Escrita por: Betiza
Betada por: Vivian Rezende




CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2] [3] [4] [5] [Epílogo]



Prólogo


“Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.” (Caio Fernando Abreu)

Sabe quando você ama uma pessoa tanto, tanto, mais tanto que acha que seu coração vai explodir dentro do peito? Era o que eu sentia por Twist. Bom, deixem-me explicar direito as coisas a vocês: meu padrasto Robin Twist tem uma filha com outra mulher, e, diga-se de passagem, ela e ele são bem próximos, então quando ela era mais nova ela passava todos os finais de semana, feriados, férias e algumas datas comemorativas na minha casa. Portanto desde que me entendo por gente nos conhecemos. E desde que me entendo por gente, eu sou completamente apaixonado por ela. E sim ela sempre soube disso, eu nunca escondi minhas intenções e sentimentos dela. Se nós somos um casal apaixonado e feliz? Não! Ela nunca me deu uma chance se quer, aliás, nós éramos amigos e nos dávamos muito bem, e, para falar a verdade eu era um panaca que deixava fazer o que quisessem de mim. Quando ela queria, me tinha. Mas jamais me levou a sério, jamais pensou nos meus sentimentos, e isso é o que mais dói. Dói saber que eu só servia como um passatempo, aliás, todos os homens da vida dela sempre serviram só para isso. Engraçado como eu nunca consegui dizer não á ela uma vez se quer! E mais engraçado ainda como eu engoli por diversas vezes os “nãos” que recebia da boca dela, boca essa que já esteve colada na minha por diversas vezes, mas nunca permanecia para sempre. E bom, quanto tempo faz mesmo? Ah sim, são três anos! Ela foi para Paris, e eu continuei minha vida em Holmes Chapel sem ela, não pensem que foi fácil ter que ficar longe dela, mas de certa forma tirou um grande peso das minhas costas, e me fez seguir em frente. Até arrumei uma namorada, ok ela é filha do sócio do meu pai, pai esse que resolveu que estava na hora de eu ter uma família para assumir um cargo de chefia na empresa dele e me “apresentou á ela casualmente em uma festa da empresa”. De namorada, ela virou noiva e em uma semana, ela será minha esposa! Mas adivinhem a melhor parte? Minha mãe resolveu que estava na hora de todos superarmos as mágoas do passado e agirmos como uma família civilizada, e mandou em meu nome um convite a ela, em Paris. Como boa meia-irmã que sempre foi, em uma semana ela estará aqui de novo. E eu estou agora deitado na minha cama lembrando-me de como foi que eu deixei as coisas chegarem a esse ponto.

1º Capítulo


"Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de “não-precisar-de-ninguém.” Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo. "

(Caio Fernando Abreu)


Eu estava jogado na cama com algumas fotografias antigas, minhas e de . Desde quando éramos crianças até as de três anos atrás. Olhei todas, uma por uma até me cansar de todas as lembranças invadindo minha mente e me fazendo retroceder. Fechei meus olhos e botei as mãos por cima dos mesmos, tentando afastar o som da risada dela de minha mente. Dois dias haviam se passado desde o dia em que soube que ela havia decidido vir para o meu casamento. Minha mãe disse que ela faria surpresa quanto ao dia de sua vinda, mas que viria o mais rápido o possível, e que estava muito feliz que eu fosse me casar. Acreditam nisso? Porque eu até agora não acredito! Feliz? Ela jamais, j-a-m-a-i-s me deixou namorar por muito tempo! Ela sempre estragou todos os meus namoros! Sempre uma tentação na minha vida, fazendo sempre com que eu desistisse e terminasse todos os meus namoros! Agora, assim, voltando no tempo eu fico pensando: ela nunca me prometia nada quando me fazia perder a cabeça e terminar todos os meus namoros, então porque diabos afinal eu não chutei o balde? Porque ela tinha todo esse domínio sobre mim? Ainda estava absorto em minhas perguntas sem respostas quando ouvi a voz de minha mãe do outro lado da porta me pedindo para descer.
- O que houve? – gritei abrindo meus olhos e me sentando na cama.
- Preciso de você aqui em baixo, não demore, por favor!
Ouvi os passos dela em direção à escada que dava ao andar de baixo. Caminhei até o banheiro e passei um pouco de água no rosto levemente, e me olhei no espelho. Como será que estaria hoje? Em três anos eu não havia mudado tanto assim, só meu cabelo que estava maior e mais desgrenhado, mas eu ainda me sentia o mesmo. Fiquei mais alguns segundos olhando meu reflexo no espelho, e me lembrei que minha mãe me aguardava lá embaixo. Não me dei ao trabalho de me vestir, e fui com o samba-canção da noite passada mesmo, provavelmente não seria nenhuma visita, ou nada de extrema importância! Vai ver ela só queria ajuda com as compras!
Abri a porta do quarto e comecei minha caminhada que dava até as escadas, quando me aproximei do primeiro degrau ouvi a risada dela preencher meus ouvidos. Senti todos os meus músculos travarem instintivamente e fique paralisado no topo da escada.
Vi o olhar de minha mãe sobre mim, e ela parou de gargalhar e veio em minha direção.
- Não vai descer querido? está aqui!
Ouvir o nome dela depois de três anos ainda fazia o meu coração bater forte dentro do peito.
Assenti que sim para minha mãe e ela me lançou um sorriso encorajador. Desci cada degrau da escada demorando o máximo que eu conseguia, e quando finalmente entrei na cozinha, a vi parada de costas para mim a alguns metros de distância, observando o quintal peja janela. Os cabelos continuavam pretos, mas estavam um pouco maiores que antes, ela vestia um cardigã também preto, e o balcão só me deixava ver parte da sua calça jeans.
- Sente falta deles não é querida? – minha mãe se referia aos gatos que brincavam no quintal.
- Sinto falta de tantas coisas aqui dessa casa Anne! De você, do meu pai, de Harry!
- Pois bem! É só se virar de costas agora! Estou bem atrás de você, maninha! – não consegui conter o tom de ironia na voz, eu sabia como ela detestava que eu a chamasse assim.
Ela se virou frente a mim e cruzou os braços abaixo dos seios e ergueu uma sobrancelha. Ela continuava linda, e um batom vermelho agora ocupava os lábios dela. Ela tinha uma expressão de surpresa no olhar, e eu não pude deixar de reparar que havia até certo brilho neles.
- Quanto tempo Harold! Ué, ainda não mora com a noiva? Achei que fosse se mudar para lá no primeiro dia de namoro! - quando eu abri a boca para revidar minha mãe nos interrompeu.
- Crianças! Vamos parar por aqui, ok? Eu acho que já passou tempo o suficiente para vocês dois pararem com essas implicâncias de três anos atrás! A família toda está unida novamente! Hum? Vamos lá!
Olhamos-nos por um tempo, até que ela se virou novamente depositando o copo na pia e abrindo a torneira.
- Não se preocupe querida, deixa isso ai que eu lavo! Porque você e Harry não fazem uma surpresa pro Rob? Porque ao invés de eu ir buscá-lo hoje, não vão vocês dois? Ele vai amar vê-los juntos novamente!
Revirei os olhos sem me preocupar que visse e ela me encarou sob os ombros.
- Por mim seria ótimo!
Minha mãe depositou o olhar sobre mim esperando uma resposta e eu revirei os olhos novamente.
- Vou me arrumar e vamos!
- Antes que tal me ajudar com as minhas bagagens Harold?
Eu já estava na porta da cozinha quando ela me perguntou sobre as bagagens e eu me virei fitando-a. Como ela conseguiu ficar mais bonita ainda em três anos?
- Onde estão?
- Na sala! Vem! – ela passou por mim como um furacão e eu a segui.
Ela pegou duas mochilas razoavelmente pequenas e botou uma em cada ombro, e deixou as duas grandes para mim.
- Mulheres! – resmunguei enquanto carregava as malas atrás dela.
- Não vim só para o seu casamento Styles!
- O que? – eu parei de andar e ela se virou para mim já em cima do primeiro degrau da escada.
- Vou ficar duas semanas aqui, estou de férias do curso em Paris, e consegui duas semanas de folga no trabalho, então vou aproveitar para passar minhas férias aqui com meu pai e Anne!
Engoli seco e creio que ela tenha percebido, pois vi que ela abaixou a cabeça um tanto quanto constrangida.
- Em que quarto você vai ficar?
- No seu!
- Como assim no meu? Tá louca? Eu ainda não me mudei!
- Ordens da sua mãe baby! Ela disse que vai botar um colchão no chão para você e eu vou dormir na sua cama! Só mais cinco dias relaxa! Sua mãe vai precisar dos outros quartos para o resto da família, então ela achou mais fácil que eu e você dormíssemos juntos!
Ela voltou a subir as escadas rebolando os belos quadris, bom eu diria que rebolando mais do que o normal os belos quadris, na minha frente. Eu balancei a cabeça e a segui.
- Minha mãe só pode ter enlouquecido!
- Relaxa! Eu estava brincando quando disse que você dormiria no colchão! Eu dormirei no colchão!
Depositei as malas dela em um canto perto da cômoda, e nós nos encaramos.
- Quantas são agora? – ela se aproximou de mim e encostou as pontas dos dedos gelados nos dois pássaros que eu tinha tatuados perto do peito – Elas são bonitas!
- Não sei exatamente, creio que cinqüenta e três ou cinqüenta e cinco! – dei de ombros e me afastei um pouco dela.
Prolongar a sensação boa das mãos dela em minha pele não era o ideal agora.
- Está ansioso? Creio que este seja um momento muito importante na vida de um homem, não?
Eu respirei fundo e a fitei novamente. Ela estava agora sentada na beirada de minha cama e me olhava também.
- Sim! Muito importante! Você poderia me dar licença só um minuto para eu me trocar?
Tentei mudar de assunto, eu sabia aonde ela queria chegar com essa conversa. Ela queria ouvir da minha boca que eu não estava feliz com esse casamento, ela queria ouvir de mim, que ainda a amo. Mas não seria assim, não dessa vez.
Ela assentiu que sim com a cabeça e se levantou da cama. Eu fechei os olhos quando ouvi o barulho da porta batendo atrás de mim.
Eu preciso resistir a tudo isso, e ser forte, ela não pode estragar tudo agora!

2º Capítulo


"Não vou perguntar por que você voltou, acho que nem mesmo você sabe... Eu também não queria perguntar, pensei que só no silêncio fosse possível construir uma compreensão, mas não é, sei que não é e você também sabe, pelo menos por enquanto, talvez não se tenha ainda atingido o ponto em que um silêncio basta. É preciso encher o vazio de palavras, ainda que seja tudo incompreensão? Só vou perguntar por que você se foi, se sabia que haveria uma distância, e que na distância a gente perde ou esquece tudo aquilo que construiu junto. E esquece sabendo que está esquecendo...”

Caio Fernando Abreu


Ela observava as ruas pela janela do carro, quieta com as mãos entrelaçadas uma na outra e eu me permitia virar o rosto às vezes para observá-la.
- Como chegamos à esse ponto Harry?
- Que ponto? Aliás, eu sei que ponto, mas sinceramente? Quer mesmo falar sobre isso?
- Tanto quanto você quer! E você sabe como quer! Nós nunca tivemos respostas Harry! Existe tanta coisa que eu quero te falar!
- Depois de três anos? Você teve a vida toda para me dizer, seja lá o que quer que seja ! E agora, a cinco dias do meu casamento, você resolveu conversar? Esclarecer as coisas? Faça-me o favor!
- E você justamente agora que tem a oportunidade de resolver todas as pendências que nós temos, agora que eu voltei você vai pagar de macho alfa apaixonado? Sabemos muito bem que esse casamento Harry, nada mais é do que um casamento comercial! Isso tudo só vai ser bom para o seu pai Harry! Nem a sua mãe concorda com isso!
- Estamos chegando ao trabalho do Rob, conversamos sobre isso depois!
Ela tirou o cinto de segurança e abriu a porta, descendo do carro em seguida.
- Podemos pelo menos fingir que estamos nos dando bem? Você sabe que meu pai nem sonha que algum dia já tivemos algo!
- Mas nós nunca tivemos algo! – eu alterei o tom de voz inconscientemente.
- Harry, por favor! – ela também havia se alterado agora – Você entendeu muito bem o que eu disse!
- Sim senhora! Vamos voltar com o nosso teatrinho na frente do seu pai! Sem problemas! Mas é só pelo seu pai!
Ela bufou e caminhou para mais perto da porta de saída do trabalho de Robin. Então agora ela queria conversar? O que ela tinha na cabeça afinal? Porque ela sempre tem que bagunçar a minha mente! Porque diabos ela tinha que ter vindo? Eu não a queria aqui, eu não queria desenterrar tudo que eu levei três anos para esquecer!
Eu desci do carro e me deparei com atarracada aos braços de Robin, e ela chorava como uma criancinha que havia ficado perdida num supermercado gigantesco por horas e depois reencontrasse os pais. Eu os observei enquanto conversavam, e Rob limpava as lágrimas dela tentando segurar as próprias. Ele sentia falta dela, mentia que não, mentia que estava feliz por ela, mas eu e minha mãe sabíamos que não. Às vezes ele ficava alguns minutos ou horas no antigo quarto dela, e justamente por sentir falta demais ele mandou o restante das coisas dela para Paris, e transformou o quarto dela em um quarto de hospedes. Robin direcionou o olhar à mim e sorriu:
- Vocês vieram juntos, é isso mesmo?
Eu balancei a cabeça que sim e dei um sorriso discreto.
Os dois caminharam de braços dados até o carro, e eu deixei que os dois fossem juntos no banco de trás para que pudessem conversar melhor. Eu desliguei meus pensamentos da conversa dos dois e foquei só na direção.
- Estão entregues! – eu respirei fundo e passei as mãos pelos cabelos – Eu preciso ir até a casa de Megan, nós jantaremos fora hoje! E eu já estou em cima da hora!
Eu vi abaixar a cabeça e levantar logo em seguida abrindo a porta do carro.
- Você volta pra casa ainda hoje?
- Sim Rob! Vou passar a noite aqui!
- Bom jantar querido! – ele pousou delicadamente uma das mãos em meu ombro e eu sorri.

3º Capítulo


"Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."

Caio Fernando Abreu


Durante o jantar, Megan falava sem parar, sobre a academia, sobre o cabelo, sobre as outras mulheres que adentravam o restaurante, sobre a comida, sobre a aparência do lugar... Ás vezes eu acho que ela se esquece por alguns momentos que eu sou homem! Eu permaneci calado basicamente o jantar todo, e ela pareceu nem perceber isso! Eu a deixei na porta de casa, e nos despedimos.
Abri a porta do quarto vagarosamente esperando não acordá-la, mas assim que acendi as luzes ela estava sentada em seu colchão e me encarava.
Eu fechei a porta atrás de mim, e retirei a camiseta que vestia, jogando-a em um canto qualquer. E senti que ela ainda me encarava.
- Sabe o que eu estava pensando? – ouvi a voz dela soar pelo quarto enquanto desafivelava o cinto.
- Infelizmente eu não sei ler pensamentos ainda, então não! Eu não sei o que você estava pensando!
Ouvi a risada seca dela, logo atrás de mim e me virei, dando de cara com ela parada a minha frente. Nossos olhares se encontraram e ela estava perto demais, perigosamente perto demais. Senti as mãos dela em minha nuca e nossos narizes se encostaram. Eu fechei meus olhos num impulso.
- Eu amo você Harry! – ela sussurrou com os lábios próximos aos meus – Eu sempre te amei! Mas eu era muito nova naquela época, e imatura demais para assumir isso! Eu não queria! Eu não queria me prender, não queria me apaixonar! Mas eu não podia perder você! O que a gente tinha, era tão único, tão nosso! Tão bom! Eu só não estava preparada ainda para aceitar o que eu sentia! Sentia não, o que eu sinto! Eu tentei te esquecer, eu fugi! Fugi do país achando que longe de você, eu pudesse te esquecer! Mas eu não esqueci! Eu ligava todos os dias para saber noticias suas, e pedia para sua mãe não te contar! Eu sabia de tudo o que estava acontecendo na sua vida! Você nunca saiu de mim Harry! Volta pra mim vai? Eu prometo nunca mais ir embora! Não há nada que eu não faça, para que você diga sim!
Nossos lábios se encostaram e num lapso racional eu despertei.
- Para com isso ! – eu me afastei dela sentando-me rapidamente na cama e me levantando rapidamente atravessando para o outro lado do quarto – Você confunde minha cabeça! Isso é o que você faz de melhor! Dizendo que, não há nada que você faça para que eu diga sim! Isso é loucura garota!
- Você a ama? Se me disser que a ama, eu te deixo em paz! – ela caminhou em minha direção – Se disser que não me quer, eu te deixo em paz!
Senti nossas testas se encostarem novamente, e a respiração dela batia em meu rosto. Eu permaneci em silêncio enquanto sentia as mãos dela deslizarem pelo meu peito e subirem pelo meu rosto, eu fechei meu olhos e senti a boca dela se encostando a minha. Eu não pensei em mais nada, e a beijei. Com toda a força que eu tinha no momento, com toda a vontade que eu senti durante três anos. As mãos dela me arranhavam levemente as costas e eu a prensava contra a parede, sentindo a nossas respirações começarem a faltar conforme a intensidade do beijo aumentava. Mas eu não conseguia parar de beijá-la, eu sentia como se pudesse fazer isso por horas e horas. As pernas dela envolveram a minha cintura e eu a ergui segurando-a pela cintura. Minhas mãos a apertavam sem pudor e ela sorria entre o beijo. Eu estava começando a ficar realmente sem ar, quando ela cortou o beijo, ainda com as pernas envoltas em minha cintura. Encaramos-nos por alguns segundos.
- Você não a ama! Eu sabia disso! Porque vai insistir nessa besteira de se casar com ela!
A respiração dela ainda estava ofegante assim como a minha.
- Você é impossível de resistir!
- Eu te amo! – ela sussurrou contra minha pele do pescoço.
- Mas eu não apostaria seu coração nisso!
Eu a soltei, e ela ficou em pé novamente ainda com os braços passados em volta do meu pescoço, e eu os retirei de lá delicadamente.
- É como se eu finalmente tivesse acordado, e você fosse apenas um belo erro! O melhor erro que eu já cometi! Mas acabou por aqui! Eu vou me casar, e essa é a minha decisão final! Eu estou pensando em mim, pela primeira vez! Você acha que eu estou fazendo isso para te deixar com ciúmes, mas não é isso! Isso é por mim! Isso é por todas as vezes que eu fui você, e não eu! E eu sei que você vai odiar ter que ouvir isso, mas isso não é mais sobre você!
Vi os olhos dela encherem d’água e senti meu coração partir dentro do peito. Mas eu havia me decidido. Precisava pensar em mim! E não era justo!
- Você não pode fazer isso! – ela balançava a cabeça repetida vezes fitando o chão.
- Quem você pensa que é? Quem você pensa que eu sou? Você apenas ama me ver mal! Você só me quer porque estou comprometido! Você não quer realmente o meu coração! – fui interrompido por ela.
- Você não sabe o que está falando Harry! Você não está dentro de mim, dentro da minha cabeça para saber o que eu sinto!
- Não! Você apenas quer saber que você consegue continuar sendo a única que consegue parti-lo! – eu botei a mão em meu peito e senti meus olhos marejarem - Agora que você não pode me ter, de repente você me quer?
Ela se virou de costas para mim e caminhou em direção ao colchão onde ela dormiria.
- Eu só desejo que você seja feliz! E se não tiver que ser comigo, que Megan faça isso! Ou que sei lá, que essa sua escolha te faça feliz! Estou falando isso do fundo do meu coração! Estou falando isso, por tudo o que vivemos! Eu não vou mais atrapalhar sua vida, ou sua tentativa de seguir em frente! Eu entendo tudo! No seu lugar teria a mesma reação! Se não quiser que eu vá ao casamento, é só me falar!
Ela se deitou de costas para mim e se cobriu.
- Boa noite Styles!
- Boa noite Twist!

4º Capítulo


"É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."

Caio Fernando Abreu


- Você está fabuloso querido! – minha mãe terminava de ajeitar minha gravata preta.
Ela tinha os olhos marejados e tentava não chorar antes da hora.
- Você está feliz? – ouvi Robin perguntar sentado em uma poltrona.
Não! Eu não estava feliz! Durante os quatro dias que antecederam o dia de hoje, eu e trocávamos poucas palavras, e evitávamos nos olhar. E eu estava mais confuso do que nunca.
- Sim Rob! Estou muito feliz! – eu menti dando um sorriso tímido.
Ouvimos três batidinhas na porta e minha mãe pediu que a pessoa entrasse.
- Anne, pai, eu posso falar a sós com o Harry, por um minutinho? – ela carregava um pequeno caderno nos braços.
Robin e minha mãe se olharam por alguns segundos e assentiram que sim. Robin deu alguns tapinhas em minhas costas antes de sair do quarto e minha mãe depositou um longo beijo em minha bochecha.
Eu a encarei por alguns instantes, vislumbrando o quão bonita ela estava com aquele vestido vermelho.
- O que você quer ?
- Sei que nada do que eu falar vai mudar sua opinião ou te fazer desistir dessa loucura, mas eu precisava te mostrar isso antes de qualquer coisa! Acho que é um direito seu ler isso! Já que eu falo de você em todas as páginas. – ela soltou o ar preso pela boca e continuou – Leia e depois quando achar melhor me devolva! Ou jogue fora, não sei! Faça o que quiser com ele! Só leia antes, por favor!
Ela depositou o pequeno caderno, que provavelmente seria um diário sobre a cama e saiu do quarto fechando a porta silenciosamente. Eu encarei o diário por alguns momentos, e decidi ler.
Caminhei até a cama e me sentei, passei os dedos delicadamente pela capa do mesmo e o abri.
Em exatamente todas as páginas, ela falava sobre mim, ou sobre nós dois. Falava como se sentia quando estava ao meu lado. Aquelas eram palavras que eu jamais havia ouvido! As folhas já amareladas com o tempo, o cheiro do caderno de poeira, provavelmente guardado há três anos. Eu li, algumas páginas e definitivamente, eu não sabia mais o que pensar. Parecia tão real o que ela dizia sentir por mim ali!
Percebi que havia algumas folhas em branco, mas a última página do caderno estava escrita, e a tinta ainda estava molhada, e parecia ser recente, pois a caneta ainda cheirava e a tinta era azul, e o restante do caderno estava escrito a tinta preta.

“25 de outubro de 2014,

Hoje é um dia especial! Acreditem, não deixa de ser especial para mim também! Harry vai se casar, e não há nada no mundo que eu queira mais, do que a felicidade dele, mesmo que não seja ao meu lado! Eu o amo e o papel de quem ama, é estar ao lado da pessoa amada independentemente de qual caminho ela escolha seguir. E eu espero que no fundo do coração dele, ele saiba que eu vou amá-lo o resto da vida, mesmo que ele siga em frente, ou que eu siga em frente. Tomei decisões erradas no passado, e me arrependo amargamente disso hoje, mas eu espero que algum dia, ele possa olhar para trás e me ter como uma boa lembrança assim como eu sempre vou fazer! Hoje é seu dia, Harry! Não quero ver você triste ou confuso! Eu era mentirosa! Eu cedi ao fogo! Eu deveria ter enfrentado, pelo menos estou sendo honesta agora! Me sinto um fracasso pois eu sei que falhei com você, e devia ter te tratado melhor, porque eu sempre soube que você não merecia uma mentirosa!E eu sei, que ela te dá tudo o que eu não conseguia te dar, e eu sei que você tem tudo, mas eu não tenho nada sem você aqui! Mas eu não vim falar de mim! Vim falar de você! Você é parte de mim e sempre será! Espero que nunca me esqueça, e espero que aproveite seu dia hoje! Dance, beba, ria e seja feliz! Você merece, e eu também! Boa sorte! Eu te amo, para sempre! “


Respirei fundo ao terminar de ler e joguei minha cabeça para trás, encostando-a na parede e sentindo uma dor terrível tomar conta do meu peito.
E foi nesse momento em que eu tomei uma decisão que eu sabia, ia mudar a vida de todo mundo, pro bem e pro mal.

5º Capítulo


“- Você acha que o nosso amor pode fazer milagres?
- Eu acho que o nosso amor pode fazer tudo aquilo que quisermos. É isso que te traz de volta pra mim o tempo todo.”

Caio Fernando Abreu


Eu recepcionei os convidados normalmente e ela me ajudava com alguns, distante de mim claro! Levava-os até as mesas, perguntavam se estavam bem, e etc.
Já na hora da cerimônia, eu observei a pequena quantidade de convidados no recinto que não tiravam os olhos de mim, depois passei os olhos por meu pai que tinha um sorriso de orelha a orelha, minha mãe estava ao lado dele e me observava com lágrimas nos olhos, observei os pais de Megan rapidamente, não queria olhar muito tempo na direção deles, depois observei Robin e . Ela me olhava também com algumas lágrimas nos olhos, e eu não sei se de tristeza ou felicidade. Fechei meus olhos ao ouvir a marcha nupcial começar a tocar e Megan adentrar o salão toda de branco. Ela estava linda, claro! E por um momento eu vacilei, mas ela não demonstrou nenhum tipo de emoção ao adentrar o salão, seu sorriso parecia mais forçado que o meu, e direcionei o olhar a , que estava a alguns passos atrás de mim no altar, e ela chorava discretamente, mais uma vez eu não sabia se de emoção, tristeza, ou orgulho de mim! Minha mãe também já derramava lágrimas, e de repente Megan estava parada frente a mim. O pai dela me cumprimentou com um aperto de mãos formal, e Megan passou o braço ao meu. Senti minha garganta secar quando o padre começou a falar sobre amor, sobre a escolha da esposa ideal, sobre jurar fidelidade perante a Deus e a igreja, sobre criar filhos juntos, e envelhecer juntos. Definitivamente aquilo estava errado, eu não desejava Megan ali!
- Com licença excelentíssimo Padre! – eu pigarreei e senti o olhar de todos no salão sob mim – Não precisa continuar a cerimônia! Eu vou dizer não!
Eu ouvi os burburinhos e cochichos atrás de mim, e a boca de Megan se abriu formando literalmente um “o”, e meu pai logo se apressou até o meu lado:
- O que está falando Harry? Você ficou louco? – ele cochichava em meu ouvi segurando meu braço.
- Não! Eu estava louco quando aceitei me casar com Megan!
- Harry! O que?– ouvi a voz de Magan grunhir ao meu lado.
- Nada contra você Meg! Eu só não te amo! Acho-te bonita, legal! Mas amor, eu sinto muito! Nunca senti!
- Harry! Não seja ridículo! – meu pai alterou o tom de voz e eu sorri.
Virei-me frente aos convidados, pigarreei novamente:
- Bom pessoal! Sinto muito pelo ocorrido! Mas vocês não precisam ir embora! Não os farei perder o precioso tempo, nos salões de beleza, ou o dinheiro gasto com as roupas, ternos e jóias! Podem aproveitar a festa, como se o casamento realmente tivesse acontecido! Muito obrigada a todos pela presença! Boa noite! – me virei para frente do altar de novo – Vocês! Vamos conversar lá atrás!
Dirigimos-nos para a parte de trás do altar, que era tipo uma pequena sala com alguns sofás e bancos de madeira.
Robin e minha mãe estavam estarrecidos e sentados em dos bancos de madeira, meu pai gritava qualquer coisa comigo, Megan observava a unha sentada ao lado da mãe, e o pai dela gritava com o meu pai. não estava lá, e a minha vontade era sair correndo e procurá-la.
- Não me venha com esse papinho de amor Harry!
- E porque não? Por acaso quando você se casou com a minha mãe, não a amava? – gritei fazendo todos ficarem em completo silêncio.
Meu pai arregalou os olhos e passou a língua pelos lábios secos.
- Eu creio que não! Porque, afinal de contas, vocês eram mais amigos do que marido e mulher! Aliás, pai, você já amou algo em sua vida, além do dinheiro? Eu não quero ser como você! Eu não amo Megan, e não adianta vocês falarem nada! Essa é a minha decisão!
- E você ama alguém? – minha mãe se pronunciou no canto da sala.
- Amo! E é com essa pessoa que eu vou ficar! – Megan se remexeu no banco e pigarreou.
- Harry! Eu também tenho outra pessoa!
Eu ergui uma sobrancelha.
- Mas eu não tenho outra pessoa! Eu não traía você com ela! Eu nunca traí você!
Ela engoliu seco e deixou algumas lágrimas escorrerem pelo rosto.
- Me desculpe por isso! Eu me sinto tão mal!
Eu sorri e me agachei frente a ela com as mãos apoiadas em seu joelho, e limpei algumas lágrimas que escorriam pelo rosto dela.
- Não se sinta culpada! Você não me amava, e não queria nada disso, assim como eu!
- Mas eu traí você!
- Meg! Eu traí em pensamento, é muito pior!
Ela deu um sorriso de canto e suspirou levantando-se do banco que estava.
- Vocês dois – ela apontou primeiro para o meu pai e depois para o pai dela – Não vai haver casamento e ponto final! Eu e Harry não queremos! Já somos maiores de idade e maduros o suficiente para decidirmos o que é melhor para a nossa vida, e não é esse circo todo que vocês armaram! Não é justo vocês nos casarem por um acordo comercial, ou só porque convém! Não vou me casar com Harry e pronto! Assunto encerrado!
Todos estavam em silêncio e olhavam Megan atônitos, e eu que até então ainda estava agachado, me levantei e respirei fundo.
- Com licença, eu ainda preciso resolver outras coisas!
Passei por minha mãe e Robin e me virei ao mesmo:
- Rob, eu não sei o que você vai pensar ou falar, mas – eu fechei os olhos – Eu amo a sua filha! Desde os quinze anos de idade, eu soube que era com ela que eu queria estar hoje! Era ela que eu queria nesse altar! Se for pra construir família, ou envelhecer do lado, é do lado dela que eu quero tudo isso! E eu preciso da sua benção, porque sei que sem isso, a jamais vai viver em paz! Assim como eu! Você é como um pai para mim Rob! Mas eu preciso da sua filha comigo!
Eu abri os olhos e vi Robin me encarado com os olhos levemente arregalados e totalmente surpreso com que eu havia acabado de falar.
- Harry, eu – ele pausou e me fitou agora sério – Eu não sei o que falar! É complicado! Eu não consigo formular uma resposta para tudo isso tão rápido assim! – ele tirou o lenço de dentro do paletó e passou pela testa.
- Eu não posso mais esperar! Eu sinto muito!
Eu abri a porta que nos separava do salão e a procurei com os olhos pelos convidados, que comiam e bebiam espalhados pelo salão. Terminei de fechar a porta atrás de mim, e saí em busca dela. Eu passava cumprimentado rapidamente alguns convidados enquanto buscava por ela.
Busquei-a primeiro na parte coberta do salão, onde estavam as comidas e bebidas, e não a encontrei, depois atravessei para a parte descoberta do salão e a procurei desesperadamente com os olhos, até que a avistei perto do portão de entrada do salão, com uma taça nas mãos, e ela conversava com alguns de nossos parentes mais distantes que haviam vindo só para o casamento. Eu não pensei em nada, sai literalmente correndo por entre os convidados, atraindo olhares por onde eu passava. Quando eu a alcançava, nos olhamos.
Ela parecia mais surpresa que Robin ao me ver correndo em direção à ela.
- Precisamos conversar – ela protestou que não com a cabeça, mas eu a segurei pelos pulsos – Agora !
Sai a arrastando comigo por entre o restante dos convidados que nos olhavam surpresos e a maioria cochichava com os amigos do lado coisas que eu não entendia, e coisas que eu pouco me importava em saber!
Empurrei o portão do salão que estava escorado impedindo nossa passagem, ainda a segurando pelos pulsos, e praticamente a empurrei em direção à uma das árvores. Ela me olhava assustada enquanto massageava levemente os pulsos.
- O que está fazendo? Onde estão os outros?
- Eu falei pro seu pai!
- Falou o que para o meu pai? – ela ajeitou os cabelos nervosamente.
- Falei que eu te amo! Que é com você que eu quero me casar! Que foi por você que eu não me casei hoje!
Ela fechou os olhos e respirou fundo, voltando a me encarar logo em seguida.
- Eu consegui estragar a sua vida mais uma vez!
- Do que está falando?
- Você ia ter um casamento perfeito! Um cargo perfeito na empresa do teu pai! Ia trabalhar na área que gosta! Ia ter filhos! E bum, eu acabei com tudo novamente voltando! Eu não devia ter voltado Harry!
- Então está arrependida de ter me entregado o diário?
Ela fez que não com a cabeça levemente.
- Eu só não sei como faremos!
Eu me aproximei lentamente, e ela encostou o corpo à arvore tentando se afastar de mim.
- Daremos um jeito! Eu prometo!
- O que meu pai te disse? – ela soltou outro suspiro, dessa vez longo e pesado.
- Que não sabia o que nos falar agora! Mas eu disse à ele que você se importava muito com a benção dele!
- Você pediu uma benção? – ela falou pausadamente.
Eu fiz que sim com a cabeça e a vi fechar os olhos e sorrir.
- Eu não acredito! Harry, você é realmente muito louco!
- Louco por você! Clichê eu sei, mas é a verdade!
Eu acariciei a bochecha dela com o polegar e ela tombou levemente a cabeça para o lado com o toque.
- Como foi a reação do seu pai? E dos pais de Megan? Aliás, como a Megan está com tudo isso?
Eu soltei uma gargalhada alta com a última pergunta e ela abriu os olhos me encarando séria.
- O que foi? A pobre da garota foi abandonada no altar Harry! Eu mudei bastante sabia? Antigamente eu estaria soltando fogos de artifício se você tivesse abandonado alguém no altar por mim, mas hoje é diferente! Eu sei exatamente que isso não é legal! A garota está sofrendo com tudo isso, e saber que cinqüenta por cento da culpa foi minha não é um fato que me enaltece, não mais! Hoje eu sei praticar uma coisa chamada empatia Harry! Acredite você ou não!
Eu a observei ficar irritada e ofendida, e me lembrei o quão bonita ela ficava quando se alterava, mesmo que levemente.
- ! – ela parou de falar me fitou ainda irritada – Megan me traía esse tempo todo!
- O que? – ela abriu a boca em um perfeito “o” e eu gargalhei ainda mais alto.
- Exatamente o que você ouviu! Quando eu disse que não a amava como mulher, que amava outra garota e que por isso não ia me casar, ela anunciou na frente de todos que tinha outra pessoa!
- Não dá para acreditar! Que loucura! – ela passou as mãos pelo rosto e soltou uma risada nervosa.
Depois ela me encarou por longos minutos, e eu buscava as palavras certas na minha mente, para tentar formular palavras que fizessem sentido. Eu estava com medo de ter me precipitado e mais uma vez ter metido os pés pelas mãos, e ela não me querer, e eu tinha medo de enfrentar tudo isso, e de ser mais uma vez tudo em vão. A minha cabeça tinha um nó, e eu estava confuso, e ansioso ao mesmo tempo.
- Você está bem? – ela quebrou o silêncio.
- Eu não sei ! Eu realmente não sei! Eu estou com medo!
- Medo? – eu assenti que sim e ela se recostou a árvore fechando os olhos – Eu também estou!
- E do que exatamente você está com medo?
Ela abriu os olhos novamente e passou a língua pelos lábios secos e me encarou nos olhos.
- De tudo isso! Já se passaram três anos, e a gente ainda não sabe lidar direito com tudo o que sentimos! Eu não sei se vamos ficar juntos, não sei se você está disposto a passar por cima do seu orgulho e me perdoar! Eu sei que no fundo, você ainda não acredita no que eu sinto! E tem o meu pai! E eu não sei Harry! Tudo está tão incerto!
Ela balançava a cabeça atônita enquanto falava e segurava as lágrimas, e eu sentia meu peito queimar por dentro.
- Só está assim porque nenhum de nós dois tomou a iniciativa de falar o que realmente precisa ser dito! – eu pausei e a encarei também com os olhos já marejados – Porque você nunca me disse?
- Harry eu tinha quinze anos! – ela grunhiu com a voz abafada – Eu não sabia o que fazer! Nós fomos criados como irmãos! O meu pai sempre falava de você para mim, como se você fosse meu irmão! Na minha cabeça, tudo o que fazíamos era errado! Eu respeitava o meu pai Harry! Como você acha que ele reagiria na época se soubesse do que tínhamos, ou se ele soubesse do que sentíamos! Ele nos criou para sermos irmãos, para ele, na cabeça dele, nós ainda somos irmãos! E eu tinha medo! Eu ainda tenho medo! Meu único modo de defesa era repelir tudo o que você sentia! Eu era imatura, Harry! – ela já berrava descontroladamente.
Eu fiquei em silêncio apenas ouvindo o barulho do vento nas folhas das árvores.
- Me desculpe! É o que eu tenho para falar!
- E o que você quer agora? – eu questionei sem saber direito o que realmente queria dizer.
- O que eu sempre quis! Você de volta!– ela pausou e eu fiz que sim para que ela continuasse – Mais do que querer você de volta, eu me quero de volta, quero a felicidade nos meus olhos mirados em você. Eu quero a gente, eu quero tudo de novo, eu quero as coisas antigas, as primeiras, todas! Devolve-me seu sorriso? Parece que eu não te faço mais sorrir, assim eu desespero mesmo. É uma resposta simples pra uma pergunta simples: você vai voltar?
- Se eu vou voltar? – eu a questionei aproximando nossos corpos.
Coloquei minhas mãos em sua cintura e senti sua testa encostar-se à minha.
Colei nossos lábios num beijo lento e calmo, como se estivéssemos nos beijando pela primeira vez. Suas mãos estavam em minha nuca e vez ou outra pressionava nossos rostos para que o beijo se aprofundasse mais. Minhas mãos faziam caricias circulares por sua cintura e quando já não respirávamos mais, nos separamos.
- Quer tentar?
Ela me olhou confusa, e eu dei um meio sorriso.
- Vamos passar por qualquer coisa juntos ! Eu te amo! Vamos enfrentar isso!
- Está falando sério? – vi seus olhos brilharem de excitação.
- Eu nunca menti para você!
- Eu tenho medo! – ela juntou novamente nossas testas e eu a apertei em mim.
- Vai dar tudo certo! Você sempre volta para mim, e eu sempre vou aceitar você de volta! Eu te amo!
Olhamos-nos por algum tempo e ela mexia em minha gravata, um tanto quando pensativa. E meu coração batia tão forte que parecia querer rasgar meu peito.
- Sabe de uma coisa?
- O que?
- Somos mais fortes juntos, e não há motivo para eu dizer não! Então, sim Harry! Nós vamos tentar e vamos conseguir.

Epílogo


“Não importa quanto vá durar – é infinito agora.”

Caio Fernando Abreu


- Sabe, eu nunca imaginei que algum dia, estaríamos aqui! – ela olhava a vista da janela do hotel.
- Muito menos eu! – eu botava nossas malas sobre a cama.
Ela se virou escorada na parede e me encarou, depois encarou a aliança dourada fixada ao dedo esquerdo. Ela parecia não acreditar em tudo aquilo, e eu sorria.
- Algum problema com a nossa aliança? –ela me encarou sorrindo.
- Só um!
Ela gargalhou alto com a minha cara de surpresa e depois me respondeu:
- Ela demorou muito para chegar!
Aproximamos-nos e ela passou os delicados braços sobre o meu pescoço e eu a segurei pela cintura, fitando os grandes olhos castanhos que brilhavam tanto quanto no dia do nosso casamento, e ela estava linda vestida de branco, adentrando a igreja. Linda como eu nunca a havia visto antes na vida!
- Mas agora ela está ai! – eu segurei sua mão esquerda e alisei a aliança com o dedo polegar – E ela jamais sairá daqui! Você vai ser para sempre minha!
- Eu sei disso! E não há noticia melhor do que essa!



FIM



Nota da autora: Olá meninas (e meninos, vai saber!). Para quem leu, muito obrigado! Essa fic modéstia parte mexeu muito comigo, e foi muito prazerosa de escrever! É um xodó para mim! Principalmente porque Taken é uma das minhas músicas preferidas! Espero do fundo do coração que vocês gostem tanto quanto eu gostei!


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