estava sorrindo. Mas não era um sorriso feliz. Era um sorriso que eu nunca a tinha visto usar. Uma mistura de confusão
e tristeza.
Mas ela estava extremamente meiga aquele dia. Vestia um moletom roxo e uma
calça jeans, com um all star branco com cadarços coloridos. Os cabelos com
leves ondas estavam soltos, caindo naturalmente sobre o rosto, e o emoldurando
perfeitamente.
Estávamos sentados em um parque longe da cidade, já que era um lugar calmo, e
parecia não ter muitas pessoas por lá.
Haviam se passados minutos desde nossa chegada, mas nem um de nós tinha nos
pronunciado. O silêncio era irritante, mas era como se tivéssemos
medo de deixar que palavras idiotas se soltassem, e acabassem magoando.
Foi quando senti a mão dela descansar sobre a minha, e finalmente tivemos coragem
de nos encarar.
‘Bem, aqui estamos.’ Falei com a voz rouca.
‘Sim, aqui estamos.’ Ela olhou para o céu, que estava com um delicioso tom rosado e amarelado, já por
ser final de tarde.
O silêncio retornou, fazendo com que me sentisse desconfortável. Não era a situação mais agradável
do mundo, eu sabia o que ela queria dizer, e sabia como aquilo iria terminar.
‘...’ Ouvir sua voz fez com que eu acordasse do meu transe, já que até aquele momento eu encarava suas feições delicadas, procurando guardá-las
inteiramente para mim.
‘Oi?’
Em resposta, me surpreendeu com um abraço que logo foi retribuído. A envolvi em meus braços,
deitando minha cabeça
em seu ombro, onde pude respirar todo o seu perfume doce que se misturava com
o cheiro de shampoo e de sua pele.
‘Eu não queria que as coisas fossem assim’ Sussurrou.
A apertei mais em meus braços, colando nossos corpos, e tentando passar para ela um pouco de segurança.
‘Mas não precisam ser.’ Eu permanecia com a pequena em meus braços, não querendo
largá-la nunca mais ‘Não precisam, você pode ficar’. Ela apertou mais seus braços
em meu pescoço, soltando um suspiro, e eu senti suas lágrimas caírem
em mim.
‘Se tudo fosse como nos contos de fada...’
‘Não precisam ser como histórias infantis. Bastariam se pudéssemos mudar o que
queríamos, fazendo com que os que a gente ama não precisassem partir.’ Eu falei,
passando as mãos
delicadamente por suas costas. se soltou, se afastando alguns centímetros de mim e me encarando com aqueles
olhos que eu tanto gostava.
‘Eu te amo, .’ A voz dela ainda saia em um sussurro, e eu não conseguia destingir se era porque ela estava chorando ou era porque não tinha mais forças
para falar.
‘Eu também te amo, criança. Muito.’ Acariciei a bochecha molhada dela, logo depois pressionando levemente meus lábios
nos seus. Beijei-a carinhosamente, querendo guardar o gosto doce da boca dela.
Lentamente, a senti se afastar novamente. Permaneci com os olhos fechados, percebendo um movimento. Rapidamente os abri. estava se levantando. Ficou parada encarando o resto do sol ir embora, enquanto
lágrimas e mais lágrimas rolavam por seu rostinho. Fiquei de pé ao seu lado, colocando
um de meus braços em volta de seus ombros, sendo respondido com um braço
em volta de minha cintura.
‘Isso é lindo.’ sorriu, um sorriso fraco.
Ficamos observando o final do pôr-do-sol, abraçados, e a cada segundo que passava
eu sentia meu estômago embrulhar, pensando que logo chegaria à hora de vê-la
partir. O céu já começava a escurecer, e já tinham algumas estralas visíveis,
quando senti as mãos
de em meu rosto, virando-o para encará-la.Ela conservava uma expressão triste. Era
difícil vê-la daquele jeito. Me matava
por dentro.Segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos, começando a caminhar
em silêncio
para onde meu carro estava estacionado. Ela me empresou contra ele, envolvendo
meu pescoço com seus braços e me encarando.
‘Eu te amo, e eu não quero ir. Mas eu não vejo outra opção, então tudo o que eu desejo agora é te ter pela última
vez, ’ Falou de uma forma meio maníaca, que me fez ter medo, e começou a me beijar com força.
Retribui o beijo na mesma violência. Cara foi estranho. Pensar que aquela seria a última vez que ficaríamos
juntos.
E sei lá, tudo aconteceu rápido demais, foi uma coisa meio maluca, logo estávamos
dentro do carro sem nenhuma roupa, e eu estava suado e...
Ok, sem detalhes.
A manhã estava clara, mas fria. Estava parado em frente à casa de
, minhas mãos suando, meu coração apertado, minha cabeça confusa. O momento que
eu menos esperava tinha chegado. O momento mais dolorido. O que ficaria guardado
tanto tempo na minha memória, me fazendo sofrer. Eu a vi sair pela porta. Estava
com uma blusa vermelha e um casaco por cima,
calça jeans e uma sapatilha também vermelha fechada. Eu abri um sorriso. Um sorriso
triste. Mas um sorriso. caminhou lentamente até onde eu estava em pé, com as mãos escondidas nos bolsos
da jaqueta. Suspirou.
‘...’
‘, antes de tudo, eu só quero que você saiba o quanto você é especial pra mim. Não importa se eu te tenho aqui ao meu lado, ou se você está do outro lado do maldito oceano que só serve para separar as pessoas.’ A interrompi de uma forma cansada. ‘O que importa é o que realmente se viveu, sabe? Eu... Eu posso estar falando esse bando de baboseiras malucas e sem sentidos. Mas é apenas para expressar o que eu sinto por você. Se eu pudesse, faria de tudo para você permanecer aqui, comigo. Mas eu entendo que é seu trabalho. Eu entendo que é toda a sua vida. Mas, por Deus, quando você for, nunca, NUNCA mesmo, esqueça que eu vou estar sempre aqui’ Segurei uma de suas mãos e pus sobre o coração dela ‘Para te aquecer nos momentos mais sombrios, nos momentos que você se sentir só, nos momentos que você precise mais do que um amante, e sim, de um amigo’.
Ela simplesmente desabou ali mesmo. Não literalmente, mas em lágrimas. E, bem, vocês tem que me entender. Eu também
comecei a chorar.
A envolvi em meus braços, aquecendo-a, querendo mais que tudo que aquilo fosse um sonho ruim. A abracei fortemente, sentindo suas lágrimas molharem minha roupa. Suspirei alto e beijei o topo de sua cabeça.
‘Eu preciso ir’ Foi tudo que a ouvi dizer “Eu preciso ir.” Não preciso
explicar como me senti, certo? Uma verdadeira merda.
correu para um carro que estava a sua espera. Antes de entrar, lançou um olhar
significativo para mim, e quando seus lábios
se mexeram, pude perceber que ela havia sussurrado: Eu te amo. O carro começou
a se afastar. Eu senti que tudo dentro de mim tinha parado de funcionar, inclusive
meu cérebro
lento.
Sentei-me no meio-fio, observando o maldito carro ir embora, levando junto a minha menina, a minha
.