- Ou ou, onde você pensa que vai? – minha mãe perguntou me encarando.
- Não estou pensando, eu vou. – respondi sem dar importância. – Por quê? Resolveu se importar agora? – não pude perder a oportunidade de alfinetá-la, ela nunca foi uma mãe exemplar. Na verdade, nunca foi minha mãe.
- Só não volte grávida. – ela disse seca e voltou a encarar a TV.
- Pode deixar – respondi no mesmo tom. – Não vou fazer como você.
Saí batendo a porta. Minha vida era um inferno, mas por que não dançar com o capeta? Sorri sozinha. Sou gerente de uma lanchonete bem fuleira, mas o salário é suficiente só pra mim, eu apenas divido as contas e a casa com a minha mãe, fora isso, cada uma tem suas coisas e sobrevive do seu jeito. Não me pergunte o que ela faz pra comprar as coisas dela, não nos falamos muito, na verdade, nunca conversamos.
Ela engravidou de mim com dezoito anos e meus avós a expulsaram de casa, não sei quem é meu pai e não sei por que ela não abortou, já que vive jogando na minha cara que devia ter feito isso. Enfim, só sei que aqui estou eu, levando a mesma vida que ela levava, tirando a parte que eu me considero bem mais responsável que ela. Quer dizer, estou prestes a completar meus vinte anos e não apareci com um bebê em casa e nem tenho nenhuma doença sexualmente transmissível. Mas, digamos que eu curto a minha vida ao extremo, sabe?
Entrei no meu carro e dirigi até a boate, todos falavam bem desse lugar e eu sempre quis ir, mas é coisa de primeira linha, nada comparado aos buracos que eu e meus amigos costumamos frequentar. Nós economizamos por meses e meses para ir nessa casa de festa, precisávamos beber bem e ver gente bonita. Quem sabe não me arranjo com um homem rico por lá?
Dei risada com esse pensamento, a última coisa que eu quero é me amarrar a alguém, até porque, eu não acredito muito no amor. Pode até dar certo pra algumas pessoas, mas não pra mim, acho tudo besta e superficial demais. Definitivamente, não pra mim.
Do subúrbio até a parte rica da cidade demorava um pouco, mas a mini viagem valeu a pena quando eu vi a fachada da boate. Garotas lindas e estilosas desfilavam de um lado para outro, os meninos eram perfeitos e eu já estava escolhendo meu alvo quando vi meus amigos. Quer dizer, não são muitos amigos, são dois, que eu tenho como irmãos, crescemos juntos e eles são tudo que eu tenho.
- Que demora. – Harry reclamou quando me viu. Soltou Taylor e caminhou até mim me abraçando apertado. Eles namoravam desde pequenos e são os únicos que seriam capazes de me fazer acreditar no amor. Sério, eu nunca vi casal tão perfeito como esses dois.
- Estava decidindo a minha roupa. Estamos no meio da alta sociedade, não posso fazer feio. – me soltei do abraço e sorri. – Como estou?
- Perfeita! – Taylor sorriu pra mim. – Como sempre.
Dei outro sorriso em resposta e ela me entregou a pulseira para entrarmos na boate. As garotas usavam roupas maravilhosas, com cortes e modelagens perfeitos, mas meu vestido não ficava atrás, eu o desenhei e confeccionei. Ser estilista sempre foi meu sonho, mas fui crescendo e aprendi com a vida que gente como eu não pode sonhar tão alto.
- Meu Deus! – gritei por conta da música alta. – O dinheiro mais bem gasto da minha vida!
- Isso aqui é melhor do que eu imaginei. – Taylor gritou em resposta enquanto deslumbrava a tudo com seus lindos olhos, e aqueles cílios de deixar qualquer um com inveja.
– Vamos dançar! – ela nos puxou para a pista de dança.
Começamos a dançar feito loucos, a gente tinha que aproveitar, né? Depois de umas cinco músicas, o DJ resolveu tocar algo mais lento e romântico. Odeio coisas assim, acho que em boate ninguém é de ninguém, fala sério. Harry e Taylor trocaram olhares e sorrisos e eu bufei pros dois, claro.
- Vou beber qualquer coisa. – disse me virando e pude ouvir Taylor pedindo para eu não exagerar.
Ignorei e fui até o bar. As coisas eram absurdamente caras, mas todas de primeira qualidade. Peguei uma bebida que não fosse tão forte, não pretendia ficar bêbada, quero me lembrar dessa noite, paguei uma fortuna pra estar aqui.
Resolvi caçar um banheiro, precisava arrumar meu cabelo que desmontou um pouco enquanto eu dançava. Andei por todos os lugares e não achei o bendito banheiro, encontrei uma escada com um segurança na entrada.
- Ei, onde é o banheiro? – perguntei, mas o idiota encarava meu decote descaradamente. Empurrei ele para o lado e subi as escadas irritada.
Quando eu cheguei ao topo da escada todos me encararam, demorei um tempinho pra assimilar tudo e percebi que estava em uma espécie de camarote, uma área vip. A música não era tão alta lá, algumas pessoas dançavam, outras conversavam e riam com seus drinks sofisticados e coloridos nas mãos. Ali eu me sentia deslocada, não pela roupa deles ou o ambiente em si, mas pelo ar de superioridade que todos ostentavam. Eles me encaravam como se eu não fosse do mesmo patamar que eles, de fato não era, não era pra eu estar ali, me virei repentinamente e trombei com um menino que subia as escadas.
- NÃO ENXERGA NÃO, GAROTA? – ele gritou comigo como se tivesse muita moral sobre mim. Tentei não me irritar facilmente, fechei os olhos e respirei fundo. Respira, Carolina, respira! Bom, digamos que eu não sou a pessoa mais controlada e paciente do mundo, mas não poderia correr o risco de fazer uma besteira e acabar com a minha noite. Afinal, foram meses e meses juntando dinheiro.
- Me desculpa. – sorri cínica.
- Desculpas não tiram a mancha que essa bebida sua fez em mim. – ele revirou os olhos. Não precisou falar meia dúzia de palavras e eu já notei seu ar superior. Que garoto idiota.
- E você quer o que? Que eu limpe com a língua? – estourei, tudo bem que a jaqueta que ele usava devia custar mais do que meu carro, mas eu não podia deixá-lo me tratar dessa forma.
- O que? – ele se mostrou ofendido, riu sem humor pra mim. – Você sabe com quem você está falando?
Frase típica de filhinho de papai riquinho e mimado, acho que vou vomitar.
- Tô falando com um garotinho mimado que está bravinho porque sujou a jaquetinha. – fiz uma voz de criança – Mas não se preocupa, seu papai pode comprar outras milhões como essa.
- Você não me conhece? – ele perguntou baixando a guarda, o que me pegou de surpresa. – Eu sou o Liam Payne.
Esse nome não me era estranho, mas eu não o conhecia. As sobrancelhas grossas, os olhos, aquele cabelo bagunçado... Admito, se não fosse tão almofadinha, seria irresistível. Mas ele não faz meu tipo, bobinho demais e um tanto infantil.
- É mesmo? – perguntei mostrando a ele que eu não fazia ideia do que ele estava falando.
- Não é possível. – ele parecia um pouco desapontado. – Liam James Payne.
- Prazer. – disse com meu melhor tom de sarcasmo. – Carolina Stevens.
Ele revirou os olhos como se não acreditasse no que eu estava dizendo, mas eu que não entendia, quem era esse menino? Só o nome dele me fazia algum sentido, mas seu rosto... Parei para avaliar de perto quando um outro rapaz se aproximou.
- Não perde tempo, hein, Liam. – eu encarei pra ver de quem era aquela voz e me surpreendi. Eu não tinha tempo para assistir TV nem nada parecido. Ouvia músicas eletrônicas e não tinha nenhuma ligação com a cultura pop, mas não saber quem é Zac Efron seria uma afronta, e o próprio estava na minha frente.
- Você conhece ele e não me conhece? – o tal Liam perguntou percebendo meu olhar para Zac.
- Ela não te reconheceu? – Zac perguntou e Liam confirmou com a cabeça. – Em que mundo você vive, gatinha?
- No mundo no qual eu trabalho mais do que respiro. – disse com raiva.
- Não precisa ficar tão na defensiva. – ele retrucou com um sorriso bobo nos lábios. – Escolheu uma garota encrenca, hein, Liam.
- Eu não sou uma encrenca. – ok, talvez eu seja.
- Eu não escolhi. – Liam disse sério. – Essa infeliz derramou a bebida dela em mim.
- Infeliz é o teu... – me controlei para não xingar. – Enfim, já pedi desculpas, eu tenho que ir.
- Mando a conta da lavanderia pra você. – ele disse cínico.
- Você nunca mais vai me ver na vida, idiota.
Saí dali irritada, desci as escadas bufando, fui até a pista de dança e nada de Harry ou Taylor. Ótimo, agora teria que procurá-los. Andei, andei e achei o banheiro que ficava no final da boate, depois da pista de dança. Revirei os olhos, entrei e arrumei meu cabelo, retoquei a maquiagem. Peguei meu celular e vi uma mensagem da Taylor dizendo que estaria no bar, fui até eles ainda de cara amarrada.
- Ei, o que aconteceu? – Taylor perguntou, era incrível como ela me conhecia bem.
- Nada. – disse irritada. – Só um idiota que fez um escândalo comigo porque eu derramei bebida na jaqueta dele sem querer.
- Ai meu Deus. – Harry debochou. – Com certeza os advogados dele vão te procurar. – nós rimos juntos, todos ali dentro eram do mesmo tipinho.
- Você arrumou confusão com ele, Carol? - Taylor perguntou séria.
- Não. – menti, mas vi que ela não acreditou. – Tipo, eu só respondi um pouco porque eu não vou deixar que pisem em mim. E outra, eu tinha motivos pra estar brava, foi totalmente sem querer e com o preço que eu paguei na bebida eu comprava aquele aparelho de som para o meu carro.
Exagerei bastante apenas para dar emoção a minha raiva, só de lembrar da cara do tal Liam eu sentia um ódio incontrolável. Tive a sensação de ouvir a voz dele próxima a mim e revirei os olhos.
- Carolina, não é? – a voz ficou mais próxima e eu tive certeza de que era ele.
- O que é? – me virei pra ele irritada.
- Liam Payne? – ouvi o tom assustado de Taylor atrás de mim.
- Você conhece ele? – eu perguntei incrédula.
- Carol, nós acabamos de dançar um remix de uma música da banda dele. – Taylor disse como se parecesse óbvio.
- Então você gosta da minha música. – ele sorria de um jeito irresistível.
- Eu nem sabia que você cantava, imbecil. – respondi. Não sei o porquê, mas ele me irritava demais. – dancei porque, se você não reparou, estamos em uma boate e as pessoas costumam dançar.
- Ou derrubar bebida nas outras. – ele me alfinetou e a minha raiva aumentou, respirei fundo e contei até dez.
- O que você quer? – perguntei impaciente.
- Suas desculpas não foram o suficiente. – ele disse ainda com um sorriso besta no rosto. – E mandar a conta da lavanderia não seria cavalheirismo de minha parte.
- O que você quer então? – refiz minha pergunta impaciente.
- Uma dança. – ele disse sonso.
- NEM PENSAR. – eu gritei em resposta.
- Por que eu te deixo tão nervosa?
- Você se acha. – passei por ele, minha música favorita estava começando a tocar e dança-la naquela boate seria perfeito, mas o idiota do Liam me puxou pelo braço.
- Uma dança. – ele disse. – Ou a conta na lavanderia.
Mesmo não o conhecendo, sabia que ele estava falando sério, e pagar uma conta na lavanderia não seria legal. Sabe como é, mexer com pobre é mexer no bolso. Revirei os olhos e soltei meu braço indo em direção a pista de dança, ele entendeu o recado e me seguiu.
Até então ele estava me provocando com os sorrisinhos e a ironia. Era a minha música favorita, era o que eu precisava pra dar o troco, sorri sozinha e me virei pra ele.
- Vamos ver se você aguenta. – sussurrei no ouvido dele e dei uma leve mordida, pude vê-lo estremecer. Pois é, Liam, eu sou profissional nisso, tá no meu sangue.
Em qualquer outra festa eu já estaria com o quarto cara, bêbada e acabada, era assim que eu extravasada a minha vida infernal, em festas, bebidas e homens. Já estive com todo os tipos deles e posso dizer que sei como deixar qualquer um louco, esse mauricinho iria sofrer na minha mão, quero que ele se arrependa de ter gritado comigo.
Comecei a me mover lentamente me distanciando dele, vi que ele não resistiu em dar uma olhada em todo o meu corpo, qualquer garota ficaria corada com isso, mas eu não ligo, gosto até. Parecia que aquele mar de pessoas não existia, estávamos apenas nós dois na pista. E que o jogo comece.
Sorri provocante e mordi o lábio pra ele, que ainda me olhava com cara de idiota. Acho que ele só tem essa cara. Enfim, até seria interessante dar uns pegas nele, mas parece ser do tipo que eu terei que ensinar tudo. Falo isso porque qualquer um no lugar dele me agarraria por muito menos, mas ele não, só me olha, me olha com desejo, mas apenas isso.
Comecei a dançar de forma mais provocante, percebi que outros garotos me olharam mas não liguei, sabia o que estava fazendo. Rebolei sensualmente e olhei pra ele da forma mais fatal que pude, ele só sorriu, SÓ sorriu. Ele é gay, só pode ser gay. Já estava desistindo de seduzi-lo e aceitando a conta da lavanderia quando um outro garoto de aproximou de mim pra dançar.
Senti alguém puxando meu braço e vi que era Liam, encarei ele com raiva.
- É a minha dança. – ele deu ênfase na palavra minha e eu revirei os olhos.
- Você é um gay. – despachei de uma vez e soltei meu braço.
- Você que não se dá ao respeito. – ele disse sério.
- É mesmo, pai? – ironizei. – Não enche. – me virei tentando sair dali.
- A música não acabou. – ele me puxou pela cintura, devo admitir que o engomadinho tem pegada, se ele não me deixasse tão irritada…
Expulsei esses pensamentos da minha cabeça e resolvi dançar com ele, mesmo sendo como dançar com um cabo de vassoura, ele manteve a mão na minha cintura e sorria como o idiota que ele é. Me virei de costas e voltei a provocá-lo o máximo que eu conseguia.
Dançamos mais algumas músicas e ele começou a se soltar, mas não deixei meu plano de lado, iria até o final, esse Liam iria suplicar por mais. Ele me segurava firme pela cintura e tentava guiar meus movimentos, ignorei deixando claro que aquele ali era o meu território, eu sabia como agir e ele não ia mandar em nada.
Subitamente ele me puxou pelo braço e saiu me carregando pela pista de dança, tentei gritar com ele mas fui ignorada, esse é o lado ruim de ser baixa. Na verdade, qual é o lado bom? Ele me carregou até a porta dos fundos e nós saímos da boate.
- Você tem sérios problemas, garota. – ele disse irritado.
- Não entendo porque você está assim. – provoquei. – Sei que você estava gostando. – sussurrei nos lábios dele, ele me puxou pela cintura e tentou me beijar, mas eu desviei. – Teve sua dança, boa sorte com a jaqueta.
Me livrei dos braços dele e tentei sair, mas ele me puxou pelo braço e me segurou bem forte. É, ao que parece ele está virando homem.
- Por que você me provocou daquele jeito? – ele perguntou sussurrando. Espera, que pergunta é essa?
- Acredite, não é só com você que eu faço isso. – cortei, não queria que ele pensasse que eu estava afim dele.
- Nossa, que dama. – ele ironizou.
- Deixei claro desde o início que não era nenhuma garotinha, foi apenas uma troca de favores.
- Mas eu quero mais. – ele pediu e eu sorri. Sempre consigo, sempre.
- Desculpa, você não faz meu tipo. – respondi zombeteira.
- Achei que você não tivesse um tipo. – ele retrucou no mesmo tom.
- Não sou nenhuma desesperada. – mordi o lábio inferior dele pra provocá-lo mais. – Mas acho que não posso dizer o mesmo de você.
Ele não resistiu e me puxou para um beijo. Não desviei dessa vez, sou obrigada a admitir que ele beija muito bem. Muito bem. Interrompi o beijo no auge, ele me olhou confuso, mas eu não pude continuar. Enquanto nos beijávamos eu senti que meu coração sairia pela boca, minhas pernas fraquejaram, eu nunca senti isso antes, lembrei a mim mesma pra parar com essa palhaçada. Carolina, borboletas no estômago? Francamente...
- Tem medo de não resistir, Carolina? – ele provocou.
- Já teve mais do que combinamos. – respondi ainda tentando organizar meu raciocínio – Adeus.
- Não, não tive nada ainda. – ele me puxou de novo. Qual é a desse cara, isso já tá me irritando.
- E vai continuar sem. – eu disse irritada e tentei me livrar dos braços dele, sem sucesso.
- Tem medo de não dar conta, Carolzinha? – ele perguntou irônico.
Ok, eu estava insegura, nunca tinha sentido nada como isso antes, mas eu não podia deixar ele pensar que eu era uma garotinha virgem e medrosa. Eu sabia que não era assim.
- Vamos ver se você aguenta. – sorri de lado e ele me beijou. Mais uma vez senti aquelas coisas estranhas mas resolvi não me importar. Podia ser atração, físico, sei lá. Claro, só desejo, puro desejo. Afinal, vamos combinar, ele era bem gostosinho.
Ele deslizou a mão direita até a parte de trás do meu joelho e levantou minha perna, entendi o que ele queria e peguei impulso me prendendo a sua cintura. Só me dei conta do que tinha feito quando acordei no dia seguinte em um hotel luxuoso, olhei para o lado e ele dormia como um anjo. Revirei os olhos, desde quando sou de pensar essas coisas? “Ele dormia como um anjo”? Carolina, se controla!
Admito, foi a melhor noite da minha vida, ele... Esquece, foi só uma noite, nunca mais vou vê-lo! Ele é uma celebridade, e eu? Uma gerente de uma lanchonete capenga de beira de estrada. Suspirei, me vesti e peguei minhas coisas sem acordá-lo. Havia vários fotógrafos na porta do hotel, dei graças a Deus por sair bem antes dele. Ninguém me notou, peguei um táxi até a casa noturna e de lá fui pra casa com o meu carro.
- Achei que tinha morrido. – minha mãe disse ao me ver entrar.
- Não vou te dar esse gostinho. – sorri abertamente pra ela.
- Maquiagem borrada, cabelo bagunçado, cara de que não dormiu nada a noite. – ela encurvou a boca pra baixo. – Típico.
- Pois é. – caminhei até a cozinha e peguei um iogurte. – Aprendi com a melhor.
Ela não disse nada, o que poderia dizer? Quando eu era criança, trazia homens e mais homens pra dentro de casa e chegava no mesmo estado que eu, ela nunca vai poder me cobrar de nada.
Liguei meu celular e tive que responder as mensagens de Taylor. Harry já estava acostumado, nem se preocupava mais, ele sabe que eu me viro bem, mas Taylor... Taylor fica uma pilha quando eu sumo com um cara qualquer. Tomei um banho e fui dormir, e pela primeira vez sonhei com um cara. Sonhei com Liam.
***
Pude ver um par de gordas perninhas entrando no meu ateliê, ajeitei meus óculos e ela sorriu pra mim. Muita coisa mudou desde aquela noite com Liam... Quase dois meses depois comecei a sentir enjoos e tonturas, fiz vários testes e todos comprovaram o que eu mais temia: estava grávida. Estava grávida dele, o que era pior.
Não o procurei, nunca mais o vi, não queria o dinheiro dele, só queria dar para a minha filha o que eu nunca tive. Resolvi, por ela, voltar a lutar pelo meu sonho. Resultado, hoje eu sou dona de uma das maiores confecções de roupa feminina da América, tenho lojas de departamento em todo o país e dou a minha filha tudo que ela precisa.
É bem verdade que desde então eu não sei o que é ir a uma festa, mas isso não me faz falta, na verdade, a única coisa que eu sinto falta é ele. Eu não preciso ficar negando, cinco anos se passaram e ele ainda é responsável por me causar calafrios quando eu vejo uma foto ou reportagem. Quem diria que Carolina Stevens seria pega de jeito assim? E não é só porque com Liam tive a melhor transa da minha vida, não. Nem por causa da Alice. Ele mexeu comigo de um modo que nunca tinha mexido antes, e eu não sei como deixei isso acontecer...
Até onde eu sei ele está bem, mas não sabe o que eu fiz com a minha vida. Não sabe que tem uma filha e não sabe que eu sou dona da rede de lojas mais famosa do país, Stevens & Stevens, e nem nunca vai saber. Sinto falta dele, sinto falta de coisas que nós nunca tivemos, mas que eu sempre imaginei... Mas graças a Deus tenho Alice.
- Tô com fome. – aquela voz de criança que eu tanto amava preencheu a sala, sorri instintivamente. – Você prometeu que a gente ia almoçar fora.
- Já estou indo, meu amor. – me levantei e a peguei no colo. – Vamos tomar um banho, vou separar uma roupa linda pra você.
Saímos de casa e fomos até o restaurante favorito dela. Sim, ela tem um restaurante favorito. Alice sempre foi precoce pra idade. Sempre esperta demais, curiosa... E isso me preocupa bastante. Enfim, nos sentamos na mesma mesa de sempre e um casal com um filho que devia ter a mesma idade dela se sentou na mesa ao lado.
- Mamãe. – Alice me encarou com aqueles olhinhos... Cópias menores, mas exatamente como os do pai. – Cadê meu papai?
Eu me preparei bastante pra esse momento, mas o olhar que ela lançava sobre a família ao nosso lado me encheu de pena. Eu diria que um dia ela conheceria, mas não podia privar a minha filha disso, eu cresci sem saber quem é o meu pai, eu não vou fazer o mesmo com ela.
- Eu prometo que você vai conhecê-lo logo, amor. – eu disse sorrindo pra ela tentando passar confiança.
Ela almoçou toda tristinha e foi pra casa com a mesma carinha. Aquilo estava cortando meu coração. Eu estava sendo egoísta, na verdade, quem não estava pronta pra vê-lo era eu e não ela. Suspirei e peguei meu celular, liguei pra Taylor e pra Harry convidando-os para passar o dia comigo e com a minha pequenininha.
- TIAAAAA! - Alice correu para abraçar Taylor.
- Princesa! – ela a pegou no colo, eu observava tudo de longe. Harry fingiu estar com ciúmes e ela pulou no colo dele, ele era a imagem de pai que ela tinha.
Percebi que Harry estava com a Alice na sala jogando vídeo game e chamei Taylor pra conversar. Fomos até meu ateliê e nos sentamos no sofá.
- Que foi? Sua mãe quer mais dinheiro? – ela perguntou debochando.
- Não. – respondi séria, mostrando que não queria brincadeira agora. – Acho que chegou a hora.
- De? – Taylor perguntou confusa.
- Preciso procurar o Liam pra falar sobre a Alice. – despejei tudo de uma vez.
- Tem certeza? Carol, isso vai mudar a vida de vocês. – ela perguntou.
- Sim, eu sei. Mas eu não posso mais adiar isso. Me ajuda?
Assim que eu comecei a ter lucro com a moda, investi pesadamente no sonho da Taylor. Usei ela como modelo para as minhas roupas e contratei os melhores produtores pra ela se tornar uma cantora de sucesso. Com o talento e carisma que ela tem, decolou rápido, e hoje é considerada o nome da revelação dos últimos anos no mercado da música. Taylor diz que Liam não lembra dela, ela já encontrou com ele algumas vezes por serem da mesma idade e terem o mesmo público, mas ele nunca disse nada.
- Claro, eu posso entrar em contato com ele. – ela disse sorrindo e me abraçou. – Eu tô aqui com você, sempre.
Sorri. Ela e Harry eram a minha família, e claro, agora eu tinha a Alice. Não tinha espaço pra Liam na minha vida. Mas era necessário e eu faria de tudo pela minha princesa.
Passamos a tarde juntos assistindo filmes infantis e brincando com Alice. Harry e Taylor foram embora e eu subi as escadas para colocar minha filha pra dormir.
- Mãe... – ela chamou manhosa. Me aproximei da cama dela e coloquei sua franjinha para o lado, seu cabelo, super lisinho, estava sempre caindo no olho. – Como é meu papai?
Não pude deixar de sorrir, na hora lembrei dele. Do sorriso, do jeito, do olhar, do cheiro, de tudo.
- Ele é um bobo. – comecei. – Não consegue ser sério com nada, ele é irritante e impaciente, se acha o dono do mundo e é o cara mais idiota que existe...
- Então, marrentinha, parece que você gostou bastante, né? Se tratando de um cara que não faz o seu tipo... – Liam disse, debochado como sempre, e passou o braço pela minha cintura. – Mas então, fala, você gostou?
Não sei se foi coisa da minha cabeça, mas naquele momento eu vi um misto de ansiedade e, talvez, insegurança nos olhos dele. Fala sério, Liam Payne, ainda pergunta se eu gostei? Ele é bem metido, mas acho que não tem noção do quanto é gostoso e, bom, como eu vou falar pra ele que foi a melhor noite da minha vida? Não rola, né?
- É, deu pro gasto, você não é tão ruim quanto eu pensava. - sorri marota, provocando. E ele logo rolou por cima de mim, me prendendo com o peso do seu corpo.
- Então quer dizer que você mudou sua opinião sobre me achar gay ou ainda precisamos trabalhar nisso? - disse, naquele tom irritante de quem se acha o dono do mundo, o que, eu notei mais tarde, era só uma máscara. Liam era só um menino bobo, brincalhão, fofo até, mas ainda assim, um tanto iludido com a fama desde tão novo.
- Bom, Senhor Payne, ainda não estou 100% convencida sobre isso... - ri e logo vi que os olhos de Liam faiscavam nesse momento, e eu soube que a noite seria longa...
– Enfim, ele é muito legal, filha.
- Ele é bonito, mamãe? – ela perguntou cheia de interesse.
- Sim, muito. – suspirei. – Você se parece com ele.
- Tia Taylor disse que eu tenho seu sorriso.
- Acho que o seu é bem melhor. – ri com ela e a cobri, acendi o abajur e caminhei até a porta.
- Mãe... – ela me chamou de novo e eu me virei. – Só mais uma coisinha – fez uma carinha engraçada.
- Fala, meu anjo.
- Você ainda gosta dele?
Meu coração parou.
- Eu o amo. – disse. Pela primeira vez confessei aquilo em voz alta.
- Eu também, mamãe. Quero conhecer ele logo!
- Logo logo, meu amor.
Sorri para ela e apaguei a luz do quarto e fui para o meu. Também estava ansiosa por esse encontro.
Não sabia quando Taylor iria encontrar com Liam, mas sabia que não demoraria. Tinha medo da reação dele e isso me atormentou durante todos os dias. Passei as tardes assistindo desenho com Alice, tentando a todo custo desviar um pouco a atenção dela de toda essa história de conhecer o pai. Numa segunda-feira à tarde, vi que ela estava dormindo, e fui até a cozinha fazer um lanche quando o interfone tocou.
- Carolina Stevens... – disse enquanto mordiscava uma maçã.
- CAROLINA, POR QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU? – aquela voz, aquela voz me fez pirar, tentei manter a calma.
- Liam! – eu disse.
- Carol, eu tentei acalmá-lo! – Taylor dizia desesperada.
Abri o portão e desliguei o interfone, não tinha nada mais a ser feito, não tinha como adiar. Em segundos a visão que eu tanto esperei estava ali, na minha sala, vermelho e espumando de raiva. O amor da minha vida me odiava.
- ME DIZ QUE É MENTIRA. – ele gritava, tive que controlar meus impulsos para não correr e abraçá-lo.
- Por favor, não grita. – eu pedi tentando lutar contra as lágrimas. – Eu te explico tudo.
- Explicar o que? – ele perguntou um pouco mais calmo. – Que você tentou me dar o velho golpe da barriga?
- Tá vendo! – tentei mostrar que aquelas palavras não me feriram. – É por isso que eu não te contei. – respirei fundo. – Olha a sua volta, parece que preciso de seu dinheiro?
Ele ficou quieto de repente, Taylor observava a tudo em silêncio, nos encaramos por um tempo. Meu coração parecia que iria saltar pra fora do meu peito, ele estava tão lindo, tinha as feições de um homem, mas ainda trazia aquele olhar de menino que eu conheci.
- Por que você não me procurou? – ele perguntou calmo.
- Agora que eu tenho tanto dinheiro quanto você, você ainda acha que eu quero te dar o golpe, imagina se eu te procurasse na época em que eu era uma pobre gerente de lanchonete? – disparei, pude sentir uma lágrima se formar, tarde demais, choraria na frente dele.
- Eu quero vê-la. – ele disse. – E vamos fazer um teste de DNA.
- Como você quiser. – eu respondi. – Mas não a abandone, você não sabe como ela vive falando de você, como ela necessita de um pai. Não faça por mim, e sim por ela.
Ele fez que sim com a cabeça e eu me virei para chamá-la. Me deparei com um par de olhos assustados me encarando no topo da escada. Quando percebeu que eu estava chorando correu até mim atrapalhadamente com sua pantufa de coelhinho e pulou no meu colo.
- Tá tudo bem, princesa. – eu disse fazendo um carinho no cabelo dela.
- Por que vocês estavam brigando? – ela quis saber. Encarou Liam e ele começou a chorar assustadoramente. Obviamente, se deu conta de que não precisaria de exame, ela era idêntica a ele.
- Não foi nada, meu amor. – eu respondi.
- Ele é meu papai? – perguntou com toda a inocência infantil.
- Sim. – disse em tom embargado.
- Mas você me disse ontem que o amava. – gelei. – Por que está chorando e brigando com ele?
Liam me encarou surpreso, em meio as lágrimas eu pude vê-lo esboçar um meio sorriso, que me deixou confusa. Coloquei Alice no chão e me agachei para olhá-la nos olhos.
- A gente só estava conversando, amor. E eu estou chorando porque estou feliz. - eu disse sincera. – Agora vai lá abraçar seu pai.
Ela olhou pra Liam como se pedisse permissão, ele apenas ajoelhou e abriu os braços, ela correu até ele e o abraçou forte. Essa foi a cena mais linda que eu já vi em toda a minha vida, nunca pensei que veria isso um dia, a felicidade dos dois era notória. Taylor chorava baixo no canto da sala e eu admirava, apenas desejando uma coisa impossível: que pudesse ver essa cena todos os dias.
- Bem que a mamãe me disse que você era bonito. – Alice se afastou de Liam que me lançou um olhar neutro.
- Sorte que você se parece comigo. – ele brincou ainda com lágrimas nos olhos.
- Ela disse isso também. – Alice riu e ele a olhou confusa. – Que você era metidinho.
- Interessante... – ele afirmou. – Gostaria de saber o que mais a sua mãe disse sobre mim.
- Ah, ela disse... – Alice começou.
- Eu não disse mais nada. – eu sorri sem jeito, por que as crianças hoje em dia são tão espertas?
- Disse sim, mamãe! – ela se virou pra mim depois voltou a encarar o pai. – Ela disse que te ama.
Taylor soltou uma gargalhada e eu corei bruscamente, não sabia onde me esconder, ele me encarou e se levantou vindo em minha direção.
- Achei que não gostasse de se prender a ninguém. – disse sarcástico.
- Eu não mudei. – menti. – Está vendo algum homem aqui?
- Sei que você não é mais a mesma. – ela olhou todo o meu corpo. – Gosto de mudanças.
Não pude deixar de sorrir, esse era Liam.
- Pode mandar seus advogados entrarem em contato comigo. – disse tentando ignorar a proximidade. – Faremos o exame de DNA e resolveremos a questão da guarda, se você estiver interessado.
- Continua dando uma de durona. – ele sorriu, ah, aquele sorriso.
- Continua dando um de pegador. – retruquei mantendo a pose mesmo desmoronando por dentro.
- Eu acho que agora entendendo o porquê de não conseguir te tirar da cabeça por todos esses anos. – ele se desarmou e me pegou de surpresa, sorri por instinto. – Tinha deixado uma parte minha contigo. – ele encarou Alice que estava no colo de Taylor. – E eu achava que tinha sido só o meu coração, mas você, literalmente, tem uma parte minha aqui. Carol, eu tenho uma filha! – disse Liam claramente emocionado. - E ela é tão linda, meu Deus. Carolina, tem lugar na sua vida para um idiota, machista, sem sentimentos e filhinho de papai? Eu não aguento mais um segundo sem vocês.
Eu tinha minha resposta pronta. Todas as vezes que eu idealizei esse momento na minha cabeça eu dizia um duro e sonoro não. Minha cabeça entrou em conflito com meu coração, eu sabia o que fazer, eu sabia, mas ele estava tão perto.
- Claro, Liam James Payne. Sempre. – sussurrei, caminhando até ele. Liam logo me tomou em seus braços e eu me entreguei ao que tanto me fez falta. Minha vida era estar com ele, ele me completava e ninguém mais. Foi um bobo, metido, idiota, mimado e machista que me fez acreditar no amor, e é por ele e pela minha princesa que eu vou sorrir todos os dias.
FIM
Nota da autora: 20.01.2015 -
Oi, meus amoresss. Ai, to chorosa com esse final. Bom, primeira shortfic, espero que vocês gostem :) Comentem e deixem uma autora feliz, ta?