentia mais dor na costela, mas tinha que repousar pra que ela colasse sozinha. Atravessamos a porta principal do hospital e pude ver a população da pequena cidade se movimentando como se nada houvesse acontecido. E pra eles, na verdade, não o tinha.
- Tudo bem. Algum problema ? Eu passo lá depois pra buscá-la. Eu não vou demorar muito.
- Sem problemas . Eu até posso levá-la. Você pode ir pra sua reunião daqui se quiser. – sugeriu.
- Por mim está ótimo, e por você ? – mais uma vez, meu pai queria minha opinião. Já estávamos no estacionamento.
- Pai, tá tudo bem, o senhor pode ir.
- Ok. Se cuide e não faça movimentos bruscos. – Meu pai beijou minha testa e saiu em direção ao seu carro, enquanto me guia até o carro de seu pai.
- Meu pai tá saindo com uma mulher ai. – sussurrou próximo ao meu ouvido para que só eu ouvisse já que seu pai estava próximo, eu gelei, será que ela sabia que era eu? E se fosse realmente outra mulher? Minha respiração ficou ofegante.
- Como você sabe? – perguntei assim que ela se sentou ao meu lado no banco de trás enquanto colocava o meu cinto de segurança.
- Depois te conto. – O carro deu partida.
O caminho foi rápido e silencioso. me olhava vez ou outra pelo retrovisor e sorria. ouvia música no celular e parecia distraída, lembrando-se de algo. No mínimo tinha algum garoto da faculdade envolvido. Eu estava ansiosa pela conversa que íamos ter, se ela desconfiasse de algo, eu teria que contar a verdade, mas como? Meu coração acelerava só de imaginar. O carro parou e veio me ajudar a sair do carro, quase me pegando no colo. O repreendi com o olhar.
- Se estivéssemos sozinhos, você iria no meu colo. – Balbuciou antes de a vir fechar a porta do carro.
- Assim minha costela não se recupera e eu voltaria pro hospital. – Brinquei.
- Ao menos eu iria cuidar de você e poder te encher de beijos pra recuperar mais rápido.
- Bobo. – chegou mais perto de nós e paramos com toda fofura. O porteiro abriu o portão do prédio e foi abrindo caminho até o elevador.
- Gente, eu posso andar, me mexer, eu to bem. Nem to numa cadeira de rodas. – Ri com todo o cuidado deles comigo.
- Se acontece algo com você teu pai me mata. – riu.
– E eu não quero ficar sem pai. – completou. O clima entre a gente estava ótimo, só não sabia até quando...
***
- Mas então, vi você de risinho no caminho de casa, o que houve? Namoradinho novo? O mundo girou tanto assim enquanto estive dois dias no hospital? – enchi de perguntas, já acomodada na cama dela. Eu estava curiosa.
- Lembra-se do ? A gente tem se visto com mais frequência, por causa de um trabalho da faculdade, e a gente tá ficando tem uns dias. – escondeu o rosto com o travesseiro.
- Como assim “tem uns dias”? E você só me conta agora? – sorte a dela que eu não podia me mexer com rapidez.
- É, eu to pra te contar faz uns dias, mas você vivia ocupada com o seu homem misterioso. – Seu tom de voz era enciumado.
- Oun amiga, me perdoa, mas ele estava mesmo tomando um pouco do meu tempo. Mas pensa pelo lado bom, você teve tempo livre pra encontrar esse ! – pisquei pra ela.
- É né, sua vaca? Sei... – sentou na cama com expressão mais séria. – Meu pai também tá se engraçando com alguém por ai. – abaixou a cabeça, parecia não gostar do que havia percebido. To ferrada...
- Mas você pensa em alguém ou a conhece? O que te faz pensar isso? – precisava saber o que ela achava de tudo.
- Ele tem chegado muito feliz em casa nos últimos meses, não implica mais comigo. Um dia desses achei um fio de cabelo loiro no jaleco dele! – falou mais baixo, confidenciando um segredo. Por instinto passei a mão em meu cabelo, eu era loira.
- Mas ele nunca disse nada? Se tava com alguma namoradinha por ai? – quis saber as intenções dele.
- Comigo, nada. Na verdade, ele nem sonha que eu suspeito disso. – Riu maléfica. Eu? Fiquei em silêncio, não sabia se contava ou não. Eu respirava fundo, nervosa, se ele não falou nada pra ela era porque não queria nada sério comigo, queria só aproveitar todo o meu fogo.
- O que foi ? – percebeu meu estado.
- Nada. Só uma falta de ar, mas já to bem.
- Vou chamar meu pai. – saiu do quarto gritando o pai e eu não sabia o que fazer ou pensar, eu precisava falar com ele. chegou assustado ao quarto achando que eu estava tendo algum ataque cardíaco, sempre exagerada.
- O que houve? Você tá bem? – Encostou a mão em minha testa.
- Eu to bem, foi só uma falta de ar. Não precisa disso tudo. – Tirei a mão dele da minha testa com um pouco de brutalidade e ele percebeu minha rispidez.
- Filha, vá ate a cozinha e prepare água com açúcar pra sua amiga. Eu fico aqui com ela. – saiu do quarto, mais uma vez. Deixando-nos sozinhos.
- O que foi? Por que você foi bruta comigo? – estava confuso.
- Você sabia que sua filha desconfia que você esteja com alguém? – Arregalou os olhos surpreso. – E que ela já achou um fio de cabelo meu no seu jaleco? – assustou-se mais.
- Não. – Confessou.
- Eu percebi, ela me contou que vem desconfiando e que você não disse nada a ela sobre o assunto. Quando pretende contar pra ela sobre a gente? – perguntei baixo, pois podia chegar a qualquer momento.
- Eu ia contar logo que chegasse do plantão, depois da noite que passamos juntos, . Por mais que eu estivesse com medo quando sai de lá. No caminho eu pensei a respeito e não pode mandar em com quem eu me relaciono ou não. Mas ai aconteceu o seu acidente, eu fiquei sem saber como contar. Eu vou contar pra ela.
- Contar o quê? – chegou no exato momento. Deixando-me mais pálida ainda.
- A água, . – Disfarcei pedindo o copo com água e açúcar, eu ia precisar. Olhei pro , o encorajando. Ele respirou fundo e pediu pra filha sentar ao seu lado. Entre mim e ele.
- , eu preciso te contar uma coisa e eu preciso que você seja essa menina madura e responsável que você demonstra ser, ok?
- Pode falar pai, tá me assustando, é algo com a ? Alguma complicação?
- É algo com a sim, mas não tem a ver com o acidente. Ela está muito bem. – Olhou pra mim, pedindo forças pra continuar, eu apenas sorri.
- Fala logo! – estava ficando nervosa, eu dei meu copo pra que ela tomasse o restante do calmante caseiro.
- Eu e estamos namorando. – soltou a frase de uma só vez e fechou os olhos. Estávamos eu e sem palavras, pois não esperava essa declaração dele. Achei que ia contar que estávamos nos conhecendo ou saindo pra ver no que ia dar, mas não, anunciou o namoro.
- Como é que é? – perguntou sem entender nada, alternando o olhar entre mim e .
- Isso mesmo, eu estou saindo com a sua amiga tem uns dois meses e tem três dias que eu a pedi em namoro. – Essa última parte ele não contou pra mim também não. Não me lembro de pedido nenhum.
- Pai ela... Ela tem idade de ser sua filha! – disse espantada. – E.. vo...cê por que não me contou antes? – dessa vez direcionou o olhar pra mim e não gostei nada do que vi, estava decepcionada. – Não esperava isso de você, pegando meu pai pelas minhas costas? Devia ter me contado! Você nunca foi com a cara dele, sempre o desdenhou ao contrario das minhas outras amigas. Você sempre o quis né? – se levantou e a acompanhou, a segurando pelo braço.
- Calma ! – ele a sacudiu um pouco, deixando-me preocupada. Ele não precisava agir assim com ela, o que ela sentia era compreensível. – Ela não é minha filha, você é. Não temos nenhuma relação familiar que nos impeça, sou amigo do pai dela, já é adulta e já decide com quem fica.
- Ela só tem 21 anos, pai, quase a minha idade! – estava nervosa. – O pai dela já sabe? Ele vai acabar com você. – Ela estava com raiva.
- Eu vou contar a ele quando chegar. Não quero esconder de ninguém que estou com ela. Por isso to te contando primeiro, ia te contar antes, mas ela sofreu o acidente, decidi adiar.
- Eu queria ver se fosse ao contrário – se soltou das mãos do pai e saiu do quarto sem falar mais nada.
- ! – gritei tentando sair da cama, mas me impediu.
- Fica aqui, eu vou atrás dela. Se seu pai chegar e eu não estiver aqui, diz pra ele que quero conversar com ele. – Saiu correndo do quarto. Ouvi uns gritos vindos da sala, mas nada que desse pra entender e logo depois um som de porta batendo. voltou atordoado.
- Ela saiu, disse que queria pensar. Ela vai ficar bem, né? – sentou ao meu lado.
- Eu espero que sim, quero minha amiga, . To ficando com medo, se ela agiu assim, como vai ser com o meu pai? – deitou na cama me abraçando.
- Vai ser mais ou menos isso, ele não vai aceitar na hora, mas eu vou conversar com ele quando tiver mais calmo e ele vai entender. Eu me apaixonei por você um tempo atrás, mas como você é filha do meu melhor amigo e a melhor amiga da minha filha, isso deu um nó na minha cabeça e eu tentei te esquecer. Eu tava conseguindo. Só que você começou a me provocar, me olhar diferente, você mudou seu comportamento comigo de um tempo pra cá. E naquele dia que você me beijou eu fiquei mais confuso ainda, pois vi que você me queria também e que não era coisa da minha cabeça. – Ele olhava para o teto, relembrando tudo o que dissera.
- Eu gosto de você desde o meu dezoito anos, mas achei que era coisa de adolescente com os hormônios a flor da pele, mas quando completei vinte e tudo o que sentia continuou ali comigo, eu decidi que podia sim demonstrar pra você, e você passeando sem camisa pela casa, era maldade! – tentei descontrair o ambiente e deu certo, sorriu. Uniu meu corpo ao seu, segurando minhas costas com cuidado.
- Pode parecer que aconteceu rápido demais, mas pra mim não foi. – olhava nos meus olhos, sorrindo. Não resisti e o beijei. segurou em minha nuca aprofundando o beijo e enlaçando nossas pernas.
- . Estamos no quarto da sua filha e eu não posso ainda. – se tocou do que tinha acabado de acontecer e se afastou, levantando da cama.
- Eu vou atrás dela. – Ajeitou sua roupa, um pouco amarrotada por estar deitado.
- Ela deve estar na escada, entre os andares. É onde ela costuma ficar quando está com raiva e não quer falar com ninguém. – Ele sorriu e saiu do quarto e eu fiquei ali pensando em tudo. Fora sim tudo muito rápido... Só que nossos sentimentos estavam escondidos há muito tempo.
POV
Eu estava vivendo uma loucura! Uma loucura muito boa, por sinal. Eu sempre gostei da desde pequena, o que era um sentimento paternal, com o tempo se transformou em amor mais forte. Depois que ela fez quinze anos, eu comecei a olhá-la diferente, mas em respeito ao meu amigo, fingia que nada acontecia. Mas meus desejos de homem falavam mais alto e vez ou outra me pegava pensando nela, de como seria seus beijos. Eu pirava, até que voltei a ter minha vida de galinha novamente, enquanto fazia minha residência em medicina no hospital pra tentar esquecer tudo isso e deu certo, nos três anos seguintes, mas ai ela fez dezoito e as coisas foi mudando, ela não quis fazer faculdade, decidiu ir trabalhar com o pai na lanchonete e aquilo me atraiu ainda mais nela, era decidida. Não era só a beleza, era a personalidade dela, igual a da mãe. Eu continuei com meu trabalho no hospital, pensei em abrir um consultório pra poder mandar no meu horário, mas o hospital me contratou como Clinico Geral e eu tava ganhando bem trabalhando em regime de plantão. E ela continuou crescendo. Quando fez vinte anos, nossa ela mudou da água para o vinho, ao ouvir ela falar dos caras que ela ficava, com a , me deixavam enciumado e ela percebia e fazia de propósito. Foi quando decidi demonstrar que também me interessava, comecei a andar sem camisa pela casa e percebia o quanto ela me desejava. Até que nesse ano aconteceu o nosso primeiro beijo e eu fiquei surpreso, e no dia seguinte ficamos de novo e eu vi que eu sempre fui apaixonado por ela, ficamos por mais algum tempo, até que decidi que seria a hora dela ser minha de corpo e alma, que ela não seria apenas mais uma na minha cama, mas sim a única a frequentá-la. Foi quando ficamos e passamos nossa primeira noite juntos e eu tive absoluta certeza que era ela a mulher que eu queria para o resto da minha vida, mas toda essa história dela ser muito amiga da minha filha e eu e o pai dela vivermos como dois irmãos me fez pensar em tudo outra vez e eu quase pus tudo a perder, a deixei sozinha no hotel achando que eu não a queria só para mim, que era um brinquedo nas minhas mãos, que não queria que ninguém soubesse pra que só eu pudesse brincar, mas não era bem isso, eu só estava confuso. Com o acidente, eu percebi que não podia deixar a oportunidade passar. Ela seria a minha namorada e com o tempo quem sabe, minha esposa. Eu nunca fui fã de casamento, mas com ela eu faria todo o possível e tudo o que o figurino manda só pra tê-la pra mim. O primeiro passo foi contar pra minha filha que estávamos juntos. Namorando! Caralho, eu sequer fiz um pedido oficial a ela, mas eu tive que contar, já desconfiava e tava contando suas suspeitas para , ela não ia aguentar e ia contar que era ela e eu queria ser o primeiro a lhe contar, e agora eu to aqui nesse desespero tendo que ir conversar com a minha filha.
Depois que sai do quarto da , fui até a cozinha beber água pra me acalmar, já que sabia, mais ou menos, onde ela estava, já tinha me dado a pista, eu só precisava deixá-la se acalmar mais um pouco, mas nesse momento a campainha tocou. Quem diabos deve ser agora?
- Fala meu garoto! Cadê a minha menina? Quero levá-la pra casa, vai fazer um jantar pra ela e pediu para que a viesse buscar. – O dia passou tão rápido assim? E não tinha hora pior pra ele vir buscar , não?
- Entra cara, aproveita e senta ai que eu quero falar com você. – Apontei pro sofá.
- O que foi? tá bem? – ameaçou levantar do sofá.
- Tá tudo bem, eu quero te contar uma coisa – sentei na mesinha de centro de frente a ele.- É que eu to namorando a sua filha. – Disparei a frase e esperei a ração dele.
- O quê? - Respondeu assustado.
- Isso, na verdade, – eu estava ficando nervoso – quero pedir pra namorar sua filha.
- Você tá maluco cara? Ela tem idade pra ser sua filha!- ai todos vão falar isso? Não tenho idade pra ser pai dela.
- Calma lá, que pra eu ser pai dela eu tinha que ter transado aos quatorze anos e perdi minha virgindade aos quinze, você sabe muito bem, porque você era meu amigo nessa época. Então não fale assim. Cara tem um tempo que eu sinto algo por ela, mas por respeito a você, nunca disse nada, fiz o máximo pra reprimir esse sentimento, mas ela começou a demonstrar o mesmo por mim , queria que eu fizesse o quê? Como você agiria se soubesse que a pessoa que você gosta também gosta de você? Hein.
- Não coloca a culpa na minha filha, ela só tem vinte e um anos. , pelo amor de Deus, ela é uma criança!
- Ela é uma mulher e você sabe muito bem, porque sei que vocês conversam sobre tudo, tenta entender, não temos laços sanguíneos que nos impeça. Somos amigos, nos conhecemos desde sempre, eu te conheço há anos e você sabe que eu não faria nada pra machucar sua filha, nada!
- Cala a boca! Eu vim buscar minha filha, cadê ela? Vai dizer que ela tá na sua cama? E que passaram à tarde... Não consigo imaginar.
- Não fala bobagens! Eu respeito a sua filha. Ela tá no quarto da . – Sentei no sofá, com o calor da conversa nem tinha reparado que eu tava de pé. foi buscar a menina no quarto e eu me dei conta de que ainda não tinha ido falar com a minha.
Meu amigo passou pela sala segurando a minha namorada pelo braço, sem deixar que nos despedíssemos, me olhou como se pedisse desculpas pelo comportamento do pai, e eu apenas sorri pra ela. Ficaria tudo bem. Íamos passar por isso.
***
Fui finalmente para as escadas do prédio e decidi primeiro ir do meu andar para o debaixo e a encontrei lá, sentada, mexendo no celular, mas sem nem prestar atenção no que fazia.
- Filha? – chamei sua atenção.
- Não quero falar com você agora. – Continuou de costas para mim.
- Ei, não faz isso comigo. – Sentei ao seu lado e ela me olhou com os olhos vermelhos. Ela tinha chorado. – Me parte o coração ver você assim - a abracei.
- Por que o senhor fez isso comigo? Podia ter me contado antes! Não queria ser a última a saber. – Aconchegou-se em meus braços.
- Você não foi a última a saber, foi a primeira. – Apertei em meus braços, confortando-a. – Quando começamos a ficar, eu não contei por achar que era apenas um capricho dela, um fetiche de ficar com alguém mais velho. Eu tava curtindo, mas tentei não criar expectativas, mas com os dias vi que ela gosta de mim.
- Ela é apaixonada por você! Os olhos dela brilhavam quando falava de você pra mim.
- Ela te contava? – perguntei, sem entender.
- Sim, mas não me dizia o nome e nem como o cara era, só dizia que era carinhoso, que era sempre uma aventura ficar com ele. Essas coisas. Se me desse mais detalhe com certeza eu saberia que era você.
- Talvez, não contasse por medo, ela não quer perder sua amizade, filha. – A segurei pelos ombros pra poder olhar em seus olhos.
- Eu to chateada e um pouco feliz por vocês, estão tão felizes! É difícil me acostumar com a ideia, ela era a minha irmã, e agora é minha... Madrasta? – perguntou confusa.
- Ela é e sempre será sua amiga, se você quiser e vai ser a minha namorada. E ponto. Ela não vai substituir sua mãe. Nunca. – sorriu ainda sem aceitar muito essa novidade, mas pareceu pensar bem no assunto. – Vamos levanta! Vou preparar algo pra gente comer antes de ir trabalhar.
Meu pai não me disse uma palavra no caminho pra casa, mas eu soube e ouvi a discussão dele com o , achei melhor não falar nada. Quando quiser ele vai falar comigo. Eu estava preocupada com a . Ela ficou tão decepcionada, acho que também ficaria. Meu pai saiu do carro sem ao menos olhar pra mim. Arfei decepcionada comigo mesmo, meu pai não falava comigo por nada. Fechei a porta do carro e o alarme foi acionado. Dentro de casa meu pai foi direto pra cozinha e eu para meu quarto, se ele não queria falar eu não ia forçar. No quarto, como era noite, eu apenas dormi. Não falei com mais ninguém. Desliguei o celular e apaguei.
No dia seguinte acordei mais indisposta do que a hora que fui dormir. No café da manhã meu pai não olhou pra mim e saiu na hora do almoço, sem se preocupar comigo. Eu estava ficando puta já, essa greve ia acabar quando?
Era fim de tarde e eu ainda não tinha comido nada, estava apenas com o café da manhã. Eu só queria dormir, meu mundo estava desabando pelo simples fato de eu me envolver com o melhor amigo do meu pai, só porque ele é mais velho? Eu nem sou tão nova assim. Passei o dia no meu quarto, dormindo, não queria pensar em nada, então a solução foi dormir. Mas acordei com fome e eu tinha que ir me virar na cozinha, já que meu pai, provavelmente, estava no trabalho. Trabalho esse que eu devia estar, mas devido meu acidente, eu ganhei uns dias em casa. Na cozinha, deparei com ele sentado a mesa, bebendo um café, talvez nem ele tivesse cabeça pra trabalhar hoje. Fora muita informação pra cabeça dele.
- Ta fazendo o que? – perguntou-me com tom de preocupação. Achei que não quisesse falar comigo, talvez ele já tivesse nos entendendo e vendo que não há mal nenhum em eu estar com o .
- Algo pra comer, dormi o dia todo, to com fome. – Respondi seca.
- Você quer ajuda? Pode ficar muito tempo de pé? – levantou-se vindo em minha direção.
- Eu não aguento mais ficar deitada! – suspirei derrotada. Preparei meu sanduiche e um pro meu pai, ele pegou o suco na geladeira e o colocou na mesa junto com dois pratos. Sentei-me junto a ele. Ele nos serviu o suco e eu comecei a comer, não ia tocar no assunto, ao menos que ele quisesse.
- Por que o , ? – ele queria saber.
- Essa pergunta não tem resposta pai. Eu apenas me apaixonei por ele, e não foi da noite para o dia, faz alguns anos.
- Quantos? – interessou-se.
- Desde os dezoito. Sempre o admirei. Sempre por perto, cuidando de mim e da como irmãs, mas depois eu comecei a olhá-lo, não como um segundo pai, mas como homem, pra cuidar, respeitar, me dar amor, me ensinar da vida. Eu me apaixonei. – Olhei meu pai nos olhos para que ele visse a sinceridade, eu sabia que meus olhos brilhavam enquanto eu falava dele. Não era só desejo carnal, era amor. Por mais nova que eu fosse eu poderia saber que aquilo não era algo bobo, não da minha parte.
- E vocês já... – meu pai não sabia que palavra usar, mas entendi o que queria dizer.
– Já, pai. Uma noite só. Estávamos esperando um momento certo. Ele sempre me respeitou, nunca fez nada que eu não quisesse e eu não sou mais uma menina, o senhor sabe. – Larguei meu sanduiche no prato, tomando meu suco. Meu pai apenas me olhava. Não tocara em nada.
- Eu sei, eu sei. É que é difícil pra mim, , ver você com ele, tão nova. Ele nunca parou com mulher nenhuma, sempre ficava com elas até ficar chato. E se acontecer com você também? Não quero você sofrendo.
- Se ficar chato, a gente conversa, inova. Não quero perder a oportunidade de ficar com quem eu gosto e diz gostar de mim por medo. Eu quero viver. Se não der certo, com certeza, vai ter sido ótimo enquanto durou. É um risco que quero correr.
- Onde eu tava pra não ver você crescer desse jeito? Você realmente é uma mulher, minha filha e eu espero, sinceramente, que não se machuque, não vou aguentar ver você sofrer. – Meu pai pegou em minha mão, afagando- a.
- Eu também, espero não me decepcionar, mas você sempre esteve comigo, sempre soube dos meus passos. Só não queria enxergar – me levantei da cadeira e sentei no colo do meu pai, o abraçando forte.
- Hey! Sua costela trincada! Não quero você de volta ao hospital. – Meu pai me soltou, fazendo-me sair de seu colo, levantando da mesa.
- Se bem que agora temos um médico na família, né? – pisquei pra ele, referindo-me ao . Sorri sem graça, pois não sabia se já podia fazer piada sobre o assunto, mas eu estava feliz. Eu tinha me acertado com meu pai.
- Garota!! – advertiu. - Eu tenho que ir a lanchonete, não queria sair sem falar com você, mas não quis te acordar. Você dorme muito. – Deu um peteleco na minha cabeça. Meu pai era um coroa que se sentia um adolescente.
- Pai! – chamei sua atenção. Ele me olhou sério, segurando minhas mãos. - Obrigada! Por me entender e me dar à chance de viver a vida conforme minhas decisões. Vai valer muito a pena no futuro.
- Eu te amo, e não posso te privar das coisas da vida. Você é valente, mesmo nova. Você aprendeu a viver sem mãe. Isso te fez forte. Eu vou sempre te proteger. Sempre. Conta comigo, tá? – meu pai me abraçou. – Agora me deixa ir ou aquele estabelecimento fica de cabeça pra baixo.
- Dramático. – Meu pai saiu e assim que lavei a louça do lanche voltei para meu quarto, para descansar.
Não sei quanto tempo passou, pois quando me tranco no quarto as horas voam, mas sabia que já era noite e lembrei-me do jantar que prometera, não deu pra ela vir ontem, pois o clima aqui estava pesado. Espero que venha hoje. Pensei na , eu tinha que conversar com ela. Só faltava isso pra tudo se resolver. Não pude mais pensar em nada, meu celular tocou.
- Alô? – perguntei desconfiada, apesar de saber que era o numero do , poderia ser a do outro lado da linha.
- Oi amor, como que você tá? – ouvir sua voz me deixou mais tranquila.
- Eu to bem, e você? A ? – perguntei preocupada.
- Nós conversamos, acho que ela entendeu. – Pude ouvir seu riso, ele estava aliviado.
- Conversei com meu pai, também. Achei que ele não fosse falar comigo por todo o dia, mas quando fui lanchar, agora à tarde, ele falou comigo e nos entendemos. – Sorri também, ao saber que tudo estava dando certo. – Ele só estava de cabeça quente ontem.
- É, a gente discutiu ontem, ele saiu bem bravo daqui de casa. – Coloquei a TV no mudo.
- Ele não disse uma palavra pra mim desde a hora que saiu daí. Achei que não ia falar nunca mais... Mas me diz como foi com a , ela tava onde eu falei?
- Tava! – respirou aliviado – nós conversamos e ela me contou uma coisa que eu adorei saber.
- É mesmo? – mexi, involuntariamente, no cabelo e sorri. – O que ela disse?
- Disse que você está apaixonada. – O tom de voz dele mudou, era um tom doce, parecia corresponder o sentimento.
- E estou. – Ri como se não fosse por ele o sentimento.
- Posso saber quem é o dono do seu coração, novinha? – eu ri da frase dele, ri descaradamente. – Adoro sua risada, mas não foge da minha pergunta!
- Um cara aí, um médico, sabe?
- Um médico? – perguntou incrédulo. – Eu conheço? – ele era muito cínico mesmo.
- Sim, conhece – eu sorria abertamente agora, com o coração acelerado. – É só se olhar no espelho que você o vê. – Ouvi um som de surpresa. Era um palhaço.
- Então, diz pra mim o que a via em seus olhos quando falava de mim, mesmo sem ela saber que era eu, você sabia que era. – Era tão nítido assim?
- Eu sou apaixonada por você, Doutor Guilherme. – Dei ênfase ao doutor que, sem querer, saiu em tom sedutor.
- Huuum novinha! Desse jeito eu vou aí cuidar de você. – Riu sarcástico.
- To precisando mesmo. – Respondi. Ouvi um som abafado e dizer algo que não entendi.
- Desculpa, era a aqui no quarto. – Meeu coração acelerou de novo.
- Ela disse alguma coisa? – eu estava tão ansiosa que estava tensa.
- Só disse que depois fala com você. – Pude relaxar o corpo na cama.
- Quer vir almoçar comigo amanhã? Ai você aproveita e fala com ela.
- Quero. – Ouvi a campainha tocar – Amor, eu tenho que desligar, tem alguém tocando a campainha. Vou atender. Beijos.
- Me chama de amor de novo? – pediu, envergonhado.
- Você não teve infância ou adolescência não? – brinquei com ele me levantando da cama e indo em direção à sala – ninguém nunca te chamou de amor antes?
- A mãe da e algumas que já fiquei, mas nenhuma eu correspondia o mesmo sentimento, né?
- Nem a mãe da ? – Não é possível que ele não gostasse dela. Parei de frente a porta e ouvi tocar, mais uma vez, a campainha.
- Eu gostei muito da mãe da , mas não é a mesma coisa agora, é maior!
- Oun, como você é fofo! Para de me iludir, tá? – ri – eu vou desligar, se não a campainha vai tocar de... - não deu tempo e já era a terceira vez que tocava. - Tchau , ate amanhã. – Disse rápido, olhando no olho mágico. Ouvi a resposta bem longe, pois já tirara o telefone do ouvido, abrindo, finalmente, a porta.
- ! – levantou as mãos cheias de sacolas, provavelmente, com comida.
- Entra , meu pai não tá. – Ajudei-a com as sacolas até a cozinha.
- Eu sei. Ele pediu pra eu te fazer companhia, mas só consegui sair de casa agora e ainda passei no mercado. Você demorou, estava dormindo?
- Nada. Eu estava com o no telefone, por isso a demora. Desculpa.
- me ligou ontem pra adiar o jantar e me contou. Ele estava nervoso. Não entendi bem o porquê, mas disse a ele umas coisas e parece que ele se acalmou. Vocês conversaram? – arrumava as coisas em cima da pia e do balcão, o jantar ia ser bom.
- Sim, no começo, achei que ele não ia aceitar de jeito nenhum, mas me expliquei e ele aceitou bem, eu acho. E obrigada por ter falado com ele. Amansado a fera. – Agradeci, tocando em seu ombro.
- Que nada, eu sei como é gostar de alguém por anos... – voltou a mexer nas compras.
- Quer ajuda com o jantar? – fui solidária.
- Quero sim. Ajude-me lavando o arroz, farei um risoto de camarão.
- Que delícia!
- É delícia sim, mas enquanto isso você vai me contar como tudo aconteceu entre você e o , aquele médico é uma delícia! – a olhei séria, como assim? Além de namorar meu pai, ela acha o meu namorado uma delícia? me olhou, rindo da minha cara. – É, você gosta mesmo dele. Vamos pode ir me contando. – E voltou sua atenção para a comida.
***
Dez da manhã e eu já estava de pé na cozinha, preparando o café, o jantar que fez foi maravilhoso. Conversamos muito, contei a ela como foi que descobri que gostava do , as minhas tentativas de investidas, as implicâncias dele, como ele cuidava de mim quando ficava doente, alegando que como era médico não conseguia ver uma pessoa doente que logo queria tratar, sei... Não demorou muito pra e meu pai chegarem à cozinha sorridentes, com cara de quem apronta e não quer contar nada. Sorri pra ele. Meu pai estava feliz com ela e isso me deixava muito feliz também, mais ainda sabendo que ele não implicaria com meu romance. Servi a mesa e comemos em silêncio, mas estava cheia de sorrisos, me deixando curiosa.
- Pai, eu vou almoçar com o , quer ir? – o chamei por educação, claro, estava morrendo de saudade do meu médico.
- Vou passar, deixar vocês a sós um pouco, você tem que falar com a ainda, né?
- Tenho, por isso que ele me chamou pra ir lá.
- Tudo bem, diz pra ele passar lá na lanchonete, mais tarde.
- Eu peço sim. Agora deixe-me levantar, porque tenho que me preparar, lavar o cabelo... Coisas de mulher. – pisquei pra que ria.
- Cuidado, hein! Você ainda tá se recuperando de um acidente, não esquece, faz só três dias.
- Eu tomarei todo o cuidado. – Frisei a palavra todo e corri para o quarto. Não demorou muito pra ter uma enfurnada no meu querido cafofo, rindo feito uma criança que acaba de ganhar presente.
- Fala logo o que houve pra você sorrir igual criança? Meu pai te pediu em casamento? – chutei um motivo.
- Não, mas me pediu em namoro!- constrangeu-se. Eu gritei de alegria. Tão alto que em segundos meu pai apareceu na porta, assustado.
- O que foi? – perguntou com a mão no peito, tá ficando velho mesmo.
- Nada! Só felicidade. Você está na-mo-ran-dooooo. – Corri pra abraçar meu pai, com cuidado, claro, coisa que meu pai me lembrou de fazer. – Estou tão feliz, pai.
- Eu também minha filha e graças a você. Agora vai se ajeitar que eu vou te levar no , eu vou sair com a . – Tão lindinho, falando todo apaixonadinho.
- Certo, assim que terminar de me arrumar, eu te chamo.
***
Quase meio dia e eu já estava na frente do prédio do , meu pai me olhou sorrindo, com uma o abraçando por trás risonha, também. Apertei sua mão em agradecimento e sai do carro. saiu atrás de mim para tomar o lugar do carona. Em frente à portaria olhei pra trás e os dois me olhavam, dei um tchau e entrei. No hall do sétimo andar olhando para o numero 704, toquei a campainha. Quem atendeu a porta foi a , pra minha surpresa.
- Oi. – a cumprimentei, cheia de sorrisos e ao contrário do que pensei, ela sorriu também.
- Como você tá? Entra. – Deu espaço para eu passar.
- To bem. Não posso fazer movimentos bruscos e tinha que estar repousando, mas quis vir aqui. Como você está? – sentei no sofá.
- Agora eu to bem, conversei com meu pai. Eu fiquei chateada por você ter me escondido que era o meu pai. Eu via o brilho nos seus olhos , eu sabia que você gostava desse cara que você saia as vezes. – foi direto ao assunto.
- Eu fiquei com medo , eu estava esperando o tempo certo, no dia do acidente, eu tinha falado com seu pai sobre o assunto e sobre te contar, porque eu não ia mais aguentar mentir pra você, ainda mais sabendo que o que tínhamos poderia ficar sério. – Eu mexia em minha mão, nervosa, mas conseguia manter o controle enquanto falava.
- É que é estranho, sabe? Você sempre o desdenhou, implicava com ele, era até engraçado quando vocês se zoavam.
- Acho que era uma forma de esconder, tentar negar o que sentia. Amiga me perdoa, não quis esconder de você. Eu queria contar, mas não sabia se dava pra contar, porque vai que era só uma diversão. Você ia ter raiva do seu pai ao me ver sofrer ou de mim se eu o fizesse sofrer.
- Isso é verdade, mas pelo o que vi, você não o fará, né?
- Claro que não, você mesma disse que via nos meus olhos que eu estava apaixonada, de fato, estou. – Ela sorriu. – Então, vai me perdoar? – começou a pensar e eu prendi a respiração.
- Vou. Eu pensei bem de ontem pra hoje, falei com meu pai e vi que não há mal nisso, vocês são adultos, fazem o que querem.
- Nossa, você falando assim, parece que eu tenho uns trinta anos e não sou só dois anos mais velha que você. – Tentei descontrair o clima, era felicidade demais pra mim.
- Ai pensando assim é estranho, viu? Você vai deixar de ser minha amiga pra ser minha madrasta! – jogou uma almofada na minha cara, ela estava de bem comigo.
- Minha costela, caralho! Quer me fazer voltar pro hospital? – ri jogando a almofada de volta.
- Meu pai que ia gostar de ter a namorada por perto. – Ao ouvir a palavra namorada me lembrei de um detalhe. Ele não tinha feito o pedido.
– Amiga, obrigada, de verdade, por me perdoar, eu menti pra você e isso não é fácil de perdoar. – A abracei.
- Eu passei por cima, por amar você e por amar meu pai. Não ia adiantar eu fazer pirraça, ia? – continuamos abraçadas, somos amigas desde sempre, por mais difícil que fosse, íamos ficar bem no final.
- Eu não sei. Não aguentaria ficar sem falar com você. – A soltei voltando para o sofá.
- Mas também não ficaria sem ver meu pai. Não ia adiantar. Eu ia ter que aceitar cedo ou tarde. - Ponderou.
- Ei, meninas, o almoço tá na mesa. – apareceu na sala usando apenas a bermuda e um avental. Eu tinha até esquecido da mania ridícula dele de andar sem camisa. Ao menos, agora eu poderia olhá-lo sem vergonha nenhuma.
- Eu sempre serei sua amiga, sua boba! – sussurrei no ouvido de , enquanto íamos para a cozinha.
Depois do almoço, deitados no sofá maior e no menor, dormindo, a TV ligada em um canal qualquer, nem prestávamos atenção, estávamos apenas nos dando carinho, sem medo de alguém nos pegar no flagra.
- Nem acredito que podemos ficar assim e não ter medo de nada. - beijou minha testa, puxando-me pra mais perto.
- Nem eu. Achei que a ia me matar, mas ela foi bem compreensiva. – Provoquei-o com beijos no pescoço.
- Não faz isso! Vou te levar pro meu quarto. Eu disse pro seu pai que eu te respeito, mas aí você me provoca desse jeito? Fica difícil, amor.
- Doutor, eu preciso dos seus cuidados! – fiz carinha do gato de botas em Sherek e ele riu.
- Você faz o meu dia mais feliz, sabia? – beijou-me a boca.
- Sabia, porque você faz o mesmo com o meu dia.
- Aouuw, olha a melação de vocês aí, eu não to dormindo de verdade, não. To de olho em vocês. – resmungou.
- Você não tem o que fazer, não? Um trabalho da faculdade, estudar, ... – voltei minha atenção ao pescoço de só pra provocar .
– Ai... – ouvi gemer baixinho, apertando meu corpo contra o dele, eu estava o excitando.
- Tenho um encontro com o mais tarde. – Riu de lado.
- Quem é , ? – me soltou na hora, sentando no sofá.
- Um amigo da faculdade pai, você já o viu. Agora vai namorar e me deixa vai. – virou de costas pra nós e fingiu dormir. que estava no canto do sofá, levantou com cuidado e puxando-me pela mão levou-me até seu quarto.
- Eu não posso. – Respondi antes mesmo dele tentar algo.
- Nossa, não tentei nada. - Sentou na cama. – Vem cá. – Apontou para o seu colo.
- Diz o que você quer? – perguntei, mexendo em seu cabelo.
- Carinho. – Fechou os olhos e sorriu.
- Foi difícil te ver de avental sem camisa. – Alisei sua barriga que ainda estava desprovida de roupas. – Não larga essa mania, né? – beijei sua boca.
- Não. – segurou minha nuca com cuidado, puxou um pouco meus cabelos, arrepiando-me e excitando-me. Minhas mãos continuaram a passear por seu abdômen enquanto a outra mão dele passeava por minha coxa. Eu, simplesmente, não sabia mais como respirar. Como pode esquecer-se de respirar? Cortei o beijo, sorrindo por ter parado de respirar durante o beijo e ficar sem fôlego.
- O que foi? - me olhava curioso.
- Esqueci de respirar – disse com a mão na testa –, mas onde estávamos?
- Estávamos nos beijando. – Deitou-me na cama e deitou ao meu lado. – Mas agora vamos dormir um pouco, eu estou morto. Cheguei do plantão hoje de manhã e mal dormi. Fica aqui comigo?
- Claro que fico. – Alisei seu rosto. Virei de costas pra ele com cuidado, fechando meus olhos para ter uma boa tarde de sono ao lado do meu amor. Dormimos o sono dos justos por algumas horas no quarto gelado pelo ar condicionado dele. Quem não dorme assim depois do almoço?
Acordei com beijando meu pescoço. Segurando com firmeza minha cintura, parecia estar sonhando e era algo erótico, pois pude sentir seu membro crescendo debaixo da bermuda.
- Aqui. – pegou minha mão e colocou em seu membro excitado por cima da bermuda. Virei o rosto, surpresa. Não sabia se o acordava ou não.
- , acorda! Você tá sonhando. ! – o chamei mais alto e ele despertou, mas minha mão continuou no mesmo lugar que ele colocou. Ele acordou perdido, sem entender nada.
- Desculpa. Eu tava mesmo sonhando. Era com você, estava tão bom. Muito bom. – Sorriu safado.
- Eu percebi, mas eu não posso fazer movimentos bruscos, você sabe bem mais do que eu, doutor. – Segurei firme o que tinha em minhas mãos e o doutor fechou os olhos.
- To começando a achar sedutor esse seu jeito de me chamar. Você não vai fazer esforço algum, meu amor. To com tanta saudade de você. Eu preciso de você aqui do meu lado. – Colou seu corpo ao meu, senti sua ereção, mais uma vez, eu não ia me controlar.
- Eu não vou me controlar, doutor. – Continuei com a brincadeira.
- Não controle. – Levantou meu cabelo pra beijar minha nuca e pescoço. Era o meu ponto fraco. Ouvimos batidas na porta para a frustração do que levantou contra vontade. Era a . Estava linda! Estava de calça jeans, camisa preta brilhosa e uma jaqueta vermelha. Cabelos soltos e bem lisos, brincos grandes e batom tom da boca, arrasou.
- Pai, eu vou sair e não sei se vou voltar pra casa, eu vou a uma festa com o .
- Festa? Por que você tem a mania de me avisar pra onde vai quando já está saindo? – colocou a mão na cintura. Ela apenas fez um gesto com as mãos. Dando de ombros para o que ele disse. – Se precisar, me liga, eu não vou sair. Se quiser eu vou te buscar, tenha juízo e eu quero saber direito quem é esse , hein. – beijou o rosto do pai e olhou pra dentro do quarto me procurando, a olhei e mandei um beijo, ela deu meia volta fazendo-me a chamar de gostosa. Deu meia volta e saiu.
- Dorme aqui comigo? – engatinhava pela cama.
- Se você prometer se comportar, sim.
- Eu não tenho idade pra me comportar com uma mulher em minha cama, . – Disse sério.
- Mas terá ou quer que eu quebre mesmo a minha costela? – respondi no mesmo tom.
- Tudo bem, mas só até essa bendita costela colar, ok? Depois não me responsabilizo e a senhorita pode parar de me provocar também? – deitou na cama com a barriga pra cima e eu me coloquei na mesma posição.
- Prometo. – Cruzou nossas mãos.
- . – Ouvi sua voz.
- Hum. - O olhei.
- Você ainda não disse de novo. - Virou de lado, eu só pude virar a cabeça. Sua mão pousava sobre a minha barriga.
- O que eu não disse?
- Me chamar de amor, você não disse de novo, ontem. – Eu ri com seu pedido.
- Amor. Meu amor. – Minha mão parou em sua nuca, com dificuldade, não queria me virar, o puxei para um beijo: lento e calmo.
- E você não pediu. – Lembrei novamente do detalhe.
- Não pedi? O quê?
- Em namoro. Você disse pra que a gente tava namorando, mas não me pediu.
- Achei que três meses junto com alguém já caracterizava um namoro. – Cruzou os braços, pensativo.
- Pra você que não fica com ninguém por mais de um mês. – Respondi, pirracenta.
- Não ficava. – Corrigiu. – Agora eu tenho você, não tenho e não quero mais ninguém.
- Vai pedir ou não vai? – fiz pirraça. jogou seu corpo por cima do meu, mas sem encostar-se a mim.
- , você aceita namorar comigo? – Pediu, sorrindo, achando graça da minha cara de medo dele cair em cima de mim, encheu meu pescoço de beijos descontraídos, fazendo-me rir. Ele tava tão lindo sorrindo daquele jeito.
- Sim, aceito. – Segurei seu rosto, olhando seus olhos.
- Vai ser minha mulher pra sempre? – ganhei um selinho, se apoiou na cama com os cotovelos.
- Vou sempre ser sua mulher. Não vai enjoar de mim? – desconfiei.
- Nunca vou enjoar de você – beijou minha boca. - Vou cuidar de você, pra sempre.
- Não promete que eu posso cobrar... – continuou a beijar meu corpo, agora com mais intensidade. Eu não ia resistir por muito tempo.
- Você pode fazer o que quiser comigo. – Olhou—me nos olhos.
- Mesmo? – continuei com as perguntas.
- Cala a boca e me beija, !
Fim!
Nota da autora: Meu Deus! Consegui. Como sempre nos quarenta e cinco do segundo tempo, mas ai está mais um especial pra vocês meninas. Por incrível que pareça não é restrita (não sei se isso é bom ou não) então preciso da opinião de vocês ok? Tão fofinho os dois junto né? Quem não queria um médico assim na vida, né? Que viva sem camisa e que não precise frequentar a academia para ter um corpo delicioso. Bem é isso, espero que tenham gostado, essa fic demorou mais saiu. Não deixem de ler minhas fic todas postadas no site. Beijinhos.
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