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01.
So don't you let her, oh, get under your skin
encontrava-se deitada no sofá desbotado de sua kitnet, olhando sem ver o que passava na televisão de última geração que ganhara de seu pai. Um presente esnobe com o objetivo claro de fazê-la lembrar da boa vida californiana que costumava levar. Mas, naquele momento de sua juventude, pouco se importava. Estava relativamente bem naquela kitnet alugada; não era a grande casa em que vivia com os pais, Paul e Clarissa – seus irmãos –, estava mais para um cômodo mal divido, com algumas infiltrações e um leve cheiro de mofo. Temporário, era o que pensava para seu próprio conforto. E, afinal de contas, estava em Nova York, talvez não no New York Times, não morando em Manhattan. Mas ela estava começando e só podia agradecer por ter um emprego, ainda que fosse apenas uma mera jornalista preenchendo o obituário do tabloide local.
E sim, ela sabia, não havia nada de glorioso em sua situação, mas mesmo assim, considerava-se uma vitoriosa. Exceto por uma coisa, a coisa que a estava enlouquecendo nos últimos dias e, para este fato insolente, não havia remédio, senão abrir-se para o mundo de uma forma que ela nunca antes se permitira. Isto significava engolir todo o seu orgulho que não aceitava nem mesmo um dólar de seu pai cair em sua conta corrente, ainda que por vezes passasse semanas sem almoçar feito gente. Alguns presentes ela aceitava de bom grado... Dinheiro? Nem pensar!
Seu orgulho também não permitia que ela fizesse outras coisas, como admitir para as pessoas que estava enlouquecendo por estar em casa em plena sexta-feira à noite, depois de uma semana pesada, em que ela tivera que cobrir a jornalista titular da editoria de política, às vésperas das eleições. Muito melhor e promissor que sua seção voltada para os mortos, mas extremamente cansativo e psicologicamente desgastante. Ainda mais quando o candidato do Partido Republicano tinha feito uma generosa doação ao jornal e suas convenções políticas não se encontravam na mesma direção do veículo para o qual trabalhava. Também não podia se refugiar na imparcialidade jornalística tendo em conta que mesmo que escrevesse o texto mais pró-democrata do universo, seu editor a chamaria em uma sala e a faria reescrever todo o texto. Durante esses dias, se perguntou se não seria melhor voltar para a Califórnia e cuidar dos negócios do pai. Foi a primeira grande decepção que teve com o jornalismo.
agora tamborilava os dedos na própria coxa e respirava fundo, tentando controlar toda eletricidade que passava por seu corpo. Ela olhou para o relógio na parede. Passava das dez e meia da noite, e ela não tinha um tostão furado para fazer as estripulias que tinha em mente. Cair na noitada underground do Brooklyn, se jogar em uma boate cara de Manhattan ou mesmo ir para o O'Connell Pub, tomar umas jarras de cerveja e dar umas boas risadas, depois voltar em passos trôpegos para casa.
queria outras coisas também, coisas que a faziam ficar de olhos turvos só em pensar, coisas que faziam sua mão apertar a coxa, primeiro lentamente, depois voraz, com intuito de conter seus instintos, mas sem obter sucesso. Ela ajeitou-se pondo a cabeça no braço do sofá, olhou para o teto e respirou fundo. era orgulhosa até consigo, não estava acreditando no que iria se suceder. Era o cúmulo daquilo que ela costumava chamar de “foreveralonismo”.
Inspirou.
Expirou.
Antes que pudesse se conter, estava deitada, com os pés firmes no sofá, os joelhos suspensos. Sua mão esquerda foi para seu seio esquerdo, ultrapassando a barreira de sua camisola decotada em poucos segundo, e a outra mão, a direita, foi subindo por sua coxa e então descendo lentamente, de forma firme, como ela gostaria que um homem fizesse. E então ela o imaginou, com os lábios em seu corpo e de alguma forma inexplicável sentiu gotículas de suor se formarem em sua testa. Ela estava ficando louca. Fechou os olhos, e os dele vieram em sua mente: , penetrantes. Depois ela se lembrou do peitoral do rapaz que insistia em ficar sem camisa todas as vezes que ia para sua kitnet, sempre esquecendo que ela, , era uma jovem em abstinência há um ano. Sim, ela o estava imaginando e não era a primeira vez que pensava nele dessa forma. Às vezes se sentia culpada, porque eram amigos, grandes amigos, mas naquele momento ela decidiu que não se importava; se não podia tê-lo fisicamente, por que não se deixar ludibriar por aqueles pensamentos lascivos e altamente pornográficos? A imaginação não é a melhor das qualidades do cérebro humano?
Ela sorriu com esse pensamento e deixou que sua imaginação corresse solta e sua mão desceu mais um pouco, até a sua virilha, e ela se perguntou o que aconteceria se fossem os lábios dele ali. Apertou o seio com mais força e, sem conseguir se segurar, começou a massagear seu clitóris, deixando escapar baixos gemidos. Ah, como ela queria um bom sexo oral, ela seria capaz de qualquer coisa por sexo oral, para que ele a chupasse bem ali, onde ela estava movimentando seus dedos tão incessantemente. Comprimindo os grandes lábios, abrindo-os, detendo-se no clitóris mais uma vez. Então penetrou dois dedos, mas antes mesmo que pudesse chegar até ao fim ou lamentar-se por não ter cortado as unhas, seu celular começou a tocar escandalosamente, acordando-a daquele fabuloso momento erótico. Tanto tempo sem um orgasmo e finalmente a coragem para se masturbar viera, logo era ela contra ela. Só que na modernidade, sempre podemos contar com aparelhos eletrônicos para cortar os maiores prazeres da vida, inclusive uma masturbação altamente conectada com sua imaginação e todos seus instintos primitivos.
Se fosse outra pessoa, provavelmente continuaria, mas tinha um sério problema de concentração se tratando de celulares tocando. Soltou um urro de raiva bem alto, levantou-se desajeitadamente e pegou o celular sem nem olhar para o visor.
- Alô – atendeu mal-humorada.
- ? Você está em casa?
O coração dela congelou. E depois acelerou. Ela não podia acreditar que era a voz de que estava ouvindo. De repente se sentiu tão envergonhada! Ele era seu amigo, aquele que a ajudara a subir com os móveis velhos, a pintar seu quarto, aquele que cozinhava tacos para ela em domingos monótonos. E que estava solteiro há apenas duas semanas, provavelmente ainda lamentando o rompimento com a sua quinta namorada naqueles dois anos e, como sempre, provavelmente estava ligando para reclamar sobre como nada dava certo para ele.
- ?
Aquilo não podia ser verdade. Não podia. Era sua imaginação deturpada. Era isso. Seu subconsciente estava pregando uma peça nela. Só Freud podia explicar, mas ele estava morto, então a quem recorrer?
- Oi?
- ? Você está em casa?
Oh céus, era ele mesmo! Como ela poderia lidar com essa situação? Tinha que se acalmar. Respirou fundo antes de responder.
- Ah, sim. Por quê?
- Eu estou na portaria do seu prédio, já que você recusou todos os convites para sair hoje, e não só os meus, como os da Carol e da Katie.
gelou. Como assim, estava indo para sua casa depois de ela tê-lo imaginado fazendo sexo oral nela e quase ter tido um orgasmo com isso? Para piorar, fazia mais de um ano que ela não transava, ela estava pior que lagartixa subindo pelas paredes.
Não, aquilo não estava certo.
- Ah, , eu estava quase dormindo.
- , eu estou cheio de sacolas aqui embaixo. Você poderia fazer o favor de pedir para o seu porteiro liberar a minha passagem?
O tom de voz dele parecia levemente impaciente, e ela podia imaginá-lo cheio de sacolas, com o telefone no ouvido. Sorriu discretamente com a imagem.
- Ok, . Só um instante – ela desligou o telefone e foi direto para o interfone, que ficava localizado no lugar que ela costumava chamar de cozinha. Ligou para a portaria e pediu para que o porteiro permitisse a subida de , e foi só então que ela percebeu seu estado. Precisava lavar as mãos urgentemente! E, além disso, trocar de roupa.
Mas foi então que lhe veio uma ideia.
Eureka!
Por que não arriscar?
Olhou-se rapidamente no espelho. Estava vestida com sua camisola de seda azul marinho. Não era exatamente sexy, mas notou que também não era de se jogar fora. Delineava bem as curvas de seu corpo, demarcava a cintura, levemente, claro, pois estava em uma camisola, mas o caimento mostrava seus seios firmes e os mamilos enrijecidos. Muitas mulheres sentiam vergonha disso, mas naquela situação poderia ser extremamente proveitoso. Passou a mão no cabelo, agitando-o, deixando-a com um ar selvagem. Por último, verificou sua calcinha e tomou um susto. Era uma calcinha de vovozinha, o que quer estivesse planejando, não conseguiria nada com aquele pedaço enorme de pano bege. Foi correndo até seu quarto, tirou a calcinha, jogou-a em um canto do seu guarda-roupa e foi até a gaveta onde costumava esconder coisas, geralmente maconha e suas caixas de cigarros, mas sabia que lá também havia alguns resquícios que comprovavam que ela não era mais virgem, como preservativos vencidos e calcinhas mais indecentes. Ela pegou uma preta, minúscula e rendada. Vestiu rapidamente.
Ela estava mesmo pensando em concretizar o que pensara mais cedo naquele momento tão... íntimo. Começou a rir nervosamente, e antes que tivesse um ataque de pânico, a companhia tocou. E ela andou lentamente até a porta, ensaiando no caminho sua cara de sono. Mas então decidiu que cara de sono não era exatamente sexy, e ela queria parecer sexy para . Optou por ser ela mesma, ao menos alguma vez na vida isso poderia funcionar, ainda mais estando ciente de suas vestes, da sua calcinha, da ausência de sutiã. Ela tinha péssimas intenções para aquela noite. O botão “foda-se” estava ligado, ela estava tão alucinada de tesão que mal conseguia raciocinar, quase não se conteve quando abriu a porta e viu ele parado no vão, de jeans, sapatos social preto, camisa preta de manga, não muito justa, mas também não era feito um moletom folgado. O sobretudo estava pendurado no ombro, e as sacolas plásticas do supermercado do bairro encontravam-se largadas no chão. O sorriso, ah, o sorriso estava ali, como a parte mais inseparável dele. Talvez aquela fosse a coisa mais preciosa de Nova York naquele momento.
Muito embora tenha mudado de ideia sobre o sorriso de ser a coisa mais preciosa de Nova York no instante em que o sorriso alegre de se desfez e o seus olhos percorreram todo o corpo dela, agora exposto para ele como nunca antes fora possível. teve que contrair seus músculos internos para não se deixar levar por seus instintos e derrubar no chão e acabar com tudo bem naquele segundo. Mais tarde tentou descrever aquele olhar para suas amigas como se ele fosse capaz de devorá-la por inteiro, como se ele estivesse prometendo beijar cada pedacinho de cada lugar por onde seus olhos passeavam. Dizer que ela se sentiu aquecida seria um eufemismo tão grande que beirava a mentira. Ela estava quase gritando para os quatro ventos e levantando plaquinhas “vamos transar, vamos transar!”.
se conteve, e antes que olhasse constrangido para ela por ter se demorado tanto tempo avaliando seu corpo, o abraçou. Se jogou nos braços dele, ficando na ponta dos pés para passar seus braços na nuca do rapaz. Colocou o rosto na curvatura do ombro, passando o nariz levemente até o pescoço. Por um momento, ela sentiu tenso, mas depois os braços dele contornaram seu corpo magro, e as mãos dele pararam em sua cintura. Ela levantou o rosto e deu um selinho nele. Era para ser rápido, como um selinho deve ser, como eles costumavam fazer. Mas então as mãos de subiram por suas costas, firmes, apertando-a contra ele. E não pôde controlar em segurar o pescoço do rapaz, também não pode controlar quando passou a língua nos lábios dele em um movimento óbvio de que ela queria passar daquele nível de beijos amigáveis.
não recuou. Muito pelo contrário, foi como se um botão tivesse sido acionado, e agora ele estivesse completamente ligado na dela, porque as mãos dele logo ficaram ainda mais firmes e o beijo, que começou com leves puxões dos respectivos lábios inferiores, logo foi intensificando, e sentiu vontade se segurar o cabelo dele, e assim o fez, como também correspondeu quando colocou as mãos em sua bunda, pressionando-a enquanto juntava suas pélvis. E ela, propositalmente, remexeu-se um pouco, fazendo com que soltasse um suspiro no beijo. Ela supôs que talvez agora ele estivesse tão excitado quanto ela e que, também, talvez ele tivesse descoberto que ela usava uma calcinha um pouco menor que o usual.
resolveu que era hora de parar, mais um pouco e suas mãos estariam nas calças de . Ela mordeu o lábio dele quando a mão do rapaz encontrava-se em seu peito, apertando-o avidamente, e foi difícil pará-lo. Foi difícil não pegar a mão dele e não colocá-la em sua intimidade úmida. Ela colocou a mão no peito dele e o empurrou, mas fez questão de manter contato visual.
- Ok, isso foi estranho – ela falou, dando um sorrisinho nervoso, ainda mais quando aquelas pedras ainda estavam anuviadas.
A expressão de demorou a se recompor. Ele ficou um momento aturdido, sem entender ao certo o que acontecera. Provavelmente porque ele realmente viera com o objetivo de alegrar a amiga que andava sem grana para se divertir nos métodos comuns de festas regadas a dubstep, bebidas, álcool e companhias do sexo oposto. Não que ele não tivesse apreciado, na verdade, ele tinha gostado mais do que preferia admitir. Se fosse sincero consigo mesmo, lembraria das incontáveis vezes em que teve que repreender a si mesmo por conta dos pensamentos profanos com relação a garota à sua frente. E aí que ele tinha concretizado, em um momento tão ejaculação precoce que só pôde sentir vergonha de si mesmo, muito embora soubesse que também fizera sua parte, o que ele nunca na vida imaginaria ser possível. Dizer que estava aturdido era um eufemismo tão grande que chegava a beirar a mentira.
Ele balançou a cabeça e sorriu nervosamente também.
- , você é um anjinho do mal!
- Me desculpe, eu ando ansiosa. Nem tive tempo de me trocar e, bem... – agora ela estava realmente embaraçada, querendo se enfiar em um buraco direto para a Coréia do Norte e depois ser fuzilada por ser uma capitalistazinha de merda!
Ele riu estridente.
- Você sabe que eu não presto, e ainda me aparece assim?
- Olha, a culpa não é minha se você resolveu fazer surpresas do nada! Eu achei que você estivesse na Sunrise com a Katie e a Carol.
Eles se olharam por um momento e permaneceram em silêncio, mas não havia mais fogo, apenas um entendimento mútuo que haviam desejado aquele beijo, as mãos bobas, a proximidade. quebrou o olhar e logo abaixou-se para pegar as compras. até o ajudaria, mas de repente aquele pedaço de pano pareceu tão pequeno, e ela sentiu-se tão insignificante em sua tentativa de sedução... Afinal, aquele era , seu amigo divertido e engraçado. E ela era... bem, ela era , a garota que se sentia quase virgem novamente, de tantas teias que sua linda e maravilhosa buceta possuía. Ela encaminhou-se para seu quarto e foi até o armário. Pegou um short jeans claro, curto, e vestiu. Depois pegou a primeira blusa que viu em sua frente: uma branca, grande, o rosto de Ringo Star estampado em preto e sem preenchimento. Embaixo do rosto estava escrito “I’ve got blisters on my fingers”. Colocou um sutiã preto por baixo. Agora, sentia-se apresentável.
não trocou a calcinha sacana.
Quando voltou para a sala, estava no balcão da cozinha americana enfileirando duas garrafas de José Cuervo Gold, um pratinho com sal e outro com limões. Havia também duas caixinhas de comida chinesa, do restaurante preferido deles. E uma coca-cola, porque os dois compartilhavam a ideia de que comida só é comida com um copo de coca do lado, ainda que fossem morrer de úlcera por conta disso.
- Vejo que veio bem preparado – ela disse, sentando no banquinho que ficava atrás da bancada.
- Sempre interessante, já que a geladeira da sua casa geralmente é uma tragédia.
- Engraçadinho!
pegou dois copinhos de vidro, que ele mesmo havia dado de presente para , pensando em momentos como aqueles. Preencheu-os com doses poderosas de tequila, colocando-os em cima do balcão junto ao prato com sal e limão cortado. Ele sorriu sugestivamente para , arqueando uma das sobrancelhas. Ela apenas suspirou impaciente.
- Você sabe que eu sou a mestre aqui, não sabe?
- Ah, nada disso!
Eles riram, ambos sabiam que estava certa. Ela era conhecida como a louca da tequila por sua turma da faculdade, até mesmo por aqueles que compunham a ala protestante. É preciso dizer que os jovens do Senhor não nutriam muita paixão por ela. Mas aquilo não importava mais, ela estava formada e trabalhando. Ela estava naquele sábado ao lado de , e há poucos minutos haviam se beijado. Não era a primeira vez, mas nunca fora daquele jeito, ela nunca o vira a olhando como se ela fosse mais que uma mera amiga. Ela só queria aproveitar o momento.
levantou o copinho, repetiu o movimento dela. Primeiro o sal, depois a dose em um só gole e, por fim, o limão.
- Sabe, hoje eu assisti àquele filme que você recomendou – disse .
- Qual dos?
- Um Dia.
Eles se olharam por um breve instante, sentiu o coração acelerar, porque quase nunca assistia aos filmes que ela indicava, e talvez ele tivesse entendido aquela mensagem “subliminar” enviada pro ela, já que Um Dia era um filme interessante em vários aspectos, no que diz respeito as nossas escolhas, no que tange a amores e ao tempo. Às vezes a gente perde tanto tempo com nossas futilidades humanas que esquecemos de quem está do nosso lado.
- Eu ouvi aquela música que você recomendou – disse , quebrando o silêncio.
- Qual das?
- Just a Boy, Angus and Julia Stone.
desviou o olhar quando ela falou, e pela primeira vez cogitou a possibilidade do amigo correspondê-la. Ela não era do tipo garota boba que não acredita que pode ser desejada ou mesmo amada. Nunca fora assim, mas algo mudou quando conheceu . De repente, parecia que ela não era boa o suficiente para aquele cara cheio de responsabilidades com a família, sempre falando cheio de carinho sobre irmã mais nova e dando duro naquela cidade escrota que era Nova York, ao mesmo tempo esse homem era apenas um garoto, se divertindo e fazendo questão que as pessoas rissem enquanto estivessem com ele. Não houve um momento de dificuldade em que ele não estivera por perto. Ela simplesmente não conseguia suportar a possibilidade de não ter aquele pilar de sustentação ao seu lado. É claro que nada foi instantâneo. Houve o toque do tempo dando naturalidade àquela relação. Primeiro se conheceram, deram uns dois ou três amassos, depois decidiram que não precisavam de amassos juvenis, porque a companhia um do outro valia muito mais que qualquer relação carnal. E então começou a achar que talvez ela não fosse tão atraente para , tinha mais certeza disso a cada festa que ia e o encontrava com uma garota diferente.
Eis o paradoxo: , que antes optara pela amizade sem as firulas sexuais, agora simplesmente não conseguia suportar a possibilidade de não tocar de novo naquela mesma noite.
As músicas.
Ela percebeu: cada seleção especial feita por tinha um significado. Lembrou-se de quando começou a namorar Mike Black, e de repente as playlists de tornaram-se estranhamente sombrias, tomadas por canções de Elliott Smith e Radiohead.
Talvez, só talvez...
ficou inquieta com aquela tensão que se instalara. Resolveu que o álcool era o melhor mediador desse tipo de situação, ou o pior, mas ela preferiu acreditar na primeira hipótese, pois encheu os copinhos com outra dose de tequila e disse, forçando o tom mais brincalhão que conseguia:
- Mais uma, amigão!
ergueu seu olhar em direção a ela, sorrindo verdadeiramente, e ela pensou que não queria perder aquilo por nada no mundo.
- Não acha melhor comermos antes?
- Ah, não! Mas depois dessa, acho bom mesmo, não quero ninguém vomitando no meu sofá.
Os dois sorriram um para o outro, e mais uma vez repetiram o ritual: sal, tequila, limão. tossiu duas vezes, como o habitual. Ele era adepto à cerveja e vinho, bebidas destiladas não eram bem a maior paixão do rapaz no mundo alcóolico. sentiu aquele líquido descer rasgando seu interior, mas era uma sensação gostosa para ela, a fazia sentir viva e jovem. Aos poucos foi fazendo efeito e deixando ambos mais leves.
Foi quem começou a falar.
- Sabe, a Mary era bacana. Ela chorou, cara... Só que eu não podia mais suportar aquilo. Eu gosto dela, mas não o suficiente para manter um relacionamento.
- O engraçado, , é que ninguém aqui está perguntando como foi o seu término – reclamou , mal-humorada.
- – ele disse pausadamente, visivelmente sentido por aquele comentário ácido da amiga. – Você é a minha melhor amiga, se eu não falar com você, com quem mais eu vou falar?
- Desculpe – respondeu , sem graça. – É só que... Eu não gostava muito dessa garota... Vocês dois juntos nunca me pareceu certo.
sorriu amargo e balançou a cabeça, pegou o copinho e encostou a boca, talvez sentindo falta de sua habitual cerveja. Ele então levantou do banquinho do balcão e pegou as caixinhas com comida chinesa e os hashis. Sentou-se novamente.
- O que é isso de parecer certo para alguém? – ele perguntou, olhando diretamente para ela.
- Ah, , eu não sei explicar. Ela sempre me pareceu perfeitinha demais, mimosa demais... Elitista demais.
- Os seus argumentos comunistas!
- Não são argumentos comunistas. Olha, você sabe como a minha família é, e nem por isso fico me achando o ser superior de todo o universo.
- É, , eu sei que você é diferente. Eu bem sei.
não entendeu ao certo o que queria dizer com aquela frase, geralmente diferente era um adjetivo positivo, certo? Mas ela percebera o pesar de ao constatar aquilo.
- É só que você é esse cara, ... Esse cara superbacana, alto astral – ela deu um sorrisinho tímido e atrevido ao mesmo tempo. – E todo sexy com essa coisa de música e esse jeito nova-iorquino de se vestir. E você ama sua irmã mais nova, mesmo ela sendo fruto de uma infidelidade do seu pai, você ama sua família de uma forma que eu nunca vi caras amando. Você é essa pessoa maravilhosa, e a Mary é a mulher mais blergh que eu já conheci na vida!
Ele ergueu o olhar para ela e soltou um riso anasalado, balançando a cabeça.
- Você não devia me dizer esse tipo de coisa, não mesmo.
- Por quê? Você queria que eu te chamasse de cafajeste e dissesse o quanto você e a Mary formam um casal perfeito?
- Eu sou meio cafajeste, você sabe disso.
- Ah, sim. Disso eu também sei.
- Você me falando esse tipo de coisa, , depois do que houve agora a pouco, só me deixa em alta voltagem.
Ela riu, e ele também, mas tratou de se aproximar dela aos pouquinhos. Primeiro eles encostaram as testas, depois os narizes, em uma espécie de beijo-esquimó provocativo. Depois mordiscou o lábio da garota, e no segundo seguinte, eles estavam se beijando. Não com a mesma ferocidade daquele beijo de mais cedo, mas lentamente, aproveitando um ao outro. A mão do rapaz apenas segurava a nuca da moça, e ela, ainda surpresa por estar daquele jeito com ele, correspondia o gesto, por vezes puxando o lábio inferior dele como em uma brincadeira.
Quando se afastaram, estavam ambos sem fôlego e vermelhos, não muito tempo depois, estavam rindo.
- Acho que agora você não está mais em alta voltagem – falou , em tom brincalhão.
- Acho que agora devemos comer, porque ainda temos essa garrafa para secar e mais outra!
Assim que terminaram de comer, decidiram tomar um pouco de coca, e só então retomaram as doses da tequila. Decidiram que mais duas doses era o suficiente, ao menos por enquanto. , por exemplo, sentia-se incrivelmente eufórica, e já estava meio tonto, rindo seu riso estridente mais que o normal.
- Sabe, essa sua camisa maravilhosa acabou de me lembrar que eu também trouxe uma playlist maravilhosa para a nossa noite ainda mais maravilhosa.
- Não me diga que tem Helter Skelter! – exclamou , sem conseguir conter a empolgação.
- Você está falando com , . Competência em pessoa!
- Eu só não vou contradizer porque se você tem uma qualidade, pode ter certeza que é o seu gosto musical!
- Só o gosto musical? – ele perguntou, com as sobrancelhas arqueadas, fazendo os ovários da garota darem cambalhotas.
- Olha o constrangimento alheio, – ela brincou, fazendo pouco caso.
Ele riu. E essa era uma das coisas boas entre os dois. Eles simplesmente se deixavam levar sem se ater ao politicamente correto. Se algo os incomodava, faziam piada, não colocando a poeira para debaixo do tapete, não tornando o acontecido um fato imaginário.
tirou o iPod do bolso e entregou para .
- Pegue, só tem a nossa playlist, e não deixe no aleatório! Ela tem uma sequência lógica de feeling musical.
Feeling musical. O linguajar fumado de quando ele falava de música.
Se alguém quisesse ser amigo de , tinha que saber de duas coisas essenciais: 1) você não podia, em hipótese alguma, roubar sua comida – sim, ele era uma espécie de Joey de Friends - e 2) ele era louco, alucinado, apaixonado por música. Ele era o tipo de cara que se você desse um banjo italiano com cordas transversais, ele aprenderia tocar. Ele era o tipo de cara que ouviria o álbum de uma banda vietnamita até o fim só para sentir o feeling do som. E amava isso nele. Não da forma como garotas costumam amar, simplesmente por o cara ter um gosto musical bacana e usar camisas de bandas legais, até porque não era esse tipo de cara. Ela amava o fato de amar a música como amava as coisas simples da vida, amava a música como amava sua mãe e tomar um copo de café pela manhã. Amava a música não porque era cool, mas porque sua alma era toda em notas, pausas e colcheias. Amava porque seu pai o ensinara. Amava porque as melhores lembranças de sua família eram todas ao som The Logical Song do Supertramp.
Às vezes era um saco ter que ouvir a mais nova mídia que gravava para ela, de uma banda da Guatemala, cheia de elementos que ela jamais saberia identificar, mesmo com insistindo que não havia nada mais visceral que um ukulelê guatemalteco.
Mas era maravilhoso quando a primeira música da playlist dele era Modern Man do Arcade Fire. Ela amava aquela música, ainda que não fosse o que estava procurando. Só que trazia uma tranquilidade tão grande, ela então se sentiu em paz.
e se olharam, e entendeu o sorriso agradecido de . Ele compreendeu que ela realmente estava cheia de ansiedade, porque sua semana não fora fácil, porque ela estava longe da família, e a simples menção de ligar para dizer que estava com saudades fazia seus pais se acharem no direito de emitir opiniões desfavorecendo todo seu esforço, também porque era , e ansiedade era seu nome do meio. Ele saiu da cozinha, foi em direção a ela e a abraçou, tentando passar sua tranquilidade para ela. Eles se abraçaram enquanto Modern Man tocou, dançando juntos, em movimentos curtos. Às vezes cantando alguns trechos, principalmente “makes me feel like something don’t feel right”. Depois a música mudou para Crown Of Love, também do Arcade Fire.
Por algum motivo obscuro, achava aquela música morbidamente sensual.
E começou a se movimentar sensualmente contra ela.
E começou a ficar novamente sensualmente ativada.
Até que sussurrou sensualmente em seu ouvido:
- Eu quero muito te beijar.
Ele beijou o pescoço dela, depois mordiscou o lóbulo da orelha, e a garota simplesmente não podia lidar com tanta tentação.
E, enquanto Arcade Fire entoava sua música morbidamente sexy, ela sensualmente o beijou.
Eles estavam no centro da pequena sala da kitnete. Havia objetos diversos espalhados por todos os lados e um sofá com estofamento precário forrado por uma manta azul logo atrás. A única impressão externa marcante para os dois naquele momento foi a mudança da música: de Crown Of Love para Feeling Good da Nina Simone. E aquela, sem sombra de dúvidas, emanava sexo em todas as suas notas e tons.
tocou os lábios dele, como uma menina em seu primeiro beijo: leve, despretensiosa. E por uns segundos permaneceram como estavam, de lábios grudados, abraçados e respirando com certa dificuldade.
Ela se afastou e a olhou sem entender ao certo qual seria o próximo passo da amiga. estava registrando, apenas. O olhar, a posição, a expressão confusa, porém destemida de quem estava pouco se importando para as consequências do dia seguinte. Ela segurou a mão de e rodopiou em volta de seu próprio eixo, depois o puxou para perto novamente.
- Você está me provocando, ? – perguntou com os lábios grudados no ouvido dela.
- Ah, , eu estou apenas dançando com o meu melhor amigo – colou sua testa na do amigo e começou a cantarolar entre sussurros acompanhando Nina Simone - Dragonfly out in the sun you know what I mean, don't you know? Logo depois ela puxou o lábio inferior do rapaz, combinando o ato com a ação de suas mãos que subiam lentamente pela coluna de . Dessa vez, ele colocou a língua para fora, e ela correspondeu prontamente se deliciando com um beijo lento, sensual, tendo todo o auxilio que um bom beijo pede. Mãos subindo e descendo pelos braços, alisando a cintura, indo para as costas, descendo até a bunda, depois subindo até a cintura de novo. E eis que é chegado o momento em que as peles sentem vontade de pele e as mãos passeiam por baixo das blusas. E justamente no momento em que Feeling Good acabou, a mão de estava no seio de . Na verdade, tentando achar o seio por baixo do sutiã.
Eles não pararam porque Feeling Good acabou dando vez a quente Next Girl do Black Keys. De alguma forma puxou a camisa preta de para cima e eles se afastaram por um momento, e então percebeu que ele não estava conseguindo abrir seu sutiã porque aquela peça abria pela frente. Ela não estava raciocinando direito, apenas empurrou para trás até que ele caísse no sofá e sentou no colo do rapaz, de frente para ele, com uma perna para cada lado. Ele puxou a blusa dela e jogou para frente. Por um momento, se perdeu olhando os seios da garota.
- Por que você esconde essas coisas maravilhosas?
E então tirou o sutiã e as mãos de foram certeiras ao pegar em cheio no seio dela. Depois a boca de estava ali, e nesse momento estava tão molhada que era vergonhoso. Ele chupou do jeito que ela gostava, passando a língua em volta do mamilo e depois chupando-o inteiro. puxou a cabeça de de encontro a sua. Ela precisava beijá-lo. Ela precisava, senão enlouqueceria. De qualquer modo, loucura por loucura, então que também causasse, queria enlouquecê-lo, de forma alguma aquela relação podia ser unilateral.
começou a movimentar-se sugestivamente no colo de , e não demorou muito para que os sinais vitais de que aquela não era uma situação unilateral aparecessem. E que sinal vital!
Antes mesmo que ela pudesse pensar em algo mais, estava desabotoando seu short, depois abrindo o zíper e, não muito de repente, sua mão estava passeando pela calcinha rendada da garota, já umedecida, tamanha excitação dela. não teve tempo de sentir vergonha, porque logo foi atingida pelos dedos de massageando seu clitóris, e por um momento ela achou que ia morrer, porque de repente perdera a habilidade de coordenar seu beijo e quando abriu os olhos em espasmos, viu várias nuvens cinzentas.
gemeu como há muito tempo não gemia.
E isso pareceu despertar , deixando-o ávido por mais barulhos como aquele, afinal ele era um aficionado por sons e tons.
- Ah, , você está tão molhada, tão gostosa, eu só consigo pensar como eu quero você – sussurrou contra o ouvido dela.
Ele continuou os movimentos no clitóris e ameaçou a penetrar os dedos, mas recuou rapidamente.
- Por... Por favor.
- Você quer?
- Porra, !
- Camisinhas!
- Só no meu armário...
- Porra, ! Eu não vou conseguir aguentar!
- Nem eu!
- Eu também não aguento um filho na minha vida!
Ela riu exasperada, ouvindo as primeiras notas de Crying Lightning. A base firme e a voz de escárnio de Alex Turner na música fez com que uma luz, não muito brilhante, viesse a sua cabeça. Ela sorriu prontamente, com o canto dos lábios, erguendo as sobrancelhas.
- Muito menos eu, queridinho... Acho que tive uma ideia!
sorriu prontamente para , tentando se controlar ao máximo para não pegar o membro dele e simplesmente enfiá-lo em sua intimidade. Ela fez deitar-se no sofá, rapidamente deitou-se por cima dele, apenas para beijá-lo lentamente, enquanto desabotoava a calça do rapaz. Depois levantou-se prontamente, sentou-se nas cochas dele, abriu o zíper e, se aquilo era possível, ficou ainda mais molhada. Ela não fazia ideia do quanto estava excitado! E ainda havia aquele olhar de curiosidade desafiando-a. Ela simples colocou a mão nele, sobre a cueca, apertando-o um pouco. E então queria pegá-lo e fazer gemer de prazer. Ela puxou a cueca dele para baixo e o viu em veias pulsantes. Por ela, apenas por ela.
sorriu para , que estava de boca semi-aberta, respirando com dificuldade; aquela expressão dele, esperando, totalmente submisso aos próximos passos dela, a encorajaram a segurar o membro dele e alisá-lo lentamente de cima para baixo, depois colocando para cima, em direção a barriga dele. Ela parou de alisá-lo, pegando o pouco do líquido lubrificante do membro dele e passando em seus seios, logo após levantou-se do sofá e se ajoelhou. prontamente sentou-se e esperou o próximo passo da garota. Ela sorriu por estar comandando, gostava daquela posição, gostava de ser ela a causar prazer nele. apertou os seios, arranhando-os, e gemeu baixo, mas antes que tomasse uma atitude ela se aproximou mais, pegou o membro enrijecido de e colocou entre seus seios, apertando-os fortemente, movimentando-se a deslizar o membro de entre seus seios.
Era uma tortura, ela sabia.
Mas ela rapidamente parou e olhou diretamente para ele, enquanto lambuzava os seios com o líquido do rapaz.
- , você está me matando de tão gostosa – gemeu .
- Ah, meu bem, você não viu nada!
E então ela pôs as mãos nas coxas de , deslizou-as fincando as unhas na pele do rapaz. Ela foi aproximando a boca lentamente da ereção dele e por um breve momento olhou nos olhos dele e talvez estivesse completamente louca de tesão, mas viu faíscas saindo daqueles intensas pedras . Talvez ele também tivesse visto faíscas saindo de seus olhos porque sua expressão seguinte era de urgência. Ele a queria, ah, como a queria. Ele gemeria por ela. queria que durante todas as vezes que ele pensasse ou estivesse em uma situação como aquela, ela queria que ele pensasse nela.
- Ah, , que delícia!
No início apenas provocou. Chupou a cabeça rapidamente, passou a língua pela extensão como se estivesse a chupar um pirulito. Seus movimentos eram dolorosamente leves, ela sabia, ainda mais quando ouvia xingar raivosamente e logo então gemer como se estivesse em uma tortura chinesa.
Uma deliciosa tortura chinesa.
Quando decidiu que era hora, foi de vez. Abocanhou, por assim dizer, todo ele, enfiando-o até a garganta, depois subiu rapidamente, fazendo movimentos circulares com a língua. deu um grito gutural e aquilo só deixou mais excitada e com vontade dele, mais exatamente dentro dela, mas aquilo não seria possível agora, ela teria que terminar aquele trabalhinho sujo e delicioso. Ela chupou mais uma vez, fazendo tentativas de movimentos circulares com a língua e com a boca. não aguentou, segurou o cabelo de com força e foi ditando os movimentos de acordo com o controle de suas mãos. Ela deixou, mas como castigo, segurou os testículos dele e começou a massageá-los. urrou.
- Você não presta, . Ah, se você soubesse há quanto tempo... Porra! Ah! Que gostosa! Você...
E então ele segurou o cabelo dela com mais força e chupou-o mais rapidamente. Ele estava a ponto de gozar, não aguentaria mais por muito tempo. Ela tirou a boca, ainda haveria tempo para ele gozar na boca dela, ela guardaria aquela artimanha para mais tarde. Ele soltou, por fim, o cabelo dela e apoiou as mãos no sofá. Ela começou a masturba-lo com a mão novamente, com movimentos rápidos e mais rápidos, e gemia, e ela adorava e aproximava os seios daquela ereção prestes a se desmanchar em líquido.
E ele se desmanchou.
E chamou seu nome.
E seu gozo foi diretamente para os seios dela, e se lambuzou com eles e depois lambeu os dedos.
simplesmente se jogou para trás, no encosto, e ficou aproveitando os últimos segundos daquele prazer eletrizante.
encontrava-se em um estado que beirava a insanidade. Ela simplesmente não se importava mais com os bons modos, não se importava mais em parecer uma vadia sedenta por sexo, por . Ela era mesmo aquela vadia que acabara de deitar na outra ponta do sofá, apoiando a cabeça no braço e uma de suas mãos foi diretamente para sua intimidade, absurdamente molhada. Era tanto tesão acumulado que ela realmente acreditava que se finalmente tivesse aquele orgasmo, desmaiaria.
Mas não foi solitária por muito tempo. Justin Young do The Vaccines já cantava a empolgante Wreckin’ Bar (Ra Ra Ra), e quando menos esperava, sentiu a mão de na dela, depois os dedos dele em seu clitóris, torturando-a, vingando-se. Ela gemeu feito uma vadia e quase disse “me coma, me coma mais rápido”, mas se controlou. Seria parecer demais uma atriz de um filme pornô de péssima qualidade. Ela já havia aberto as pernas na frente dele e começado a se masturbar enquanto ele se recuperava de um intenso orgasmo, com certeza aquele era seu pior estado de lascívia. Ela o queria fazendo o que sonhara mais cedo, ele estava perto demais, os dedos não seriam suficientes. Ela queria a boca dele bem ali embaixo, a língua movimentando-se por toda a extensão vergonhosamente molhada de sua intimidade, ela queria os lábios dele sugando-a, ela queria gritar o nome dele enquanto a boca do rapaz absorvia-a da forma mais íntima que um homem poderia absorver uma mulher.
- – ela chamou em um suspiro entrecortado, enquanto ele distribuía beijos por sua barriga – Me beija, .
Ele olhou para ela por um momento e houve um entendimento mútuo de onde aquele beijo deveria ser, mas não foi direto. Ele queria beijá-la convencionalmente. Ele queria beijá-la porque, às vezes, o tal beijo convencional pode ser o mais significativo dos beijos. Ele queria beijá-la por uma necessidade de muitos anos. Ele queria beijá-la porque aquele momento estava acontecendo, e para ele não era uma simples troca de sexo oral num sofá velho com a sua melhor amiga, ainda que também o fosse. Mas tinha um plus: o desejo de estar perto daquele jeito. O desejo que nutria em ter em seus braços desde os primeiros meses de amizade. E a importância daquele momento ultrapassava rosas, champanhes e lençóis vermelhos. Era desejo incandescente. Era sentimento guardado. Era tudo junto. E ele queria beijá-la.
o fez. Beijou-a. Com serenidade, porém intenso. Intenso no jeito de reclinar a coluna dela para ele, intenso ao tocar os seios dela, ao segurar a nuca, ao tocar os lábios dela em uma hesitação proposital; intenso ao tomá-la e finalmente beijá-la em uma confusão de toques e línguas.
Quando finalmente não tinham mais fôlego, separaram-se encostando as testas, em movimentos meio trôpegos. começou a descer os beijos, do pescoço, passando nos seios e mordiscando-os, depois beijou a barriga dela. A olhou e sorriu sacana, ela riu nervosa, achou que poderia ficar louca a qualquer momento. Se o prédio estivesse pegando fogo, provavelmente esperaria por seu orgasmo para só então fugir.
Por um momento fugaz, pensou que Pete Doherty aprovaria o momento em que Time For Heroes começou reverberar nas caixas de som. Libertines, na hora H, e simbolizava um pouco aquele momento rock de garagem com classe.
A língua dele chegou quente, e o simples toque dela fez revirar os olhos e torcer os dedos dos pés. era cruel em sua provocação lenta de movimentos minuciosos, a cada gemido roubado de , ele provocava mais, como se quisesse fazer ela implorar por ele, fazendo com que ela nunca esquecesse do que ele a fizera sentir. E ela jamais esqueceria. Jamais esqueceria como estivera se tocando pensando nele e logo ele apareceu, olhando-a como se ela fosse a mulher mais sexy e maravilhosa do mundo. Talvez esse acontecido fosse para comprovar que o Universo conspira para o bem, porque ela estava derretendo e se deliciando e se maravilhando naquela situação de intenso e completo prazer.
Não demorou muito para que o mundo a volta de se transformasse num flash de cores e não muito depois nuvens cinzentas tomaram seu campo de visão e de repente ela estava gemendo, retorcendo os dedos dos pés, falando o nome de e respirando com extrema dificuldade. Ela poderia morrer a qualquer momento.
Quando fora a última vez que ela tivera um orgasmo de verdade?
Ainda estava extasiada aproveitando os últimos instantes de lentidão quando deitou-se ao seu lado, puxando-a para si. Ele inspirou seu cheiro tão profundamente que por um momento achou que não soltaria mais o ar. Mas ele soltou, e ao mesmo tempo começou a rir sem conseguir parar, e ela o acompanhou.
- – disse , olhando-a nos olhos e sorrindo abertamente – Você, sem a menor sobra de dúvidas, é um anjinho do mal.
estava tão extasiada que não conseguia falar. Tentava se acalmar cantando Float On do Modest Mouse. I backed my car into a cop car the other day, well he just drove off, sometimes life's ok. Não conseguia acreditar que aquilo não era um sonho, que ao seu lado, alisando sua barriga carinhosamente (e por que não sugestivamente?), fosse real. Esperava que a qualquer momento alguém lhe dissesse que aquilo era uma ilusão, um holograma. Mas esse alguém não chegava, e ela apenas ficou encarando-o com uma expressão intensa de encantamento. Talvez não conseguisse compreender porque ele não sabia que há mais de um ano ela não dormia com ninguém, no máximo beijos bêbados em noites falidas, sempre sofrendo calada vendo cada início de namoro do amigo, logo em seguida um término, e ele nunca ia até ela. Por que só agora?
Ela o beijou. Ela o beijou segurando a nuca do rapaz e tomando-o para si, como se dizendo que naquele momento, ao menos naquele momento, ele era dela, naquele sofá velho que testemunhara o melhor sexo oral de sua vida, seu melhor orgasmo. Nem seu ex-namorado francês que fazia coisas impensáveis com a língua lhe proporcionara emoções semelhantes. Ao menos naquela breve noite, era dela, e ela, dele, e o dia seguinte seria apenas o dia seguinte com seus raios de sol escondidos pelas densas nuvens nova-iorquinas.
Quando não tinham mais fôlego, juntaram as testas, um respirando o outro. Entraram em uma competição boba de selinhos, até que levantou-se, sobressaltada. Ao ver a expressão de desentendimento no rosto de , ela explicou:
- Preciso de um cigarro!
E saiu correndo, ao som da estridente de Molly’s Chambers do Kings of Leon, deixando um sorridente no sofá.
Slow. She's burnin' in your soul Lento - Ela está queimando em sua alma
With whispers in your ear Com sussurros em seu ouvido
It's okay I'll give it anyway Tudo bem, eu dou de qualquer jeito
Just get me out of here Só me tire daqui
You'll plead. You'll get down on your knees Você protestará - você ficará de joelhos
For just another taste Para só exprimentar de novo
And when you think she's let you in E quando você pensa que ela o deixa entrar
That's when she fades away É quando ela vai embora
03. Aviso: A playlist do capítulo está disponível aqui.
Hold ourselves together with our arms around the stereo for hours
A voz envolvente de Edda Dell’Orso cantando a composição do argentino Luis Bacalov tomava conta de todo o apartamento 1076, Decatur St, Brooklyn NY 11207. His name was king. Naquele momento a música podia ser sobre . Era como se ele pudesse voar, cantar, dançar, montar em um cavalo e, por que não, governar um país inteiro? Ou ser um fora-da-lei no Oeste americano dos anos vinte. Dava no mesmo, naturalmente.
O fato acima mencionado não tinha nada a ver com os cigarros não exatamente convencionais que ele e fumaram por volta da meia-noite. Eles não estavam completamente chapados, mas também não podíamos dizer que operavam com seus melhores neurônios. Kate diria que, na verdade, estavam jogando no lixo o pouco de sinapses que conseguiam fazer quando estavam juntos. A varanda de não era extensa, por isso estavam um de frente pro outro, sentados de penas cruzadas. Ela teve que arrastar o varal cheio de roupas para dentro do quarto, mas a porta da varanda estava aberta e algo lhe dizia que na manhã seguinte tudo estaria com um cheiro insuportável de maconha. Mas quem se importava mesmo?
a havia beijado mais duas vezes desde o episódio do sofá. Não muito depois que eles abandonaram o Lucky Strike e começaram a enrolar dois baseados bem concentrados. O primeiro beijo fora roubado como em uma brincadeira boba, ele a provocou mordendo o lóbulo de sua orelha e no instante seguinte estavam se beijando. O beijo não durou muito porque por alguma razão inexplicável os dois estavam achando extremamente engraçado o movimento de suas línguas uma contra a outra, e também porque achou surreal ter começado a tocar Hello Sunshine, do Super Furry Animals, bem naquele momento. O segundo beijo ocorrera justamente quando eles haviam acabado com o segundo baseado, ao som de Paul McCartney e sua suave Vanilla Sky, provocando o início de uma conversa um tanto quanto abstrata e lisérgica, envolvendo filmes como A Origem, Matrix e Vanilla Sky. E se tudo fosse um sonho? E se o tempo todo estivessem sonhando e em um outro universo paralelo pudessem controlar o eu que aqui se vive? Qual pílula haviam escolhido? A azul ou a vermelha?
E se em um universo paralelo diferente eles transassem todos os dias desde o dia em que se conheceram? E se nesse outro universo paralelo eles não tivessem perdido tanto tempo reprimindo bons orgasmos?
Eles ficaram em silêncio, sorrindo verdadeiramente um para o outro quando essas possibilidades vieram à tona, mas então algo em mudou. Ele assumiu uma postura leve, apertou um pouco os olhos como se estivesse pensando em um cálculo matemático complicado, mas chegar até o valor de x era sempre orgástico para . Outra verdade sobre : ele adorava matemática. admirava a expressão de , agora um pouco letárgica por conta da maconha, mas ainda assim ardiloso, ainda assim cheia de uma sagacidade que ela jamais teria.
Ele se aproximou dela, ajeitou-lhe uma mecha que insistia em cair sobre seu rosto e finalmente falou, ainda com o sorriso no rosto:
- E se nesse outro universo paralelo eu fosse apaixonado por você?
Depois dessa pergunta ele a beijou, mas antes olhou-a por inteiro, como naquele primeiro momento quando ela abrira a porta do apartamento. Antropofágico. Como se fosse devorar cada pedacinho por onde seus olhos passeavam. A intensidade era tamanha que pela primeira vez ficou realmente sem reação, sem saber para onde olhar. Seus instintos sensoriais estavam mais aguçados por conta da maconha, tudo era motivo de riso, qualquer toque era a melhor sensação do universo; talvez aquela suposição devesse fazê-la sentir todos aqueles sentimentos conturbados por triplicados. Mas não foi o que ocorreu. Como se um pisca-alerta tivesse sido ligado, ela sentiu-se inteiramente tensa e consciente de absolutamente tudo: do olhar dele, dos olhos levemente vermelhos, das pupilas dilatadas, daquelas palavras. Inicialmente sentiu-se dura, como um pedaço de concreto, mas então amoleceu nos braços do amigo e simplesmente cedeu. Deixou-se levar para ele sem mais pestanejar.
Tonight you fly so high up in the Vanilla Sky Enquanto se beijavam, ela o abraçava como se a qualquer momento ele pudesse escapulir de seus braços, como se ela realmente fosse acordar de um sonho que comprara no Shopping de Sonhos da Esquina.
E o mero pensamento de se separar dele era como se fosse quebrar.
Não muito depois era como se continuar com ele, naquele beijo exigente, fosse despedaçá-la ainda mais. Como se ela experimentasse a melhor droga do mundo e soubesse que seu uso contínuo a faria ter a pior crise de abstinência de todo o universo.
Então, que o afastamento ocorresse um pouco mais cedo, antes que o estrago fosse maior, porque ele havia dito aquelas palavras e elas despertaram todas as esperanças que nutrira durante todos aqueles anos.
Ela não queria acreditar nas possibilidades. Aquilo era apenas uma divertida noite de sexo casual com um grande amigo. Nada mais.
Antes que pudesse destruí-la com seu olhar de confusão, disse com o melhor dos sorrisos, mesmo sentindo seu coração aos pedaços:
- Em outro universo paralelo, eu poderia nascer Lessie, e você, Beethoven, e aí seríamos melhores amigos cães da erva para sempre!
- Você sempre espirituosa – ele disse, rindo seu riso fácil – Sabe uma palavra engraçada? Macaco! Ma-ca-co!
- Outra muito engraçada: lesma! Les-ma!
Eles riram por incontáveis minutos, até que suas barrigas doessem e não conseguissem mais respirar. Mas então foram parando e começou a olhar para ela estranhamente, abrindo um sorriso tão extenso que achou que o rosto dele fosse rasgar. Ela não estava preparada para aquela expressão que a ascendia por inteiro. Ascendia seu desejo, como também aquele bater desenfreado de seu coração. Aquilo lhe parecia proibido... Desesperador.
De repente, o silêncio entre eles. E The National ecoando com sua sugestiva Apartament Story ao som de fundo. Foi como se eles tivessem ficado instantaneamente sóbrios.
Oh we’re so disarming, darling, everything we did believe
Is diving, diving, diving, diving off the balcony
Tired and wired we ruin too easy
Sleep in our clothes and wait for a winter to leave
não conseguia se decidir entre se aproximar e beijá-lo ou simplesmente fugir dali, quando quebrou o silêncio.
- , eu preciso confessar uma coisa...
- O quê? Você é gay? Ah, não! Mais um gay, não!
Ele simplesmente riu, ignorando a reação da amiga. Aproximou-se mais de , encostando os lábios no pescoço da garota, beijando-a suavemente e ela não teve reação senão ficar parada, apenas aproveitando o toque dele sobre sua pele. Não poderia fugir daquilo, era demais para a sua sanidade. Que fossem para o inferno todos os seus pensamentos sentimentais!
Hold ourselves together with our arms around the stereo for hours
- Sabe o que eu queria agora? – ele perguntou baixinho contra o pescoço da garota.
Ela não conseguiria responder sem deixar escapar um gemido nervoso, então se contentou em aceitar como a pergunta retórica que era, sem dar suas respostas recheadas das costumeiras piadinhas e ironias.
Oh, foi ainda pior, ou melhor, a depender do seu ponto de vista, quando mordiscou o lóbulo da orelha dela e desceu os beijos, como também as mãos pelas costas e então subindo-as por baixo da famigerada camisa do Ringo Star. Primeiro pela barriga, depois parou no seio dela, massageando-o, puxando os mamilos entre os dedos.
arfou, sentindo esquentar mais uma vez lá embaixo. Achou que talvez não fosse suportar. ainda beijava seu pescoço e ela simplesmente achava muito injusto ele causar todo esse feito sobre seu corpo, mente e coração. Estava além de qualquer controle que ela pudesse sonhar em ter.
- Eu quero você, – sussurrou - Na cama. Agora.
Ela não respondeu de imediato, por um tempo apenas inclinou o pescoço para trás enquanto continuava com os beijos na região, quando ele decidiu finalmente beijá-la, ela disse:
- E, de repente, de sua melhor amiga, passei a ser o seu lanchinho da madrugada!
afastou-se rapidamente, e por um segundo achou que tinha cortado todo o clima de sedução bem calculada do amigo. Primeiro ficou sério, no segundo seguinte um sorriso acompanhava o balançar negativo de sua cabeça.
LCD Soundsystem já fazia barulho há mais um minuto. Talking like a jerk, except you are an actual jerk and living proof that sometimes friends are mean. Oh, a ironia. Eles estavam ouvindo o James Murphy, e antes que qualquer interpretação sobre aquilo ser um sinal do destino, falou rapidamente:
- Isso nunca – respondeu, alisando o cabelo da amiga – Isso só prova que você não faz ideia...
Mas antes que ele pudesse concluir, ela o tomou para si, beijando-o. Você não faz ideia. Ele não podia fazer isso com ela, ele não podia dizer as coisas que dizia para outras apenas para levá-la para a cama. Ela não precisava de explicações, ainda que fosse apaixonada por ele, ela podia ser o lanchinho da madrugada, a rapidinha, o que quer que fosse. não era, de forma alguma, uma mulherzinha de lingerie rosa buscando uma cama de hotel cinco estrelas com pétalas de flores em cima de uma cama de casal king size. Naquele momento, ela preferia sentir aquela emoção puramente sexual, aquela vontade de beijá-lo como a sugar a alma. Queria que ele fodesse ela, e apenas isso.
Não podia se perder em palavras tolas. Não sendo seu melhor amigo. Não com toda a carga emocional que todos os gestos daquela noite carregavam.
Ela sentou-se no colo do rapaz, colocando uma perna para cada lado. E não demorou para sentir a ereção de dando sinais de vida cada vez mais intensos. Ele usava apenas boxer e a camisa de manga que mais cedo ela havia tirado. E ela usava apenas calcinha e também a famigerada camisa Helter Skelter que também havia feito o favor de tirar de seu corpo naquele momento sórdido em seu sofá.
Nada mais.
E aquela era uma noite fria.
Tudo clamava pela cama a poucos passos deles.
Eles levantaram juntos, sem partir o beijo, e começou a andar empurrando pra trás. Ele esbarrou na porta da varanda, depois girou seu corpo a ponto de colocar contra o vidro, pressionando gentilmente sua pélvis contra intimidade da garota. prontamente deslizou uma de suas mãos pelo peito do rapaz por baixo da camisa.
- , vamos para dentro – ela sussurrou sofregamente contra os lábios do amigo.
Ele soltou um gemido quando passou as unhas no cós de sua boxer. Era visível o quanto ele estava fora de controle. Ela o empurrou com dificuldade e o puxou pela mão até o quarto, fechando a porta da varanda. tratou de ir até o armário, pegou um pacote de camisinhas e colocou em cima do criado mundo, enquanto apenas a observava.
- Acabou o ritual?
- Estou apenas começando, gato.
Ela se aproximou lentamente dele e sorriu.
- Não estou muito satisfeita com essa blusa.
- Dou um jeito nisso se você der um jeito nessa sua blusa inconveniente. Não gosto do retardado do Ringo olhando para mim quando eu obviamente quero fazer sacanagens com você, em você...
Ele tirou a camisa, e agora podia avaliar o peitoral do amigo minuciosamente, maravilhoso - ela pensou -, sem precisar dar explicações ou desviar o olhar.
Ela tirou a blusa, ficando só com a calcinha. Aquela calcinha. Ele olhou-a de cima a baixo, como se estivesse fazendo uma análise estritamente profissional.
- Sabe, , estive me perguntando a noite toda o porquê de você estar usando essa calcinha. Muito sexy para apenas uma noite solitária... Foi para mim?
Argh! esquecera completamente o quanto podia ser convencido. Ela tentou esquecer que aquele sorriso torto dele era uma loucura. Não podia dar esse gostinho para ele, não agora.
- Não tenho culpa se planejava uma noite de sexo selvagem em com o meu parceiro do obituário.
- Quem? Aquele imbecil do Max Cohen? – perguntou, arqueando as sobrancelhas.
- Por que não? – ela perguntou, brincando com o elástico lateral da calcinha – Ele é tão maravilhoso...
- Porque eu odeio aquele cara!
- E isso seria porque ele provavelmente já esteve aqui? – ela disse, posicionando as duas mãos estrategicamente nos elásticos laterais de sua calcinha, começando a descê-los lentamente.
- , você quer mesmo me ver quebrar a cara desse imbecil?
Oh meu deus, ela havia mesmo conseguido deixar exaltado? Ele estava com ciúmes!
- Ora, , não banque o sex-buddy possessivo! – ela falou, se aproximando lentamente do rapaz, que apesar de visivelmente duro, apenas apertava as mãos como se para se controlar, ao invés de jogá-la de vez na cama.
Ao perceber a movimentação dela, começou a rir.
- Você quer me matar, . O problema é esse. Eu to duro aqui e você me fala desse idiota.
- Se você está duro aí... Por que você não tá duro aqui?
Dessa vez, foi ele que se aproximou dela, olhando-a nos olhos e exibindo um sorriso convencido.
- Será que você aguenta? – ele perguntou.
Thurston Moore começou a cantar Total Trash: it’s never the same, it’s more than a game. Oh, ao menos com Sonic Youth podia contar.
Ela apenas riu. Um riso doce que fez se arrepiar até o dedo mindinho. Sem conseguir se controlar, ele deixou escapar:
- , você é muito, muitíssimo linda.
Ela corou e passou o braço no pescoço dele, dando passos para trás.
- Só linda?
Em algum momento ela caiu na cama com por cima dela. Ele virou de lado e os dois se arrastaram até o topo da cama. deitou por cima dela, apoiando o peso nos joelhos.
- E muito, muitíssimo gostosa também – disse, passando a mão pela perna da garota.
Ele começou a tirar a calcinha da amiga, bem devagar, mantendo o contato visual. Quando retirou, ele jogou a calcinha longe.
- Ora, ora, mas quanto tempo, minha amiguinha!
riu.
- Não é justo eu ser a única sem roupas aqui!
- Sinta-se a vontade!
o empurrou para o lado e ficou por cima de , sem se importar com sua nudez. Ela apenas ardia e pensava no quanto seria poderosa a sensação dele lá dentro, dentro dela. Completando-a. Tomando-a para si. Ela queria ser dele e que ele fosse dela. Ela, logo ela, que nunca quisera pertencer a ninguém a não ser a si mesma.
Passou a mão no pênis dele por cima da boxer, em uma breve provocação. Ele soltou um gemido e depois um riso nervoso.
- , não acabe com a nossa diversão!
- E eu ouvindo mocinhas suspirado por aí dizendo que você era dos bons, que fazia durar...
- Não provoca, – ele disse com um sorriso convencido no rosto.
Ela retirou a boxer, por fim, e sorriu ao ver o membro de completamente duro. Sentia-se adolescente novamente em uma aula de educação sexual. Ela pegou no membro dele e começou a massageá-lo, depois a propriamente a masturbá-lo, por assim dizer.
- Eu sei que já brincamos disso, mas eu não me canso – ela falou com a voz baixa, olhando diretamente para ele, que tentava a todo custo manter a expressão contida. Logo ela parou e foi até o criado mudo, pegando uma camisinha.
Rasgou o pacote rapidamente, tomando cuidado para não danificar o material, não tinha muitas camisinhas dentro da validade em seu apartamento, e ela não seria saciada com outra dose de sexo oral. era maravilhoso com a boca lá embaixo, mas o queria nela, fazendo-a ir à loucura.
Assim que terminou, inverteu as posições.
- Quer dizer que vamos fazer sexo papai-e-mamãe depois daquele episódio nada convencional no meu sofá?
- Você sabe – ele começou a dizer enquanto passava a cabeça do pênis pela entrada dela – Às vezes um sexo mais convencional tem muito a dizer...
- – ela arfou, sem refletir muito sobre o que acabara de ouvir, de repente perdera o controle – Por favor!
Ele enfim encaixou seu membro no dela e começou a penetrá-la, indo e voltando, bem lentamente.
- E assim eu posso sentir você por inteiro – disse ele, estremecendo a cada ida e volta. Deixou seu corpo cair sobre o dela, tomando-a por inteiro – Ah, , ah, que delícia ficar dentro de você.
involuntariamente apertou seus músculos internos e mexeu o quadril, soltando um gemido baixo.
urrou.
E então eles começaram.
e começaram seus movimentos desenfreados. Ele dentro dela, indo, voltando, saindo, entrando. Ela mexendo-se em movimentos erráticos, suspirando, grunhindo e gemendo. Chamando por ele, e ele por ela. Apesar de toda a euforia do momento, havia uma espécie estranha de sincronia. Eles se olhavam, nunca perdiam o contato visual, exceto quando via-se tão enlouquecida por aquela tortura prazerosa que o puxava para si, cravava as unhas nas costas do rapaz e escondia-se na curvatura entre o ombro e o pescoço.
Por algum motivo, parou os movimentos. Ainda dentro dela, a olhou, mais uma vez antropofágico, mas podíamos dizer que ele já realizava sua antropofagia, então, o que o levava àquele olhar? Ele saiu de dentro dela e soltou um gemido sofrido, o puxando para si. Mas ele nada disse, apenas a segurou com mais força afastando-a. Ela estreitou os olhos em confusão, mas sorriu. A fez sentar, mas inverteu suas posições. Ele recostou-se na cabeceira da cama.
- Vem aqui – ele disse, fazendo menção que ela sentasse de frente para ele.
E timing definitivamente não era o problema da seleção musical de . Bem naquele momento, os hipnotizantes primeiros acordes de Kashmir começaram. Aquela era definitivamente uma canção emblemática, não por sua história no cenário da música ou por ser considerada a quintessência do Led Zeppelin. Kashmir era emblemática ali porque no contexto daquelas duas criaturas do submundo havia um acordo mútuo formulado há milhares de anos, em uma viagem alucinante após um certo chá que tomaram em um bar suspeito do Brooklin. Os dois haviam concordado em tal ocasião que aquela música tinha um ritmo altamente sensual e ao mesmo tempo lisérgico. Prometeram transar um dia na vida ao som de Kashmir, não um com o outro, apenas prometeram que cumpririam o ato. Agora, eis que eles estavam ali, naquele momento pré-coito, completamente perdidos um no outro.
Oh, let the sun beat down upon my face, stars to fill my dream. I am a traveler of both time and space, to be where I have been.
sentiu o coração acelerar. Estava embebida de tudo aquilo. De . Do sexo. Daquele olhar de absoluto e completo maravilhamento dele.
Ela sentou-se de frente para ele e pegou primeiro a perna direita, colocando por cima de sua perna esquerda e fez o mesmo com a outra perna da garota. Ele se aproximou mais e beijou o pescoço de , passando as mãos sobre os braços dela, pelas costas, os aproximando ainda mais. Ela sorriu contra os beijos, sentindo uma combinação intensa entre seu coração acelerado e o desejo que ardia lá embaixo. Passou as unhas levemente pelo peitoral do amigo até que segurou o pescoço dele por um momento, olhando-o nos olhos. Sentindo aquele brilho ofuscante em sua direção. Oh, ela não merecia tanto. Ela iria derreter a qualquer momento.
Ele fechou os olhos e juntou a testa dos dois.
- O que você está fazendo comigo, ?
Ela nada respondeu. Aproximou mais sua intimidade do membro enrijecido dele. Ela pegou o pênis dele enquanto o olhava e encaixou-o novamente em sua intimidade.
- Ah, – ela gemeu contra os lábios dele – O que você está fazendo comigo?
Ele sorriu contra os lábios dela e a envolveu com os braços enquanto ela movimentava-se por cima dele.
Lentamente, depois mais rapidamente, como se testasse seus joelhos. gemia baixinho em seu ouvido, por ora falando umas sacanagens gostosas, às vezes encostavam as testas, às vezes ele simplesmente colocava a cabeça para trás enquanto ela se movimentava. Inesperadamente, ele a abraçou firmemente, puxando-a, fazendo com que ela deitasse de lado na cama, de costas para ele, mudando completamente o ângulo da penetração. Agora estava pegando por trás e não que ela se importasse muito com isso, na verdade, só sentia-se mais e mais excitada. Ele ia veloz, apertando o peito dela, massageando o mamilo, puxando-o.
Os movimentos ficaram mais acelerados, ela sentia a intimidade arder em um fogo altamente perigoso, e quando os dedos de tocaram seu clitóris, ela pensou que não aguentaria mais. Mas era apenas uma provocação, ela devia saber. devolveu na mesma moeda, apertou tanto os músculos internos que urrou tão alto que ela sabia que no dia seguinte os vizinhos a olhariam com olhos acusatórios. Que olhassem, ela deixaria, com orgulho, que eles confirmassem que ela passara a noite transando loucamente com esse cara simplesmente maravilhoso que agora aumentava a força de seus movimentos ainda mais, segurando a perna dela. Ela de repente se sentiu novamente virgem por não conseguir conduzir nada, apenas correspondia . Onde ele tocava, ela gemia em aprovação. O que ele fazia, ela acatava sem protestar. Talvez um pouco. Só que, naquele momento, surgiu a necessidade de ser a melhor que ele já tivera. Oh, céus, ela queria olhá-lo enquanto gozava, e estava tão perto!
Em um movimento brusco, saiu dele, que soltou outro urro sofrido.
- Não, , por favor! - disse, já puxando-a possessivamente para si.
- , deixa eu ver você enquanto...
Ela não terminou a frase, sentiu corar. Mesmo depois do sexo oral, de ter estado com a boca no pênis dele, depois ter se masturbado em frente ao seu melhor amigo, simplesmente não conseguiu dizer que queria gozar olhando nos olhos dele. Mas não foi preciso, porque entendeu. Entendeu porque também queria assim. Não que ele fosse se importar em gozar tendo por trás, ele não se importaria. Seria estimulante e gostoso. Mas conhecia o poder do olhar e algo dentro dele se acendeu ainda mais quando pensou no quanto excitante seria vê-la revirar os olhos enquanto ele ia dentro dela sem dó, apenas para causar-lhe prazer e para ter prazer e tê-la e ouvi-la gritar seu nome. Oh, ele queria aquilo. Que se tornasse tão sua que não pudesse se desvincular.
Talvez fosse um pensamento machista, mas ele não estava se importando no momento. Até porque, como se preocuparia, se estava tão duro e latejante que o menor raciocínio o fazia simplesmente perder as estribeiras?
Que se danassem machismo, feminismo! Ele a queria. Apenas isso e nada mais.
Ele se deitou, recostando-se na cabeceira, e sorriu, dando todos os sinais de que ela ficaria por cima, ela controlaria.
o olhou por breves segundos, confusa. Mas sua libido falou mais alto e ela foi por cima dele. E começou a movimentar-se. Incialmente ambos se olhavam. via seus cabelos revoltos, ela viu o suor descer da testa de . Ele passava os dedos com força por suas costas. E quando por vezes encostava o rosto na cabeceira da cama, segurava seu rosto e a fazia olhar para ele. Eles não durariam mais muito tempo.
- Não pare, – pediu entre gemidos, em tom de súplica.
Ele nada disse, apenas continuou enquanto ia e vinha em cima dele. Oh, ela o estava matando. Não demoraria muito para ele desfalecer, entregando-se aos espasmos de um orgasmo que vinha com tudo, ele podia sentir, estava chegando...
- Meu bem, eu preciso que você goze, goze bem gostoso para mim.
E eles aumentaram os movimentos juntos, segurando ela pelos quadris e subindo e descendo, metendo. Oh, já não conseguia refrear seus gemidos altamente pornográficos, ela estava quase, chegando bem próximo, oh, meu deus, estava chegando, arfando, metendo, unhas arranhando, chegando e chegando...
Ah, só mais um pouco, só mais, ah, um pouco!
foi primeiro que ele. Revirou os olhos, jogou a cabeça para trás. Seios erguidos, suor escorrendo. Prazer derretendo-a por dentro, por fora. Não via nada, apenas manchas coloridas e sentia os espasmos nervosos lá embaixo.
rapidamente colocou-se por cima e continuou com suas investidas, mais rápidas e desajeitadas enquanto permanecia inerte, provavelmente em um universo paralelo que muito em breve eles se encontrariam.
Só mais um pouco e ele estaria lá, só mais um pouquinho e...
Oh, sim... Ele finalmente ao ápice de prazer que sua que sua luxúria juvenil poderia proporcionar.
estava com ele.
Isso era o mais perto do paraíso que ele já estivera. Nem seus sonhos mais surrealistas foram capazes de pintar tal situação. O que ele estava sentindo... Era como se ele fosse um pirata em expedição por um oceano perdido e por todos os lados houvesse tesouros flutuando em sua direção.
De repente, perdia-se em si, não sabia onde começava nem terminava. De repente, ele era todas as coisas ao mesmo tempo e também era nada. o transformara em um garotinho que simplesmente não sabia para onde ir ou o que fazer, ali ele era apenas um garoto com sua garota.
One kiss from you and I'm drunk up on your potion. Um beijo seu e eu estou embebido por sua porção
That big old smile is all you wore. Aquele grande sorriso é tudo o que vestia
Girl you make me want to feel, Garota, você me faz querer sentir
Things I've never felt before. Coisas que eu nunca senti antes
Girl you make me want to feel, Garota você me faz sentir
Did I say I'm just a boy, Eu já disse que sou apenas um garoto
Did I say I'm just a boy, Eu já disse que sou apenas um garoto
You can hold me to that. Você pode me abraçar por isso
Whatever feels good, whatever takes you mountain high
Por um momento achou que estivesse dormindo, mas então viu seus olhos abertos, brilhando, e aquela visão o acendeu por inteiro. Não, ele não estava duro de novo, era um ser humano, não um vampiro ou mesmo um usuário de Viagra aos vinte e três. O que acendeu nele foi sentimento. Puro. Vivo. De repente ele queria que aquele momento de moleza pós-coito se prolongasse por tempo indeterminado. Ele queria ver os olhos dela brilhando por causa dele, queria causar êxtase nela. Sempre quisera, desde aqueles primeiros dias de amizade, desde quando começaram suas conversas intermináveis permeando todos os domingos do apartamento 1076, Decatur St, Brooklyn NY 11207; em todos os Happy Hour no O'Connell Pub, em todos os shows, cafeterias e boates, por todos os dias dos últimos anos ele a quisera ter como a tinha agora.
Keepin' it surreal, not sugar-free, my tv ain't HD, that's too real; grapevines, mango, peaches, and lime, a sweet life Ah, ela permanecia ali, em seus braços, e estava acontecendo o que ele sempre previra quando se deixava levar por seus pensamentos: estava se comportando como um bobo, sentindo-se bobo, abraçando-a como um bobo apaixonado faz. Seu coração, meu Deus, ela devia estar ouvindo. Devia ficar mais calmo, com a respiração lenta e compassada depois de tanta adrenalina liberada, mas não era o que estava acontecendo. Depois daquele momento íntimo, tudo se potencializou. Era magnânimo. Era mais do que ele poderia suportar.
Como voltar à rotina depois do que experimentara? Como poderia voltar a ser apenas um amigo? Como controlar a vontade que sentiria dela?
Ele encostou a testa na dela e, por alguns incontáveis segundos, inúmeras coisas passaram por sua cabeça: o dia em que se conheceram, os beijos desajeitados que trocaram, a inesperada amizade, os domingos na casa de , os sábados em festas e mais festa. Os meses tortuosos em que namorava garotas para suprir aquela carência que sentia, como se quisesse consertar uma linda escultura de mármore maciço com cola bastão. Ele nunca havia realmente se apaixonado – tirando aquela vez no Ensino Médio, porque amores de escola costumam, sim, ser inesquecíveis. Tudo bem, por diversas vezes achou que sim, achou que encontrara alguém com quem pudesse dividir momentos tristes e felizes do seu dia, mas então vinham os términos. O máximo que acontecia era ele se encontrar encantado, era essa a palavra... Mas nunca era o mesmo. Nunca podia conversar sobre música como podia com . Às vezes ele tentava engatar o mesmo assunto que passava horas debatendo com a amiga em um domingo ocioso com algumas de suas garotas, mas nunca era o mesmo embate. Não que elas não fossem inteligentes, claro que eram, não era um cara imbecil atrás de qualquer garota. Entretanto, mais uma vez entrava a questão do feeling, e quem quisesse colocar a culpa na maconha, que colocasse, mas o feeling, ah, isso era fundamental!
ergueu os olhos e viu que o observava em um deleite tão maravilhoso que ele pensou que fosse derreter por dentro. Oh, Deus, parecia um virgenzinho diante sua primeira mulher. De repente ele não tinha mais vinte e três anos, mas sim quinze. Um adolescente babaca e completamente apaixonado pela melhor amiga... Existia algo mais patético e clichê que isso?
Ela sorriu e o beijou.
E o que podia fazer, senão corresponder? Ele queria falar, expulsar aquele sentimento, não no sentido de extirpá-lo, mas no sentido de não o ter mais em si como um segredo, como algo que deve ser mantido velado, lacrado. Ele queria que ela soubesse. Logo ele, sempre muito simples em seus sentimentos, nunca expansivo, famoso por agir com cautela apesar das inúmeras garotas com quem se relacionou. Oh, sim, ele tinha consciência de sua carência, mas era apenas isso, carência. E agora isso era mais claro que nunca. Agora que estivera com , daquela forma tão intensa, divertida e visceral, ele não saberia como lidaria com o dia seguinte se ela fosse indiferente a ele.
If I am alive this time next year, will I haved arrived in time to share? - ? – chamou, partindo o beijo – Você está bem?
Ele sorriu em silêncio e a apertou mais contra si. Ele estava bem? Bom, aquela era uma boa pergunta. Não se lembrava de outro dia que tivesse se sentido tão realizado, mas sabia que ainda havia aquela questão central que só tornava todo aquele momento leve, sexy e descontraído mais pesado. Sentimentos podiam sufocar, ele sempre soubera, mas ali a faca de dois gumes estava evidente demais. Resolveu que aquele não era o momento de se preocupar e apenas disse:
- Só estou aproveitando o momento.
- Isso tudo é romantismo pós-coito? – ela perguntou com um sorriso no canto dos lábios.
Ele inspirou profundamente contra o cabelo dela.
- É, acho que talvez seja isso. Mas a verdade é que eu estou gostando muito positivamente de ficar aqui com você...
riu gostosamente, o que fez o coração de acelerar... Aquilo era bom demais para ser verdade, muito melhor que todos os seus sonhos mais desvairados.
- “Gostando muito positivamente”... Tudo bem, eu também estou gostando muito positivamente de ficar assim com você.
- Mas algo me diz que você também gostou muito positivamente do nosso momento no sofá – ele disse, olhando para ela com um sorriso convencido no rosto.
- Ah sim, afinal, quem teve a brilhante e rápida ideia fui eu!
- Eu não sabia que você era tão safadinha, .
Ela levantou a cabeça rapidamente e se fez ofendida.
- Eu sou uma princesa!
- Uma princesa linda e muito, mas muito safada mesmo!
Ela levantou-se um pouco, apoiou o cotovelo no tórax de , ajeitou o cabelo e olhou para ele com um sorriso torto no rosto.
- Você não gosta?
- Ah, não... Eu adoro! Venero! Amo, amo de paixão!
Mais uma vez o riso fácil tomou conta deles. Era tão fácil estar com ela, perder-se nela... Deus, era tão fácil querer ficar com ela!
And I am joining all my toughts to you, and I’m preparing every part for you Ele lembrou como fora difícil suportar calado o fato de que estava se apaixonando por . Primeiro a ansiedade lhe tirando o juízo, lhe fazendo querer cometer loucuras. Ele driblava esses surtos apaixonados flertando com garotas bonitas e inteligentes que cruzavam o seu caminho, porque logo naquele início estava de caso com um fotógrafo francês que prestava serviço pro New York Times. Um homenzinho insuportável, metido a revolucionário falando da Guerra do Iraque como se tivesse lutado, como se fosse a um iraquiano fodido querendo sobreviver. Tudo bem, ele fora correspondente, tirara umas fotos premiadas, ganhara a merda do Pulitzer porque ao invés de ajudar o moribundo iraquiano que agonizava em dor, estava acertado obturador, diafragma, iso; cobrindo aquele homem de flashs, em vez de socorro e ataduras.
Ele odiava aquele cara. Ele odiava pessoas que falavam da Guerra do Iraque com aquele ar superior, como se suas palavras, recheadas de pragmatismos politicamente corretos, fossem capazes de solucionar os problemas do mundo. perdera seu melhor amigo para a guerra, para o governo americano. Não era como se ele não soubesse do que estava falando. Não era como se não tivesse participado de todas as mobilizações possíveis. Ele era americano, e franceses idiotas costumavam confundir ser americano com ser um republicano conservador, uma mula da Klu Klux Klan. Era sempre assim que o francês de se referia a ele.
Foi uma das épocas mais difíceis de sua vida por vários motivos. Problemas familiares, seu melhor amigo morrera no Iraque, estava terminando a faculdade e em uma gravadora falida onde ele trabalhava por três pessoas e ganhava o equivalente a um terço de pessoa; para completar, na maior parte do tempo, odiava . E amava ao mesmo tempo. Quando ela estava longe, era só aquele sentimento cinzento, conturbado, e então ela ligava no mais tardar da noite e seu coração se enchia de calma. E ele se odiava por isso. De repente, não estava dando conta de suas responsabilidades e quase todas as noites chorava secretamente, preocupado com o trabalho, a mãe que adoecera e as irmãs.
Quem disse mesmo que homem não chora?
A única coisa que o acalmava também o fazia sentir-se mal.
You once talked to me about love and painted pictures of a never-neverland and I could’ve gone to that place, but I didn’t understand Foi durante esse período o fatídico dia em que ele foi parar no apartamento dela. Foi a primeira vez em que dormiu lá, sozinho, sem as outras pessoas das costumeiras noitadas agitadas. Nessa época, estava com pouco tempo para baladas, então o chamara para um jantar tranquilo e despojado num restaurante indiano no Bronx. Eles tomaram umas cervejas, comeram uns petiscos e foram para a casa dela. O francês imbecil estava fazendo a cobertura de uma viagem à Antártica, sendo assim, pensou que não haveria problema algum.
Quando perguntou, incisiva, sobre o que estava acontecendo, simplesmente mudou o rumo da conversa, dizendo que não era nada, que estava tudo bem, mostrou um vídeo que gravara no celular da irmã mais nova, mas por algum motivo lágrimas encheram seus olhos. Ele tentou desviar o olhar, sentiu-se pequeno, uma criança chorona. Caras não deviam chorar na frente de mulheres por quem eles são apaixonados, caras não deviam demonstrar fraqueza daquele jeito, e lá estava fazendo papel de idiota.
Desde quando sua vida havia se tornado uma triste canção de Elliott Smith?
I waited for a bus to separate the both of us and take me off far away from you. ‘Cos my feelings never change a bit, I always feel like shit Ele ainda podia lembrar o leve toque da mão de na sua, puxando-o para aquele sofá que fora episódio há pouco de um momento de extremo divertimento e prazer. Mas naquela noite, ah, naquela noite ele chorara com uma criancinha com saudades da mãe. Oh, ele estava com saudades da mãe. Era uma metástase, e ele sabia bem o que isso queria dizer, fora o mesmo com seu avô três anos atrás. Primeiro os tratamentos dolorosos, a força inicial, depois... Imunidade baixa transfusões queda de cabelo depressão disfunção renal mais químio rádio hospitais, morte. E também tinha o trabalho que se tornara algo absolutamente insuportável, mas não podia largar tudo logo agora, de uma forma ou de outra, era uma boa maneira dele fazer contatos, ter uma agenda, networking. E no meio disso tudo estava , com aquele francês.
- Ah, – disse com a voz embargada – Não fique assim, eu estou aqui para você, ok?
Eles encostaram a testa uma na outra, tocaram os narizes, e então, como nos velhos tempos, se beijaram. tomou a iniciativa e não foi como se oferecesse resistência. Foi doce e triste no início, mas depois foi voraz e a deitou no sofá. correspondeu, não em mesma intensidade, em mesma sintonia. Apenas o beijou serenamente, enquanto queimava por dentro. Não durou muito tempo, porque ele parou bruscamente, como se algo o tivesse despertado repentinamente, e recostou-se no sofá, o rosto completamente molhado. ajeitou-se e deitou no colo dele, segurando sua mão.
- Desculpa, .
- – ela disse baixinho - eu sei que você está passan...
- O Clément... Eu sei... Vocês... Me desculpe... Eu só... Não sei, ... Muita coisa ao mesmo tempo. Cara, o Jason, você entende por que eu odeio seu namorado? Além de todos os outros motivos que eu tenho para odiá-lo? Sabe o que é pior? Às vezes eu te odeio tanto.
- Por quê? – ela perguntou sentida.
- Eu te odeio tanto – ele jogou a cabeça para trás, se sentindo incapaz de olhar para ela – Mas então eu estou aqui com você, dizendo essas coisas e...
Ele não conseguiu concluir, a situação toda era humilhante demais. Se havia algum deus no mundo, ele realmente resolvera pisar em cima de . , boa amiga que era, não o encostou contra a parede sobre aquele “ódio” que era o sinônimo óbvio de “eu te amo”. Ela apenas sentou e levou a mão até o rosto dele.
I’m tearing up across your face, move dust through the light to find your name - Olhe pra mim, por favor.
Ele relutou, mas olhou.
- ... Isso tudo, isso tudo o que você está passando... Você não pode ficar assim todos os dias, você não pode guardar tudo para você, você não precisa sempre parecer ser o cara mais feliz e alto astral do mundo. O Jason não está mais aqui para te dar essa força, mas eu estou. Eu não estou entendendo o que você quer dizer com me odiar... Como você pode me odiar, , sendo que está aqui comigo?
- ...
- Agora você precisa me ouvir, ! Você está afundando, cara! Afundando, e quando você menos se der conta, estará em um poço, sozinho, sem ter como sair. Tudo isso porque você acha que tem que ser o forte... Não tem, . Os erros que você cometeu no passado não podem te impedir de viver o hoje, entende? Vai vivendo, cara, vai vivendo. Eu sou sua amiga, você pode dividir esse peso comigo, com suas irmãs, com as pessoas que se importam com você. Porra, você também tem que se cuidar!
- Não quero ouvir lição de moral.
- Me desculpe se eu não quero perder meu melhor amigo para uma merda de uma depressão!
respirou fundo. Não era seu objetivo irritar , mas ele sentiu algo aquecer no peito por ela se preocupar com ele. Oh, sim, migalhas. Mas ele não se importava que fossem migalhas, saber que ela queria o seu bem, mesmo que aquilo fosse óbvio porque eram amigos, o fazia sentir-se mais tranquilo.
- Fica comigo um pouco? - ele perguntou, mais calmo e sem se importar em parecer vulnerável.
Ela se aproximou e deu um selinho nele, demorou poucos segundos, apenas o suficiente para deixar atordoado.
- Sempre que precisar, bobão.
- O que foi, ? – perguntou fazendo beicinho - O tempo todo parece que estou te perdendo para sua cabeça.
Ele riu gostosamente pensando no que diria se ele dissesse todas aquelas coisas que tinha em mente, do quanto ele era completamente apaixonado por ela desde aqueles tempos, no quanto ele havia esperado por esse momento.
You and I, we might be strangers how ever close we get. Sometimes it's like we never met. But you and I… I think we can take it, all the good with the bad. Make something that no one else has - Eu já disse, , estou aproveitando... Você e eu assim, nunca se sabe o dia de amanhã.
- Você está dizendo que amanhã você não vai querer ficar assim?
Ele riu estridente, sentindo-se um idiota por seu coração ter dado uma volta completa ao ouvir aquela indagação.
- Olha só... Entramos agora em um terreno árido?
- Entramos? – ela perguntou arqueando as sobrancelhas.
- Muito espertinha, você! Além de safada, claro – ele disse, sorrindo para ela, enquanto a amiga enrugava o nariz – Eu só estava lembrando daquele dia... Daquele dia em que chorei feito uma criancinha.
- Ah, aquele dia...
- Eu estava tão louco por você... Se eu soubesse que um dia estaríamos assim, eu não teria me desesperado tanto.
parou por um momento, olhando para ele, atônita, sem conseguir acreditar no que acabara de ouvir, nem em seus sonhos mais desesperados ela poderia imaginar falando isso para ela, admitindo daquele jeito tão descontraído. Houve um tempo em que ela cogitou a possibilidade de gostar dela, um pouquinho, mas nunca louco por ela.
- Você tem noção do que você acabou de me falar?
- O quê? Que eu era louco por você? Mas , isso sempre foi tão óbvio...
- Como você consegue falar isso assim, dessa forma, como se não fosse uma coisa importante?!
- Não estou falando como se não fosse importante, só estou fazendo pouco caso.
- !
- – ele deu um selinho nela - O que você tem a dizer sobre isso, sobre nós dois assim... Juntos?
Ela baixou a cabeça e deitou no peito dele, sem coragem de encará-lo enquanto dizia:
- Eu queria morrer a cada namorada nova que você me apresentava... E naquele dia em que dissemos todas aquelas coisas horrorosas, eu tive certeza, tive certeza que o que eu sentia por você ia muito além de amizade. Muito além de desejo. Muito além de tudo o que eu já havia sentido por qualquer outro cara.
achou que fosse enfartar, de tão rápido que seu coração bateu. Ele não disse nada, apenas abraçou mais forte e fechou os olhos.
acordou. Abriu os olhos sem vontade, mas seu despertador digital marcava cinco e quinze da manhã em vermelho sangue. Era chegada a hora de levantar, escovar os dentes, lavar a louça da noite anterior, esperar Bel levantar, brigar com Bel porque ela não lavara a louça, dizer a Bel que ela era insuportável pedir desculpas correr para o banho se enrolar na toalha molhada reclamar do frio do cheiro de mofo escolher uma vestimenta razoável (ela agora trabalhava, afinal)... pegar o iPod com a mais nova seleção musical de ! Bolsa, pasta, cachecol, botas impermeáveis, che-che-check out, tudo ok. Agora faltava correr, bater a porta, voltar, dizer tenha um bom dia para Bel, fechar a porta e esperar o elevador. E a primeira música do dia era Sunshine. Oh, deus, ela ia chorar. Aquela música era especial. Num belo dia de verão, apresentara o brasileiro Arnaldo Baptista e toda sua trupe tropicalista. Eles fumaram um baseado e ouviram Mutantes, depois Arnaldo & Patrulha do Espaço. Nada da Bossa Nova blasé que dominava nos jantares burgueses nova-iorquinos. Bom mesmo eram aquelas duas frases num inglês cheio de sotaque e a voz rasgada do cantor. Obrigada, , ela pensou.
Guarda-chuva a postos, agora era a vez do Carl Barât, She’s something, oh céus, se a seleção de tivesse mensagens subliminares, ela seria tão mais feliz. Ele era tão mais sensível quando o assunto era música. Ah, mais uma garota fora apresentada a ela no sábado. Ela fora uma boa amiga: simpática, divertida e um tanto louquinha tomando tequilas e fumando cigarros. Na madrugada, em casa, vomitou e bradou alguns xingamentos contra . Quando deitou, seu celular vibrou com uma mensagem dele “Nova seleção musical upada, favor baixar. Att, , mestre do universo e dono do seu coração”. Se ele soubesse! Ela quase jogara o celular no vaso sanitário. No domingo, baixou a seleção musical para sua segunda-feira baixo-astral. Era uma idiota, mesmo. Agora lá estava ela pensando no quanto gostaria que She’s something fosse uma apologia ao amor, paixão ou mesmo atração que ela esperava que sentisse por ela.
Não era.
Imbecil!
Próximo sábado Juliet estaria fodendo loucamente com , pedindo para ele comê-la, chamá-la de vagabunda; chuparia seu pau, seria chupada, daria a boceta, o cu e o que mais quisesse.
Ah, enquanto isso, continuaria sem namorado, dando beijos bêbados em noites bêbadas, desejando o seu melhor amigo que no máximo fazia visitas dominicais e seleções musicais fumadas para suas semanas estressantes e cansativas.
Oh, ela estava se interessando por raspas e restos, afinal de contas.
French Films para animar! Oh oh you don’t know! Animação! Ela precisava de animação, mas sua animação estava a la French Films mesmo... Melancólica.
A música mudou, então ela estava ouvindo a animada, agridoce, fatal Kill the Director de The Wombats. E não é que havia feito uma trilha sonora para sua semana até que normal? Nada de sons tribais nigerianos ou ritmos transcendentais do Nepal. Tudo bem, tudo bem, ela podia lidar com aquela. Mesmo a música seguinte sendo de Tom Waits. Mesmo a música seguinte sendo I Hope I Don’t Fall in Love For You. Olá, , cadê a coerência de ritmos?
Ela rumou para o metrô ouvindo Tom Waits cantando com a conhecida voz rasgada para seu coração dilacerado.
Ela lembrou da época em que namorava Clément, o quão era fabuloso ter alguém tão bom de cama dormindo quase todas as noites com ela. Não dera certo. Ela o traia todos os dias pensando em , ele a traia todos os dias com Louise, uma alemã quarentona, atrevida e cheia de contatos. No mundo do networking, foi chifrada e chutada, sendo reduzida a uma garotinha que chora no ombro do melhor amigo durante uma semana inteira. praticamente acampara em sua casa, bons tempos em que ela ainda não dividia apartamento com Bel.
Ela também lembrou que beijara em desespero e ele correspondera prontamente. Muito provavelmente porque ele compreendia a carência dela, porque ela fizera isso por ele no passado.
deu bom dia para o professor de Comunicação Estratégica e pensou que gostaria de chutar o saco de . Se fosse um pouco mais honesta, sua situação seria mais bem resolvida se ela pudesse bater um boquete para ele e amá-lo sem medo de ser feliz. Mas não era assim que as coisas funcionavam. Ela tinha que apresentar aquele seminário escroto, lembrar de contextualizar semioticamente os temas e, ainda, dar uma pitada de conhecimento publicitário. Ela odiava aquela disciplina, mas fazer o quê?
Ver na faculdade, em seus últimos dias na NYU. Correndo, como sempre. Oi, , meu deus, estou atrasado para o trabalho! Você está ouvindo minha playlist, né? Ah, tenho que almoçar com a Julie hoje, socorro! Sábado ela me destruiu. Risos estridentes. Se abraçam. diz tchau e quer morrer. E chutar o saco de , apertar, fazê-lo gozar, deixar ele estéril.
Ela sente que está melancólica, perdida, a ponto de chorar a qualquer momento. Não está dando conta. Ela quer a mãe, quer o abraço apertado do pai, mas está em outra cidade, do outro lado do país. E, como sempre, se mostrar fraca perante seus pais está totalmente fora de questão. Pensa em ligar para Katie, provavelmente sua melhor amiga de Nova York, mas ela conhece , é amiga dos dois. não quer que sua paixão não correspondida vire assunto de conversas de bar.
Hora de responder e-mails e olhar por mais seis horas para a tela do computador. Um e-mail inesperado e seu coração agita. “, estou preocupado com você. Deixe de tristeza e fique comigo hoje, meu apartamento vai ficar vazio. Would you like to watch TV? Or get between the sheets? (risos) Or contemplate the silent freeway? O James vai dormir com a Donna”. Um convite daquele não tinha nada demais, mas o coração apaixonado de estava acostumado a florear tudo, em meio àquela melancolia, um e-mail era de repente uma esperança de algo, o que quer que fosse. E ainda tinha aquela referência à One of my Turns do Pink Floyd, perdera a conta de quantas vezes eles cantaram bêbados músicas da banda. Ela respondeu “Light my fire, baby”. Ele respondeu “Take this rock and roll refugee… Oh, babe, set me free”. A última frase era uma referência à Young Lust do Pink Floyd. Oh, Deus, que aquilo fosse uma mensagem subliminar e que ele precisasse de uma dirty woman mesmo. Ela era safada. Cento e setenta e um por cento vadia! Sim, ela queria dar pra ele, abrir as pernas, sentir o pau na boceta e gemer como toda mulher que se preze deve fazer. Que fosse chamada de vagabunda pelos vizinhos! Que seus gritos fossem insanos! Que nunca mais conseguisse sair de sua cama e a cretina da Juliet a puxasse pelos cabelos!
Mas é claro que isso nunca iria acontecer.
chegou e eles se abraçaram calorosamente, a essa altura ela já tinha ouvido de tudo um pouco, em uma verdadeira confusão de ritmos. teria que admitir que não havia o menor sentido ou mesmo feeling naquela seleção. Ele admitiu. Fez um liquidificador musical afim de captar e despertar sensações em . Depois do abraço reconfortante, ela entrou no carro e ficou estática enquanto Doughter reverberava nas caixas de som. Youth. Ela queria chorar, não era possível. Não era possível que estivesse tão emocionalmente afetada assim. Well I’ve lost it all, I am just a silhouette, a lifeless face that you’ll soon forget. My eyes are damp from the words you left ringing in my head when you broke my chest. Ela começou a chorar, mas fora sensível suficiente para entender que ela não queria falar sobre o assunto, continuou dirigindo. Seu único movimento brusco, por assim dizer, foi apoiar a mão na perna dela.
O apartamento dele. Masculino, cheiro de homem, testosterona para todos os lados, o que não queria dizer desorganização. Era, muito visivelmente, mais organizado que o dela com Bel. Mas tinha aquele cheiro de loção pós-barba exalando pela casa, perfume e desodorante. Ela sentou no sofá, apoiou o cotovelo nos joelhos, a cabeça nas mãos e segurou o cabelo com força.
- Desculpa, , era para você... Bem, não era para você me ver assim – ela disse entre um fugar e outro.
- Você lembra quando você me acolheu daquela vez? Eu não posso deixar você assim – ele fez uma pausa e se aproximou dela – Me diz o que está acontecendo.
- Eu só... Não estou dando conta.
- Dê um tempo das coisas, . Saia desse emprego e pegue um estágio. O dinheiro é pouco, mas você pode se dar ao luxo de fazer isso. É pro seu bem.
- Não, eu não posso.
- Você não quer, é orgulhosa demais para isso.
- Eu sou orgulhosa demais... Você não entende. Meus pais sempre interferiram em minha vida, . De todas formas possíveis. Não posso ter devaneios de burguesia agora. Não depois de tudo.
considerou por um momento. Ele não gostava de julgar pessoas sem se munir dos argumentos existentes de todos os lados. Ele só podia sonhar no tipo de interferência que os pais de costumavam fazer na Califórnia. Ele já a conhecera sem essa influência. Resolveu que seria melhor dar outro rumo á conversa, ainda que aquele tópico não o agradasse.
- Essa sua tristeza tem a ver com... Ainda é aquela história com o Clément?
- Talvez sim, porque estou carente – ela riu desgostosa – É verdade, eu estou carente, me sentindo só. Eu também tenho o direito, não é?
- Nunca disse o contrário, .
- Mas me olha como se eu fosse uma coitadinha. Eu odeio isso, .
levantou, sentindo um leve desespero tomar conta de si. Foi até a bolsa, tirou um cigarro de uma caixinha de metal, pegou o isqueiro e acendeu. Ultimamente aquele conjunto de gestos vinha sendo frequente: abrir a caixa de metal, tirar um cigarro, pegar o isqueiro, colocar o cigarro na boca, acender, sugar, soprar.
Seu coração estava descompassado, em seu estômago havia um buraco imenso, isso sem entrar em detalhes categóricos sobre sua alma. Tudo funcionava de forma errônea, equivocada em seu corpo. Seu pulmão aos poucos estava sendo pintado de preto-cigarro, mais e mais. Já não controlava, fumava sem pensar duas vezes, fumava por fumar, para tapar os buracos em seu estômago, para controlar a ansiedade. Era como se o resumo de si fosse igual aquela velha música de sua banda canadense favorita, Arcade Fire. My body is cage that keeps me from dancing with the one I love but my mind holds the key. - Você não pode ficar assim, ... Lembra quando eu ficava guardando todas as coisas ruins? Lembra como fiquei?
- Eu não sou como você, . Infelizmente não consigo me atracar com qualquer pessoa para esquecer meus problemas – deixou escapar. Não fora sua intenção de início, mas não era como se aquele fosse o momento dela se preocupar em ser uma pessoa agradável.
ergueu as sobrancelhas, de repente aquela frase fora preenchida por inúmeros significados e questionamentos internos. Seu coração, tão vacinado àquela já conhecida franqueza, dava sinais de que não havia sido superada, em hipótese alguma, nem mesmo quando ela se encontrava em seu estado mais desagradável.
Ele se limitou a olhar para ela e dizer não mais que a verdade.
- ... Você não está sendo a pessoa mais legal do mundo nesse momento.
Ela olhou para magoada. Parecia que o corpo inteiro estava cheio de vidrinhos e o estômago, ah, seu estômago estava mais ácido que nunca. Ela inteira estava ácida, sentindo-se explosiva, corrosiva.
- Eu não sou essa garota boazinha o tempo inteiro. E não estou com a menor vontade de ser uma pessoa legal – ela parou por um momento e soltou um suspiro - Estou cansada, .
- Honestamente, ? Tem um bom tem que você não tem sido uma pessoa legal – ele passa a mão no cabelo, nervoso, não quer brigar, discutir ou magoar , mas sente-se na obrigação de ser sincero.
Ele vê respirar profundamente, fechar os olhos e sorrir amargamente. Não é o seu sorriso predileto e ele percebe que a situação está feia para o seu lado quando nota que odeia aquele sorriso, mas que também o ama.
- Honestamente, ? Estou cansada do seu olhar condescendente, da sua falta de jeito comigo, do seu olhar de pena por eu não ter alguém em minha cama a cada dia da semana... Como se tudo só fizesse sentido quando se tem sexo contínuo, como se eu não pudesse conseguir um orgasmo por conta própria. Eu estou cansada de ouvir todas as bobagens que sua namorada fala em minha casa e de como você a insiste em levá-la ao meu apartamento. É triste dizer, mas a cada dia que passa eu só tenho mais certeza de que estou cansada de você.
Aquilo fora como se alguém tivesse cortado fora cada membro de seu corpo. Não, não consegue acreditar que está terminando com ele sem eles nunca terem começado. Ele não consegue acreditar no quão magoado todas as palavras de o deixaram.
- Eu ainda estou absorvendo... E não consigo acreditar em você, e tudo isso só faz sentido quando suponho que você está cansada de mim porque não estou mais atrás de você como um cachorrinho desesperado por atenção. O tempo inteiro batendo à sua porta.
- ... Você continua batendo na minha porta. O tempo inteiro. Mas você tem agora aquela mulher a tira-colo. E eu sinto vontade de vomitar a cada vez que ela solta uma atrocidade absurda como “Ai meu Deus, é a primeira vez que vejo Obama fazendo algo coerente! A Síria só vai entrar nos eixos quando os Estados Unidos derem um jeito nela”. É tanto absurdo que essa mulher... Essa mulher consegue me fazer sentir nojo. Nojo de você, .
Eles se olham por incontáveis segundos que parecem milênios, mas é o primeiro a desviar o olhar porque está com raiva. De uma hora para outra ele sente vontade de estrangular com as próprias mãos porque ela o fez sentir uma insuportável vergonha de si mesmo. E esse sempre fora o trabalho de pessoas que ele não suportava. Ele balança a cabeça sem acreditar. E não quer deixar que ela tenha a última palavra porque lhe sobe um asco tão profundo que ele pensa que vai vomitar, mas se assim for, ele quer vomitar em .
- Você é tão politicamente correta que namorou o maior hipócrita da história da imprensa! Nos últimos tempos, por acaso, você já se olhou no espelho? Você reconhece essa pessoa aos frangalhos quando vê seu reflexo? Sabe o que eu quero saber, ... Já que sou essa pessoa repugnante, quero saber se sou a única... Quantos homens ainda pedem o seu número de telefone quando te veem?
- É incrível quando tudo para você se resume a isso! , para quê todos esses homens deveriam me ligar, se você, que insiste tanto nesse tópico, já cumpre esse papel?
- Que papel?
- O do cachorrinho desesperado por minha atenção.
No segundo seguinte se arrependeu do que dissera, não era como se ela se sentisse dessa forma. Muito ao contrário, por diversas vezes era como se estivesse seguindo sem ela. A feição de decepção e incredulidade a deixara completamente sem chão. não deixaria aquilo barato, ele estava processando o que ela dissera, respirando fundo e então...
- Desesperado por sua atenção? – ele perguntou mantendo o tom de voz baixo - Tudo bem, . O que você quer ouvir? Algo que faça sua autoestima se elevar para as galáxias novamente depois de tudo o que aquele francês filho da puta fez? Você só consegue ver o quão patética você foi? Eu não vou dizer o que você precisa ouvir, . Sabe por quê? Porque não é verdade. A verdade, a verdade mesmo é que eu tenho tentado te ajudar. Mas eu não estou disposto a juntar as pecinhas de ninguém... Honestamente, nos últimos tempos eu simplesmente não sei como agir com você porque sua companhia tem sido tudo, menos agradável.
Eles ficaram em silêncio por incontáveis segundos até que finalmente falou, sem conseguir se conter.
- Então por que você está aqui comigo?
E lá estava ele desarmado mais uma vez, e a culpa era toda sua por ser tão idiota, por sempre se deixar levar por aquele sentimento. A amizade com geralmente era fácil, doce e gentil. Ele costumava a comparar com os lindos dias de sol dos trópicos. Era brega, mas era a sensação que tinha. Só que às vezes parecia que mil facas estavam penetrando seu corpo, e esse era um dos momentos das facas. Oh, ele estava magoado, mas não tinha forças o suficiente para feri-la novamente, por mais que ela tivesse acertado seu orgulho em cheio.
- Eu... . Eu quero te ajudar, mas você não quer ser ajudada. Eu quero estar ao seu lado e você também quer, mas dois segundos depois não quer mais. É sempre a mesma história. Você se fecha para as pessoas, dá uma pequena abertura e espera que elas se contentem com isso, mas para mim não funciona dessa forma. Eu sempre quero saber mais e mais de você. Eu quero, sim, que você me conte de como era sua vida na Califórnia. Das besteiras que você fazia. E você me conta, mas depois parece que se arrepende. Eu me aproximo dez passos e estamos bem, mas parece que, para você, isso, o fato de estarmos próximos de verdade, se torna ruim em cinco minutos e então de repente há dez mil passos de distância entre nós.
Era como se Thinkin About You de Frank Ocean tivesse se transformado no roteiro de sua vida naquele exato momento. E todas as lágrimas que ela conseguira reter heroicamente caíram como numa tempestade tropical. Era verdade, era massacrante como seu sentimento por a fazia cometer as mais loucas contradições, até mesmo para ela. Tão longe e tão perto. Tudo era tão simples entre eles, mas em alguns momentos as coisas se transformavam em complicados labirintos. Talvez o diagnóstico para os dois fosse a falta de timing. Ela estava livre, ele estava namorando. Ela o queria e em alguns momentos parecia que ele também, mas então ela negava. Era como se toda sua autoconfiança fosse para o ralo. Ela não queria ficar só naquela sexta-feira cinzenta. Ela queria que juntasse seus pedacinhos, um a um. Ele dissera que não queria, mas aquilo não poderia ser verdade, não agora quando ela mais precisava. Eles estavam magoados, mas... Mas eles poderiam reconstruir aquela amizade juntos, eles podiam reconstruir ... Ela não aguentaria mais essa perda. Já não bastava ter sido demitida do estágio dos seus sonhos por contenção de gastos, já não bastava a conversa que tivera com os pais ou mesmo o fato de seu pai ter simplesmente decido que seu irmão não era mais filho dele porque assumira relacionamento com outro cara.
Ela foi em direção a decidida. Mesmo em meio ao choro, mesmo com todo seu corpo tremendo. Ela foi em direção a ele com um único objetivo em mente: acabar com toda a distância física que os separava. Ela o abraçou se jogando nos braços dele. ficou imóvel, com os braços inertes, mas seu coração simplesmente batia enlouquecido movido por àquela proximidade, pelo jeito como o abraçava como se dependesse dele para conseguir dar o próximo passo.
- ... Não estamos mais há dez mil passos de distância um do outro – ela disse olhando-o nos olhos, sem vergonha das lágrimas que escorriam de seus olhos, despida de toda e qualquer armadura.
- Eu não estava falando disso, ... – ele diz com a voz fraca, ainda sem conseguir mover um só membro.
- E disso?
E o beijou, tocou seus lábios como um beija-flor. Leve, doce, delicada. Mas acionou em todo o desejo reprimido ao longo dos meses, fora em um momento parecido que se beijaram um tempo atrás. Quando ele estava precisando disso, só que fora cálida, cuidadosa, respeitara o namorado. Mas não conseguia pensar em Juliet. Ou mesmo no que aconteceria depois. Ele simplesmente cravara seus dedos na nuca dela e a segurara pelo quadril com a outra mão. Ele passou a língua nos lábios dela e a beijou. Sem cautela, leveza ou delicadeza. Ele queria sugar tudo de . Ele a queria para ele. Oh, céus, isso de novo. Era impossível de superar. Ele nunca iria superar. Nunca.
Ela o estava correspondendo. Aquilo... Era paixão? Ou era porque ela estava sozinha e sabia o quão louco ele era por ela.
Não importava. Ele queria eliminar toda e qualquer distância entre eles, ele queria tomar conta de , cuidar dela, amá-la, ser amado por ela. Ele queria fazer amor com em sua cama, no sofá, naquele velho rack cheio de utensílios inúteis. Ele queria sugar toda a dor que ela estava sentindo. Estava faltando o ar, mas ele não queria parar, ele não podia.
se afastou, afoita. Ela encostou o rosto no ombro dele e o abraçou. apoiou o queixo sobre o topo da cabeça da amiga. Eles ficaram assim por incontáveis minutos. Era absurdo o quão apaixonado ainda era por aquela garota. Ele a puxou para o sofá e a fez sentar em seu colo. Encolhida, o abraçou e depois ergueu o olhar para ele.
- Obrigada.
fechou os olhos e não disse nada. Seu coração estava esmagado. Ele não conseguiria continuar se a amizade se tornasse um peso.
- , olha pra mim.
Ela o viu fazer um esforço colossal para olhá-la. Ela o viu colocar um sorriso doloroso nos lábios. Ela o viu em pedacinhos. Por causa dela. Foi a primeira vez que percebeu o quanto sua tristeza afetava . Ela inspirou fundo e tentou conter ao máximo as lágrimas, mas foi praticamente impossível não deixa-las cair.
- Eu não quero que você me odeie. Eu não quero que você esteja há dez mil passos de distância. Você é meu melhor amigo e, puxa vida, sem você aqui eu jamais teria chegado tão longe nesse meu sonho de independência porque a verdade é que mesmo na minha independência... Eu, eu sou muito dependente emocionalmente de você, é isso. Eu preciso admitir isso. Eu...
Ela parou, se escondendo no peito de , porque já não conseguia controlar o choro.
- Eu sempre vou bater à sua porta, . E me desculpe por não saber como agir ou o que fazer. Quando eu precisei, você estava aqui.
- Não se desculpe. Isso só vai me fazer sentir mais raiva de mim mesma. Eu sei que... Eu sei que tenho sido intragável. Eu estou com alguns problemas, certo? Mas quando você estava mal, você não saía por aí acertando todo mundo.
estava se dando conta de algumas coisas enquanto falava: 1) eles haviam acabado de dizer palavras horríveis um para o outro; 2) depois de tudo o que eles haviam dito, estavam nos braços um do outro como para ser e, por fim; 3) ele amava . Demais.
- You are lost and I'm at home and nobody wants to be here alone – ele cantou baixinho Dance With Me, de Adam Green.
Ela sorriu para ele e completou:
- Baby, come dance with me.
sorriu ao se recordar desse famigerado dia de lembranças tão dolorosas, mas ao mesmo tempo tão esclarecedoras. Era tão óbvio o quanto os dois se desejavam desde sempre. A forma como se olhavam, o modo como sempre arranjam um jeito de estar perto um do outro. Os domingos de pertenciam a , as ligações constantes de ambos para contar os bons acontecimentos da semana. Bastava olhar um pouco para saber que eles eram completamente enlouquecidos um pelo outro. E mais que isso: eram companheiros.
, que estivera tão absorta quanto ele perdida em memórias, aproximou os lábios do ouvido dele e mordeu o lóbulo da orelha do amigo. Ela estava amando poder esfregar-se nele, passar o pé de leve pela panturrilha dele e falar sacanagens sem a menor vergonha bem baixinho no ouvido. Ela nunca imaginou que seria tão prazeroso fazer alguém gemer. Nem mesmo que sentiria vontade de chupar um homem que não estivesse depilado até o saco. O desejo por ele era tão orgânico, tão visceral que parecia que ela jamais estaria satisfeita. Harrison, a filinha do magnata Jonathan Harrison, transformara-se numa ninfomaníaca em um kitnet barato nos fundos de Nova York. E ela estava amando muito tudo isso.
- , eu quero mais.
Ele deixou escapar um gemido meio preso na garganta, apoiou-se no cotovelo virando o corpo para o de . Ele sorriu para ela abobado e nada disse, mas seus olhos brilhavam e suas mãos acariciavam cada extremidade desnuda do corpo de . Ele se deteve nos seios dela, depois na barriga, nas coxas, e então na virilha, tocou seu clitóris, mas sem pressionar; seus dedos entraram um pouco em sua intimidade, mas logo saíram. Ele levou os dedos à boca e chupou o líquido dela, ah sim, ela estava molhada novamente, mas ela sabia que aquele passeio de iria demorar. A mão dele voltou a subir por sua barriga e mais uma vez se deteve em seus seios. Ele os apertou gostosamente e então comprimiu o bico e depois, ah, ele estava chupando eles. Bem devagar, passando a língua em volta, enquanto suas mãos faziam um trabalho benfeito em sua cintura. estava inerte, perdida, completamente perdida naquele sentimento que a fazia explodir pelo coração e jorrar, simplesmente jorrar mel pela boceta.
E então ele parou e achou que fosse morrer. Morreria ali mesmo se ele não continuasse, não poderia sobreviver sem o orgasmo seguinte.
A pausa de foi dolorosa. Ele passeou por seu corpo, mas não investiu contra ela. Ele chupou seus seios, mas não chupou lá embaixo, na bocetinha molhada e desejosa. Os dedos dele tamborilaram por seu corpo, mas não a seguraram, selvagens e desejosos. Foi uma delicadeza erótica que a deixou completamente à flor-da-pele.
Ele sabia que ela estava louca de desejo, mas queria que ela entendesse o que ele está sentindo. Não é só tesão, não é só o orgasmo que estava por vir que o movia em seus atos sorrateiros de estímulos. Ele a desejava, sim. Ela o fazia perder completamente as estribeiras, sim. Ela o estava deixando absurdamente duro e pulsante, ainda mais que das outras duas vezes, ah, sim, ela estava e como estava!
Mas não se trata apenas disso.
- – ele disse com a vez falha, enquanto beija o pescoço da amiga em sua sedução competente. Ela soltou um grunhido entregue, tão perdida em excitação que mal consegue abrir os olhos, e entendeu perfeitamente, mas ainda faltava algo que ela precisava compreender.
Ele pegou a mão dela que estava frouxa - o pulso completamente mole - e direcionou até seu pau, que está tão excitado quanto a boceta encharcada da amiga. Ela sorriu, safada, ao tocá-lo, e ele deixou que ela o faça bem devagar durante alguns segundos, e não demorou até que ele mordeu o próprio lábio inferior e tirou a mão de de lá.
Ele pôs a mão dela em seu coração, e por mais brega que o gesto pudesse parecer, era o que fazia sentido naquele momento, era tudo o que ele queria dizer, mas ele completou a informação, ele disse para que as palavras não se percam no vento como muitas vezes já acontecera entre os dois. Por isso - e também porque é muito mais sexy e romântico -, ele disse tudo contra o ouvido dela, bem baixinho, quase sussurrando:
- Eu quero fazer amor com você, . Quero fazer amor com você aqui e agora. E depois por todos os cantos meu apartamento. Eu quero fazer amor com você no meu carro e depois podemos ter nossa dose de sexo selvagem. Eu quero fazer amor com você, . Aqui. Agora. Sempre.
And I don't believe in the existence of angels (E eu não acredito na existência de anjos)
But looking at you I wonder if that's true (Mas olhando para você eu me pergunto se isso é verdade)
But if I did I would summon them together (Mas se eu acreditasse convocaria todos eles juntos)
And ask them to watch over you (E pediria que te guardassem)
To each burn a candle for you (Que cada um lhe acendesse uma vela)
To make bright and clear your path (Para fazerem seu caminho limpo e iluminado)
And to walk, like Christ, in grace and love (E andarem, como Cristo, em graça e amor)
And guide you into my arms (E te guiarem para meus braços)
E então ela finalmente entendeu o que quis dizer com o fato de que ele sempre fora louco por ela. Agora ele parecia louco por ela; quando a beijou assim que chegou em seu apartamento naquela noite, ele parecia louco por ela; quando passava os domingos em sua casa, ele parecia louco por ela; quando a beijou em desespero naquela noite algumas horas atrás, ele parecia louco por ela. Ele fora louco por ela por todo esse tempo. Ele quisera fazer amor com ela, amá-la, e não apenas gozar em mais uma camisinha em que dariam o nó e jogariam a porra no lixo.
Ah, quem diria que uma masturbação frustrada resultaria na descoberta de que seu amor reprimido de tanto tempo se mostraria apaixonado por ela?
- – ela diz sem conseguir conter a emoção – Quer dizer que durante todo esse tempo, você era...
- Completamente apaixonado por você! – ele disse, feliz, sem vergonha, sorrindo para ela da forma mais boba que um homem pode sorrir para uma mulher.
fechou os olhos e de repente se sentiu completamente preenchida, talvez não mais do que se estivesse dentro dela, mas aquilo não era uma coisa que ela não pudesse dar um jeito. Ela apoiou o cotovelo no peito de , que apenas esperou que dissesse algo, fizesse algo. Ela conseguiu sentir a batida, a frequência dele. Ela tocou mais uma vez no pau dele, e os olhos dele fecharam. Ah, ela queria ser piegas, queria dizer isso com ele dentro dela. Ela passou a cabecinha na entrada e colocou devagarzinho. Eles estavam de lado, mas ela montou nele e tocou em seu rosto, que estava em deleite. Olhos abertos, desejosos e relutantes, esperando que ela fale, que lhe dê a certeza de que o sentimento é recíproco. E o fez, disse o que sempre quis dizer, o que sempre esteve entalado em sua garganta durante todos esses tempos.
- Eu quero você, , desde... – ela se mexe em cima dele e solta um gemido – Desde quase sempre. Eu quero fazer amor com você aqui e agora. Mas quis também naquele dia em que você foi à minha casa e eu ainda namorava Clément, e eu queria te curar te dando amor, te fazendo amor, o meu amor – apertou os músculos internos e escondou o rosto na curvatura no pescoço de quando ele mete mais fundo, mas ela não parou de falar, ela queria falar tudo com ele dentro dela, preenchendo ela, porque não sabia o dia de amanhã, não sabia o que pode acontecer – Eu quis fazer amor com você no seu primeiro carro, quando você me levou para aquele parque no Queens. Eu, ah, ah, , você faz tão gostoso. Eu quis você dentro de mim essa noite, antes de você chegar. Ah, você não sabe, mas eu estava me tocando para você, pensando em você porque ah, ah – mete mais fundo nela e rebola com ele bem lá dentro, ela sabe que dessa vez nenhum dos dois vão durar muito. Três vezes em menos de cinco horas não é pra qualquer um – Vai mais forte, ... Eu preciso mais e mais de você dentro de mim!
E meteu, meteu gostoso, olhando nos olhos dela, amando-a, devorando-a. Era tão gostoso com ela, mas ele queria ouvir mais, ele ficou ainda mais duro ao saber que ela estava se tocando para ele, naquela noite.
- Me diz, , me diz... Tudo...
- Eu estava me tocando hoje e todos os outros dias porque... Eu quis, sempre quis fazer amor com você, transar com você, chupar você, dar para você, sempre tive esse desejo louco dentro de mim porque...
Ela parou de falar porque ele aumentou os movimentos e não fica fácil se pronunciar sem soltar altos gemidos. resolveu ceder aos gemidos, porque assim eles falam a mesma língua. São mais três metidas para garantir um orgasmo conjunto que poderia curar qualquer câncer em metástase, ele supôs. Ela caiu ao lado dele com o corpo mole, sorriu sonolenta e disse:
- Porque desde sempre eu sou completamente apaixonada por você.
FIM
N.A.: Finalmente posso dizer que tenho uma fic concluída! E isso é muito bom, mesmo. Eu não sei exatamente se esse final vai agradar vocês, se a playlist ficou legal – eu queria acrescentar umas músicas do Arcade Fire (motivos: Reflektor <3) e do Lou Reed (in memorian), mas não rolou, acho que essas que escolhi encaixaram direitinho e nada além disso entrava na história. Me diverti muito escrevendo, sério. Cada pedacinho dessa historinha foi montado com muito cuidado e carinho e espero que vocês tenham gostado. Eu quero que vocês me digam o que acharam (honestamente) e comentem mesmo. Tirem suas dúvidas no ask.fm, e eu estarei à disposição! Eu queria agradecer a Abby que aceita betar minhas histórias, por mais enrolada que eu seja. E a vocês por terem acompanhado esses quatro capítulos recheados de amor, luxúria e diversão ( e um pouquinho de drama nesses flashbacks).
Beijocas, logo mais devo pintar com uma shortfic e as atualizações de Black Holes and Revelations!
Nota da Beta: Erros? Envie diretamente para mim pelo email awfulhurricano@gmail.com ou através de um tweet para @mimdeixa (lembrando que eu NÃO sou a autora da fic). Não use a caixinha de comentários, por favor. xx Abby