You make me feel like: [Incomplete] [Loud] [Sweet] [Naughty] [Kinky] [Strong] [Nasty] [Tipsy] [Guilty] [Spunky] [Spicy] [Complete]


Escrita por: FFOBS Crew
Betada por: Larys




1.

You make me feel like... Incomplete


Toda garota quer ouvir três palavras. Todas elas sonham com o momento em que ouvirão alguém dizê-las em alto e bom tom, claramente e sem ambiguidades, no silêncio ou no barulho da multidão, sussurradas ou gritadas a plenos pulmões. E eu muito bem aposto que várias delas pagariam para estar como estou agora, sem nem ao menos respirar ou conseguir sentir a ponta dos dedos, com os olhos arregalados nas órbitas e apenas encarando o brilho acastanhado do fundo dos olhos de Matthew, quando as escutassem.
Porém, o que ninguém e muito menos eu sabia, era que essas minhas três palavras iam fugir tanto desse clichê todo.
Eu traí você.
- Mas...? – eu disse, sem conseguir falar nada mais coerente que aquilo, enquanto sentia a dormência em meus dedos ficar ainda mais forte. Matthew pareceu tentar se aproximar com cuidado, porém recuou na última hora.
- Sei que não foi nada legal de minha parte, mas... Ela que veio para cima de mim, . Eu não tenho culpa! – o garoto disse, franzido as sobrancelhas e colocando as mãos sobre o próprio peito, mas eu não conseguia prestar muita atenção em nada daquilo. Pelo menos não o suficiente para raciocinar e pensar se o que ele dizia fazia sentido no fim ou não. Tudo que passava pela minha cabeça era a mesma pergunta que vinha e voltava, não importando que resposta porca eu encontrasse na hora apenas para me saciar.
Por que eu sentia que poderia me encurvar ali mesmo até que meu peito se comprimisse a nada?
- Então agora você não tem mais autocontrole, Matthew? – e, saindo à força do estado frágil em que acabei me pondo, voltei a mim e perguntei o que estava entalado na minha garganta desde que comecei a devanear sobre aquela sensação esquisita que ainda me perseguia. – Sou apenas um detalhe na sua vida e basta aparecer uma vadia que você joga tudo para o ar?! – questionei com raiva e acabei dando um tapa no ombro do meu suposto atual namorado, ao que ele fazia uma leve careta de desaprovação e trazia os braços para si por instinto.
- Eu já disse que sinto muito, caramba! Por que você não pode simplesmente entender isso?!
- EU NÃO SEI! – foi quando não aguentei e acabei berrando com ele, no meio de meu apartamento e do nada. – Eu... Não sei – repeti, mais para mim mesma do que para o rapaz, porque realmente não sabia. Não entendia por que, dessa vez, as desculpas de Matthew pareciam mais doer do que aliviar.
- ... Se eu me orgulhasse do que fiz, não estaria aqui lhe dizendo várias e várias a mesma coisa e até tomando tapa seu – ele disse e deu dois passos à frente, chegando perto de mim e me olhando no rosto, mas acabei me afastando sem perceber. – – Matthew me chamou de novo e me puxou, prevendo que eu acabaria indo para trás mais uma vez. – Desculpe-me. Por favor – ele falou baixo, quase sem força, não precisando se esforçar muito para que eu ficasse olhando acidentalmente hipnotizada para o castanho chocolate de seus olhos naquele momento. Senti-o descer a mão em meu ombro sem pressa alguma, passando por meu braço até chegar à minha mão e então atravessar a pele de minha cintura. E, apesar de aquele momento ser tudo que poderia me ser suficiente naquela hora, naquele minuto, não era a primeira vez que aquela faixa do disco tocava. Apesar de toda vontade de desistir e ficar ali nos braços dele, areia da ampulheta de Matthew comigo já havia transbordado há tempos.
E, naquele momento, ela tinha acabado de se quebrar em cacos.
Sentindo-o cada vez mais perto de meus lábios praticamente secos pelo frio de Quebec e de tanta coisa que corria pela minha cabeça, parte de mim queria fechar os olhos e deixá-lo fazer o que quiser, mas a outra se questionava o que era aquele vazio que parecia gritar com teimosia em meu peito.
- Eu nunca mais vou trair você... Você sabe disso – o rapaz disse com o nariz roçando perto de meu ouvido, as unhas ficando no pouco de minha pele exposta pela blusa baby look.
Que vazio era aquele que eu só sentia arder mais quando escutava Matthew pedir desculpas outra vez.
E foi então eu percebi, com Matthew a centímetros de meus lábios e mais nenhum do resto de meu corpo, que meu coração não estava mais inteiro. Ele não estava ruído ou estilhaçado, quebrado em míseros pedaços como normalmente diriam, mas partido ao meio. Com uma metade em meu peito ainda dolorido e outra nas mãos de Matthew, que praticamente a balançava perante os meus olhos com um sorriso sacana e oferecia devolvê-la ao preço mesquinho do meu esquecimento disfarçado de perdão.
Incompleta. Talvez essa fosse a palavra para como eu me sentia com apenas metade do meu coração no peito.
Porém, o que mais me surpreendia era que aquela incompletude não era porque eu realmente sentisse falta do pedaço de mim que Matthew tinha em mãos e do qual sabia muito bem que era dono. Pelo menos não era isso que eu estava exatamente sentindo.
Eu estava incompleta porque agora repudiava aquele pedaço.

That’s why I wanna bury you in the ground.

Agarrei a mão do garoto que já passava para a minha nuca e tentava se enroscar pelos meus cabelos e a afastei de mim.
- ...?
E a hora de acabar com aquilo tudo já havia chegado.

That’s why I don’t wanna hear another sound.

Fechei os olhos por um segundo e os abri apenas para fixá-los com raiva nele.
- Por mais que eu não goste de dizer isso... – comecei dizendo, com o coração batendo mais alto do que jamais senti e jogando a mão dele bruscamente para o lado. – Para você, é de agora em diante.
E com isso me virei, sem falar mais absolutamente nada, indo até a porta do apartamento e a escancarando para sair dali, enquanto esperava que o garoto entendesse isso como um aviso bem claro de “saia daqui também”. Perguntei-me se ele ia me seguir ou tentar me parar, mas pensar em ficar perto de Matthew de novo, principalmente daquela forma, só me dava mais desespero. Portanto, comecei a correr, rezando para que ele nem ninguém me parasse, rezando para que aquele vácuo todo parasse de querer colapsar de dentro de mim.
Chegando ao lado de fora, parei ao sentir o ar gelado da rua bater em meu rosto e soprar pelo meu pescoço e por meus cabelos. Apoiei as mãos nos joelhos e arfei por alguns segundos, pois correr com o seu coração, inteiro ou não, já batendo alto desde o início não era exatamente uma boa ideia. Enquanto tentava me decidir entre pensar naquilo tudo e voltar a respirar normalmente, senti o celular vibrar dentro de meu bolso. Arranquei-o dali vi o nome de Claire na tela, levando-o rapidamente ao ouvido e afastando os cabelos.
- Quê? – perguntei meio ríspida, sem conseguir evitar aquele tom depois de tudo que acontecera.
- Ao invés de ser grossa, você podia bem que me dizer onde está e por que ainda não chegou à reunião, não? – Claire perguntou com ironia e dei com a mão no meu rosto. O plano era ter a conversa com Matthew que ele tanto insistia e depois ir para a reunião da revista, mas esse meu plano não contava exatamente com meu agora ex-namorado acabando com metade de mim e me fazendo querer fugir. Bufei com um pouco de raiva e comecei a andar, ainda mantendo a conversa com minha melhor amiga.
- Eu não vou – falei simplesmente, marchando pela calçada da rua e no sentido oposto da maioria das pessoas que andavam por ali, sentindo aquele vento tão gelado me envolvendo o pescoço de novo.
- Como assim não vem?! Você é a assessora criativa! Como vamos decidir a capa da próxima edição sem você, sua doida?! - Claire praticamente gritava no meu ouvido, contudo eu nem ao menos queria ligar. Tudo que me importava e basicamente me incomodava de verdade naquela hora era o fato que, por mais que estivesse realmente enojada do pedaço de mim que representava Matthew, de alguma forma eu sentia falta dele.
- Não vou e ponto final, Claire. Não vou! – que fosse o pior jeito de tentar convencê-la da minha decisão de faltar à reunião, mas eu realmente não queria explicar para ela ainda o que havia ocorrido. Pelo menos não antes de entender de verdade se eu queria Matthew de volta ou completamente longe de mim. – Eu faço o que você quiser depois, mas invente qualquer coisa para os superiores. Qualquer coisa! Diga que estou de mudança, que meu pai está doente, que...
Contudo, não consegui terminar minha lista de desculpas esfarrapadas para Claire, pois naquela mesma hora trombei com tudo em alguém e caí no chão.
- ...? ?! – eu conseguia ouvir a garota ainda gritando do telefone a alguns centímetros de mim, enquanto me colocava de joelhos na calçada e via, em primeiro lugar, o rapaz com quem eu havia trombado através dos meus fios de cabelo.
- Desculpe! – o homem começou falando, por um momento perdido em decidir se primeiro me ajudava a me levantar ou juntava as pastas e réguas que ele mesmo havia espalhado no acidente. – Oh, meu Deus, desculpe-me! – continuou falando e acabou por seguir a rota de amontar a coisas dele impressionantemente bem perto num canto da calçada e me dar a mão para que eu me erguesse. – Espero que não tenha se machucado... Machucou? – perguntou com um ar de seriedade que mais me pegou de surpresa do que me intrigou na hora, ao que eu aceitava a ajuda e me levantava junto com ele.
- Não... Não – respondi, logo estando de pé e de frente para ele. – Você...? – perguntei também, apesar de pela metade, olhando bem para o rapaz à minha frente e para o seu sorriso firme que logo se formava.
- Nada para se preocupar – ele disse e eu sorri de volta. – Você... Está bem mesmo? Parece um tanto abalada – e foi então que percebi que provavelmente estava com os cabelos desalinhados, rosto marcado por lágrimas que nem notei e, principalmente, roupa de ficar em casa. Mas não consegui confirmar nada daquilo, pois tudo que eu conseguia fazer era olhar para aqueles olhos grandes dele e sentir o calor de sua mão e de seus dedos.
Da mão dele que, por algum motivo, eu não quis largar.
- ?! – e o grito estridente de Claire se fez presente, fazendo-me arregalar os olhos e me desvencilhar do aperto de mão dele para me abaixar e agarrar o celular de qualquer jeito, desligando-o e o enfiando de volta no meu bolso para logo me pôr numa pose inocente e com as mãos atrás de mim, sorrindo que nem uma criancinha de cinco anos. Ele deu uma risada.
- Espero não ter a atrasado para nada – o rapaz disse, finalmente pegando as coisas que deixara sobre o meio-fio e passando a colocá-las numa ordem específica que na hora não entendi. Balancei a cabeça e abanei a mão no ar.
- Imagine. Realmente, nada que importe de verdade – falei e o homem sorriu mais uma vez, dando uma última alinhada nas pastas.
- Perfeito. Até mais então – deu-me um último aceno de cabeça e se pôs a andar, passando ao meu lado e seguindo no outro sentido da calçada. E, enquanto me virava e o olhava ir embora, ficando contra o vento e o sentindo banhar meu corpo todo, eu finalmente percebi.
Por três minutos, foi como se Matthew nunca tivesse sequer andado pela Terra.
Por três minutos, eu não senti que metade de mim era vontade de gritar e outra era absoluto nada.
Por três minutos, de alguma forma, eu esqueci que meu coração estava partido ao meio.
- Espere! – antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, ou ao menos melhor, gritei e corri por atrás do rapaz. Ele se virou com o cenho franzido e abriu um pouco mais os olhos ao ver que era eu. Assim que cheguei perto dele, levantei uma das mãos por instinto, trazendo-a de volta para mim e respirando algumas vezes antes de falar. – Você... Eu o atrasei para algo? – parecendo perdido por um segundo com a minha pergunta repentina, ele deu uma checada rápida por entre as pastas e se voltou para mim.
- Na verdade, não... Eu estava indo para casa rever umas contas. Por quê? – ouvindo aquilo, pisquei algumas vezes os olhos, percebendo que o deixava um tanto intrigado com tudo aquilo.
- Ah! É que, hum... Você... Você não quer ir tomar um café comigo?! – perguntei um pouco mais veemente do que queria e o vi abrir ainda mais os olhos, quase que como assustado. Percebendo então que ele não ia responder tão rapidamente, ou que talvez não fosse topar tão fácil, peguei em seu pulso. – Ok. Você vai tomar café comigo – e comecei a puxá-lo em corrida para o outro sentido da rua, em direção à cafeteria mais próxima, enquanto ele se atrapalhava para acompanhar o meu ritmo e quase deixava as coisas caírem de novo.
- Mas... Mas eu nem sei o seu nome! – ouvi-o falar e dei uma risadinha, virando o meu rosto para ele, porém sem parar de correr.
- Para alguém que anda com pastas cheias de contas, você é bem desligado para não ter notado a minha amiga gritando o meu nome.

You make me feel like... Loud


Eu havia perdido as contas de quantas vezes já havíamos saído. Provavelmente aquela era a quinta ou sexta vez. De qualquer forma, sempre parecia que ainda tínhamos algo para conversar.
Algo que ele precisava saber sobre mim.
— E então a minha chefe me liga às duas da manhã perguntando se eu preferia Times New Roman ou Arial. Aceitei o cargo de assessora criativa para dar ideias sobre matérias, pessoas para entrevistar e esse tipo de coisa, e não qual porcaria de fonte fica melhor!
Eu vi-o assenti a cabeça, dando um leve gole na bebida que segurava. Seus olhos estavam focados em mim, e eu mal conseguia perceber que a única que falava ali era eu.
Queria que ele me olhasse daquela forma todas as vezes que nos víssemos.
— E, além disso, teve outra vez que eu sugeri uma matéria sobre doenças psicológicas entre as modelos, um assunto que eu achei essencial, e você sabe o que ela me disse? — arqueei as sobrancelhas, em um claro gesto para que ele se mostrasse interessado para a conversa e perguntasse. — Sabe?
— Não, . O que ela te disse? — mal tive tempo para notar o seu sorrisinho de canto, como se tivesse percebendo algo que era inexistente aos meus olhos, antes de responder, com as mãos erguidas e a minha voz um pouco mais alta.
— Que era um assunto muito pessoal! Um assunto muito pessoal, . Tipo, sério? Tudo bem fotografar uma atriz comendo pastel na rua, com seu short de corrida, mas falar sobre anorexia? Ah, óbvio que não. Muito pessoal.
— E o que você falou para convencê-la?
E foi aquilo que realmente me despertou daquela bolha de gestos exagerados e palavras corridas. Ele sabia.
sabia que eu iria conseguir qualquer coisa que queria, que eu não ia desistir por só um “não”. Eu arranjaria uma forma de mostrar para a minha chefe que a minha ideia era, na verdade, importante para as jovens que pretendiam entrar no mundo da moda.
Então, por puro impulso, coloquei uma das minhas mãos na minha boca e dei uma risada baixa. Vi um brilho de divertimento em seus olhos e eu soube que ele estava pensando a mesma coisa que eu.
Tirei a mão de minha boca e repousei-a no meu colo, colocando meu olhar envergonhado para o chão do estabelecimento.
— Deus, eu não paro de falar. Me desculpe. Acho que me exaltei um pouco.
Senti uma mão puxar meu rosto para cima e, antes que percebesse, estava olhando para novamente. A sensação de sua mão contra a minha pele era estupidamente maravilhosa, e eu queria que ele mantivesse esse contato até o final do dia.
— Não se desculpe, . — ele se aproximou de mim, dando um beijo delicado em minha bochecha. Pensei que fosse só isso que ele iria fazer, até sentir sua respiração no meu ouvido. — Só me faz querer ainda mais te beijar para fazer você parar.
Senti minhas bochechas corarem fortemente com aquilo e deixei outra risada escapar. sabia usar as palavras muito bem.
Sem tirar sua boca do meu ouvido, e falando bem mais baixo dessa vez, ele repetiu sua pergunta:
— E o que você falou para convencê-la?
— Eu falei... — seus lábios se moveram para o lóbulo da minha orelha, mordendo-o e puxando-o levemente. Depois, ele passou a língua por toda a extensão, me fazendo perder momentaneamente o ar. — Eu falei... — minha voz já saía bem mais fraca e abafada. Ele passou sua atenção para o meu pescoço, fazendo uma trilha de leves beijos até parar em certo ponto e sugar a minha pele. — Eu...
Coloquei minhas duas mãos em seus cabelos, fechando os olhos levemente e soltando o que eu realmente queria dizer:
— Dane-se o que eu falei.

3.

You make me feel like... Sweet



Sabe aqueles dias em que você acorda suspirando, com um sorriso bobo no rosto e toda inspirada? Pois é! Foi assim que acordei hoje. E o motivo não era somente por ser meu dia de folga. O motivo era ele. .
As lembranças do dia anterior passando em minha cabeça como pequenos “flashbacks”. Como uma pessoa pode fazer um estrago tão grande em tão pouco tempo?
Eu não era assim, geralmente não sou de me abalar facilmente. Costumo ser concentrada nos meus objetivos, mas , definitivamente, acordou meu lado mais frágil. Isso me aborreceu um pouco, mas, mesmo assim, aquele sorrisinho insistia em marcar presença no meu rosto.
A minha inspiração me fez parar na cozinha. Olhei em volta e meu sorriso se alargou. Eu tinha tido uma ideia. Abri os armários da cozinha em busca de ingredientes e tudo o que fosse necessário para o que tinha em mente.
Após mais de uma hora, a minha cozinha parecia um cenário de guerra. Tinha farinha pelo chão e pela bancada, a louça estava entupida de coisa e havia embalagens abertas e jogadas por todo o lugar, mas eu sorria triunfante por ter preparado dois cupcakes com recheio de morango e cobertura de Buttercream de Baunilha, com confeitos em formato de coração. Não que eu não seja capaz de preparar mais de dois, mas já era o suficiente.
Fui ao banheiro e encarei-me no espelho. Havia farinha no meu cabelo e um pouco de recheio no meu nariz. Não pensei duas vezes antes de me enfiar embaixo do chuveiro.

Depois de pronta e bem agasalhada, diga-se de passagem, saí de casa pronta para encarar o frio de Montreal e com os dois cupcakes, perfeitamente embalados, em mãos. Segui em direção ao meu objetivo: o trabalho de . Ele havia deixado escapar essa informação e eu usaria a meu favor.
Eu não sabia exatamente o horário de almoço dele, mas imaginava ser por volta do meio dia. Cheguei às 11:40, sentei e esperei. Apertei meu gorro nas orelhas e coloquei as mãos no bolso para esquentar mais.
Exatos 20 minutos depois, eu o vi saindo. Levantei rapidamente e fui até ele.
- ! – chamei enquanto me aproximava.
Ele despediu-se de um colega que saía com ele e virou-se para mim com uma expressão confusa.
- O que você está fazendo aqui? – ele me perguntou.
Eu não soube ler em sua feição se ele estava feliz em me ver, ou não.
- Vim te fazer uma surpresa! – exclamei, estendendo os cupcakes que estavam em minhas mãos na direção dele.
- Uau! – Ele pegou o embrulho transparente e analisou. Provavelmente estava assustado. – Estão parecendo realmente apetitosos! Foi você que fez?
Eu assenti sorrindo e ele me puxou para um selinho. Senti-me fraca por alguns segundos e amaldiçoei a mim mesma por isso. Eu, definitivamente, queria mais do que isso!
- Eu... realmente não esperava por isso. – Ele analisou o embrulho novamente. – Uau. Obrigado. – E me deu mais um selinho.
- Magina – respondi. – Onde nós podemos ir para você desfrutá-los? Garanto que estão bons. É a minha especialidade!
- É... – ele gaguejou, olhando para o relógio. – , toda quarta-feira eu almoço com o Jared e ele está me esperando...
Encarei a ponta do meu sapato, visivelmente desapontada e chateada.
- Humm – murmurei. – Tudo bem, a gente marca outro dia...
Ficamos em silêncio por alguns segundos. olhou para o relógio em seu pulso mais uma vez.
- Ok – ele disse por fim. – Eu mando uma mensagem para a Jared. Ele vai entender!
Ele segurou minha mão e nós caminhamos para a entrada da parte subterrânea de Montreal.

Nós almoçamos uma comida leve na praça de alimentação do shopping e eu abri o pacote dos cupcakes, entregando um a e ficando com um para mim.
- Por que você fez isso por mim? – ele perguntou, mordendo o cupcake.
- Ah – comecei tímida, sem olhar para ele. – Eu acordei inspirada. – Olhei para cima e vi que o nariz de estava sujo, então passei meu dedo lá para tirar o buttercream e pus na minha boca.
Ele riu.
- Só por causa disso?
- Não...
Ele olhou para mim, esperando que eu completasse, mas eu fitei meu cupcake, desviando do olhar dele. Eu não costumava desviar do olhar de ninguém...
- Você faz com que eu me sinta assim – respondi finalmente.
Ele sorriu e estendeu o braço em minha direção, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da minha orelha. Ele deixou a mão dele lá e, com o dedão, acariciou minha bochecha. Eu fechei os olhos para aproveitar melhor o momento.
- Esse cupcake está realmente muito bom! – ele disse, acordando-me de meu transe repentino. – Tem alguma coisa em que você não seja boa?
Eu ri da pergunta e minha vontade foi responder: “Em nada, meu bem!”, mas eu olhei em seus olhos e logo desviei o olhar. Esse era o meu ponto fraco. Ele era meu ponto fraco.
- Você – respondi sem pensar.
- O quê? – ele questionou confuso.
- Deixa quieto – disse, mais uma vez brigando comigo mesma por ser tão idiota perto dele.
depositou sua mão sobre a mesa e segurou a minha, trazendo-me um sentimento de segurança. Percebi que ele queria dizer algo, mas algo o impediu. E, então, ele olhou para o relógio e levantou em um pulo.
- Nossa! – exclamou preocupado. – Eu preciso ir!
- Não! Fica mais um pouco... – pedi sem perceber.
Ele sorriu, puxou-me para que eu levantasse e colocou sua mão em minha cintura, aproximando nossos corpos, então ele deu um beijo em minha testa e simplesmente saiu.
Fiquei observando enquanto ele caminhava para longe de mim e meu queixo deveria estar no chão.
- Sério? – perguntei a mim mesma em voz alta. – Um beijo na testa?
Peguei o resto de cupcake que ainda havia sobre a mesa e enfiei na boca. “Seja forte, !”, pensei de olhos fechados. “Não é um homem que te fará cair!”. Marchei decisiva até a entrada do metrô para voltar para casa e tentar não pensar nele.

Cheguei em casa e observei a minha cozinha destruída. Arrumá-la manteria minha mente ocupada, o que deixaria bem longe dela! Como eu gostaria de estar certa... Porque limpar a bagunça me trouxe todas as lembranças que tive durante o preparo dos cupcakes, cada detalhe pensado com carinho, tudo feito com amor. Eu não via a hora de vê-lo novamente... E seria capaz de qualquer coisa para mais um programa com ele.
No momento eu não sabia se estava mais frustrada por ele não ter dado valor pelo que fiz, ou pelo fato de eu estar tão preocupada com isso...
Perdida em pensamentos, tentando me convencer de que eu não precisava de homem nenhum, o interfone tocou. Era o porteiro do prédio avisando que tinha um pacote para mim lá embaixo. Desci para buscar e era uma caixa de bombons em formato de coração e havia um bilhete. “Você deixou meu dia mais doce, queria agradecer deixando a sua noite mais doce. Bons sonhos.”
O sorriso que brotou em meu rosto era imensurável, toda a armadura que eu estava tentando criar foi repentinamente destruída. E eu fui dormir. E, sim, eu tive bons sonhos.

4.

You make me feel like... Naughty


Mais uma vez, olhei para o celular, impaciente, esperando uma ligação que eu simplesmente não sabia quando viria. Suspirei, descruzei as pernas e tornei a cruzá-las, balançando os pés em um ritmo apressado, enquanto jogava minha cabeça para trás, apoiando-a no encosto do sofá. Bufei, completamente irritada, e repeti o gesto de encarar a tela do aparelho. Nada.
Se havia algo que me tirava do sério era ficar esperando. Incrivelmente, possuía o dom de desrespeitar completamente meus nervos. Sempre com uma desculpa diferente, ele frequentemente conseguia me transformar na vilã da história, como se eu estivesse errada por ficar pronta com antecedência.
Era bem verdade que ele ainda não estava exatamente atrasado. Eu o telefonara diversas vezes desde que ficara pronta, implorando para que largasse logo a porcaria do escritório e voltasse para minha casa. Ainda assim, uma hora já se passara, e ele nem ligara, muito menos aparecera.
Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, a campainha tocou. Levantei de supetão, me desequilibrando nos saltos finos e corri para a porta, apenas nesse momento me dando conta de quão sedenta por atenção me encontrava. Já disposta a perdoá-lo pelo atraso, dei meu melhor sorriso antes de girar a maçaneta. Não podia existir dia que permanecesse ruim depois que eu me encontrasse com .
Abri a porta agilmente, já estendendo meus braços para ele. Era incrível como, após um dia inteiro de trabalho, ele conseguia continuar cheiroso.
– Oi, – ele cumprimentou, parecendo estar cansado, e sem me retribuir nenhum sorriso. Ligeiramente magoada pela fraca recepção, dei um passo para trás, convidando-o a entrar.
– Oi, amor – respondi, dividida entre ralhar com ele pela frieza ou tentar conquistar sua atenção com minha simpatia. Racionalmente, escolhi a última opção, mas quando falei, as palavras soaram falsas e irônicas: – Teve um bom dia?
– Péssimo – ele respondeu, se jogando no sofá e arrancando os sapatos com os próprios pés. – Perdemos um cliente, meu chefe precisava de alguém para culpar, a culpa passou a ser minha.
– Sinto muito – comentei, mas, novamente, não soou sincero. Dei a ele um tempo para que passasse a mão no rosto e afastasse o cabelo da testa, mas logo em seguida completei: – Amor, temos que estar no prédio de Claire em quarenta minutos. Ela vai me matar se nós chegarmos atrasados, você sabe como ela é.
Ele franziu a testa para mim, erguendo as sobrancelhas.
– Na verdade, eu sei como você é, – ele começou e eu me preparei imediatamente para a resposta. Antes que eu sequer abrisse a boca, porém, ele começou a balançar a cabeça negativamente, e eu, confusa, fiquei calada. – Não tenho a menor condição de ir a uma festa hoje, . Estou cansado, estressado, irritado, tomei um esporro injusto e só não pedi demissão por sua causa – ele adicionou, me encarando com irritação.
– Como assim, “por minha causa”, ? – eu exigi, enfurecida com a acusação. – Nunca te obriguei a fazer nada, você sabe disso.
Ele ponderou por um momento, respirou fundo e sacudiu a cabeça novamente, para em seguida retrucar: – Deixa para lá, não quero falar sobre isso.
Restou no ambiente um silêncio incômodo por um tempo, e meus pés começaram a doer sobre os saltos altos. Andei calmamente até ficar de pé bem de frente a ele, encarando-o de cima para baixo. Perguntei, em uma suavidade gélida:
– Você realmente não vai à festa da Claire?
Ele ergueu os olhos e deu um sorriso que eu definitivamente considerei debochado.
– Não, . Pode trocar de roupa, que hoje é dia de ficarmos de pijama assistindo Doctor Who.
Estarrecida com a atitude dele, eu forcei uma gargalhada sem qualquer humor. Em seguida, deixando-o perplexo, virei de costas, peguei as chaves do carro e andei até a porta, cruzando os dedos para ouvir seus passos, vindo atrás de mim. Como nada aconteceu, saí do apartamento, batendo a porta com uma terrível sensação de que aquela noite não acabaria bem.
Dirigi até o prédio de Claire com a cabeça estourando, por demasiado preocupada com a consequência das minhas atitudes. Não estava arrependida, porém, e a raiva que sentia me adicionava certa excitação, certa vontade de fazer algo errado, certo desejo de converter minha mágoa para .
A festa no terraço – ou cobertura, como Claire gostava de chamar – ainda não havia começado por completo, de modo que poucos convidados estavam no local, distribuídos entre os diversos pufes de cor grená e turquesa, balançando as cabeças ao som da música. Procurei Claire por todos os cantos, e a encontrei ralhando com os cozinheiros contratados. Em menos de um minuto, Claire já havia me despachado para entreter os convidados, de modo que a minha primeira atitude foi tomar providências em relação à música. Fui ao DJ e demandei que ele trocasse aquela ladainha de música eletrônica por algum pop alternativo. Ficando no meio-termo, ele botou para tocar hip-hop, e eu decidi que estava mais do que na hora de a pista de dança, cuidadosamente projetada por Claire, ser inaugurada.
Por um minuto de confusão, procurei ao redor, objetivando arrastá-lo até a pista improvisada, para dançar comigo. Subitamente, lembrei que não estava ali, e procurei uma alternativa, frustrada. Avistei o namorado de Claire, Tristan, parado ao longe com uma bebida na mão, conversando com alguns amigos que eu não conhecia.
Ele era minha vítima perfeita, especialmente porque era praticamente impossível haver alguma tensão sexual entre nós dois. Portanto, pedindo licença aos amigos com quem ele discutia animadamente, eu o segurei pela manga da camisa e o levei para a pista, sabendo que, uma vez que alguém decide dançar, todos os outros vão atrás.
Eu estava correta. Menos de três músicas depois, já não havia quase nenhum convidado jogado nos pufes, tendo a maioria deles decidido acompanhar Tristan e eu em nossas danças. Claire passou correndo, ainda estressada com a organização dos detalhes finais da festa, e me lançou um olhar de aprovação, sabendo que quem havia dado causa à animação só podia ser eu. Eu pisquei um olho para ela e comecei a provocá-la, dançando agarrada a Tristan e rebolando em sua frente. Ela riu, me mandou o dedo do meio e, sacudindo a cabeça, continuou seu caminho, andando em passos largos atrás de uma das garçonetes contratadas.
Prossegui minha dança com Tristan, que resolveu aderir à brincadeira e começou a me rodopiar, rindo quando eu quase me desequilibrei do salto. Inevitavelmente, porém, eu pensei em , e em como toda a dança pretensamente sensual não seria falsa caso ele estivesse aqui comigo. De repente, fui novamente assolada por uma raiva enorme de . Como ele podia meramente se recusar a vir comigo à festa da minha melhor amiga? Como ele poderia assumir que eu ficaria em casa com ele, pura e simplesmente porque ele não queria sair?
Como se movida por uma força invisível, intensifiquei meus movimentos na dança, jogando os cabelos para todos os lados e induzindo Tristan a permanecer junto de mim, não mais por uma brincadeira com Claire, mas porque eu me sentia vulnerável. Eu fechei meus olhos, no meio da dança, e a imagem de seu semblante presunçoso flutuou na minha mente. Eu desejei tanto que ele estivesse comigo, desejei tanto ter a sua atenção nos momentos em que precisava, que quando abri os olhos, com Tristan me abraçando por trás e remexendo meus quadris, pensei que o rosto de fosse fruto da minha imaginação. Não era.
Ele estava observando de longe, mas logo andou em passos firmes em nossa direção. Cutuquei Tristan com o cotovelo, e ele pareceu tenso, como se apenas naquele momento tivesse se perguntado por que não estivera comigo antes. Assim que emparelhou com o resto de nós, me lançou um olhar feroz e me agarrou-me pelo braço, me arrastando dali.
– Ei! – eu protestei, tentando me desvencilhar e equilibrar-me sobre os saltos ao mesmo tempo. – , me solta, você não pode me levar daqui desse jeito!
– Ah, posso, sim – ele retrucou, furioso, me puxando com mais força. Eu empreguei mais energia na minha resistência, muito consciente de que várias pessoas estavam me olhando. Procurei Tristan com os olhos, e ele parecia apreensivo, de um jeito que claramente indicava que eu estava sozinha nessa. Ótimo.
Recusei-me a fazer parte do show que estava procurando, então decidi assumir a dianteira, andando lado a lado dele. Eu não iria fazer o papel de mulher arrastada, muito menos daria a ele o gosto de sentir o poder sobre mim. Ergui a cabeça e o acompanhei calmamente, lançando um olhar apaziguador para Claire, que pareceu preocupada.
Assim que pusemos o pé no elevador e a porta se fechou, me soltou e começou a falar:
– Honestamente, eu não sei como você consegue ser tão suja. O namorado da sua melhor amiga.
Eu lancei a ele um olhar de desprezo, e rebati:
– Se você honestamente acredita que eu poderia estar fazendo algo com Tristan, eu realmente não sei como você consegue ser tão sujo, .
Ele abriu a boca para responder, mas antes que pudesse falar algo, a porta do elevador abriu, indicando que havíamos chegado ao estacionamento. O carro de estava ali, mas eu não voltaria para casa com ele nem em um milhão de anos.
– Eu não vou entrar aí! – berrei, na defensiva. – Você não pode me obrigar, , e eu juro que...
– Primeiramente – ele me interrompeu, a voz baixa se impondo mais do que meus gritos – eu não mandei você entrar.
Fiquei tão perplexa que emudeci por um momento e, antes que pudesse pensar em algo a dizer, já apontava o dedo em riste para o meu rosto.
– Você – ele começou – foi patética, baixa, mimada, malcriada e mais infantil hoje do que eu jamais poderia esperar.
– Adivinha, ? Eu não pedi a sua opinião – interrompi, sabendo que essa era a coisa mais mimada, malcriada e infantil que eu poderia dizer àquela altura. Apressei-me para completar: – Homem nenhum me diz o que fazer, , e você não é a exceção a isso.
Por um instante, ele pareceu que ia gritar comigo, mas pareceu ter mudado de ideia logo em seguida. Andou até o carro por conta própria, não parecendo fazer o menor esforço em me convencer a acompanhá-lo, e eu senti meus olhos se encherem de lágrimas. Pensei que ele simplesmente iria embora, mas ele abriu a porta do carona, se inclinou e mexeu no porta-luvas. Eu me aproximei, relutante. Antes que ele saísse totalmente do carro, disse pausadamente:
– Você me perguntou mais cedo por que eu tinha escolhido não me demitir por você. Disse que jamais havia me pedido isso. É verdade, mas também é verdade que eu abri mão de muitas coisas, coisas demais, por você.
Ele agarrou meu pulso, e eu tive receio que ele me forçasse a entrar no carro, mas na verdade apenas me fez abrir a mão. Colocou um pequeno embrulho sobre a minha palma, fechou a porta do carro e andou até o lado motorista. Eu encarei o embrulho, insegura e temerosa, e desviei momentaneamente o olhar para , que, enquanto entrava no carro, vociferou:
– Você é a garota mais ridícula que eu conheço. Não faço a menor ideia de como sou apaixonado por você.
Ele bateu a porta do carro, e o nó na minha garganta me impediu de responder qualquer coisa. Ele deu a partida no carro, manobrou e, ao se dirigir à saída, parou ao meu lado e abaixou o vidro do carro. Eu tentei falar, mas ele foi novamente mais rápido:
– O presente ainda é para você, , exceto que não significa mais absolutamente nada. – E então, rangendo pneus, seguiu de carro para a saída, deixando-me sozinha no estacionamento.
Aflita, julguei o pequeno pacote em minha mão. Mordendo os lábios, apressei-me em abrir a caixa. Ali dentro, em meio ao veludo acolchoado, havia um anel, com uma pequenina pedra de diamante, atada com um cordão a um papelzinho, no qual se lia: “Quer casar comigo?”
Sem ser capaz de conter as lágrimas, sentei no chão do estacionamento, abraçando o pacote e me perguntando como e eu havíamos parado ali. Com o coração apertado, peguei o celular na bolsa e tentei ligar para , que não atendeu.
Tentei ligar novamente ao longo de duas semanas. Ele não atendeu, tampouco retornou, até que eu finalmente desisti. Eu jamais cheguei a encaixar aquele anel no meu dedo.

5.

You make me feel like... Kinky


Virei num gole o resto da cerveja e gesticulei para o garçom que queria mais uma.
Eu estava entediada. Meus pensamentos se dispersaram, mas eu logo me lembrei das fotos que encontrara mais cedo, enquanto fazia uma limpa no meu computador e me irritei comigo mesma. Eu tinha decidido sair justamente para não pensar nele, nem nas fotos até o fim da noite. Mas ainda não havia aparecido ninguém interessante o suficiente para me entreter.
Olhei para o espelho atrás do balcão para conferir meu cabelo e percebi o olhar de um cara sobre mim. Ele estava a algumas mesas de distância, e não era a primeira vez que eu o pegava olhando para mim. Um olhar interessado e arrogante de quem está – ou pensa estar – no comando.
O garçom voltou e abriu a cerveja para mim.
- Chega de tequilas por hoje? – perguntou, me estendendo a garrafa.
- Chega de cortesias por hoje? – respondi, sorrindo enviesado. – Poxa, foi só uma! O que custa mais uma? – me inclinei na direção dele, sorrindo maldosa.
Ele riu, e tinha um sorriso bonito, até.
- O que é bom dura pouco. – ele deu de ombros.
- Ei, qual é o seu nome? – perguntei quando ele já ia se afastar. Afinal de contas, o mínimo que eu precisava saber era seu nome, já que pretendia convencê-lo a abastecer meu nível alcoólico gratuitamente.
- Pete.
- Bom, Pete... Eu não sei você, mas, pra mim, se dura pouco não pode ser bom. Tem que ser sensacional. E uma tequila não é sensacional! Mas duas, três, quatro... – contei sugestivamente, inclinando-me cada vez mais, fazendo realçar meu decote. Ele olhou sem disfarçar nem um pouco e balançou a cabeça para os lados, dando-se por vencido.
- Até daqui a pouco, bonitinho. – agradeci quando ele se virou.
Dei mais uma olhada pelo lugar para ver se alguém me interessava. Num outro canto, vi o cara com quem eu tinha ficado mais cedo. Ele era bonito e talvez até tivesse sido legal ficar mais tempo com ele, mas ele era muito meloso e eu não estava nem um pouco nesse clima. Para ser sincera, não saberia dizer qual era seu nome. Então logo o dispensei.
Continuei meu olhar pelo espaço e percebi duas coisas. A primeira é que aquela era a hora em que eu precisava me concentrar mais para decidir quem de fato me atraía, pois era chegado o momento em que minha habilidade de escolha começava a se mostrar afetada. A segunda, bem mais incômoda que a primeira, era que o tal cara do sorriso presunçoso e expressão de quem nasceu para escolher, não para ser escolhido, estava quase me alcançando.
- Ei. – disse, apoiando-se na minha mesa, inclinado predatoriamente na minha direção.
- Oi. – tomei o cuidado de interromper a cerveja por hora para não correr o risco de tomar decisões erradas.
Não dissemos mais nada. Eu porque não estava nem a fim de responder, quanto mais de puxar algum assunto; ele porque estava ocupado demais olhando para mim como se eu fosse um pedaço de carne.
Suspirando, adiantei:
- Olha, eu não tô interessada. – e um sorriso educado.
- Em quê? – fez-se de desentendido, passando a mão pelos cabelos num gesto muito forçado e nada sensual. – Eu ainda não te ofereci nada.
Revirei os olhos. Afinal, sejamos honestos, eu estava fácil aquela noite. Mas tem limite para tudo, e aquele cara definitivamente não estava dentro das minhas exigências mínimas.
E ele perguntou, daquele jeito que as pessoas perguntam quando só há uma resposta:
- Tô há um tempo te observando. Queria que você viesse para casa comigo. O que você me diz?
Nem hesitei:
- Eu digo não, obrigada.
- Tem certeza? – ele se aproximou, sentando-se ao meu lado e me encarando com um sorriso safado.
- Sim, tenho. – afirmei, cada vez mais certa da minha resposta.
- Ah, vamos lá… Você sabe que quer. – provocou.
- Como é que é? – soltei.
Ele sorriu mais largo, passou a mão pelos cabelos cheios de gel.
- Qual é o problema em passar a noite com um desconhecido que vai te dar a melhor noite da sua vida – e isso eu posso garantir? – ele tentou me convencer, e a forma como ele falava era tão arrogante que nem todas as tequilas do mundo embrulhariam tanto meu estômago.
- Não tem problema nenhum nisso. – respondi, já ficando irritada.
- Então...
- Mas não é essa a situação. – interrompi. – A situação é: sim, você é bonito, mas não é nem metade do que pensa que é, sinto muito que seja eu a te dar essa notícia. Então se você quiser um conselho para a próxima vez que você estiver tentando levar uma mulher pra cama: pelo menos seja legal. Não tô dizendo pra trazer flores, mas isso aqui – apontei dele para mim – não vai te conseguir nada.
Ele me olhou sem reação por um segundo. Por um momento, talvez, ele tenha refletido sobre o que eu falei. Ou não. Vai saber. Mas no instante seguinte, balançou a cabeça para os lados, sorrindo ainda, porém dessa vez de um jeito bem menos artificial.
- Sabe, você tá errada...
E o pior é que o imbecil provavelmente tinha razão. Aquela postura ainda ia lhe garantir muita coisa naquela noite. Não comigo, mas definitivamente ia.
- É verdade. – concordei me sentindo desacreditada do mundo quando pensei em todas as garotas que cairiam de paixão por aquele babaca cheio de arrogância e gel. – Boa sorte com isso.
- Obrigado. – ele disse sorrindo grande de novo, e enquanto ele ia embora eu me perguntei se ele tinha, em algum momento, entendido que eu estava zombando dele ou se ele de fato saiu de lá com o ego tão inflado quanto chegou.
Para amenizar o desânimo com a noite pouco produtiva, naquele instante, Pete voltou trazendo um copo de tequila e seus fiéis escudeiros, sal e limão. Colocou tudo na mesa à minha frente e piscou:
- Divirta-se.
- Obrigada, Pete... – disse, passando a mão pelo seu braço.
- Por que alguém como você está aqui sozinha? – ele perguntou enquanto eu preparava o sal sobre minha mão.
- Por que você ainda não me chamou para ir embora com você. – respondi, fazendo charme. Eu sabia que não ia dar em nada. Mas flertar com garçons bonitos é sempre divertido. E naquela noite eu estava especialmente a fim daquela brincadeira.
Ele riu de novo.
- E como é o seu nome?
- , mas você pode me chamar do que quiser, bonitinho. – brinquei de novo, piscando para ele.
- Certo, ... Bom, enquanto eu continuar te trazendo tequilas, você ainda pode encontrar alguém que queira te levar embora. E acredite... Não vai ser difícil. – ele disse sugestivamente, me olhando de cima a baixo, antes de voltar para o balcão.
Fiz meu ritual e, quando terminava de chupar o limão, sentindo o maxilar ardendo pelo gosto azedo, vi de relance o que eu sabia ser a visão que valeria o resto da noite. Foquei o olhar, e mais adiante estava meu bom amigo garçom conversando animadamente com o homem mais gostoso num raio de 100 m. E quando eu digo mais gostoso, estamos falando do mais alto padrão de exigência – aquele em que se poderia deletar toda a tequila do mundo, e ele continuaria sendo o cara mais gostoso num raio de 100 m.
Ele arregaçou um pouco as mangas compridas da blusa preta e olhou em volta do lugar, ainda conversando com o garçom. Esperei que seu olhar parasse em mim enquanto ele escaneava o ambiente, mas isso não aconteceu. Droga.
Continuei a tomar minha cerveja e olhar para as pessoas à minha volta. Mas eu sabia que já tinha encontrado a distração que queria para a noite – e não era nenhuma delas. Enquanto ponderava que talvez teria que me conformar com o fracasso da noite, meu novo-melhor-amigo-garçom passou pela minha mesa levando as bebidas de outra pessoa.
- Ei, Pete! – chamei rápido.
Ele se aproximou rindo, como quem já imaginava minhas segundas intenções.
- Pois não. – falou formalmente.
- Sabe o que é, Pete? – fingi intimidade nós rimos. – Eu já sei qual próxima cortesia você pode me trazer.
- Cara, eu vou me arranjar muitos problemas por te conseguir tantas cortesias! – ele jogou a cabeça para trás, rindo.
- Essa não vai dar trabalho nenhum! – prometi. – Qual é o nome do seu amigo? – apontei com a cabeça na direção do dito cujo e percebi que ele conversava agora com o outro garçom também. Não é que o rapaz sabia com quem fazer amizade?
Pete olhou para o balcão também.
- É o Logan.
- Certo. – sorri enviesado. – E o Logan é solteiro e está disponível ou o Logan é compromissado e eu vou ter que me esforçar um pouquinho mais?
- O Logan é solteiro e está disponível. – garantiu. – E, por sorte daquele filho da puta, não está em horário de trabalho. – lamentou-se.
- Ah, não se preocupe, Pete. Eu volto por você outro dia... – prometi enquanto já me levantava.
Eu me afastei um pouco da mesa para que tivesse mais espaço para dançar. Estrategicamente, mantive-me do mesmo lado, para que ainda conseguisse olhar para o espelho na parede oposta e continuar observando Logan, que estava atrás de mim, perto do balcão. Comecei a mexer os quadris no ritmo da música, e fui me soltando aos poucos. Isso era algo que eu tinha aprendido quando estava com : como dançar para fazer um cara grudar os olhos em você e não tirar mais. Depois de alguns minutos, abri os olhos e consegui exatamente o que queria: pelo espelho, cruzei com o olhar de Logan sobre mim.
Fechei os olhos novamente e continuei dançando. Estava sendo, até então, o momento mais divertido da noite. Pois eu sabia que ele continuava me observando. De repente, depois de uma jogada de cabelo que deixou meu pescoço à mostra, senti a presença de alguém muito próximo a mim e abri os olhos imediatamente.
Pelo espelho, vi Logan parado bem atrás de mim, o rosto encaixado na curva do meu pescoço, me olhando através do espelho com fogo no olhar. Senti sua respiração na minha pele. Não esperava que ele fosse chegar até mim tão rápido.
Ah, como eu adoro um homem capaz de surpreender...
Sorri orgulhosa.
- Qual seu nome? – soprou seu hálito quente no meu ouvido.
- . E você? – perguntei mesmo sabendo a resposta. Ele sorriu e eu tive certeza que ele sabia que aquela resposta não era necessária.
- Muito prazer, .
- O prazer é meu.
- Então... Qual é o seu motivo, ? – ele perguntou, apontando para a garrafa de cerveja em minhas mãos.
- Oh. – dei uma risada leve. – Você não quer saber o meu motivo.
- Vamos lá, quero sim. O que te trouxe aqui?
Ele pousou as mãos quentes na minha cintura.
- Você quer dizer aqui enchendo a cara? – ele assentiu com a cabeça. – Posso ser sincera, Logan? – virei o rosto na direção dele, levando a boca até seu ouvido e passando muito próximo de seus lábios no caminho. – De todas as coisas que eu gostaria de fazer agora, conversar não é uma delas. – sussurrei.
- Sério? – fingiu-se decepcionado. – Não gosto de mulheres muito quietas...
Eu ri contra seu pescoço.
- Eu não sou quieta, Logan. Na verdade, costumo ser bem alta, mas só em horas... Específicas.
Ele respirou fundo e mordeu os lábios.
- O quão bêbada você está, ? – perguntou rindo.
- O suficiente para estar com muito tesão.
Ele pôs mais força no aperto na minha cintura e me lançou um olhar cheio de segundas intenções que fez meu corpo esquentar todo por dentro. Embrenhou a mão por dentro dos meus cabelos e os segurou com uma firmeza gostosa.
- Você tá tão bêbada que seria errado da minha parte de chamar para ir embora comigo? – sorriu enviesado.
Não tenho certeza se falei ou só pensei a frase a seguir.
- Bom, você também só quer me levar pra cama, mas pelo menos é educado. Então por que não? – virei o resto do que tinha na minha garrafa.
Virei-me e segurei sua mão, andando pelo espaço cheio até a porta do bar. Passei por Pete e mandei um beijinho, ainda de mãos dadas com a conquista da noite, ansiosa para ver se ela seria tão gostosa quanto tinha sido até o momento.

6.

You make me feel like... Strong


Algumas vezes, eu me pegava pensando em e em tudo que vivemos juntos, mesmo sem querer, e naquela noite não estava sendo diferente. Talvez porque eu tivesse tentado conversar com minha mãe sobre meu pai naquele mesmo dia, e ela tivesse agido da forma egoísta que lhe é peculiar, mudando de assunto deliberadamente e me fazendo sentir ainda mais sozinha no mundo. Agora eu estava deitada em minha cama, sem conseguir pregar o olho, e recordava a semana em que meu melhor amigo fora levado de mim.
estava comigo no quarto, entre lençóis amassados, relutante em sair da cama, quando meu celular tocou sobre a escrivaninha, às sete horas de uma terça-feira fria e nublada. Saí da cama, sem parar de falar amenidades com ele, e peguei o aparelho, sem dar atenção ao identificador de chamadas. Minha expressão certamente mudou quando, depois de meu entusiasmado “alô” ter sido respondido com um soluço de minha madrasta e uma tentativa vã de cumprimento, eu me sentara na cadeira de rodinhas, para não perder o equilíbrio, enquanto ela falava, do outro lado da linha, e o mundo se encolhia ao redor de mim.
Lágrimas escorreram por meu rosto, na medida em que eu a escutava contar sobre um acidente envolvendo o carro do meu pai e um caminhão, durante a madrugada, sobre ambulância, paramédicos, emergência, cirurgia, UTI... E nada perguntou, até que eu tivesse desligado o telefone e já estivesse em seus braços, molhando seus ombros. Durante a ligação, apenas sentou-se na ponta da cama, de frente para mim, segurou minhas mãos nas suas, acariciando-as e oferecendo apoio, independentemente do que estivesse acontecendo.
Foi ele quem fez com que eu me levantasse, colocasse uma roupa e fosse até o hospital, não sem antes comer alguma coisa, mesmo que eu tivesse dito, várias vezes, que não sentia fome, e nem mesmo sede. Eu não sentia nada, para a falar a verdade, porque estava em choque. Sentira uma dor lancinante no peito, enquanto ouvia Gilian narrar a tragédia que se abatera sobre nós, mas depois ficara como anestesiada, quase imóvel, como se, não agindo ou sentindo, pudesse parar o tempo e evitar o que eu já sentia estar prestes a acontecer.
- Em que hospital ele está? - Indagou meu namorado, praticamente me colocando dentro do carro, no banco do carona.
- Não sei. - Respondi com dificuldade. - Não consigo me lembrar.
- Tudo bem. Eu ligo pro seu irmão. - Ele afirmou, mantendo a tranquilidade e fazendo questão de não me pressionar de nenhuma forma. Foram justamente meu meio-irmão e Gilian que nos receberam, na recepção do hospital, minutos depois.
Ela já não chorava descontroladamente porque havia tomado calmantes, sob prescrição médica, mas, exatamente por isso, não estava também em estado normal, e Nate foi quem conseguiu falar que nosso pai estava sendo operado naquele momento, mas que os médicos tinham deixado claro que o estado dele era bastante grave. Estava controlado, como fora criado para ser, mas sua voz transmitia uma falta de esperança que me fez sentir de novo uma dor aguda.
Só seria pior quando eu visse meu pai, mais tarde, desacordado, entubado, sendo alimentado e medicado por meio do soro, e com aparelhos sofisticados e complexos ligados à sua volta. Doeria ainda mais quando eu fosse obrigada a sair do lado dele e ir para casa, passar as próximas horas esperando o dia seguinte e um novo horário de visitas. Seria exaustivo viver os quatro dias após aquele, desejando um milagre que não viria. E indescritível, sem qualquer possibilidade de explicação, o momento em que os médicos nos chamariam na sala de espera, para pedir autorização para desligarem os aparelhos e deixarem meu pai descansar em paz.
Mas eu tinha . que desmarcou compromissos com amigos e reuniões de trabalho para ficar ao meu lado o tempo todo. Que me fez entrar no quarto do meu pai, várias vezes, e conversar com ele, afirmando que existia chance de ele me ouvir, apenas porque me conhecia e sabia o quanto eu precisava dizer ao meu pai, mais algumas vezes, como eu o amava, admirava e era grata por ele ter sido o melhor pai do mundo. que me ajudou a providenciar tudo o que era necessário para o funeral, quando a hora chegou. Que colocou a mão em minhas costas, me encorajando a discursar na igreja, ao invés de deixar a tarefa ao filho caçula ou à segunda esposa, porque tinha certeza de que eu não ficaria realmente satisfeita com as palavras de nenhum dos dois.
- Meu pai não merecia isso, babe. Ele não merecia e eu ainda não consigo acreditar que... nunca mais. - Eu disse, jogada, finalmente, no sofá de minha sala de estar, depois da cremação, com ele a meu lado.
- Eu sei. - Ele disse, sério, se ajeitando de modo a colocar minhas pernas sobre as suas, e tirando meus sapatos. - Sei como você ama o seu pai e como vai sentir falta dele, ... e eu sinto muito, de verdade, por isso. - Afirmou e eu dei um esboço de sorriso triste, sabendo da sinceridade de suas palavras.
- Eu sempre me dei tão bem com ele! Parecia que ele enxergava dentro de mim, sabe? - Foi a vez dele de sorrir, enquanto massageava meus pés. - Eu tenho medo de não suportar. Medo de surtar!
- Você vai suportar, meu amor. Você, na verdade, já está suportando! Você tem sido muito forte nesses últimos dias. Chorou, lamentou, ficou triste, é claro. Isso é normal! Isso é humano! Mas você foi tão forte que surpreendeu até a mim, falando discretamente com a sua mãe e a tirando de perto da Gilian antes que ela pudesse arrumar confusão. - Ele não pode evitar dar uma risadinha, recordando a situação, e eu mesma acabei rindo. Eram de fato constrangedores e pareciam intermináveis os confrontos entre as duas, ainda que minha mãe insistisse em afirmar ser indiferente a meu pai desde que eles tinham se divorciado, e ainda que ele agora nem estivesse mais aqui para ser marido de quem quer que fosse.
- Talvez você esteja certo e eu não vá surtar, mas é uma dor tão grande! - Comentei. Não sabia ainda que conviveria com a saudade pelo resto da vida, mas a dor diminuiria um pouco a cada dia e eu teria vontade de viver de novo, e de fazer coisas das quais meu pai se orgulharia, de ser feliz, como ele certamente gostaria que eu fosse.
- Isso eu não posso questionar, e eu vou estar aqui, se você quiser chorar deitada no meu colo, passar um dia inteiro contanto histórias sobre o seu pai, ou simplesmente fazendo nada, ok? - Ofereceu, pegando a minha mão e dando um beijo nela. - Agora, acho que a gente devia trocar de roupa, pedir alguma coisa pra comer, e dormir, se você estiver com sono... ou ver um filme, se não estiver. - Deu de ombros.
- Um filme me parece bom. Não acho que eu vá conseguir dormir tão cedo! - Sentenciei, me levantando, pois queria mesmo tirar aquele vestido preto do meu corpo e colocar algo mais leve. - Vamos pedir japonês? - Sugeri, andando para o quarto com ele em meu encalço.
Estava, sim, sendo muito mais forte do que eu poderia prever, se alguém tivesse me sugerido, em algum momento de toda a minha existência, que meu pai morreria de uma hora para outra. Mas acho que não sentia o peso do mundo, porque o estava dividindo com alguém que estava disposto a trabalhar duro para que eu não o carregasse sozinha.
me fazia sentir o quanto eu era forte, quando estávamos juntos, e eu agora me sentia um pouco fraca, e me perguntava se um dia reencontraria dentro de mim toda aquela força de novo, mesmo sem ele ao meu lado para fazê-la vir à tona.

7.

You make me feel like... Nasty


Minha vida estava de ponta cabeça. Eu não me conhecia mais. Não era mais eu, a segura de si que conheci a vida inteira. Eu era uma puta confusão.
Era o terceiro dia seguido que eu acordava com raiva. Com muita raiva. Raiva de tudo e de todos. Andava pelo apartamento jogando coisas e batendo portas, meus pés tocavam impacientes o chão enquanto eu tomava um café forte sentada ao balcão da cozinha. Minhas mãos tremiam enquanto eu passava os canais na TV, dando voltas e voltas na programação sem parar em nenhum canal.
Eu achei a caixinha de veludo novamente. Abri e lá estava o anel, ainda com a fitinha me pedindo em casamento. O anel que eu nunca pus no dedo, o pedido que eu nunca ouvi, o casamento que eu não teria.
Em mais um surto de raiva, liguei para . Como todas as outras vezes, era óbvio que ele não iria atender. Desta vez eu deixei uma mensagem. Uma mensagem longa e muito mal-educada que acabou com a frase mais infantil que alguém poderia ouvir de uma ex-namorada. “E eu espero que você esteja fodendo bastante todas aquelas amiguinhas, é o que você sempre quis, não é?”. Essa era uma rude e atrevida que eu não conhecia, que eu não aprovava, mas que eu simplesmente não ligava mais para a existência.
Resolvi que nessa noite eu incorporaria a Ke$ha. Liguei para Claire e ela me dispensou, então essa noite eu sairia sozinha.
Meia-calça escura, shorts que mal comportavam minha bunda e uma blusa tão cavada que deixava meu sutiã à mostra. Não me preocupei em deixar a maquiagem dos olhos certinha, apenas passei uma sombra preta, lápis e rímel. Eu parecia suja. Eu me sentia suja. Hoje eu queria ser suja.
Ainda em casa, tomei três doses de whisky. Aquela não era nem de longe minha bebida favorita, mas me daria força o suficiente para sair de casa.
Fui a uma rave. Quem imaginaria que eu iria a uma rave? Comprei um drink e fui tentar curtir a música. Aquela batida alta fazia meu estômago revirar e meu cérebro pulsar. Eu tentava contar as batidas do meu coração, mas elas pulavam duas, quatro, seis batidas para tentar acompanhar a música.
- Você quer uma bala?
Um moço simpático apareceu ao meu lado. Ele era bonito, seu sorriso era largo. Alto, estava sem camisa e eu tentava não babar por seu abdômen. Ele estendeu uma bolinha branca.
Esperando que curasse um possível mau-hálito e me desse confiança para atacar aquele homem, peguei a bala e pus na boca. A sensação refrescante que eu esperava foi completamente frustrada por um gosto amargo que me fez querer cuspir tudo. O moço simpático riu da careta que fiz, e tentei limpar a língua com grandes goles da bebida.
- Essa bala é horrível! – gritei para o moço simpático, ele gargalhou ainda mais.
- Daqui a uns minutos você vai ver como ela é boa!
Fiquei sem entender e isso transpareceu em outra careta. O moço simpático não conseguia parar de rir. Voltei com minha tentativa de tentar curtir a música. Alguns minutos depois eu senti meu corpo quente, muito quente. Meu coração batia mais rápido do que nunca e, ao mesmo tempo em que sentia meu sangue ser bombeado com toda força, parecia não haver sangue o suficiente. Eu não sentia meus dedos dos pés, e os dedos das mãos estavam tão gelados que eu pensei que fossem cair. O moço simpático dançava ao meu lado, eventualmente encostando seu tronco nu em mim. Eu senti vontade de tocar em seu corpo, e foi o que fiz. Meus dedos gelados traçavam as curvas desenhadas pelos seus músculos. A mão dele voou para o meu cabelo e me puxou para mais perto. Ele beijava meu pescoço e eu sentia cada pelo do meu corpo se arrepiando. Eu queria que ele me possuísse lá, naquele exato momento. Não me importava nem um pouco com quem fosse assistir.
Mais calor. A pouca roupa não me deixava nem um pouco mais confortável. Senti o vento gelado cortar minha barriga quando tirei a blusa, mas aquilo em nada amenizou o calor que eu sentia. Aproximei-me ainda mais do moço simpático. Eu sentia que ia explodir. Eu queria explodir com ele.
Quando ele olhou em meus olhos, ambos sabíamos o que iria acontecer. Bastou um beijo para ele segurar minha mão e me arrastar pelo local, procurando qualquer coisa que nos desse um mínimo de privacidade.
High as kite, uma cabine grande de banheiro químico pareceu uma boa ideia. Não era, nunca seria, mas foi. Lá ele me possuiu. Eu queria dizer que foi uma ótima loucura. Que eu senti um prazer que nunca havia sentido antes, mas seria mentira.
Eu sei que aconteceu. Eu não lembro de nenhum detalhe.
Eu não sei como cheguei em casa, mas foi na minha própria cama que eu acordei. Felizmente, eu estava sozinha. Não havia sinal de que outra pessoa tivesse dormido comigo.
Chorando no chuveiro, eu repassei tudo. Não só a noite anterior, mas tudo o que havia me levado a ela.
Eu não lembrava se havia usado camisinha. Deus, como fui irresponsável. Quem era eu? Logo peguei meu celular para agendar exames. No meio das ligações feitas, dez eram pro . Três haviam sido atendidas. Eu falei com ? Eu conversei com ? O que eu disse?
Será que havia me trazido para casa? Ele tinha me visto naquela situação nojenta? Será que ele sabia que eu tinha estado com outro homem?
Eu tinha medo de todas as respostas. Não liguei mais para nem uma vez.
Eu tinha perdido esse direito. Eu era nojenta

8.

You make me feel like... Tipsy


- Isso é exatamente o que eu preciso.
Encarei a fachada do bar onde provavelmente afogaria todas as minhas mágoas naquela noite. Não era tão chique e imponente como eu esperava, mas eu estava aceitando qualquer coisa por alguns drinks, boa música e uma temperatura que não fosse abaixo de zero. Estremeci, percebendo que alguns flocos de neve já começavam a cair, e Claire enroscou o braço no meu.
- Só você para me tirar de casa em meio a essa neve! Quem é que vai estar nesse lugar? – Claire disse, encolhendo o corpo contra o meu, enquanto nós duas tentávamos não derrapar no gelo, mesmo que tentássemos correr para fugir da neve.
- Pessoas solteiras, maravilhosas e interessantes, assim como eu – respondi prontamente, com um sorriso empolgado.
Claire arqueou uma sobrancelha, depois riu.
- Ou, em tradução livre: desesperadas.
- Vá para o inferno, Claire – eu ri, enquanto passávamos pelos seguranças, finalmente aquecidas pelo ambiente reconfortante e fechado, com cheiro de cigarro e com uma música distante ecoando toda vez que alguém abria a grande porta de madeira.
Após tirarmos os casacos e guardá-los, suspirei, sentindo-me minimamente renovada. Aquela manhã tinha sido a primeira vez que eu recebera uma ligação de . Estava no escritório, cansada demais, e achei que estivesse delirando, pouco antes de ter um surto de ódio e quase arremessar o pobre aparelho pela janela do vigésimo quarto andar. Eu liguei tanto para ele! Eu me humilhei, ligação após ligação, mensagem após mensagem, e ele não tinha o direito de me ligar, assim, do nada, e virar a minha vida de ponta cabeça. Não tinha mesmo! Quanto mais eu pensava nessa situação, mais eu me irritava.
Mas não, essa noite não. Essa noite eu não seria a megera que supostamente ocasionou o término, que foi deixada para trás com um anel de noivado em mãos, afogada em uma poça de lágrimas e arrependimentos que não deveriam ser dela. Que se danasse o , sua porcaria de anel de diamante e todos esses sentimentos conflitantes que eu tinha por ele constantemente. Essa noite era sobre mim, e eu sabia que estava linda de morrer, perfeitamente solteira e pronta para qualquer coisa. Como quem adivinhava pensamentos, no entanto, Claire arqueou uma sobrancelha.
- Tem certeza que está pronta para o mercado novamente? Não me leve a mal, mas você e o...
- Não, não diga o nome dele. Essa noite ele não deve ser mencionado – sorri, meio nervosa. – Eu preciso me divertir, Claire. Estou cansada de me lamentar e de viver pensando em como poderia ter sido. E me corrija se eu estiver errada, mas ele é quem está perdendo tudo isso aqui – sorri, dando uma voltinha, e Claire gargalhou.
- Você está certa. E se o bar estiver completamente deserto, sempre podemos encher a cara e dançar nas mesas...
- Adoro essa ideia!

Não era difícil, nem para mim, apontar que eu tinha saído do controle. Para nossa surpresa, o bar estava razoavelmente cheio, mesmo naquele dia frio. Que ironia, afinal... Todos procurando se aquecer, fosse o corpo, o coração ou algo dentro das calças. Não importava. Importava que, depois do sexto shot de tequila, eu já estava alegre demais para o meu próprio bem.
- Você vê aquele cara ali? – apontei, sem a menor cerimônia, para um rapaz muito bonito, moreno e alto, que estava sentado em um canto olhando para o celular.
- Hmmmm... Delícia! – Claire aprovou, e eu ri.
- Vou dançar no colo dele.
- Ah, agora você é stripper? – ela gargalhou. – Espero que ele tenha notas de um dólar suficientes para colocar do lado da sua calcinha...
- Para aquela delícia, tô de graça – me embolei para falar, depois ri alto.
Caminhei, em passos largos e confiantes demais, porque nada naquela noite me derrubaria. Nem aquele salto quinze, absolutamente nada. Tive a sensação de que cheguei muito rápido onde o moreno estava, praticamente como um vulto, então pisquei algumas vezes.
- Olá – sorri largamente, e ele devolveu o sorriso, deixando o celular de lado.
- Olá – repetiu o gesto, depois riu. – Prazer, John.
- . O que está fazendo aí, sentado sozinho? – perguntei, vendo-o levantar e ficar muito mais alto do que eu, mesmo de salto.
- Esperando uma boa oportunidade para levantar – ele arqueou a sobrancelha, e sorriu.
- Então sente de novo, porque eu vim aqui dançar para você – eu disse, mordendo o lábio inferior, e ele pareceu um pouco surpreso, achando tudo subitamente divertido.
- É mesmo?
- Sim – eu sorri, empurrando-o levemente para que sentasse mais rápido, depois dei um pulo, ouvindo a introdução de Crazy In Love. – Hoje é seu dia de sorte, John – pisquei, empolgada e me sentindo a Beyoncé.
Patético, eu sei.
Mas todo mundo quer se sentir Beyoncé por um dia.

Foi tudo muito rápido. Eu subia e descia com a minha melhor cara sensual – Deus me livre de tentar reproduzir no espelho, tenho medo de nunca mais sair de casa de vergonha –, me esfregando de todos os jeitos possíveis em John, que parecia animadinho demais, me segurando com força pelos quadris, quase me derrubando por cima dele para que a gente postergasse a existência ali mesmo. Em um certo momento, ele levantou, segurando meus braços em cima da cabeça, beijando meu pescoço e movendo-se de acordo com a música, arranhando minha pele de leve com sua barba por fazer.
Foi ali, naquele exato instante, que um sofri um baque com as imagens da noite da festa de Claire, que voltaram para mim quase como um soco na cara. Lembrei de dançar com Tristan, lembrei de , lembrei da nossa briga, do nosso futuro casamento arruinado, já que ele foi um completo idiota...
E, como se desligasse um interruptor mental, eu fui do céu ao inferno em dois segundos. Arregalei os olhos e dei um passo para trás, e John me encarou, confuso com minha súbita distância.
- O que foi?
- Eu preciso... Achar alguém – disse, correndo pelo meio das pessoas, mas ainda o ouvi me xingar de quatro coisas diferentes antes que eu conseguisse de fato me afastar.
Eu queria morrer, definitivamente. Essa era minha noite! Eu deveria estar transando no cantinho escuro com John e acordar com a pele toda arranhada na prisão por desacato às autoridades ou algo do tipo...
- Cadê você, Claire? – resmunguei, afoita, mas não conseguia a ver em lugar nenhum.
E então parei, no meio da pista, decidindo que precisava de mais uma bebida. era um babaca. Eu o odiava. Não odiava? Mas que diabos!
Antes que começasse a questionar a vida, desisti de encontrar Claire e parti para o bar, decidida a tomar mais um drink ou shot e voltar para onde John estava, na esperança de ser possuída no meio da pista. Era disso que eu precisava. De um homem másculo e decidido, gostoso, e nada parecido com aquele que não deve ser mencionado.
- Dois shots de tequila, por favor – despenquei em um banco e praticamente berrei para o barman, que rapidamente colocou os dois copinhos na minha frente. Virei um deles, sentindo a garganta queimar, e apertei os olhos. – Merda, Claire! Moço, você viu a Claire? – perguntei inutilmente para o barman, que apenas rolou os olhos, me julgando secretamente, e foi atender uma garota do outro lado do balcão.
Pois saiba que eu vou reclamar de você para a gerência, bonitinho.
- Você viu a Claire? – virei para o lado, sem nem ver quem estava ali, e dei de cara com um outro cara.
Ele era branquinho, tinha os olhos e cabelos escuros e carinha de bebê. Assim como o previsto, riu baixo, me encarando.
- Não, até porque eu não sei quem ela é, desculpe – ele disse, ainda parecendo achar graça, e eu bufei.
- Vocês homens são todos uns inúteis que não sabem de nada – resmunguei, com a voz meio mole, instantaneamente irada com o rapaz bonitinho.
Coloquei a mão no meu outro shot de tequila, e ele arqueou uma sobrancelha.
- Tem certeza que você... – ele ia dizendo, quando virei o shot. – Ok, você tem certeza.
Bati o copo contra o balcão de madeira, virando o banco para encará-lo e me desequilibrando, fazendo-o me segurar pelo braço e me ajudar a voltar para o maldito assento.
- Sabe o que eu queria, garoto?
- Aaron.
- Sabe o que eu queria, Adam?
- Aaron.
- Foi o que eu disse! – exclamei, irada. – Queria poder socar todos vocês e sua raça desgraçada, para vocês aprenderem a não agirem como uns malditos e arruinarem nossas vidas sem motivo, mas isso aparentemente não é da minha ossada.
- Alçada – ele disse, prendendo o riso.
Fiz um barulho estranho com a boca, e meus olhos se encheram de lágrimas.
- Adam, você é tão inteligente – disse, com os olhos lacrimejando, me jogando para abraçá-lo, mas quando vi, ele já estava de pé, cuidando para que eu não despencasse do banco. – Por isso que eu gosto de você! Já disse que eu gosto de você?
- Acho que essa foi a primeira vez – ele sorriu.
- Ótimo. Sempre soube que você era inteligente. O que você faz pra ser tão inteligente?
- Sou advogado.
- Ah! Que ótimo! Então você entende dessas coisas legais... Acho que quero processar meu ex por arruinar minha vida. Existe isso? Eu gostaria que ele fosse preso por ser um idiota.
O rapaz gargalhou.
- Eu acho que você não devia tomar essas decisões com shots de tequila no sangue...
- Está falando que eu estou bêbada? Que inferno, eu confiei em você! Achei que você fosse diferente, achei que você... – prendi o choro, irada. – Argh! Tenho uma história pra te contar, Aaron, você vai me dar conselhos legais. Eu pago depois.
- Ei! Você me chamou de Aaron – ele sorriu.
- Ah, perdão! Sou mesmo muito idiota... – disse, envergonhada. - Então, Adam, nossa história começou assim...

9.

You make me feel like... Guilty


Abri os olhos lentamente, mas a luz que vinha da janela os machucava como se pequenas agulhas estivessem os perfurando. Virei meu corpo para a parede oposta à fonte da luz, para que eu conseguisse finalmente enxergar onde estava. Meu corpo todo doía, minha cabeça latejava, eu não me lembrava de nada. Mas sabia que o nome daquilo era ressaca. E, no mínimo, eu não havia feito coisa boa no dia anterior. Quando abri os olhos, notei que a parede à minha frente não era a do meu quarto. Ou do quarto de Claire. Ou de qualquer pessoa vagamente conhecida. Observei o ambiente em que eu estava. Era totalmente desconhecido. Havia algumas garrafas de bebida jogadas no chão ao lado da cama em que eu estava, mas só havia eu no quarto. Notei que a bolsa de Claire estava em uma cadeira perto de mim, o que significava que ela devia estar lá também. Subitamente, a porta se abriu, e lá estava Claire, com a maquiagem um pouco borrada e segurando uma caneca.
- Até que enfim acordou, bela adormecida! – ela disse, entregando-me a caneca. – Estávamos preocupados. Você dormiu bastante.
- “Estávamos”? Você e quem? Onde nós estamos? Que horas são? – disparei, tomando um gole de café. Claire se sentou ao meu lado na cama.
- Eu, Aaron e o pessoal todo. Aqui é a casa de um amigo deles que, pra ser sincera, não sei o nome. – ela parou, parecendo pensativa. – Ah, e são duas horas.
- Por que nós estamos aqui? Caralho, já são duas da tarde? Como você me deixa dormir tanto assim? Você é uma péssima amiga, Claire! – disse, emburrada. – Mas obrigada pelo café. – sorri, antes que ela pensasse que eu falava sério.
- Você não se lembra de nada? Eu vou ter que te contar, então, porque olha... Você aprontou. Muito. Sabe o Aaron que eu falei? Então, você...
- ESPERA! Me deixa ir ao banheiro antes, tô muito apertada! Onde é? - Claire explicou onde era o banheiro. Pus meu celular no bolso da calça e fui correndo.
Assim que saí, dei de cara com um rosto muito, muito familiar, mas que eu não sabia dizer quem era. Ele abriu um sorriso discreto, quase que de deboche. E em seguida me abraçou. Sem saber o que fazer, acabei abraçando de volta.
- E você é...? – Assim que nos desvencilhamos do abraço e eu pude observar seu rosto com mais calma, imagens da noite anterior vieram à minha cabeça. Eu instantaneamente entrei em pânico. E eu lembrava, um pouco, o que tinha acontecido. E sabia por que ele tinha um sorrisinho debochado no rosto. Mas claro que fingi não ter lembrado.
- Aaron. Engraçado você não se lembrar de mim... – ele riu e eu ri junto, sem querer rir de fato.
- Acho que bebi um pouco além do que eu deveria ontem... – Não fazia diferença, na verdade, eu só não queria ter desabafado com um estranho. E ainda mais gato como Aaron. Era mais humilhante do que eu podia suportar. Senti que meu celular começou a vibrar no meu bolso da calça, pra me salvar daquela situação embaraçosa. – Aaron, com licença, tenho que atender! – Falei, apontando para o celular, e ele concordou com a cabeça, sorrindo. Então, finalmente, olhei para o visor. E era ele. De novo. O celular continuava vibrando. Eu não ia atender, queria que ele sentisse na pele o que senti. Deixei que chamasse até cair na caixa postal. Voltei para o quarto e me deparei com Claire, que estava distraída mexendo em seu celular.
- CLAIRE! Como você não me conta que Aaron era o cara com quem chorei as pitangas? Eu acabei de encontrá-lo no corredor e foi terrível! Lembrei que tinha pagado mico ontem. – Abaixei o tom de voz. – E me ligou de novo.
- Mas eu ia te contar, doida, você que saiu correndo antes que eu pudesse terminar. – ela disse, rindo. Por que todos estavam felizes hoje? Eu não estava achando a tal da felicidade. – Fica tranquila, , o Aaron é o menor dos seus problemas. Você fez coisas muito piores.
- Eu fiz? - Suspirei.
- Espera aí, ligou de novo? E você...? – Ela ignorara minha pergunta. Eu neguei com a cabeça, querendo dizer que não queria falar sobre isso. Ela deu uma pequena pausa, entendendo. E então respirou fundo, como se estivesse se preparando pra contar a história da bíblia de cor. – Você dançou no colo de um cara desconhecido – que estava de pau duro, aliás – enquanto bebia uma garrafa de tequila inteira no gargalo, pegou um outro cara, quebrou essa mesma garrafa de tequila, quase que arranjou uma briga por causa dos dois caras que você pegou, porque você fez uma espécie de revezamento entre eles; e aí apareceu o Aaron. Na verdade, você ouviu aquela música e ficou muito, muito deprimida, então começou a se lamentar para Aaron, que tinha tentado ficar com você, mas percebeu que não conseguiria quando você abriu o berreiro e começou a falar sobre o .
- O QUÊ? Eu comecei a falar sobre ? Pro Aaron? – Eu queria virar um avestruz, enfiar a cabeça em um buraco e nunca mais tirar. – E por que eu fiz tudo isso? Eu não estava bem? Por que eu comecei a chorar quando a música começou a tocar?
- Ora, porque bêbados são emotivos. E espontâneos demais. Você só externou – pra um cara muito gato até então desconhecido, isso é verdade – o que está acontecendo dentro de você. – Ela dizia, e eu percebi que ela tentava me dizer outra coisa. – E você sabe muito bem por que começou a chorar.
E, aí, eu entendi.
Eu sentia falta dele e por mais que eu procurasse me divertir com outras pessoas, eu não encontrava em nenhuma delas a mesma coisa que eu sentia por . Eu jamais conseguiria encontrar, e isso porque era único. Era especial, era a pessoa que mais me fazia bem.
Senti meu celular vibrar novamente. Era ele. Claire olhou para a tela do meu celular.
- Você não vai atender, de novo?
- Eu não sei se consigo. Ele está tentando falar comigo e eu não tenho a mínima coragem de falar com ele depois de ontem. Que vergonha! – O celular continuava vibrando, eu queria atender, mas não conseguiria.
- Você estava bêbada, amiga, não tem que ter vergonha, não. Todo mundo já passou por isso uma vez na vida e, além do mais, ele nem sabe de nada.
- Claire, não tente deixar melhor, você sabe que eu fiz coisas erradas desde que eu e terminamos. E ele pode não saber, mas eu sei.
- Não foram erradas... Você estava solteira. – Ela disse, como se fosse óbvio.
- Não, Claire! Não foram erradas porque eu era comprometida. Foram erradas porque eu fiz por vingança. – Eu disse, e ela pareceu compreender. – E pior, fiz pensando em como isso o afetaria. – Falei, devagar. – Eu sou uma idiota! – peguei minha bolsa, que estava ao lado da cama, e desci as escadas correndo, sentindo que minha cabeça explodiria a qualquer momento. Claire não questionou aonde eu ia. Quando Aaron me chamou, no entanto, senti que deveria ao menos dar alguma satisfação a ele.
- Já vai, ? Aconteceu alguma coisa? – Ele não parecia debochar, sua preocupação era sincera.
- Acho que você já sabe, mas... Eu percebi que ainda gosto do meu ex. E estou indo tentar falar com ele. – Abri um sorriso discreto.
- Sim, eu já sabia, mesmo. Ouvi bastante sobre ele ontem. – ele riu. – , né? – Eu fiz que sim com a cabeça. – Só posso te desejar boa sorte. Você gosta mesmo desse cara. Tive vontade de ser ele por uns minutos, ontem! – ele disse, dando risada. Não me contive e ri junto.
- Me desculpe, Aaron. Você é uma ótima pessoa. – Falei, rumo à porta, dando um tchau de longe para as outras pessoas. – E obrigada por me ouvir! – Ele sorriu, e eu saí da casa.

10.

You make me feel like... Spunky


Fiquei pensando umas mil vezes antes de, finalmente, apertar o botão para chamar o elevador. O hall de entrada do prédio ainda estava vazio, faltavam algumas horas para terminar o expediente, mas se eu tivesse que ter certeza de um lugar onde estaria, esse lugar seria seu local de trabalho. Esperei (im)pacientemente o elevador me levar até o décimo segundo andar. Me olhei no espelho e vi o estado deplorável em que eu me encontrava: a maquiagem borrada, o cabelo bagunçado e a cara toda amassada, denunciando que eu havia acabado de acordar. Tentei dar um jeito nos cabelos, prendendo-os de qualquer jeito, e passei as mãos perto dos olhos, tentando tirar as manchas pretas que ocupavam todo o espaço. Eu continuei com uma aparência péssima, mas não parecia mais com uma mendiga e sim com qualquer pessoa de ressaca, o que já era ruim o suficiente. Assim que as portas de metal se abriram, caminhei rapidamente até a recepcionista, que me olhava estranho desde antes de eu passar pelas portas de vidro.

- Oi, Rose. – falei baixo, esperando que ela ainda se lembrasse de mim. – Tudo bem?
- Tudo certo, . Não sabia que você e o tinham voltado, fico feliz por...
- Não, nós não voltamos. – murmurei, vendo sua expressão se tornar algo próxima a um pedido de desculpas. – Eu só preciso falar com ele. O tá aí?
- Sim, tá na sala dele. Deixa eu avisar que você chegou. – ela disse, pegando o telefone.
- Hmm, o único problema é que ele não sabe que eu estou aqui. Caso ele peça para avisar que não está, fale que eu sei que ele está aqui e que não vou embora. – vi que ela ponderou por alguns instantes, mas logo concordou. Ela discou os números do ramal dele e falou que eu estava na recepção, foram alguns longos segundos entre o momento em que ela falou o meu nome e quando ela voltou a falar. O “ok” que Rose pronunciou não me dizia muita coisa, então tive que aguardar enquanto ela demonstrava muita calma colocando o telefone no gancho sem nenhuma pressa.
- Ele vai te receber, você ainda lembra onde é? – ela perguntou, enquanto eu avançava pelo corredor e respondia um “sim” já no meio do caminho. Virei no corredor e parei abruptamente quando vi que ele me esperava na porta da sua sala. Ele me encarava de uma forma que eu não conseguia decifrar, talvez algo entre a confusão e a frustração. Fazia tanto tempo que não nos víamos que eu já tinha esquecido como ele era lindo, principalmente quando parecia chateado ou estava sério. Depois de alguns segundos, ele entrou em sua sala e deixou a porta aberta, num claro convite para que eu o seguisse. E foi o que eu fiz.
O lugar ainda era exatamente como eu lembrava o que era estranho, principalmente por ainda ter a nossa foto no mesmo lugar, como se ele tivesse se recusado a tirar. A foto era do nosso primeiro aniversário, quando fomos jantar num restaurante tailandês péssimo, que nos deixou passando mal pelos dois dias seguintes, mas foi uma das melhores noites da minha vida, porque foi quando eu percebi o quanto eu o amava. Quer dizer, o quanto eu o amo.
- Eu ainda não consigo comer Pad Thai, meu estômago revira só de lembrar. – comentei, enquanto sorria de lado e apontava para a foto. Ele olhou a foto, voltou a me olhar e depois encarou seus pés.
- O que você quer, ? – ele perguntou, usando meu nome no lugar do apelido. Fazia muito tempo que eu não o ouvia falar assim comigo.
- Quero conversar com você. Quero me explicar e, principalmente, me desculpar.
- Estou em horário de trabalho, não tenho tempo pra isso agora, não depois de tanto tempo. – soou mais grosso do que eu esperava, mas não me abati. Não teria essa coragem de novo, era agora ou nunca mais.
- Ok, eu te espero. Espero uma, duas ou até mesmo dez horas, mas eu preciso e vou falar com você hoje. Não é uma opção pra você. – imitei seu tom de voz, por mais que não quisesse que a conversa começasse como uma discursão. Ele me encarou por um tempo e depois suspirou, levantando de sua cadeira e pegando o paletó no encosto.
- Não quero falar sobre isso aqui, vamos lá pra casa, é melhor. – falou, passando por mim e abrindo a porta, esperando que eu saísse. O segui até o elevador, acenando para Rose no caminho. Ele lhe disse que ficaria fora pelo restante do dia, pois tinha uns problemas pessoais para resolver. Me assustei com sua reação, porque nunca tinha priorizado muitas coisas além do seu emprego, não consigo me lembrar um dia sequer que ele tenha saído mais cedo para resolver outro problema pessoal. Me senti até lisonjeada, mas logo vou para a realidade, porque a forma dura que ele estava me tratando denunciava logo que qualquer aproximação minha poderia resultar num tremendo fiasco.
Descemos até o estacionamento e ele seguiu para os seu carro. Nesse exato momento eu lembrei da nossa briga na casa da Claire e senti um nó se formando em minha garganta, porque percebi o quão idiota, imatura e infantil eu havia sido. também deve ter se lembrado, porque sua expressão não era das melhores quando abriu a porta para que eu entrasse. E o climão se instaurou por todo o trajeto, porque nenhum dos dois se sentia seguro o bastante para iniciar uma conversa, por mais que o assunto fosse aleatório, como o clima ou a família. A tensão era quase tocável e parecia estar me consumindo, me sentia quase sufocada, tanto que me obriguei a abrir a janela para conseguir respirar.
Quando chegamos à casa dele, esperei que ele abrisse a porta antes de me aproximar muito. Ele abriu e não me esperou para entrar, sumindo pelo corredor antes que eu pudesse chegar ao menos até o meio da sala. Olhei ao redor, sentindo mil lembranças surgirem em minha mente ao mesmo momento, me tornando uma completa bagunça internamente. Cada coisa estava no mesmo lugar até mesmo um par de pulseiras que deixei sobre o parador que ficava no canto da sala. O móvel estava limpo, o que indicava que limpava a casa, mas ainda assim deixa minhas pulseiras no mesmo lugar depois. Senti meu coração acelerar, porque isso não poderia não significar nada, assim como a nossa foto ainda estar no seu escritório. Ainda devia haver algo de mim em seu coração, pelo menos eu esperava que sim.

- . – sua voz me assustou, fazendo com eu deixasse as pulseiras caírem. Recolhi rapidamente, colocando no lugar.
- Por que você ainda guarda isso? Melhor, por que isso ainda tá aqui no mesmo lugar? – perguntei, vendo-o passar a mão pelos cabelos, meio desconfortável.
- Por que você acha? – ele apoiou no sofá, cruzando os braços. – Você sabe que eu não sou homem de fazer joguinho, fingir ou esconder as coisas. Eu deixei duas coisas nesse mesmo lugar e a nossa foto no escritório porque eu não aceitava o fato de que deveria te esquecer, nem cogitava essa hipótese. Só que você agiu de forma tão infantil comigo, que eu não sabia se deveria te procurar ou apenas esperar que você saísse da minha cabeça de uma vez por todas.
- , eu não quero brigar... – murmurei baixinho, balançando a cabeça.
- Eu não estou brigando, estou conversando com você como pediu. Só estou sendo bem franco, da forma que eu sempre fui, principalmente com você.
- Então eu também serei franca, . Eu fui muito estúpida com você, mas não é como se você fosse inocente, porque me acusou de algo absurdo. Você realmente achou que eu teria algo com o Tristan, ainda mais na casa e na festa da Claire? Não tive direito a explicações, você supôs uma coisa e aceitou como verdade absoluta. Não vim te procurar para brigar mais, só que eu sinto como se nós tivéssemos mil coisas entaladas e precisamos colocar para fora e é isso que eu farei. – respirei fundo, vendo que a armadura dele caía pouco a pouco, conforme minhas palavras o atingiam. – Eu sempre tentei ser correta, certa pra você, mas eu não consigo. Não sei ser metódica, previsível e organizada. Eu sou uma bagunça, , sempre fui. Tentei me arrumar pra você, mas não consegui e acho que ainda não consigo. Sou impulsiva a ponto de vir aqui e falar isso tudo pra você. Sou corajosa a ponto de engolir o meu orgulho e te pedir desculpas. Você era o meu ponto de referência, meu porto seguro. Pra onde eu voltava sempre que o mundo parecia louco demais. Sem você, eu me tornei uma confusão, não há mais nada arrumado dentro de mim. Nem eu me entendo mais. – parei para respirar e lutar contra uma vontade louca de chorar que me dominava. – E eu tenho sentido tanto, tanto, tanto a sua falta, que acho que nem sei mais quem sou. Na verdade, eu não sei mais de nada da minha vida, a não ser que eu te amo. Amo muito, mais que tudo. – parei novamente, perdendo a batalha contra as lágrimas, que desceram pelo meu rosto de forma meio descontrolada. me encarava com uma expressão confusa, ele arriscou um passo em minha direção, mas parou, fechando os olhos com força.
- Sabe qual o problema, ? Você é confusa demais pra mim, eu nunca soube lidar com a sua forma livre de ver o mundo e todas as coisas. Você sempre levou tudo numa boa, sem se preocupar. É assim com o seu trabalho, suas obrigações e foi assim comigo. Eu não sei viver assim. – sua voz falhou no final da frase, mostrando que ele estava tão mexido com a situação como eu estava. Naquele momento sua armadura já havia virado pó e seus olhos denunciavam que as lágrimas também queriam rolar, mas ele segurava firme. sempre foi o mais forte de nós dois, em todos os aspectos. – Não sei viver sem horários, sem prazos ou planos. Não sei viver com suas coisas jogadas pelos cantos ou com suas mudanças bruscas e repentinas de humor. Não sei viver com suas ligações de madrugada ou seus longos períodos sem dar notícia. Mas sabe o que é pior? – ele parou e eu vi que ele mordia fortemente o lábio inferior, da mesma forma que agia quando precisava segurar o choro ou manter a calma. Ele se aproximou de mim, parando perto o bastante para que eu pudesse tocá-lo. esticou uma das mãos, colocando-a em meu queixo e fazendo com que eu o olhasse. – O pior é que, apesar disso tudo, eu não sei viver sem você.

11.

You make me feel like... Spicy


O pior é que, apesar disso tudo, eu não sei viver sem você. Essa frase ecoou por minha cabeça por alguns segundos e eu precisei respirar fundo para não perder o foco da conversa. Embora ele falasse baixo, sua voz profunda e a tensão naquele momento me deixavam em estado de alerta. Soltei um suspiro e olhei para o teto, piscando algumas vezes para conter as lágrimas.
, tudo fica incompleto sem você! — Eu disse com uma voz tão baixa que quase não entendeu. Meu coração palpitou e eu senti minhas mãos começaram a formigar. O meu estômago pareceu entender que o momento era o exato para ter aquela típica sensação de borboletas. Não sei o que estava sentindo, mas não era hora para uma parada cardíaca.
Engolindo um nó na garganta e todas aquelas sensações estranhas, eu o encarei esperando suas próximas palavras.
O silêncio, atordoado, que percorreu o apartamento nesse momento foi assustador.
Demorei tudo isso para perceber que ele era o homem da minha vida?
— Eu estou aqui. — Ele, curvando-se, roçou levemente seus lábios no meu rosto.
— Por quanto tempo? — sorri fraca, me rendendo. O simples toque dele me fez derreter e não querer nada além de seus braços.
O calor do seu corpo passou por mim e me veio a imagem de nós dois trocando carícias antes do fim do namoro.
Eu amava o gosto dele, o modo como ele me beijava e a maneira que ele me dominava. Tão intenso, tão feroz, o leve tato da sua barba esfolando a pele suave ao redor da minha boca. Deus, eu estava tentando me controlar.
— Todo tempo! — Ele sussurrou com um sorriso firme no rosto.
— Mesmo? — Encontrei novamente esse sorriso largo e verdadeiro que não via há muito tempo.
Fiquei tensa, mesmo sabendo que ele estava tentando me deixar à vontade.
— Preciso de você! — colou seu corpo, certificando-se que eu pudesse sentir seu peito contra o meu.
! — Fechei os olhos, concentrando-me nas sensações. Até conhecer , eu nunca soube que seria possível me sentir tão feminina e desejada.
! — Sem pensar ele estendeu a mão e, lentamente, empurrou uma mecha do meu cabelo de lado.
, por favor. — Algo ocorreu dentro de mim nesse momento.
— Você gosta quando eu faço isso. — Ele inclinou-se, colocando a boca em minha orelha.
— Você sabe que não pode fazer isso comigo. — Minha respiração ficou presa e então gemi quando a sua boca deslizou acariciando meu pescoço. — Ai, ferrou!
— Você é linda. — Suas mãos acariciaram minhas costas e então deslizaram sob meu vestido. pressionou seu quadril contra o meu e nesse momento pude me ver submissa a ele.
Nós não estávamos tentando conversar, apenas começamos a nos beijar com urgência, os corpos esmagados um contra o outro. Ele mordeu meu lábio inferior, uma coisa totalmente inesperada da parte dele.
— Então você quer? — sussurrei, mas ele cobriu meus lábios novamente.
Meu coração acelerou à medida que ele colocava pressão nos meus lábios. Senti meu corpo arrepiar e responder aquele impulso desesperado de beijá-lo. Ele mergulhou sua língua na minha boca e segurou ainda mais firme o meu rosto em suas mãos. Seu beijo era duro, intenso.
Sua mão agarrou tão forte meu cabelo que minha cabeça involuntariamente foi para trás.
— Oh, Deus! — eu não seria capaz de me controlar.
Nesse momento, pude me ver totalmente dominada e enlouquecida por . Ele percorreu com a língua todo o meu pescoço e mordiscou levemente o meu ombro. Sua língua era quente e molhada e o leve roçar do seu rosto áspero contra a minha pele delicada me fez soltar um gemido suave.
— Por favor, não faça isso tão devagar! — choraminguei trêmula. Ele deslizou as mãos do meu rosto, descendo pela garganta e detendo-se na divisão de meus seios.
Em um movimento lento e sensual, ele puxou para baixo o meu vestido e lutou alguns segundos contra o sutiã.
E então senti o hálito quente de atiçar a pele macia dos meus seios.
Logo não tive mais capacidade de pensar e simplesmente me afoguei em sentimentos e no desespero de tirar sua camisa. Senti seus músculos debaixo da camisa e quase podia sentir seu coração batendo forte contra o peito.
— Sempre fui louco por você. — Sua respiração morna acariciou meu rosto e então eu voltei a sentir seus lábios firmes contra o canto da minha boca. Ele pegou meu rosto em suas mãos e passou sua língua em meu lábio inferior e suavemente beliscou.
— Eu também. — Minha expressão era de prazer e excitação, senão alguma outra coisa. Eu sabia que isso era certo. Sabia que ele precisava de mim o tanto que eu precisava dele.
Gemi mais alto quando ele mordeu meu lábio mais forte. mergulhou sua língua na minha boca, deslizando fundo e segurando meu rosto firmemente em sua mão.
Retribuindo com a mesma intensidade, mordi seus lábios enquanto tentava desfazer de sua calça comprida, minhas mãos trêmulas e desajeitadas fez com o que puxasse tudo imediatamente para baixo.
— Hoje vai ser do meu jeito!
— Ótimo! - Tentei recuperar o fôlego e falar sem um estremecimento na voz, mas foi impossível.
Senti mais uma vez o desejo de ser dominada, não queria controlar o prazer que sentia por ele. Por que ele me deixava daquele jeito? Por que eu ficava louca toda vez que ele me tocava daquela maneira?
Quando ele finalmente rompeu o beijo, ambos estávamos ofegantes. Ele ligeiramente acariciou o exterior de uma das minhas coxas com os dedos, adicionando mais sensações que queriam explodir dentro de mim.
— Que droga, você me deixa louco, mulher. — ele disse numa voz áspera com paixão.
Eu o deixava louco?
— Você não tem ideia como me sinto. — Eu disse, com a voz carregada de paixão e ao mesmo tempo séria. — Você tem me deixado louca todos os dias.
— Vou deixar você louca, agora. — imediatamente suspendeu meu corpo e eu entrelacei minhas pernas em volta da sua cintura. Ele caminhou lentamente e me colocou de costas contra a cama, deixando minhas coxas totalmente abertas. Deus! Ele me faz perder a razão!
Senti o roçar de seus dentes contra a minha pele e não pensei em mais nada naquele momento a não ser o toque suave e os arrepios que ele estava causando por todo o meu corpo. e sua ótima habilidade com a língua. Fui obrigada a suspirar só imaginando o que estaria me aguardando daqui alguns minutos.
Claro que eu sabia o que ele iria fazer. Ser sua ex namorada me dava privilégios para imaginar qual é o primeiro passo quando ele joga alguém daquela maneira na cama. Ah! Ele vai me fazer de gato e sapato hoje.
! — Gemi quando a boca dele foi se aproximando cada vez mais da minha virilha. Friccionei meus dentes contra os meus lábios e agarrei o lençol da cama, contendo os gritos involuntários. Ele encostou levemente sua língua úmida e quente iniciando movimentos rápidos que me fizeram sacudir, a sensação tão forte como se uma corrente elétrica percorresse meu corpo.
— Não pare! — eu implorei. Meu corpo começou a ficar trêmulo e excitado, senti o orgasmo chegando enquanto ele me acariciava e beijava. Não vou conseguir me controlar por muito tempo. Droga! Sou fraca.
O vai e vem da sua língua entre minhas coxas começaram a ficar mais intensos e senti um impulso de gritar. Controlei parte desse impulso pra não parecer que eu estava sendo uma maluca que fica gritando e gemendo a cada minuto.
Por favor, ! Não pare!
me segurou com mais força quando minhas coxas começaram a tremer com o seu toque.
O agarrei pelo cabelo e soltei um longo gemido. Juro, esse homem conhecia muito bem meu corpo.
Justo quando não podia mais aguentar, parou.
— Eu te amo! — ele murmurou tentando controlar sua respiração. agarrou meu quadril e o trouxe para perto dele.
Em resposta capturei sua boca com a minha e meu corpo tremeu em surpresa quando ele empurrou fortemente seu corpo contra o meu. Manteve o movimento rápido, me levantando e abaixando. Eu sabia pelo toque de suas mãos, o ritmo de suas carícias, assim como sabia também o quanto o amava.
— Você é minha. — ele disse, sua voz cheia de posse e de poder, ele lentamente começou a empurrar segurando em meu ombro. Joguei a cabeça para trás e meu corpo se endureceu enquanto ele me apertava contra o dele.
Gritei.
Veio do nada, talvez excitação na forma que ele me segurava.
Queria passar minhas unhas ao longo de suas costas, apertando até o seu traseiro onde o agarrei com minhas pernas com força com a qual ele havia começado.
Gradualmente ele aumentou o ritmo, batendo mais duro e mais forte a cada segundo.
Quando ele finalmente não pode esperar mais, urrou.
O calor queimou meu corpo como se estivesse em fogo, um turbilhão de emoções se intensificaram por saber que ainda me amava da mesma maneira. Ainda sentindo o seu corpo pressionado contra o meu e sua respiração acelerada. Sorri me sentindo amada novamente. Nada e ninguém jamais pareceu tão maravilhoso como .

12.

You make me feel like... Complete


Já era manhã.
Não que eu tivesse aberto meus olhos para constatar, mas meu corpo sabia. Minhas pálpebras fechadas também, já que a luz que entrava pela janela era forte o suficiente para incomodar levemente minhas córneas.
Mas nada disso me irritava realmente, como tem acontecido nos últimos meses. Porque acordar sabendo que a pessoa que está ao seu lado é quem você ama já é motivo suficiente para fazer todo o resto parecer insignificante. Ah, se essa sensação durasse para sempre…
Abri meus olhos, apenas para ter aquela certeza que faria o meu coração se encher de ternura. A certeza de que era ele ali, ao meu lado, respirando pesadamente com o cabelo levemente desgrenhado.
Eu adorava cada pedaço dele. Era como se ele tivesse sido exclusivamente esculpido por alguma criatura divina, porque seu corpo era a coisa mais atraente do mundo para mim. Seus ombros largos eram o sustento perfeito para seus braços fortes e suas mãos grandes. Suas pernas longas e grossas - como eu adorava as coxas dele - davam o toque final.
Meu breve olhar por todo o seu corpo trouxe de volta todas aquelas sensações que eu enterrei dentro de mim por meses. Escancarou, da forma mais absurda, o amor que eu sentia por ele e jamais poderia negar a quem quer que fosse.
Fechei novamente os meus olhos quando sua respiração bateu em meu rosto. Queria guardar aquele momento dentro de mim, porque tinha medo de ser apenas aquilo. Tinha medo do que me esperava fora daquele quarto, sem ele, sem o que tínhamos. Apenas respirei fundo, ignorando meu orgulho que me mandava sair dali o mais rápido possível antes que ele ferisse o meu ego. Nada disso importava.
me surpreendeu quando enterrou uma de suas mãos em meus cabelos e plantou um beijo quente e demorado em minha testa. Eu adorava quando ele fazia isso, me dava toda a segurança do mundo com um simples gesto.
- Bom dia. - Ele sussurrou em meu ouvido, fazendo meu coração bater mais forte.
Abri meus olhos mais uma vez e tive o privilégio de encarar os seus tão próximos de mim.
Sorri em resposta, tentando esconder todas as sensações que aquela situação me dava.
- Que noite! - disse num tom brincalhão, tentando quebrar um pouco o gelo. Ele tinha um sorriso torto nos lábios e suas bochechas estavam levemente coradas.
- Sim. Que noite! - Respondi um pouco fria, sem saber bem ao certo como agir. Estava com medo de demonstrar tudo o que sentia e não ser mais retribuída.
percebeu minha postura defensiva e, antes que eu pudesse me levantar da cama, sua mão segurou a minha num pedido mudo para que eu ficasse ali, pertinho dele.
- Acho que precisamos conversar. - Ele disse adotando uma postura um pouco mais séria, mas ainda assim, branda. Parecia disposto a esclarecer nossa situação. - Ontem foi incrível, mas… Precisamos nos entender. Algumas coisas ficaram bem claras para mim essa noite. Acordei na madrugada e comecei a pensar sobre nós dois. E só consegui chegar a uma conclusão.
Aquilo era novo para mim. Durante todo o nosso namoro, nunca estava disposto a resolver nenhum conflito. A cada briga, ele conseguia o meu perdão com elogios, beijos e sexo. Não conversávamos sobre os nossos erros, e nem mesmo sobre os acertos. Nossa relação havia sido corrompida, e eu não tinha muita certeza de que ele estava disposto a fazer diferente dessa vez.
- E que conclusão é essa? - Perguntei com uma postura ainda mais defensiva, como se a muralha invisível que eu tentava construir entre nós dois fosse forte o suficiente para me manter segura. Tinha medo de sua resposta, e pior: tinha medo da falta dela.
- Que você é a garota mais linda do mundo. - respondeu com simplicidade, como se estivesse me dando outro "bom dia” e sem fugir do roteiro de elogios que ele estava acostumado a me fazer a cada assunto não resolvido entre nós.
Revirei os olhos, desiludida com suas palavras. Eram bonitas e, de certa forma, chegaram até meu coração com mais facilidade do que eu esperava. O problema é que eu queria que ele dissesse algo mais.
- E eu errei com você. – admitiu ao perceber minha insatisfação com suas primeiras palavras. – Na verdade, nós dois erramos. Nós dois temos culpa nessa situação, .
Por um momento, me preparei para vestir minhas roupas e bater a porta sem olhar pra trás. Não admitiria que ele dissesse que eu errei em nossa relação, sendo que eu fiz de tudo para que desse certo. Mas... Ele tinha razão. À medida em que não gostava de expor o que sentia e resolver nossos problemas, eu deixava meu orgulho falar mais alto e não dava nunca o braço a torcer. Ficávamos naquele clima estranho, até que resolvíamos isso na cama. Não era certo.
- Você está certo. – Admiti olhando fundo em seus olhos e, para minha surpresa, ele não demonstrou insegurança e sustentou o olhar. – Nossas personalidades conflitam, mas... Deu certo por um tempo. Por que a gente desistiu de fazer funcionar?
- Eu percebi que estava te amando mais do que eu jamais me permiti amar alguém. Não estava acostumado com isso. – Ele segurou firme minha mão, e só então me dei conta de que ainda estávamos deitados na cama, nossos corpos um de frente para o outro e nossos rostos tão próximos que eu sentia suas palavras pularem de sua boca para a minha numa sintonia perfeita. – Você virou meu mundo de cabeça para baixo. Me tirou do sério tantas vezes, mesmo sem fazer nada, simplesmente por ser a garota que eu amo.
- E você acha que foi fácil pra mim? – Falei baixinho, sendo tomada de assalto por uma vontade de chorar, que eu me esforcei muito para segurar. – Amar um mulherengo como você, sendo orgulhosa como sou? Isso desgastou a nossa relação. Doía tanto a cada briga, e eu queria baixar a guarda, mas... Meu orgulho não me permitia. Sem falar no ciúmes...
- Eu sou seu, . – acariciou minha bochecha e um sorriso leve enfeitou seu rosto. – E não quero mais lutar contra o que eu sinto. Esses meses sem você foram um inferno, e eu espero que me desculpe por ter sido um idiota colossal com você.
Sorri com suas palavras. Aquilo não era tão difícil quanto eu pensei que fosse. Por que não dialogávamos mesmo?
- Eu te desculpo, se você me desculpar por ser tão cabeça dura e orgulhosa.
sorriu abertamente e meu coração inflou tanto em meu peito que minhas emoções sobrecarregadas encontraram sua saída em meus olhos como lágrimas felizes.
Nos abraçamos e trocamos um beijo calmo, sem a urgência da noite anterior. Aquele momento significava que tínhamos todo o tempo do mundo pela frente para sermos felizes.
- Eu te amo, !
- Eu também te amo, ! – Sussurrei com o rosto enterrado em seu peito e seu perfume invadiu minhas narinas. Não havia nada mais certo do que aquilo. Apesar das brigas, da falta de diálogo e de paciência e do excesso de silêncio que permeou nossa relação, o amor falou mais alto. E enquanto houver amor, haverá vontade para fazer tudo dar certo e felicidade para aproveitar todos os momentos.
Enquanto houver amor, haverá a sensação de que estou, mais uma vez, completa.



FIM



Nota das autoras

Nana: Queria muito aproveitar a oportunidade para agradecer à Viviane por ter me chamado pra fazer parte da equipe e às meninas por termos escrito essa fic todas juntas. Foi uma honra e uma experiência interessante escrever desse jeito tão diferente pra mim, que nunca escrevi com ninguém. Beijo grande!

Marii-Marii: Bem, eu tento me livrar dessa equipe, mas essas meninas não me deixam em paz, então desisti de resistir e resolvi aceitar meu destino com elas! Fui convidada para um especial deveras diferente, mas que só podia dar certo: isso porque minhas amigas estavam envolvidas, e elas são do tipo que, quando se predispõem a fazer algo, pode ter certeza que vai funcionar, e muito bem! Só queria dizer que foi um ótimo desafio participar da construção dessa fanfic, e que espero que o leitor tenha se divertido tanto quanto eu. Um beijo, Mari.

Lilá: Nossa, há quanto tempo eu não escrevia! Que saudade! HAHAHA Adorei esse desafio! Espero que vocês se divirtam como eu me diverti. Parabéns, FFOBS!

Vivi: Difícil escrever uma fanfic em grupo e no fim fiquei tão surpresa com tudo combinando certinho. Nada como escrever essa fanfic com todas da equipe. Foi muito bom e feliz aniversário ao meu amor FFOBS!

That: Essa foi a fic mais legal que já escrevi e justamente porque foi feita por mil pessoas, uma loucura só. Queria dizer que amo muito toda essa equipe e tive que voltar porque não estava aguentando de saudade, meu coração estava aqui. E, parafraseando McFly, home is where the heart is. <3 Beijo da That.

Carol: Nem posso acreditar que eu fiz parte dessa loucura que foi essa fanfic em conjunto! Espero que todas que leram tenham gostado e que consigam descobrir quem escreveu que parte, porque, sério, é muito difícil! Amo cês todas, equipe <3

Cah: Yey, mais um aniversário do FFOBS! Parabéns a esse site lindo e maravilhoso <3 Espero que gostem desse especial que deu tanto trabalho pra essa equipe linda, mas ficou amor demais! E sobre adivinhar quem escreveu o que: may the odds be ever in your favor!

Ana/Bird: Oi, oi, oi! Como vão vocês? Fazendo minha parte nessa N/A de cinquenta mil (?) pessoas: espero que tenham gostado! Nós demos um duro danado para fazer essa fic sair, hahaha. Se você por algum acaso descobriu qual a minha parte, espero que tenha curtido! xxxx

Van: Oi, pessoal! Sobre essa fanfic, em poucas palavras: foi bem confuso, mas muito divertido escrevê-la! hahaha Fizemos com muito carinho e esperamos que tenham gostado! Boa sorte pras que vão tentar adivinhar quem escreveu o que! haha Beijinhos <3

Bih: Oi, gente, eu, pra variar, não tenho tempo nem pra escrever a n/a direito HAHAHAHA desculpem a correria, boa sorte na hora de adivinhar quem escreveu cada parte... E não briguem comigo depois que descobrirem que a minha não foi tão caprichada! HAHA mas ó, essa fic foi feita pra vocês pela nossa equipe com muuuito carinho! Divirtam-se :)

Teesh: Diz negada! Tenho quase certeza de que ninguém sabe quem eu sou, por isso ninguém vai acertar minha cena. Ou vai acertar por eliminação rs. Boa sorte e espero que tenham gostado do nosso pequeno projeto. <3

Vii: Minha nossa, acho que não escrevo absolutamente nada há uns 3 anos. Adorei ter participado dessa fic e me diverti muito nessa escrita coletiva. Muito bom poder voltar a esse universo, mesmo que aos poucos. Espero que gostem da fic. Beijos.


Nota da Beta: Oi, pessoas lindas! Foi tão gratificante betar essa fic! Espero que tenham gostado, as meninas se empenharam bastante e na minha humilde opinião, ficou ótima!
E parabéns, FFOBS! <3





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