Welcome To My Silly Life
História por Ana Elisa Pessoa
Revisão por Anne M.
Prólogo
Setembro, 8 meses depois da volta para o Brasil

Fazia uma hora que estava no aeroporto esperando a chegada da . Ainda era meio surreal pensar que ela finalmente tinha criado coragem de enfrentar catorze horas de viagem, sentada em uma mesma posição e se preparando psicologicamente para o calor brasileiro. Mesmo ainda estando no inverno, o Brasil era bem mais quente que a Europa. E, tudo isso, porque ela se rendeu, e admitiu que não aguentava mais ficar longe de mim.
Minha mãe quase teve um colapso quando disse que receberíamos uma visita em casa e surtou quando disse que era minha melhor amiga inglesa. Temi profundamente que ela decidisse me expulsar de casa - como ela já havia ameaçado várias vezes desde que voltei para o Brasil - mas meu pai, como sempre, contornou a situação e a convenceu a deixar. Ele alegou que eu passei muito tempo na companhia da quando morei em Londres, e que, sem dúvida nenhuma ela tinha me ajudado muito enquanto vivemos praticamente juntas, não sendo nada mais justo que retribuir a gentileza.
Na tela de embarque/desembarque, pude ver as letras piscando, informando que o pouso do voo em que a estava tinha sido efetuado. Peguei minha bolsa e o cartaz ridículo que eu havia feito e me aproximei da porta por onde ela sairia. Levantei o cartaz sem me importar que provavelmente todas aquelas pessoas do aeroporto me achariam uma maluca total. Eu era mesmo maluca e não fazia diferença nenhuma que todo mundo soubesse.
No cartaz, eu tinha escrito: "Come to me, !". Eu não ia fazer nada, mas pensei que eu tinha de fazer alguma coisa. não era alguém que merecia uma recepção comum e precisava daquele toque de "esquizitisse" que só eu tinha. Quando a porta se abriu, muita gente começou a sair. Estava com medo de perder a de vista, mas logo ela apareceu. Ela segurava apenas uma mala pequena na mão e a soltou assim que me viu. Nós meio que fizemos uma cena saindo correndo uma atrás da outra e nos abraçando.
- Eu senti tanto a sua falta, ! - ela disse ainda grudada em mim e falando com voz de choro.
- Eu também! - falei enquanto nos soltávamos daquele abraço - Está pronta para o Brasil?
- Mal posso esperar! - ela falou dando pulinhos de alegria e tirando o casaco que estava vestindo, o que era o mínimo para o clima inglês - Já posso sentir o que você queria dizer quando falava que no Brasil as pessoas são bem mais, hm, calorosas do que na minha terra.
- Isso porque estamos no fim do inverno - ri abraçando novamente - Mal posso esperar pra te mostrar meu país.
- Idem.

Capítulo único

- Amiga, quando você me disse que esse Rodrigo era um gato, eu não imaginei que fosse tanto! - abanou as mãos no rosto em uma tentativa de se refrescar daquele calor de pessoa que era o meu colega.
- Aquieta a periquita, . Você é uma garota comprometida. - bati minhas mãos de leve no rosto dela para "acordá-la". Ela se virou pra mim e começou a me olhar de um jeito esquisito.
- Ah é... - ela colocou as mãos na cintura, me encarando - Você, "tecnicamente", - ela fez aspas com as mãos - É solteira, não vai me dizer que...
- Ah, pelo amor de Deus! - bufei - Não é “tecnicamente”. - imitei o gesto dela com as mãos - Eu realmente não tenho namorado. - cruzei os braços com impaciência.
- Nós duas sabemos que não é bem por aí que eu quero chegar. - ela riu sarcástica.
- Não estou namorando o Rodrigo, ele é só um amigo.
- Muuuuito amigo. - cantarolou - Acho linda essa amizade em que ele pega na sua mão de cinco em cinco minutos e te trata como se você estivesse no céu e nós, na Terra.
- Ah, por favor, você nem entendeu o que ele falou.
-Eu não preciso saber falar português pra imaginar o tipo de coisa que ele te fala! - riu escandalosamente, o que era bem típico dela, devo dizer.
- Agora chega! - arfei fazendo com que a minha franja se levantasse - Eu devia saber que não era uma boa ideia ter te apresentado pra ele.
Já fazia uma semana que ela estava comigo. Eu sabia que uma hora ou outra, ela iria implorar para que eu a levasse para conhecer o lugar onde eu passava a maior parte do meu dia, pois, quando eu ia trabalhar, eu tinha que deixá-la na companhia da minha mãe. Para minha sorte, ela estava tratando a super bem, e até estava começando a falar uma coisinha ou outra em inglês que eu ensinava pra ela. A me disse várias vezes que era pra eu começar a pegar leve com a minha mãe, que às vezes ela saía um pouco dos limites, mas não era por mal. O mais complicado ainda era concordar com ela.
- Tá com fome? - perguntei quebrando o silêncio do momento.
- Tô. - ela disse passando a mão na barriga.
- Já acabou minha hora aqui mesmo, podemos ir pro shopping e jantar por lá. - falei tirando a câmera do meu pescoço e indo guardá-la.
- Nossa, amiga, não sei como você aguenta tanta criança. - ela disse enquanto uma fila de crianças saíam com as mães do estúdio - E ainda conviver com um cara gato sem agarrá-lo, você merecia um troféu.
- ! - olhei pra ela, brava.
- Já sei. Vou calar. - ela fingiu que estava trancando os lábios - Mas você sabe que eu não falei nenhuma mentira. - bati minha bolsa com força nela.
- Ouch.
- ? - ai, droga.
- Oi, Miriam. - falei ajeitando meu cabelo e minha blusa - Err, essa é minha amiga inglesa, . - a cumprimentou com um aperto de mão e murmurou um "nice to meet you" quase inaudível - Algum problema?
- Não, querida. - ela sorriu - Só queria conhecer a sua amiga, ela estudava com você em Londres?
- Aham - gaguejei.
- Quanto tempo você pretende passar aqui, querida? - ela perguntou parecendo um pouco mais empolgada do que pareceria se não tivesse algo em mente. olhava para mim, querendo saber o que ela estava falando. Ela não tinha percebido que minha amiga não sabia nada da nossa língua.
- Três semanas. - respondi por ela, traduzindo logo em seguida para a o que estávamos falando.
- Oh, meu Deus, me desculpe. - Miriam disse em um inglês invejável - Pensei que soubesse falar algo em português.
- Tudo bem. - respondeu se sentindo mais confortável por estar entendo do que se tratava - Eu não sei nada mesmo, mas bem que minha amiguinha podia me ensinar algumas coisas. O problema é que ela parece estar meio sem paciência... - ela me lançou uma piscadinha e eu ri sem humor, ainda preocupada com o fim dessa conversa estranha.
- Parece ser muito simpática. - Miriam sorriu gentilmente para a .
Eu suspirei aliviada. Pensei que estaria perto de levar uma bronca por ter levado alguém sem pedir permissão, mas pelo jeito a Miriam já tinha se deixado levar pelo carisma da . Ela nem ao menos estava se preocupando com o fato de eu poder ou não estar errada.
- Er, Miriam, ela só veio porque... - comecei a falar, mas fui interrompida.
- Por favor, . Você tem total liberdade, querida. - ela riu gentilmente - Pode vir quando quiser, . Você tem alguma experiência com fotografia infantil?
- Não muito. - riu e eu fiquei com vontade de fazer o mesmo. Só eu sei o quanto ela detesta fotografar qualquer pessoa com menos de 12 anos de idade.
- Bem, de qualquer forma, se sentir vontade de "pôr a mão na massa", não tem problema. Agora, garotas, eu preciso ir, tenho uma festa de casamento pra fotografar e agora já são... - ela checou seu relógio de pulso - Sete horas! Tô mais atrasada do que imaginava - ela colocou a bolsa no ombro já se dirigindo à saída – Beijos. - ela estalou dois beijinhos sem se virar.
- Essa é a sua chefe? - perguntou, incrédula.
- A própria.
- Caramba, ela é mais legal do que eu pensava.
Senti meu estômago roncar e percebi que aquela tarde movimentada tinha, no mínimo, me deixado com fome.
- Tá bom, vamos logo comer alguma coisa porque eu não aguento.
- Nossa, você tá realmente mudada. - falou, colocando a mão na minha testa como se estivesse checando minha temperatura - Em pensar que eu já tive que te obrigar a comer alguma coisa...
- Cala a boca, .
Fomos para o shopping mais próximo e jantamos McDonald's, porque nem eu e nem a estávamos com pique para algo mais sofisticado. Demos uma volta pelas lojas, olhamos algumas vitrines e ficamos por lá até dez horas da noite, quando fomos para casa. Agora já estávamos de volta ao meu quarto, quase dormindo.
- , se eu te pedir uma coisa você promete não jogar nada que possa me machucar em mim?
- Eu quase estava dormindo e se você tiver me acordado por uma coisa boba... - falei com voz de sono.
- Então deixa pra lá...
- !
-Tá bom, já que você insiste... - ela riu - Vou mandar a real. - ela se sentou na cama e nesse momento eu gelei, porque percebi que devia ser coisa séria - Eu sei que você ama o e que ele também te ama, mas, vamos encarar a realidade, vocês estão a um oceano de distância um do outro e...
- Aonde quer chegar? - perguntei me sentando também, percebi que minha pressão tinha caído ao ouvir o nome de . Eu estava tentando evitar falar sobre ele desde quando a tinha chegado, mas de alguma forma, eu sabia que em algum momento isso iria acontecer.
- E eu acho que você deve conhecer pessoas novas e não se sentir mal se estiver a fim de alguém. Você não é mais a namorada do , foi por isso que eu brinquei com você e o Rodrigo mais cedo. Porque, sei lá, ele é gatinho e tá na cara que ele gosta de você. - ela suspirou - Se for recíproco, só queria te dizer que você deve ir em frente porque ele é alguém legal.
Quando dei por mim, eu estava chorando. Aquele tempo todo distante de quem eu mais gostava tinha me deixado sensível. Eu sentia muito a falta do e ouvir o que a me dizia só provava que eu ainda estava bem longe de esquecê-lo. Na minha mente, nós ainda estávamos juntos e isso era só um pesadelo. Mas não era, isso era a realidade.
- . - falou vindo pra minha cama, ela me abraçava e enxugava as minhas lágrimas ao mesmo tempo - Me desculpa, tá? É o seu tempo que conta e não o meu. O seu tempo pra digerir tudo isso ainda não deve ter passado, mas vai passar logo. - ela brincava com uma mecha do meu cabelo.
- Ele tem outra? - perguntei com medo da resposta.
- Quem?
- O .
- Claro que não. - ela riu - Se ele não estiver na mesma, não duvido que esteja até pior que você. É claro, a imprensa diz que ele tem a Lauren, mas é bem óbvio que é mentira. Ela é insuportável e até as fãs andam tweetando que preferiam o com você.
- Acho que passei tempo demais longe da internet nos últimos meses...
- Percebe-se, amiga. - ela me abraçou mais forte - Esses dias peguei uma fã dizendo que a Lauren era fútil demais para o e que a única coisa que ela devia ter na cabeça era o número de roupas que ainda não tinha no armário, e que o apreciava muito mais garotas inteligentes como você. Acho que elas não se esqueceram do dia que ele te chamou de gênio no twitter.
- Você não tá ajudando muito me falando dessas coisas.
- Eu sei - ela mostrou a língua - Estava te testando.
- , você tá muito estranha, o que foi? - praticamente gritei, e em seguida coloquei a mão na minha boca com medo dos meus pais ouvirem alguma coisa.
- Vou mandar a real de novo, mas deixa vez de longe porque eu tenho certeza que você vai jogar alguma coisa em mim agora. - ela foi correndo para a própria cama - O me obrigou a te falar essas coisas para eu ver se você ainda gostava dele. Ele até me fez te falar sobre algum outro cara aí e ver se você tinha algo com ele. - ela falou tudo de uma vez e se enfiou em baixo do edredom a fim de se proteger dos meus "ataques" que viriam a seguir.
Mal conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir, e, honestamente, não sabia se achava aquilo bom ou ruim. Só sabia que tinha que bater na , o quanto antes. Joguei meu chinelo nela, e depois minhas almofadas, e depois meu livro que estava na escrivaninha e tudo mais que encontrava pela frente.
- Acho que você já me torturou bastante. - ela riu – Melhor você parar porque daqui a pouco sua mãe vai chegar aqui pra saber o que está acontecendo e irá nos expulsar de casa.
- Não era você que estava bancando a espertinha?
- O me mandou te falar isso, mas se você preferir saber, eu realmente acho que você devia dar uma chance pro Rodrigo e pra qualquer outro gatinho que demonstrar interesse... Vai na fé colega.
- De novo não... - murmurei - Eu odeio vocês, mesmo de longe.
- Aham.
- Quer que eu te bata de novo?
- Bons sonhos, .
A não demorou muito para dormir, mas eu sim. Fiquei rolando na cama por um bom tempo pensando em tudo o que eu tinha deixado para trás. O tempo tinha passado tão rápido e tudo ainda era muito recente, mas eu ainda ria ao perceber que era o mesmo e ainda fazia coisas para me fazer rir. E, o melhor: ainda se preocupava comigo e não queria me imaginar com outra pessoa.
Por várias vezes, eu me peguei pensando que, quando ele voltasse para Londres, logo arrumaria alguma outra. Afinal, estávamos falando de e qualquer garota no mundo daria uma chance para ele. Mas, pelo visto, o que tivemos ainda demoraria muito tempo para cicatrizar. A cada dia que passava, torcia para que um dia pudéssemos ficar juntos, sem nada para atrapalhar.
Mas, enquanto isso não acontecia, eu tinha que dar razão para a e admitir que realmente, não vai me fazer mal algum conhecer gente nova ou "me encantar" com outra pessoa, eu devia isso a mim mesma. E era exatamente isso o que eu iria fazer de agora em diante.

No dia seguinte

Home is where the heart is
(O lar é onde está o coração)
It's where we started
(É onde começamos)
Where we belong, singing
(Aonde nós pertencemos, cantando)
Home is where the heart is
(O lar é onde está o coração)
It's where we started
(É onde começamos)
Where we belong
(Aonde pertencemos)

Eu estava cantarolando pela casa e ainda não eram nem 9 horas da manhã, o que deixou a com a pulga atrás da orelha. Era sábado, e eu ia ter que trabalhar, mas como a gente tinha feito muita bagunça naquela primeira semana que a estava comigo, eu tinha que arrumar meu quarto. Enxotei a do cômodo e a mandei para a sala a fim de poder organizar as minhas coisas. Ela queria que a deixasse ajudar, mas eu disse para ela que a visita não tinha que arrumar nada. Minha mãe sempre dizia isso, mas só agora fez sentido pra mim. Como eu não consigo fazer nada sem música, coloquei meu CD do McFly, Motion In The Ocean, um dos meus preferidos deles, pra tocar. Nunca tinha percebido o quanto Home Is Where The Heart Is combinava com a minha vida no momento.

In these troubled days of anger
(Nesses dias problemáticos de raiva)
We're afraid of every stranger
(Nós temos medo de qualquer estranho)
But today we're changing history
(Mas hoje estamos mudando a história)
It's OK to sing it with me
(Está tudo bem cantar isso comigo)

- Ei, essa eu não conhecia. - disse, abrindo a porta do quarto.
Olhei para ela com os braços cruzados e já estava me preparando pra dizer que ela não era bem vinda.
- Calma, amiga, só vim buscar isso. - ela apontou para o carregador do celular, em cima da cama - Não precisa olhar pra mim com essa cara, já tô saindo.
- Bom mesmo. - ri - E a propósito, a música é do Motion In The Ocean. - mostrei para ela o encarte.
- Hm... - ela murmurou analisando - Acho que não conheço nenhuma música, o que me lembra que eu sinto falta das suas "aulas musicais".
- Depois falamos sobre isso, agora eu tenho que acabar de arrumar o quarto.
- Você tem mesmo certeza que não quer ajuda?
- Absoluta.
- Se você diz... - ela deu de ombros, voltando para a sala com o carregador.
Terminei de arrumar e só saí de lá quando achei que estava com um cheiro bom e organizado. Como não tínhamos nada marcado de manhã e meus pais tinham ido para um rancho, colocamos uma lasanha pronta pra assar e ficamos assistindo Friends enquanto isso.
- Lembra quando você me contou que o queria mudar o nome dele pra Chandler? - como se fosse possível esquecer.
- Pensei que tinha ficado bem claro que eu não queria falar sobre meu ex-namorado. – murmurei.
revirou os olhos, e me ignorou.
- , não está mais aqui quem falou! - ela pôs as mãos para cima - Relaxa, farei o possível para não falar mais do... jovem que era seu namorado.
Não contive o riso. Passando esse tempo com a , era até estranho imaginar como eu ficaria quando ela fosse embora. Eu realmente não sabia como iria viver sem o senso de humor da minha melhor amiga, mas eu já estava fazendo isso há oito meses. Antes, parecia que ia ser impossível, mas eu sobrevivi e certamente dessa vez seria a mesma coisa.
Comemos a lasanha quase inteira e lavamos a louça depois. Eu tinha que ir para o estúdio às 14 horas para pegar as câmeras antes de ir para a festa de aniversário que iria fotografar. Chamei a para ir comigo, mas ela parecia estar mais interessada em passar a tarde assistindo ao meu box de Friends. Então, deixei-a sozinha, porque eu bem sabia que seria difícil convencê-la a ir comigo fotografar uma festa de uma criança (ou bebê?) de um ano de vida. Como já era uma e meia, só troquei de roupa e fui para o estúdio. Cheguei lá e parecia que estavam todos me esperando.
- Desculpa, gente, cheguei o mais rápido que pude. - falei tirando a bolsa do meu ombro e procurando a minha câmera.
- A gente acabou de chegar. - uma ruivinha que parecia ser simpática comentou, e eu me senti profundamente culpada por não saber nem qual era o seu nome - Só estava faltando você e o... Rodrigo, que por sinal acabou de chegar. - ela disse apontando para a figura que acabava de atravessar a porta.
Ele estava com o cabelo todo desgrenhado, usava uma calça jeans rasgada, camiseta branca e óculos escuros. E tudo o que eu pude fazer era torcer para que eu não estivesse com uma cara de tonta apaixonada naquele momento. Para minha tristeza, eu acho que era exatamente assim que eu estava. Ele cumprimentou todos com beijinhos - inclusive eu - e nesse momento pude sentir seu perfume, que era muito bom. , pelo amor de Deus, se controla!
- Então, vamos? - Rodrigo perguntou, quebrando o silêncio.
Miriam tinha selecionado apenas cinco de nós para irmos fotografar a festa. Era a primeira vez que iríamos sem ela e eu acho que todo mundo estava um pouco nervoso. Especialmente eu, e por diferentes motivos. Uma van estava nos esperando para nos levar ao salão da festa, eu devia saber que ia dar merda, acho que sou traumatizada com vans. Quando chegamos lá, eu juro que levei o maior susto da minha vida porque, definitivamente, eu não estava esperando por TANTA gente e tanta criança mimada e barulhenta. Já até podia ouvir a risada da quando eu contasse o ambiente em que fui fotografar.
Estava recuperando o fôlego perto de uma das janelas do salão quando meus pensamentos foram "interrompidos".
- Preocupada com alguma coisa? - Rodrigo perguntou se aproximando de mim enquanto tirava foto de um garotinho todo lambuzado de brigadeiro.
- Não. - respondi secamente - Digo, tirando que minha melhor amiga está na minha casa assistindo todas as temporadas de uma das minhas séries preferidas enquanto eu fotografo crianças, não tem nada me preocupando não.
- Eita. - ele riu - Tem alguma coisa pra fazer hoje à noite?
Agora o negócio ficou sério! Até o momento eu era apenas uma parte da friend zone na vida do Rodrigo, mas agora que ele me chamou pra sair, parecia que eu tinha dado um pequeno passo pra fora dessa zona.
- Tudo bem, eu sabia que você não ia querer mesmo. - ele falou.
- O quê? - parabéns, ! Isso mesmo! Mostre que você é tão esperta que deixou o maior gato do recinto no vácuo e ainda demonstrou desinteresse.
- Nada - ele riu de novo.
- Não.
- Não o quê? Não quer sair comigo ou não tem nada pra fazer essa noite?
-Eu não tenho nada pra fazer, mas é que a está aqui e eu não posso deixá-la sozinha. - falei, ou melhor, gaguejei, mostrando todo o meu poder de sedução mesclando minha cara de pata choca com fala enrolada.
- E por que ela não pode ir junto? - ele indagou - Eu sei que você ainda está um pouco arisca comigo, mas eu juro que sou um bom garoto, e meu convite é totalmente na amizade.
E VIVA A FRIEND ZONE!
- Tudo bem. - disse, por fim - Tenho certeza que a vai adorar.
- Ela parece ser bem legal. - ele comentou - E louca.
- Você ainda não viu nada.
- Vão ficar papeando ou vieram pra trabalhar? - um menino mais ou menos da minha idade, baixinho e rechonchudo perguntou e eu também não sabia o nome dele.
Rodrigo quase ia xingá-lo e ser bem cruel, mas eu o impedi.
- Tem razão, o Rodrigo estava só me perguntando se eu aprovava as fotos dele. - engoli em seco - E eu disse que era melhor tirarmos o máximo que a gente conseguisse pra ter mais opções para a Miriam depois. O que me lembra que eu tive uma ideia legal pra foto do bolo e é isso o que vou fazer agor.a - dei uma piscadinha e pude sentir os olhos do Rodrigo e do menino estranho me acompanhando enquanto eu andava.
Depois dessa cena cruel, foi difícil manter minha concentração no trabalho. Tudo o que eu conseguia pensar era o que a faria quando eu contasse pra ela que nós sairíamos com o Rodrigo essa noite. Primeiro ela iria me xingar até a morte por eu ter usado ela como desculpa para não saírmos só nós dois. Segundo, faria de tudo para que acontecesse alguma coisa, porque só eu sei como a é quando quer bancar a substituta do cupido. Rodrigo tentou se aproximar algumas outras vezes mas eu o evitei porque não queria que a nossa aproximação virasse fofoca para a Miriam. Não agora que eu estava começando a ser a "antiga " novamente e conseguindo fazer o que eu fazia quando ainda estava em Londres.
Por fim, já havia tirado as 50 fotos que haviam sido designadas para cada um de nós cinco. A Miriam havia dito que escolheria as melhores para mandar para os pais da criança escolherem quais iriam para o álbum. Eu estava exausta e tudo o que eu queria era chegar em casa e dormir, mas eu tinha feito o favor a mim mesma de arranjar um quase encontro para ir e não podia descumprir minha palavra.
Já estávamos todos na van novamente e Rodrigo se sentou ao meu lado.
- E então? Te pego às nove?
- Hm, nove e meia é melhor. - falei olhando a hora no meu celular, já eram sete e meia e eu tenho certeza que a iria querer me deixar com cara de top model. Mas, levando em consideração a minha situação no momento, acho que demoraria um pouco - Anota aí meu endereço. -falei e ele anotou com agilidade em seu moleskine preto.
- Tudo certo, senhorita. - ele assentiu - Eu serei o galã em frente ao carro preto.
- Ok - ri.
Por um instante eu me arrependi de ter citado a , não me faria mal passar um tempo a sós com ele. Mas, por outro lado, eu ainda não esqueci o e sem dúvida nenhuma, ter alguma coisa (ou quase ter) seria como um consolo e o Rodrigo não merece isso. Eu tinha que ser sincera comigo e com ele, e no momento, eu ainda não estava pronta para tentar nada outra vez.
Quando a van nos deixou em frente ao estúdio, deixamos nossas câmeras em cima da mesa da Miriam e fomos cada um para a sua casa. Eu morava perto, a pé gastaria no máximo uns 15 minutos, por isso recusei a carona que alguns dos meus colegas me ofereceram. Andei o mais rápido que pude e cheguei em casa em um tempo de 10 minutos. Obviamente, estava suada e muito cansada, mal consegui dizer para a o que tinha acontecido. Como eu havia previsto, ela brigou comigo, me xingou e disse que eu era ridícula por chamar ela para - nas palavras dela - "segurar vela", ao que eu rebati dizendo que não era um encontro e que o próprio Rodrigo tinha falado que era só na amizade.
Depois de um pouco de discussão, acabou me entendendo e praticamente me enfiou embaixo do chuveiro. Tomei um bom banho para que ela pudesse começar a me arrumar. De imediato comecei a ter uma sensação nostálgica nada agradável, porque ainda me lembro de quando ela me arrumava quando eu ia sair com o . Mais uma vez, cheguei à conclusão que eu não seria honesta se visse o Rodrigo com outros olhos. Querendo ou não, eu ainda gostava do e isso não era mentira pra ninguém.
escolheu minha roupa: uma calça jeans clara, coturnos, uma blusa cavada que mostrava meu top azul e brincos pequenos e delicados. Ela fez chapinha no meu cabelo e em seguida a minha maquiagem. Quando me olhei no espelho, fiquei surpresa, eu realmente tinha ficado bonita -e na medida certa, sem parecer que eu tinha segundas intenções com o Rodrigo -. Ela tomou um banho rápido e se arrumou na mesma velocidade, mas mesmo assim ficou ainda mais bonita que eu.
- Que horas são? - Nove e quinze. - respondeu, se sentando na minha cama e aparentando estar "respirando pela primeira vez" desde que tínhamos começado - Isso significa que você tem quinze minutos para me convencer que eu devo mesmo ir com vocês.
- Quinze minutos a mais para te bater, isso sim.
- Você anda muito agressiva ultimamente.
Rodrigo não demorou para chegar e logo nós já estávamos no carro dele. Ele disse que tinha tentado convencer um pessoal a ir conosco, mas que ninguém animou. Então, seríamos só nós três e que ele achava que essa provavelmente era a situação mais estranha que já tinha passado. Ele levou a gente em um restaurante sem muita frescura mas com uma comida muito gostosa. Estávamos bebendo cerveja, então não preciso dizer o quanto já estávamos mais "alegres". tinha se soltado ainda mais com o Rodrigo, nunca tinha visto minha amiga tão alterada, e olhe que estamos falando de .
- Ah, mas é sério que você nunca teve vontade de conhecer Londres? Aposto que você ia amar as pessoas do nosso curso. - disse dando um tapinha no ombro do Rodrigo.
- Ainda não tive oportunidade. - ele riu - Se eu for lá algum dia, eu te aviso.
- Vê se arrasta a com você!
Eu já ia retrucar quando o celular da tocou.
- Ai meu Deus! - ela exclamou e até pareceu um pouco mais sóbria do que estava antes - É o !
- Quem? - Rodrigo perguntou.
- Meu namorado.
- Você namora?
- Aham.
- Porque ele tem esse nome tão... diferente? - Rodrigo ainda parecia não entender.
- Alô? - parecia ter a voz trêmula. - Tô bem, e você?
Eu e Rodrigo apenas olhávamos a cena sem entender muito o que estava acontecendo, já que a não demonstrava nenhuma emoção. Detalhe que o Rodrigo ainda não sabia que o namorado da também era da One Direction. Depois de um longo tempo, ela proferiu as palavras que poderiam ter me matado ali mesmo.
-Ah... o quer falar com a ? - ela olhou pra mim e pela sua expressão parecia estar atormentada por dentro e por fora - Ãn... vou colocar no viva-voz.
- ?
- ? Tudo bem?
- Era só essa que me faltava... - Rodrigo falou. - Quem tá aí?. - Um amigo! - eu e respondemos em uníssono.
- Que amigo? - dessa vez e perguntaram juntos da mesma maneira.
- Ah, por favor, a gente tá tendo um papo super bacana aqui e eu não estou dando em cima de ninguém, se é com isso que estão preocupados... - Rodrigo se pronunciou, para a nossa surpresa.
- , você se importa de tirar do viva-voz e falar comigo em particular? Não estou gostando nada dessa história... - parecia irritado.
- Ah por favor, não vai dar showzinho agora não. - gargalhou - Amor, você acha mesmo que eu trairia você?
- Não é com você que eu estou preocupado... - O QUÊ? - dessa vez quem se irritou foi eu - O Rodrigo trabalha comigo e se importa em saber se eu estou bem ou mal, e não fizemos nada além de conversar essa noite e nem vamos fazer. E por fim, se eu tivesse que falar qualquer coisa pra alguém seria para o .
- Você tem razão, . - disse, e eu senti minha pele arrepiar ao som da sua voz pela milésima vez só nessa noite - , se você tiver contado alguma coisa pra ela...
- Ela contou! - eu ri - E fico feliz em perceber que você continua o mesmo idiota de sempre, ...
- E você também, . - interferiu.
- Tudo bem, divirtam-se! - disse pondo um fim nesse projeto de confusão. - Sinto sua falta, - antes dele desligar o telefone, ainda ouvi o retrucar alguma coisa, ainda insistindo em falar com a , mas não deixou e tudo que eu pensava era nesse “sinto sua falta”.
- Caramba, é assim que vocês brigam? - Rodrigo perguntou - Desculpa se tiver dado problemas pra vocês duas. - ele riu.
- Que nada. - disse - No fim, sempre terminamos bem. Não é, ?
- Sempre. - respondi pensando no quanto que essa palavra podia significar.

Epílogo

- Tem certeza que não esqueceu nada?
- , me recuso a responder essa pergunta novamente. - disse enquanto caminhávamos pelo longo corredor que levava até a fila de embarque - E se eu tiver esquecido algo, você leva pra mim quando for para Londres em dezembro.
- Acho que eu queria arranjar alguma desculpa para você ficar aqui comigo até lá. - ri sem humor.
- Três meses passam rápido! - ela disse me abraçando, enquanto nós duas nos esforçávamos para não chorar, e eu não sei qual de nós era mais babaca.
Ouvimos a primeira chamada do voo para Londres. Meus pais choraram para se despedir da , e até agora eu não consigo acreditar que ela tinha conseguido comover até mesmo minha mãe, convencendo-a de que eu merecia uma visitinha em Londres de vez em quando. Minha mãe ainda não parecia contente, mas a conseguiu amolecer pelo menos um pouco o coração dela.
- Fica bem. - ela me abraçou e dessa vez o choro foi inevitável - Vou mandar um abraço pro ...
- Mas eu nem pedi.
- Mas eu sei que você quer. - ela riu - Ele sente sua falta, . Mas eu sei que um dia vocês vão ficar juntos novamente, eu sei que é brega, clichê e Nicholas Sparks feels demais dizer isso, mas vocês foram feitos um para o outro e um dia acharão o caminho de volta.
- Tomara.
- Até a formatura, . - ela me abraçou uma última vez antes de finalmente ir - Amo você!
- Também te amo, besta! - ri mesmo essa sendo a última coisa que eu sentia vontade de fazer - Até a formatura.

FIM


Nota da beta: Encontrou algum erro? A mancada foi minha. Mande um puxão de orelha por aqui.

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