A Casa do Lago




A garota olhava seu reflexo no espelho, estava linda; radiante, na realidade. Seus longos cabelos loiros caíam sobre seus ombros nus e aquele vestido deixava seu corpo invejável. O dia havia chegado. A festa tão esperada de seus pais estava ali, a festa de inauguração da casa nova, no bairro novo, em Londres.
era uma adolescente em seus meros 17 anos, que vivera sua vida inteira em Liverpool. Seu pai, um ótimo cardiologista recebera a proposta que apenas acontece uma vez na vida, meses antes: ser diretor do maior centro médico do Reino Unido! E é lógico que ele aceitara. Para facilitar a vida de todos, mudaram para Londres e com o ótimo pagamento estréia compraram aquela casa.
A casa era monstruosa, os estavam ali há três dias e a cada passo, um novo lugar era descoberto. Composta de cinco andares, um lago, salão de festas, de jogos, de massagem, quadras e quartos; exigia uma festa de inauguração, a mãe da garota dizia.
- , seus avós chegaram. E seu pai disse que tem uma surpresa pra você! – , a para-sempre-e-desde-sempre-melhor-amiga-de-, informara a amiga, ao entrar no quarto.
- Ah... – Fizera um coque no cabelo, uma careta e o soltara. – Brigada. – Foi até uma pequena mesa que fazia parte do quarto profissionalmente decorado e pegou suas argolas prateadas.
- Ah , não fica assim. Aposto que sua nova escola vai ser ótima e estar cheia de pessoas legais! – tentava consolar a amiga que estava desanimada desde que soubera que mudariam.
- É, talvez. – A garota dera de ombros.
- E nós ainda iremos nos ver todos os finais de semana! – Ambas olhavam-se no espelho. – Seu pai falou que convidara vários médicos com filhos da nossa idade, talvez você se enturme com um deles.
- É, acho que sim. – Suspirou.
- E olha pelo lado bom, McFLY estará mais perto de você! – dera um pequeno sorriso.
- É, . Mas até aí eles fazem muitos shows em Liverpool, nós já entramos no camarim e adoramos dar um de groupie atrás deles, não é só porque estou em Londres que essa situação irá mudar, você sabe muito bem. – A amiga não conseguiria animá-la, não hoje. – Não é só porque agora eu moro em Londres que o irá me convidar para sair e se apaixonará perdidamente por mim. E que ódio, eu não consigo arrumar o meu cabelo! – Jogara-se na cama.
- Vai com ele solto, seu cabelo é de dar inveja. – sabia que o humor de sua amiga não estava dos melhores por causa da mudança, e os hormônios nesse período do mês não ajudavam muito.
O telefone estava tocando. Dois toques; era sinal que alguém de casa discara o seu ramal.
- Oi. – Atendera mau humorada.
- , nossos avós chegaram e uns amigos do papai também. Desce que eles estão pedindo. – , irmã mais velha de , estava dando o segundo aviso. Ela, com seus 23 anos estava acabando a faculdade de medicina e como mal ficava em casa, não ligava para a mudança. Namorava um cara de sua classe na faculdade e por isso, vivia dizendo que sua vida era perfeita.
- Tá bom. – Desligara. – Vamos , o povo começou a chegar. – Calçou seu scarpan e, acompanhada pela amiga, seguiu em direção ao lago. Caminharam, caminharam e nada de estarem perto deste tal lago. Aquela casa era, definitivamente, grande demais. Salas e mais salas com decorações perfeitas passavam por elas e o local alvo parecia cada vez mais distante. Desceram quatro andares e chegaram em uma cozinha, onde dezenas de funcionários andavam de um lado para o outro; saíram pela porta à esquerda e caíram em um corredor e finalmente em um deck. Se dessem dez passos, estavam dentro do lago, onde havia um palco de madeira, com uma banda contratada tocando, flutuando naquela água escura. Deveriam ir pelo canto, até chegarem às mesas, onde muitos convidados estavam ali conversando.

- Esta é minha caçula – O senhor apresentava a um de seus amigos – . E esta é a agregada, . – A menina não sabia porque as piadas de seus pais eram sempre as mesmas e também não sabia porque todos riam quando ele dizia o agregada, afinal, qual era a graça?
- Prazer. – A menina sorria para o senhor. – Pai, cadê a minha irmã? – Ele apontara e ela fora na direção indicada. – Oi Bru. – Cumprimentara seu cunhado.
- Olá cunhadinha, oi .
- E aí, apostam quanto como hoje alguém estressa? – perguntou.
- Eu não aposto nada, eu já estou muito mal humorada. – olhava todos os que passavam.
- A tá de TPM, não liguem. – alertou.
- Eu e o Bru estávamos vendo aquele senhor gordo cair no lago. – e Bruno começaram a rir vendo um homem bem na beira da água.
- Se vocês quiserem, eu posso ajudar a gravidade a puxá-lo para dentro do lago. – ofereceu. Mas antes de responderem, a salada estava sendo servida. Os quatro jovens sentaram-se na mesa reservada para a família e não conseguia acreditar na hipocrisia de todos aqueles gordos senhores e suas famílias estarem indo apenas para a inauguração de sua casa! Quem inaugurava uma casa, na realidade? Jennifer Aniston? Bom, os estavam longe de serem uma Jennifer da vida, porque então estavam fazendo aquela festa?

Conversa vai, conversa vem, realmente não estava se sentindo das melhores. Não que ela fosse uma anti-social, realmente não era; ganhara prêmios de simpatia em sua outra escola, pois como se recusava a participar dos de beleza, toda a produção fazia de tudo para aquela linda garota receber alguma premiação. “Simpática, linda, meiga e engraçada” fora o que ouvira ao receber aquele título colegial.

-...era ela falar isso e PLUFT ela dormia! – Ela não agüentava mais essa história, seu avô contava toda reunião familiar. E era mentira! Ninguém, nem uma criança, fala “eu vou dormir” e dorme instantaneamente, NINGUÉM!
- Não sei porque ele insiste nessa história. – Sussurrara.
- , respira fundo. – falara com intenção de acalmar a amiga. olhara para seu prato, já havia comido metade. Preparara um garfo de salada e foi logo a seguir que seu mau humor aumentou; sem mais nem menos, um outro garfo viera na direção de seu prato e um pouco de sua salada desaparecera na boca de seu avô. A garota ergueu lentamente sua cabeça e encarara os olhos de sua irmã, que ela sabia que diziam para ela ignorar aquela ação. Fechou os olhos e quando estava indo comer mais um pouco de sua comida, PLUFT seu avô roubara de novo sua salada.
- VÔ! – Ela gritara sentindo um chute em sua canela. – PÁRA COM ISSO! – Fitou sua irmã. A garota não sabia a graça que seu avô estava vendo em roubar sua salada, mas ele resolvera se divertir novamente e fora pegar mais um pouco. A bela e controlada garota parecia então outra pessoa. Empurrara sua cadeira com força para trás, levantara-se e começara a gritar. – VÔ, PÁRA COM ISSO! É MINHA SALADA, MI-NHA! VOCÊ JÁ COMEU A SUA E POR ISSO VOCÊ NÃO ESTÁ MAGRO, NÃO COMA A COMIDA DOS OUTROS, QUE ÓDIO! – Saíra andando em direção ao deck, ouvira desculpas de atrás de si e sussurros. Todos os amigos de seus pais a olhavam, mas ela não ligava. “Aquele gordo, velho. MINHA salada. Ninguém mais respeita minhas vontades? Não, eu não posso ficar em Liverpool. Não, eu não posso namorar o César. Não, eu não posso nem ter a MINHA salada!”

Lágrimas de raiva desciam o bronzeado rosto da menina, resultado de seus pais e seu avô e um fim de semana em Cancun.
- , espera! – gritava atrás dela.
- Eu não acredito nele, sabe? Eu não tenho mais escolha nem direitos nenhuns! Nem na MINHA salada, ! AAARG!
- Calma , sério. Respira.
- Não quero respirar, não quero pensar nem me acalmar. – Parou e tirou os sapatos. Continuou a andar logo depois. – Eu odeio isso. Odeio meus pais por me trazerem pra cá, odeio meu avô por contar histórias chatas e falsas e ainda por cima comer MINHA salada. Odeio minha irmã por chutar minha canela toda vez que ela acha que precisa. – Já estavam na escada para o segundo andar. – Odeio essa casa que é grande demais para apenas quatro pessoas morarem! E ah, eu me odeio por odiar minha família. – Respirou fundo e resolveu ir reto, não continuar subindo.
- Ah , você sabe que você não os odeia de verdade. Você só tá com raiva deles, eu entendo. Eu também tenho raiva da minha fam...
- , shiu. – parara e olhava pra um ponto à sua frente.
-... ília. – Parara também. – O que?
- McFLY. – Sussurrara.
- Oi?
- McFLY. – Apontara em um ponto à sua frente.
- Abaixa essa mão! – falara alto demais, batendo no braço da amiga, chamando a atenção dos vários jovens que estavam naquela sala, incluindo quatro em especial.
- Eu esqueci que aqui que todo mundo com menos de 23 anos ficaria. – A menina continuava de olhos arregalados, agora não chorava mais. – É, bem... A gente volta? – Continuava sussurrando.
- Não, nós vamos falar com eles! – O que estava pensando? Nunca que ela iria até eles!
- Acho que nós não vamos precisar, . – Indicou com a cabeça quatro garotos que vinham encontrá-las. Ok então, certo? Se elas não iam até eles, bom... Eles iam até elas.
- Você é a , não é? – Um loiro perguntou.
- Sou sim. – A garota sentia seu rosto latejando.
- PARABÉNS! – Os quatro a abraçaram.
- Oi? – Olhava-os confusa.
- Hoje não é seu aniversário? – O garoto que não tirara os olhos dela um minuto perguntara.
- Não...? – Ela respondera.
- Ei! Então o que nós estamos fazendo aqui? – perguntou.
- Hoje é a inauguração da minha casa, serve?
- Cara, quem inaugura uma casa? – perguntara levando um cutucão de .
- Aparentemente meus pais. – sorria. Como assim McFLY em sua casa? – Ah, essa é a . – Apontara a amiga.
- Acho que nós já vimos vocês em algum lugar. – Um deles falou, semi-cerrando os olhos.
- Ah, nós vamos bastante em shows de vocês. – falou. – Já fomos em camarim, coisas assim.
- AH! VOCÊ É A GAROTA QUE EU NÃO ACHEI PALHETA, NÃO ERA? – apontou para .
- Erm… Era sim. – Aquele dia havia sido demais, mas ela não tinha tempo para lembrar dele inteiro, apenas de procurando uma palheta para ela, de livre e espontânea vontade, quando ela dera um CD de aniversário para ele.
- Eu gosto de você. Você foi uma das poucas fãs que não tentou me agarrar. – Ele começou a rir.
- É, bom... Eu gosto de você pelo seu talento, não por sua aparência. Não preciso agarrar você pelo talento. – Ambos sorriram.
- Você por acaso está me chamando de feio, ?
“This is the story of a girl, who cryed a river and...”
- Rapidinho, meu celular. – Sorriu timidamente e atendeu. – McFLY? Tocando? Tá, eu estou indo. – Olhou pros que a olhavam. – Lá no lago, tá tocando McFLY.
- TÃO TOCANDO NOSSA MÚSICA?
- VOCÊ TEM UM LAGO?
- QUE IRADO!
- Salva pelo gongo. – sussurrara entre os gritos dos garotos.
- ONDE? – Os garotos gritavam.
- Erm... Por ali. – Apontara delicadamente.
- ENTÃO VAMOS! – começou a empurrar a menina. – VAI LOGO, ANTES QUE A MÚSICA ACABE! CORRE! – E todos começaram a correr a longa maratona que era até o lago. Quando chegaram, a música estava no final e não conseguira diminuir a velocidade e fora para dentro do lago com .
Os pais de , quando viram a cena de seis pessoas correndo e duas caindo dentro do lago não ficaram muito felizes.
- PORRA DUDE, VOCÊ É UMA ANTA! – Todos os convidados os olhavam.
- , o que é isso? – O pai gritara.
- Erm... – Mas antes de conseguir se explicar, estava em cima do palco, com a guitarra na mão e ajudando a ir para lá também. – ? – cutucara a amiga.
- Eu não sei, ! – Murmurara para a amiga, olhando tentar pular para o palco. , após perceber que não havia morrido, subira lá também.
- Olá convidados da festa de inauguração da casa! Palma para os ! – tentava animar as pessoas, e aparentemente estava conseguindo tirar um pouco da formalidade. – Nós somos a banda McFLY e resolvemos fazer uma surpresa há muito tempo planejada pelo pai daquela gracinha mal humorada ali. – Apontou para a que estava chocada.
- Para falar a verdade, nós achávamos que hoje era o aniversário dela, mas descobrimos que não.
- E como o senhor papai é alguém muito legal, ele resolveu nos chamar mesmo assim, para alegrar sua filha que não estava nada feliz com a mudança!
começou a se sentir mal por ter odiado seu pai por algum tempo. Ele tinha planejado aquilo para ela, planejado McFLY para ela! para ela! Ah, aquilo era bom demais para ser verdade.
- Então por isso, vamos tocar sua música favorita. Agora, pra você, , No Worries! – falara olhando em seus olhos. Aquele garoto era bonito demais, era contra as leis da natureza uma beleza daquelas.

“We ran through strawberry fields
and smelt the summer
time,
When it gets dark
I'll hold your body close to mine,
Then we'll find some wood
and hell we'll build a fire,

And then we'll find some rope and make a string
guitar.”


com certeza estava totalmente arrependida de ter ficado brava com seu pai, e até com seu avô, que agora batia palmas e comentava algo com sua avó.

“Captivated by the way you look tonight the light is
dancing in your eyes
Your sweet eyes, Times like these we'll never forget,
Staying out to watch the sunset, I'm glad I shared
this with you, You set me free, Showed me how good my
life could be,
How did you happen to me”


Talvez aquela mudança para Londres significaria uma vida nova, vida de novas aventuras, com novas pessoas; sem César, aquele ex-namorado que não saía de sua cabeça. Agora tudo iria melhorar.

A música acabou e não tirara os olhos dela, bom demais para ser verdade, vai dizer?
- Agora, . – parou e pensou um pouco. – Melhor, posso te chamar de ? – Ela concordou. – Certo , eu e os garotos conversamos com o seu pai e se você concordar, nós iremos te perguntar uma coisa. – Ela assentiu com a cabeça. – Você quer ir para um show nosso COM a gente, HOJE?
arregalou os olhos, é LÓGICO que ela queria. Disse sim com rapidez.
- E você, ? – indagou.
- SIM! – Todos os convidados riam olhando a cara das garotas.

A última lembrança que a garota tinha era de ver o McFLY indo em sua direção, todos sorrindo. Lembrava também de seis pessoas correndo para seu quarto e depois, só escuridão.
- , acorda. – Era sua amiga. estava olhando o sorriso de sua amiga.
- , o que aconteceu?
- Como assim o que aconteceu?
- Na festa dos meus pais, da inauguração da casa... Com McFLY.
- Menina, você está com problemas, com certeza. A festa dos seus pais, ou melhor, de vocês, é agora! Você já tá atrasada, vai se trocar!
Então fora só um sonho, ok. Ela podia ficar brava com os seus pais então. Tinha todo o direito, até com o seu avô podia, pelo menos, se ele tentasse roubar sua salada. Minutos haviam se passado e a garota olhava seu reflexo no espelho. Estava linda; radiante, na realidade. Não sabia o que fazer com o seu cabelo.
- , seus avós chegaram. E seu pai falou que tem uma surpresa pra você. – avisou entrando no quarto.
- Ah... – Fizera um coque no cabelo, uma careta e o soltara. – Brigada. – Colocara suas argolas que estava em uma mesinha.

Dejá vu?


Comentário da autora:


Esperem que vocês gostem dessa fic, eu sonhei com ela, pra falar a verdade. E no sonho não era McFLY, era NxZero, mas isso não vem ao caso.
Qualquer dúvida, sugestão, crítica ou outra coisa: niickello@gmail.com

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