Era o primeiro show desde que voltaram da Austrália e não era aquele “oh” não. Casa de show pequena, bairro pouco famoso para show, meio de semana, época de provas e nenhuma música nova, mas ah... era McFLY! Há 10 minutos de meu colégio, era mais do que certo que eu estaria lá.
É lógico que em meio de todos os fatores já citados, como sempre, virou motivo de briga entre minha mãe e eu. Não que não fôssemos próximas ou que ela não me entendesse, era exatamente ao contrário; mas tratando-se de estudos... bom, aí ela não entendia nada!
Como prometido, após a prova, estava estudando no colégio, porque eu morava há mais de uma hora de lá e segundo minha mãe “já que você vai vagabundear e ir no show desses meninos, você não vai voltar pra casa! Vai ficar lá estudando, porque se não você perde duas horas só dentro do carro!”, eu não tinha escolha.
Ainda faltavam três horas para o início do show e meu coração estava disparado; não conseguia prestar atenção e muito menos aprender qualquer coisa que Newton tivesse para me contar.
Talvez vocês estejam pensando que eu seja uma psicopata alucinada que tem uma extrema obsessão pela banda, mas apenas a segunda parte é verdade. É lógico, porém, que eu não deixava isso transparecer para os meninos, apesar de eu sentir que eles sabiam disso. Como assim? Bom... eu explico.
Eu conheço a banda e os meninos desde o começo da carreira, é por isso que além de amá-los como músicos, os amo como pessoas, pois já viajamos juntos, saímos, entre outros detalhes que... bom... não precisam ser contados agora, e são completamente irrelevantes. Podemos até dizer que somos amigos, mesmo não nos falando sempre e eu tendo que pagar para vê-los no palco; pelo menos na maioria das vezes. Eles me conhecem, assim como os roadies e produtores, por causa disso entro no camarim todas as vezes e acabo por conhecer as outras bandas que fazem shows junto com eles, assim como Son of Dork e The Click Five. Já apareci diversas vezes em entrevistas deles no fundo, conversando com um deles, enquanto a reportagem é filmada, assim como eles já falaram de mim em diversas delas como “Ah, é a .” quando perguntam quem é a tal garota que sempre está com eles.
Grougie? Depende de seu ponto de vista. Se você é daquelas pessoas que pensam que groupie são aquelas menininhas histéricas que correm atrás dos famosos apenas para conseguirem algum contato físico, aí eu com certeza não sou uma dessas; porém, se você considerar que groupie é uma fã assídua, aí eu definitivamente assino embaixo, pois sempre marco presença em seus shows.
Inércia vai, ação e reação vem, os estudos começaram a transformar o meu nervosismo em mal humor, e portanto resolvi deixar meu material em um canto da biblioteca e sair para procurar alguém pelo colégio.
. Garota mais engraçada que eu conheço na face da Terra. Senta do meu lado e faz eu explicar para ela álgebra toda santa aula. Estava sentada na cantina, fazendo nada, como sempre, apenas olhando as pessoas que passavam.
- ! – Chamei de longe.
Foi após esta conversa que eu acabei não indo mais sozinha no show. Não, eu não sou uma anti-social sem amigos para irem comigo, mas a maioria deles simplesmente não gosta de McFLY, ou tinham que estudar. Minha melhor amiga, porém, amava a banda e não tinha que estudar, mas morava em outra cidade, e como toda patricinha, não anda de ônibus.
A fila estava enorme, ia até o final do quarteirão, mas valia a pena esperar. Mais de uma hora depois abriram o portão e as pessoas começaram a entrar; a grande parte das fãs de McFLY era como minha melhor amiga, patricinhas, groupies e cheias de amor para dar. O que por sinal, já havia conseguido com , o da banda.
- Como nós vamos fazer pra ir pra frente, ? – me perguntou quando percebemos que havia muitas pessoas e estávamos atrás.
- Espera só o show começar, aí a gente vai. – Ela concordou.
O impressionante é que não foi preciso. Estávamos conversando, rindo e esperando o show, quando alguém tocou meu ombro; era Fletch, o empresário da banda. Estranhei. Porque o EMPRESÁRIO da banda iria falar comigo? Será que tinha acontecido alguma coisa?
- Fletch! – O cumprimentei com um abraço; pude ver a cara confusa de e a de fofoca das meninas em volta.
- , como você está?
- Eu estou ótima! E você?
- Eu também. – Ele sorriu. – Quem é a sua amiga? – Perguntou olhando pra .
- Ah! , Fletch. Fletch, . – Cumprimentaram-se. – Aconteceu alguma coisa? – Perguntei preocupada.
- Não aconteceu não, porque?
- Ah, porque você nunca vem falar comigo. Bom, pelo menos você não vem no meio da multidão falar comigo.
- Nossa, olhe a ingratidão! Quer dizer que não posso vir cumprimentar você? Não venho mais! – Rimos. – Mas ok, ok. Você me pegou. quer falar com você.
- Nossa! Que honra. – Ri. – Onde ele está?
- Vamos lá atrás. – e eu o seguimos para o camarim; quando passávamos podíamos ouvir os comentários: “Você viu aquela garota? Ela vai entrar no camarim!”, “Será que ela é a ?”, “Quem era aquele?” ou até mesmo “Você ouviu? O quem a chamou! Será que estão namorando?” - Ixi , já estão chamando você de namorada do . Coitada de você!
- Eu sei, eu sei. Quem agüentaria namorar aquele coisa? – Respondi ao chegarmos em um lugar silencioso.
- Coisa? Quem você está chamando de coisa, ? Posso saber? – Ouvi aquela tão querida voz.
- ! – Sorri.
- Faz o favor de me dar um oi direito? – Colocou a mão na cintura, dei uma piscadela pra e fui correndo em sua direção. – Senti sua falta, coisa.
- Besta. – Dei língua. Apresentei a eles e aos outros meninos, e ficamos conversando no camarim. – Ai, que lindo! Só agora que eu reparei, você está com o moletom que eu te dei de aniversário! - Era do Atticus.
- E cadê o colar? – Mostrei a ele o coração preto que eu tinha em uma corrente. – Boa menina.
Ok, ok. Talvez eu tenha exagerado no nosso distanciamento de “podemos até dizer que somos amigos”, porque nós éramos, e mais. Certo... chegou a hora que eu devo explicar a situação a vocês.
e eu. Bom... como eu disse no começo, nos conhecemos pela banda. Já tinha ido a diversos shows, mas foi quando mudei para Londres que nosso relacionamento passou de apenas fã-ídolo, para algo mais. Ok, ok. Explicar melhor? Bom... Meus pais compraram uma casa para nós em Londres, graças ao novo trabalho de meu pai, e resolveram então fazer uma “festa estréia” e com isso trouxeram os meninos para fazerem uma surpresa para mim. Neste dia nos convidaram para um show (minha melhor amiga e eu); o resultado é que fomos ao show, ele me achou bonita, conversamos, trocamos telefones e surpreendentemente ele me ligou. Saímos, rimos, tomamos sorvete, fomos ao cinema e quando ele estava me deixando em casa, beijamos. Como eu não queria me iludir com um garoto de banda, convenci-me de que ele não ia me ligar. Errei de novo. Ele me ligou, e continuou me ligando até que saíssemos de novo, e foi o que fizemos, diversas vezes. Até que ele se ocupou demais em gravar o cd e nos afastamos. Continuávamos nos ligando eventualmente, continuávamos saindo e conseqüentemente, dávamos presentes um ao outro em nossos aniversários, mas não ficamos de novo; não por falta de vontade ou de tentativa dele, mas eu simplesmente achava que era melhor assim.
- Como foi a Austrália? – Perguntei aos meninos.
- Nossa, ! – começou. – VOCÊ NÃO FAZ NOÇÃO! É muito irado! As pessoas são muito simpáticas, muito... AH! Foi foda, cara. É tudo o que eu tenho a dizer. – Jogou-se no sofá.
- Foi mesmo! Você devia ter ido com a gente. – acrescentou. Ele era um fofo, juro. Quando eu estávamos “juntos” e brigávamos ou qualquer coisa assim, ele era nosso mediador. Além de o “faz a parar de encher o saco”, aí eles ficavam.
- Ai, lógico que não. – Neguei.
- Você é uma anta, . Viagem paga, hotel pago, shows nossos em outro país, porque você não iria? – Mordi o lábio. O motivo era simples: não queria ver me trocar por loiras originais.
- Porque ia ser abusar de vocês!
- Cala a boca! – Todos, inclusive , gritaram.
Vimos o show do palco. “Oh, que surpresa!” É, eu sei. Não estou fazendo pouco caso, mas era uma certeza que a gente ia, pelo menos depois de estar no camarim com os meninos. Nós apenas não assistiríamos do palco, se não quiséssemos, o que seria burrice.
Músicas e músicas depois, os meninos foram ao microfone conversar com a platéia.
- E aí, gente? – Dougie largou seu instrumento e sentou no chão. – Como vocês estão?
- Com sooono! – Tom gritou.
- Cara, cala a boca. Você não tá com sono! – Danny respondeu.
- Quem disse?
- Você, toda noite que a gente faz show. – Olhou feio.
- Tá... mas... ah. Calei. – Todas as menininhas, inclusive nós, riram.
- Agora... agora... que música nós vamos tocar? – Harry perguntou.
- Eu não sei. Alguém tem uma sugestão? – Todas gritavam histericamente nomes de música. Uma veio em minha cabeça... Uma que tinha escrito há um tempinho para mim, mas fiquei quieta apenas rindo delas. – Eu não consigo ouvi-ir! – Danny gritou.
- Ahá! Já sei! – olhou para mim, e com todos a postos, pegou no casaco e piscou em minha direção. – Star Girl! – Meu coração disparou. Era ela. Aquela música.
“Hey, I'm looking up for my star girl
I guess I'm stuck in this mad world
The things that I wanna say
but your a million miles away
and I was afraid when you kissed me
on your intergalactical Frisbee
I wonder why, I wonder why you never asked me to stay”
- Porque você nunca deu indiretas que queria. – Sussurrei, mais para mim que qualquer coisa.
- ? – chamou.
- Eu!
- Você gosta dele, não gosta?
- De quem? – Perguntei assustada. Não tinha notado que ela havia percebido.
- Do .
- Ah... Então... é complicado.
- Complicado porque? Ele aparentemente gosta de você, e pelo o que me disse no camarim, ele não ficou com ninguém na Austrália.
- Ah , isso não é demonstração de amor.
- Para um carinha de banda, talvez seja. – Ela deu de ombros e cantou junto com eles:
“I wonder why, I wonder Why
You never asked me to stay yeaaah”
Estava aproveitando o show, me orgulhando dos meninos por verem-nos ali, cantando e todo mundo acompanhando a cada melodia, quando meu celular começou a vibrar. Estava muito barulho ali, nunca que eu conseguiria ouvir. Fui para o camarim.
- Alô?
- Filha, você ainda está no show? – Minha mãe gritava, pois não me ouvia. É engraçado quando isso acontece.
- Estou sim, porque?
- Seu avô está no hospital, estou indo para lá agora. Não vou poder buscar você aí, tem como você arranjar carona?
- Ah... mas ele está bem?
- Está sim, querida. Só passou um pouquinho mal, a pressão dele caiu.
- Entendi... Fica tranqüila, mãe... Eu vejo com o .
- Ok, me liga quando você chegar em casa!
- Ok. Beijo, mãe.
- Beijo. – Desliguei.
- O que aconteceu? – Minha amiga perguntou quando voltei para a lateral do palco.
- Meu vô tá no hospital... Ai meu, que droga. – Sacudi a cabeça. – Minha mãe ligou e falou pra eu pegar carona.
- Eu até te daria, mas você sabe que eu moro do outro lado. – Concordei. – Agora, groupie, aproveita o show dos seus amorzinhos e depois fica triste. – Ri e fiz o que ela disse.
Antes do final do show, a teve de ir embora. Não que eu reclamasse, eu ainda estava em um show do McFLY. Quando acabou, deu seu instrumento ao roadie, agradeceu às menininhas e veio até mim.
- O que aconteceu?
- Nada... Porque?
- Eu vi que você saiu do palco e voltou com cara de bunda... O que aconteceu? – Pegou minha mão e me tirou do palco.
- Ah, meu vô tá no hospital... E eu vou ter que voltar de ônibus. – Soltei uma risadinha, indo com ele para o camarim.
- Porque? Sua mãe foi lá com ele? – Concordei. – Eu te levo pra casa.
- Ai , lógico que não!
- Porque não? Seria abusar? – Levantou as sobrancelhas.
- Exatamente.
- , eu ainda sei onde é a sua casa. Eu vou levar você lá, e ponto final. – Não discuti mais, afinal, o que havia para discutir?
Nos dirigimos a um carro, enquanto os meninos iam para o outro, e depois para um bar. colocou suas coisas no porta-malas, e entramos.
- Eu vi você olhando pra mim hoje, coisa! – Ele disse após sairmos do estacionamento, onde havia várias garotas com cartazes gritando. Eu não fazia idéia como elas chegavam ali tão rápido!
- Também, se eu não olhasse, ia olhar pra quem? Pra bunda do ?
- Não! – Ele negou, com voz de nojo.
- Então pronto. – Ele gargalhou.
- Eu sei que eu sou gostoso e você só não quer assumir, ok? Eu sei que você me acha o mais sexy little thing do mundo!
- Eu nunca neguei. – Ele ficou sem reação e eu comecei a rir. – Ai , você é muito, mas muito prepotente, sabia?
- Nunca neguei. – Deu língua.
Estávamos conversando, como há meses não conversávamos. Eu realmente senti falta de . Dois meses sem ligações freqüentes dava um aperto de saudades. Quando ele encostou o carro em casa e eu ia me despedir, ele pediu para eu esperar.
- Diga, . – Tirei o cinto de segurança e sentei olhando para ele.
- Eu vou confessar uma coisa aqui, ok? – Assenti com a cabeça. – Eu sinto a sua falta. – Percebi que ele relutava a dizer. - E não foi só porque fomos para a Austrália... Eu... eu realmente sinto a falta de falar com você diariamente, depois de ensaios, shows... e ter você para abraçar depois de um dia ruim.
- , não vai dar certo...
- Você entendeu a indireta hoje? Da música? Nós não íamos tocar... Mas eu precisava, para você. Sabe, porque afinal de contas você me deixou ir embora?
- É a sua banda, . Eu não... eu não vou ficar te ligando enquanto você grava cd, não vou te atrapalhar.
- E se eu te ligar?
- A questão está aí... Porque você não me ligou da última vez? – Porque essa era realmente a questão!
- Porque eu estava esperando você ligar.
- E eu estava esperando você... – Abaixei a cabeça.
Foi neste momento que um lado impulsivo de , que eu não havia visto muitas vezes, surgiu; ele puxou meu rosto e me beijou. E eu deixei. E foi tão bom, tão quente, seguro e confortador que eu não pensei em mais nada além de retribuir.
Quando paramos, ele me deu um selinho e disse:
- Você promete que não vai me deixar desta vez?
- Prometo. – Dei um pequeno beijo em seus lábios e sai do carro. Ele foi embora e eu entrei em casa. Estava trancando a porta quando o meu celular tocou: .
- Oi?
- Só para deixar você sabendo que eu vou te ligar. – Eu ri com aquilo.
- Entendi.
- E agora... Como você está?
- Eu estou bem... E você?
- Melhor agora.
É, meu estava de volta.
Comentário da autora:
Esta fic é continuação da fic “A casa do Lago”, espero que vocês tenham gostado. :)