Floatin' on the sky
Escrita por:
Mary

Estava deitado na minha cama, encarando as estrelinhas que eu havia colocado no teto há anos. Dormir era impossível devido à insônia que me perseguia. Não existe nada mais frustrante do que ficar rolando na cama, lutando contra a angústia que já era insuportável. Talvez um amor não correspondido seja mais frustrante. Mas arrasador poderia ser uma palavra melhor para essa definição.
Num movimento rápido, pulei da cama, sentindo o cansaço físico dominar o meu corpo. Tinha que arranjar alguma coisa mais construtiva para fazer ao invés de remoer as angústias que ainda não me libertaram. Peguei um casaco esquecido no chão, e o vesti sem o menor zelo. Deslizei com as meias que usava até a porta do meu quarto, abrindo-o o suficiente para verificar se alguém estava na mesma situação que eu me encontrava. As portas dos quarto estavam fechadas e nenhum vestígio de luz passava por elas. Estavam todos dormindo.
Fechei a porta do quarto, e continue deslizando pelo assoalho, de meias na intenção de evitar o menor ruído. Não que eu precisasse me preocupar com isso; qualquer barulho seria abafado pelos roncos altos que saíam do quarto de .
Abafei uma risada, descendo vagarosamente pelas escadas, quase tropeçando em um dos brinquedos que Frankie insistia em deixar por lá. Ao passar pela sala, pensei em ligar a TV e assistir algum filme reprisado, mas a última vez não foi muito agradável: meu pai desceu para buscar um copo de água e me flagrou dormindo na frente da TV. Eu, particularmente, não queria que isso voltasse a acontecer, então segui até a cozinha. Se fosse pego, pelo menos teria um álibi.
Acendi uma das luzes e peguei uma tigela recém lavada. Peguei uma caixa de cereal clandestina atrás dos mantimentos que minha mãe usava raramente. Enchi a tigela com o cereal e coloquei um pouco de leite que tinha na geladeira. Sentei em um dos bancos do balcão impecável da cozinha de frente para as janelas fumês.
A noite permanecia estrelada mesmo com o frio, que não iria cessar tão cedo. A sensação de alivio do silêncio da noite, a luz da lua e das estrelas atravessou uma das janelas que tinha sido esquecida aberta.
Não tinha razão para ficar preso a essa angústia toda. Nem sempre se pode ganhar todas e eu já havia aprendido isso. Então, por que eu estava tão abalado? Não vou dizer que eu não fiquei chocado quando ela negou e se afastou de mim. Porque eu fiquei mesmo; pensava que ela sentia o mesmo. Eu já a conhecia a tempo suficiente para desconfiar de alguns de seus sentimentos. Percebi quando ela estava gostando do , o que eu não entendo até hoje. Mas eu tinha esperança que ela fosse pelo menos falar comigo, já que seria pedir depois que ela caísse nos meus braços, assim, sem o menos esforço. Tudo bem que a podia ser a pessoa mais imprevisível do mundo, dependendo do humor dela.
Isso está virando uma análise psicológica, a qual eu nunca entenderia. Afastei os pensamentos causadores da insônia, balançando minha cabeça, torcendo para que eles fossem embora sem me privar mais uma noite de sono. Levantei e coloquei a tigela dentro na pia. Joguei a caixa de leite vazia no lixo e me arrastei até a janela que estava aberta. A cozinha já estava fria e a corrente que por ali passava não ajudava a manter o calor do ambiente.
Dei uma última olhada no lado de fora antes que voltasse a frustração permanente de rolar na cama sem noção do que estava acontecendo. Mas antes, ouvi um barulho como se alguma coisa tivesse caído no chão. Enfiei a cabeça pela janela mínima e vi que a duas casas da minha, limpava as mãos sujas de terra olhando para cima, como se verificasse se foi descoberta.
Ela começou a andar em direção a rua e voltei a me esconder atrás das janelas fumês. Ela olhou demoradamente para as janelas, especialmente para a que eu ainda não tinha fechado. Fiquei a encarando pelo vidro que me mantinha protegido de seus olhares questionadores, até que ela voltou a andar pela rua.
Minha reação não podia ter sido outra; corri até a sala e busquei um tênis que eu havia escondido ali mais cedo. Estava com preguiça de guardá-lo. Fui até a porta e peguei um cachecol junto dos demais casacos e afins. Fechei o zíper do casaco, passando o cachecol em seguida pelo pescoço. Estava pronto para encarar aquele frio se fosse me dar alguma resposta sobre . Eu já a conhecia há anos, mas ela ainda me parece misteriosa.
Ela seguia reto pela rua, mantive uma distância segura, me esgueirando entre jardins, cercas e caixas de correio. Ela provavelmente ia à pista Dawnson. Era como chamávamos o lugar onde as crianças passavam a tarde patinando ou andando de skate. Eu sei que é uma ótima patinadora ao contrário de mim. Creio que o meu limite seja uma bicicleta, mesmo que eu não tenha me atrevido a subir em um skate. já tentou me ensinar a patinar, mas não foi uma experiência muito agradável. Vamos dizer que equilíbrio não é exatamente meu ponto forte.
Ela estava indo para a pista e com certeza ela estava chateada. No mínimo. Assim, no meio dessa filosofia toda, acabei batendo em uma lata de lixo que estava escondida atrás de uma arvore. Foi o suficiente para chamar a atenção de que virou assustada. Tive tempo suficiente para me esconder atrás da árvore, sentindo meu corpo gelar. A sensação de ser descoberto a qualquer momento era assustadora, mas um tanto intrigante.
Senti o olhar de examinando cada centímetro da árvore antes de ouvir seus passos. Dei algum tempo antes de sair do meu esconderijo. Esqueci as minhas camuflagens e andei no meio da rua. Estavam a poucos metros do Dawnson. O vento soprava a nosso favor, levando os cabelos dela para frente do rosto e ela não cansava de tentar detê-los. A ponta do meu cachecol enroscava nas minhas pernas. Enfiei-a no bolso do casaco e continuei a segui-la.
Ainda estava confuso do por que eu estava assim tão obcecado em segui-la. Acho que a rejeição pode me fazer bem. Uma estranha teoria, mas que podia funcionar. Uma vez me falaram que não era bom ter tudo que você queria assim tão fácil. Era preciso batalhar, e por ela, eu estava disposto. Posso ter perdido a batalha, mas não perdi a guerra. Meio brega, mas não pude evitar.
Eu já podia ver as rampas da pista quando parou de repente, passando a mão na cabeça. Fiquei imóvel esperando a ação dela para poder reagir, mas foi mais imprevisível do que eu pensava.
- Você tem mesmo que se perfumar inteiro? – ela disse, ainda de costas.
Fiquei em silêncio. Ela estaria alucinando ou falando comigo, já que só estamos nós na rua. Levantei a gola do casaco e conferi se tinha exagerado tanto assim no perfume. Sim, e eu ainda estava a favor do vento para piorar a minha situação.
- – ela disse em um tom mais grave, virou de frente para mim, com os braços cruzados. – O que você está fazendo?
Fui pego! Rá, não era tão ruim assim. Mantive a distância, mas agora estava sorrindo.
- Devo perguntar o mesmo?
Ela ignorou minha pergunta e voltou a andar agora mais apressada. Voltei a segui-la agora sem preocupar-me com esconderijos e afins. Não havia mais motivo para continuar bancando o James Bond.
- Você me reconheceu pelo perfume? – perguntei, diminuindo a distância entre nós dois. Ainda ventava bastante, então ela puxou o capuz do casaco para evitar que seu cabelo continuasse a voar. Ela mudou de humor rapidamente. Não sei como minha presença pode mudá-la tão facilmente e não posso ficar com ela, um minuto sequer desde aquele dia.
- Não é tão fácil de esquecer - respondeu à minha pergunta, obviamente se arrependendo depois. Já estava quase correndo em direção a pista.
Sorri, refletindo melhor sobre sua resposta e consegui alcançá-la assim que passou pelos portões da Dawnson.
- Por que você está me seguindo ? – ela perguntou, sem olhar para mim.
- Porque eu quero saber o que você veio fazer aqui – olhei o relógio de pulso – às 2 da manhã.
- O que você acha que eu vou fazer? - ela disse, indo até os blocos de madeiras onde as crianças ficavam sentadas. Levantou um deles e tirou seus patins pretos com seu nome destacado em rosa. Sentou nos blocos arrancando o All Star e colocando os patins.
- Você deve estar bem disposta para patinar a essa hora. - Falei, caminhando em sua direção. Ela rapidamente prendeu os patins e deslizou até a ponta da pista, se distanciando de mim.
Resolvi não forçar nada e sentei onde ela estava antes. Fiquei observando-a respirar antes de se jogar na pista. Ela tinha muita classe patinando. Não parecia uma daquelas meninas que não ligavam para mais nada. sempre estava arrumada quando patinava. Cabelo preso, roupas esportivas que não deixavam de ser femininas. Hoje ela estava sem capacete, mas o dela era reto com pequenas bolinhas rosas.
Os relógios funcionavam, mas o tempo parecia não passar. Estava totalmente concentrado no desempenho de , tentando descobrir o que eu tinha feito de errado. Ela não olhava para os lados; estava focada nos movimentos que pareciam lhe acalmar. Já podia sentir a energia dela mudando. Ela estava tensa depois que descobriu que eu a seguia e agora estava totalmente relaxada e desinibida. “Por que ela não ficava assim quando estava comigo?” Essa pergunta teimava em se repetir na minha cabeça.
Algum tempo depois, se sentou na beira da pista, respirando com dificuldade. Ela já estava a mais de uma hora patinando sem parar um minuto. Pensei em ir até ela, mas não queria me arriscar de novo. Já quase estraguei tudo uma vez e não vou desperdiçar essa chance, que pode ser a última que terei.
- Tudo bem? – perguntei, com a voz mais alta que o normal. Ela assentiu e olhou para mim pela primeira vez naquele meio tempo.
- Você está aqui ainda? – ela perguntou, afrouxando um pouco os patins.
- Quero ter certeza que você esteja bem. Não é seguro ficar sozinha aqui há essa hora. – disse, torcendo para que ela não me ignorasse mais uma vez.
- Já é a terceira vez seguida que eu venho aqui e nada me aconteceu. – retrucou.
- Só quero ter certeza. Mas por que você estava vindo para cá à noite? – arrisquei.
- Tenho meus motivos, . - ela apertou os fechos dos patins e voltou a pista.
Estava acostumado em vê-la patinar quando ela estava chateada. Esse era o motivo que faz estar aqui há essa hora. Mas o que eu queria saber era causa dessa chateação e hostilidade que permanecia com ela desde aquele dia. Torcia que fosse uma mera coincidência. Tinha medo que a causa fosse eu. Já estava sofrendo por antecedência. Queria saber o que estava acontecendo com ela e ninguém conseguia lhe tirar a verdade. Eu ainda não havia tentado descobrir porque não tinha falado com desde que ela me dispensou. já tentou conversar com ela, e tudo que ela disse era que estava chateada. Não precisava ser um grande gênio para deduzir isso. Hoje mais cedo, implorei que fosse falar com ela, mas ele disse que já sabia o que estava acontecendo e não iria me falar.
Isso me fez sentir a pessoa mais excluída do mundo. Parecia que todos se divertiam em saber que eu era o único que não sabia a causa. Eu fiquei no pé de o dia inteiro e tudo que ele me disse era que eu já sabia o que se passava com ela. Não ajudou muita coisa, acho.
- Eu sei que tem! Sei que você está chateada – respondi - Tudo que eu quero saber é: se isso é minha culpa.
Talvez eu estivesse indo longe demais. Mas era mais do que evidente que a culpa era minha e eu estava disposto a sumir da vida dela se ela pedisse. Só se ela pedisse.
Ela não respondeu minha pergunta. Fiquei ainda mais preocupado. A culpa era minha mesmo. Hesitei um momento e depois levantei, indo a caminho do portão. Já tinha minha resposta e eu sentia que o silêncio dela pedia privacidade.
- – a ouvi me chamar antes que eu pudesse sair. Virei e ela acenou com a cabeça indicando que eu voltasse para onde estava. Obedeci sentando num bloco mais próximo da pista.
Ela patinava mais rápida e de modo mais agressivo. Ela me encarava toda vez que passava na minha frente. Eu tentava não mudar a minha expressão, aguardando impacientemente que ela falasse alguma coisa.
- Desculpe se eu te magoei de alguma forma - ela disse, sem parar de patinar. – Não queria me arriscar de novo. Por isso, eu recuei.
- Como assim? – ainda não estava entendendo nada daquela conversa.
Ela suspirou, e tirou o casaco que vestia o jogando para fora da pista. Estava frio ainda, mas ela parecia irritada com aquele calor excessivo, já que estava aquecida o suficiente por causa da patinação. Apanhei o casaco, o colocando no meu lado.
- É que foi estranho o que aconteceu há dois dias. Eu estava acostumada com você agüentando tudo que eu lhe contava. Estava ali que para o que eu precisasse. Você sempre sabia o que estava acontecendo comigo e eu não fazia idéia que era tão transparente assim. Fiquei chocada quando você descobriu sobre o e eu não queria falar nada sobre aquilo já que, bom, não aconteceu nada. Comecei a controlar minhas emoções tentando evitar que você descobrisse mais alguma coisa que eu não estava pronta para compartilhar ainda. Aí você veio com aquela historia. – ela parou um tempo, continuando a patinar.
Não havia muita nitidez nas coisas que ela dizia. Tudo bem que eu aprendi a decifrar as emoções delas, já que eram fáceis de perceber. Mas ela tinha uns picos de humor que eram totalmente misteriosos. Eu ficava no escuro quando falava com ela, então arrisquei contando o que eu sentia por ela. E a reação foi a mais inesperada possível para quem pensava que ela corresponderia normalmente. Então, aqui estamos agora, e continuo no escuro.
- , eu sei que eu fui meio inconveniente contando o que eu sentia assim, sem motivo algum, mas foi involuntário. Não estava planejado, mas eu senti que era o momento certo. Mas na verdade, não foi exatamente o que eu esperava.
- Você ainda sente as mesmas coisas que me disse há dois dias? – ela parou de patinar, parando na minha frente, evitando me olhar nos olhos.
- Sinto – confessei. Não desistiria sem tentar uma segunda vez.
Ela me encarou tentando decifrar o que eu estava sentindo. Abanou a cabeça, voltando a patinar sem rumo pela pista.
- Não sei, ! Tudo isso é muito recente. Não sei se eu estou pronta para isso agora. Arriscar tudo assim não seria sensato. Não sei se funcionaria. – ela disse, com uma voz distante. Fiquei satisfeito com a explicação. Ela poderia ter dito isso há dois dias, no lugar de virar as costas e ir embora. Eu teria entendido perfeitamente, mas a dúvida dela agora me deixava esperanças. Sorri discretamente a observando patinar de cabeça baixa. Estava à espera de uma pista do que ela estava sentindo no momento. Observando atentamente cada movimento dela, que evita levantar o olhar.
Até que ela olhou para onde eu estava, esperando me encontrar ali sentado. Mas eu não estava mais.
-? – ela chamou com uma voz estranha. Provavelmente tinha pensado que eu tinha ido embora e a deixado sozinha ali. Claro que eu nunca faria isso desta maneira.
- O que você está com medo de arriscar ? – perguntei. Eu tinha mudado de lugar; estava atrás dela que quase caiu quando me viu. Eu só queria ver a reação dela. Queria tirar uma dúvida trivial.
Estava sentado na beira da pista como ela havia feito antes. Ela parecia exaltada, e não a deixava desviar o olhar.
- Não sei. – ela respondeu com uma voz baixinha, preste a chorar. Voltou a patinar rapidamente, para evitar que eu a visse chorando.
Já era o suficiente para mim. Tinha algumas teorias do que estava acontecendo. A insegurança dela podia ser normal no comportamento dela, ou que ela estava insegura por se envolver com outro Jonas, ou porque ela estava preocupada que qualquer relação entre nós comprometesse nossa amizade. Acho que estou ficando especialista em comportamento feminino. Isso é um pouco assustador, mas útil.
Ela patinava determinada para todos os lados, sem a mínima possibilidade de parar caso eu pedisse. Mas eu faria melhor do que isso. Entrei na pista, e me posicionei bem no centro. Ela ficou chocada quando percebeu minha presença, quase trombando em mim.
- O que você esta fazendo? - ela gritou, desviando mais uma vez.
- Tentando lhe provar uma coisa. – respondi, me posicionando na sua frente. Não estava agindo como um suicida. Só queria pegá-la, antes que ela me atropelasse, ou caísse.
Ela passou ao lado e a agarrei pela cintura bem a tempo. Ela abafou um grito que me fez rir.
- Você é louco - ela disse, apoiando as mãos nos meus ombros. Abracei-a pela cintura, evitando que ela perdesse o equilíbrio. Ela me abraçou, soluçando baixinho. Parecia uma criança perdida assustada.
- Ei – soltei o abraço, e olhei sorrindo para ela - Pode parar de chorar. Você pode confiar em mim. Sempre estará em segurança comigo. As coisas vão ficar do jeito que sempre estiveram, okay?
Ela parava de chorar aos poucos e esboçou um sorriso singelo. Ela ainda estava próxima do meu corpo. Comecei a me aproximar, amando o que estava acontecendo. Mas ela virou o rosto, fazendo que eu beijasse sua bochecha.
- Você pode me dar um tempo para eu pensar melhor? – ela pediu, com a sinceridade em seus olhos. Tive a sensação que estava fazendo tudo errado de novo. Assenti e a soltei. Ela voltou a se equilibrar nos patins, patinando em volta de mim. Estava rindo agora. Voltou para meu lado e me deu um beijo no rosto.
- Obrigada, – ela disse, pegando a minha mão e me puxando para fora da pista. Ela trocou os patins pelo seu All Star mais uma vez e eu devolvi o casaco que ela havia jogado. Voltou a tomar minha mão e saímos do Dawnson.
Senti que tudo havia voltado a ser como antes. Andávamos pela rua de volta para nossas casas. Já eram quase quatro da manhã. Ela bocejava e coçava os olhos de sono. Mesmo receoso, a abracei de lado e ela não reclamou. Apenas encostou a cabeça no meu ombro.
Ainda estava confuso quanto ao que havia acontecido, mas estava feliz que as coisas haviam voltado a ser como eram antes. Fui até a casa dela para garantir que chegasse em segurança. Ela guardou a chave da porta dos fundos.
- Bom, até amanha. – falei, esperando que ela entrasse.
- Até amanhã, . E obrigada mais uma vez. – ela me deu um abraço rápido e entrou em casa. Fiquei em transe por um minuto absorvendo os fatos antes de ir para casa.
Entrei pela porta da frente cautelosamente. Refiz os meus passos, devolvendo o cachecol e os tênis aos devidos lugares. Até que me deparei com a luz da cozinha acessa. Tirei o casaco, largando-o em cima do sofá. Fui até a cozinha e me deparei com se servindo de um copo de água.
- Como estava a ? – ele perguntou despreocupadamente.
Fiquei surpreso com a naturalidade da pergunta. Busquei uma desculpa plausível, mas não funcionaria.
- Eu vi você a seguindo na rua. Como você demorou a deduzir que ela estava indo para o Dawnson hein, irmãozinho? Pensava que você era mais rápido do que eu para deduzir as coisas.
- Ah, você poderia ter me dito. Pouparia-me algumas horas preciosas de sono - falei, pegando a garrafa de água da mão dele e um copo limpo.
- Não teria graça. Eu acabaria com o conceito de aventura misteriosa se você soubesse o paradeiro da suspeita – ele falou, fazendo posse de detetive. Eu teria que esconder esses livros de Sherlock Holmes dele por um tempo.
- Muito obrigado - falei sarcasticamente, bebendo a água.
- Conseguiu alguma coisa? - perguntou, guardando a garrafa.
- Na verdade, não. Mas está melhor do que antes – falei, olhando para a água no copo. Esperava que ela estivesse com as respostas das perguntas que eu ainda não sei ao certo.
- Já é um começo. – então disse que voltaria a dormir.
Coloquei meu copo na pia e segui o mesmo caminho que . Logo amanheceria e eu ainda não tinha fechado os olhos. E já tinha três dias.
Cheguei ao meu quarto e cai na cama do jeito que estava. Só queria dormir um pouco antes de tentar desvendar os mistérios que ainda envolviam . Mas estava satisfeito com o progresso que eu havia feito essa noite. Então, logo o sono veio. Felizmente não tive sonhos perturbadores ou enigmáticos que me manteriam acordado.
Fui acordado contra a minha vontade. Minha mãe dizia que eu estava dormindo demais e isso não era saudável na minha idade. Antes eu tivesse dormido tanto assim, a ponto de prejudicar minha saúde. Só se for à ausência de sono.
Depois de ser arrancado da cama, fui obrigado a engolir o café da manhã e me vestir para visitar a minha madrinha que morava a duas horas e meia da cidade. Passei a viagem inteiro resmungando no banco traseiro. Não queria está no meio do mato quando eu tinha um problema crucial para ser resolvido. Como previsto, passamos o dia inteiro na casa dela, ouvindo as mesmas historias de sempre. Consegui mandar uma mensagem para o celular de , explicando o que havia acontecido. Não obtive resposta.
Quando meus pais anunciaram que já estávamos prontos para voltar, simplesmente me despedi de minha madrinha e tratei de enfiar todas as coisas dentro do carro. Apressei meus irmãos que estavam entretidos com as vizinhas. Provavelmente, as conseqüências viram mais tarde. Mas nessas horas de desespero eu não tenho medo da ira conjunta de e .
Fiquei olhando para o relógio, implorando que meu pai acelerasse. Ele perguntou qual era o motivo dessa pressa toda. Não falei, e quando ameaçou a falar, dei-lhe um soco discreto na barriga, fazendo-o abafar a fala. Mas uma razão para temer mais tarde. Talvez ele seja piedoso e não me mate, já que conhece a fundo o que estava acontecendo.
Mal estacionamos em frente de casa, eu já estava saindo do carro. Corri até a casa de , pressionando a campainha duas vezes. Esperei o dia inteiro para falar com ela novamente, e não pude esconder minha decepção quando seu pai abriu a porta, alegando que havia saído com a mãe e não voltara ainda. Agradeci e voltei para casa sentindo que até o tempo estava contra mim. Talvez se eu tivesse fingido que estava passando mal ou algo do gênero, não teria prolongado essa dúvida por mais tempo. Minha ansiedade aumentava a cada minuto. Nunca havia me sentido assim, e estranhava meu comportamento.
Falei a minha mãe que não estava com fome e me tranquei no meu quarto. Passei mais um longo tempo deitado na minha cama, jogando uma bola de beisebol para cima, e encarando a rua eventualmente à espera do carro da mãe de . Por fim, desisti de tentar descobrir o que estava acontecendo comigo e acabei dormindo.
Já tinha me entregado a frustração da dúvida de e joguei a toalha. Mas não foi tão fácil como eu pensei. Acordei assustado com o sonho que tinha acabado de ter, quando meu celular começou a vibrar em cima do criado mudo.
Abrindo o flip do aparelho, vi o aviso de uma nova mensagem. Era uma de . Li a mensagem duas vezes, conferindo se ainda não estava sonhando. “Olhe pela janela. Era o que dizia. Fui tropeçando até a janela, e a vi sorrindo para mim. Ela pegou o celular e rapidamente, outra mensagem chegava ao meu. “Desça logo”.
Ela começou a andar pela rua, e eu corri até a porta. Consegui a proeza de correr em silêncio. Nem vi os degraus passando pelos meus pés. Cheguei à porta, peguei um casaco qualquer e calcei um tênis de que estava jogado por ali.
Estava mais frio do que a noite anterior. Foi como um dejá vu. Tirando que corria até a pista, olhando para trás para saber se eu estava a seguindo.
Comecei a correr em sua direção. Podia vê-la rir enquanto tentava aumentar o ritmo. Fazia algum tempo que eu não a ouvia rir daquela maneira. Ela estava se divertindo com isso. Quase chegando ao Dawnson, consegui alcançá-la.
- Heey, você está mesmo em forma. - falei, chegando ao seu lado. Ela sorriu, e ainda respirava com dificuldade.
- Você também não está nada mal. - se apoiou no portão de entrada da pista e ficou me encarando. Senti meu estômago fazer uma coisa engraçada. Como se estivesse virando cambalhotas.
- O que foi? - perguntei me encostando à grade ao seu lado.
- Vamos, já decidi o que eu quero – ela disse, me puxando pelo casaco. Segui fielmente todos os seus passos que nos levaram para dentro da pista. Exatamente onde estávamos na noite passada.
- Você vai rir da minha cara se eu repetir a mesma pergunta que eu lhe fiz ontem? – ela disse, se virando de frente para mim, mostrando um sorriso tímido.
- Claro que não – nem poderia rir. A presença dela agora me deixava cada vez mais nervoso. Cada vez mais no escuro.
- Certo – ela disse, fechando os olhos e respirando profundamente. - Você ainda sente as mesmas coisas que me disse a três dias?
Ela abriu os olhos, me fitando enquanto esperava a resposta. Pensei que já tinha deixado isso claro. Mas aparentemente eu tinha que reforçar mais esse fato. O fato de que eu estava apaixonado por e não sabia mais o que fazer.
- Sim, e sinto cada vez mais forte – disse, confiante.
Ela disfarçou um sorriso e olhou o céu estrelado. Ela colocou as mãos nos meus ombros e sorriu.
- Seria muito clichê se eu falasse que eu demorei a descobrir que sinto o mesmo? – falou, tímida.
Era exatamente o que eu estava esperando esse tempo todo. Puxei seu corpo para mais perto do meu, abraçando a sua cintura. Estava exatamente como a noite passada.
- Então, acho que resolvemos esse problema. – falei, mais próximo dela.
- Por enquanto, vamos dizer que sim. – ela sorria, pressionando as mãos sobre meus ombros. Não acredito que essa é a mesma garota que estava fugindo de mim antes. E agora estava me provocando.
- Já é o suficiente para mim – me aproximei, sentindo sua respiração batendo no meu pescoço – Por enquanto.
Deixei que ela desse o segundo passo, pois não queria me arriscar agora. Assim que ela fechou os olhos, a trouxe para mais perto de mim. Antes tudo em volta dela estava escuro, impedindo que eu desvendasse qualquer coisa sozinho. Mas de maneira inusitada e simples tudo fez sentido: assim que eu a beijei, tudo se iluminou. Estava óbvio agora. Vi quanto tempo eu havia perdido à toa.
Algum tempo depois, rompemos o beijo. Minha cara devia ser de um bobão apaixonado, porque ela ria, me abraçando. Eu a tirei do chão, a abraçando forte. Não me arriscaria de novo.
- , isso é o certo? - ela perguntou ainda presa nos meus braços.
Os pés dela tocaram o chão. Ela ainda me olhava com uma expressão de dúvida. Talvez fosse a nossa única diferença naquele momento. Eu tinha certeza do que estava fazendo e ela temia se envolver tanto.
- Tenho certeza. – sorri – Mas isso não depende só de mim ! Estou disposto a esperar o tempo que for preciso, se for isso mesmo que você quer.
Ela encarava o vazio, enquanto eu me remoia no silêncio dela.
- Não preciso esperar - ela disse, me puxando para perto, se apoiando no meu ombro para sair da pista. Ela estendeu a mão para me ajudar a subir também. – Eu já sei qual é o meu amanhã.
Não podia imaginar uma maneira melhor de terminar essa história. Voltamos para casa o mais devagar que conseguimos andar. Não queríamos desperdiçar tempo algum. Já tínhamos perdido o suficiente.

You’re the light that makes my darkness disappear.

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Nota da autora: Ahh, que lindo! Minha primeira fic narrada por um Jonas! É incrível que a inspiração me vêm nos momentos mais idiotas. Lá estava eu, conversando feliz com a Camila vulga jamantinha, quando essa idéia me surge na cabeça. Escrevi duas paginas enquanto conversa com ela, e depois passei o começo da fic para ver se ela gostava. Nem preciso dizer que minha diarista demente só me xingou ordenando que eu fosse escrever. Então, dedico essa fic a Camila *-* Só para ela se sentir importante, coitada! Brincadeirinha gente!
Agradecimentos especiais à Mariana Tasso e Francieli Cunico (como sempre!).Carol que sempre foi uma leitora fiel! E a Patty, que me ajuda sempre que eu preciso. E continua sendo a besta máster. Mesmo que ela me assalte dois reais de tartarugas voadoras.
Obrigada a todas que leram ! *o*
Acho que é por hoje é só pessoal
Beijonas ; *
Mariana Moreira * Blinka

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