Eu sou realmente um fã do natal e todos (ok, quase todos) sabem o porquê.
Mas sabe o que também é bem legal?
Casamentos!
Isso ai, mais especificamente, o casamento da minha tia que forçará
a parte da família que vive em Netherby a vir até Londres!
É, isso é bem foda!
Ainda mais no estado que estou.
Vocês se lembram daquele
que sempre tinha uma namorada, vivia chifrando ela sem muitos arrependimentos
e ainda realizava fantasias com sua prima?
Não sei o que aconteceu com ele.
Bem, na verdade eu sei.
O fato de eu ter me apaixonado pela primeira vez na vida mudou tudo; o fato
dessa garota não ser a minha namorada e nem nenhuma garota da escola
ou que pelo menos more na cidade dificulta; o fato dessa garota me ignorar a
maior parte do tempo não é um ponto positivo; mas o fato que mais
faz eu ter certeza de estar na merda é que essa garota é minha
prima.
Desde o natal eu não consegui ficar com nenhuma outra garota. Beijar
Becky, Alison ou qualquer outra era estranho e parecia mais uma troca de babas
do que qualquer outra coisa.
Nojento.
Terminei com todas e desde então estou sozinho. Sim, sozinho pela primeira
vez na vida. Gasto meu tempo lamentando por isso ter acontecido comigo ou então,
simplesmente pensando compulsivamente na
, como apaixonados normais fazem.
Já quase peguei o trem para Netherby umas três vezes, mas sempre
desisto na última hora. O medo da rejeição é um
negócio assustador e totalmente novo para mim. Eu sempre fui o que rejeitava.
Aquela época era tão menos assustadora.
A trilha sonora disso tudo foi o vinil do Gang Of Four que me deu de presente.
Até um tocador de LP eu comprei.
Mas, para minha sorte, minha tia (não exatamente tia, ela é irmã
do pai de
, mas é como se fosse) resolveu se apaixonar perdidamente! Aparentemente,
ela conheceu esse cara no supermercado e resolveu se casar do dia para a noite.
Nessas horas que eu agradeço da minha tia ser um tanto quanto pirada.
Só não gostei dela inventar de se casar de manhã.
Minha mãe entrou em meu quarto numa nuvem de perfume que já me
fez acordar tonto. Abriu as cortinas sem parar de falar por nem um segundo.
Quando minha cabeça finalmente acompanhou meu corpo e acordou, foi isso
que ouvi:
-
, você me mata! Juro que esses cabelos brancos... – Ela apontou
para a própria cabeça, que nem cabelos brancos tinham, mas ok.
– São tudo culpa sua! É o casamento da sua tia e você
está ai desmaiado! - Ela estava toda arrumada. Roupa elegante, o cabelo
contendo tanto spray que me lembrava um capacete. – Falei para você
não sair ontem a noite, mas você simplesmente me ignorou,
! – Ela abriu meu armário e tirou de lá uma dessas capas
onde se guarda ternos. Nem sabia que tinha aquilo. – Toma! – Ela
simplesmente jogou a capa na minha cabeça. – Eu, seu pai e sua
irmã já estamos saindo e você tem quinze minutos para estar
naquela igreja,
! – Ela saiu do quarto e bateu a porta, mas logo voltou. Ela sempre fazia
isso: saia, ai se lembrava de alguma coisa e voltava. Sempre. – Você
tem o endereço? – Ela falou apenas com a cabeça para dentro
do quarto. Abri a boca para responder, mas ela me interrompeu. – Esquece,
eu vou deixar anotado num papel na geladeira! – Concordei com a cabeça
e ela bateu a porta de novo. Dava cinco segundos para ela voltar: 5, 4, 3, 2...
– Ah,
! – Minha mãe é totalmente previsível. – Coma
alguma coisa antes de sair, tá bem? – Ela falou num tom mais calmo
e maternal. – E não se esqueça de desligar a cafeteira!
Dessa vez, ela saiu de vez. Ouvi o carro dar a partida lá embaixo e corri
para meu banheiro. Estava realmente ansioso. Era um misto de ansiedade agradável
(se é que isso existe), com ansiedade realmente enervante.
O que mais desejei nesse mês inteiro foi ver
novamente. Mas e se ela não quisesse nada comigo? Talvez a coisa só
funcionasse para ela no mês de dezembro! Vai saber... E se quando eu a
visse eu me descontrolasse e fizesse alguma besteira?
Respirei fundo e entrei no banho gelado. Banho gelado sempre me ajudava, principalmente
naqueles dias que eu realmente não conseguia tirar
da minha cabeça.
Vesti o terno, arrumei o cabelo e me olhei no espelho. O terno que minha mãe
tinha comprado servia perfeitamente. Gostei dela ter comprado tudo preto. Eu
me sentia um James Bond ou qualquer cara legal assim.
Meus pais realmente tinham feito um bom trabalho, me deram ótimos genes.
Eu devia ser um filho melhor e não voltar para casa bêbado as quatro
da manhã na véspera do casamento da minha tia.
Mas a minha bebedeira era totalmente compreensiva, afinal eu tinha uma bomba
nas mãos.
Agradeci meus pais novamente por não ter herdado nenhum gene de ressaca.
Me sentia muito bem, na verdade, apenas tinha que excluir o fato de que sentia
frio na barriga e suava frio nas mãos. Mas isso não era ressaca,
era
.
Dei uma última ajeitada no cabelo e na gravata. Queria parecer o meu
melhor quando visse
.
Desliguei a cafeteira (só Deus sabe quais não seriam as terríveis
conseqüências se esquecesse), e peguei o endereço preso na
geladeira por um imã do Pateta, quando passei pela cozinha.
Vesti meu sobretudo e meu cachecol antes de abrir a porta.
Merda, que frio que fazia!
Não nevava, mas o céu estava nublado.
Apertei o sobretudo ao meu corpo e fiz sinal para que um táxi parasse.
-Southwark Cathedral, por favor. – Pedi ao motorista quando entrei no
carro.
Passei minhas mãos em minhas calças com a ridícula esperança
de que as faria parar de suar. Não conseguia conter meu sorriso muito
menos minhas pernas, que estavam elétricas.
Olhei para o relógio.
11:07
O casamento começaria em oito minutos. Nunca chegaria a tempo.
Pedi para o motorista procurar caminhos mais curtos e menos congestionados.
Maldita cidade grande. Engarrafamentos as onze da manhã de um sábado!
Só podia ser Deus já me castigando pelas coisas que eu e minha
prima fazíamos.
Cheguei mais cedo do que imaginava, pouco mais de quinze minutos atrasado. Entrei
na igreja tentando passar despercebido. Estiquei o pescoço procurando
por minha família, principalmente um membro em especial.
No altar, minha tia vestia um vestido branco e imenso. Estava bonita e mais
feliz do que nunca. O noivo sorria de um jeito retardado e emocionado. Senti
inveja dele. Meu sorriso era retardado e neurótico.
Minha mãe acenou para mim do lado direito da igreja, perto do altar e
caminhei até lá.
Minha família ocupava dois bancos. Na frente, meus pais e meus tios e
atrás, minha irmã, minhas duas priminhas e no meio delas, minha
prima.
Meu coração ficou meio disparado. Ela usava um vestido cor de
vinho que realçava sua pele e deixava suas costas a mostra. Sua maquiagem
estava forte e linda como sempre e seu cabelo estava preso, deixando apenas
alguns fios da franja caindo por cima de seu olho direito.
me olhou, sorrindo daquele jeito que as pessoas sorriem quando têm um
segredo.
Amava o fato de eu e ela dividirmos um segredo.
Ela me olhou de cima abaixo e depois mordeu o próprio lábio inferior
fazendo sua típica cara de controladora.
Como tinha sentido a falta dela!
Foi a minha vez de morder meu lábio agradecendo aos meus genes e imaginando
quando teria algum tempo a sós com ela. Era necessário.
Pedi licença a Lucy e troquei de lugar com ela, sentando do lado de
.
Meus tios e meus pais se viraram para trás e acenei para eles quando
o que mais queria era fugir dali com
do meu lado e mandar apenas cartões de natal para eles.
- Hei! – Sussurrei para ela. Ela me olhou daquele jeito que faz eu me
sentir um cachorrinho e depois voltou sua atenção para o padre.
Por que toda vez que ela faz isso, ao invés de eu ficar bravo, eu fico
mais dependente dela ainda?
Por quê? Por quê?
Alguém me responde, por favor!
Não vale falar masoquismo, eu mesmo já cheguei a essa conclusão.
Fingi prestar atenção na cerimônia enquanto estudava cada
movimento da minha prima. O jeito que ela também fingia prestar atenção;
o jeito que seu pescoço ficava a vista, sem cabelos o cobrindo, e me
dava vontade de passar minha boca por ali; o jeito que suas pernas ficavam quando
ela as cruzava e aquele perfume que sempre vinha dela.
Coloquei minhas mãos em cima das minhas pernas quando o que mais queria
fazer era colocá-las nas de outra pessoa. Já não suava
nem tremia mais.
Me senti o cara mais feliz do mundo quando
tirou sua mão esquerda do próprio colo e pegou na minha mão
direita.
Ela estava me dando atenção!
Qualquer atenção da
, que não seja sexual e não seja no dia 25 de dezembro é
algo para se comemorar.
Colocamos nossas mãos entre nossas pernas. Quem visse qualquer coisa,
não diria que estávamos gostando de cada segundo que nossos corpos
passavam encostados, só diria que nossas mãos estavam acidentalmente
e inocentemente próximas demais.
Acariciávamos nossas mãos como se nada mais existisse além
delas.
A cerimônia acabou e eu não sabia se estava feliz ou triste. Estava
triste por ter que afastar minha mão da de
, mas estava feliz por estar mais próximo da hora em que teria ela só
para mim, do jeito que eu tinha sonhado nas últimas semanas.
Meu pai fez uma divisão ridícula de táxis e acabei indo
até a festa junto com meus tios. Nada contra eles, mas preferia sua filha.
Ficava tentando espionar o táxi onde ela tinha entrado mas ele logo se
perdeu no meio de todos os outros.
- Como está sua namoradinha,
? – Tia Audrey perguntou fazendo eu desistir de procurar o táxi.
- A gente terminou, tia. – Respondi sem interesse, ainda pensando na filha
dela. Eu sou realmente horrível.
- Ah, que pena! – Ela lamentou, mas tenho certeza que se ela tivesse conhecido
Becky, estaria me parabenizando. Senti uma sensação de liberdade
e alegria sem igual naquela hora!
- Não estava dando muito certo. – Não era mentira, né?
A única coisa que fazia disso uma mentira é que eu e Becky nunca
demos certo.
Mentira.
Nós nos dávamos bem na cama, mas nada comparado a mim e a
.
Sorri com o canto da boca e senti calor ao me lembrar dela.
- O que você fez para a garota te dispensar, em? – Meu tio perguntou
brincando, fingindo que eu era o maior mau caráter da face da terra.
Eu me comportava como um mau caráter as vezes, mas não era um!
- Não estava dando certo mesmo, tio. Não foi nada que eu ou ela
fizemos que causou o fim, foi uma junção de tudo.
Me senti equilibrado e bem postado falando aquilo.
Era uma mentira, mas e daí?
Era óbvio que aquele namoro só tinha acabado porque eu só
queria uma garota.
No caso, a filha da pessoa com quem eu conversava, mas meu tio não precisava
desse tipo de detalhe.
- Mas logo você acha outra,
! – Minha tia falou enquanto se olhava num espelhinho e eu torci para
aquilo ser verdade. - Até a
resolveu namorar agora!
Meus olhos se arregalaram e eu engasguei com minha própria saliva.
Não. não, não, não!
Eu tinha que ter ouvido errado.
- Como? – Perguntei torcendo para ter descoberto que sofria de surdez.
- Pois é! Ela finalmente deu uma chance para aquele garoto que está
atrás dela há anos! – Ela fechou o espelhinho e olhou para
mim. - O Adam!
Sorri amarelo, tentando evitar sentir a sensação de náusea
que sentia.
É claro, o Adam.
Quem era essa porra de Adam?
- Que ótimo, tia! – Posso ser tão falso às vezes.
- É, eu sei! Já estava na hora dela deixar de ter esses montes
de relacionamentos sem compromisso! – Tive a impressão que ela
chamou a própria filha de vagabunda, mas tenho certeza que foi só
impressão. Além do que, mães tendem a não entender
filhas com fobia de compromisso.
A
namorando.
Aquilo não estava nos planos, não mesmo.
O plano era: falaria para ela que a amo, ela falaria que me ama também;
pediria ela em namoro, ela aceitaria na mesma hora; daríamos a notícia
a família que ficaria encantada; teríamos uma noite de sexo selvagem
e ela se mudaria para Londres!
Era o plano perfeito! Utópico, eu reconheço, mas perfeito!
Esse tal de Adam estava estragando tudo!
Imaginar ela com outro cara fazia meus punhos se fecharem com raiva.
A
nunca tinha namorado antes. Se ela estava namorando, era porque ela realmente
gostava dele.
Precisava fazer alguma coisa. Não sabia o que, mas precisava.
Chegamos em frente ao Hyat, a festa seria no salão de festas do hotel.
Vi
saindo de seu táxi alguns metros a minha frente. Não consegui
esperar até que o taxista nos deixasse na porta, sai naquela hora mesmo.
Ela vestia um sobretudo preto por cima do vestido que me lembrava aquelas garotas
de filmes.
Merda, como ela era bonita.
Reparei que todos os homens a comiam com os olhos. Fiquei com mais ciúmes
ainda.
Corri para alcançá-la enquanto ela já entrava no hotel.
Coloquei minha mão em seu braço e ela virou-se para mim.
-
. – Ai meu Deus! O sorriso controlador e doce ao mesmo tempo! Por que
ela faz isso comigo?
- Preciso falar com você,
! – Estava meio ofegante por ter corrido do carro até ali. Minha
mão continuava em seu braço. Encarei sua boca e por um segundo
esqueci qualquer coisa que quisesse falar.
Ela sorriu, dessa vez, o sorriso tarado e olhou em volta.
pegou em minha mão e me arrastou, para o que eu fui descobrir depois,
era a escada de incêndio.
Ela fechou a porta atrás de nós.
Eu ainda estava meio tonto, na verdade, por causa de todas as coisas que estavam
acontecendo ao mesmo tempo.
me empurrou contra a porta e começou a me beijar intensamente. Sua língua
impunha o ritmo a minha e eu apenas tentava acompanhar. Suas mãos já
tinham aberto meu sobretudo e passavam por baixo do paletó.
Aquilo era demais!
Ela estava entre as minhas pernas e nem sei como, minhas mãos estavam
embaixo de seu vestido.
quebrou o beijo e suas mãos passaram da minha barriga para meu pescoço.
Ela o acariciou e eu fechei os olhos para aproveitar bem aquele momento. Também
tirei minhas mãos das coxas dela e as coloquei em sua cintura, nos aproximando.
Aquilo era realmente bom.
Abri os olhos e a vi corar um pouco e virar para o outro lado.
Ela vinha corando muito ultimamente.
Acariciei sua bochecha e peguei em seu queixo, fazendo-a olhar para mim. Olhei
nos olhos dela até sentir tontura por encarar um ponto só por
muito tempo. Eles eram lindos e hipnotizantes.
Ela sorriu, nem um pouco corada, e no controle novamente.
- Queria falar comigo? – Ela perguntou.
“Sim! Como assim você está namorando um mané chamado
Adam?” ou “Você é só minha, de mais ninguém,
e eu vou espancar o imbecil do seu namorado!” era o que eu queria ter
falado, mas aquela pequena sessão “Paraíso na Terra”
tinha acabado com a minha capacidade de falar e prejudicado bastante a de pensar.
Por isso, só o que falei foi:
- Não, não era importante.
Coloquei meus lábios em seu pescoço, do jeito que estava com vontade
de fazer desde a igreja. Ela dava pequenos gemidos e segurava meu pescoço
com mais força conforme meus chupões ficavam mais intensos.
- Pára,
! – Ela me afastou. – Vai ficar marca!
Olhei para seu pescoço excessivamente pálido e aquele ponto no
mínimo vermelho e talvez até roxo.
É claro que ela não queria um chupão! Adam não ficaria
feliz com aquilo, certo?
- Acho melhor você soltar seu cabelo,
. – Falei calmamente, com medo que ela gritasse comigo por causa da marca.
Ela não gritou. Ao invés disso, fez uma careta que logo depois
virou um sorriso do tipo “menina sapeca”.
Até esqueci do tal do Adam, principalmente depois que ela soltou o cabelo
e o perfume deles me deixou chapado por alguns segundos.
- É melhor a gente ir. – Ela falou desamassando seu vestido e fechando
seu sobretudo.
- Verdade. – Respondi sem realmente querer concordar e sem conseguir para
de olhar para seus movimentos.
- Arruma a sua gravata, eu meio que destrui ela. – Ela ficou vermelha
por dois segundos e olhou para o chão.
Minha gravata estava bem torta e frouxa; os últimos botões da
camisa estavam abertos. Nem tinha reparado que ela tinha feito tudo isso.
Sorri orgulhoso de mim mesmo por estar ali com ela.
Saímos de lá com a maior cara de pau, mas fazendo caras inocentes.
Andamos lado a lado do saguão do hotel até o salão.
Um lugar grande, com um mezanino em cima e decoração clássica
e chique estava atulhado de gente. Garçons passavam para lá e
para cá carregando taças e mais taças de champagne. No
meio de toda essa confusão, nos sentamos na mesa que nossa família
estava; passamos despercebidos por eles, que estavam ocupados demais com canapés,
champagnes e comentários sobre outras pessoas.
Penduramos nossos casacos em nossas cadeiras e encostei meus joelhos propositalmente
nos de
.
Sabe outra coisa que gosto além de natais e casamentos?
Toalhas compridas.
colocou sua mão em meu joelho. Achei que fosse desmaiar, mas tive forças
para colocar minha mãe sobre a dela e as entrelaçar.
Graças a toalha super comprida, todos achavam que eu e ela estávamos
nos ignorando. Ela conversava com seu pai e eu olhava para o nada, totalmente
bêbado de alegria. Certo, não só alegria, já que
o garçom já tinha despejado umas duas taças de champagne
na minha frente.
O almoço foi servido, todos conversamos e rimos, como sempre fazíamos.
Os adultos tinham migrado para a pista de dança que tocava alguma música
calma e as crianças se entretinham com um bebezinho da mesa ao lado.
Vi meus pais dançando apaixonadamente ao som daquela música ruim
e quis a mesma coisa.
Criei coragem e perguntei.
- Quer dançar comigo? – Ela provavelmente diria não.
não é o tipo que gosta de coisas românticas.
Como previ, ela simplesmente gargalhou da minha cara.
- Ah! Você não estava brincando? – Ela perguntou olhando
para minha cara que deveria estar muito decepcionada. Ela parecia surpresa e,
acredite, arrependida.
- Não.
- Mas e eles? – Ela apontou nossos pais com a cabeça.
- Nem vão reparar! – Me levantei e estiquei minha mão para
ela. – Vamos?
pegou minha mão.
- Já vou avisando que não sei e não gosto de dançar.
-Estou avisado. – Puxei-a para o outro lado da pista, bem longe da vista
de pessoas conhecidas.
colocou os braços em meu pescoço e eu passei os meus por sua cintura.
Cada parte do meu corpo que tocava o dela estava quente e parecia formigar.
Ela descansou a cabeça em meu ombro e respirei o perfume que vinha de
seu cabelo.
Nossas pernas nos movimentavam no ritmo da música da Celine Dion ou qualquer
cantora do gênero que cantava.
Ela brincava com a ponta dos meus cabelos me dando arrepios.
O que mais queria era beijá-la de novo.
Como que se lesse meus pensamentos,
se afastou de mim e parou de dançar. Ela ainda segurava minha mão
e me puxou com força para fora da pista de dança. Ela praticamente
corria e eu era arrastado. Passamos em nossa mesa e ela pegou sua bolsa. Ela
nos levou para o saguão do hotel e apertou o botão do elevador.
- Que você vai fazer,
? – Perguntei meio assustado. Não estava entendendo o que ela pretendia.
Posso ser tão inocente de vez em quando.
- Que você acha,
? – Ela perguntou levantando apenas uma sobrancelha e ficando incrivelmente
sexy.
A porta do elevador se abriu e lá entramos.
- Qual andar? – O ascensorista perguntou.
- 22º -
respondeu.
O ascensorista me olhava com inveja e secava
. Passei os braços pela cintura dela para protegê-la daquele desocupado
e levei minha atenção a bonita vista que tínhamos do elevador.
Ele era panorâmico e podíamos avistar o Tâmisa, a London
Eye e mais uma parte da região central da cidade.
Já comentei que eu amo a minha cidade?
Amo mesmo.
Sai do elevador sentindo o olho gordo do ascensorista às nossas costas,
mas também que me daria bem. Muito bem, aliás.
abriu sua bolsa e tirou um cartão-chave lá de dentro. Agradeci
mentalmente por ela realmente ter um quarto ali. Cheguei a pensar que ela simplesmente
invadiria algum. Ela é capaz de um negócio desses.
A tímida luz solar daquele dia entrava pelas grandes janelas do quarto
de decoração moderna e refinada, ou seja, tudo branco e uma imensa
televisão; que seria ideal para jogar vídeo game ou assistir a
um jogo de futebol.
- Meus pais foram bem legais por não me fazerem dividir o quarto com
as minhas irmãs. – Ela comentou tirando os sapatos e ficando ligeiramente
mais baixa. Estava de costas para mim e eu analisava a curva que seu corpo fazia
dentro do vestido, que não cobria muito bem suas costas, na realidade.
- Foram mesmo, vou agradecer eles! – Brinquei enquanto ela vinha em minha
direção. Agora ela tinha apenas o olhar tarado, mas desconfio
que o meu estava bem parecido com o dela.
- Já comentei que você fica uma delícia de terno? –
Ela perguntou com as mãos em meu ombro, por dentro do paletó.
Num movimento rápido, ela o fez escorregar para o chão.
tratava de afrouxar minha gravata novamente e abrir minha camisa enquanto eu
me sentia cada vez mais excitado. A camisa e a gravata também caíram
no chão e ela começou a beijar meu peito. Meus músculos
se contraiam ao sentir a presença da boca dela.
- Já comentei que você fica uma delícia de qualquer jeito?
– Nem sei como conseguir formular essa frase no estado que estava. Também
não sei porque fui falar enquanto estava perfeitamente bem com ela me
beijando.
voltou sua atenção para o meu rosto e depois se afastou. Ela andou
até a cama, tirou seu vestido pela cabeça e o deixou cair no chão.
Ela vestia apenas calcinha (com uma caveirinha na bunda) e eu estava hipnotizado
e paralisado.
Nessa hora entendi porque a tinha interrompido! Ainda bem que eu sei a hora
certa de interromper as pessoas.
- Está esperando o quê,
? – Ela perguntou entrando debaixo das cobertas. – Não temos
muito tempo, daqui a pouco eles vão perceber que a gente sumiu!
Fiquei pelado o mais rápido que pude e ela riu da minha cara. Me juntei
a ela na cama já beijando-a dum jeito que fez os dois perderem o fôlego
rapidamente. Por milagre, estava por cima e deixava mais marcas em seu pescoço
enquanto ela apertava minhas costas.
Um barulho nos interrompeu. Continuei beijando cada centímetro de seu
corpo enquanto
esticava a mão no criado mudo para pegar seu celular. Ela olhou para
a tela e o desligou.
Parei de beijá-la.
- Você não vai atender? – Perguntei.
- Não. – Ela respondeu como se fosse óbvio.
Tinha certeza que era o tal do Adam.
Sai de cima dela e me sentei de costas.
Desde quando eu ligava se a garota que eu estava prestes a comer tinha namorado
ou não?
- O que foi,
? – Ela parecia bem surpresa, passou seus braços pela minha cintura,
sentia sua respiração em meu pescoço e seu toque em minhas
costas.
- Você tem namorado,
. – Achei forças para falar.
- Tenho, e daí?
É! E daí? Você só está prestes a dar para
o seu primo! E daí?
- E daí? – Perguntei meu bravo, me virando para encará-la.
- Sei muito bem que você sempre teve uma namorada para chifrar comigo.
– Ela podia ser tão direta quando queria.
- Eu sei, mas é diferente! Você nunca tinha um namorado!
Ela me olhou com um misto de pena e deboche. O pior é que eu sabia que
merecia, meus argumentos eram medíocres.
- Eu nem estou namorando direito! O cara me irrita profundamente, vou terminar
com ele assim que voltar para Netherby!
- Sério?
Inocente como um filhote de foca, ou sei lá o quê, é isso
que eu sou. Que merda.
- Sério, mas se você não quiser mais, eu vou descer porque
quero comer bolo.
-Não!
Totalmente inocente, tenho pena de mim mesmo.
Ela riu ao ver que eu tinha caído na pequena manipulação
dela.
Ela é realmente boa nisso. Manipular, controlar e deixar você cego,
quero dizer.
Me deitei por cima dela de novo e ela sorriu. Sim, o tarado/controlador.
Odeio o fato de estar nas mãos dela, mas esqueço de tudo isso
quando tenho ela nos braços ou simplesmente por perto.
Voltamos a nos beijar como se não tivesse tido interrupção
alguma. Ela abriu as pernas para que eu me encaixasse e me puxou para mais perto.
Senti os lábios dela em meu pescoço enquanto eu tentava tirar
a calcinha de caveira do corpo dela. Estava meio difícil. Talvez aquele
um mês sem garotas tivesse me deixado sem prática.
- Você é muito lerdo,
! – Ela falou antes dela mesma tirar a calcinha. Ri e mordi meu lábio.
Aquela garota não tinha preço.
aproveitou meu momento de distração e quando dei por mim, já
estava por baixo. – Você sabe que eu gosto de ficar por cima, né?
Sim, eu já sabia há algum tempo e o pior era que amava aquilo.
Puxei ela por seu quadril para mais perto.
Não sei de onde ela tirou uma camisinha e a entregou a mim. A vesti enquanto
recebia chupões no pescoço.
Vou te falar, foi difícil se concentrar na camisinha.
me abraçou e a posicionei. Sua respiração estava rápida
e falha. Sentia suas unhas em minhas costas conforme nos movimentávamos.
Beijava seu ombro sem conseguir pensar em um problema sequer. Tudo era sempre
perfeito quando se tratava de
e quatro paredes.
Diferente das outras vezes, não transamos de novo nem viramos para o
outro lado e dormimos. Continuamos abraçados. Beijei-a no rosto e a abracei
mais forte ainda, nem sei como consegui. Ela beijou o canto da minha boca e
depois voltou a apoiar a cabeça em meu peito.
Não sei quanto tempo ficamos ali. Ao mesmo tempo que passou rápido,
passou devagar. É algo inexplicável.
levantou-se bruscamente e sentou-se de costas para mim, virada para as grandes
janelas. A sorte dela é que o hotel possuía vidros escuros do
lado de fora.
Olhei para a janela também: grandes e modernos prédios nos rodeavam.
Podia ver uma parte do Regent’s Park e do rio.
Por mais que a vista do lado de fora fosse linda, preferia o que estava ali
dentro. Suas costas nuas eram bonitas e eu tinha vontade de tocá-las.
O contraste entre elas e seus cabelos formava uma imagem legal de se olhar.
Eu me sentia feliz. Feliz como raras vezes tinha me sentido. Me dei conta que
todas as vezes que tinha me sentido assim, tinha
perto de mim.
Suspirei aliviado por tê-la ali. Passei meus dedos por suas costas causando-lhe
um arrepio.
Inédito!
- Eu te amo,
. – Ouvi minha voz falar isso. Eu tinha certeza. Certeza do que sentia
e certeza que ela deveria saber.
Para minha surpresa, ela virou-se para mim e deu uma gargalhada escandalosa
e debochada.
Não exatamente a reação que eu esperava.
Algo como:
“Eu te amo mais!”
Seria o ideal.
Senti como se tivessem jogado um balde de água fria em mim.
- Não,
, você não me ama! – Ela falou com aquele jeito de sabe tudo
dela. Sentei-me na cama. – Você ama me comer! É bem diferente...
Não acreditava no que ela estava falando. Garotas normais vendiam a própria
alma para ouvir que eram amadas e ela respondi aquilo! Garotas normais nem falavam
um negócio daqueles!
Me senti magoado e com o coração doído por causa de uma
menina pela primeira vez.
Nada bom, posso te garantir.
Para ela era só aquilo?
Só sexo? Eu não fazia nada mais além de comer ela?
Ela achou a calcinha no meio da cama e a vestiu; deu a volta até o outro
lado e catou seu vestido do chão, o vestindo também.
A hora que ela se vestia era, geralmente, a pior para mim, mas dessa vez era
só o que eu queria que ela fizesse.
Não conseguia olhar para
.
Também me levantei e comecei a me vestir.
Nunca tinha nos sentido tão distante, mas ao mesmo tempo tão próximos
como naquela hora.
Quando eu falo que as coisas não fazem sentido nenhum ninguém
acredita.
Freud teria um prato cheio conosco.
Ela se olhava no espelho que tinha na parede em frente a cama parecendo um robô
sem nenhum tipo de emoções. Não parecia que tínhamos
acabado de ter uma das melhores transas de nossas vidas, não parecia
que ela tinha acabado de ouvir que alguém a amava.
ajeitava os cabelos e passava os dedos embaixo dos olhos, provavelmente, para
arrumar a maquiagem.
-
, você não entendeu... – Eu tentei, tinha que tentar! Ela
virou-se para mim e cruzou os braços, encostando-se na parede. Parecia
entediada. – Eu te amo de verdade! Não quero mais te ver só
no natal! Eu quero você comigo todo dia, para sempre!
Por um segundo, pensei ter visto alguma emoção positiva em seus
olhos, mas foi apenas impressão.
fez sinal de negação com a cabeça e olhou diretamente nos
meus olhos.
-
, você sabe que isso é impossível. – Ela parecia uma
pessoa fria e insensível e não aquela
com o sorriso doce. – Primeiro, nós vivemos a algumas centenas
de quilômetros de distância. – Tentei falar alguma coisa que
compensasse esse fato, mas ela levantou o dedo como se me alertando que ela
ainda não tinha terminado de falar. Fiquei quieto. – Segundo, nós
somos primos. – Tentei falar de novo, mas ela não me deixou novamente.
– Eu sei, não é de sangue, mas para os nossos pais isso
não faz diferença alguma. – Olhei para o chão. Não
tinha como discordar. – Terceiro... – Me sentia como uma criança
ouvindo a explicação da professora. – Eu sei que você
não me ama.
Não pude ficar calado dessa vez. Aquilo ela não poderia negar
de jeito nenhum! Desde quando ela sabia o que se passava dentro de mim?
- Claro que amo,
! Cala a boca! – Estava bravo, estava ofendido e magoado. Gritar é
ótimo nessas horas.
- Não,
, você pode pensar que me ama, mas é só impressão!
– Ela já falava meio alto. – Você vai ver, o dia que
você amar alguém, você vai perceber que você não
me ama!
- Por que você age assim? Por que parece que você tem ódio
dos homens? Você me trata como o seu boy toy, sex budy ou qualquer coisa
parecida! Você foge de qualquer tipo de relacionamento e depois trata
os caras como lixo! Você acha que controla tudo com esse seu jeito, mas
não controla nada! Você vai acabar sozinha, isso sim!
Eu quase me arrependi das coisas que falei.
Quase.
- Olha aqui,
, eu não vou levar a sério esse bando de asneiras que você
falou por que eu sei que você não faz idéia do que está
falando e ainda está sob o efeito de todo aquele champagne. – Ela
falou daquela maneira indiferente que já estava se tornando tão
comum. Nem sabia o que responder. Estava com raiva. Só sabia daquilo.
– E tem mais uma coisa... – Ela falou já com a porta aberta
e pronta para sair. – Eu não te amo.
bateu a porta e me deixou arrasado. Nunca, em nenhuma situação,
me senti daquela maneira. Sentei-me na cama, me segurando para não chorar.
Chorar.
Não chorava desde que era um garotinho e agora estava prestes a fazer
isso.
Olhei em volta, estava no meio das coisas dela. Seu perfume estava não
só em minhas roupas, mas em minha pele também.
Sai rápido dali. Não choraria, me recusava. Ela não merecia
lágrima nenhuma.
Como eu tinha me enganado tanto a respeito dela?
Peguei o elevador, que graças a Deus, tinha um novo ascensorista. Ao
chegar no saguão, não voltei para o salão, fui direto para
a rua.
Sentia muito frio porque meu sobretudo estava lá dentro, mas não
voltaria para pegá-lo nem morto.
O frio passou conforme andava pelas calçadas me lamentando de como tudo
aquilo estava acabando. Não queria vê-la nunca mais e o que mais
desejava era voltar a minha rotina normal: escola, banda, namorada, amante número
1, amante número 2 e assim por diante.
Me convenci de que preferia bem mais natais a casamentos.
No último natal, tinha certeza que sempre teria a
, mas agora, desconfiava que as coisas nunca mais seriam as mesmas.
FIM
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