All about lovin’ you


Então eu fechei a porta.

Respirei fundo mais uma vez, na esperança de impedir que as lágrimas caíssem. Não deu certo, elas rolaram livremente pelo meu rosto branco.
Olhei para a porta marrom a minha frente com o seu número que reluzia e ofuscava, momentaneamente, minha visão. Pisquei algumas vezes desviando da porta do vizinho. Foquei a minha atenção na porta atrás de mim, a mesma porta pela qual eu tinha acabado de passar, sem ter a mínima esperança de voltar a atravessá-la algum dia.
Apertei mais forte a maçaneta, até que os nós dos meus dedos ficassem brancos, quem sabe assim a dor que eu sentia passasse de uma vez. Mas não, não passou. Não passou e nem impediu que o meu peito começasse a latejar, como se me avisasse que eu nunca mais veria aqueles olhos castanhos novamente.
As pessoas sempre dizem que só damos conta do quão importante alguém é, quando a perdemos. E não importa de que forma isso aconteceu, se foi para a morte ou para outra pessoa. A única coisa que conta no final é que estamos sozinhos, nunca mais vamos olhar fundo nos olhos dessa outra pessoa. Sozinhos, ficamos sozinhos. E a sua única companhia é uma dor insuportável no peito, essa mesma dor que eu estou sentindo agora.
E pior do que tudo é quando vamos embora por nossa própria culpa, quase sempre por algo que falamos ou fizemos que magoa tanto a outra pessoa que ela ou ele prefere ficar sozinho, mesmo ainda te amando.
Esse é o meu caso.
Eu magoei alguém muito importante para mim...
Mais uma vez.
Acho que a única vez que eu não a fiz sofrer foi quando nos conhecemos, há quase dois anos atrás. Não deu tempo, porque se tivéssemos conversado por mais alguns segundos tenho certeza que teria conseguido estragar tudo. Tenho a mais absoluta certeza disso!
Eu não me lembro muito bem de como foi que a gente se conheceu.
Sabe aquele casaco que você comprou e que adora, mas com o frio cotidiano nosso ele não serve para nada? E você acaba socando ele dentro do armário? Mas quando finalmente é o dia de usá-lo, você abre o armário e dá de cara com ele, acabando por sofrer uma pequena decepção, você percebe que ele não é mais como era antes. Não é mais como você achava que era.
Como o tempo aquelas suas lembranças favoritas que você guardou com tanto carinho na memória, acabam ficando como o casaco, desbotadas. É isso que acontece quando eu lembro do dia que a conheci. Não sei mais ao certo se estava um sol radiante ou um blackout geral. É como se... nada mais importasse naquele momento, além dela. Nada mais existia, só a .
Talvez ela se lembre de todos os outros detalhes, porque para ela até os mínimos detalhes são importantes. Mas para mim não. Eu só lembro do que realmente importava: ela.
Eu não me lembro exatamente onde estava, só me lembro, muito vagamente, que eu estava de boné e de óculos porque estava fugindo de algumas fãs descontroladas. Sei também que alguém esbarrou em alguém.
Você não olha por onde anda, não? ” Ela me olhou enfezada, e eu a olhei de volta sem entender como ela não tinha me reconhecido. Afinal, hei! Eu sou o , todo mundo me conhece.
Você não vai sair da minha frente? Eu tenho que continuar andando!” Ela voltou a falar.
Por que eu que tenho que sair da sua frente? Pode ser ao contrário.
Simplesmente porque foi você que esbarrou em mim.” É... Foi eu que esbarrei nela.
Em que momento isso passou a ser um motivo?” Ela revirou os olhos, como se dissesse com isso que eu era um idiota.
Você vai ou não sair? Eu tenho mais o que fazer do que ficar aqui discutindo com você!
Você tem idéia de com quem você está falando?” Cruzei os braços me espichando, ficando bem maior que ela.
E isso é importante?
Pois, para o seu governo,” Tirei os meus óculos que cobriam metade do meu rosto “você está falando, nada mais nada menos, comigo. !
Não que isso fosse motivo de orgulho... Talvez só um pouco. Não que eu me sentisse, mas é que ela me irritou. Poxa! Ela me tratou como se eu fosse uma daquelas formigas que passam pela sua casa que não tem importância nenhuma.
Sim, muito prazer Sr. . Agora, você pode sair da minha frente?
Como? Você não sabe quem eu sou?
Sim, mas é claro que eu sei.” Ela sorriu “Você é um grande e respeitável senhor que está empacando o meu caminho nesse exato momento.
Vai dizer que você não sabe que a minha música está a quase um mês no topo das dez mais?
Parabéns! Bom para você! Realmente, meus parabéns! Mas agora, será que você pode sair da minha frente?” Ela disse bastante irritada, mas com a mão no meu ombro.
Vai dizer que você nunca viu o meu clipe?” Arregalei os olhos “Ele deve estar passando agora, nesse exato momento, na MTV. E deve repetir daqui, exatamente dois minutos! Ou seja, o tempo exato da música terminar!” Disse com um quê de desespero na voz. Afinal, essa garota veio de onde? Marte? Porque só lá para não saber quem eu sou.
Você acha que eu tenho cara de groupie?” Eu comecei a ficar vermelho.
Você está querendo dizer o quê? Que todas as pessoas que me idolatram são groupies? Que elas gostam de mim só porque eu sou um cara bonito? Eu sou bom no que faço, ok? Tudo o que eu faço, faço bem feito!” Disse ficando cada vez mais vermelho.
Não, eu estou dizendo que você é um babaca que não quer sair da minha frente. Que só porque está fazendo sucesso na MTV há algumas semanas, o que até eu consigo fazer, se acha o maioral. E putz! Você é bom no que faz? Eu também sou! Será que você pode sair da minha frente para eu continuar a fazer o que eu sou boa?” Ela praticamente gritou.
Fiquei parado olhando para ela, piscando algumas vezes tentando entender tudo o que aquela baixinha tinha dito para mim. Do jeito que ela falou, até parece que eu não tinha dado um duro danado para chegar onde estava.
De qual planeta você veio?” Perguntei depois de alguns segundos.
De um planeta que você nunca vai entrar. Agora, me dê licença que eu tenho mais o que fazer.” E saiu.
Eu realmente nunca entrei no mundo dela, mas ela já entrou no meu. Ela me disse isso uma vez.
Veja bem, não que eu seja uma pessoa devagar, eu sou apenas calmo, gosto de sentir as coisas, sem me preocupar muito com os pormenores. Gosto muito mais de ficar na minha. Mas não, eu não sou parado. Eu sou até bem agitado, mas tudo o que eu faço, faço em um tempo próprio. Tudo reflete o jeito que eu vivo. Na boa.
Mas ela não. O que ela faz em um dia eu demoraria um mês para fazer. Tudo bem, posso até estar exagerando, mas o que eu quero dizer é que ela vive num ritmo muito rápido, num ritmo que nem que eu quisesse conseguiria acompanhar.
Só que ela consegue acompanhar o meu ritmo.
Sempre que ela estava comigo, era só comigo que ela estava. Não importava se ela tinha uma reunião em outra cidade no dia seguinte ou se tinha que entregar um relatório mensal para a patroa pela manhã.
Até o relógio ela tirava do pulso, porque ela não ia precisar do guia dela no meu mundo.
Onde eu coloco o meu relógio? ” Ela perguntou assim que entrou no meu apartamento.
Deixa em qualquer lugar ” Fiz um movimento amplo com as mãos.
E correr o risco de nunca mais encontrar o meu precioso guia? ” Ela riu “Não mesmo. Nem quero imaginar o que deve ter perdido nessa bagunça que você chama de sala.
E isso importa? ” Peguei o relógio e a bolsa dela e coloquei em cima do sofá “Tenho certeza que não, afinal, eu estou aqui com você. ” Segurei na cintura fina dela.
Mas eu não consigo viver sem o meu relógio. ” Eu ri antes de afundar o meu rosto na curva do pescoço dela.
E também não vive sem mim. ” Foi a vez dela rir.
De onde você tirou isso? ” Eu a imprensei na parede.
Dos seus olhos. ” Olhei fundo naqueles olhos castanhos tão viciantes.
E se eles estiverem mentindo? ” Ela os fechou no momento em que eu subi as minhas mãos por baixo do vestido de festa que ela usava.
Impossível. Os olhos nunca mentem. ” Levantei os olhos a tempo de ver o sorriso mais lindo já visto brotar em seus lábios.
Se você tem tanta certeza disso... ” A voz dela falhou nessa hora “quem sou eu para contrariar... ” Ela passou os braços no meu pescoço.
Acho bom mesmo.
Senti-a cravar suas unhas no meu pescoço enquanto me beijava. Eu soltei um leve gemido. Desci lentamente a mão pela lateral do corpo dela e agarrei com firmeza a barra do vestido dela e o subi com tudo.
Com pressa? ” Ela me olhou sorrindo de lado.
Você nem imagina o quanto. ” A beijei de forma intensa, escutando ela suspirar por entre os meus lábios.
Pressa.
A mais temida de todas as palavras. Pelo menos para mim.
Tudo bem, que quando eu saia em turnê quase não dava tempo para falar com ela, mas com ela era diferente. Ela quase não tinha tempo para mim. Às vezes eu achava que ela tinha um caso com o emprego dela, não comigo.
Porra! Essa é a quarta vez que você desmarca um encontro essa semana! Mas que merda ! ” Gritei.
Quer fazer o favor de falar direito comigo, ? ” Ela gritou do outro lado da linha.
Então quer dizer que eu não posso mais reclamar do fato da minha namorada nunca ter um tempo para me ver? Até parece que você já se encheu de mim.
Pelo amor de Deus, ! Você sabe que não é isso! ” Escutei ela suspirar “Eu não posso simplesmente dizer que não vou fazer o que me foi mandado.
E porque não? ” Voltei a gritar “Pelo o que eu saiba, levar as roupas da sua patroa para lavar, ficar esperando elas ficarem prontas para poder conferir se elas estão bem passadas e dobradas do jeito certo não faz parte do seu trabalho.
Mas eu tenho que fazer! Não quero continuar a ser secretária da Audrey por muito tempo. Quero uma função melhor.
E porque você não quer continuar onde está? Por acaso não está satisfeita em nunca ter tempo para nada?
Mas é claro que eu quero melhorar, subir de posto! Não vá me dizer que você não quer subir mais?
Eu estou muito feliz onde estou. Sou amado por quase metade da população feminina desse continente, o que mais eu posso querer? ” Disse presunçoso, afinal eu sabia que isso a irritava. E tudo que eu queria era que ela sentisse um pouco da irritação que eu estava sentindo naquele momento.
Você só consegue falar dessas malditas fãs?
São essas malditas fãs que pagam as minhas contas no fim do mês, já que são elas que compram as minhas músicas.
Eu não quero saber delas! ” Ela gritou de volta.
Pois devia! Já que elas querem e muito saber de mim !
Você realmente vai gastar o meu tempo falando nessas groupies?
NÃO! Eu só estou tentando entender a porra do motivo para você não estar agora na minha cama! ” Berrei, e quando eu digo que berrei é porque berrei mesmo.
Você acabou de deixar bem claro que eu só sirvo para estar com você na sua cama. ” Acho que a voz dela tremeu um pouco.
Que bom que você finalmente entendeu! Agora se você me dá licença, eu vou arrumar duas groupies para me fazer companhia na cama ” bati o telefone.
E fiquei quase dois meses sem falar com ela.
Verdade seja dita, ela que ficou quase dois meses sem falar comigo, porque assim que eu percebi a burrada que tinha feito comecei a ligar, mas ela não me atendia. Toda vez que eu ligava para a casa dela, caia na secretaria eletrônica e depois da, de acordo com ela, vigésima ligação não-atendida e não-retornada eu comecei a ligar para a revista onde ela trabalha.
Mas também não conseguia falar com ela. Sempre que eu ligava uma outra mulher atendia e dizia, com aquela voz irritante, que a estava em uma reunião importante com a Audrey e que não tinha hora para acabar.
Ela continuou fazendo isso até o dia que eu me irritei profundamente com isso e dei um plantão em frente ao apartamento dela. Nem preciso dizer que ela não queria me ouvir e nem queria, em hipótese nenhuma, me perdoar. Precisei implorar o perdão dela. Literalmente.
Só quando eu provei para ela que eu não levei mulher nenhuma para o meu apartamento e nem fui para casa de mulher alguma, foi que ela aceitou me escutar.
Era sempre dessa forma que as coisas rolavam, em uma hora éramos um casal de pombinhos daqueles que não se desgrudam, em outras eu saia gritando que ela não me compreendia, que ela não tinha tempo para mim ou que ela não me amava.
Nosso relacionamento era um doce.
De acordo com o dicionário, amor é um sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem; sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro; inclinação sexual forte por outra pessoa; entre outras coisas.
É verdade, está escrito lá.
Estou falando sério, eu procurei no dicionário o significado dessa palavra. O porquê até hoje eu não sei. Acho que era para poder tentar entender o que eu sentia toda vez que nossos olhares se encontravam.
Mas ele não me ajudou em nada.
Eu realmente fiquei assustado quando comecei a perceber alguns sintomas estranhos que sempre apareciam antes ou depois dos nossos encontros. Por exemplo, sempre que ia sair com ela, minhas mãos começavam a suar tanto, que parecia que estava fazendo aquele calor que faz nos trópicos ou então, meu coração batia tão rápido que eu achava que ia ter um enfarte.
Pior mesmo era quando ela ia embora, era ela passar pela porta da casa dela, que um vazio enorme chegava e se alojava no meu peito, junto com uma vontade louca de tocar a campainha só para ver aqueles cachos dourados mais uma vez.
Saudades...
Como eu sentia saudade da voz dela! Louco isso não?
Alô? ” Uma voz sonolenta atendeu e mesmo quase dormindo, eu reconheço a voz da minha garota.
Desliguei. Não sabia o que falar, acabei achando melhor não falar nada e desligar logo. Não tinha como ela saber que o idiota que ligou as duas da manhã e que não conseguiu dizer nada, era eu. Patético isso.
O que eu podia fazer? Tudo o que eu queria era escutar a voz dela. Que mal há nisso? Nenhum, não é mesmo? Então me deixe ser feliz em paz, mesmo que a minha felicidade seja patética.
Liguei de novo. Não queria ser patético para sempre.
Alô!
.
. ” Acho que ela parecia um pouco mais desperta “Foi você que ligou alguns minutos atrás?
Foi. ” Parei “A ligação caiu, me desculpe. ” Acrescentei rápido.
Tudo bem, não tem problema. ” Ficamos em silêncio alguns minutos. “Eu vi o seu clipe hoje. ” Ela disse só para não ficarmos no silêncio.
Voltou a passar. ” Ela suspirou “É sempre assim.
Eu gostei. ” Ela riu “O visual ficou legal.
É ficou.
Depois disso apareceu o pior de todos os sintomas: o ciúme.
Eu tinha ciúme de todo mundo que chegava perto dela, de todo mundo que falava com ela, de todos que ela conhecia. Até do gato dela eu teria ciúme, se ela tivesse um.
Como é que é? ” Ela colocou a mão na cintura.
É isso mesmo que você escutou! ” Parei na frente dela.
Eu não posso acreditar que você insinuou uma coisa dessas! ” Ela fechou os olhos bem apertados.
E por que não? É a mais pura verdade! ” Abri os braços “Vai dizer que não?
Será que você pode, uma vez na vida parar de bancar o infantil? ” Gritou.
Infantil, eu? ” Dei uma risada sem alegria “Aposto que você não acha o Nate uma criança!
Deixa ele fora desse assunto! ” Ela berrou de volta.
Impossível! É por causa DELE que estamos discutindo, para começo de conversa!
Nós estamos discutindo porque você é um imbecil!
Você tem que decidir se eu sou infantil ou imbecil, porque ser as duas coisas é humilhante demais!
Vê se você enfia uma coisa nessa sua cabeça: EU NÃO ESTOU TENDO UM CASO COM O NATE!
Se você não está tendo, porque, RAIOS, eu vi vocês dois sentados JUNTINHOS no banco em frente à editora?
Nos não estávamos sentados juntinhos, ele só estava sentado ao meu lado.
Você estava praticamente sentada no colo dele! ” Apontei para ela.
Não exagera! Não tinha ninguém sentado no colo de ninguém!
Ah, sim claro! Eu estava vendo coisas! Só pode ter sido isso! Como também foi ilusão de ótica, o fato deu ter visto ele segurar a sua mão e você deixar ele fazer isso.
Estávamos só conversando. ” Ela ficou ligeiramente vermelha.
Ele estava era SÓ quase te beijando! ” Ela arregalou os olhos.
Você viu isso?”
Então você confessa! ” Estreitei os olhos na direção dela.
Eu confesso que ele segurou na minha mão e que eu deixei por que ele me pegou desprevenida. E confesso, também, que ele tentou me beijar, mas eu não deixei.
Aproveita e confessa logo de uma vez que vocês estão tendo um caso! Vamos, fale logo! ” Gritei.
EU NÃO ESTOU TENDO UM CASO COM ELE! ” Ela berrou e eu vi que seus olhos se encheram de lágrimas. Percebi que tinha feito merda.
Mais uma vez.
Então porque vocês estavam conversando tão perto? ” Berrei, mesmo sabendo que estava começando a andar sobre caco de vidro.
Ele se declarou para mim! ” Ela disse de uma vez só “Ele disse que me ama desde que eu entrei para pedir emprego na revista. E sabe o que a babaca aqui disse? Que já tinha um namorado e que estava feliz com ele. ” Ela bufou “Não sei como eu posso estar feliz com alguém que nem mesmo consegue assumir o que realmente sente por mim. ” ela virou de costa e começou a resmungar coisas sem sentido.
Fiquei ali parado, a olhando, sem saber o que exatamente ela queria de mim. Não era possível que ela quisesse que eu falasse, mais uma vez, que eu gostava de estar com ela. Eu tinha dito isso bem uns dois dias antes. Então porque ela não estava satisfeita?
Mulher é um bicho esquisito mesmo! Ainda mais quando se trata da .
Acho impossível precisar o número de vez que terminamos. Só que dessa vez eu estava disposto a provar que não precisava dela para ser feliz.
Eu era um verdadeiro idiota por achar isso. Eu achava realmente que se não a visse ficaria tudo bem. E eu ainda tinha a cara de pau de mentir para mim mesmo, dizendo que no próximo dia eu estaria melhor, que era só uma questão de tempo até esquecê-la.
Só que era nesse ponto que eu encontrava pequenas coisas que me lembravam ela. Desde do anuncio da pasta de dente que ela usa até a loja onde tinha comprado um dos últimos presentes para ela.
Ela... Ela... Ela... Tudo me lembrava a .
O que você está fazendo aqui? ” Ela abriu a porta.
Eu te amo.
Finalmente tinha entendido o que era todo aquele turbilhão de sentimentos dentro de mim, tudo se resumia a essas três pequenas palavras.
Eu a amava. E nada que fizesse ou falasse mudaria isso.
Eu a amava.
Mas isso não era o bastante, só amar não basta.
Eu não sabia disso naquela época, mas agora eu sei. Já sei há um bom tempo, mas eu não fiz nada para mudar isso – continuei só amando.
Quem é essa garota com quem você tem saido, ?” Franzi os cenho quando escutei o meu nome, só ela ainda insistia em me chamar assim.
Eu já falei quem é. É a .” Mostrei a foto dela.
Ah... Ela até que é bonitinha. ” Ela disse de forma vaga.
Bonitinha, mãe? Ela é linda!
Pode ser. E o que ela faz? ” Minha mãe perguntou ainda olhando torto para foto.
É assessora da diretora de uma revista de moda. ” Respondi maquinalmente, eu já tinha falado isso para ela várias vezes “Ela é um ano mais nova do que eu. ” Completei antes que ela perguntasse.
Vocês estão se vendo há quanto tempo?
Nos não estamos nos vendo, estamos namorando. Estamos juntos a um ano e meio, eu acho.
Não está meio rápido isso, querido? ” ela me olhou docemente.
Não, não é rápido. ” Resmunguei “A senhora já viu umas fotos nossas nas revistas. E eu estava com ela naquela entrega de prêmios no mês passado.
Sei, aquela que você não quis me levar.” Fungou “Vou pegar as suas roupas e levar para a lavanderia.”
Por favor, mãe, sem drama. ” Resmunguei cansado “Eu já te disse várias vezes, que eu a amo.
Depois que se fala essas três palavras para o principal interessado fica mais fácil. Logo, você está, praticamente repetindo o tempo todo, seja para o foco do seu amor, sua mãe ou até para a repórter que te perguntou sobre o seu relacionamento. Não importa para quem, você está sempre repetindo.
Tem uma hora que acaba enjoando, porque fica tão banal que acaba parecendo que você está dando “Bom dia” para a pessoa. E geralmente não é agradável você desejar que a outra pessoa tenha um bom dia, quando já são quase dez da noite.
Se você ainda não chegou nesse ponto, não se preocupe, você vai chegar um dia. É quase uma lei da natureza, tal como o dia tem 24 horas. Nunca muda, nunca vai mudar.
Mas se com o tempo você passa a dizer o tempo todo, tem uma hora que você percebe que está fazendo isso, ou então o foco do seu amor lhe avisa – o que, particularmente, foi o meu caso – e você acaba parando. Deixando reservado para momentos especiais.
Reconciliações, momentos a dois, quando ela está carente ou quando simplesmente lhe dá vontade de ver aquele sorriso que ilumina o rosto todo dela, esses sim são as melhores horas para se falar as três – ou duas, dependendo da variação que você usa – palavras mágicas.
Mas essa é uma das coisas que eu não sabia naquela época. Esse tipo de coisa só se aprende com o tempo. Eu demorei bastante tempo para perceber isso.
Pensei que, talvez, a gente pudesse jantar um dia desses.” Coloquei a mão no bolso e não olhei para ela.
Jantar?
Se você não tiver nada mais importante para fazer. ” Completei rápido.
E você pretende me levar para jantar que dia?
Talvez numa quinta ou sexta-feira, isso se você não tiver nada para fazer. ” Disse, mais uma vez, rápido.
Acho que nessa quinta seria um ótimo dia. ” Ela sorriu.
Jura? ” Estava começando a agir como adolescente quando convida a garota que gosta para o baile. Só faltava eu começar a ficar vermelho.
Acho que seria uma ótima idéia! Quem sabe assim a gente não se conhece melhor? ” Ela sorriu e eu fiquei vermelho. Definitivamente, eu ficava a cada minuto mais parecido com um adolescente.
Podíamos ir ao cinema, se você preferir.
Podemos deixar o cinema para o próximo encontro.
É... Podemos. ” Sorri, resolvi deixar de bancar o adolescente tímido.
Ah... Que bom que você tomou conta dele para mim, .” Uma mulher entrou na saleta que estávamos.
Não foi nada, Dulce. Inclusive, foi um prazer fazer companhia a ele. ” Sorriu “Só uma coisa. ” pegou um papel e escreveu rápido algo nele “Meu telefone.” Me entregou e sorriu para mim.
Eu te ligo e combinamos melhor. ” Guardei o papel na carteira, não queria perder aquele telefone por nada.
Então, , vamos começar a entrevista?
Mexi no meu bolso, atrás da minha carteira. Achei e tirei de dentro dela o papelzinho meio amarelado do telefone dela junto com algumas coisas que ela tinha me dado no decorrer do tempo que ficamos juntos.
Coloquei mais uma vez a carteira no lugar, mas quando fiz esse movimento algo caiu do meu bolso. Abaixei e peguei uma coisa pequena e dourada que brilhava perto do meu pé.
Fechei a minha mão envolta do pequeno objeto, apertei bastante. Não precisava olhar melhor para saber o que era aquilo. Eu mesmo que tinha acabado de colocar no bolso.
A tinha me devolvido, dizendo que não precisava mais dela, tanto quando não precisava de mim na vida dela. Tal como a chave do meu apartamento, eu tinha me tornado dispensável.
Você vai querer café da manhã? ” Coloquei só a cabeça para dentro do quarto.
Vou. ” Ela se espreguiçou.
Espero que você esteja com muita fome. ” Chutei a porta e entrei segurando uma bandeja repleta de comida.
O que é isso? ” Ela riu e sentou, se enrolando no lençol.
Café da manhã. ” Passei geléia em uma torrada e enfiei na boca. “Você não disse que estava com fome? ” Disse de boca cheia.
Mas aqui tem comida para um batalhão inteiro. ” Ela passou, delicadamente, manteiga num pãozinho metido a besta que eu tinha comprado.
Você sabe que eu como bem.
Você não come bem, você come é muito mesmo. ” Rimos.
Eu preciso estar bem alimentado para agüentar os shows.
Está certo. ” Riu.
Tudo bem? ” Perguntou depois de alguns segundos.
Tudo beleza, porque? ” A olhei.
Você está tremendo. ” Tirou o pão que eu tentava partir da minha mão e partiu ela mesma. O arrumou e me entregou de volta.
Valeu. ” Mordi, para que assim eu não precisasse falar.
Você tem certeza que está tudo bem? ” Ela me olhou desconfiada.
Estou dizendo, ta tudo beleza.
Você não aprontou nada, não é mesmo?
Aprontei?
É.” Abaixei o copo de suco “Você foi todo carinhoso comigo ontem e hoje trouxe café da manhã... Até parece que você está se esforçando para me pedir desculpas por algo que fez.
Eu não fiz nada. ” olhei fundo nos olhos dela “Sério. ” Ela pareceu relaxar.
Me desculpe. ” Ela disse baixo “É que... você só é tão carinhoso comigo assim quando apronta e não sabe como pedir desculpas.
Quer dizer que é isso você pensa de mim? ” Fingi que estava irritado. Mas eu sabia que o que ela disse era a mais pura verdade.
Não que você não seja carinhoso. ” Apressou–se a dizer quando viu a minha cara. “Mas hoje você se superou. ” Ela ficou vermelha. Acho, que assim como eu, ela tinha lembrado da noite que tínhamos tido.
Você está certa, aliás, como sempre. ” Ela arregalou os olhos “Calma, eu não fiz nada, pelo menos não ainda.
!
Calma, pequena.” Estiquei o meu braço, passando pela frente do corpo dela e abri a gaveta da mesinha que ficava ao lado da cama. “Aqui. ” Estendi a mão fechada na frente dela.
Mas o que... ” Eu abri a mão e ela, a boca. “Mas isso é... ” pegou o pequeno objeto dourado.
A chave do meu apartamento. ” Olhei esperançoso para ela.
Você está a dando... para mim? ” Ela completou baixo.
Eu pensei que, talvez, você quisesse ficar com ela. Sabe, assim você não precisa ficar tocando a campainha e nem me avisar... ” Não terminei, ela pulou no meu colo me enchendo de beijos.
A bandeja que eu tinha arrumado com tanto carinho foi parar no chão, assim como a boxer que eu estava usando em questão de minutos.
Eu sei que quem estava de fora nunca entendeu o porque deu ter ficado tão nervoso só com o fato de entregar a chave do meu apartamento para a minha namorada. Eu lembro que um grande amigo meu me perguntou isso uma vez.
Você não entende, Aaron? Eu praticamente a pedi em casamento! ” Foi o que eu respondi para ele.
Sei que exagerei um pouco quando respondi isso para ele, até porque eu tinha exagerado bastante na bebida naquele dia. Mas uma coisa era certa, depois que a minha chave foi parar no chaveiro dela, eu tive que aprender a conviver com perfumes, xampus, cremes e não sei mais o que no meu banheiro. Eu não me incomodava com isso, mão me incomodava nem um pouco.
A única coisa que me incomodava era quando eu exagerava.
Quando eu exagerava na bebida.
Só que isso é mais uma das coisas que eu só aprendi agora, naquela época, o que realmente me incomodava eram as ressacas. A manhã seguinte a uma daquelas noites nas quais eu entornava legal era sempre regada a muita dor de cabeça.
E eu tinha o costume de fazer isso com uma freqüência surpreendente, às vezes eram duas ou três noites na mesma semana. Nem sei calcular a quantidade de vezes que eu acordei com o Clark esmurrando a porta, gritando que eu tava atrasado para alguma entrevista.
Então, lá ia eu tomar uma ducha rápida, vestir a primeira coisa que visse pela frente e sair com uma baita dor de cabeça, latejando tanto que às vezes eu num conseguia responder nada.
Mas eu acho que prefiro mil vezes acordar com os gritos do Clark do que com os da . Ela sempre fazia a minha cabeça doer ainda mais, na maioria das vezes ela doía o dia inteiro.
Não sei porque eu não parei com essas noitadas quando a conheci. Não sei mesmo. Vai ver, eu queria ver onde essa história ia parar.
Se fosse esse o meu propósito, eu realmente devo ter conseguido. “Você não olha por onde anda, não? ” Gritei para o cara que havia esbarrado em mim.
Tira a mão de mim, branquelo. ” Arrancou com violência a minha mão do ombro dele.
Além de cego, você é mal educado também? ” Respondi “Sua mãe não tinha tempo para te educar? Ela devia estar muito ocupada recebendo os clientes dela!” Aumentei o tom.
Você está querendo dizer o que? Que a minha mãe é igual a sua?
Essa foi uma das muitas vezes que a ficou realmente irritada comigo. Afinal, não deve ser nada agradável acordar e ver em quase todos os jornais e revistas uma foto do seu namorado com a sobrancelha sangrando, os lábios cortados e o olho roxo com as mãos para trás, sendo contido e algemado por dois policiais.
Se isso ainda não fosse suficiente, era só esperar uns dias para ver a foto desse mesmo cara com a barba por fazer sendo fichado. Deve ser uma sensação bem prazerosa essa.
Ir pedir desculpas publicamente por esse comportamento deprimente não foi nada, perto do que eu tive que fazer para ela me perdoar. Dessa vez a coisa ficou bem feia para o meu lado.
Isso porque eu não fazia idéia do que ia aprontar alguns meses depois.
Saia do carro. ” Um policial colocou a lanterna na minha cara. Eu abri a porta do motorista e sai cambaleando de lá.
Documentos. ” Eu ri.
Temos um problema. ” Tornei a rir. “Não trouxe. ” Puxei os bolsos para fora, mostrando que eles estavam vazios.
Assopre aqui. ” Enfiou o bafômetro na minha boca.
Passei? ” Ri alto.
Coloque as mãos no carro e afaste as pernas. ” Ele começou a me revistar “O teste do bafômetro indicou que o senhor bebeu muito além do permitido. E além disso, o senhor estava dirigindo numa velocidade acima do admitido e empregava direção perigosa. Pondo em risco a sua vida e dos outros motoristas. O senhor está preso. Tem o direito de ficar calado... ” eu já sabia o que ia acontecer a seguir.

.
! Que horas são? Deve ser muito cedo, nem amanheceu ainda.
Não faço idéia. ” Olhei em volta, as pessoas me olhavam. “Não posso demorar muito. Você precisa vir me pegar.
Te pegar? Te pegar onde?
Eu fui preso. ” Ri.
Essa minha risada custou caro.

Eu não agüento mais! ” Ela bateu a porta do carro dela e entrou no meu prédio.
Posso saber o que você não agüenta? ” A segui.
VOCÊ! ” Chamou o elevador. “Eu não sei porque eu ainda estou com você!”
Você me ama!
Esse é o meu maior erro! ” Ela encostou a testa na parede.
Do que afinal você está reclamando? ” Entrei atrás dela no elevador.
Você ainda não sabe, ?” Eu neguei “Mas é claro que você não sabe! Você nunca sabe de nada!
Tudo isso porque você teve que ir me tirar da prisão?
Não! Tudo isso porque eu não agüento mais!
Mas que merda, ! O que você não agüenta mais?!
Não agüento mais ter que bancar a sua mãe! Porra, , eu sou sua namorada e não sua mãe!
Eu sei disso! Eu nunca achei que você fosse minha mãe! Eu não durmo com a minha mãe!
Mas parece que você quer substituí-la. Você resolveu ter as duas em uma mulher só, uma namorada para você dormir e uma mãe para tomar conta de você. Deve ter sido isso!
Eu nunca pedi para você tomar conta de mim.”
Você nunca entende nada! ” Ela bufou “Isso não está dando certo! ” Ela colocou a mão no rosto.
Eu também acho que essa discussão não está levando a nada.
Eu não estava falando da discussão” a voz dela saiu abafada “Eu estou falando da gente. ” Ela tirou a mão do rosto e eu vi que ele estava molhado de lágrimas.
Também não é para tanto. ” Dei um passo na direção dela “, eu não agüento mais ficar terminando e voltando.
Se a gente fica nesse vai-e-vem é por culpa exclusiva sua. ” Ela saiu de perto de mim.
A gente se dá tão bem... Temos tanto em comum... ” Mentira, está para nascer casal mais diferente que a gente.
Mas só se dar bem e ter algo em comum não faz com que dê certo. É preciso um pouco de renúncia dos dois lados. Mas só eu faço isso aqui.
Eu... ” não tinha o que falar, tudo o que ela estava falando era a mais pura verdade.
Você só sabe me magoar, só sabe aprontar... eu não agüento mais isso. Você sabe ser bem infantil quando quer.” Ela me deixou abraça-la.
“Eu sei disso tudo, acho inclusive que você está certa. Eu realmente não te mereço, mas eu gosto demais de você.
” Ia dizendo e afagando seus cachos.
Mas não basta... ” a voz dela saiu baixa e falhando.
Então, você vai me mostrar o que está faltando.
Esse dia foi meio atípico.
Acho que foi a única vez que fizemos as pazes logo depois de brigar tanto. Porque o que sempre acontecia era eu falar um monte de merdas para ela, a deixando ainda mais puta do que estava quando começou a discutir comigo. E era nesse ponto que eu, geralmente, saia batendo a porta e só voltava alguns dias depois com o rabo entre as pernas pedindo desculpas.
Era sempre assim.
Eu acho que foi o efeito do álcool no meu sangue que me fez até parecer um bom rapaz, daqueles que quando a namorada começa a apontar seus defeitos abaixa as orelhas e escuta calado, como um bom menino.
Eu não sou assim.
Para se ter uma idéia, nem romântico eu sou. Acho que essa baboseira de ficar ligando o tempo todo, de querer ver o outro a toda hora, de dar flores e bombons, etc uma grande idiotice.
Mas às vezes até céticos como eu se rendem a momentos sentimentaloides.
Não estou dizendo que eu agia diferente em datas especiais, tipo, dia dos namorados, aniversário de namoro e todas aquelas baboseiras que as mulheres tanto curtem comemorar. Eu sou daqueles que acordam em dias comuns com uma vontade louca de fazer alguma coisa diferente.
Meg, a está? ” Tirei os óculos para que ela pudesse me reconhecer.
Acho que sim. Só um minuto que eu vou tentar localizá-la.
Não diga que eu estou aqui. ” Ela levantou os olhos.
Eu vou dizer o que, então? ” Sempre esqueço que essas secretárias são pagas para marcarem compromissos e não para pensar.
Diga que tem uma encomenda na portaria para ela assinar.
Certo.” Ela começou a falar baixo. “Ela já está vindo.
Valeu. ” Coloquei os óculos e enterrei mais o boné, virei de costas para o corredor de onde ela viria.
Meg, o que foi? ” Senti o perfume dela entrar pelo meu nariz adentro.
Encomenda.
Para mim?
Só sei que você tem que assinar.
Senhor? ” Ela tocou de leve o meu ombro.
Para falar a verdade, ” me virei “você não precisa assinar nada. Eu fico satisfeito com alguns beijos mesmo. ” Ela sorriu.
!” Ela tirou o meu boné e os óculos “O que você está fazendo aqui? ”
Eu falei que queria alguns beijos.” A enlacei pela cintura e a beijei.
O que você está fazendo aqui? ” Repetiu, ainda agarrada a mim.
Estava com saudades. ” Respondi de olhos fechados, aspirando uma grande quantidade do perfume dela.
Mas... Você estava do outro lado do país hoje de manhã! ” Eu a beijei. “Eu sei disso. ” levantei o buquê que ainda segurava “Para você.
São lindas. ” Ela cheirou as flores “Obrigada.”
Eu te amo. ” Eu disse baixo no ouvido dela.
Eu sei disso. ” Ela riu e eu a olhei de cenho franzido “Eu também te amo, seu bobo. ” A beijei mais uma vez.
Escutamos um sonoro: Ah... Olhamos em volta e vimos algumas colegas dela nos olhando.
Você pode tirar uma folga? ” Perguntei.
Quando eu queria conseguia até mesmo surpreende-la. Tudo bem, que eu fazia isso mais no começo, quando a gente começou a sair porque ainda estava tentando conquistá-la.
Ela me disse uma vez, que eu ganhei o coração dela – era assim mesmo que ela falava – quando a gente se viu, alguns meses depois de termos nos conhecido, em uma festa. Ela me contou que quando eu sorri e pedi desculpas por ter sido tão grosso quando nos conhecemos, que ela sentiu o coração acelerar um pouco.
Até hoje eu não sei quando o meu coração passou a bater no ritmo do dela. Às vezes eu acho que foi quando ela olhou nos meus olhos, outras quando ela ficou vermelha. Nunca vou saber ao certo.
Uma coisa eu tenho certeza, foi por causa do vestido que ela usava que eu decidi que ia fazer qualquer coisa para sair com aquela baixinha invocada.
Ela sempre ri quando eu falo isso. Ela diz que eu quis sair com a bunda dela, não com ela. E eu sou obrigado a concordar. Mas isso foi só no primeiro momento, porque quando conversamos, eu percebi que ela era muito mais que uma bunda.
Andei pensando... ” Ela enrolou um cacho do cabelo no dedo.
Em que? ” Tirei os olhos da tv.
Você não acha que a imprensa um dia vai acabar descobrindo?
Isso te incomoda? ” Virei o rosto para ela.
Não é que me incomode, ” Ela cruzou as pernas e virou de frente para mim “mas é que... Eles vão ficar em cima da gente, nem vamos poder nos ver em paz.
E daí? ” Passei a mão pela cintura dela a puxando para perto “O nosso namoro vai fazer eles venderem muitas revistas. ” Ela sorriu e me beijou.
Algum tempo depois ela me disse que o que realmente a estava preocupando não era a imprensa e sim saber o que a gente tinha. Sabe, ela jogou verde para colher maduro. Ela queria que eu dissesse que éramos namorados. E ela conseguiu, como sempre.
A única coisa que ela não conseguia era me mudar. Eu sempre fazia tudo errado, eu estragava tudo sempre.
Será que você pode me explicar isso? ” Ela jogou uma revista em cima da minha cama.
Bom dia para você também, .” Sentei “O que foi? ” falei de má vontade.
Estou esperando uma explicação. ” Ela cruzou os braços “E acho bom que seja uma das boas. ” Aumentou o tom.
Mas do que você está falando? ” Esfreguei os olhos, eu ainda estava com muito sono.
Por que você não experimenta dar uma olhada na revista? Acho que você vai achá-la bem esclarecedora. ” Ela praticamente esfregou a tal revista minha cara.
Mas que merda...? ” Arregalei os olhos quando vi a foto da capa.
Tinha uma linda modelo morena aos beijos com um cara . Ela com as mãos por dentro da calça dele enquanto o tal cara estava com a mão na coxa por baixo da micro saia da modelo. Até ai tudo normal.
Só tinha um pequeno problema: EU era o cara e a garota morena NÃO era a minha namorada, eu nem fazia idéia de quem ela era.
A matéria escandalosa dizia em letras garrafais: “FAMOSO CANTOR PEGO AOS BEIJOS COM MORENA MISTERIOSA”. E em baixo, com letras um pouco menores estava: “SERÁ O FIM DO CASO COM ASSESSORA?
Se você acha que não é suficiente, dê uma olhada no meio da revista. Fica muito mais interessante.
Não olhei. Eu sabia muito bem o que tinha acontecido antes e depois da cena da capa. E não era nada que eu pudesse me orgulhar de ter feito.
, eu posso explicar... ” tentei.
É justamente isso que eu estou esperando. ” Ela sentou na beirada da minha cama, mas levantou logo em seguida. Sentou na cadeira do computador, ainda me olhando feio. “Sou todo ouvido.
Era a inauguração da boate do meu amigo, e como a entrevista que eu ia fazer ontem de manhã tinha sido cancelada, eu resolvi ir...
Essa parte eu já sei, .
Você não podia ir, mas disse que não se incomodava que eu fosse. ” Continuei falando, mesmo sabendo que ela já sabia disso.
QUE VOCÊ FOSSE! ” Ela sublinhou as palavras “E não que você me traísse! ” Gritou e o nariz dela ficou vermelho.
Mas a minha intenção não era te trair.
Então você o fez só para ficar legal?
NÃO! ” Levantei “Eu, eu...
Vai dizer o que? Que exagerou na bebida? Que não sabia o que estava fazendo?
Não. ” Disse baixo “Eu bebi pouco, não queria ter problemas com a policia na volta. ” A história só ficava pior.
Então você sabia exatamente o que estava fazendo? ” Os olhos dela se encheram de lágrimas.
Foi. ” Não agüentei olhar para ela.
E você escolheu me trair. ” Ela completou baixo.
Ela também estava sozinha, a gente conversou um pouco e... ” Ia gesticulando muito.
CHEGA! ” Lágrimas escorreram de seus olhos, mas ela as secou depressa. “Eu não quero escutar mais nada. Eu já entendi o que aconteceu.
Me desculpa. ” Cheguei perto dela.
Não encoste em mim. ” Ela esticou o braço impedindo que eu me aproximasse.
Tudo bem, eu fico onde estou. ” Ela abaixou a cabeça. “Mas, por favor, entenda.
Entender o que? Que você dormiu com outra mulher? Que você fez isso simplesmente porque lhe deu vontade? Não se preocupe, eu já entendi perfeitamente isso.
Me desculpa. ” Minha voz saiu suplicante.
E eu por acaso faço outra coisa? ” As lágrimas voltaram a escorrer “Isso é tudo o que eu faço.
Eu te amo. ” Eu já tinha idéia de como isso ia terminar.
Que jeito estranho você tem para demonstrar esse amor que você diz sentir por mim.
Você não pode duvidar do que eu sinto.”
Acho... ” A voz dela falhou “que você pensa que me ama.”
NÃO! Eu sei exatamente o que sinto!
Não duvido disso. ” Ela respirou fundo, tentando conter as lágrimas “Só que o que você sente não é amor, não pode ser.
Você não pode estar falando uma coisa dessas.
A gente não dá certo. ” Ela virou de costa “Foi um erro ter começado isso e foi um erro ainda maior te continuado com isso.
Você está certa. ” Eu não podia deixar que tudo acabasse “Eu sei que não presto, que não te mereço e tudo mais. Mas eu posso mudar.
Você não vai mudar, não tem como você mudar.
Me dê uma chance. Eu posso te provar que faço qualquer coisa por você, até mudar o meu jeito de ser.
Mais chances do que eu já te dei em quase dois anos? ” Ela fechou os olhos “Eu queria poder... Mas não dá. Eu não agüento mais sofrer dessa maneira.
E todos os momentos felizes? Você vai simplesmente esquecer? Vai fingir que tudo o que aconteceu foi... ruim?
Prefiro guardar os momentos felizes aqui dentro. ” Ela colocou a mão no peito “Por que você não faz o mesmo? ” Colocou a mão no meu peito.
Como eu vou ficar sem você? ” Fechei os olhos.
Você vai ficar bem, não se preocupe.
Não, eu não vou ficar. ” Abri os olhos e encontrei aqueles olhos castanhos que eu tanto amo me fitando “Eu não consigo sem você.
Eu sei disso, eu também não consigo sem você. ” Os olhos castanhos dela começaram a brilhar, não de alegria, mas de tristeza.
Então, por que você vai fazer isso comigo? Vai fazer isso com a gente?
Porque é a melhor coisa a se fazer. ” Ela saiu de perto de mim, e eu me senti gelado.
Não, não pode ser. Tem que ter outro jeito.” Fui atrás dela.
Não, não tem.
Separar não vai levar a gente a lugar nenhum.
Eu sei disso.
Só vai fazer com que a gente se machuque ainda mais. ” Ela me olhou “Eu não quero ver você sofrendo.
Você tinha que ter pensado nisso antes. ” Ela passou a mão no meu rosto, secando algumas lágrimas que tinham rolado. Foi só nessa hora que eu me dei conta que eu também estava chorando.
Eu não quero ficar sem você. ” Fechei os olhos sentindo o toque macio dela “Eu preciso de você.
Mas essa é a melhor opção. ” Abri os olhos rápido quando a senti interromper o carinho.
Eu não quero sentir a sua falta. ” Minha voz falhou.
Você vai ficar bem, é só dar um tempo.
Será que você não entende? Eu não vou ficar bem se você não estiver ao meu lado.”
, por favor. Isso está sendo tão difícil para você como está sendo para mim.
Então não vai. Fica.
Pra que? A gente sabe que não vai dar certo.
Eu posso fazer dar certo.
Não dá. ” Choramingou “Não dá. ” O lábio inferior dela tremeu.
Eu te amo. ” A abracei.
Eu também te amo tanto. ” Ela afundou o rosto no meu peito nu “Mas eu não consigo, não mais. ” Depois disso eu só escutei alguns soluços dela.
Não havia volta. Nos dois sabíamos disso.
Mas quem disse que partir é fácil? E partir para nunca mais voltar, então, é praticamente impossível.
Só que ela tirando força, Deus sabe de onde, conseguiu sair do meu apartamento. E para mim, só restou o vazio. E as coisas dela que ainda estavam lá me lembrando a todo o momento que era por culpa das minhas idiotices que ela não queria mais ficar comigo.
Não quis ficar em um lugar onde tudo me lembrava ela. Fiquei alguns dias na casa do Aaron, tentando fingir que nada daquilo tinha acontecido. Que eu nunca a tinha conhecido, que ela nunca fez parte da minha vida. Que ela nunca foi a minha vida.
Não consegui.
Você não pode simplesmente tirar as pessoas do seu coração. Era praticamente impossível. E tudo vai ficando pior a cada dia.
E piora ainda mais quando o seu vizinho pergunta, porque aquela adorável menina não aparece mais. Ou então, quando o imprestável do seu porteiro porto-riquenho pergunta onde a Srta. Brown está estacionando o carro.
Mas a gota d’água é quando aquela repórter irritante fala que não tem mais visto a . Nessas horas você manda a educação que a sua mãe te deu com tanto amor e carinho à merda e fala para essa repórter ir para a casa do caralho.
Tudo na maior educação.
Eu ainda não sei o que é pior, agüentar esses tipo de perguntas ou a fisionomia das pessoas quando eu respondia, muito educadamente, que não estávamos mais nos vendo.
Tem muito tempo? Você tinha que ter me contado antes. ” Olhei com uma expressão assassina para o meu irmão.
Coitadinho. ” Quase enforquei a minha empregada.
Vocês formavam um casal tão bonito. ” Escutei uma vez de uma apresentadora.
Você vai ver, , tudo vai ficar melhor. Ela não te merecia mesmo.
Será que a minha mãe não consegue entender? Eu NÃO vou ficar melhor, NÃO vou ficar bem e era eu que NÃO a merecia.
Sempre que eu me olho no espelho eu não me reconheço mais. Sempre me vejo pela metade, faltando um pedaço. É como se eu não tivesse vivido essas últimas semanas, apenas... sobrevivido.
Um fio de esperança brotou quando ela me chamou para vir na casa dela hoje. Pensei que ela pudesse ter se arrependido, e que quisesse voltar.
Foi só um fio de esperança.
Por que eu sabia, eu tinha a mais absoluta certeza que ela só queria deixar tudo mais claro, não queria mais ter nenhuma ligação comigo. Queria que eu entendesse isso, mesmo não sabendo porque estava fazendo.
O meu reflexo olhou de volta para mim.
Será que realmente não tinha mais jeito?
Coloquei a mão no meu peito, e pude sentir o meu coração batendo forte. Como perguntando se eu ia deixar tudo terminar desse jeito.
De repente, o meu reflexo era outro. Mostrava alguém decidido, alguém que havia decidido mostrar a mulher que ama que pode sim mudar.
Que vai mudar e que faz qualquer coisa, se for para tê-la de volta.

Então, eu abri a porta.


FIM

Penny Lane: Dude... Como eu gosto dessa fic... *olhar apaixonado*
Kiinha: Não só você, mas como todo mundo que leu essa fic.
Penny Lane: Antes que eu me esqueça, quero agradecer à: Nick Carter, Aaron Carter, Nate Archibald, Dulce Maria, Clark Kent, Meg Ryan, Audrey Hepburn, Trouble is e Inconsolable – Backstreet Boys, She left me – McFLY e Desvio de conduta – Strike. Obrigada por me emprestar o nome, me ajudar a escrever a fic... essas coisas.
Kiinha: A cada comentário que passa, você me surpreende ainda mais...
Penny Lane: Comentem, assim, quem sabe eu possa postar mais fics!

Eu nunca disse adeus I
Eu nunca disse adeus II
Entre sapatilhas e baquetas
Tudo tem um começo
Surpresas na madrugada

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