Escrita por: Alê
Betada por: Abby




- Ei, pára! Eu não quero brigar com você, amanhã é dia dos namorados!
- Nossa, que interessante! E quem te disse que amanhã nós ainda seremos namorados?
- O quê? Você está pensando em... terminar? Por causa de uma briga boba que até uma criança resolveria? Eu não estou ouvindo isso, estou?
- Eu falei algo parecido, por acaso? Está vendo? Você coloca palavras na minha boca! Sai falando, falando, tirando conclusões de tudo sendo que eu não disse nada!
- Por que você só vê os meus defeitos? Por que você nunca se mostra satisfeito com alguma coisa que eu faça? Se eu fosse tão horrível assim, nós não estaríamos juntos por seis anos! Seis anos, ! Às vezes eu não te entendo... Por que persiste nesse namoro então?
- Vê como o assunto já gerou outro nada a ver? Não é questão de terminar, eu não quero terminar. Eu amo você, ! Só acho que o que você fez não é digno de suas atitudes... - Eu a olhei com desprezo. Ela bem merecia. Afinal, ela acha que pode tudo? Fazer o que bem entender? E eu, como fico?
- Eu vejo como uma coisa nada a ver gerou um assunto tão 'grave'! Céus, eu estava sentada no colo do , qual o problema nisso? Somos amigos, a-mi-gos! - Ela gesticulava exageradamente.
- Qual o problema? Estavam todos olhando, . Olhavam de você para mim, de mim para você o tempo todo. Antes fosse só o meu ciúme, mas parece que os outros ficaram com ciúme por mim! Era como se eles falassem 'hey, você não vai fazer nada? É a SUA garota!'. Mas eu pensei que você fosse ficar chateada se eu reclamasse, então fiquei na minha. Tão na minha que achei que você fosse perceber, mas não... Eu estava errado. - Ela me olhava cheia de sentimentos que eu não saberia dissertar.
- Eu não sabia que você se importava tanto com os outros...
- Não venha com essa agora, já é clichê, todo mundo usa. Pára pra pensar, . Eu não quero ser julgado de idiota e garanto que você no meu lugar também não iria querer. Imagino se fosse uma amiga sentada no meu colo... - Ri ironicamente. - Você daria um escândalo ali, na hora. Eu pelo menos esperei... esperei não sei o que, na verdade.
Ela ficou calada, talvez tenha concordado com tudo que acabei de dizer. E, de fato, era verdade.
Eu já estava farto daquela situação, juro. Se ficasse mais uns minutos ali poderia surtar.
- Aonde você vai? - Ela perguntou enquanto me via indo em direção à porta.
- Para casa, onde mais?
- Sua casa é aqui, , não faz isso com a gente... Chega de briga, por favor. - Ela me olhava tão suplicante e eu fiquei imóvel. Estava confuso, na verdade. Sabe quando as palavras não vêm? Era isso, não sabia o que poderia falar. - Eu queria tanto apenas viver com você e ser feliz. Discutir com você é o que mais me dói e eu não quero sentir essa dor hoje à noite só por um orgulho idiota. Vamos lá, é um pedido de desculpa que você quer? Tudo bem, me desculpa, por favor, do fundo do meu sentimento mais expressivo. Agora chega... Eu preciso de você essa noite, eu quero o seu carinho... E eu prometo que vou tentar nunca mais dar motivos pra gente brigar. Volta pra cá...
Não, eu não consegui. Se o cachorro é o melhor amigo do homem, também posso afirmar que o orgulho é o pior inimigo. Eu não consegui me mexer e tenho certeza que foi ele que não me deixou. Aliás, me movi, sim. E só percebi isso quando ouvi a porta batendo atrás de mim.


My insides all turn to ash so slow
(Meu interior vira cinzas tão devagar)
And blew away as I collapsed, so cold
(E se fundia enquanto eu desmoronava, tão frio)
A black wind took them away from sight
(Um vento negro os levou para longe de vista)
And held the darkness over day that night
(E prendeu a escuridão do dia naquela noite)


Eu só fui sentir o que fiz quando cheguei em casa. Aliás, aquilo não era minha casa, era praticamente um estúdio, já que só ia pra lá quando precisava pensar, me concentrar e gravar algo.
A última coisa que fazia era me deixar pensar ou ficar concentrado, se é que me entendem. Se bem que era bem melhor ficar concentrado nela do que qualquer outra coisa. Ela era a mais importante.
Mas, como ia dizendo, só quando cheguei lá que percebi como aquela discussão tinha sido boba e que tudo podia ter terminado bem. Mas não. E também nem pensei em ligar pra ela, afinal, podia resolver tudo amanhã... O dia tinha sido cansativo, eram 22:30. Nada como uma noite de sono e resolver todos os problemas depois disso.

Como eu fui burro. Sabe, eu podia pensar às vezes.
Sabe aquele velho ditado? Aquele 'não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje'? Eu nunca levei isso tão a sério.
Não como eu levo agora.

- ?
- Oi, . - Desde quando o me liga... meia-noite de segunda-feira? - Eu espero que seja importante, ou então considere-se um morto.
- Não diz isso, cara... - Peraí, ele está... chorando? O pânico me atingiu. não chora.
- O que houve? - Minha voz saiu tremida e eu tinha medo da resposta.
- Por telefone não é uma boa maneira de dizer, mas eu sei que você vai querer ficar sozinho e...
- Fala, Daniel. - Agora, minha voz saiu como pedra. Eu estava tremendo.
- A tá... tá... ela...
- Tá o quê?! Fala logo! - Agora, além de estar tremendo, estava gelado, de pé e dando voltas em torno de mim mesmo. Não pode ser que ela...
- No hospital... - Ok, eu senti um pouco de alívio nesse momento.
- Você podia ter me assustado menos! Eu já achei que ela... Em que hospital? Por que? Ela saiu de casa ontem? Foi culpa minha, ai meu Deus! Ela tá bem, ? DANIEL, VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO?!
- Eu... sim, estou. - Ele respirou fundo e tentou parar de chorar. Afinal, ele tinha que se acalmar antes de tentar me acalmar, certo? - Não foi culpa sua, ... Ela saiu sim.
- É claro que foi culpa minha! Eu saí de casa, a gente discutiu, eu podia ter ficado lá, ela não teria saído! Em que hospital ela tá? Eu preciso vê-la...
- Não, ...
- Não o quê? Como não? Fala, , não tenho mais tempo a perder.
- Já perdeu, ...
- Era pra entender? Porque eu não entendi! Chega de lenga-lenga, fala onde ela tá!
- O que eu quis dizer com 'no hospital' foi que ela estava no hospital, mas...
- Ela já foi pra casa?
- Deixe-me terminar, , é tão difícil pra você quanto pra mim. - O pânico tomou conta de novo.
- O que tá acontencendo? - Eu quase sussurrei.
- Ela não resistiu, .


Toda a escuridão existente se acumulou naquela noite.


And the clouds above move closer
(E as nuvens no céu se movem para perto)
Looking so dissatisfied
(Parecendo tão descontentes)
But the heartless wind kept blowing, blowing...
(Mas o vento sem coração continuou soprando, soprando...)


E eu não conseguia mais dormir. Fiquei pensando por horas, a ficha não caía. Eu não queria que caísse. Só queria que ela aparecesse agora, afagasse minha cabeça e dissesse que está tudo bem, que ela está aqui.
Mas ela não está. Só um vazio imenso.
Eu me cansei do vazio. Estava me matando.
Então eu saí, às 5 da manhã. Quem saía 5 horas da manhã? A rua estava deserta. Nem o sol havia aparecido direito. E, pelo visto, iria demorar. Ele não quer brilhar pra mim.
Mas nem faço questão. Eu só quero que ela brilhe pra mim.
O resultado do sol estar escondido foi um vento cortante. Mais cortante ainda por eu estar sem casaco nenhum. Hey, agora percebi que estou com meu pseudo-pijama. Não importa.
Sim, importa, vou morrer de frio! Então não importa, assim vou pra perto dela.
Já não bastava a culpa de ter matado alguém?
Já não bastava a culpa de ter matado a pessoa mais importante da minha vida?
Não, não basta. O vento veio me condenar.


I used to be my own protection, but not now
(Eu costumava ser minha própria proteção, mas não agora)
'Cause my path has lost direction somehow
(Porque meu caminho perdeu a direção de alguma forma)
A black wind took you away from sight
(Um vento negro te levou para longe de vista)
And held the darkness over day that night
(E prendeu a escuridão do dia naquela noite)


E, assim, cheguei em frente à casa dela. Ou o que há poucos dias eu chamava de 'nossa casa'.
Me sentei no degrau em frente à porta. Tantas lembranças ali... Era pra onde ela ia quando brigávamos, quando eu fazia alguma besteira ou quando ela precisava pensar.
Eu lembro de ficar sentado ao lado dela, abraçando-a, tentando lhe passar força. Me sentia orgulhoso porque sempre conseguia. Ela dizia que eu era o abrigo dela.
Eu a protegia, o que fazia com que eu me mantivesse protegido.
O que eu tenho para proteger agora?
Imagine um trem. Eu estou dentro desse trem.
Ele anda rápido, segue reto por seu caminho. De repente, o trilho muda de direção. Eu não sei para onde estou indo e nem sei quem mudou a direção, só sei que agora o trem anda devagar.
Foi aquele maldito vento forte que mudou a direção do trem e a tirou de mim.
E agora nem eu mesmo tenho proteção.


And the clouds above move closer
(E as nuvem no céu se movem para perto)
Looking so dissatisfied
(Parecendo tão descontentes)
And the ground below grew colder
(E a grama do chão cresceu mais gelada)
As they put you down inside
(Enquanto eles te colocam para dentro dele)
But the heartless wind kept blowing, blowing...
(Mas o vento sem coração continua soprando, soprando...)


Eu estava naquele lugar, o mais estranho de todos que já estive, às 3 horas da tarde.
Eu não queria escutar o que as outras pessoas falavam, sinceramente. Quando sentia que queria chorar, olhava pro céu. O que não ajudava muito, se quer saber.
As nuvens se aglomeram em formatos totalmente estranhos. A que eu fitei agora parecia uma vaca. Olhei pra nuvem ao lado, lá estava o semblante de uma mulher. Parecia triste...
Não tanto quanto eu, querida.
Mais ventos fortes. Eu vou congelar.
Todas as nuvens pareciam descontentes e frias agora. É, eu lembrei do porquê de estar ali.
O vento continua batendo. Eu tinha vontade de gritar.
Deixei de olhar para o céu. Me arrependi logo que vi que uns homens colocavam o caixão debaixo da terra.
Pude ver o rosto dela pela última vez da pequena 'janela'. Agora sim eu morri.
Sabe, eu não sei se alguém que estiver lendo isso já teve essa sensação. Eu realmente espero que não.
O chão parecia gelado e eu me afundava nele.
Nada poderia me ajudar naquele momento. Por mais que as pessoas me abraçassem, por mais que as palavras reconfortantes martelassem em minha cabeça, céus, não eram eles que eu queria!
Era ela.
E o vento continuava soprando, soprando, matando, matando...


So now you're gone
(Então agora você se foi)
And I was wrong
(E eu estava errado)
I never knew what it was like to be alone
(Eu nunca soube como era ficar sozinho)
On a valentine's day...
(Num dia dos namorados...)


Eu sei que tenho que encarar os fatos.
Estou escrevendo isso na intenção de realmente tentar. E, sabe, agora que eu encaro a verdade, tudo ficou ainda mais difícil.
Hoje é dia dos namorados. Seria o sexto que passaríamos juntos. Dentre as milhões de coisas e as infinitas desculpas que eu queria pedir, eu não acho uma sequer.
Não há palavras. Nem soluções. Nem motivos. Nem vida. Muito menos ela.
Agora eu vejo o quão errado eu estava. As coisas não vão se resolver amanhã, nem depois. Eu deveria tê-las resolvido quando pude.
Mas não o fiz.
Essa noite, meu amor, eu iria te pedir em casamento. Antes de brigarmos estava tudo tão planejado...
A gente nunca conta com os imprevistos, não é?
Agora eu vou pensar em você até o vento negro tirar minha vida também.
Eu quero que você leia essa carta e escute essa música que fiz pensando em você.
Eu quero que você entenda tudo que eu senti e ainda sinto.
Eu quero que você me perdoe por tudo.
Mas agora não estou em condições de querer nada, eu sei.
Mas, por favor, só me permita fazer com que você saiba que eu te amo.
Antes e depois da escuridão te tirar de mim. E pra sempre.

Um beijo enorme,
.

***

Voltei naquele cemitério gelado de noite. O que alguém comum faria numa noite de dia dos namorados no cemitério?
Não era algo comum.
Eu deixei essa carta no túmulo dela e, enquanto me afastava, senti o vento me cortar de novo. Me virei para o túmulo novamente, a carta de três páginas estava sendo folheada sutilmente. Algum ser invisível lia minha palavras.
O vento era ela. A nuvem era ela.
Eu posso estar louco, mas me senti melhor em saber que ela ainda podia me encostar e olhar para mim. Eu ainda posso sentí-la.
Eu passei o meu primeiro dia dos namorados sozinho.
E só tenho a me arrepender por isso.
O que fazer agora?
Continuar caminhando e pedir para que o vento me acompanhe.
Essa era a minha nova proteção.


CONTINUA OU FIM



Nota da autora: Antes de tudo, essa música é do Linkin Park e se chama Valentine's Day. Tive que mudar o nome porque colocaram uma fic aqui com esse título (;
Nem sei porque eu estou fazendo uma nota o.O
Quase ninguém lê dramas assim, nem eu leio, na verdade. Mas é o tipo mais fácil de escrever, então eu escolhi uma pra botar aqui.
Espero que alguém goste, se é que alguém vai ler, hahaha
beijos,

alê.

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