Escrita por: Alessandra
Betada por: Laura Aquino




And though I’ve been warned to live day by day there’s something taking over
Não que eu esteja reclamando – eu realmente não estou –, mas a minha vida deu um nó. E, veja bem, um nó na vida inteira por causa de um mês é muita coisa. Aliás, a causa do nó veio apenas em um dia, há um mês atrás, e eu ainda estou com isso na cabeça. Não dá pra esquecer e não dá pra não se sentir mal com as conseqüências. Como eu já disse, eu não estou reclamando. Sabe que ainda nem caiu a ficha? O que eu mais queria aconteceu! Aconteceu, cara, aconteceu. E, dessa vez, não foi só um sonho em que eu tive que acordar às 4 da manhã e perceber que nada tinha sido real. Eu não posso estar sonhando por um mês, ok. Aconteceu, pombas, cai logo essa bendita ficha! Pois bem, aconteceu e é passado. Pois é, acabou. E o que eu mais queria é que ela me falasse mais alguma coisa além de “esquece isso”.
Na verdade, não é só ela que fala pra eu esquecer. Todos que sabem o que ta acontecendo falam pra eu viver minha vida, seguir em frente e não ligar tanto pra isso como eu to ligando. Mas não dá, tem alguma coisa me dominando. Ela me domina por inteiro. Agora muito mais, principalmente depois daquele domingo sem graça que passou a ser o melhor dia da minha vida.

I heard* your complaint, you’re needing someone older

Eu lembro como se fosse ontem, toda aquela imagem de sonho se intensificando. Mas eu vou começar a explicar do começo. Essa frase poderia ser óbvia, mas nada é tão simples assim quando se trata dela.
Bem, já deu pra perceber? Eu gosto muito dela. Um garotinho apaixonado, talvez. Aliás, risca esse talvez, eu amo ela. é uma garota estranha. Toda popularzinha no seu grupinho, mas, no fundo, acho que só eu sei o que ela sente. Digo, de verdade. Não que ela me conte; não precisa ser codificado em letras. É só olhar pra ela e ver quando os seus olhos brilham mais. Isso eu já sei de cor.
Eu estudei essa garota o máximo que eu pude. Decorei todas as fórmulas e exceções, todos os teoremas e combinações simples. Eu só gosto da escola por causa dela, a minha matéria preferida. Quando eu descobri que ela estava namorando, eu fiquei realmente mal. Não vou dizer que o meu mundo caiu, porque eu já tinha certeza absoluta de que eu + ela = nunca. Eu tenho que parar com essas coisas.
Mas, como tudo tem seu lado bom (não, nem tudo), um dia eu ouvi a conversa dela com uma amiga. Ela dizia que a mãe dela estava “enchendo a porra do saco que ela nem tem” – palavras dela. Mais um motivo pra eu dizer que ela é estranha; não é o palavreado normal das pops. – dizendo que ela precisava de um namorado. O resultado foi esse, ela ta com esse cara por obrigação, pra mãe dela parar de ficar falando e falando sem parar pra respirar. O plano era escolher um dos pops riquinhos, porque, se você pensa que a mãe dela estava aceitando qualquer um, você está muito enganado. Assim, ela calaria a boca definitivamente.
Ela ainda comentou que ele não era nada demais. Na verdade, ele era bem idiota. Amor, você só precisa de um cara mais velho, alguém que te entenda e conheça todos os seus trejeitos. Você só precisa de mim.
Eu pude sorrir mais facilmente após ouvir tudo que ela disse, mas não queria dizer que eu podia investir. Aliás, eu nunca poderia.

(* = a letra da música diz “i read your complaint”, mas foi adaptada por mim para se encaixar na história)
I’m calling it love soon

Voltando à parte um pouco mais relevante, vou começar a contar o que exatamente aconteceu no tal domingo.
Eu tinha brigado feio com os meus pais. Eles me proibiram terminantemente de sair da cidade pra seguir o que eu queria, eles não queriam que eu fosse ator. Pelo amor de Deus, eu queria/quero estudar artes cênicas, é pra isso que eu queria sair daqui! Se pelo menos eu dissesse que queria ir embora pra vagabundear numa cidade mais populosa tudo bem, mas eu quero estudar. Eles estão me proibindo de estudar, perceberam isso? É um absurdo. Mas eles não entendem, de jeito nenhum.
Eu saí de casa e liguei pra Ellen, era bom desabafar com ela quando essas coisas aconteciam. Mas nada dela. Quer dizer, quando eu tentei ligar pela terceira vez, ela atendeu bem educadamente dizendo “Porra, , eu estou ocupada! Liga depois, que coisa!” e desligou na minha cara. Já te disseram que bonzinho sempre se ferra? Pois é, eu sei bem disso. Eu sou aquele idiota que trata todas as pessoas com carinho e só recebo patada. Eu recebo patada porque as pessoas sabem que eu não vou retrucar e depois vou perdoar. Eu sou aquele bem idiota que espera muito das pessoas e recebe coisas tipo isso em troca.
Depois de ouvir as palavras dela e o ‘tu tu tu’ do telefone, percebi que eu ficava melhor com a minha própria companhia do que de qualquer outra pessoa.
Foi assim que eu fui andando até lugar nenhum. Aliás, eu parei numa sorveteria. Sim, o nome da sorveteria era ‘Nowhere’. Agora você me pergunta, “por que logo numa sorveteria?”. Fácil, ela estava lá.
Pois bem, eu entrei na sorveteria, escolhi uma mesa um pouco escondida, mas, mesmo assim, um pouco perto dela. Eu fiquei lá sentado igual um babaca olhando pra ela. Corrigindo o que eu falei: percebi que eu ficava melhor com a companhia dela do que de qualquer outra pessoa. Mesmo que só os meus olhos façam companhia, realmente, à anatomia dela.
Precisei de um tempo pra perceber que ela estava sozinha, bastante estranho por sinal. Talvez tão sozinha quanto eu. Talvez, se eu fosse falar com ela...
Aham, eu nunca iria falar com ela.
Como você pretende ser ator e ficar com essa timidez idiota?
O problema é que eu não estou atuando agora, com licença.
A minha consciência só piora as coisas, de vez em quando.

Então ela olhou pra mim. Olhou e fim. Foi rápido e quase não daria pra perceber se eu não contasse as horas pra isso acontecer e se eu não estivesse olhando obcecado pra ela. Ela deveria estar se sentindo incomodada e, por isso, olhou. Pelo menos olhou.
Eu queria incomodar, eu queria que ela percebesse tudo que eu sentia sem que eu precisasse dizer. Impossível. Na verdade, eu apenas queria que essa barreira não existisse, eu queria poder agir normalmente com ela, pelo menos não ter medo do fora que ela pode me dar. Eu só tenho medo porque eu sei que ela vai me ignorar porque ela não pode falar comigo por eu não ser do grupinho.
Então ela sorriu. Olhou pra frente, sorriu e fim. Foi perfeito como todos os outros sorrisos tímidos que ela já deu na vida. Aliás, foram pouquíssimos. Eu tive a honra de presenciar aquela raridade de sorriso para mim.
Para mim.
Meu sorriso nervoso se projetou como resposta. Deve ter sido ridículo, tanto que ela olhou para baixo imediatamente. Era um livro de história por cima da mesa dela? Era a pior matéria na opinião dela e só faltou jogar uma panela de água fervente no Mr. Crownwell quando ele deu 2,5 na nota do último teste dela. Aliás, eu já bolei 357 planos pra perguntar se ela queria ajuda. Não pergunte se algum deu certo. Até parece que eu ia chegar de repente na mesa dela e dizer alguma coisa, assim, do nada.
- Oi. – Então ela chegou assim, do nada, na minha mesa e disse oi. Disse e fim.
- Oi. – É só agir naturalmente.
- Posso me sentar aqui com você? – Ela perguntou tudo que eu estava querendo perguntar a ela há 5 minutos atrás. – Quer dizer, você pode me ajudar? Porque nem adianta eu ficar aqui se você não tiver tempo ou não quiser. Ai, desculpa, eu to sendo muito direta, né? Tá, eu to falando demais.
- O que você quer? – Eu sei estragar tudo em dois segundos. – Digo, desculpa, eu não queria que isso soasse grosseiro. – Recorde, 9 palavras!
- Não, tudo bem! Eu... preciso de ajuda em história. – Ela estava com vergonha. Pelo menos eu não sou o único, apesar de estar mil vezes mais tímido que ela. E, perceberam? Bolei meus 357 planos à toa.
- Eu posso te ajudar.
- Sério? Ótimo, dá licença. – Ela se sentou do meu lado (gostaria de frisar: do meu lado) e começou a tagarelar. Pois é, a vergonha dela passou em três segundos. Mas isso eu já sabia que aconteceria.
A única coisa que eu não sabia é que, a partir daquele dia, eu passei a gostar muito mais dela e eu sei que ela também gostou de mim. É, ela gostou!
E a única coisa que eu ainda achava impossível é que eu chamaria isso de amor logo, logo.
All of your friends don’t know who I am, I’ve been your best kept secret

Nós continuamos nos encontrando e eu não trocaria os momentos ao lado dela por nada. Mesmo que ela fique sempre olhando pros lados para se certificar de que não havia ninguém vendo que ela estava andando comigo, mesmo que ela tenha que ficar atendendo os telefonemas do namorado na minha frente, mesmo que ela só precise de história e eu precise dela.
De qualquer forma estava maravilhoso.
Mais maravilhoso foi quando a gente se beijou pela primeira vez. Eu queria frisar essa parte novamente, mas eu não vou escrever de novo porque sempre que eu falo/lembro/escrevo/penso nisso eu fico rindo igual um idiota e, sério, eu estou virando um viadinho de primeira, me queime.
Pois bem, ela traiu o namorado dela comigo. Valeu, chifrudo. E não foram poucas vezes não, colega, há. Por isso eu digo que ela gostou de mim, ela não fugiria dos amigos e do namorado fodão (pff, entre fodão chifrudo e loser-cocô-do-cavalo-do-bandido, sou mais eu, hein) à toa. Aliás, ninguém ficaria com um cara-fracasso à toa, convenhamos. Imagine aquele piorzinho do seu colégio, com os óculos tortos fundo de garrafa, cara de tubarão, roupas à moda ‘mamãe, nasci nos anos 50’ e dentes imensos alaranjados.
Observação importante: eu não sou assim, ok, obrigado.
O que eu sei é que ela tinha um motivo e não era aposta, pelo amor de Deus.
E o que vocês ainda não sabem, queridos: ela terminou com o namorado dela um pouco depois. Ahaaam, é disso que eu to falando, ela me ama! Daqui a pouco ela vem aqui e diz que fez tudo isso (sim, tudo isso, porque a mãe dela é o cão, vou te contar. Oi, sogrinha) por mim! Aquelas baboseiras de ‘não vivo sem você’ e pronto, viveram felizes para sempre. Eu até escreveria um livro infantil. Oi, Madonna.
1...2...3...4...5... De volta à sanidade.
Não foi nada disso que aconteceu.

Your mother complains that you need a man, you haven’t mentioned me yet

Depois que ela terminou com o touro lá, a gente se via com um pouco mais de freqüência. Quando digo isso estou querendo dizer fora da escola, até porque lá dentro eu nem ouso chegar perto dela. Eu respeito o fato de ela querer distância. Eu sei que eu sou idiota, porra, me esquece.
Mais um dia de colégio e, mais uma vez, escutei a conversa dela num momento do intervalo em que consegui me aproximar. O bom de ser loser e andar com poucos naquele colégio (aliás, eu to puto com a Ellen até agora. Bom, mesmo assim, se ela me pedisse desculpas, eu tenho certeza que perdoaria. Otário) é que você passa pelos lugares sem nem ser notado. Enfim, dessa vez a conversa me atraiu mais porque eu ouvi meu nome.
- Mas por que isso? – A amiga dela perguntava.
- Minha mãe de novo. Você ta muito estressadinha ultimamente, ta precisando de um namorado! Quando estava com o Matt não era assim. – Ela imitou a ‘voz’ da mãe. – Ela me irrita demais.
- Por que você não falou do ? – Uma pelo menos sabia de mim, uau, isso que é avanço.
- Tá maluca? Ela morre se souber que eu falo com alguém como ele. Aliás, ela me mata antes.
- Isso é tão ridículo! – Boa, fulana. – Você não disse que ele é todo fofo com você? Entre um fracassado e um cara como o Matt, muito mais o fracassado. – Cara, eu amo essa garota mais que tudo. Desculpa, .
- Fala isso pra ela, ela te espanca.
- Por acaso você já disse pra ela que o Matt tentou te agarrar a força? Isso é estupro, sabia? – Filho da puta! Dez vezes! Caralho, que ódio, me enforque. Mas enforque ele antes.
- Não e nem vai saber. E ninguém vai saber, entendeu?
- Enfim. Presta atenção, não é do que você gosta? – Claro.
- Não.
- O quê? – O QUÊ?!
- Sei lá, sabe... Eu pensei bastante nisso ultimamente.
- E...? – Explique-se bem, minha filha.
- E eu fico em dúvida sempre. No começo eu queria só fugir dessa vida quadrada que eu tenho, tudo privado, eu só posso ficar com esse, esse e esse e pronto. Aí depois... Ele foi diferente de todos, fato. Ele é o garoto mais fofo que eu conheço, mas não sei se vale tudo que eu jogaria pro alto pra ficar com ele. – Outch.
Depois disso eu saí dali. Sabe, chega. Se ela quisesse falar comigo que falasse, se ela quisesse sair comigo que ligasse. Eu não vou mais correr atrás.
A amiga dela que me aguarde. Ok, mentira.
Eu quero que o meu lado bonzinho se foda.

Did you expect to kiss me one time while looking at me with the same eyes ever again?;

Então acabou. Pois é, a alma do ‘relacionamento’ era eu. Se eu não falava com ela, póft.
Eu fingia não ligar. Ela me olhava no colégio, eu via. Aquele mesmo olhar que ela me lançava quando a gente saía e passava as melhores tardes e noites juntos.
Depois de três dias nessa mesma palhaçada de olhares idiotas pra lá e pra cá, eu tomei uma atitude (grande atitude, aliás). Fiz e fiquei escondido esperando ela perceber.
Depois de uns 10 minutos lá, ela chegou ao armário dela pra guardar os livros e pegou alguma coisa lá dentro. Yes, meu papel.
Observei enquanto ela lia meu grafite dizendo “Você queria me beijar enquanto me olhava com aqueles mesmos olhos de novo?”. Bom, parece que ela leu e releu várias vezes. Depois ela me viu escondido perto dali, saiu correndo e me abraçou.
Você não acreditou, né?
Pois é, esquece aquele final feliz. Depois que ela ficou com o papel por minutos na mão, eu pude vê-la sussurrando um ‘meu Deus, esquece isso’. O que, ela queria que eu esquecesse a gente? Aham, estalo meus dedos, pláft, esqueci. Uma outra amiga dela chegou perto e falou com ela. Assim, ela amassou o papel e saiu andando com a garota. Depois, acho que a amiga dela perguntou o que era aquilo. Ela deve ter dito simplesmente que era nada e jogou o papel no lixo mais próximo.
Dessa vez eu juro que desisto.

I understand I wasn’t part of the plan; a dollar short, a minute early, but I am your man. So come on and face it

Ainda com essa coisa toda na cabeça, tinha uma bosta de prova de matemática no dia seguinte. Ela já não era lá muito simpática comigo, pensando em coisas desagradáveis (eu nunca me imaginei dizendo que pensar na era desagradável) ficava pior ainda. Concentração zero.
Adivinha onde eu fui parar? Pois é, ‘lugar nenhum’.
Pelo menos se eu não conseguisse estudar, eu teria mais coisas à minha volta pra pensar do que nela.
Enfim. Eu fiquei ali por horas. Já tinha até desistido de entender qualquer coisa que eu lesse naquele livro imenso, ficava só folheando as páginas.
Então apareceu uma sombra na página que eu lia. Apareceu e fim.
Levantei meus olhos e pude ver o que eu já sabia, só queria ter certeza.
- Oi. – Ela disse olhando bem no fundo dos meus olhos e eu voltei a olhar pro livro. Ela me deixava nervoso quando olhava assim.
- Cansou da sua vidinha de novo e veio falar comigo?
- Eu te segui, queria falar com você. – Parece que ela não ouviu nada do que eu falei.
- Grande hora pra isso. – Eu disse apontando pro livro de matemática.
- É rápido, eu te ajudo com isso depois, se quiser. É uma forma de te agradecer por ter estudado comigo também. – Ah, ta bom, querida, o que a gente menos fez foi estudar.
- Fala, o que é? – Não tirava os olhos do livro.
- Você ta tão diferente...
- Obrigado, mas espelho eu tenho em casa, era só isso?
- Não fisicamente... Você não é o mesmo que eu conheci há um mês atrás.
- As pessoas podem mudar como estações do ano, você deveria saber disso. Até porque, no seu mundinho, o que mais acontece é gente parando de falar com você por qualquer coisa boba.
- Eu sei disso, mas você não vive no meu mundinho. – Ela disse isso com uma cara esquisita. – Foi por isso que eu gostei de você.
- Não, você me usou pra ver como era a vida fora da sua toca.
- Olha, tudo bem, eu sei que você ouviu a minha conversa com a Mell. Eu sei que você não precisava ouvir certas coisas, mas eu pa...
- Lógico que eu precisava ouvir! Eu ia continuar sendo o otário que morre apaixonado por uma garota sem nunca ser amado de volta? – Eu não precisava mesmo ter falado exatamente o que eu sentia, mas agora já foi.
Ela ficou um tempo calada e eu voltei a olhar pro livro. Matemática era bem interessante agora.
- Eu parei pra pensar em tudo que eu falei pra ela hoje depois que eu vi você saindo. – A voz dela era mais meiga agora. Como ela consegue falar todas essas coisas olhando nos olhos, cara? Na situação dela eu já teria saído correndo gritando ‘socorro, tem um loser apaixonado por mim!!’. Qual é. – Eu percebi que eu tinha falado demais e que certas coisas estavam totalmente erradas... Ainda mais depois do bilhete que você me mandou.
- Que você disse pra eu esquecer, amassou e jogou no lixo. – Ela deu um longo suspiro. Eu olhei pra ela, que baixou os olhos. Finalmente. – Olha, como você disse, esquece. Esquece tudo isso que eu vou esquecer também. Aliás, eu já to esquecendo, então dá licença que eu tenho que voltar pra casa.
- Me escuta...
- Me escuta você! – Ela levou um susto, eu nunca aumentava minha voz assim. Muito menos com ela. – Eu entendo que eu não fazia parte do seu planinho que ficar com os ‘bons’ – fiz aspas com as mãos – do colégio, eu sei que eu entrei na história por ironia do destino. Eu não sou rico, eu não tenho pais de alta classe, eu não sou do seu grupinho, eu não sou inteligente, eu sou um merda, mas eu fui o cara que você gostou de verdade e isso não é pretensão da minha parte! Eu te conheço como a palma da minha mão e só eu sei quando os seus olhos brilham mais porque só eu fiz eles brilharem desse jeito. – Parei de falar um pouco, já estava ficando tonto. – Encara isso logo. Boa noite.
Saí andando o mais depressa que pude com uma imensa vontade de chorar. Quando eu digo que to virando um gayzinho idiota eu realmente digo a verdade.

The bottom line is laying in the bed that we’ve been playing in tonight

- Espera! – Que parte do ‘boa noite’ ela não entendeu?
Ela estava correndo, eu ouvia o barulho dos passos dela. Eu só andava rápido. Eu estou virando gay, mas ainda na corro de mulher.
- O que mais você quer? – Parei e depois de alguns segundos ela estava em minha frente novamente.
- Me deixa pelo menos te ajudar com a matemática. – Ela falava enquanto tentava recuperar o fôlego.
- Não faço a mínima questão, obrigado. – Recomecei a andar e ela veio atrás de mim.
- Meu Deus, pára de ser cabeça-dura! Eu só estou querendo te ajudar e eu não vou desistir disso até conseguir!
- Ok, você não fala mais comigo depois disso, então? – Doeu perguntar isso. Doeu mais que tudo, mas eu teria que arranjar uma forma de esquecer tudo.
- Mas...
- É a minha condição. – Aliás, de onde eu estava tirando tanta coragem e palavras tão frias e secas?
- Então não. – Como?
- Como assim?
- Eu prefiro poder falar com você outras vezes do que terminar aqui.
- Terminar o quê? – Eu ri. – O que nem começou?
- O que a gente passou foi nada pra você? – Foi sim, querida, eu passei anos da minha vida fazendo 357 planos mirabolantes pra falar com você por nada. Pirei total o cabeça, uhum.
- Não interessa o que foi pra mim se não foi nada pra você. Eu quero distância agora.
- Não vai conseguir.
- Olha aqui. – Acho que ela se assustou de novo. Ui, malvadão. – Por que, hein? Se não foi nada, por que você só não me deixa ir embora? Por que você insiste nisso? Você gosta de ver os outros sofrendo por sua culpa? É legal, tipo, é uma tara sua? Porra, me deixa em paz!
- É porque eu gosto de você! Que merda, será que não deu pra entender ainda? Depois que eu vi que existem pessoas como você e que a minha vida pode ficar feliz assim pra sempre, eu não quero mais outra coisa, eu quero você!
Volta, volta, volta, volta! Você não vai chamar o seu lado sentimental de novo, vai? Não, volta! Imbecil, o que você ta fazendo? NÃO OLHA PRA ELA ASSIM! Sério, eu desisto de você.
- Você sabe a matéria?
- O quê?
- Matemática.
- Ah... – Ela esperava que eu ajoelhasse na frente dela, dissesse coisas bonitas, terminasse em um ‘eu te amo’ e um grande beijo como final feliz, uhum, meu lado sentimental não voltou com força total. – Sei sim.
- Tem problema ser na minha casa, agora?
- Não! Nenhum.
- Ok. – Saí andando sem nem esperar por ela, mas, mesmo assim, lá estava ela andando rápido nos seus passos curtinhos pra me acompanhar. Eu amo essa garota. Amo e fim.
Depois de um tempo, já estávamos em casa com livros e cadernos espalhados na mesa à minha frente e ela sentada ao meu lado falando, falando e falando.
Eu não estava dando a mínima.
Pro que ela falava, claro. Eu só prestava atenção nos movimentos dela.
Eu disse que o meu lado sentimental não tinha voltado com força total, mas voltou em prestações. Não sei o que é pior.
Eu só sei que, como eu já disse antes, a gente não conseguiu estudar muito.
Se é que vocês me entendem.
A intensidade de tudo aumentou, o calor da casa aumentou e a gente acabou parando no meu quarto. Eu tenho que me lembrar de agradecer minha mãe (que, aliás, deve estar no pagode dela junto com o meu pai) por ter arrumado isso aqui mais cedo. Imagina a má impressão... Aí sim que ela ia sair correndo gritando ‘socorro! Tem um loser nojento tentando me agarrar!!!’. Se bem que eu acho que ela estava mais... interessada em outras coisas, não no estado do meu quarto.
Quando ela terminou de tirar minha blusa, cortou o silêncio (entre aspas, por favor) dali.
- Seus pais não estão aí, né?
- Não. Mesmo se estivessem, eles não viriam aqui.
- Ok.
Ela estava tremendo. Não daquela forma que todos perguntariam se você está passando mal. Eu só percebi porque eu estava bem – bem – perto dela. Então, quando eu estava prestes a tirar a calça dela, foi a minha vez de falar.
- É isso mesmo que você quer? Eu não quero que você se sinta obrigada a nada...
- Eu não faço nada por obrigação. Achei que você soubesse.
E eu sei.
Como também sei que aquela noite e aqueles momentos foram as melhores coisas da minha vida.

Let's bypass the bullshit and move on because the minute hand moves faster than you think it does

Então eu descobri que aquela tinha sido a primeira vez dela. Descobri e fim.
Tem noção da minha cara de (mais) bobo? Tinha pulga no meu estômago, cara.
Foi um sinal que pra ela eu não seria só mais um, só aquele idiota que ela usa pra esquecer as coisas dela.
Ela não demonstrou que gostava de mim tanto quando eu gosto dela. Na verdade, ela não falou nada. Só depois de muito tempo, depois que já estávamos vestidos novamente, é que ela foi abrir a boca.
- A gente podia deixar o passado de lado e começar do zero. Não adianta você continuar com essa palhaçada de não querer falar comigo.
- Mas eu estou falando com você!
- Eu estou vendo... – Que ironia, adoro, nem te conto.
- Eu não disse nada até agora porque você não disse nada. Eu não tenho o que falar.
- Não importa. Eu to tentando melhorar as coisas, só isso.
- Pra mim já estava tudo melhor entre a gente.
- Mas não está! Eu sei que você vai continuar com isso.
- Pra que ficar discutindo agora? Olha o tempo que a gente está desperdiçando! Tudo bem, vamos lá. Eu sempre entendi que eu tenho que me manter afastado de você no colégio, ok. Eu sei que você não quer ficar comigo permanentemente, ok. Eu sei que não foi culpa sua nem minha, mas eu gosto muito de você e eu não vou desperdiçar esses momentos só por essas coisas mínimas.
- Eu só peço um pouco de tempo... Um pouco mais de tempo e, quem sabe, a gente consegue ficar junto de vez.
- Eu já estou te dando esse tempo, eu vou esperar por você. – Sabe, nem sempre os bonzinhos se ferram no final. Com o abraço que ela me deu depois que eu disse isso, eu vi que ela, um dia, poderia me amar da forma que eu a amo e da forma que eu sempre quis que ela o fizesse.
Ela disse que teria de ir embora e eu a acompanhei. Até parece que eu ia deixar a minha menina andando a essa hora pela rua, sozinha.
Passou um homem por nós e, por um momento, eu achei que ele queria nos assaltar. O que me assustou mais é que ela ficou mais firme que eu, acho que eu vou assumir logo que sou gay.
Não, depois dessa noite eu tenho certeza de que não sou. Nada de rizinhos.
O cara começou a falar um monte, disse o nome, idade, nome da mulher e das filhas. Contou que trabalhava sei lá onde, mas não sei quantos por cento foram despedidos. Eu estava me perguntando ‘e eu com isso?’ a cada coisa que ele dizia e queria sair dali, mas ela parecia tão entretida e comovida com a história dele que eu fiquei lá só pra vê-la com aquela cara. Linda demais, pelo amor de Deus.
Depois de falar por cinco horas, o cara colocou cinco quilos de cartão na minha mão. Sabe cartão de aniversário bem clichê com um cachorrinho peludo-ai-minha-alergia na frente? Pois é, esse mesmo. Tinha mais de mil ali, dá licença.
O primeiro da pilha tinha um cachorro com cara de cachorro pidão (olha só que belo trocadilho) dizendo “A little time...”. Infelizmente não dava pra ler o que dizia dentro porque minhas mãos estavam ocupadas com os cinco quilos de cartão.
A cara dela tava tão linda e radiante que eu não agüentei. Peguei esse primeiro mesmo, dei dinheiro pro cara, ele agradeceu até a minha tataravó e foi embora. Depois, dei o cartão pra ela que me olhou com uma cara que merecia uma foto pra colocar num outdoor com uma legenda ‘a garota mais linda do mundo’.
Sou idiota, mas sou feliz.
Então, ela abriu o cartão. Abriu e fim.
A frase completa era “A little time and I’ll make you mine”. Esse cara merece um beijo na testa, a frase caiu como uma luva. Um beijo na testa, porra, eu não sou gay.
Ela me olhou de novo, sorriu (um daqueles sorrisos tímidos perfeitos) e me abraçou. Ali eu pude sentir novamente que tudo que eu sonhei poderia ser real um dia; todos os meus 357 planos valeram a pena por terem aumentado minhas expectativas e tornado esse momento tão perfeito.
Nos últimos segundos de abraço, eu falei no ouvido dela “It’s not about you now, it’s what we are”. Ela sorriu e me deu um beijo.
Continuamos caminhando para lugar nenhum. Dessa vez não era a sorveteria. O último lugar que queríamos chegar era à casa dela. Paramos num parque, que nem muita iluminação tinha, nos sentamos num banco e ficamos do jeito que um casal de namorados costuma ficar. Só faltava ela gostar de mim o suficiente pra que a cena fique certa.
- Eu te amo, . – Então ela disse.
Disse e fim.


FIM.



Nota da autora: oi! Eu nem sei o que falar. Dessa vez eu gostei da fic, mesmo que ninguém goste eu to orgulhosa dela! Até porque é raro eu conseguir escrever alguma coisa romântica, mas enfim. Obrigada a você que leu. Se encontrar algum erro, achar alguma coisa sem nexo ou até quiser me parabenizar, deixe nos comentários ou mande um email para mim.
É só! Espero que tenham gostado disso aqui, e pra quem não ouviu essa música, ouça. É bonitinha, hahaha.

Küsse,
alê.

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