Estúpido demais pra ser verdade
Por Lígia



nullnull era mais uma adolescente comum, como todas as outras. Tinha amigas comuns, estudava em um colégio comum, e, igual à milhares de outras garotas de dezesseis anos, adorava passear no shopping.
Era o que ela e null estavam fazendo neste exato momento. null acabara de ser aceita como ajudante de secretaria...
– Na verdade, bolsista, null. – Reclamou ela para a amiga.
– Ajudante de secretaria é muito mais chique, meu bem. – Justificou null e as duas saíram rindo da loja de calçados.
Era o primeiro emprego de null, e ela e null resolveram comemorar comprando um tênis novo para as duas.
– Ah, mas fala sério, o meu RBK rosa owna esse seu Olímpicus azul... 
Às vezes, null era bem chatinha.
Não era culpa de null que seus pais não tivessem uma árvore de dinheiro plantada em casa. null vivia numa mansão, e null já se sentia poderosa de ter uma casa de dois andares.
Chegando à casa de null, que era onde ela pretendia passar a noite, null estava lá, assistindo televisão numa 42 polegadas tela plana digital [n/a: Um dia eu chego lá @.@]. 
null era o irmão mais velho de null, e se via isto de longe. Os dois compartilhavam a mesma cor de cabelo e de olhos. Apesar de null ser vinte centímetros mais alto do que null, e uns doze que null, a semelhança era perceptível à distância.
– Oi, null. – Cumprimentou ele, se desviando da tela hipnotizante.
– Oi null, tudo na bo... – Começou null, mas null a puxou pelo braço para as escadarias de degraus de mármore.
– Não vai ficar de papo furado com o null, né? Temos coisas muito melhores para fazer, como combinação de roupas com meu RBK novo.
null viu null contorcer a cara num contra-sorriso.
Às vezes, null era bem chatinha.²
Se a casa de null já era bonita, não se imagina o quarto. As paredes eram lilás, e as cortinas com rendas brancas – e gigantescas, para esconderem as duas imensas janelas que clareavam o quarto de cima à baixo.
A cama de null era gigante e centralizada, com dois bidês brancos, como toda a mobília, muito bem colocados, e cheios de coisas em cima – celular, diário, abajur, despertador e outras coisas a mais. 
Havia ursos de pelúcia de todo tamanho e cor pelo quarto inteiro, com tapetes lilás e brancos, macios e fofos. Havia também duas portas – uma para seu banheiro gigante com hidromassagem, e outra para seu closet incrível, com um desfile completo de roupas de todas as marcas famosas e sapatos de todas as cores e tipos.
Parecia um quarto de contos de fadas, daqueles que null pedia ao Papai Noel quando era pequena.
– Calma aí que eu vou separar alguns conjuntos e já venho desfilar para você, tá, null?
– Ok... 
Porém null, como era de se esperar, demorou tanto que null decidiu ver o que null estava fazendo. Ficou ao lado da porta de seu quarto e já ia bater, quando ouviu uma música tocando, provavelmente de CD amador.
Ela adorava este tipo de música. Ficou hipnotizada ao lado da porta, tão concentrada que nem percebeu a porta se abrir depois de um tempo de silêncio.
– Oi, null. Estava ouvindo? – Era null.
– Ahn? Ah, oi null! Estava sim, era você quem tocou nesse CD?
– Sim. Gosta?
– Muito... 
– Então talvez um dia você possa vir aqui ver um ensaio da minha banda. Aposto que todos vão adorar conhecer minha primeira fã interessante.
E ele sorriu. Mein Gott, o que era aquele sorriso? Um show de branco e brilho ofuscante a qualquer estrela metida a besta!
null sorriu também. Se ela costumasse a corar, estaria feito um pimentão. Se despediu de null e voltou ao quarto de null, que logo saiu para desfilar com seus modelitos. null não conseguiu pensar em outra coisa senão na banda de null.
No outro dia, as garotas convidaram null e null para jogar vôlei na quadra coberta de null, pois estavam chovendo. null estava com um amigo que null já conhecia, o Eduardo, e ficaram três contra a três jogando. Quando jogou com null e null, null perdeu de 25 x 19. Quando jogou com null e null, ganharam de 26 x 24.
As quatro – null, null, null e null – formavam o grupo mais querido da sala de aula, e o mais popular da escola. null achava que não fora feita para estar nele, mas quando dizia isto às amigas, elas olhavam com uma cara tão feia que ela logo fingia mudar de idéia.
Quando voltou para casa, null decidiu dormir cedo, pois no outro dia ia para a escola onde começaria a trabalhar logo cedo.
Segunda feira, na escola de ensino médio onde trabalharia, estava tão monótona que os dois alunos que chegaram para pedir informação foram mais bem recebidos que de costume, e assim até se espantaram e prometeram voltar mais vezes.
Todos eram mais ou menos da idade de null.
– Posso ajudar? – Perguntou null a um garoto bonitinho de mechas que se aproximou.
– Pode sim. Pode ficar quieta pra não enlouquecer meus ouvidos com seu guincho que chama de voz e tirar cópias deste dever. Depois te dou tua gorjeta e você vai lá comprar um doce pra sua irmã favelada.
null não era de levar desaforo para casa. Ela não era favelada e não tinha nem irmã! [ n/a:Algum comentário idiota sobre a forma medíocre de pensar dela? Ò.ó] 
– Escuta aqui, ô das mechas... Se eu não quiser tirar estas cópias pra você, você copia estes deveres que nem teve capacidade de fazer à mão e enfia sua gorjeta no lugar que mais lhe convém; se não gosta da minha voz, pouco me importa, porque não vim aqui pra ser cantora, e acho que devia se acostumar com ela, já que, pelo visto, vou copiar muitos deveres pra você ainda, sendo que ninguém vai querer atender um aluno que foi recusado por outra assistente por desacato, e que como já disse você não tem capacidade pra fazer. Agora vaza daqui e passe mau na melhor hipótese possível.
O garoto se calou. null achava aquilo extremamente pouco, mas para ele não. Devia ser um dos ‘playboys’ da escola, pensou ela, que nunca levaram um xingo na vida. Ele ficou pasmo e foi embora com o rabo entre as pernas, entre risos de outros alunos.
Durante a aula, foi comum como todos os outros dias – chata. 
À noite, null mal chegara em casa e o telefone tocou.
– Alô.
– Oi null, aqui é o null. Só queria te dizer que amanhã vai ter ensaio da banda aqui em casa e que você está convidada pra vir, ok? Tchau.
– Tchau.
null nem perguntara se null queria ou não ir, nem se podia ir. Mas era só dar uma chorada para a sua mãe que ela logo cedia.
No outro dia, o garoto das mechas nem sequer se aproximou da secretaria, e mesmo que tivesse se aproximado, null não teria notado. Ela estava ansiosa para o ensaio de null à noite.
– Oi, null, o que tá fazendo aqui? – Foi a calorosa recepção de sua melhor amiga, null.
null me chamou. Ver a banda dele.
– Ah, sim. Tem cada gatinho! Tem que ver o null, então...
null! – Gritou o null do outro lado da sala, acenando e apontando para o estúdio. [n/a:Sim, tem um estúdio na casa deles! Eu já disse, é uma mansão *-*’].
null acenou de volta e ela e null entraram no estúdio.
– Ora ora ora, que triste coincidência... – Disse um dos garotos.
– Ô das mechas...! – Cumprimentou null, que não guardava rancor.
null ergueu uma sobrancelha.
– Então já se conhecem?
– Sim. O das mechas estuda onde eu trabalho... – Sorriu largamente null.
O garoto não parecia ser tão perdoador quanto null e tentava não olhar para ela.
– Bem, null, este é o null, já que você o conhece. Estes outros são null e null.
– Oie. – Cumprimentou null alegremente, com aquele brilho infantil no olhar.
– Oi, aí... – Cumprimentaram os outros, também felizes.
null não acreditava que aquela era a garota da escola. null estava muito diferente, de cabelos agora soltos, calça jeans, salto e uma blusa colada. Muito mais bonita. E ele não acreditava que era daquela garota, aparentemente controladora da escola, de quem null não parava de falar.
Os garotos tocaram e null gostou muito, que até se levantou para aplaudir no final do ensaio.
– Caramba, não tem nada de amador em vocês... – Disse ela, feliz.
– Obrigado. – Sorriu null de uma ponta da orelha à outra.
null se despediu com um beijinho na bochecha de todos os garotos.
null tinha o mesmo cheiro gostoso e fresco de sempre; null estava sem perfume, mas seu cheiro natural era bom também. null tinha uma fragância forte e estonteante, e null tinha um cheiro natural que acelerou os hormônios de null – encheu-a de adrenalina.
À noite, null não conseguia dormir. Ficava sempre assim, pensando em null, mas desta vez pensava em null. Não sabia se era arrependimento de tê-lo tratado mal ou era orgulho de si mesma por ter colocado ele no chinelo – agora ele a respeitaria para sempre.
No outro dia, explicou à null tudo sobre o dia na escola – ela argumentara que quase não dormira pensando em tudo o que poderia ter acontecido, e ficou muito decepcionada ao saber que era só isso.
– Sabe, o null foi sempre do qual eu menos gostei. Ele parece aquele tipo de mauricinho metido, e eu nunca consegui descobrir nada de decente nele... – Dizia null. Apesar de toda a influência que null podia ter sobre uma pessoa, ela sempre concordava com tudo que null dizia e argumentava sempre a seu favor. null não gostava, mas fazer o que? Era a alegria da amiga ser sua fiel escudeira.
Uma semana se passou e null não teve notícias de null, null e o resto da banda. Até numa quarta-feira.
null! VOCÊ NÃO FAZ IDÉIA! – Gritou null, vindo correndo ao seu encontro.
Era sempre null que fazia o contrário, então ela realmente se interessou.
– O que foi?
null E SUA BANDA! FIZERAM UM SHOW ALTERNATIVO! FORAM SUPER APLAUDIDOS!
E as quatro amigas fizeram o toque da vitória – uma mistura de enlaçamento de mãos, dedos, piscadas e danças estranhas e repetidas.
– Ele chamou nós quatro pra comemorar lá em casa junto com mais uns amigos.
– Hoje à noite?
– Exatamente, meu bem. Vai com sua melhor roupa, vamos convencer os rapazes a jogar verdade ou conseqüência.
– DEMAIS! – Gritaram as quatro e foram pra aula rindo.
À noite, null resolveu usar sua capri jeans escura cheia dos "bagulhos". Colocou um All Star preto estrelado e uma regata preta, e não deixou de abusar dos acessórios.
Encontrou null na porta da casa de null, e as duas foram convidadas a entrar.
A mini festa era no quarto de null, que era gigante e cheio de aeronaves, foguetes, planetas, papéis de paredes lunares, tudo com relação ao céu, e um ou outro pôster de bandas hilárias em poses extravagantes. Num mural de fotos, uma dos três – null, null e null – no aniversário de 15 anos de null, quando null e null tinham 13.
Eles se conheciam desde os sete anos de null.
– Oi, gente. – Cumprimentou alegremente null a todos que já estavam na festa, a banda, suas amigas e mais dois gatinhos chamados Jonatan e Marcelo.
null, porém, foi o menos animado. null até ficou em falta daquela voz arrastada e melosa.
null havia encomendado pizza e eles estavam bebendo Coca-Cola e comendo fatias de calabresa, quando null fez a proposta de jogarem verdade ou conseqüência.
– Bem capaz que vamos brincar dessa coisa de garota. – Rosnou null no seu canto. Dava pra ver de longe que pra ele a festa seria bem melhor se null não estivesse ali.
– Bem, então deixamos o aniversariante escolher! – Disse null e fez sua cara angelical para null, acompanhada de null, null e null.
null sorriu e aceitou, sendo abraçado pelas garotas e olhado feio pelos garotos.
Todos formaram uma roda, e o primeiro a ser feito foi uma verdade para null, feita por null, que teve que confessar que gostava de uma garota dois anos mais nova. null perdeu totalmente as esperanças, gostava tanto dele...
– Verdade ou conseqüência, null?
– Ahn... Conseqüência.
null vibrou. Mandou que ele fizesse um pequeno strip, só de camisa e shorts, em cima da cama. Ele, que topava qualquer parada, subiu, e dançou animadamente com uma música eletrônica que null colocou, jogando sua camisa para null, que ficou azul de vergonha.
Depois disso, só algumas revelações, como a verdade de que null era ainda virgem, e uma conseqüência para null fazer, que era dançar na boca de uma garrafa.
– Verdade ou conseqüência, null? – perguntou null.
– Conseqüência... 
null vibrou. As garotas também. Ele não conhecia a fama dela. 
– O que foi? – Perguntou null atônito, ao ver a cara de "soumuitomá" de todas as garotas.
null vai ter... que escolher alguém pra... ficar. – Sorriu null, com a maior simplicidade.
– Ficar não... Eu namoro! – Reclamou ele, de olhos esbugalhados, mas foi repreendido por null.
– Não namora mais.
Ele não parecia feliz com essa informação.
Ficou demorando tanto pra escolher alguém, se remoendo com o fato de que estava solteiro, que as garotas decidiram mudar pra um selinho e facilitar a vida dele.
– Puxa vida, eu estaria vibrando se estivesse no seu lugar, null. – Riu null, e os outros garotos fizeram que sim com a cabeça. – Escolhe qualquer uma... - “Menos a null e a null!” pensou ele.
As garotas sorriram felizes.
– Ahn... Eu não gosto desse tipo de coisa, é brincadeira pra criança. Sabia que não devia ter aceito, devia ter ido embora e...
Mas antes que ele pudesse completar, Jonatan, que estava ao seu lado, o empurrou para o outro lado, onde estava null, e eles trocaram um selinho rápido.
null, pega de surpresa, sentiu seus lábios festejarem uma explosão de sabor adocicado, que combinava tanto com os lábios vermelhos naturais e a voz arrastada e melosa do garoto. Logo eles se separaram e, tanto um quanto outro, não sabiam onde meter a cara.
"Bom que ele esteja do meu lado, se estivesse na minha frente teria de ficar encarando" pensou null, sem saber que null compartilhava a mesma idéia..
null fez uma cara tão feia que null percebeu que era hora de parar a brincadeira. null resolveu dormir na casa de null e ligou para sua mãe. Quando voltaram para o quarto, quase todos tinham ido embora, menos null.
– Esse selinho deve ter destruído a vida do null. – Disse null, num sorriso de longe forçado.
– Por quê? Ele me odeia tanto assim? – Chorou null.
– Não. Mas ele tem esperanças com a ex. – Explicou null, que sabia, incrivelmente, de tudo sobre a vida de todo mundo.
– É que o null não se desliga de um amor assim tão rápido, sabe? – Completou null.
– Ah. Coitadinho.
– Mas foi bom, null? – Disse null, e levou duas travesseiradas, de null e de null.
Todos, afinal, armaram um tipo de barraca no quarto de null e dormiram por lá mesmo.
No outro dia, null acordou meia hora mais cedo pra ir pra casa e se arrumar para o trabalho.
– Oi, null... Tira essas cópias pra mim? Se não quiser passar à mão, pra ficar mais real... – Disse null, assim que null entrou, mesmo sem ela nem ter entrado na secretaria.
Ao contrário do primeiro dia, null mal olhava para ela. null jamais imaginara que ele fosse assim tímido.
– T-tá bom, null... Vem ali na secretaria comigo.
null olhou para os lados e a seguiu. null abriu a secretaria, tirou as cópias e entregou para o garoto, que parecia ter medo de segurar sem querer na sua mão. Ele sorriu amigavelmente, a primeira vez que null o vira sorrir, e saiu.
null não conseguia parar de pensar no gosto adocicado do simples selinho que trocaram, nem do sorriso, nem da timidez de null. Até deixara, uma vez na vida, de parar de pensar em null e estava ficando assustada.
Na escola, deixara null no vácuo umas dezessete vezes. Ela ficava tão aborrecida, que uma hora pediu à null o que estava acontecendo. Esta, com toda a ingenuidade e com os olhos brilhando, olhou pra ela e perguntou:
– Pode-se gostar de mais de um garoto ao mesmo tempo?
null logo entendeu.
null e null. Rapaz, eles são amigos. Ou vocês escolhe um, ou você fica sem nenhum. Os dois tão na tua bola...
– Você que sempre quer me pôr pra cima. Nenhum dos dois nunca nem olhou pra mim.
– Mentira. null me contou, todo bravo, de noite, que null disse pra ele que até parou de pensar na Susy, quando vocês estavam se selinhando, sei lá o verbo. A Susy é a ex dele, e ele nunca pára de pensar nela. E o fato de o null estar super estressado não conta como "se importar"?
null ficou calada. Aquilo não significava pra ela que um dos dois gostasse dela. Nunca ficava satisfeita com o que null dizia, pois sempre se dava mal ao seguir os conselhos amorosos da amiga. Mas quando null e null concordaram, ela até passou a pensar de outra maneira.
À noite, null foi novamente à casa de null. Quando entraram no estúdio, não puderam deixar de rir.
– Puts, essa guria não sai mais da sua casa, null! – Gritou null, fazendo cara de indignado, mas ao vê-lo sorrir, null entendeu a brincadeira.
null, porém, não sorriu.
– Quer dizer que ela tá gostando de ficar aqui. – E lançou um olhar de canto pra null, sem que ele percebesse – Porém, null, sim.
– Nós fizemos uma música nova – Contou, animado, null.
– Sim, e vocês vão ser as primeiras a ouvir. – Disse null, sorrindo de uma ponta da orelha à outra. null sorriu também.
As garotas sentaram na espécie de arquibancada e ficaram olhando. A melodia era rápida, mas a música falava de amor. null adorou, e null também. Porém, neste dia, null teve de ir ainda de noite para casa. Desta vez, todos deram tchau animados – todos.
No outro dia, o trabalho foi como sempre. Mas null não veio falar com ela. Ficou olhando de longe, e, quando ela olhava pra ele, sorria e acenava. Ele fez isso umas sete vezes.
À tarde, porém, null tinha uma novidade pra contar.
– COMO É? – Gritou null.
– Estou namorando o null! – Repetiu ela, calmamente.
– Que máximo! – Exclamaram todas, e fizeram o toque de vitória.
– E o null, null? – Pergunou null.
– O que tem ele? Eu não sei... Que pergunta é essa agora?
– Não precisa ficar nervosa, meu bem. 
E todas riram. Porém null não. Ela não estava gostando dele, era maldade delas!
Neste dia, resolveu não ir na casa de null, e fez isto até o sábado. Queria evitar comentários e null, o máximo possível, embora às vezes eles se encontrassem na escola – ao menos ali ninguém saberia.
Porém, sábado era aniversário de null e ela tinha que ir. Comprou uma coisa que tinha certeza de que ele gostaria. Na verdade, economizou o seu salário mais sua mesada de três meses só pra poder comprar esta coisa.
null! – Gritou ela ao ver ele, e se abraçaram e rolaram no chão como duas crianças porcalhonas na lama, era tradição. Todos fizeram montinho, pulando em cima. – Seu presente.
Ele abriu, e adorou. Um iPhone. Ficou brincando com aquilo a noite inteira, e ficava tirando fotos de todos e fazendo montagens. Até colocou uma dele e de null no plano de fundo, vestidos para um casamento. Porém a foto ficou invertida, e null se tornou o noivo, que levava null ao altar.
null já estava cheia de sorvete, pizza, e tudo o mais. Resolveu dormir na casa de null, pra variar. Seus pais, como sempre nunca estavam em casa, nem os dela. Eles colocaram os colchões na sala e dormiram os quatro ali – null, null, null e null.
Quando acordou, null estava agarrado em null. Ficou contemplando seu rosto angelical e seus cabelos, que nem quando ela dormia ficavam embaraçados. Decidiu realmente não levantar, e sim ficar ali, agarradinho com ela. Porém null acordou e ele se viu obrigado em levantar e preparar um café para os quatro.
null agradeceu os doces e sucos que null trouxe para eles. Se eu me casasse com ele, pensou ela, seria a mulher mais feliz do mundo. E sorriu. 
A campainha tocou e a porta simplesmente se abriu, sem esperar resposta. Ao null ver a cena dos quatro no chão tomando café da manhã, logo se desculpou.
– Desculpe-me, aos dois casais... Só que tínhamos marcado um show pra hoje a noite e resolvi vir pra ensaiarmos um pouco. Se quiserem se curtir um pouco...
– Que nada, null. Entra. – Disse null, como se a casa fosse dela, sorrindo como sempre, e nem se preocupou em desmentir o negócio de casais, o que fez de null um garoto feliz por mais um dia [n/a: ueba o/].
null sentou ao lado deles e ficaram assistindo TV ao invés de ensaiarem. null achava que aqueles dias estavam sendo os melhores do ano.
– Mas vocês não vão ensaiar pro show? – Perguntou null.
– Vamos sim, meu amor... – Respondeu null, e eles trocaram sorrisos e beijos carinhosos.
null, por trás deles, fazia caras de nojo, e null e null riam.
– Você ta convidada pra ir, null... – Disse null.
– Que bom, pensei que já estavam esquecendo da sua primeira fã. – respondeu ela, forçando uma cara de injustiçada, e todos riram.
Os garotos foram ensaiar e null e null ficaram jogando no playstation 3 de null.
À noite, null e null foram de vestido. O de null era rosa, até a metade da coxa, com duas saias. O de null, roxo, antes do joelho e de regata. 
– Essa música... – Começou null no microfone. – É para duas garotas que estão na platéia. – E piscou para null e null.
A música era ainda mais linda fora do estúdio. Todo mundo estava vibrando com ela, e procurando as duas garotas de quem null falava.
No final do show, null e null tentaram subir no palco, mas elas estavam longe demais e a multidão de fãs não deixavam elas se aproximarem. Mas null pôde ver null, do seu instrumento, sorrir e piscar pra ela, e null, feliz, constar que elas estavam ali.
Se encontraram lá fora com null e null, que também haviam sido convidadas mas não estavam junto com elas, e resolveram entrar pelo camarim.
– OPA, OPA, OPA! – Gritou null correndo pra fechar a porta só de boxer do demônio da tasmânia jogando basquetebol. – ISSO É UM CAMARIM, A GENTE TÁ SE TROCANDO!
– Pensei que só quem fazia teatro se trocava depois da apresentação – Reclamou null.
– Devem estar suados – Comentou null, e todas fizeram a cara de ‘UI’, rindo depois.
– Mas só quem pode imaginar o null suado sou eu! – Reclamou null, e as outras deram a língua pra ela.
Quando os garotos saíram, todas correram para abraçá-los. null só abraçou null – e também não soltou mais [n/a: mwahauhauahuaha]. null pulou no pescoço dos outros três ao mesmo tempo, e null e null, depois de hesitarem, fizeram o mesmo.
– FOI MUITO BOOOM! – Gritou null, abraçando e pulando com os garotos ao mesmo tempo.
– MUITO BOM MESMOOO! – Concluíram as outras três, em coro.
– Mas só porque o null tava lá. – Disse null, e eles se grudaram de vez, enquanto as outras davam a língua pra ela de novo.
– Vamos comemorar, pra variar, na casa do null? – Sugeriu null.
– Vamos mudar desta vez. Todos pra casa do null! – Respondeu null, rindo.
– HEY! PORQUE NA MINHA?
Mas já era tarde, todos já estavam pulando felizes para a casa de null e cantando e fazendo solos de guitarra, bateria e baixo com a boca.
A casa de null também era enorme. A sala era super luxuosa, e tinha uns doze empregados. O pai dele estava com visitas no escritório, e veio ver o que estava acontecendo quando passou aquele furacão adolescente pelos corredores. Porém, ele se limitou a sorrir – null gostou dele.
– Vão aproveitando enquanto suas costas permitem! – Gritou ele, e voltou ao escritório.
– Seu pai é bem legal, null... – Comentou, já no quarto, null, se desgrudando do rapaz.
– É, ao contrário da minha mãe. Geralmente quem é controlador é o homem, mas aqui em casa não... – E ele correu pra colocar alguma música pesada pra todos dançarem.
Foi o que fizeram a noite toda. null e null até deram um especial com o null em cima da cama, seguidas de olhares nervosos de null e de null. null e null haviam desaparecido.
Mas ninguém deu pela falta deles. Quando todos estavam entretidos, null puxou null para um canto. null havia trazido algumas bebidas e null sentiu o cheiro de álcool no hálito dele, mas ele ainda parecia bem são.
– Você é a coisa márr linda – Disse ele sorrindo, e passando a mão no cabelo de null, que também sorriu.
Ele empurrou ela de volta pro meio dos outros e null não entendeu patavina. Voltaram a dançar.
No final da "festa", quando null, null, null e null foram procurar null e null, que foram surpreendidos se amassando no banheiro, null puxou null e a beijou.
Ele tinha o mesmo sabor que a fragrância que usava: Delicado. Um beijo suave, gostoso e envolvente. null não o recusou. Ela também estava com aquela vontade. null estava meio curvado sobre ela [n/a: Pobre, ela era minúscula e ele gigantesco u.u] e estavam tão entretidos na arte de amar [n/a: Nada mais romântico @.@] que não perceberam null pasmo plantado à porta. 
null foi se desvencilhando dela aos poucos e, quando abriu os olhos, encarou o amigo, que estava com uma expressão de raiva contida. null também o viu; será que era o que as amigas diziam? Os dois estavam gostando dela? E ela agora tinha que escolher um pra não ficar sem nenhum?
Mas ela não estava querendo escolher ninguém.
null entrou com um sorriso forçado no quarto, e comentou que finalmente eles se oficializaram.
– Do que tu tá falando? – Perguntou null. – Nunca ouviu falar em amigos que se beijam? – E sorriu para null, mas ele não estava sorrindo.
Os outros chegaram no quarto festejando e não notaram o clima de tensão. null se despediu de todos e foi embora com null, contando a ela no caminho.
– Não sei o que levou o null a te beijar. Ele é tão tímido, né?
– É. Mas isso até que vai... Só que o null ficou tão... Bravo! Como se já fosse confirmado que eu era dele.
– Bom, você disse que não quer escolher, né?
– É...
– Então não faz o null pensar que você já escolheu.
E elas trocaram beijinhos e cada uma foi para sua casa.
null não conseguiu dormir a noite, de tanto pensar nisso. E se ela perdesse a amizade de um dos dois se escolhesse o outro? O que ela ia fazer? E também, como null podia gostar dela? No seu lugar, ela estaria odiando a outra pessoa. E ela não tinha certeza se gostava mais de null, com sua amizade antiga e duradoura, ou de null, com sua grosseria, mas... Mas tinha algo mais nele que ela não sabia explicar, e que ela gostava pra caramba.
No outro dia, foi à casa de null pra irem ao shopping juntas. 
– Oi null, a null tá aí? – cumprimentou null, simplesmente entrando em casa.
null, deitado no sofá e comendo sucrilhos, virou para ela e fez que sim com a cabeça. null passou por ele e bagunçou seu cabelo, que ficou mais em pé do que o normal. Ele a puxou pela mão e deu um beijo na bochecha.
"Acho que ele pensa que eu já to no papo!", pensou ela.
– Vamos pro shopping, minha flor de formosura! – Disse null, com uma margarida no cabelo.
– Não com você assim. – Respondeu null, e arrancou a margarida do cabelo dela.
Foram de ônibus e null já estava passando mal ao ficar ao lado de uma gorda com tosse que, quando chegaram ao ponto, ela quase pulou pela janela. No shopping, compraram milkshakes e ficaram andando e olhando vitrines.
Foi quando null viu "aquilo". null havia entrado numa loja pra pedir o preço de uma super bota, não que ela precisasse economizar. Mas null ficou ali fora, e pôde ver claramente null de mãos dadas com uma garota linda e que parecia ter a idade de null. Ela se sentiu super mau com aquilo. Quando null a viu, acenou, sorrindo. Emy pensou que aquilo fosse o "troco".
Se ela ainda tinha esperanças de ficar com o null – ela não sabia se gostava dele ou não – elas tinham acabado.
– Hey, null, eu estou te chamando a um tempão! – Começou null, mas null a interrompeu, puxando-na para o banheiro e chorando pra caramba no seu ombro.
– Calma, o que foi?
– O null tá com uma garota!
– E você ta gostando dele? Bem que eu te avisei!
null olhou com cara feia. Secou as lágrimas e limpou o lápis que estava borrado.
– Isso, vem. Vamos comprar mais um ovomaltine e tu já vai se sentir melhor.
– Certo.
null decidiu não dormir na casa de null nesta noite. Ficou pensando porque teria feito aquele chilique todo, se ainda tinha o null.
No outro dia, null veio todo animado cumprimentá-la na escola.
– Gatinha a de ontem, né? – Sorriu ele.
– Ah, sou feminista demais pra achar outra garota bonita... – Desculpou-se ela.
– Sem problemas... null...
– Oi... Quer que eu copie alguma tarefa?
– Não. Quero sair com você hoje... – null parecia não saber onde meter o rosto.
– Ah, então você é do tipo que não se contenta só com uma, não é? Não quero ser um número na sua lista, null.
– Do que está falando? 
– DA GAROTA DE ONTEM!
– ERA A EVELIN!
– Não me importa no nome dela.
null riu. Pra caramba.
– O que foi?
– Evelin é minha irmã!
null riu também. Todos que passavam ficavam olhando os dois rindo. "Sou mesmo uma burra", pensou ela.
Então eles combinaram de se encontrar à noite. null queria levá-la ao cinema, pra assistirem um filme que ela nem viu o nome, mas era de suspense.
– Nathan! Que bom que está em casa! – Nathan era o irmão de null, e ela sempre corria a ele para pedir ajuda e achar roupas, só que ele era 10 anos mais velho e xingava quando ela usava alguma saia ou top muito curto.
– Não branco, fala sério. Se chover ele vai ver tudo! – Reclamou ele, deitado num sofá e lendo um livro.
null olhou feio e foi com sua blusa branca de qualquer jeito.
– Não sei porque ainda pede pra mim. – Resmungou quando ela já tinha saído.
null e null se encontraram na frente do shopping. Os dois sorriram e se cumprimentaram alegremente – claro que null não fez o mesmo escândalo que ela, que tropeçou enquanto corria ao seu encontro e caiu em cima dele em pleno shopping lotado.
Logo entraram na fila do cinema.
– Eu compro os ingressos e você as coisas. – Disse null.
– Do que você gosta?
– Do que você gostar. – E os dois sorriram.
null não sabia se ele estava querendo ser romântico ou se tinha pedido pra null seus gostos favoritos. De qualquer forma, não hesitou em comprar os Doritos e a Coca-Cola, indispensáveis na sua vida.
– Doritos?! – E ele fez cara de nojo – Sabia que não podia confiar em você!
null fez cara de ofendida, mas logo null assaltou sua mão e abriu um pacote, comendo três de uma vez só, e os dois começaram a rir. null tinha o cuidado de não deixar respingar doritos em null, ela percebeu.
Os dois entraram na sala do cinema e estava quase começando o filme – null leu 1408, nem sabia do que se tratava.
Os dois passaram os primeiros 15 minutos de filme apenas devorando tudo o que tinham trazido. Foi quando null começou a notar o tipo de filme [n/a: É terrível, nem vou contar, eu me pélo toda só de ver Ç_Ç] e a gemer de angústia pra null, que não parava de rir, chamando a atenção de todo mundo.
– Eu odeio filme de suspense, null! – Chorou ela.
– Eu adoro – Disse ele com um sorriso malévolo, mas imperceptível, pois estava escuro. Sabe, era um cinema.
Foi quando apareceu aquela coisa que perseguia o personagem principal, puxando-no pelos pés. null não parava de gritar, escondendo seu rosto no peito de null, querendo olhar e não querendo olhar.
– Hey, se tem medo, não olha pra tela, olha pra mim e eu te digo quando passou. – Disse null, segurando o queixo dela suavemente com a mão e virando o rosto dela para o dele.
– Tá bom.
– ... melhor não, melhor não. – Disse ele, corando (e pensando ainda em que estamos no escuro) e deitando o rosto dela no seu peito.
null sentiu o mesmo perfume do dia em que se despediu de null, na casa de null. Um cheiro que provocava aceleração nos seus hormônios femininos, e afundou de vez o rosto no peito dele.
null... null? – Disse null, sussurrando.
– Hnm?
– Já passou.
null não queria mais tirar o rosto do peito do garoto, e esfregou-o, fazendo cócegas.
– Não importa. – Grunhiu ela, com a boca tapada pelo começo do abdome do garoto, o abdome mais cheiroso que ela conhecia.
Ele sorriu e passou a sua mão em torno do rosto descoberto dela. Ficaram uns bons minutos assim, até que ela levantou o rosto e eles se beijaram. O mesmo doce sabor que explodira seus lábios em alegria com um simples selinho invadira agora todo o seu ser. Era impossível resistir àquele beijo, era perfeito demais, e a envolvia a cada momento, como se fosse uma conquista que talvez jamais fosse repetida, como se fosse o último campeonato que existisse em alguma modalidade e ela fosse campeã. Eles ficaram naquele beijo por um bom tempo, e por ela não acabaria jamais. Ele o rompeu aos poucos, mordendo seu lábio e acariciando seu rosto de leve.
Onde estava o garoto revoltado agora? O estúpido, que não sabia pedir por favor? Ela conseguiu mudar tanto ele assim numa semana, ou ele não queria parecer gentil com quem ainda não conhecia?
Os dois sorriram, se encarando e de narizes e testas colados, como se a única coisa que faltasse para um novo beijo fosse questão de vontade, mas era o que não faltava em null, e ela resolveu querer sentir o estouro delicioso nos seus lábios novamente, envolvendo-os outra vez.
Ficaram tanto tempo entretidos um com o outro – ou grudadas as bocas ou encarando um ao outro – , que quando notaram, o filme já estava no fim.
Os dois saíram do cinema de mãos dadas, e sorrindo abobados. 
null recebera uma mensagem de texto.
"Oi, null, aqui é o null. Podemos conversar?"
null deu um selinho em null e foi até o banheiro respondê-la. Não queria que o garoto ficasse com ciúmes.
"null. Não podemos conversar nesse momento, eu estou sendo feliz com o meu par. Espero que encontre logo a sua, para ser feliz também. :] null."
E ela voltou para o seu garoto. Só que agora não era mais um garoto estúpido que não sabia pedir por favor; era o garoto gentil, rotulado de seu namorado.

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