abriu a porta do armário, deixando um livro cair.
- “O Pequeno Príncipe” – leu em voz baixa.
Num segundo, milhares de lembranças invadiram sua cabeça. Ele sentiu as forças deixando o corpo e caiu na cama. Ele se lembrava perfeitamente...
Quando se conheceram, mencionara alguma coisa sobre aquele livro.
- Você já leu?
Ele nunca havia lido.
amava o sorriso dela, gostava de ouvi-la falar... Seis anos e ela ainda incomodava.
Lembrava-se de quando começaram a namorar. Ele tentou beijá-la. A menina esquivou.
- Cativa-me, antes.
- Do que preciso para fazer isso?
- Precisa ser paciente. – Ela sorriu.
O sorriso dela o aquecia por dentro.
- Assim como o pequeno príncipe? – perguntou.
- Exatamente como ele. Já leu?
- Não.
E a beijou.
E o noivado? Nada no mundo o faria esquecer.
Ela estava ali, olhando o pôr-do-sol. Linda.
tinha tudo em mente, mas
parecia desmontá-lo a cada movimento dela.
Abraçou-a por trás.
-
... – murmurou.
- Casa comigo?
virou se para ele. Atônita. Não esperava por aquilo.
- Como?
- Perguntei se você se casa comigo – ele repetiu paciente.
A menina não respondeu imediatamente. Voltou a olhar o sol se esconder.
percebia o brilho nos olhos dela e um pequeno sorriso nos lábios.
- O pôr-do-sol me faz feliz... – disse em voz baixa.
- Está feliz agora? – O menino a sua frente sorria, pouco antes de beijá-la.
- Muito.
gostava do pequeno mistério dela (por mais que o afligisse às vezes),
gostava de tudo nela.
Ela repetia sempre que as crianças eram as únicas a saber o que querem. Dizia que as pessoas não deviam envelhecer, nem se tornar sérias demais.
- Os olhos são cegos,
. Só se vê bem com o coração.
- Você me viu com o coração?
A menina ria como se fosse óbvio. O que de fato era.
sabia que era óbvio, mas ele não trocaria nada no mundo por aquele sorriso.
Lembrou-se de uma vez em que os dois estavam deitados na cama, quando a menina disse que eles deveriam se mudar para o Asteróide B 612. E gargalhou em seguida.
- Que lugar é esse? – ele perguntou.
- Uma estrela. – Ela riu de novo.
A risada dela esquentava
, ele ria junto.
- Vamos morar numa estrela?
- E por que não?
- É impossível,
!
A menina se virou para ele, com uma expressão séria antes de dizer:
- Você tá ficando velho,
! – E caiu na gargalhada.
fez cara triste.
- Vai me amar quando eu ficar velho?
- Não. – E riu.
- Não? – perguntou indignado.
A menina balançou a cabeça negativamente.
- Mas todo mundo envelhece! Você também vai envelhecer!
- Não por dentro...
- O pequeno príncipe não entendia os adultos–
finalmente disse, encarando o teto.
- Você leu o livro? – Ela se sentou, com olhar esperançoso para ele.
- Não – E riu. – deduzi.
- Ah,
! – E se jogou de novo na cama.
- Me conta? – ele pediu.
- Não!
- Por quê?
- Você tem que descobrir sozinho, senão não tem graça!
riu. Só estar perto dela era motivo pra rir. Tê-la era motivo pra rir pro resto da vida.
- Eu te amo,
.
- Também te amo,
.
- Me conta a história? – pediu de novo.
- O livro está no armário.
teve vontade de ler, mas nenhuma vontade de pegar o livro. E agora ali estava ele, no mesmo quarto, na mesma cama com o livro em mãos. Abriu o livro. Mas antes de ler, não pode evitar que outra lembrança viesse à tona. A pior delas.
Ela estava à sua frente. Pálida e cansada, mas com o mesmo brilho nos olhos. Doía a
vê-la assim. Numa cama de UTI.
se aproximou lentamente e só pode ouvir um “Sai daqui” em voz baixa.
- É assim que me recebe? – Sorriu fracamente.
- Você vai sofrer, não quero que sofra. Não quero que veja.
-
...
- Vai parecer que eu estou morrendo...
- Não fala isso!
sentiu um aperto no peito, um desespero.
- Mas você sabe que é verdade.
- Você falou como um adulto!–
brincou.
A menina riu.
- Não sabe como eu gosto de ouvir esse riso!–
falou triste.
- Verdade? Então esse vai ser meu presente.
- Presente?
- Quando você olhar para o céu, de noite. Olhe pras estrelas, eu vou estar em uma delas, rindo pra você. Então, só você terá estrelas que sabem rir! – ela disse sorrindo.
apertou a mão dela.
- Vai estar no Asteróide B 612? – perguntou rindo.
- Lá mesmo... – Riu de novo. – E quando você estiver consolado (a gente sempre se consola), vai ficar feliz por tudo que passamos, e vai de vez em quando à janela rir comigo, pelo simples prazer de rir. E então, o
, o
ou o
vão perguntar qual a piada. E você vai dizer que as estrelas te fazem rir, então eles dirão que você ficou mais idiota depois que me conheceu. – Riu de novo.
Era triste, mas
riu junto. Ele sempre ria.
-
... Por favor, vai embora. – pediu de novo.
- Não vou te deixar.
- Não vai ser bonito,
, vai embora.
- Não vou te abandonar.
- Eu sei que não. – E sorriu.
mal continha as lágrimas. Epertou forte a mão dela.
- O essencial...
- É invisível aos olhos. –
completou.
A menina sorriu. Um último sorriso.
“Ela estava errada em uma coisa, não me conformei. Não completamente.”
leu o livro com carinho, com calma. Percebia-a em cada página, em cada fala e no próprio personagem.
Sentiu uma coisa estranha ao fim do livro.
Chegou à janela, e abriu, olhando os pequenos pontos brilhantes acima de sua cabeça.
- Você era exatamente como ele,
.
E
pode jurar que ouviu as estrelas sorrir.
N/A: “- Eu conheço um planeta, onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão contas. E o dia todo repete: “Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!”E o isso o faz inchar de orgulho. Mas ele não é um homem, é um cogumelo!” – O Pequeno Príncipe.
Muito obrigada a quem leu essa fic. Vocês foram presenteados com o dom da paciência. \o/
Fic dedicada a Bella, e a todo mundo que pelo menos uma vez olhou o céu e se perguntou se o carneiro comeu ou não a flor.
Agradecimento especial à minha Mark, que SEMPRE me ajuda.
Saudações Solenes, Kell :*
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