Eu sou como qualquer garota de 18 anos da “cidade grande”; animada e que gosta de sair. Sim, esta é . Apenas mais uma em São Paulo, com o estilo relativamente comum, as notas relativamente comuns, o consumo de álcool relativamente baixo, o nível de garotos em minha vida relativamente comum e o número de brigas familiares relativamente comum. É, em minha cidade sou apenas mais uma menina comum. Porém não foi assim quando fui visitar minha amiga em Londres, realmente não.
São Paulo e Londres, apesar de serem duas metrópoles, nada tinham a ver. O tipo de música escutado não era o mesmo, o tipo de pessoas não era o mesmo, o tipo de garotos, de bebida, de qualquer coisa não era o mesmo. Apesar da globalização, nem o tipo de comida era a mesma, o que me deixou puta, sendo que esses londrinos não comem o tanto de salada que eu gosto de comer.
e eu não nos víamos há aproximadamente dois anos, o que nos deixava mortas de saudades. Nos conhecemos três anos atrás, no avião indo para o Brasil, dos Estados Unidos. Ela, uma americana nativa, estava indo passar o carnaval em Salvador; eu, como uma paulista animada, fui passar as férias em NY e o carnaval no mesmo lugar que minha futura amiga. Conversamos, conversamos e conversamos no avião, trocamos telefones e nos encontramos com nossos respectivos amigos nos trios e baladas que fomos.
Aconteceu que a química entre nós bateu, nos falamos por e-mail e MSN sempre que dava e no telefone pelo menos uma vez a cada duas semanas. Foi assim que na minha primeira semana de férias de julho fui encontrar em ela em Londres, para matar as saudades.
Primeiro dia: Sábado
- Só para avisar que já saí do avião e estou indo pegar minha mala!
- AAAAAAH! Minha bebê chegou!
- Cheguei!
- Então pega logo que estou te esperando no desembarque.
- Ok. – E desligamos.
Após esperar meia hora na esteira para conseguir, finalmente, a minha mala vermelha; saí no desembarque e lá estava a minha amiga, feliz e sorridente me esperando.
- !
- ! – E corremos uma até a outra e nos abraçamos. – Meu deus, que saudades!
- Muitas, muitas, muitas! – Pulamos, gritamos e fingimos ser normais depois. Cumprimentei seu pai e seu irmãozinho de cinco anos, que queria de todo jeito levar minha mala, porém foi seu pai quem o fez.
- Você teve uma boa viagem? – O pai dela perguntou.
- Fiz sim, foi bem tranqüila. Cansativa, mas tranqüila. – Ele sorriu.
- Então hoje você tira o dia pra descansar, que amanhã a tem planos pra vocês.
- Com certeza. – Respondi seguindo-o até o estacionamento.
Ao chegarmos na casa de minha amiga fomos falar com a mãe e a irmã dela, almoçamos e ficamos morgando no quarto, pensando em nossos planos para o resto da semana na qual estaria lá. Além disso, fomos na locadora e alugamos três filmes; um de drama, um de menininha e um de suspense.
Tentamos assistir o de menininha, mas nos irritou e desistimos. Resolvemos então ir até uma pizzaria perto.
- , vá de metrô e qualquer coisa me liga. – O pai dela avisou.
- Sim pai. – Beijou sua bochecha.
- Tchau, tio. – Ele sorriu e segui então minha amiga, junto com sua irmã.
Fomos de metrô até a estação Picadilly Circus, andamos mais um pouco e chegamos no restaurante. Assim que sentamos fizemos o pedido.
- Ai , quero que você conheça o Matt e o Samuel enquanto você está aqui. – Minha amiga disse quando a garçonete foi embora.
- Eu também! Quero saber quem é esse Matt logo. – Rimos. – Ele é bonito, ? – Indaguei olhando a irmã dela.
- Ah... – Ela ficou sem jeito. – Eu não olhei direito.
- Ih, já entendi. Ele é feio! – Ambas gargalharam.
- Mas ah, ... Não é assim. E eu também não sei o que fazer, a gente mal se viu sexta na festa e além de tudo, ele não me liga há duas semanas.
- Porque você não liga pra ele? Não precisa dizer que você pensa nele o dia todo nem nada... – Ri debochada. – Fala tipo “ah, eu as meninas vamos sair tal dia, você e o Samuel querem ir?” e pronto.
- É, não é uma má idéia.
- Eu sei que não. – Pisquei para ela.
- Mas e você e o , como andam?
Bom, era meu eterno rolo; mentira. Ele foi meu segundo amor, vinte milhões de vezes mais intenso que o primeiro. Nunca namoramos, até porque ele namora outra. O fato é que quando o nosso rolo começou, eu achava que ele era solteiro e quando vi, já havia caído por ele. Quando descobri que ele namorava, chorei feito uma louca, mas não sei o que deu em mim e saí com ele. Ficamos quatro meses assim: eu, ele e ela. Eu e ele em São Paulo, ela em Minas Gerais. Terminamos e voltamos algumas vezes, porém não o via desde outubro e o sentimento não havia desaparecido nem um pouco. Como eu ia fazer intercâmbio para os Estados Unidos em agosto, falei para o seu melhor amigo que queria sair com os dois, porque apesar de tudo, eu me recuso a passar mais seis meses sem o abraço dele. Foi quando ele veio falar comigo. Diferente de antes, o coração não quase saiu pela boca, apenas encostou do meu peito à minhas costas a cada batida.
- E você vai sair com ele?! – Ela quase gritou quando eu contei.
- Vou...
- Eu não acredito em você, . Sinceramente.
- , também não é assim... É que eu preciso abraçá-lo, você não faz idéia.
- É, ultimamente eu tenho feito. – Deu um sorrisinho para mim. – Mas ok, eu confio em você.
Comemos nossa pizza, conversamos, rimos, conversamos e por fim, voltamos para casa. Assistimos o filme de suspense e depois fomos dormir.
Segundo dia: Domingo
Este foi o dia turista; fomos até o Museu dos Beatles, London Eye, Big Ben e Madame Tussaud. No final da tarde fomos até o restaurante dos Beatles e ficamos lá conversando um tempo, até voltamos para casa e assistirmos o drama.
Terceiro dia: Segunda-feira
Logo que a mudou dos EUA para Londres ela ficou encantada por Paul e falou que eu o adicionasse no MSN. Paul e eu conversamos bastante e pouco antes de vir para a Inglaterra eu avisei que eu vinha, portanto segunda-feira foi o dia que nós marcamos de nos encontrarmos.
e eu passamos o dia tirando fotos, conversando, fizemos um tour pela cidade e ao anoitecer encontramos Paul e Becca, sua melhor amiga, em um Pub. Bebemos, rimos e conversamos, foi ótimo. Combinamos que se fossemos sair, os chamaríamos.
Quarto dia: Terça-feira
Este foi o dia que tiramos para ficar com as amiga dela: Claire e Sarah. Fomos na piscina relativamente aquecida da casa de Claire e notamos a diferença da minha cor de pele da delas; as três, quase cor nula, faziam com que eu parecesse estar com um leve tom madeira em minhas pernas pós-Rio de Janeiro.
Depois da piscina, fomos para o quarto da dona da casa, onde ela sem querer soltou que o garoto que gostava não estava nem aí para ela. Oh yeah, problema. Como minha amiga é muito orgulhosa, fomos assistir o filme e, disfarçadamente, ela ligou para seu pai que viesse a buscar. Ao colocarmos o pé em seu quarto ela desabou. Fizemos o final deste dia uma noite de fossa.
Como toda boa garota brasileira, fiz um brigadeiro, pegou o sorvete e assistimos filmes depressivos no laptop.
Quinto dia: Quarta-feira
Resolvemos ir andar na Oxford Street já que na quinta e na sexta-feira iríamos sair para dançar. Compramos roupas, sapatos e acessórios.
Sexto dia: Quinta-feira
Foi o dia em que o balacubacu começou, e um balacubacu bom. , Sarah e eu fomos para a balada mais famosa de Londres, todas bem vestidas e produzidas na medida certa. Com a franja para trás, uma calça skinny e uma blusa de manga três quartos larga, solta e caída, subi em meus scarpins pretos e as segui para o metrô.
Quando chegamos, o lugar estava lotado. Com as mãos dadas chegamos até o segurança, que conhecia , e entramos.
- Meu deus. – Falei ao entrar.
- Bem diferente do Brasil, né?
- Total. – Respondi, ainda pasma. O lugar era uma loucura, pessoas chapadas pulando, uma música estrondosa em meus pobres ouvidos e garotos londrinos, ah... esta era a parte boa. Dançamos por um tempo e resolvi beber alguma coisa, já que as duas não bebiam; o problema é que é alguém muito, mas muito fraca com álcool, portanto, quando eu acabei meu primeiro copo, já estava mais mole.
O meu dia começou a melhorar quando Rihanna começou a ser tocado naquele volume monstruoso com “Don’t Stop The Music”. Eu a odeio, mas aquela música... Ah, aquela música era boa.
- , olha aquele cara. – Ela começou a procurar. – O de azul.
- Ele é bem gato.
- Ele é beeeem gato. – Falei rindo e continuei a dançar.
- Ele tá olhando pra você, . – Sarah contou.
- E está olhando muito. – Minha amiga acrescentou.
- Que bom. – Sorri e ambas riram.
Após um tempo e uma certa quantidade de trocas de olhares com o cara de azul, fechou a cara e apertou meu braço.
- Ele chegou. – Arregalei os olhos e Sarah nos puxou.
- Quem chegou? – Indaguei no ouvido de minha amiga.
- O Matt e o Samuel. – Problemas. Fomos até onde estavam e vi o famoso Mathew. Feio que dói. Como um londrino pode ser feio? Perguntei a mim mesma. – Samuelzinho bebê! – gritou abraçando o seu ex-futuro-cunhado. – Como você tá?
- Bem, bem. E você, pequena?
- Estou ótima! – Apertou as bochechas do garoto. – Vem aqui, deixa eu te apresentar minha amiga.
- A do Brasil? – Ela concordou e simplesmente me jogou em cima do garoto. – Oi. – Eu sorri. – Eu sou o Samuel.
- Eu sou a .
- Prazer. – Pegou minha mão e a beijou. Ai meu deus, o que a tinha dito pra ele?!
- Prazer. – Virei-me para minha amiga lançando um olhar “voutematarquandosairdaqui” e ela riu. – Hum... Eu vou ali com a , ok? – E fui até ela. – Sua filha da puta. – Disse em seu ouvido. Ela deu um tchau para o Samuel e voltamos para onde estávamos dançando. – O que você falou para ele?
- Ah... eu queria tanto que vocês ficassem!
- Não . – Olhei-a de um modo feio. – E... como foi com o feioso?
- Normal, normal. Ele veio me dar oi, mas nada demais. – Concordei. – Ah, que se dane. Vamos beber.
Com este incentivo, cada uma pegou uma bebida e voltamos a dançar.
- Ele continua te olhando. – Sarah apontou.
- E eu continuo achando ele bem gato.
Uma hora passou e estávamos começando a ficar cansadas, e o cara de azul, quando saia do lugar, andava ao redor de nós. Com seu cabelo castanho claro curtinho e uma barba a fazer, chamava muito a atenção.
- Se eu beber mais um copo, eu chego nele. – Disse duvidando de mim mesma.
- Você não vai beber mais, . – E não bebi.
A história da balada acabou que quando estávamos indo embora, obrigatoriamente teríamos que passar pelo cara de azul, já que ele estava no caminho. Quando eu estava indo atravessar a multidão, me parou, de frente para ele. Ficamos nos encarando por um tempo, até que pararam de passar pessoas e pude andar. Ele me olhou o caminho inteiro na saída e até hoje eu fico brava de lembrar que ele não chegou em mim; londrinos de merda.
Chegamos em casa e até lá, não estava mais alegre, apenas levemente tonta. Arrumamos as camas e desmaiamos nos travesseiros. Amanhã seria um belo dia.
Sétimo (e penúltimo) dia: Sexta-feira
O dia começou normal; nos despedimos de Sarah, tomamos café da manhã, ficamos no quarto conversando, almoçamos e fomos andar um pouco por Londres.
Foi no meio da tarde que tudo aconteceu, ou melhor, ele aconteceu. Estávamos na festa de alguém, na casa de alguém, com uma banda tocando no fundo. Descobri que o baterista era o rolo encaminhado da ; o garoto era todo apaixonadinho por ela, e ela estava o segurando para quando terminasse com o Matt, o que aconteceu rápido.
Estava eu, minha amiga e as amigas dela em um canto, conversando, quando ele passou. Ele tinha aquele ar de “eupossoeuqueroeutenho”, o que eu simplesmente acho irresistível. Só que, além desse ar, ele era quietinho. Falava, dançava, mas... era quieto. Não sei explicar bem. Mas o que me deixava realmente brava era que ele não me olhava de jeito nenhum, e eu não estava feia. Eu sei que eu não estava. Minha blusa tomara que caia mostrava a marca do sol que eu tinha e minha calça não me deixava em desvantagem, não sei porque ele não me encarava de jeito nenhum; não apenas eu, qualquer garota. Sim, ele tinha aliança, mas e daí? Olhar não mata e sua namorada não estava ali.
- , olha aquele cara ali... Cor goiaba. – Pois é, sua camiseta era cor goiaba.
- Uh, menina. Você escolhe bem. Esse daí é de uma das bandas famosas daqui de Londres. Chama . Ganhou como o cara mais sexy de 2007, acho. – Não era pra pouco. – Mas sei que ele namora.
- É, eu vi a aliança. – Fiz uma careta.
- Mas nada que você não possa aproveitar, já que amanhã você vai embora. – Quando ela percebeu, me abraçou. – Ah, amanhã você vai embora.
- Eu também não quero ir!
- Então fica mais um pouco! – Ela me soltou e abriu um sorriso.
- Vou ver com a minha mãe hoje, prometo.
- Eba! – E voltou a dançar. – , fica olhando para o Luke, quando ele me olhar me belisca. – Eu concordei. Quando vi o baterista olhando minha amiga, fiz o que ela pediu. – Ai! O que foi?
- O Luke te olhou.
- Ah é. – Gargalhou. – Esqueci, mas ok. Vou ficar atenta agora. – A belisquei novamente quando ele a olhou, ela mandou um tchauzinho e recebeu um sorriso e uma piscada de resposta.
Bebida vem, bebida vai, as pessoas começaram a ficar bêbadas. O cor goiaba, porém, não. Eu sabia que ele estava bebendo, estava feliz, mas não estava bêbado. Eu estava alegre e tonta, o que não é difícil.
A festa foi chegando ao final e Luke era tímido demais para falar com a . Parou do lado dela, mas não falou nada. Eu vi duas garotas chegando no cor goiaba, mas ele mal deu bola para elas. Será que ele era gay?
As meninas resolveram, então, entrar para onde as bebidas estavam e se aproximaram do guitarrista da banda que antes tocava. Ele estava sentado na geladeira das cervejas e eu não agüentava mais ficar em pé, portanto pedi um espaço; ele o fez.
- E aí, Charlie? O Luke não vem falar com a não? – Uma das meninas indagou.
- Isso não é comigo não. – Ele riu. Charlie, Charlie. Ele não era feio, mas... Ele também não era bonito. Charmoso ele era, isto era um fato. Só que bonito... Hum... Não sei bem.
- , vem cá. – Puxei minha amiga e encostei minha cabeça em seu ombro e fiquei olhando para o garoto ao meu lado, tentando analisá-lo.
- E você, quem é? – Ele perguntou.
- , e você Charlie?
- Acho que você já respondeu. – Eu sorri e fechei os olhos. – De onde você é, ?
- Brasil. – Abri os olhos e vi que ele me olhava. Ele tinha um olhar fofo.
- Eu adoro o seu sotaque, sabia?
- Não sabia não. – Sorri e levantei a cabeça. Vi o cor goiaba lá no fundo. – Eu vou no banheiro, ok?
- Eu vou com você. – se ofereceu.
- Não precisa, . Eu não estou tão mal. – Ela concordou apreensiva. Ao levantar da geladeira quase caí, mas sorri para ela em sinal de que estava bem.
Fui andando para onde eu achava que era o banheiro, já que eu não tinha certeza. Quando cheguei, estava ocupado. O problema, é que eu estava muito apertada, mas muito mesmo.
- Droga. – Encostei a cabeça na parede e sentei no chão.
- Tá ocupado? – Uma voz perguntou ao meu lado. Quando fui olhar para cima era ele. Ele, ele, ele. O cor goiaba, o , .
- Uhum. – Assenti.
- Quer que eu veja se o masculino tá ocupado e se não tiver eu fico na porta de segurança?
- Você faria isso? – Ele concordou e foi até o outro banheiro.
- Está livre, vem. – Estendeu a mão; insegura eu a segurei. Ele me puxou tão carinhoso que... bom. Que eu não sei se realmente um puxão pode ser carinhoso, mas de todo jeito. Entrei no banheiro e fui até a cabine mais limpa. Quando estava lavando a mão ouvi: “Está ocupado, dude. Volta daqui a pouco.” Eu abri um sorriso ao ouvir isto.
- Obrigada. – Agradeci ao sair do banheiro. Eu sinceramente não sei o que estava acontecendo, se era a quantidade de bebida fazendo efeito, a presença dele ou a mistura dos dois, mas eu estava mais tonta de que de início.
- Você está bem? – O cor goiaba aproximou-se de mim e colocou uma mão em meu rosto. Depois disso não lembro de muita coisa, apenas que quando abri os olhos estava nos braços de Charlie e que estava falando alguma coisa com a ... Lembro também de vê-lo me olhar preocupado, com aqueles olhos claros brilhantes, com o cabelo todo jogado no rosto e com aquela camiseta cor goiaba.
No final eu fiquei mais uma semana em Londres, com minha amiga. Nunca mais vi , apenas em meus sonhos. O incrível, é que ele sempre aparecia com a mesma camiseta. Aquela cor goiaba. Além disso, era bom sonhar com outro de vez em quando ao invés de , era bom sonhar com .
Toda vez que penso nele, vem aquela música na minha cabeça:
“Quando a gente se encontrar
tudo vai ser tão perfeito
eu quero te curtir demais,
eu vou aliviar esse aperto no meu peito
Que vontade não dá mais...
Quem sabe um outro dia a gente possa se encontrar de novo. ”.
É, eu sei. Eu sou a única pessoa que ao pensar em um londrino lembra de exaltasamba.