As pernas de null não paravam quietas. Levantou-se. Já não agüentava mais esperar. Sempre fora agitada demais, ela sabia, mas não conseguia se conter. Começou a roer as unhas descontroladamente – um péssimo hábito, em sua opinião, mas não podia evitar. Ela esperara praticamente um ano para poder estar naquele lugar e, finalmente, o dia chegara. Não havia acordado às cinco e meia da manhã para pegar um avião de New York para lá, para ficar sentada feito idiota. Queria jogar seu esporte favorito: o futebol; tinha sede de vitória, queria aproveitar o sol e o mar da Califórnia, e tudo o que esta oferecia.
- null null? – Kerry a chamou. Kerry era a monitora do acampamento de verão em que null passaria as próximas três semanas pra mostrar o que fazia de melhor: jogar futebol.
- Aqui! – disse null, pegando sua mala. – Até que enfim – murmurou.
- Siga Ashlee e Julie ao dormitório... – Kerry falou e checou em sua prancheta. – As siga ao dormitório número sete.
- Certo. – A garota assentiu com a cabeça.
Ashlee, uma garota de seios fartos e bunda particularmente grande, acenou pra ela.
- Bonito cabelo – Julie afirmou. null esboçou um sorriso. Sabia que seus longos e lisos cabelos, levemente ondulados nas pontas, chamavam atenção, principalmente pela cor: tão clara quanto banana descascada.
- Obrigada – respondeu graciosamente.

- Olá... Oi! – null cumprimentou as irmãs Lakeisha e Furonda ao entrar no dormitório.
As duas sorriram como cumprimento.
null percebeu que no dormitório só havia beliches de madeira -riscadas pelas pessoas que passavam por lá-, com colchões finos e, aparentemente, velhos. Ela pôs sua mala sobre o colchão de uma das beliches, e seguiu em direção à janela.
- Uau... – exclamou,ao ver a paisagem através da janela. O verde da grama e das árvores predominavam. Ela conseguia ver, ao longe, uma praia limpa e vazia. O sol ia se pondo e sumindo no mar.
- Esse lugar é lindo, não é? – Ashlee parou de tirar as roupas de sua mala para admirar a vista.
null balançou a cabeça afirmativamente. Estava completamente extasiada. Aquele lugar era realmente lindo, não havia nada igual.
Por alguns minutos, a atenção de null se voltou para outra coisa. Um rapaz alto, de olhos claros, bastante atraente e, aparentemente, mais velho do que aqueles que acampavam, passou conversando e rindo com Kerry. Ela o seguiu com os olhos. O viu parar debaixo de uma das palmeiras em frente ao dormitório, e começar a discutir algo com a monitora, provavelmente sobre futebol.
- Ei - null disse, sem tirar os olhos do rapaz. – Quem é aquele? – Ela quis saber.
Julie foi até a janela.
- O cara do cabelo estiloso? – perguntou. null resmungou afirmativamente. – Aquele é o null null, um dos técnicos de futebol... Por que?
- Você o conhece?
- Yep. Ele estava aqui quando vim ano passado. – Julie olhou para a outra de esguelha. – Pode tirar o cavalo da chuva, querida. Ele é totalmente profissional e não fica com as garotas que vêm acampar. Esquece!
null deu de ombros. Ela era determinada e confiante. Quando tinha um objetivo, ia atrás e lutava pra atingi-lo. Se ela havia gostava de um garoto, ficava com ele, não importava quanto outras pessoas dissessem que era impossível.
- Alguém afim de ir pra praia? – null ainda mirava null. Olha pra cá, olha pra mim.
- Acho que vamos almoçar daqui a pouco – comentou Julie.
- E daí? A gente volta rápido – disse a garota.
Todas se entreolharam, mas nenhuma delas respondeu. null também não ligou muito.
Logo colocou um biquíni, uma canga e calçou seus chinelos. Olhou para fora. Ótimo, ele ainda estava lá. Abriu a porta e saiu, depois fechou-a com força, fazendo barulho. Endireitou-se a passou em frente de null e Kerry. Jogou seus cabelos para os lados. Sorriu. Era bom saber que ninguém era imune aos seus cabelos... muito menos null.

xx

null aproveitou o mar por alguns minutos. Estava um pouco quente devido ao calor, mas refrescante ao mesmo tempo. Olhou para o lado e viu algumas crianças correndo e fazendo pequenos castelos de areia. Lembrou de Peter, seu amigo de infância, que passaria trabalhando suas férias inteiras no cabeleireiro de sua tia, em New York. Sentiu uma certa culpa por estar se divertindo enquanto ele trabalhava. Fez uma nota mental: escrever uma carta assim que acabasse de almoçar. Lembrou do almoço e sua barriga roncou. Não comera nada a não ser um pequeno pacote de amendoim que fora dado a ela no avião.
- Só mais cinco minutos e já saio daqui... – murmurou ela, deitando na areia. O sol estava forte e quente. null colocou seus óculos de sol e sua canga sobre o rosto. Havia esquecido de passar protetor solar, por causa da pressa.

Quanto tempo ficou deitada lá? Ela não fazia idéia. null tinha caído no sono. Abriu os olhos. Os raios de sol se chocaram contra seus olhos, e ela os fechou rapidamente. Abriu mais uma vez e viu que alguém a olhava. Seu cabelo estava molhado, e pingos de água caíam do cabelo do garoto em sua barriga.
- Ei, garota. – Um rapaz a reconheceu. Era null. – Ei, - ele disse novamente. – É hora do almoço.
Se havia algum método de null esconder seu encantamento por null, ela desconhecia. E se conhecesse, com certeza não usaria.
- Oi... – disse null sorrindo.
- Olá – cumprimentou-a com a voz mais suave. – Então, o almoço já está pronto... Você não vem?
- Certo... Você também vai? – perguntou a garota. null não era do tipo de pessoa que gostava de esconder seu interesse pelos rapazes.
- Vou. Vamos logo, ou senão não sobra comida! – Ele a puxou pelos braços. Ela não pôde deixar de reparar em seu abdômen bem definido. Mordeu seu lábio inferior. null reparou o olhar de null estacionado nele. Corou. Ele estava acostumado com esses tipos de olhares, mas não deixava de ficar sem graça.
- Vem, null! – null saiu correndo para fora da praia. Ele a seguiu.
- Vejo que já comentaram sobre mim. – Ele riu.
- Quem não comentaria sobre você? – A menina atreveu-se a dizer.
null mostrou um sorriso amarelo.
- Ah, sou null, por sinal – apresentou-se.
- Quantos anos você tem? – null quis saber.
- Tenho dezessete – mentiu. - E você?
- Vinte – ele respondeu.
A diferença não era tão grande se ela realmente tivesse dezessete...
- Você não é daqui, é? – null reparou em seu sotaque.
- Não... nasci em Londres. Me mudei pra Califórnia há três anos – respondeu. – Você é de New York, não é?
null respondeu que sim. Eles haviam acabado de chegar no refeitório. A garota olhou para as longas mesas cobertas por toalhas vermelhas.
- Bom... – null falou. – Bom almoço pra você, null.
Ela sorriu e desejou o mesmo. Serviu-se e sentou-se à mesa junto com Julie, Ashlee, Lakeisha e Furonda.
- Eu não acredito! – Julie estava impressionada. – Vocês... vocês dois... – Ela referia-se à null e null. As outras garotas soltavam risadinhas e as abafavam com as mãos.
- Não aconteceu nada demais, meninas. – null deu uma garfada e sua salada e colocou na boca.
Ashlee arqueou a sobrancelha.
- Vamos, null, conta o que aconteceu! A gente jura que não conta pra ninguém.
null riu. Estava achando graça daquilo.
- Sério, gente, não houve nada. Bom, nada por enquanto – afirmou dando ênfase às duas últimas palavras.
- Certo. – Lakeisha sorriu.
- Então, ansiosas para a escolha dos times? – Furonda resolveu entrar na conversa.
- Contanto que eu fique no time do null, ta bom pra mim! – null disse e olhou para a mesa dos treinadores. null estava rindo de algo que Kerry havia dito. A menina sentiu uma ponta de ciúmes. Era ela quem deveria ser a pessoa que faria null rir, não Kerry. Ela colocou seus cabelos para trás da orelha. Seu olhar ficou fixado em null até que ele olhasse para ela. Quando null o fez, voltou rapidamente seu olhar para algo na parte de fora do refeitório. null mirou seu prato.
- Porranull resmungou.
Ele evitava se interessar pelas garotas que freqüentavam o acampamento há 3 anos. Não era agora que ia deixar todos seus esforços irem por água a baixo.

xx

- Quietas! – Kerry gritou com sua prancheta nas mãos. – Calada, Allington. Sente-se logo, McAllister.
null e suas colegas de quarto sentaram-se na grama, em frente à monitora, treinadores e outra pessoas da staff.
- Bom, - Kerry começou. – Vocês todos já devem saber por quê estão aqui neste exato momento. Estamos todos reunidos pra dividir vocês em times. Mas antes de revelar os times, preciso apresentar-lhes nossos treinadores. - Kerry disse o nome de todos, e por fim, null, que foi mais aplaudido. – Certo, há seis times e, por enquanto, estão sendo nomeados apenas com cores. Vamos começar.
Havia o time Amarelo, o Vermelho, o Azul, o Preto, o Roxo e o Branco. O time do null era o último, o branco. Kerry foi chamando as pessoas.
Só restavam dois times: o roxo e o branco. null ainda não fora chamada ainda.
- Agora o time branco... – anunciou a monitora. null cruzou os dedos. Certo, era isso. Se ficasse no time de null, suas chances com certeza seriam melhores e maiores.
-... e por fim – Kerry disse. null ainda não tinha sido chamada. Mas ia ser agora, tinha certeza que iria. – Leslie Brown.
Droga! null abriu os olhos, que antes estavam comprimidos, e seguiu para onde a técnica do time roxo, Samantha Green, estava.
- Prazer – Samantha disse a todos. – Ok, nós vamos jogar agora. – Ao ouvir aquilo, null deu um pulo involuntário. Só de escutar o verbo jogar lhe dava energia. – Acalme-se, null. Bem, esse jogo não é sério, só queremos ver o que temos nos times, certo? – Todos balançaram a cabeça afirmativamente. – Mas antes, precisamos escolher um nome para o nosso time. Vocês têm um minuto.
Quando Samantha saiu de perto, o time se entreolhou.
- Hm... – null resmungou. – Que tal ‘Morangos do Nordeste’? – ela sugeriu.
Ashlee, que também estava em seu time, gargalhou.
- De onde você tirou isso?
null deu de ombros, assim como os outros.
No final, os nomes foram divulgados: Los Nachos (time de null), Los Conchitos, Escravos de Jó, Morangos do Nordeste, Glamurosas e Admiradoras do null.
- Babacas – murmurou null ao ouvir o nome do último time anunciado.
- Crianças! Vamos jogar agora, ok? Los Nachos contra Morangos do Nordeste.
null sorriu. Era agora. Faria de tudo para impressionar null. Ela o viu convocar seu time. Samantha fez o mesmo.
- É isso aí, gente – Samantha falava. – Felisha, você fica na defesa e você, null, – ela apontou para a garota – vai pro ataque. É isso. Vão!
Antes de null tomar sua posição, passou na frente de null.
- Pronto para perder? – Ela piscou para ele.
- Só nos seus sonhos... – respondeu.
- É o que veremos.

null se posicionou. Daria o melhor de si.
Ela ouviu o apito de Kerry. Logo, a energia presa em seu corpo se soltou. Ela roubou a bola de Leslie e foi driblando quem estava em sua frente. Passou por um... por outro... Em menos de um minuto, todos estavam gritando pelo gol que ela marcara.
- Vai, null! Vai, null! – Julie gritava enquanto tomava soda.
Aos quinze minutos, null já havia marcado quatro gols. Samantha resolveu pedir tempo.
- null, qual parte do meu discurso ‘quero ver o que temos aqui’ você não entendeu? Não é só sobre você, querida. – Samantha estava brava. Uma grande veia pulsava no meio de sua testa. – Quando receber a bola, TOQUE, entendeu?!
null assentiu. Ela não tinha culpa de ser boa demais, pensava.
- Quatro a zero, losernull provocou null mais uma vez. Ele a mirou, sério. Ela estava se aproximando demais dele.
- Certo, null! – Samantha gritou fora do campo. – Você me entendeu! Pegue a bola e passe! Passe!
O segundo tempo começou. null logo estava com a bola nos pés. Viu Samantha lhe olhar feio. Tocou rapidamente para Ashlee, que tocou de volta. Agora que já sabiam do ‘poder’ que tinha null, seria difícil não tocar para ela.
- Passe, null, passe, caramba! – Samantha estava aos berros.
null tocou para Heather que chutou para o gol e errou.

Aquele negócio de ficar tocando para os outros estava lhe enchendo. Se ninguém acertava a mira, ela acertaria de uma vez por todas. Desta vez, quando null recebeu a bola, não tocou e seguiu em direção ao gol. Era agora que marcaria e impressionaria null. Ela passou a bola para Ashlee, que lhe devolveu chutando alto. null se preparou. Realizou uma bicicleta e marcou o quinto gol do time. Cinco à Zero para os Morangos do Nordeste, foi o resultado final.
null estava animadíssima. Sua cabeça estava à mil. Ainda havia energia de sobra em seu corpo.
Resolveu dar um mergulho no mar. Não agüentava mais Samantha gritando em seu ouvido.

Todos ainda comemoravam, bebiam e comiam no campo. null saiu do meio e foi trocar de roupa. Sentiu alguém encostar em seu braço.
- Nada mau, null. – Ela ouviu null sussurrar em seu ouvido. Soltou uma risada.
- Cinco a zero, cinco a zero! – null cantarolava. null também ria.
- Você teve sorte. Sorte.
- É, sei... – Ela passou a andar mais rápido, deixando ele para trás.
- Ei, ei! – Gritou. – Aonde você vai? – quis saber.
- Praia – respondeu simplismente.
null continuou andando. null ficou parado e calado.
Se controle, homem, pensou. A garota sorriu. Ela podia mais do que pensava...

xx

- Ai, delícia! – disse null ao sentir a água gelada encostar em seu corpo. – Isso é tão maravilhoso... magnífico... Outch! Ai, cacete. Droga de concha. – queixou-se ela ao pisar numa concha quebrada. Ouviu uma risada atrás dela.
- Se importa se eu me juntar a você? – null perguntou. Ela reparou que o rapaz estava com as mesmas boxers do dia anterior.
null deu de ombros e partiu para a parte mais funda.
- Certo... – sibilou ele, seguindo-a.
Os dois pararam quando a água já batia em seus pescoços. A água estava calma e quente. Eles ficaram sem falar nada por algum tempo, até o sol começar a se pôr.
- E lá se vai o sol... – null disse com voz esganiçada.
- E lá se vai o sol... – null a imitou. Ela riu. – Acho melhor a gente voltar, ou a gente não consegue se lavar antes da janta.
- Ninguém vai sentir a nossa falta. – null tentava manter a cabeça pra fora d’água.
- Ah, vão sim. Um técnico homem e uma jogadora mulher sumidos à noite? Com certeza vão achar que estamos fazendo coisa errada. – null ficou com a expressão séria, após perceber o que acabara de dizer.
- E se estivermos? Fazendo coisa errada, quero dizer. – null mirou-o com malícia. Ele desviou seu olhar para as pedras, no fim da praia.
- null... – disse ele, com tom de voz que queria dizer algo como ‘olhe lá o que vai fazer’.
- Quê? – Ela perguntou naturalmente.
- Vamos, null, não se faça de desentendida. Isso... isso é errado.
- Isso o quê? – Ela fez o que ele havia acabado de pedir para que não fizesse.
- Isso! Me provocar... me tentar!
- O que há de mal nisso? – null começou a nadar atrás de null, já que ele seguia nadando em direção à praia.
- O que há de mal nisso? – ele repetiu. – Meu deus, null, eu sou um treinador! Ficar com as garotas que vêm pra cá é totalmente contra a política daqui, caramba! – O garoto ficava nervoso. – Eu não posso... Eu não posso!
Ele finalmente havia chegado à areia. Pegou suas roupas que estavam lá e foi em direção aos dormitórios.
- Qual é, null! Eu sei que você me quer tanto quanto eu te quero. Eu sei que você gosta de mim. Eu sei que a única coisa que quer fazer agora é me agarrar e fazer exatamente o que eu quero fazer com você. – Ela tentou achar o olhar de null, mas ele olhava para baixo. – Então, por que simplismente não fica comigo?
- null... – Ele procurou algo para dizer, mas não encontrou. Ficou frustrado. Continuou andando.
- Sabe o que eu acho? – falou a garota. – Eu acho que você não tem peito pra assumir que gosta de alguém. É, é isso que eu acho.
null botou a mão na cabeça.
- Sabe o que eu acho? Eu acho que eu sou um homem que tem responsabilidade e consciência dos meus atos. Droga, null, e se eu dissesse que gosto de você do mesmo jeito que gosta de mim? Ou que eu gostaria de te agarrar, aqui e agora? Isso não ia mudar nada. Eu não posso me envolver com você. Tente me entender!
null ficou quieta e continuou a encará-lo.
- Me prometa... – pediu ele. – Me prometa que não vai mais tentar se aproximar mais de mim... Por favor.
- Eu preciso ir. – Ela pegou suas coisas e deu as costas pra ele. null bufou. Ele conhecia garotas como null. Sabia que quando elas queriam algo, iriam até o fim. E era exatamente o que null tinha em mente; ficar com null, independente de quanto isso lhe custasse.

xx

null passou o começo de sua segunda semana no acampamento, treinando. Na quarta-feira, seu time jogaria contra as Admiradoras do null. Ela sabia que seria um grande jogo. Tinha vontade de vencer. Criara uma certa raiva pelas jogadoras por causa do nome do time. Ela as eliminaria.

xx

- É isso, meninas – disse Samantha, empolgada. – Hoje é o nosso jogo contra as Admiradoras do null, e vamos mostrar pra elas tudo o que treinamos nesses últimos dias! – Ela deu um pulo. – Ah, só um lembrete: estamos aqui para ver a qualidade de vocês. De TODAS vocês. Por isso quero que todas joguem, entendido? – Ela lançou um olhar significativo para null. – Vamos lá, Morangos!
Todas se posicionaram. null ficou no ataque, como sempre. Ela mostraria para null o que ele estava perdendo.
- Vamos acabar com elas, time! Acabar com elas! – null gritou e a torcida a imitou.
O apito soou. null roubou a bola rapidamente. Ela passou a bola entre as pernas de uma das garotas da zaga time adversário e seguiu para o gol.
- Aprenda com a mestra, perdedora. – Uma menina robusta pegou a bola de seus pés e empurrou null com força.
- Ei! – null levantou os braços, indignada. – Foi falta! – berrou para o juiz.
- Vá jogar. – Ele não lhe deu importância.
- Mas foi falta! Ela me derrubou! – ela argumentava. – Não, foi pênalti! Ela me fez cair dentro da área.
- Saia da minha frente. – ele disse grosseiramente.
- Dá pra olhar pra mim, seu babaca? – null enfureceu-se.
O juiz a olhou com tanta raiva quanto a garota. Ele abriu seu bolso de camisa e de lá, tirou um cartão. Um cartão vermelho.
- Seu nome – mandou o juiz, pegando uma caneta.
- Não é justo! – null estava inconformada. – Eu que sofri uma falta! Por que eu tenho que levar um cartão?
- Seu nome. – O juiz pediu, com tom de voz mais alto.
- null null – sibilou ela, seguindo para fora do campo.
Sentou-se junto de suas companheiras de quarto, que comiam salgadinhos excessivamente calóricos. Ela olhou para null, que não pareceu não se importar com o que havia ocorrido. null sentiu seu sangue ferver. Ela o faria se importar. Eu o farei se importar.

xx

Todas estavam empolgadas com a vitória dos Morangos do Nordeste, pois iriam para as semi-finais, mas null não estava tão animada em relação à isso porque, por causa de seu cartão vermelho, não poderia jogar no próximo jogo. Apesar disso, estava um tanto empolgada para outra coisa; haveria um baile de máscaras naquela noite, e ela estava com um bom pressentimento.
- Como estou? – perguntou Ashlee ao sair do banheiro.
- Uma gata, literalmente. – null riu ao ver um pequeno rabo atrás da fantasia da garota.
- E eu? – Julie deu uma voltinha mostrando seu uniforme de enfermeira.
- Eu acho que vocês vão fazer os técnicos e monitores terem pensamentos bastante impuros essa noite – brincou null.
- Você também não fica pra trás, amigas. – Lakeisha apontou para seu vestido branco e decotado. null olhou-se no espelho. Soltou uma risada ao ver sua peruca loira bem escovada e uma pinta falsa feita de lápis do olho, perto da boca.
- Fala sério, eu sou a verdadeira Marilyn Monroe! – disse ela. As outras também riram.
- Certo, gatonas – falou Furonda, saindo do quarto com as outras garotas. – É hora do show.

As meninas entraram na discoteca improvisada do acampamento. Elas colocaram as máscaras que lhes deram na entrada e foram buscar umas bebidas.
- Olha, a gente pode fazer nossos próprios drinques! – Julie mirava com os olhos arregalados para as várias bebidas alcoólicas e não-alcoólicas da mesa, além de vários enfeites e corantes.
- Vamos beber depois. Vem, – null puxou a mão de Ashlee – vamos dançar.
null e Ashlee dançavam na pista, que lotava aos poucos. null procurava discretamente por null. O uso das máscaras não era seu grande problema, mas sabia que seria difícil achá-lo porque, com certeza, ele tentaria fugir dela.
As duas dançavam com charme e ritmo. Algumas meninas que estavam em sua volta, imitavam seus passos de dança. null sentia-se ótima, amava quando todas as atenções estavam voltadas a ela.
- Ei, já volto – disse null a Ashlee ao ver null vestido de Zorro.
A garota sorriu maliciosamente. Ele ficava deliciosamente gostoso com aquela fantasia. (N/A: oh, desculpem, acho que isso é algo que a minha moranguinha pensaria xD)
null foi se espremendo no meio da multidão até chegar até null. Ele não pareceu reconhecê-la. Ela parou bem perto do rapaz, que apenas observava as pessoas dançando e se divertindo. null viu Kerry se aproximar de null. A viu sussurrar algo no ouvido dele, e ele balançar a cabeça negativamente, rindo. Kerry o puxou e seguiu em direção ao palco. A monitora subiu no palco e pegou o microfone.
- Boa noite a todos! – Berrou ela, arrancando assobios e aplausos. – Aproveitem essa noite para dançarem, beberem e ficarem à vontade! – Mais aplausos. – Bom, antes de vocês voltarem a se acabar na pista de dança, nosso querido técnico null irá cantar pra a gente! – Kerry começou a rir ao ver a cara de surpresa de null. As garotas começaram a empurrá-lo, fazendo com que ele subisse involuntariamente.
- Oi... – Ele deu batidinhas leves no microfone, para ver se estava funcionando. – Hm... eu... – Ele estava nervoso. Os outros treinadores e monitores o vaiavam e gargalhavam. null esboçou um meio sorriso. – Certo. Vou cantar pra vocês!
- Anda logo, cara. – null ouviu alguém gritar.
- Está bem, está bem... – falou null. Limpou a garganta. – Primeiramente, eu gostaria que todos acendessem as velas, isqueiros e ligassem seus celulares! – Ele brincou.
- Pára de enrolar, null! – null berrou. Ela viu null olhá-la. Ambos sorriram.
null endireitou-se e agarrou o microfone.
- Would you dance if I asked you to dance? – Ele cantou, fazendo as garotas irem à loucura. – Would you run and never look back?
Todos riam e balançavam seus braços para os lados. null continuava cantando.
-...I will stand by you forever… - null fez pose. – You can take by breath away…
- Aw, tchutchuco! – Henry, outro técnico, correu para o palco e abraçou null, fazendo-o cair no chão. – Eu te amo!
- Eu também te amo! – Os dois riam descontroladamente. Todos achavam graça.
- É isso, pessoal! Que a festa comece!
null viu null ir pegar um drinque. O seguiu.
- Não sabia que cantava... – comentou null, ao chegar perto dele.
- Ah, é? Eu sou o Enrique Iglesias em pessoa! – Ele colocou vodka em seu copo descartável. null pegou seu copo e colocou-o sobre a mesa.
- Vem – disse ela. – Vamos dançar.

null não sabia quanto havia bebido, mas tinha certeza que bebera demais para estar dançando com null. Os dois tinham ritmo e dançavam incrivelmente bem. null levou as mãos ao alto ao ouvir Don’t Cha começar a tocar.
- I know you like me... – sussurrou ela no ouvido de null. – I know you do...
O rapaz não parecia estar muito confortável com a situação, mas também não a estava fazendo nada para que null parasse de se insinuar.
- Don’t cha wish you girlfriend was hot like me? – Ela dançava com charme. null apenas a admirava. – Don’t cha wish your girlfriend was a freak like me? – A garota colocou suas mãos no pescoço dele. – Don’t cha?
O que você está fazendo?, pensou null.
null foi acariciando seu rosto lentamente. Fechou os olhos e com o indicador, foi sentindo cada traço de seu rosto, como se nunca mais fosse vê-lo. null suspirou, mas não a repreendeu. Talvez aquilo fosse apenas um sonho, e acordaria a qualquer momento.
null foi tirando a máscara dele devagar. Ela estava gostando. Ela sabia que ele também a queria.
null foi tirando a máscara da garota, encostando em sua pele macia e quente. Ao ver o rosto de null, pareceu acordar do transe. Ele respirava rápido e seu coração pulsava forte.
- Eu... – ele sussurrou ao pé do ouvido da menina. null sorriu. – Nós não podemos...

xx

null evitou null durante o fim de semana inteiro. Ele estava assustado, e ela sabia disso. null gostaria poder fazer o mesmo. Gostaria poder não olhar mais para seu rosto, ou não chegar perto dele, mas não conseguia. Ela não sabia ao certo o que sentia; não sabia se era apenas uma paixão de verão ou um amor de verdade, mas sabia que era incontrolável.

No domingo à tarde, null resolveu ir à praia já que havia treinado toda a manhã. Adorava ir à praia para descansar um pouco e acalmar os ânimos.
Deitou-se na areia da praia, que estava vazia. Àquela hora, todos estavam assistindo o jogo dos Escravos de Jó contra Los Nachos. Ela queria estar lá, para torcer pelo time do null, mas sabia que ele nem olharia para sua cara, e aquilo seria difícil demais para agüentar.
Encontrou-se entediada. Lembrou-se de Peter. Lembrou-se que havia trazido papel e caneta, e resolveu escrever-lhe outra cara.

Peter Piper Pepper!

Como você está? Muito bem, espero. E como está tudo indo aí no cabeleireiro? Continua deixando as pobres mulheres carecas? Espero que não!
Tudo aqui continua maravilhoso. Faz sol todos os dias e a praia... meu deus, a praia é uma coisa de outro mundo! É uma pena que não haja garotos nesse acampamento, e o único cara pelo qual me interesso é um brocha e foge de mim o tempo todo.
Eu sei que ele só quer o bem de nós dois, mas eu estou apaixonada, não posso evitar, eu acho. Quero dizer, acho que estou apaixonada e não que não posso evitar. Er, você entendeu, né?
Estarei aí semana que vem. É pouco tempo, portanto aproveite!

Com Amor
Moranguinha do Nordeste.


null releu a carta e fitou-a por um tempo.
- Oh, então é daí que vem ‘Morangos do Noerdeste’, huh? – perguntou null, assustando a garota.
Ela assentiu. null tentou não olhar para ele. Sentiu uma certa raiva de repente.
- null...
- Quê? – Ela ainda não olhava para ele.
- Olha pra mim... – pediu null. Ela continuou com a cabeça virada. – Eu... eu entendo o que você está sentindo agora. Sei que é difícil, mas ponha-se no meu lugar. É mais difícil ainda pra mim.
- Sabe, null, eu já conheço seu discurso. Me deixa. – null estava impaciente. Estava farta de null e suas desculpas.
- Não, quero que me escute.
- Eu não quero te escutar... não quero falar com você. Estou cansada de suas desculpas. Não precisa ficar se justificando pra mim. Estou cheia! Eu quero você e sua ética pra longe de mim, entendeu? Eu quero que você se dane! Eu quero que...
- null...
- Não, null, me escuta agora. Se você não gosta de mim, ótimo, porque...
- null...
-... porque eu não dou a mínima pra você, pra o que você pensa ou deixa de pensar... e...
- null, cala a boca – disse null rindo.
- Não vou calar a boca porcaria nenhuma, null! – null ficou brava.
- Cala a boca! – falou null, puxando null para perto de si. Ele a beijou com intensidade, com vontade.
null não estava entendendo direito, mas não ligou. Sorriu ao sentir null acariciar sua coxa. Ela tirou a camiseta dele e pôs as mãos em seu peito. Ele a puxou mais pra perto, desamarrando a parte de cima de sue biquíni vagarosamente. null sentiu uma certa vergonha, pois era inexperiente e estavam no meio da praia, que continuava deserta. A garota tirou o shorts dele com voracidade e ele continuou beijando seu pescoço.
- null... – ela ofegava. – Você tem certeza?
null não respondeu e foi puxando a parte de baixo do biquíni dela.
Ele sabia que aquilo era o que queria fazer desde o momento que a viu. Ele sabia que era errado, ela também. Ele sabia que agir por impulso não era bom, ela também. Mas ambos sabiam que quando o sentimento é mais forte, é impossível controlar.

xx

Peter Panda

Eu não sei direito como tudo aconteceu... Foi tudo muito inesperado. Eu... eu acho que fiz uma coisa errada. Eu me precipitei.
Eu acho que gosto mesmo do null, mas ele é, ou melhor, ele não é como eu. Ele é experiente, eu não sou.
Entendeu o que quis dizer? Percebeu o tamanho da besteira que eu fiz? Percebeu a besteira que fiz?

Se cuida
null


xx

- null? null? – Ashlee tentava acordar null.
- Quê é? – Ela colocou seu travesseiro sobre a cabeça.
- Vamos tomar café – disse Julie.
- Não estou com fome. Quero dormir. – null estava emburrada.
As meninas se entreolharam. Algo estava errado. null nunca perdia uma refeição, e sempre tinha energia de sobra.
- null... – Lakeisha disse do mesmo jeito que null falara no dia anterior na praia. null teve vontade de chorar ao lembrar dele.
- null, não tem nada que você queira nos contar? – Furonda quis saber.
null soltou uma lágrima. Estava tocada pela preocupação das amigas.
- Ei, você está chorando? – Ashlee ficou mais preocupada ainda. – Vamos, null, conta pra nós o que você tem!
- Eu não tenho nada... – Ela insistiu. – Vão tomar café. Eu preciso descansar um pouco. É só.
- Ta bom – disse Julie. – Quer que a gente te traga alguma coisa?
null sorriu.
- Não, não precisa.
- Então ta... Vamos, meninas – chamou Lakeisha.
Todas saíram, deixando null sozinha.

- null, a Samantha quase teve um treco porque você faltou no treino! – Julie disse ao entrar no quarto e ver null jogada na cama. – null... aconteceu alguma coisa ontem entre você e o null? – perguntou ela.
null sentou-se, com certo esforço, na cama. Seu rosto estava marcado por causa do lençol.
- Não... – disse com a voz fraca. – Não houve nada.
- null, todo mundo ta preocupado com você. Você não parece a mesma que eu conheci há duas semanas atrás – Julie falou com delicadeza. – Eu sei que você ta assim pelo null. Eu sei que é difícil, mas você não pode ficar triste por causa dele. Ele é um homem!
- Ai, meu Deus! Ele é um homem? – null fingiu-se surpresa. Julie riu.
- É disso que eu to falando! Nós queremos saber o que aconteceu com essa null cheia de energia e bom humor!
A garota teve vontade de cair no choro mais uma vez. Ela estava naquele estado por causa de null, mas ele não havia feito nada de errado. Ela foi quem se passou por tola e errou. A culpa era dela, e estava se sentindo péssima.
- null – Julie pegou um saquinho e colocou na frente da outra. – Eu trouxe sua janta.
Os olhos de null marejaram.
- Ai, você não vai chorar, vai? – Julie franziu as sobrancelhas. Tarde demais. null estava em seus braços, chorando como um bebê.
- Aw, Jules-Julie-Julie! – Ela soluçava. – Brigada! Brigada, brigada, mesmo!
Julie deu batidinhas em suas costas, sem graça.
- Bom, vou deixar você comer aí. – Julie ia fechando a porta e lembrou de dizer outra coisa. – Ah, mais tarde vão fazer uma fogueira lá na praia. Use um pouco da sua energia restante e desça até lá, ok?
null assentiu e sorriu. Talvez nem tudo estivesse perdido. Talvez ela não estivesse sozinha. Talvez suas amigas estivessem lá para ajudá-la. E estavam.

xx

Amoreco

Recebi suas cartas e estou preocupado com você. Acho que entendi o que fez de errado.
Não se preocupe, tudo dará certo e acabará bem no final
Eu bem sei o que está passando. Lembra quando me apaixonei pela empregada da minha tia? Ela era bem mais velha, huh? Ok, essa piadinha estúpida não ajudou.
Hoje queimei o cabelo de uma senhora com a chapinha. Ela me bateu e tudo mais! Essa informação de ajudou, não?

Eu te amo
Pete Peteleco


xx

Na manhã seguinte, null sentiu-se um pouco de sua energia voltar ao seu corpo. Havia dormido como um urso no dia anterior inteiro. Levantou-se e foi tomar banho. Quando saiu, sentiu-se mais leve. Prendeu os cabelos e resolveu ir correr.

Cinco quilômetros, era quanto ela havia corrido. Ela sentia-se bem correndo. Sentia-se livre como um pássaro.
Passou pela praia, que estava cheia de pessoas que aproveitavam o sol das 8 da manhã. Olhou para o mar, que parecia estar lhe pedindo para que entrasse e desse um mergulho. null não resistiu e entrou no mar de roupas. Nadar sempre lhe fazia bem.
Ela olhou para a praia e lembrou-se da primeira vez que falara com null. Ele tinha encantamento nos olhos. Ele também estava fascinado por null, ela não deixou de perceber.
Resolveu voltar para o dormitório e tomar outra ducha. Ela teria que enfrentar o refeitório. Ela teria que encará-lo de frente.
Ela teria que encarar seus problemas de frente.

xx

- Mas olhem só quem apareceu! – disse Lakeisha ao ver null sentar-se com ela e as outras garotas à mesa.
null riu e olhou para os lados. Ele estava lá, mas não se atreveu a olhar para ela.
- A gente ficou preocupada com você. O que aconteceu? – Ashlee perguntou.
- Precisamos mesmo falar sobre isso? – null se mexeu desconfortavelmente na cadeira.
As meninas deram de ombro.
- Então, vai arrasar hoje na final, null? – perguntou Furonda, animada.
- Se a Samantha me permitir... – respondeu ela.
- A Samantha tem sérios problemas. Você é, tipo assim, a estrela desse acampamento! A melhor jogadora! – declarou Julie. null corou. – Sério, você joga mais do que um time inteiro!
- Brigada. – A garota sorriu amarelo. – Mas não é pra tanto.
- Claro que é! Você até conseguiu pegar o null! – Lakeisha disse, um pouco mais alto do que deveria.
null sentiu suas bochechas ferverem. E se null tivesse escutado? E se Kerry tivesse escutado?
Olhou para a mesa dos monitores. Felizmente, Kerry não escutara. Suspirou, aliviada.
- Pelo amor de Deus, Keisha, nunca mais fale isso, ta bem? – ela pediu.
- Certo, desculpe...
- Bom, vou me trocar. Quero me alongar logo – disse null. – Tenho um jogo a ganhar.

- Vamos lá, time! – Samantha chamou seu time. – Estamos na final. Passamos essas duas últimas semanas lutando por isso! – Ela bateu palmas. – Vamos lá! Força!
Todos se posicionaram. Samantha chamou null.
- null, hoje você vai poder fazer o seu negócio. Jogue do jeito que quis jogar desde o dia que chegou aqui.
null mirou-a com raiva. Ela havia a desmerecido durante todos os jogos e agora queria que jogasse com força. Pena que ela não era a mesma null de duas semanas atrás.
A bola foi passada rapidamente para null, que vacilou e deixou a garota do outro time roubá-la. Pronto, um a zero para o outro time.
- Acorda, garota, acorda – murmurou para si mesma.
null estava com a bola nos pés novamente. Estava mais esperta desta vez. Driblou a zaga inteira e marcou gol. Um a um.

Cameron, uma menina de seu time, tocou a bola para ela. null fez jogadas espetaculares no meio de campo. Chutou em direção ao gol. Errou.
- Errou outro, null? O que é que você tem hoje? – Samantha berrou. null sentiu seu sangue ferver, mas ficou quieta. – Nem parece mais aquela estrela de antes.
- Chega! Você não me deixou jogar no começo, e agora coloca todo o peso sobre as minhas costas! – Ela também gritava. – Quer saber? Cansei dessa palhaçada. – E jogou seu colete no chão e saiu do campo.
Se Samantha não reconhecia seu talento, acharia alguém que reconhecesse.

xx

null pegou sua mala e colocou tudo que estava fora, dentro dela. Arrancou uma folha de seu caderno e pegou uma caneta. Sentou-se na cama e pôs-se a escrever.

Tchutchucas

É isso aí. Estou partindo hoje, pois estou de saco cheio. Acho que ficar aqui não vai me fazer bem... Sabem como é, né?
Preciso dizer que amei conhecer vocês? Agradeço por tudo que fizeram por mim. Vocês se tornaram pessoas extremamente especiais.
Comportem-se na ausência da mamãe.
Podem ter certeza que as verei em breve.

Com muito amor
Arrasadora de corações ou Aquela com o coração arrasado


Ela deu mais uma olhada rápida em sua carta e dobrou-a, colocando sobre uma mesinha.
Suspirou e deu uma última olhada em seu quarto. Sentiria falta daquilo.

null retirou suas sandálias e as segurou. Ela deu uma última olhada naquela praia, com seus pés enterrados na areia.
- null! null! – Ela ouviu alguém gritar seu nome. – null!
Ela virou-se. Era null.
- O que você está fazendo aqui? – perguntou.
- Eu só... eu só queria falar com você – respondeu meio sem fôlego por causa da corrida.
- Certo. Olha, null, eu estou indo embora. Desculpe. Quem sabe uma outra vez.
- Não. – Ele segurou-a pelo braço. – Eu só preciso te dizer umas coisas.
null respirou fundo e sentou-se.
- Anda. Diga – falou friamente.
- Bem... antes de mais nada, eu queria te dizer que eu sinto muito se te fiz sofrer. Não foi proposital. Eu deveria ter pensado duas vezes antes de ter me... ter ficado tão íntimo de você, entende? Eu fui irresponsável, imaturo. – null sentiu que ele estava falando a verdade.
- Eu também tenho culpa.
- Não, não tem. Se eu não tivesse agido impulsivamente... Porra, eu não consegui me controlar. Você é uma das garotas mais lindas e charmosas que eu já conheci em toda a minha vida idiota!
null não pôde deixar de sorrir.
- Cara, você me assustou no começo – ele continuou. - Eu fiquei com medo. Você me provocava... Eu sou... eu sou um homem! Eu não pude evitar deixar de olhar pra você e ficar encantado! Você me fascinou desde o primeiro dia que eu te vi.
null deixou uma lágrima escapar. Às vezes era tão difícil ouvir verdades.
- Eu nunca pensei que ia gostar tanto assim de uma menina. Uma menina mais nova, ainda por cima. – Ele não parava de falar. – E você... você é boa demais pra mim! Você é bonita demais, descolada demais, nova demais!
- Ah, null, sobre a minha idade... – null olhou-o com certa pena. – Eu tenho dezesseis.
- Você está brincando! – null disse. null sacudiu a cabeça. – Você bem que podia ter me contado isso antes.
- Que diferença faria? – perguntou ela. – Você ficou encantado comigo desde o primeiro dia que me viu, mesmo! – brincou.
- É disso que estou falando – null falou. – Você é inteligente demais pra ficar com um cara como eu! Eu sou um... eu sou um ninguém. Eu sou só mais um cara estúpido que você conheceu e conquistou. – Ele viu null abrir a boca. – Não, deixa eu acabar. Daqui um tempo, você vai perceber que nós dois erramos e que fizemos uma burrada. Você vai perceber que eu não sou o cara ideal pra você e você vai encontrar alguém à sua altura.
Ela não conseguiu conter as lágrimas.
- Quando você for mais velha, eu ainda vou procurar por você nos maiores times de futebol do mundo, e você vai me rejeitar. E eu vou lutar pra que você me queira de novo. – Ele limpou as lágrimas dela com seu polegar. – Mas, por enquanto, eu não posso me permitir te querer ou me envolver com você – concluiu.
- Certo... – disse null com a voz fraca. – Eu entendo.
null ficou em silêncio. Ela fungou.
- Eu sei que entende...
null apoiou sua cabeça no ombro do rapaz e ficou assim durante alguns minutos.
- Preciso ir, null. – Ela se levantou.
- Ir para onde?
- Estou voltando pra New York. – Ela viu null abrir a boca para dizer algo, mas foi mais rápida. – Eu sei que ainda faltam quatro dias, mas eu acho que não tenho mais nada para fazer aqui. – Ela pegou sua bolsa. – Adeus, null.
Ele a viu pegar sua mochila e sair da praia lentamente. Ele deitou-se na areia, exausto.
- Ei, null! – null gritou. – Tente quebrar algumas regras.
null sorriu.
- E você – ele rebateu – tente seguir algumas!
Ela assentiu com a cabeça e seguiu a um táxi, que a levaria ao aeroporto.
Talvez as coisas entre ela e null não tivessem dado certo. Talvez aquele não era o momento certo para ficarem juntos. Talvez eles eram feitos um para o outro, e haviam feito tudo errado. Mas ela sabia que aquele era seu destino e que null havia aparecido em sua vida por um motivo. Se descobriria o motivo um dia, não sabia. Se o reencontraria, também não sabia. Mas de uma coisa sabia; não se arrependia de nada que fizera e se pudesse, faria tudo de novo.
Quem sabe eles se encontrariam no futuro e pudessem fazer as coisas certas na próxima vez. null, de nada sabia, mas tinha conhecimento de que ter quebrado as regras fora algo bom, e serviu para que amadurecesse.

Quebre as regras, antes que elas acabem com você.

FIM

*Discurso da Autora:
Essa fic eu escrevi de presente pra minha Moranguinha do Nordeste original, a Rah. Eu amo você, Judd.
Espero que tenham gostado dela. Lembrando que isso foi uma adaptação, portanto, qualquer semelhança talvez não seja mera coincidência! xD
Até a próxima, meus morangos.
Crickz xx

Críticas construtivas, elogios, sugestões, etc:

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