Capítulo 1 – Death Said A Morte disse
Tom chorava alto, tentando desvencilhar-se dos braços do
pai.
A gritaria daquele lugar estava deixando-o confuso, sua
cabeça começava a rodar e doer, enquanto vozes ecoavam dizendo coisas sem
sentido.
A vermelhidão e o inchaço dos olhos estavam mascarados
pela luz quente e alaranjada que interrompia a escuridão daquela noite. A lua
brilhava cheia no céu sem, naquela ocasião, chamar nenhuma atenção.
Todos os moradores daquele bairro estavam com os olhos
fixos na grande casa em chamas, a sua frente.
- Eles vão achá-lo, querido, tenho certeza disso. – disse
sua mãe, chorando junto.
O menino gritou alto, fazendo força para sair do abraço do
pai.
Seu desespero chamava tanta atenção quanto a ambulância a
frente da casa que socorria duas das quatro pessoa que, anteriormente, estavam
ali dentro.
Um homem e uma mulher tinham leves quiemaduras e algumas
poucas escoriações pelo corpo, mas estavam concientes e bem, exceto pela
preocupação com uma terceira pessoa.
Thomas Fletcher, estudante de uma universidade londrina,
era uma das quatro pessoas que estavam ali dentro, e de todas, a mais segura.
Ele e os amigos haviam ido passar a passagem de ano na
fazenda de seu avô a dois dias, mas na casa dos pais de um desses amigos, as
férias haviam perdido completamente o sentido... Ou pelo menos estavam
perdendo.
Ele queria vê-lo bem, vê-lo a salvo, mas os bombeiros
pareciam ter entrado lá há séculos e nada de notícias.
Na lateral direita da casa ouviu-se um alto estrondo e
calou a todos os espectadores da tragédia, que antes gritavam, e em seguida
houve uma explosão naquele lado.
Era como se uma enorme baleia de chamas saltasse
subitamente do chão, dando uma investida na parede da casa e, assim,
destruindo-a.
Ouvia-se então apenas o som das labaredas queimando a
madeira.
Tom gritou novamente, quase sendo chegado pelas próprias
lágrimas. Ele, usando as últimas forças de seu corpo exausto, desvencilhou-se
de seu pai, correndo em direção a casa em chamas, que agora parecia um grande
titã de fogo, diante dos meros olhos mortais daqueles cidadões que não ousavam
desafiá-lo.
Ele chutou a porta, que facilmente caiu no chão, quebrada.
Sentiu-se, então, no próprio inferno. Só se via restos do
que já haviam sido móveis e a estrutura de madeira da casa, agora fraca e
degradada. O vermelho e amarelo pareciam difundir-se sem nenhuma distinçãos
diante dos olhos do rapaz.
Ele gritou pelo nome do amigo, desesperado, mas não ouve
resposta.
Correu então ao andar de cima, tomando cuidado na escada
despedaçada que já caia sozinha.
Correu pelo corredor suspenso do segundo andar, escapando
de estacas em chamas por pura sorte. Sentia-se como se houvesse alguém junto de
si, exatamente ao seu lado, afastando todo o perigo que ousasse ameaçar sua
vida.
Abriu a porta do quarto do amigo com um empurrão e parou
de súbito, completamente paralisado, debaixo do batente quiemado. Era como se
estivesse debaixo de um arco em chamas, vendo algo que seus olhos denunciavam,
mas sua mente não queria aceitar.
O corpo de um dos seus melhores amigos, da pessoa que
faltava do lado de fora da casa com ele, jazia no chão em meio ao fogo. As
roupas estavam rasgadas e a mão direita tinha uma marca enorme de quiemadura,
uma circunfência levemente deformada que fez Tom supor que o amigo tinha
tentado escapar e acabara ganhando a quiemadura ao tocar a maçaneta quente da
porta.
Seus olhos estavam fechados, mas seu rosto não expressava
nenhuma dor.
Tom deu um passo a frente, mas depois recuou, notando uma
enorme silhueta ao lado do rapaz. Era uma enorme sombra que parecia estar de
quatro, como um animal selvagem checando a vitalidade da sua presa.
O rapaz pegou um objeto qualquer em cima da cômoda e
atirou na sombra, chocando-se ao ver o objeto adentrar a escuridão do semblante
assustador, como se tivesse sido absorvido por ele.
O loiro chamou novamente pelo amigo, que não se mexeu. O
corpo parecia... Sem vida.
Corajosamente, deu um passo a frente, mas viu a sombra
levantar-se imponente e rugir alto, como um urso.
Não calculou-se nem uma fração de segundos entre o rugido
do animal, o grito do rapaz e uma segunda explosão, que jogo o corpo de Tom por
cima da cerca do corredor suspenso do segundo andar, fazendo-o cair direto no
primeiro, e ter sua visão apagada, primeiramente por um forte clarão vermelho,
e depois por uma densa escuridão.
-X-
- Tom? Você está bem? – perguntou um rapaz alto, de
cabelos castanhos e espetados, correndo atrás do loiro.
Ele não respondeu, apenas continuou andando. O amigo o
alcançou e pôs a mão em seu ombro, virando-o para si.
- Estou ótimo, Harry. – disse Tom, bufando.
O amigo fez careta ao ver os sete pontos no corte acima da
sobrancelha direita do rapaz e o pequeno curativo na bochecha esquerda. Sabia
que por baixo da camisa dele, seu tronco também estava enfaixado. Tom quebrara
duas costelas e por pouco não morrera três dias atrás.
- Não adianta você ficar assim agora, Tom. – Harry disse,
abaixando a cabeça.
Tom voltou a andar. O preto do terno, calça e sapatos
contrastava com o verde forte do chão, mas combinava perfeitamente com o
silêncio daquele cemitério.
- Eu simplesmente não consigo acreditar que isso tudo
aconteceu. – ele disse, parando de andar. – Sinto como se tudo isso fosse um
terrível pesadelo e eu não conseguisse acordar.
- Olha, sei que isso não é um lado positivo, mas ninguém
achou o corpo. Você sabe como ninguém que esse enterro foi meramente simbólico.
O loiro deixou uma lágrima descer pelo rosto, cabisbaixo.
- Eu já disse, Harry, eu vi o corpo dele! – disse em um
sussurro.
- Ah, você sabe o que o médico disse. Foi uma ilusão. Você
estava confuso, desesperado e alem disso machucado, viu algo que não estava
ali.
- EU VI ELE! – vociferou, levantando a cabeça para encarar
o amigo. – Harry, eu não sei como vocês todos estão encarando isso com tanta
facilidade, mas eu não consigo aceitar.
- É por isso que teima em ver algo que não realmente viu.
- Mais que merda, eu já disse, eu vi o corpo dele. – ele
gritou, chorando novamente. – Eu tenho certeza que vi. Vi o corpo, ali,
estirado no chão, completamente neutro, aparentemente sem vida, mas com uma
expressão calma. Harry, eu não me importo se o mundo inteiro achar que eu sou
louco, mas eu vi, é fato!
Harold Judd, um dos três amigos que haviam vindo com Tom
para a casa de seu avô, suspirou alto, tentando acreditar no amigo.
- O castiçal que você disse ter atirado nele também não
foi encontrado. Procuraram pela casa inteira e nada.
Tom bufou alto, puxando Harry pelo braço e fazendo-o
sentar-se no chão, entre duas grandes lápides de mármore.
- Harry, entenda uma coisa, eu não tenho certeza se era um
castiçal, eu nem ao menos prestei atenção! – ele explicou. – E eu não atirei o
suposto castiçal nele, atirei em um sombra.
- Mas você tinha dito que...
- Eu sei o que eu disse, mas o que você queria, que eu
fizesse os médicos me acharem louco?
Harry sentiu um aperto no peito. Aquela história toda
estava começando a assustá-lo.
- O que realmente aconteceu então?
- Eu cheguei lá e o vi deitado no chão, bem como contei, o
que não disse foi que havia uma sombra ao lado dele.
- Uma sombra?
- É, uma sombra enorme estava do lado dele, ela parecia
querer checar se ele estava morto ou não.
- Tom, você está me assustando, está realmente me
assustando.
- Eu juro! Eu não soube dizer o que era na hora, mas eu
posso jurar que era a sombra de um urso! Ele ficou me olhando quando eu
cheguei, parecia não querer que eu chegasse perto dele.
- Hum... E?
- E então eu atirei o tal castiçal nele e o negócio
simplesmente sumiu! Sabe, Harry, parecia que a sombra havia engolido
completamente o castiçal, como se tivesse absorvido ele. – Tom contava aquilo
com uma angustia que estava evidente em sua voz. – Eu fui dar um passo pra
frente, o animal rugiu e depois tudo apagou. Foi isso.
- Estranho, lá de fora nós ouvimos você gritar e ouvimos a
explosão também, mas em momento algum houve um rugido. – o rapaz calou-se por
um instante, pensativo. – Eu acredito em você, Tom, só queria entender por que
só você viu e ouviu essas coisas.
O loiro levantou os olhos para o céu, enquanto passava os
dedos no rosto, limpando-o das lágrimas.
'Cause all of the stars
Are fading away
Just try not to worry
You'll see them some day
- Eu também queria, Harry. Tenha certeza disso...
Capítulo 2 – Fate Destino
Dalles suspirou irritada, sentada no último banco do
ônibus.
- Certo, por que mesmo estamos indo passar as férias em um
vilajero do interior e não na praia? – perguntou , sentada ao lado da
amiga.
- Porque a tia dos dois aqui tem uma mansão na cidade e,
alem disso, porque a viajem pra cá sai de graça, enquanto uma para a praia ia
nos deixar sem dinheiro para viver.
- Ah, sim! Obrigada por me lembrar!
riu.
- Calma, gente, da última vez que eu vim aqui não era tão
ruim assim.
- , a última vez que viemos aqui foi há, pelo menos,
dez anos. – disse seu irmão, vindo da frente do ônibus e sentando-se com as
meninas.
- Obrigada por acabar com as minhas esperanças de ter uma
férias legal, . – disse .
O rapaz riu.
- Sabia que eu adoro o seu senso de ironia?
- Você está sendo ironico agora?
- Não, eu só...
- EI! Tive uma idéia, dudes! – exclamou , sentando
cuidadosamente no chão do ônibus em movimento. – Vamos jogar Fate Cubes!
e rolaram os olhos, e pulou para o chão
também.
- Dude, é por isso que eu te amo!
A irmã do menino riu.
- Gente, fala sério, vocês dois são as únicas pessoas no
mundo que compraram essa bosta de Fate Cubes. – ela disse, mas sentou-se no
chão também.
- Ah, come on, vai dizer que você não acreditam em
destino? – perguntou, tendo o apoio de .
- Não acreditamos que dados possam mostrar o destino! –
responderam e juntas.
Os outros dois, que já tinham seus dados na mão, puxaram
elas para a rodinha que eles formavam no chão e lhe entregaram mais dois dados.
- Right, dude, no três!
- Um... – eles fecharam as mãos com o dado dentro. –
Dois... – começaram a balançar os dados nas mãos. – TRÊS. – finalmente os
soltaram.
O dado amarelo de parou bem a frente de , o
vermelho de rolou para frente de , enquanto o verde de e o
azul de sairam quicando por debaixo dos bancos do ônibus, indo parar em
algum lugar na frente.
- Mais que merda!
- O da deu coração! – disse .
riu para a amiga.
- Coração é amor, benhê. Será que você vai encontrar seu
principe encantado?
- , faz um favor?
- Diz.
- Cala a boca.
- O que deu o da ?
baixou os olhos.
- O dela é um coração também, quebrado. Partido ao meio,
na verdade.
levou a mão ao queixo, pensativo.
- Isso é amor perdido. Você está gostando de alguém?
- Não que eu saiba.
O rapaz fez joinha pra menina, rindo.
- Então vai gostar de alguém... Mas não vai ficar com ele.
- Que ótimo. – ela disse ironica.
- Eu queria saber o que deu o meu. – reclamou ,
abaixando-se ainda mais para olhar por debaixo dos bancos.
- Foram lá pra frente. – disse, agachando-se no
chão.
Os dois começaram a engatinhas pelo caminho do meio do
ônibus, procurando pelos dados por debaixo dos pés dos outros passageiros.
A maioria das pessoas ali estavam dormindo, o que
facilitou para que eles não precisassem ficar pedindo desculpas ou parecerem
(ainda mais) ridículos.
e riam dos dois lá atrás, nem notaram quando o
ônibus começou a balançar-se de um lado para o outro.
O motorista devia estar querendo brincar com eles. Só
porque a pista estava limpa, lisa, seca e desmovimentada ele achava que podia
sair fazendo esses zig zags?
Um desses balanços fez cambalear para o lado e bater
a cabeça na lateral de um dos bancos.
- AI, PORRA! – ele levou a mão a cabeça, enquanto
virava-se pra ver se o amigo estava bem. – VOCÊ TIROU CARTEIRA DE MOTORISTA POR
ONDE? CORREIO? INTERNET?
A menina a sua frente começou a rir.
- Calma, .
O rapaz bufou e voltou a procurar o dado.
Chegaram na frente do ônibus e nada. A porta que dava para
a cabine do motorista estava entreaberta.
- Eu não acredito que as duas bostinhas passaram por aqui
e cairam lá! – reclamou.
- Vamos lá ver. – a menina lhe olhou estranho. – Qual é?
Você acha que depois do galo que ele me deu, ele tem algum motivo pra reclamar
comigo?
- Se você diz que não... – ela riu e empurrou a porta de
leve, ainda abaixada.
O amigo engatinhou até a cabine do motorista e olhou para
a escada por onde se entrava e saia do ônibus.
- Achei, estão lá embaixo.
A menina retribuiu o sorriso, fazendo-o corar.
- E ele nem disse nada.
O rapaz concordou, virando a cabeça para o motorista.
Nos segundos que se seguiram ele apenas teve tempo de
empalicer e olhar para , assustado.
- SE SEGURA! – ele gritou, acordando dois ou três
passageiros.
apenas obedeceu e, no segundo seguinte, antes que o
próprio pudesse se erguer, o ônibus deu forte solavanco, jogando o corpo
do rapaz pela escada de entrada.
As duas meninas do fundo do ônibus gritaram, acordando
algum dos passageiros.
- ! – gritou, aterrorizada.
Ela levantou-se cambaleando para frente e viu o motorista
desacordado, com a cabeça pendendo para trás.
Olhou para o lado oposto e viu o amigo levanta-se do chão
com dificuldade, com um pequeno corte no rosto.
- Senhor, senhor acorda. – ela disse aflita, balançando-o.
O corpo do homem caiu em cima de um painel ao lado do
volante, com vários botões.
Ela olhou pra frente e viu que haviam saido da estada. Sua
mão tremia em desespero.
O veículo agora andava por uma estrada irregular de terra,
prestes a entrar no mato. Viu o ônibus cair em um grande buraco com uma das
rodas e novamente pular alto no ar.
Uma mulher ali gritou. O ônibus estava quase vazio e os
poucos que ainda dormiam, finalmente acordaram.
Os pneus dianteios voltaram ao chão com força e dentro do
ônibus tudo tremeu.
A porta atrás de abriu de supetão e a força da
pressão e do vento de fora puxou o corpo do rapaz com força para fora da
cabine.
- CUIDADO! – ela gritou.
Ele tentou correr escada acima, mas escorregou e caiu no
não, deixando o corpo ser sugado quase totalmente para fora do ônibus.
Com um velocidade que nunca julgara ter, segurou as bordas
de borracha da porta e, com um pouco mais de esforço, conseguiu lançar a mão
esquerda ao corrimão da escada, segurando-o firmemente.
desceu dois degraus com cuidado, esticando-se para
pegar a mão do amigo.
- Para o ônibus. – ele disse.
- , você vai...
- , vai parar o ônibus. – ele repitiu.
Ela levantou a cabeça e olhou pelo vidro dianteiro, vendo
uma enorme árvore na direção exata do ônibus.
Ela voltou ao volante e tentou virá-lo, mas não conseguiu.
Olhou para baixo e um dos braços do homem estava entrelaçado ao volante e a
perna direita ainda pressionava o acelerador.
Ela abaixou-se e tentou passar por debaixo das pernas
dele, tirando seu pé dali. O desespero começava a impedí-la de raciocinar.
, no fundo do ônibus, olhou para em desespero.
- Cadê meu irmão? Eu não to vendo ele. – disse aflita.
- Eu não sei... Eu...
Antes que ela pudesse responder o ônibus pulou novamente e
então pode ouvir um grito vindo da frente do ônibus. Um grito grave o
bastante para ser de .
Sem pensar duas vezes ela saiu correndo pelo ônibus com
no seu encalço.
- O que acon... – ela olhou e depois para a porta,
parando de falar para gritar assustada.
- A gente precisa parar essa coisa! – a menina gritou,
ainda tentando tirar o pé do homem do acelerador, mas não conseguindo
alcançá-lo.
- Eu...
- Ajuda ela. – disse . – Eu puxo o .
Segurou-se com uma mão na borda da porta que dividia a
cabine do resto do ônibus e então esticou-se para pegar a mão do rapaz.
A sensação de estar sendo sugado para fora era simplesmente
horrivel. sentia-se tonto e com uma certa vontade de vomitar. A sensação
dava a impressão de que seus orgãos internos estavam sendo puchados para
debaixo da cintura. O coração batia forte, doendo dentro do peito.
Ele fechou os olhos, até sentir a mão de conseguir
tocar a sua.
Sorriu amarelo para a amiga, que agora conseguia segurar
firmemente a sua mão. Nem assim deixou de segurar o corrimão da escada.
- Consegui! – gritou , finalmente sentindo a
velocidade do ônibus diminuir ao tirar o pé do motorista do acelerador.
olhou pelo vidro.
Ele não pararia a tempo. Mesmo diminuindo a velocidade ele
bateria na árvore e então, dificilmente iria sobrar um deles para contar
história.
- Aperta o freio! – gritou para .
- O que?
- Aperta o maldito freio.
A menina olhou para lá, sem saber mais qual era o freio.
Fechou os olhos e apertou com força o mais proximo de si.
- Eu não vou mais aguentar! – gritou.
O braço queimava em dor. Sentia que a qualquer momento
podia rasgar-se diante de seus olhos.
Os pneus do ônibus cantaram alto, parando de rodar, mas
ainda deslizando para frente.
pulou por cima do corpo do motorista, e do lado
oposto engatou o freio de mão.
- Abaixem-se!
Ela e esconderam a cabeça por entre os braços, de
olhos fechados.
lançou um olhar significativo a , e em seguida
a viu balançar a cabeça negativamente, com os olhos marejados.
Ele fechou os olhos e ela fez o mesmo.
Esperaram 1, 2, 3 segundos. A velocidade parava
gradativamente. 4, 5, 6 segundo e pôde sentir a força que o puxava
diminuir ligeiramente.
Com esforço, conseguiu colocar o pé direito novamente no
ônibus. Puxou com força o corrimão e deu um forte impulso com pé, sentindo seu
corpo finalmente voar para frente.
Ele trombou em e segurou a amiga, rolando pelo chão
com ela até e . Os quatro encolheram-se, esperando pela batida.
O ônibus andou alguns segundos a mais, fazendo-os
perguntarem a si mesmo quando ele iria parar.
Com uma baixa velocidade, o ônibus atingiu a árvore.
Eles sentiram a força fraca do impacto os empurrarem de
leve, mas sem fazê-los sair de onde estavam.
O ônibus havia, finalmente, parado.
Os quatro levantaram a cabeça e respiraram fundo.
- Essa foi por pouco... – disse .
- Muito pouco... – o irmão lhe assegurou.
Capítulo 3 – I think we’ve already lose it Eu acho que já perdemos
enrolou-se no cobertor, se sentando com ,
e na traseira da ambulância.
Eles ainda estavam no meio do mato, a policia havia sido
chamada por um dos outros passageiros e havia chegado a pouco tempo. Eles
estavam averiguando o que tinha acontecido e enquanto isso os quatro estavam
apenas esperando. Um dos policiais estava pedindo algumas informações,
prometendo deixá-los em segurança.
O tempo havia esfriado subitamente e agora os três estavam
congelando.
- Então vocês têm algum parente aqui? – perguntou um dos
policiais.
- Já disse que sim. – repetiu, impaciente.
O policial a olhou feio e deixou que ela, e
entrassem na ambulância para se aquecerem.
- Então... – disse, olhando por cima dos óculos
escuros.
- Então... Ela disse que sim, porque sim...
- Ela é o que sua?
- A , minha irmã, a e a são amigas...
O homem anotou alguma coisa numa prancheta e olhou
novamente para o rapaz.
- Tem algum parente aqui?
- Meus tios... E meu primo, claro. – o outro respondeu.
- Sobrenome?
- Dalles.
O homem mordeu a caneta, pensativo.
- Não conheço ninguém de sobrenome Dalles.
revirou os olhos, impaciente.
- O senhor conhece a cidade inteira, por acaso?
- É apenas uma vila, garoto, se você tivesse um tio, de
sobrenome Dalles, dono de uma mansão, eu saberia. – o policial disse,
firmemente.
- Ah, sim! Mas isso é por causa do outro sobrenome... Meu
nome completo é Dalles Jones, o da minha irmã é Dalles Jones, mas o
sobrenome que dividimos com meus tios é Jones. Meu primo tem a minha idade,
chama Daniel, Daniel Jones. – o menino explicou.
- Você é sobrinho do Jones? – o policial perguntou, com
certo desdém na vóz, novamente olhando por cima dos óculos escuros.
bufou. Aquilo estava irritando-o.
- Sim, sou sim. Ele é irmão da minha mãe. Tenho minha
indentidade aqui, se quiser ver.
- Não preciso...
- Então pode nos levar a casa do meu tio?
- Infelizmente não, mas levaremos você aos seus tios.
franziu o cenho.
- E meus tios não estão na casa deles?
O homem suspirou e tirou os óculos, encarando como
se tivesse pena.
- Avise sua irmã que vamos agora e venha comigo na cabine
da frente, tem algumas coisas que você deve saber.
confirmou com a cabeça, seguindo o policial.
-X-
pôde sentir a ambulância parar em um certo ponto
da sua conversa com e . Elas ouviram a porta da cabine da frente
bater e olharam apreensivas para a porta de trás.
Ela abriu, deixando pouca claridade entrar. Já estava
anoitecendo.
estendeu a mão para elas, cabisbaixo, e as ajudou a
desder.
- Essa não é a casa do tio. – observou.
- Não... É a fazenda dos Fletcher, uma família rica da
região também.
Ele se virou, saindo de perto da ambulância e rumando para
dentro da enorme fazendo.
- Por que não estamos na casa do seu tio? –
perguntou.
- A familia daqui é amiga do meu tio e da minha tia. – ele
respondeu, vagamente, sem olhar pra elas. – Eles estão aqui.
suspirou alto.
- Bom, depois de quase morrer, eu só espero que tenha um
sofá bem confortável nessa joça... Mas muito confortável mesmo.
riu com .
apenas esticou os lábios, num risinho forçado. Ela
olhava de rabo de olho para , vendo o olhar vago do amigo.
Aqueles eram seus melhores amigos e ela os conhecia bem o
suficiente para saber quando havia algo de errado. E agora ela sentia que havia
algo de muito errado com .
Ela pôs a mão no ombro do amigo, chamando sua atenção.
- ? O que aconteceu? – perguntou com a voz suave.
Ele se virou para encará-la.
Por um momento pensou em uma desculpa esfarrapada, mas
acabou desistindo. Sabia que não conseguiria convencê-la de que não havia
problema algum, se havia alguém para quem ele simplesmente não conseguia
mentir, era .
- Eu... Bom... – ele bagunçou os cabelos, como sempre
fazia quando estava nervoso. – Faltou dizer porque meus tios estão aqui...
A voz dele soou rouca e quase inaudível.
- Por que não disse? – perguntou, parando de rir.
o encarou, perguntando o mesmo ao irmão com o olhar.
- Vai, desembucha. – insistiu , aflita. – Ta
começando a me deixar nervosa, .
Ele olhou fundo nos olhos castanhos da irmã. Era incrível
como so dois conseguiam se entender sem dizer nada, sem nenhuma palavra. Tinham
suas brigas e discusões, como todo irmão, mas desde pequenos os dois se davam
muito bem, eles tinham uma espécie de sintonia, de “estação”, a qual só eles
conseguiam entender. Consiguiam falar com os olhares simplesmente porque um
conhecia cada tipo de olhar do outro traduzido em palavras.
então balançou a cabeça afirmativamente, entendendo
pelos olhos igualmente castanhos do irmão que algo sério estava ou tinha
acontecido.
respirou fundo.
- O tio e a tia estão aqui porque a casa deles pegou fogo,
. – ele disse calmo, deixando algumas lágrimas se formarem em seus olhos
enquanto os da irmã se arregalavam. – O policial me contou enquanto vinhamos...
Não sobrou nada. – ele fungou, enquanto a primeira lágima desceu pelo seu
rosto.
- Mas... Se eles estão aqui, ninguém saiu ferido.
Essas palavras surtiram um efeito drastico sobre seu
irmão. As lágrimas finalmente corriam livremente pelo seu rosto.
But my God woke up
On the wrong side of his bed
- O Danny... O Danny estava dentro da casa quando ela
explodiu pela última fez. – ele disse, e então viu a irmã começar a chorar. –
Depois disso, não acharam mais ele...
Ela ficou digerindo aquela informação por alguns segundos
e depois desabou a chorar, sendo rapidamente abraçada por .
Little by little
The wheels of your life
Have slowly fallen off
e também juntaram-se ao abraço.
Não conheciam o primo dos dois irmãos, mas para elas, doia
bastante somente vê-los naquele estados.
Capítulo 4 – Vision Visão
- Oh, querida, vai ficar tudo bem. – disse a tia de
e , abraçando a sobrinha já
dentro da casa da fazenda.
O tio sentou-se no sofá, olhando
nos braços da esposa e
sentado no sofá da frente, chorando enquanto segurava firme na mão de .
Na grande sala havia também mais três garotos que nenhum
dos quatro amigos conheciam. Um loiro, um de cabelos castanhos bem claros, e um
outro de cabelos escuros. O do meio parecia ser da mesma idade que os quatro
ali, enquanto os outros dois eram, claramente, mais velhos.
E alem dessas pessoas, ainda havia o dono da casa e da
fazenda.
- Essa dor vai passar. – confortou o velho, enquanto o
relógio batia onze e meia da noite.
o olhou
com cara de poucos amigos.
- É, passa rapidinho, eu só preciso esquecer que meu primo
acabou de morrer. – disse grossa, com a voz embargada.
lançou
um olhar de reprovação a irmã, que apenas deu os ombros discretamente.
- De qualquer forma. – o velho tornou a dizer. – Vocês têm
de se acalmar.
Ele começou a andar pela sala.
- Nós vamos ficar aonde? –
perguntou ao seu tio. – Digo, por mim, claro que eu, a ,
a e a
poderíamos ficar em um hotel, mas daí o senhor terá que ligar para os meus
pais.
O Sr. Jones abriu a boca para dizer algo, mas foi
interrompido pelo velho dono da fazendo.
- Eu já disse aos seus tios que faço questão que todos
fiquem aqui, com o meu neto e seus amigos. – ele disse. – Portanto, enquanto
não conseguirem reerguer a mansão, poderão morar aqu.
virou o
rosto para olhar a tia.
- Vocês já avisaram ou anda vão avisar meus pais?
- Ainda não avisamos, querida. – ela disse. – Não
queríamos dar uma notícia dessas por telefone.
- Vocês poderiam ir até Londres. – disse .
Todos os olhares voltaram-se para o rapaz. – Digo... Bom, nós não vamos morrer
se ficarmos alguns dias sem vocês, né?
- Ele está certo. – manifestou-se o rapaz mais novo. –
Digo, se nós vamos ficar aqui, poderíamos ficar todos juntos, não é?
- O Dougie tem razão. – o loiro então disse. – Nós estamos
sozinhos aqui, mesmo. Poderíamos ficar todos juntos.
correu
os olhos para o loiro, e encontrou seu olhar. Eles ficaram se encarando por um
longo minuto.
- Ele tem razão. – ela disse, podemos ficar aqui.
O Sr. e a Sra. Jones olharam para o velho no meio da sala.
- Tem algum problema deixá-los aqui? – a mulher perguntou.
O velho homem sorriu.
- Mas é claro que não.
O Sr. Jones levantou-se e viu
sair do abraço da esposa para que ela fizesse o mesmo.
- Bom, vamos dormir então e amanha, se tudo der certo,
sairemos antes que acordem. – os dois disseram, deixando a sala.
O velho suspirou.
- Bom, eu também vou dormir. – olhou para os sete jovens
na sala. – Juizo, os sete...
Ele então também deixou a sala, fazendo com que o lugar
mergulhasse em um denso silêncio.
suspirou alto e levantou-se indo até Tom.
- Você é o Fletcher, né? Thomas Fletcher? – perguntou. –
Eu ouvi falar que você entrou lá e... Bom...
O rapaz forçou um sorriso.
- É, eu entendi... Prazer...
aceitou
a mão do loiro.
- Prazer...
Dalles... Ou Jones, se você
preferir.
O loiro riu.
- Estes são meus amigos de Londres.
Douglas
Poynter e Harold Judd.
- É. – disse o do meio. – Mas pode chamar só de Dougie...
- E Harry aqui.
sorriu
para os mais novos amigos.
- Bom, ,
minha irmã. – disse apontando para a menina e depois se voltando para as outras
duas. – e , minhas
melhores amigas... Bom, já são parte da família também...
As devidas apresentações foram feitas e logo os sete
jovens estavam entretidos em uma conversa animada, mas ainda com vestígios
evidentes de tristeza. Os sorrisos sempre desapareciam quando, de alguma forma,
algo que lembrasse Danny fosse mencionado.
- Ai, eu to com sono. – disse ,
levantando-se.
Tom olhou para a menina com um olhar de fascínio e sorriu.
- Amanha podemos sair. – ele disse sorridente, vendo
e abafarem risadas e
olhá-las confuso. – Digo, nós sete... Sabe, aqui tem um zoológico muito
legal... Lá tem o totem...
- O famoso Totem? –
perguntou. – É a atração da cidade, né?
- É sim... É o único Totem de toda Inglaterra, pelo que
sei... – Harry respondeu. – É enorme... E muito bonito também.
e
sorriram.
- Então está decidido. – elas disseram. – Vamos ao Totem.
- Bom, até amanha, então. –
disse, se virando para sair mais voltando no segundo seguinte.
- A propósito, onde vamos dormir? – perguntou.
Tom novamente sorriu bobo para a menina.
- O corredor da esquerda tem dois quartos grandes. Vocês,
meninas, podem dormir lá no segundo... O
dorme com a gente no primeiro.
Ela correspondeu o sorriso do rapaz.
- Está bem então... – disse.
Ela fez menção de sair dali mais uma vez, mas assustou-se
com o barulho alto do relógio, que bateu a primeira das doze badaladas da meia
noite.
Pôs a mão no peito, ofegante. De repente parecia que tudo
estava passando em câmera lenta diante dos seus olhos.
Ouviu a segunda badalada e contraiu seus olhos, tonta.
A terceira, e levou as mãos a cabeça, sentindo um zunido
agudo no ouvido.
Bateu a quarta vez, e ela abriu os olhos, vendo todos na
sala olharem curiosos para ela.
A quinta badalada foi ouvida e ela estreitou os olhos,
focalizando melhor a imagem a sua frente.
O relógio bateu a sexta vez e então ela viu um homem
parado no meio da sala.
Era um velho que aparentava ser um mendigo. Suas roupas
estavam rasgadas e a barba longa cinza de sujeira. As unhas estavam sujas e
compridas e haviam manchas pretas na sua pele levemente morena.
Ouviu-se a sétima badalada.
- Quem é o senhor? – ela tentou perguntar, mas não ouviu a
própria voz.
O velho homem estendeu a mão para ela e o relógio bateu a
oitava vez.
- Quem é o senhor? – ela tornou a dizer, novamente não
ouvindo som algum sair boca para fora.
A expressão no rosto do homem era severa... Até mesmo
raivosa.
A nona badalada soou alto.
Ela deu um passo a frente, aproximando-se do homem. Ele
desviou o olhar dela, correndo os olhos pelos outros jovens do lugar.
Olhou Harry, ,
...
O relógio bateu mais uma vez.
Olhou Dougie, .
A décima primeira badalada se fez audível.
Parou o olhar em Tom e depois de uma fração mais longa de
segundos encarando-o, voltou a olhar .
Levou o dedo indicador a própria garganta e fez um sinal
brusco e ameaçador.
Ela gritou assustada, junto a décima segunda badalada do
relógio e jogou-se para trás, caindo sentada na poltrona atrás de si.
- , você
tá bem? – perguntou, franzindo
a testa.
- Quem era aquele cara? E quem ele pensa que ele é? – ela
perguntou desnorteada.
Dougie franziu o cenho.
- Não tinha nenhum “cara” aqui!
- Mas eu vi! – ela disse, controlando a respiração. – Eles
estavam aqui, bem no meio da sala. Entre
e e em frente a .
- , sério,
não tinha ninguém aqui. – Harry disse.
Ela piscou várias vezes sem dizer nada. O homem não estava
mais lá.
Ela abraçou o próprio corpo, ainda com a sensação de estar
sendo observada.
- Ai, eu devo estar tendo pesadelos antes de dormir. – ela
disse, fazendo os outros rirem. – Boa noite.
Ela virou-se, olhando pelas janelas e vendo apenas a
escuridão da grande extensão de terras.
Balançou a cabeça e rumou para o quarto, sentindo que
precisava dormir.
Capítulo 5 – The Totem O Totem
- , você
está bem? – perguntou, ficando
mais pra trás para ficar sozinha com o amigo.
O menino levantou a cabeça e sorriu forçado para ela.
Eles estavam passeando pela cidade há cerca de duas horas
e só nesse tempo haviam chegado no último dos pontos turísticos, o zoológico.
- Sabe, eu não gosto disso.
- Disso?
- Dessa historia de passear para fazer parecer que nada
aconteceu... Poxa, meu primo mor... O Danny desapareceu, pra mim parece tão
errado fingir que estamos felizes...
A menina sorriu doce para o amigo e pegou sua mão,
tentando confortá-lo.
- Pensa por outro lado. – disse ela. – O seu primo não ia
querer que você ficasse desse jeito. ,
o Danny não ia querer ver você se acabar assim...
O menino apenas levantou os olhos para ela, deixando-a
continuar.
- Considere isso somente uma chance de se recuperar disso
tudo. – ela piscou. – Eu sei que é isso que o Danny ia querer.
Ele abriu um fraco sorriso.
- Você está certa.
Ela sorriu ainda mais.
- Eu sempre estou, dude.
Ele riu alto e apertou a cintura da menina, fazendo-lhe
cosquinhas. Ela desvencilhou-se dele rindo e começou a correr, sendo seguida
pelo amigo.
- Você não é mais rápida do que eu, !
– ele gritou, alcançando a amiga.
- Então me dê cinco segundos de vantagem.
- Nunca!
Ele riu uma última vez, pulando em cima dela e
derrubando-a no chão. Os dois não se preocupavam com os olhares que atraiam.
Estavam felizes brincando daquele jeito e ninguém tinha nada a ver.
- Ô dois, será que dá pra virem logo? –
disse, indo com Dougie logo atrás de ,
Tom e Harry.
e
levantaram-se do chão e foram atrás da menina.
- Você está tão quieto. –
comentou olhando Tom de rabo de olho, enquanto Harry distraía-se com os
animais.
Ele olhou para ela e sorriu. Ela estremeceu.
- Apenas não tenho o que dizer...
suspirou alto.
- Quando vai voltar pra Londres? – perguntou tentando
iniciar algum diálogo.
- Sinceramente, não sei. Eu tenho... Medo.
- Medo?
- É... – ele disse e ficou calado por um tempo. – Medo de sentir
o peso dos últimos acontecimentos ao ver o quanto eles vão mudar minha rotina.
sorriu
fraco; sabia que ele estava falando de Danny.
- Vai ficar tudo bem. – ela disse, duvidando das próprias
palavras.
Carinhosamente, ela enlaçou sua mão a de Tom.
Ele não olhou pra ela, continuou encarando o caminho a sua
frente, mas ela ficou feliz ao vê-lo sorrir discretamente.
Sentiu-se ainda mais feliz ao olhar para frente assim como
ele e, então, sentir o menino apertar sua mão com carinho.
- Enfim! – exclamou Harry, passando a frente de
e Tom e olhando para frente. – O totem!
Todos ali, antes distraídos, olharem para frente,
contemplando a enorme estátua entalhada em madeira.
Era simplesmente gigantesco e também assustados. Devia ter
a altura de um prédio de quatro ou cinco andares, embora fosse mais fino.
Havia oito faces de animais entalhadas.
sentiu
Tom estremecer e viu que os olhos dos garotos estavam arregalados, fixados na
primeira e mais alta das faces.
- O que foi? – ela perguntou.
Todos olharam para Tom, preocupados e depois Harry e
Dougie fizeram um som estranho com a boca, em compreensão.
- O urso. – disse Harry.
, ,
e
continuaram confusos.
- O urso do totem. – Dougie disse.
Os outros quatro olharam para cima e viram o que tanto
assombrava Tom, embora não entendessem o por quê.
O topo do totem era configurado na forma de uma cabeça de
urso. Ele tinha os pelos marrom escuros e os olhos profundamente negros. Sua
boca estava aberta exibindo dentes afiados e mortais e sua figura mudava logo
abaixo dos ombros, onde o totem tinha a sua segunda face animal.
A face abaixo do urso era uma águia. Uma águia de olhos
claros e grandes, o bico fechado e a cabeça erguida lhe davam um ar de
imponência juntamente com as grandes asas abertas.
Ela estava inteira acima da cabeça de um lobo branco.
Tão branco como a neve, de olhos fechados e expressão
sabia, mas com as orelhas apontadas para o alto, firme e rijas, como se
estivesse atento a qualquer coisa.
- Que horror. –
sussurrou a Dougie, que ainda olhava para o totem.
Ele concordou com a cabeça, descendo os olhos para o
quarto animal.
Este era um gato com pose imperial.
Ele tinha os olhos fechados e a cabeça erguida acima de um
comprido e fino pescoço. Sua causa ela longa e estava enrolada no próprio
corpo. O animal definitivamente tinha um porte majestoso.
Logo abaixo dele estava seu parceiro de estimação, um
cachorro. Um cachorro que se parecia muito com o lobo, mas ao contrario desse,
tinha um ar violento. Os olhos eram negros e poderiam iludir quem os encarasse
profundamente, dando a essa pessoa uma forte sensação de estar sendo observada,
se não, vigiada.
A madeira estava esculpida com tal perfeição que, vendo-o
de baixo, as pessoas poderiam ter a impressão de que ele realmente tinha uma
farta camada de pretos marrons.
- Isso é... Assustador. – Dougie concordou com .
A frente dos dois,
tinha sua mão ainda presa a de Tom. Com ele, ela sentia-se mais protegida, como
se nada pudesse lhe acontecer.
- É muito bem feito. –
comentou. e Harry
concordaram, e ele começou a rir quando a menina apoiou o queixo em seu ombro.
– Folgada. – sussurrou.
- Aquilo, debaixo do cachorro, o que é? – ela perguntou.
- Parece um... Sei lá, um tatu.
- É um tatu, sim. – Harry concordou.
Este animal, abaixo do cachorro, era o menor de todos.
Estava quase todo escondido em sua carapaça. Tinha uma expressão engraçada, com
as orelhinhas apontadas para cima e os olhinhos curiosos observando sua
esquerda.
Abaixo dele havia um sapo. Com os olhos esbugalhados e tão
feio quanto um sapo de verdade, ele parecia montado em cima último animal.
Este era uma tartaruga. Uma grande tartaruga de casco
verde escuro. Suas patas, bem como sua cauda e cabeça estavam folgadamente
esparramadas no chão, para fora do casco.
O totem por inteiro era, simplesmente, intimidador.
- A tartaruga é bonitinha. –
disse, suspirando algo. – Vamos ver o resto?
e Harry
concordaram com ela, seguindo para a próxima atração do zoológico.
e
Dougie os seguiram, olhando para
e Tom, preocupados.
- Vamos? – Tom disse, puxando de leve a mão da menina.
corou,
sentindo-se envergonhada. Ela soltou de leve a mão do loiro e sorriu para ela.
- Vamos sim... – consentiu.
Ela deu uma última olhada no totem. Por que aqueles
animais pareciam tão reais? E por que ela sentia-se tão apreensivas em relação
a ele?
Ela olhou para Tom e abriu seu melhor sorriso.
- Vamos logo, vai. – suspirou.
Ela sentia que ficar triste não adiantaria nada. Sabia que
se afundar daquele jeito não ajudaria Danny e não tinha nada que ela pudesse
fazer pelo primo.
Respirou fundo e correu atrás de ,
gritando feliz e pulando nas costas da amiga.
As duas riram e uma começou a correr atrás da outra,
trocando “elogios” enquanto Harry e
balançavam a cabeça negativamente, rindo também.
Pronto, a verdadeira
havia voltado. E ela nem sabia que precisava ser ela mesma para enfrentar o que
viria pela frente...
Capítulo 6 – Seems to be romance Parece ser romance
- Então, tá tudo bem aí? – Tom perguntou aproximando-se de
.
Ela, que estava sentada na sua cama, no quarto aonde
estava dormindo, levantou a cabeça para ver o menino parado a porta.
Ela estava sozinha naquele quarto há algumas horas. Dougie
havia chamado para
mostrar-lhe alguma coisa no pasto – pelo que
havia entendido. E Harry, e
haviam ido ver uma cachoeira que parecia haver ali perto da fazenda.
só não
sabia que Tom havia ficado em casa.
- Tudo certo. – respondeu, esforçando-se para sorrir.
- É difícil pra você superar isso, né?
- E pelo jeito pra você também. – ela sorriu triste.
Tom sentou-se na cama, ao lado da menina.
- Eu gosto de todos igualmente, mas o Danny foi o primeiro
que conheci.
- Em relação ao Harry e ao Dougie?
- É…
A menina olhou para o teto, suspirando.
- Eu nem sei por que fiquei tão chocada, sabe? Fazia anos
que eu não via o Danny! Tudo bem que ele é meu primo e talz, mas não deveria
doer tanto assim, quero dizer, faz uns seis anos que eu não via ele.
- Esse negócio de “dor da perda” a gente nunca consegue
entender. – Tom brincou. – Seu irmão não parece tão triste assim… Nem ele, nem
suas amigas.
riu.
- Ele está. Só que o
é estranho mesmo, ele meio que procura esconder de si mesmo a dorzinha chata. –
suspirou. – Mas sabe, o que
mais me incomoda, não é o fato de ter perdido meu primo, e é isso que me deixa
preocupada.
Tom franziu o cenho.
- Como?
- Sabe, eu não to realmente sentindo falta do Danny e é
isso que me machuca, eu me sinto culpada por isso.
Tom achou aquilo estranho, mas apenas limpou a garganta,
olhando ternamente para a menina. O sentimento dela parecia parecido com o
dele, exceto por…
- Bom, é como você disse, fazia seis anos que não via ele
e…
- Não é isso. – ela interrompeu, com a voz cheia de
aflição. – É que…
- É que?
suspirou. A maneira como aquilo havia se tornado comum nas últimas horas estava
irritando até a ela mesma.
- Isso vai soar estranho, mas é que pra mim, parece que
ele ainda tá aqui… Não muito longe de mim.
Bingo! Foi o que martelou na cabeça de Tom. Era exatamente
a sensação que ele tinha em relação àquela situação desde que ela começara.
Ele, em momento algum, nem depois de ver o corpo de Danny
estirado no chão, aparentemente sem vida, sentira a real perda do amigo.
- Você…
- Eu sei, é horrível, não é?
- Não, não... Não foi isso que eu quis dizer. – ele disse.
– Acontece que eu me sinto da mesma forma.
abriu
um meio sorriso e, tanto afobada quanto ansiosa, ajeitou-se na cama, virando-se
melhor para Tom.
- Você acha que ele... – ela estancou a fala de imediato.
Sua mão havia tocado a do rapaz quase que por instinto, provocando um choque
por toda a sua espinha.
- Que...?
Ela continuou calada. Não conseguia falar.
Havia uma sensação estranha na sua boca. Os lábios
formigavam e ela os mordia, inquieta. Isso pareceu ter um efeito forte sobre
Tom, que fixou o olhar nos lábios dela, não conseguindo mais desviá-lo.
não
moveu sequer um músculo. Sentia que qualquer momento seria decisivo. Ela sabia
o que viria pela frente, mas não tinha certeza de que queria. Quase não
conseguia pensar a respeito.
Tom gemeu alguma coisa, como se refizesse a pergunta.
Os olhos dele estavam fixados na boca dela, mas os olhos
dela estavam completamente presos aos dele. Eles brilhavam pra ela.
perdeu
o controle sobre seu corpo e seus pensamentos.
Ela abriu a boca para responder e isso foi o suficiente
para que Tom, lentamente, quebrasse a distância que havia entre eles.
Primeiramente, os lábios dele apenas tocaram os dela com
suavidade, deixando Tom sentir calor da boca da menina.
soltou
a sua mão da do rapaz, mas diferente do que ele imaginava, ela a passou pelo
pescoço dele, deixando-o prosseguir.
O rapaz então começou um movimento lento e delicado com os
lábios, que foi imediatamente correspondido por .
A língua dele não demorou a encontrar a dela,
intensificando o beijo.
A mão direita de Tom segurava o rosto de
com cuidado, como se temesse pela fragilidade da menina. A outra lhe percorria
as costas, enquanto as da menina se encontravam e se enlaçavam atrás do pescoço
do rapaz.
Tom deixou a boca dela por um rápido momento, para lhe dar
um beijo no pescoço, depois voltando a beijar-lhe a boca.
, sem
perceber, deixava o corpo pender para trás, deitando-se na cama.
Ela só foi notar que já estava deitada com o corpo do
rapaz em cima do seu, quando a mão dele lhe apertou de leve a cintura.
Ela escorregou as mãos para a frente de Tom e empurrou-o
de leve.
- Eu... Eu... – ela ofegou, desviando dele e se
levantando. – Eu... Tom desculpa, eu não tive intenção... Eu...
Ela suspirou alto e virou-se, saindo rapidamente do quarto
com o rosto completamente corado.
O loiro ficou com o olhar perdido na porta, sem nenhuma
reação.
As suas mãos subiram, tremendo, até os próprios lábios e
então um sorriso se fez em seus lábios.
Capítulo 7 – Playing with kisses Brincando com beijos
- Eu cansei. –
reclamou, descendo do cavalo.
- Ah, larga de ser mole. – disse Dougie.
Ela passou a mão na testa suada.
- Você não me disse que vínhamos andar de cavalo, eu vim
despreparada.
Ele riu, descendo do cavalo dele.
- E por acaso precisa-se estar preparado para andar de
cavalo.
- Eu preciso. – ela disse sentando-se no mato, ofegante.
O menino deitou no chão, ao lado dela, com a cabeça em
cima das mãos.
- Fala sério, não é possível que você esteja tão cansada. –
o rapaz disse. – Foi o cavalo que correu, não você.
- Poynter, não seja grosseiro. Eu estava em cima do cavalo
enquanto ele pulava como um louco porque você estapeou a bunda dele. – ela fez
drama. – Eu podia ter morrido, sabia?
Ela deitou-se no chão, enquanto ele ria.
respirou fundo, olhando para o céu, já sem rir.
- Quando vocês vão voltar? – ele perguntou, sério.
- Bom, a intenção era passar as férias inteiras aqui, mas
depois de... Bom, de tudo o que aconteceu, eu já não sei mais.
Dougie ficou calado, observando o céu.
- Sei que pra você isso deve ser bem difícil, por isso
saiba que eu estou aqui, pro que der e vier. –
disse, virando-se para o rapaz.
Ele se virou para ela e tremeu ao sentir a respiração da
menina no seu rosto. O hálito de hortelã dela era delicioso e o fazia querer
chegar mais perto.
Dougie já havia esquecido o que ia dizer.
Os olhos dele não se moviam. Nada mais tinha som, apenas a
respiração da menina.
Ela sentiu-se tonta por um momento, e fechou os olhos.
Dougie avançou alguns centímetros em direção a boca dela.
sentiu a respiração do rapaz forte em seu rosto e sorriu travessa.
- Você não vai me beijar tão fácil assim. – ele disse,
abrindo os olhos e se levantando.
Dougie, por alguns segundos, ficou apenas olhando-a atordoado,
e depois levantou, rindo, e se pôs a correr atrás dela.
- Você não vai me escapar, !
- É o que você pensa, Poynter!
Ela riu e atravessou o campo correndo dele, até avistar o
armazém da fazenda.
Era uma enorme estrutura de madeira, aparentemente velha,
aonde o avô de Tom estocava o que era produzido na fazenda, para depois vender.
- Se eu te pegar. – Dougie gritou, quase a alcançando. –
Você vai ter que me beijar.
Ela riu alto. Estava gostando daquela brincadeira, só não
imaginava as conseqüências dela.
- Você não vai me alcançar, eu não preciso me preocupar.
Ela acelerou o passo em direção ao armazém, mas quando
estava a metros da porta, tropeçou nos próprios pés e cambaleou para frente.
Nessa fração de segundos, ela sentiu uma mão pegar forte
seu braço e impedi-la de cair.
Sentiu-se sendo puxada para o lado e rodopiou, vendo que
era Dougie quem havia lhe agarrado.
Por fim,
acabou por bater as costas na parede externa do armazém.
Ela soltou um gritinho de dor e fechou os olhos, ouvindo o
corpo de Dougie prensar o seu contra a parede.
- Ta tudo bem aí? – ele perguntou.
Ela abriu os olhos e sorriu para lê.
- Melhor do que se eu tivesse caído. – ela viu uma luz
metros acima da sua cabeça se acender. – Eles não deveriam ter acendido isso há
algum tempo?
- Como assim?
- Já faz um tempão que escureceu, essas luzes já deveriam
estar acesas a algumas horas.
Sem se soltar dela, Dougie consultou o relógio de pulso.
- Meu Deus, já são quase meia noite... Eu mal reparei que
já tinha escurecido, quanto mais que já era tão tarde.
Ela riu. – Você é lerdo demais, Poynter.
Ele olhou no fundo dos olhos dela, ficando novamente
sério.
- Eu posso até ser lerdo, mas você ainda me deve um beijo.
Ela sorriu, em provocação. Já podia senti novamente a respiração
dele misturar-se com a sua.
- Eu não vou te dar beijo nenhum. – ela sussurrou, não o
deixando reparar que ela mesma estava aproximando seu rosto do dele.
- Então eu vou ser obrigado a te roubar um beijo. – ele
disse.
Ela sorriu e não demorou a sentir os lábios do rapaz
investirem contra os seus.
Direcionou suas mão para a nuca dele, sem perder tempo.
Dougie segurou-a pela cintura, como se tivesse medo que a menina pudesse fugir
de perto dele.
Ele se sentia como se tivesse uma jóia preciosa nas mãos e
não pudesse perde-la.
A língua dela pediu passagem na boca dele, surpreendendo o
rapaz. não pensou duas vezes
antes de aprofundar o beijo.
Dougie estava descendo suas mãos para as coxas dela,
quando ouviram a madeira dali estalar alto.
Eles se separaram, ambos com os lábios levemente inchados.
- O que foi... –
perguntava ofegante, quando o som estrondoso ecoou alto pelo lugar.
Vinha de dentro do armazém.
Assustados, ele ficaram sem saber o que fazer por um
rápido momento, mas não mais que no segundo seguinte ao estrondo, um grito
horrorizado ecoou alto.
sabia
que aquele grito era de .
Ele já tinha o coração na boca, quando pegou a mão de
Dougie e correu para dentro do Armazém.
Capítulo 8 – Midnight Meia-noite
- Pelo que o Tom disse, aqui o tio dele guarda o que
sobra das safras. – Harry explicou, adentrando o armazém da fazenda ao lado de
e
.
- Taí algo que eu não sabia que ainda tínhamos na
Inglaterra! – riu. – Digo,
eu sempre cresci na cidade e nunca tinha visto uma fazenda de produção agrícola
assim.
- Eu acho que me lembro vagamente desse lugar. –
disse, olhando bem ao seu
redor.
- Bom, se você costumava vir aqui todas as férias
quando pequeno, é de se supor que já tenha visto aqui. – disse Harry.
O amigo concordou.
- Eu, na verdade, não sei como nunca encontrei o Tom
aqui antes, já que ele morava aqui.
- Pelo que o próprio Tom nos contou, ele não
costumava sair muito da fazenda, já que aqui já tinha tudo que ele usava para
se divertir.
- Menino esperto. –
disse. – Eu, tendo um lugar
desses a minha disposição, também não ia sair daqui não.
- Pequena, você mal sai da frente do seu computador,
quem dera sair de uma fazenda dessas. –
comentou, abraçando a amiga
pela cintura e a fazendo rir.
Logo a frente havia duas escadas laterais que subia
para um segundo andar aberto de madeira.
No telhado, que cobria tanto o segundo quanto o
primeiro andar, haviam cordas penduradas a um lustre grande, mas velho e
quebrado.
- Isso não conta – a menina protestou.
Ela pôs o primeiro pé na escada e foi subir, mas um
rangido alto a fez mudar de idéia.
- Pode ir,
! – Harry disse, subindo pela
escada do outro lado. – Elas rangem o tempo todo, não podemos dar muita atenção
à isso.
- Eu tenho medo. – ela admitiu, rindo de si mesma.
- Devia vir aqui em cima. –
disse já no segundo andar. –
É incrível aqui em cima e... Nossa, quanta coisa!
- ,
vem aqui, você vai subir comigo.
Ela olhou para o alto e viu a cabeça do amigo surgir
por cima de uma cerca de madeira que impedia alguém do segundo andar, de cair.
- Mas eu já to aqui em cima. – ele disse.
- Eu quero que você suba com a sua amiga medrosa, dá
pra ser ou ta difícil? – ela pediu.
- Ta.
Ele riu dela e desceu, segurando a mão da menina
enquanto ela subia.
- Isso é realmente frescura. – Harry riu.
- Judd, calado! –
o olhou, ameaçadora.
Ela, ao chegar no segundo piso, pôde ver um canto
cheio de coisas entulhadas. Objetos velhos e quebrados.
Do outro havia grandes latões de metal, em bom
estado. Ela deduziu que, se não estivessem vazios, seria aonde o avô de Tom
estocava o leite que não conseguia vender.
Bem no centro, havia uma enorme janela. Devia ter
uns três metros por dois. Ela passaria por ali facilmente. Havia ali uma
cortina, também, rasgada e marrom de sujeira, que balançava com o vento.
- Esse lugar pode ser assustador, sabiam? –
comentou.
- Para de frescura. – Harry riu dela. – Olha, você
já viu algum daqueles radinhos antigos de manivela?
- Não, por que?
Harry foi até a pilha de entulhos.
- Vem aqui, vou te mostrar uma que achei outro dia
aqui.
Ela sorriu e foi atrás do rapaz.
olhou para os dois, que discutiam como seria o funcionamento a manivela do
radinho.
Ele, contudo, não estava muito interessado nisso.
Foi até uma estante, ao lado da enorme janela, onde
havia toda uma coleção de bolas de boliche.
De cores diferentes, umas brilhantes, outra com
brasões e insígnias. Tentou pegar uma dela.
Eram muito mais pesadas que bolas de boliche comuns.
Pesada demais, constatou, deixando-a no chão.
Ele puxou a cortina para a esquerda e olhou o céu
azul marinho pela janela. A noite estava limpa e levemente fria, lembrando-o de
Londres. O menino fechou os olhos, sentindo uma brisa fresca entrar pela
janela.
Sorriu para si mesmo quando ouviu
xingar Harry atrás de si.
Respirou fundo aquele ar puro que não encontrava na
cidade e puxou a cortina para o lado.
Ela esvoaçou para fora da janela e depois foi de
acalmando, voltando ao lugar.
se virou para olhar Harry e ,
mas por um momento pensou ter sentido uma sensação estranha vinda do estômago.
Virou-se para a janela novamente.
A cortina havia voltado ao normal, exceto pelo canto
dela, que havia parado firme para fora da janela, em um formato estranho. Era
como se houve alguém ou alguma coisa na base da janela e ele pudesse ver
através disso. A cortina acompanhava as curvas de alguma coisa invisível que
ele não conseguiu discernir.
O rapaz caiu para trás, sentado, empurrando, sem
querer, a bola de boliche.
- ?
Você ta bem? – perguntou
atrás de si.
- E-eu... Eu to... Eu... – ele se virou para ela. –
O que é aquilo na janela?
Ele sentiu ela observar algum ponto atrás dele.
- Depende, alem da cortina?
Confuso, o rapaz se virou e constatou que não havia
nada na janela. A cortina estava normal.
Mas que diabos...
- AH! – Harry gritou.
Os dois olharam para o amigo, que corria atrás da
boa de boliche. Só então reparam que a mesma estava quase caindo da escada.
Eles correram para ajudar o amigo.
- Parem! – Harry gritou, observando a bola, que
balançava para lá e para cá a ponto de cair. – Se algo acontecer com as bolas
de boliche do avô do Tom, nós estamos mortos.
Os outros dois observaram a bola.
Ela balançou mais para lá e caiu um degrau abaixo,
parando ali.
soltou a respiração, aliviada.
- Isso é estranho. – disse
.
- Por que? – Harry perguntou, virando-se com um
sorriso.
- Porque ela não deveria ter parado aí, ou deveria?
Não devia ter caído até lá em baixo?
- Sei lá, isso não realmente... AH!
O menino acabara de dar um passo à frente e a
madeira do chão rompeu-se. Ele caiu até a cintura.
- Meu, achei que ia morrer agora.
rolou os olhos.
- Ai Harry, como você é idiota.
Ela foi ajuda-lo a se levantar, enquanto
ia pegar a bola na escada.
O menino esticou os dedos para pegá-la, mas a o
degrau da escada subitamente quebrou-se, fazendo-a cair no de baixo.
A bola, no entanto, acabou rolando para o lado e
batendo com violência no suporte que madeira que sustentava o segundo andar,
antes de chegar no chão do térreo.
A madeira cheia de bolor do suporte quebrou-se
diante dos olhos de , que
virou-se para e Harry.
- Não se movam! – ele gritou. O coração começava a
acelerar, o sangue corria mais rápido pelo corpo.
Começava a sentir a mesma coisa que sentira dias
atrás, no dia do acidente com o ônibus.
Tarde demais! Pensou.
Harry havia saído do buraco e sentara-se pesadamente
no chão, olhando confuso.
- Oi?
Antes que dissessem mais alguma coisa, um rangido
alto e contínuo ecoou pelo armazém. Parecia o som de madeira entortando-se
lentamente.
- O suporte quebrou. – o menino explicou.
levou as mãos a boca,
ficando estática. – Isso daqui pode cair a qualquer momento.
O chão entortou-se levemente diante dos seus olhos;
tombava para o lado que eles estava.
- Droga, porque é sempre pro meu lado? – ele
reclamou, pulando para frente, ao lado de
e Harry.
Ele virou o rodapé desprender-se da parede, e essa
escorregar lentamente pela parede direita.
- Isso ainda pode cair? –
perguntou, aflita.
olhou para ela, preocupado.
- Isso vai cair.
- Pela outra escada! – Harry gritou, levantando-se e
correndo para a esquerda. e
o seguiram.
O fato de o piso ter descido de nível havia
comprometido a escada, “esmagando-a” embaixo dele.
- Vamos ter que pular. –
constatou.
- A
vai primeiro. – Harry disse. – Vai estar segura lá em baixo.
- O que? – ela quase gritou. – Eu não vou descer.
olhou para os lados e viu um puff velho jogado ali. Pegou-o e jogou no térreo.
- Pronto, não se machuca mais!
- Não,
, eu não vou... – Harry não a
esperou terminar de falar, empurrou-a. – AH!
O grito da menina soou por todo o local, mas ela
acabou por cair certeira em cima do puff.
- Agora vai você. –
disse ao amigo.
- Não, você vai...
- O que... AH, MEU DEUS! – eles ouviram
gritar.
A menina vinha acompanhada de Dougie.
- Harry?
? O que está acontecendo?
- Caso você ainda não tenha notado, isso daqui ta
desmoronando. – gritou.
A madeira rugiu alta e ameaçadora. O chão despencou
alguns centímetros em seco. As paredes ao lado começavam a se quebrar.
- Vai você!
- Não, mais que droga, Harry, desce logo.
,
lá em baixo, aproximou-se de Dougie e
.
- Parem de frescura e pulem os dois. – Dougie
gritou.
e
Harry se entreolharam. Ambos deram um passo a frente e a madeira cedeu.
ainda teve tempo de pular e agarrar-se à uma das cordas do teto, mas o amigo
acabou não conseguindo segurar sua mão e caiu, batendo em seco contra o chão e
desmaiando.
- Harry! – Dougie gritou.
Ele tentou correr até o amigo, mas o teto acabou
despencando com junto,
bloqueando o caminho.
O rapaz, antes agarrado a corda, pulou dela antes
que o telhado chegasse ao chão, conseguindo cair em cima do puff.
Ele levantou-se e olhou ao redor com dificuldade. O
telhado havia se despedaçado, levantou uma poeira densa que impedia
de ver alguma coisa.
,
Dougie e já estavam fora
de perigo, fora dali, e isso de alguma forma servia de consolo.
Seus olhos passaram a procurar Harry.
Viu o menino caído no chão, não tinha nenhum
ferimento visível.
O mais estranho foi ver o que havia ao lado dele. Um
espaço sem nenhuma poeira, como se fosse uma região de vácuo, aonde a poeira
contornava, mas não entrava.
Aquele espaço tinha o mesmo formato que a cortina
assumira a poucos minutos atrás.
- Harry! – ele chamou. – Harry, acorda!
O menino nem se moveu.
Hesitante,
se viu obrigado a
aproximar-se.
O espaço continuou ali quando ele se abaixou para
pegar Harry, mas quando tocou no amigo, a poeira recuou dos dois lados do
espaço. Ele parecia tomar outra forma, parecia... Abrir as asas?
não teve tempo de pensar, algum tipo de força invisível jogou-o para longe.
Ele sentiu uma forte ardência possuir se corpo com
ferocidade quando suas costas bateram fortemente contra os destroços do telhado.
A dor não demorou a espalhar-se pelo seu corpo e
chegar na cabeça, apagando completamente a consciência do rapaz de uma só vez.
Capítulo 9 – Over Além
Ao abrir os olhos, naquela manhã, sentiu-os queimarem e
arderem forte com a luz do sol, que entrava pela janela.
tentou
levantar-se, mas uma dor aguda nas costas o fez desistir. Ele, então, parou
para examinar melhor o lugar onde estava.
Era, definitivamente, um dos quartos da fazenda dos
Fletcher, mas sabia que não era o lugar aonde dormira na última noite.
virou o
pescoço, tentando enxergar alguma coisa atrás de si, pela janela grande acima
da cabeceira da cama.
- AH! – Alguém gritou e antes que ele pudesse sequer virar o
rosto para a porta do quarto, sentiu algo pesar sobre seu corpo.
Ele resmungou de dor, fechando os olhos.
Ninguém havia se jogado em cima dele, como ele imaginara no
primeiro momento, mas
quase o esmagava em um abraço.
- Desculpa, desculpa! – Ela disse, afastando-se no momento
seguinte.
abriu a
boca para dizer alguma coisa, mas a menina não deixou.
- Meu Deus! ,
que bom que você acordou, estávamos todos enlouquecendo! Isto é, os outros
ainda devem estar.
- ...
- Preciso avisar que você acordou...
- ...
- Mas eu não queria te deixar aqui sozinho de novo e...
- !
- Oi?
Ele riu, olhando a cara de preocupação da menina.
- Eu estou vivo, ta?
Ela respirou fundo, com as mão no peito e depois sorriu.
- Ta, é sério, desculpa. –
pôde ver tristeza nos olhos
da amiga. – É que foi desesperador ver você todo machucado, inconsciente e tal.
A expressão do menino também se enrijeceu.
- O que aconteceu, afinal de contas? – Ele perguntou.
- Depois que o teto caiu, deixando eu, a
e o Dougie do lado de fora,
tudo desmoronou... Não sobrou armazém para contar história, sabe? –
explicou.
- E depois? Como vocês nos acharam?
- Essa é a questão. – A menina respondeu, abaixando os olhos
marejados. – Depois, até a poeira baixar, já estavam todos lá. A
, o Tom, o avô dele e os
empregados da fazendo em
peso. Eu e a
, você pode imaginar, não
parávamos de chorar e nesse desespero ligamos para tudo que sabíamos, polícia,
ambulância e até corpo de bombeiros.
O menino assentiu, fazendo sinal para que ela prosseguisse.
- Então, estávamos realmente desesperados e sem saber o que
fazer. Eu mal conseguia contar o que havia acontecido. Tinha sido tudo tão
rápido.
- Imagino... Eu mesmo mal sei o que aconteceu comigo.
- Esta aí outra coisa estranha. Depois que os bombeiros te
acharam, você foi diretamente levado ao hospital, onde foi submetido a vários
exames. A conclusão lá foi que você havia batido forte a coluna, quebrando uma
costela e tinha duas hemorragias internas, uma pouco acima da cintura, do lado
direito e outra na musculatura do ombro. Enfim, depois dos devidos cuidados,
nada grave segundo os médicos. Eles apenas disseram que o que causou a
hemorragia do ombro poderia ter te matado se fosse alguns centímetros para a
direita, no pescoço, sabe? Mas disseram que, no fim das contas, você ficaria
bem.
- E por que isso é estranho? – Ele perguntou.
- Porque os médicos alegaram que a força que foi usada para
quebrar sua costela e causar essas hemorragias tinha sido a força do teto ao
cair em cima de você, mas o teto não caiu em cima de você,
. Nós haviamos aceitado bem a
perícia dos médicos sobre o seu estado, mas segundo os bombeiros, você foi
achado desmaiado em cima, ou melhor, recostado nos destroços... Segundo eles
não havia nada em cima de você, o teto não havia caído.
- Estranho... Mas então, o que foi decidido a partir disso.
- Eles concluíram primeiro que alguém havia te empurrado
contra aos destroços, mas acabaram por determinar que uma pessoa só não teria a
força necessária para causar o impacto que te deixou nesse estado.
soltou
uma risada divertida.
- É, e mesmo que uma pessoa tivesse, eles iam dizer o que?
Que o Harry tinha me empurrado? – O menino riu. – Fala sério!
A menina não disse nada, apenas abaixou a cabeça, fazendo o
amigo olhá-la, preocupado.
- O Harry estava desacordado, não estava?
- Não estava,
. – Ela disse, chorosa.
O menino arregalou os olhos.
- Não estava... Desacordado, só?
A menina balançou a cabeça negativamente.
- Não estava... lá! – Ela respondeu. – O Harry não foi
achado, ... Reviraram tudo,
tiraram tábua por tábua... Ele não estava lá.
encarou a
menina, estático.
Uma imagem perturbadora surgiu diante de seus olhos.
Ele podia ver a poeira levantar do chão do armazém, bem ali,
na sua frente. Podia ver quando a poeira não preencheu um espaço em vazio, ao
lado de Harry. Pôde ver, ainda, aquele vácuo lançando-o para longe, quando ele
tentava tocar Harry.
- Aquela coisa...
- Oi?
olhou
.
- , será que
eu consigo andar?
- Por que quer andar? – Ela perguntou espantada. – Os
médicos disseram que você pode andar curtas distâncias... Ir no banheiro e
coisas do tipo, mas tem que fazer repouso.
O rapaz crispou a boca, pensativo.
- Aonde você queria ir? – Ela perguntou, enxugando as
lágrimas com as costas das mãos.
- Na biblioteca municipal.
- Mas ein? Ficou louco? – Ela quase riu do amigo. – Você não
conseguiria andar tanto.
- Droga...
- Eu posso ir lá pegar alguma coisa para você ler, se é isso
que você queria. Mas continuo sem entender.
Ele sorriu para ela, parecendo subitamente mais animado.
- Você faria isso?
- Claro, ué.
- Ótimo. – Ele comemorou. – Então eu vou falar o tipo de
livro que quero ler... E depois que você me trouxer tudo, eu te explico
exatamente o que tenho em mente, beleza?
A menina apenas sorriu, consentindo.
Capítulo 10 – Legendary Lendário
- Certo, qual é, exatamente, o propósito de toda essa
bagunça? – perguntou,
sentando-se no sofá, tentando evitar o olhar de Tom.
e
estavam sentado no chão, no centro da sala, aonde havia uma grande montanha de
livros. Os dois procuravam um daqueles livros com ansiedade.
- Lembra quando a gente vinha aqui e a tia lia histórias pra
gente, ? – o irmão lhe
perguntou.
- Lembro... – ela disse, ainda confusa.
veio da
cozinha, com um copo de café na mão, e sentou-se no colo de Dougie, observando
os dois amigos.
- Vocês estão procurando um livro infantil? – ela
perguntou, franzindo o cenho.
- Não exatamente infantil...
- Um livro de contos e lendas... Tipo, coisa pra assustar
criança mesmo. –
completou. Ela só sabia qual livro procurava porque
havia lhe contado e, em todo caso, o importante era que a menina concordava e
havia se impressionado com uma história um tanto quanto interessante que o
amigo lhe contara, horas atrás.
- Você, por acaso, querem sair por aí assustando
criancinhas? – Dougie perguntou.
soltou
uma risada, sem tirar os olhos do livro, enquanto
rolava os olhos.
- Claro que não, Douglas! – ela exclamou. – São livros de
lendas dessa cidade.
Tom finalmente tirou os olhos de ,
vendo que ela não iria lhe retribuir qualquer olhar, e sentou-se no chão, entre
e .
- Pra que vocês querem ler sobre as lendas daqui? – ele
perguntou.
- Se nós acharmos a lenda que queremos, vocês vão
descobrir.
O loiro pôs a mão no queixo, pensativo.
- Eu acho, agora que vocês falaram disso, que nunca li
nenhuma lenda daqui... Digo, não nenhuma natural daqui. – ele disse.
soltou
um risinho, quando imagens dela, no carpete da sala da tia dela, junto a
e Danny, lhe surgiram a cabeça. Os três eram muitos pequenos naquela época.
- Eu lembro de várias lendas que a tia nos contava, e
mesmo assim não consigo pensar em um motivo pra você querer ler alguma delas de
novo.
levantou a cabeça, sorrindo com um tom de mistério para a irmã.
- Essa é a questão, a lenda que eu estou procurando é uma
que ninguém nunca quis nos contar, é por isso que é tão importante.
crispou
a boca, olhando para os amigos com olhar de dúvida.
- Gente, são lendas, entendem? Coisas que não são reais...
Que interesse vocês podem ter nisso?
abaixou
a cabeça. A imagem de Harry caindo desacordado no chão esquentou seu corpo por
dentro. Sua mão tremeu de leve enquanto o ar pareceu faltar aos seus pulmões e
o coração acelerou de leve.
Lembrar da horrível cena que presenciara era,
definitivamente, horrível.
- Hey! !
– ele ouviu a voz de Dougie chamá-lo.
- Há! – o rapaz exclamou, saindo dos devaneios. – Então...
Eu sei que parecem somente lendas, mas descobrir se são só isso ou não é o que
eu pretendo fazer.
- Mas ein? – Tom não entendeu.
abriu a
boca para responder, mas antes disso
exclamou feliz alguma coisa, enquanto puxava um livro do monte, fazendo os de
cima escorregarem para baixo.
- Achei! – ela disse, e entregou o livro a .
A medida que o menino abriu o livro, todos se sentaram no
chão, em volta dele, curiosos.
- Meia Noite... – o menino começou a ler o livro.
- O quem tem meia noite?
- É o título da lenda. –
respondeu.
olhou
irritado para os amigos, pedindo silêncio. Os outros obedeceram prontamente.
- A lenda que conta a história desse vilarejo chama-se
Meia Noite. – ele leu. – Segundo as mais antigas histórias contadas pelo povo
do vilarejo, a primeira pessoa a morar aqui foi um velho. Um velho rabugento e
irritado que se mudou para cá, na época região deserta da Inglaterra, para
praticar magia negra.
- Credo. –
disse.
- Esse livro é tão...
- Infantil? – Dougie sugeriu a Tom, que concordou.
- Não interessa a linguagem que ele usa, e sim a história.
– disse . – Vai, continua Lu,
eu to curiosa.
O menino riu, balançando a cabeça.
- Certo... Vamos lá. – ele voltou ao livro. – Especula-se
que, na tentativa de estudar o clima da região, oito estudantes mudaram-se para
cá e começaram a fazer várias pesquisas sobre a forma como o meio ambiente
estava se modificando naquela região.
“Eles acharam um antigo totem soterrado e começaram a
pesquisa-lo.”
“O velho homem, que ali praticava suas magias negras,
mandou que os estudantes saíssem dali. Aqueles jovens, obviamente não
obedeceram, e acabaram por despertar a fúria do velho homem.”
“O homem rabugento acabou por amaldiçoar cada um daqueles
adolescentes, condenando-os à morte. Dois deles, que eram namorados, acabaram
enfrentando o homem, ameaçando mandarem retirar o toem para conservação e
estudo.”
“Não feliz com tais ameaças, o homem prometeu destruir o
totem antes que isso acontecessem e, depois de passar muita raiva, acabou
condenando os dois namorados a verem a morte um do outro.”
“Esse adolescentes, acabaram por descobrir um poder
indígena mitológico, conservado pelo totem, que poderia salvá-los, mas seis
meses depois de voltarem para a sua cidade natal, todos morreram
misteriosamente.”
Ao terminar de ler as ultimas linhas do texto,
fechou o livro e ficou em silêncio como o resto dos amigos.
- Isso... –
começou.
respirou fundo, pondo a mão no peito.
- Gente, nós estávamos em oito. – ela disse, com um tom de
nervosismo na voz.
Tom franziu o cenho, parecendo incerto.
- Vocês realmente acham que...
- Sim. – todos os outros responderam ao mesmo tempo.
Ele balançou a cabeça, conformado.
- Então... Er... O que vamos fazer? – Dougie perguntou.
levantou-se com um ar decidido.
- Procurar o homem que escreveu esse livro.
- Mas são onze horas ainda... –
reclamou.
- Sinceramente... –
começou. – Eu acho que se isso for o que nós estamos pensando que é, não temos
tempo a perder.
Dougie também se levantou.
- Eu também acho. – ele disse.
suspirou alto.
- Está bem, vamos procurar esse cara... Mas eu quero
voltar antes do almoço.
riu,
irônica.
- Espero viver para almoçar...
Os outros riram e se dirigiram para a porta.
- Ei! –
chamou. – Obrigado mesmo por me esquecerem aqui! Será que vocês se esqueceram
que andar não tem sido a coisa mais fácil pra mim?
riu, e
voltou para ajudar o amigo.
- É tão legal te ver debilitado, indefeso. – ela riu.
rolou
os olhos, andando até os outros com a ajuda dela.
- Amiga da onça!
Eles tentavam se mostrar displicentes e calmos, mas aquela
história havia definitivamente mexido com cada um deles. Havia um tremor
estranho no interior daqueles jovens...
Capítulo 11 – Powerful Poderoso
- Acho que é essa a casa. –
disse.
Eles estavam todos diante de uma pequena casa de madeira.
Não havia garagem ou qualquer outro espaço na frente dela. Apenas uma cerca
azul clara, que vinha metros antes de uma varanda onde tinha uma cadeira de
balanço e a porta de entrada.
- O endereço que estava na contra-capa do livro é esse. –
disse , e bateu palmas.
Eles ficaram em silêncio até um senhor de cerca de 70 anos
de idade abrir a porta.
- Pois não? – ele disse.
- Senhor... Alley?
- Eu mesmo, - ele disse simpático. – O que querem?
deu um
passo a frente, esgueirando o pescoço por cima da cerca.
- Senhor, nós queríamos a oportunidade de conversar com o
senhor sobre um dos livros que você escreveu. – o velho continuou parado,
observando-os. – Er... A lenda Meia Noite.
Mais do que instantaneamente um sorriso surgiu no rosto
daquele homem, que assentiu e os convidou para entrar.
Ele os guiou até uma sala pequena e os deixou esperando no
sofá, voltando algum tempo depois com uma bandeja cheia de biscoitos e chá.
- Pois então... – disse ele. – O que exatamente querem
saber sobre Meia Noite.
Os seis se entreolharam e
suspirou alto, voltando o olhar para o homem.
- A lenda... Aquilo aconteceu mesmo?
- Se você perguntar isso para a cidade inteira,
provavelmente oitenta por cento dela dirá que sim... Essa é a história quase
oficial da origem desse vilarejo.
- Então havia um velho, e ele praticava magia negra?
- Havia tanto quanto havia o totem que vocês já devem ter
visto. – velho garantiu.
- E... Bem, -
disse, hesitante. – Nós queríamos saber como a lenda terminou.
- Nunca terminou... – o homem disse. – Segundo essa lenda,
o velho feiticeiro amaldiçoou todo e qualquer estudante que, como aqueles,
viessem “fuçar”, por assim dizer, nas terras dele. O totem, que segundo outras
lendas, de outras partes do mundo, parece ter poderes de proteção presenteou os
dois últimos jovens, os dois que namoravam, com poderes especiais que os
ajudariam a combater a maldição do homem. Contudo, eles não conseguiram e
morreram junto aos amigos. Desde então se costuma dizer que o espírito desse
homem vaga pela cidade, procurando pelos jovens que têm o destino de enfrentar
novamente a maldição... – o homem fez uma pausa, e encarou sua xícara de chá. –
Acredita-se que a lenda só irá parar e esse espírito negro só dormirá, quando
finalmente esses jovens sobreviverem à maldição.
- E alguém já conseguiu parar a lenda? – Tom perguntou.Nos lábios daquele
homem, surgiu um sorriso travesso e, ao mesmo tempo, indecifrável.
- Isso quem deve me responder, são vocês.
- Nós? –
perguntou, confusa. – Mas nós só queremos saber se a lenda continua.
concordou com a amiga, atraindo o olhar do velho.
- Você, menina, era a prima de Daniel Jones? – ele perguntou,
e ela assentiu. – O menino do armazém, também era seu primo?
Ela negou.
- Não, o Harry era só amigo mesmo.
- Certo... E foi com vocês que aconteceu o acidente de
ônibus?
Ela, Julia,
e assentiram com a cabeça.
- Nesse caso, - o homem continuou. – quem deve me
responder isso, como eu já disse, são vocês.
- Eu... Eu diria que isso está acontecendo de novo sim...-
afirmou, meio insegura. –
Quero dizer... Primeiro o Danny, depois o Harry... Não pode ser coincidência.
- Eu também diria isso. – o homem riu, levantando-se. –
Ficam para o almoço?
- Ah, não, obrigada. –
agradeceu.
- Já é meio dia? –
perguntou, voltando a sentiu o estômago implorar por comida.
- Não, mas... – o homem virou-se para um relógio, na
parede. – Bom, agora é sim.
- Então vamos embora. –
disse se levantando.
O olhar da menina seguiu para o relógio, aonde o ponteiro
andava lentamente para a direita, marcando o meio dia.
A tontura que ela sentira dias atrás voltou.
O ponteiro de segundos pareceu diminuir a velocidade com a
qual andava pelo relógio.
A casa de madeira do homem começou a rodar diante dos seus
olhos. Ela olhou para os amigos e viu, lentamente, os olharem de cada um dele
ficarem confusos. Olhou para o homem. Este lhe olhava como se estivesse vendo
um acontecimento inédito e fascinante.
Ela fechou os olhos e os forçou, abrindo-os em seguida. Tudo havia
parado. Instantaneamente, parado diante dos seus olhos.
O velho que mais um mendigo lhe lembrava estava novamente
ali. Havia ódio em seus olhos, um ódio que queimava quase podendo atingir quem
o olhava. Logo abaixo do nariz pontudo, os lábios sorriam. Sorriam com malicia
e satisfação.
novamente sentiu um frio na espinha. O medo possuir-lhe o corpo quase
dolorosamente.
O olhar do homem era quase acusador.
A menina deu um passo para trás, mas o velho permaneceu
calado.
Ela correu os olhos para o relógio. Um instinto peculiar
implorava para que o ponteiro dos segundos chegasse novamente no número 12.
O homem apagou, dos seus lábios, o sorriso, e levantou o
braço, apontando para Dougie. A menina sentiu os olhos encherem-se de lágrimas,
sem ao menos saber o porque. O dedo do velho percorreu a sala, apontando agora
para ... Ou ,
daquela direção não
conseguia discernir para qual dos dois ele estava apontando.
Ela levou as mãos a cabeça, sentindo um zunido chato e
agudo no ouvido. Aquilo tinha que parar. Aquele zunido parecia querer perfurar
seus tímpanos.
Ela cedeu os joelhos, mas sentiu o corpo descer lentamente
até o chão.
O ponteiro dos segundos atingiu novamente o número doze, e
o dos minutos moveu-se para a direita.
O zunido parou, o silêncio também. As vozes dos amigos
voltaram a preencher o ambiente.
Seu corpo, que caia lentamente, continuou o trajeto até o
chão na velocidade normal, fazendo-a cair de joelhos.
- , você
está bem? – Tom perguntou de imediato, abaixando-se do lado dela.
O velho largou a bandeja de qualquer jeito na mesinha de
centro e foi até a menina.
- Saiam... Saiam! – exclamou ele, pegando nas mãos de
e levantando-a. – Você o viu, não viu? Você viu o feiticeiro?
Aquelas palavras caíram como uma luva nas dúvidas da
menina. Ela arregalou os olhos, compreendendo a sua visão.
- Vi! – ela disse exasperada – Eu vi ele.
- Como é que é? –
perguntou, indo até a irmã.
- Ela tem um dos dois poderes cedidos pelo totem. – o
homem disse. – O poder de enxergar o espírito do velho feiticeiro sempre que
ele vem ameaçar alguém.
- Isso é bom? –
questionou, levantando-se e andando até a amiga.
- De certa forma ótimo. – disse o homem, e olhou nos olhos
da . – Você tem o poder de
prever quem o velho irá matar. Você consegue ver quem será o próximo.
Um frio estranho percorreu a sala.
Os olhos de
correram discretamente para Dougie, sem deixar o menino perceber, e depois
lacrimejaram ao olhar para sua direita e ver o irmão, olhando-a preocupado. Os
pensamentos mais horríveis que ela poderia pensar lhe invadiram a cabeça. Ela
sentiu vontade de chorar, mas resistiu, esperando que ninguém lhe perguntasse quem
ela achava que seria o próximo.
- Só por curiosidade... – Dougie começou. – Qual é o outro
poder?
O homem olhou para todos eles, parecendo querer adivinhar
qual deles era o que tinha o segundo dos dons do Totem.
- O de enxergar as criaturas do Totem. – disse o homem. –
Aquelas que estão tentando proteger vocês... O segundo poder é o de enxergá-las
com clareza e perfeição.
Mais do que imediatamente, todos os olharem voltaram-se
para Tom, que tremia com os olhos arregalados.
Capítulo 12 – Next Próximo
- Certo, vamos recapitular. – disse Dougie.
Todos os olhares, antes perdidos em algum canto da sala da fazenda do Sr. Fletcher, agora se voltavam curiosos para Dougie.
Inclusive os de e Tom, que mais do que nunca, encontravam-se confusos.
- Nós, ao chegarmos aqui, caímos sob o poder de uma maldição antiga feita bem nesse povoado.
- Até aí, está tudo certo. – disse .
- E agora nós estamos todos destinados a morrer da forma mais terrível, dolorosa e inusitada.
a desmunhecou a mão, apontando-a para o rapaz.
- Exato! – ela disse, em um tom de ironia.
- Então... – ele continuou. – O que nós vamos fazer?
- Não tem muito que fazer... Eu acho. – disse Tom, crispando a boca. – A não ser, é claro, tomarmos cuidado redobrado.
- Nos afastarmos do que é perigoso pode ser uma boa idéia. – sugeriu.
Um silêncio caiu-se sobre a sala durante alguns segundos, sendo depois interrompido pelo som do sofá, aonde estava sentado, parecendo desconfortável.
- Isso não vai adiantar. – ele contrapôs. – Quero dizer, nem o Danny nem o Harry estavam em situações de risco quando... Er... O Harry estava conosco, no armazém do seu avô, Tom.
- Bom, aquele lugar estava velho e talvez oferecesse risco, não acha?
- Sinceramente? Não. Se o armazém oferecesse algum risco, digo de desabar como aconteceu, então seu avô não guardaria mais tanta coisa lá dentro.
- Tem razão... – Tom ponderou. – E o Danny, de fato, estava no quarto dele, lá não havia risco algum de incêndio.
sorriu para o amigo.
- É aí que eu queria chegar. – ele disse.
balançou a cabeça, atônita.
- Eu não entendi direito no que isso ajuda.
Tom e se entreolharam e soltaram um riso desanimado.
- Na verdade, não ajuda. – os dois disseram em uníssono.
- Então...?
- Bom. – começou. – Isso serve pra nos mostrar que não dá pra evitar essas tragédia simplesmente ficando em lugares seguros. Se trata de magia, entende? Uma maldição, coisas sobrenaturais!
Por isso, eu acho que mesmo se nos trancássemos em um quarto, completamente vazio, de paredes de aço, nós seriamos abatidos por algum “acidente” quando chegasse a hora.
- É bem por aí. – Tom concordou. – Por não ser algo explicável ou lógico, e sim se tratar de algum tipo de força mágica ou sei lá o que, não adianta adotarmos nenhuma medida convencional de segurança.
abriu a boca, em compreensão, e desmunhecou novamente a mão, daquele seu jeito peculiarmente engraçado, apontando dessa vez para Tom.
- Faz sentindo. – ela disse.
- Mas então, como a gente pode tentar fugir disso? – perguntou.
- Tem como, não tem? – Dougie perguntou.
- Eu não sei. – Tom entortou a boca.
olhou para , que balançou a cabeça negativamente.
Uma idéia lhe ocorreu na cabeça.
- Talvez... – ela disse. – Se enfrentarmos fogo com fogo.
Todos ali, sem exceção, franziram o cenho para a menina.
- Pensem, se com as maneiras convencionais não podemos nos proteger, talvez nós possamos usando algum tipo de magia, ou força.
- Amiga, como você sugere que façamos magia? – rolou os olhos.
- Com eles dois. – disse, olhando para e depois para Tom e .
- Mas ein?
- Vocês dois têm dois poderes cedidos pelo Totem, certo? Pois então, se o Totem deu esses poderem à vocês, e aos dois últimos jovens a morrer da primeira vez que a maldição aconteceu, significa que em alguma coisa eles ajudam.
- E no que? – Tom perguntou. – Encaremos o fato de que não adianta nada ver esses animais, certo? Se ainda fosse um poder da cura, ou algumas coisa tipo Clark Kent... Mas ver animais invisíveis? Fala sério.
riu gostosamente. Pela primeira vez desde que trocara um beijo com o rapaz, olhou-o nos olhos, de maneira divertida.
- Tom, pelo menos você vê animais, eu tenho sempre que ver um velho nojento que parece mais um leproso em decomposição?
O menino concordou, vendo por esse lado.
- Gente. – riu. – Pensem, se a pode ver o velho, pode prever quem vai ser o próximo a ser atacado, e se ela pode ver quem vai ser o próximo a ser atacado...?
Silêncio.
- Se ela pode ver quem será a próxima vítima?
Dougie levantou a mão, timidamente.
- Então, seria uma forma de se defender dos ataques de maneira não-convencional? – ele arriscou.
O amigo sorriu.
- Temos um gênio aqui, gente!
Todos riram.
- Gente! Gente! – chamou.
Ela fez uma expressão séria.
- Nesse caso, a gente tem que começar sabendo quem vai ser o próximo, não acham? – ela perguntou, hesitante.
Todos os olhares voltaram-se para .
Ela sentiu o pulso acelerar. Um aperto no peito e uma falta de ar lhe deram vontade de chorar.
Ela não queria dizer nada. De certa fora, mesmo não sendo sua culpa, ela sabia que estava sentenciando um dos seus melhores amigos, dizendo qualquer nome que fosse. Não se sentia bem com isso.
Tom pegou sua mão e a segurou forte, tentando transmitir segurança à menina. Dougie olhou para , que sorriu maliciosamente, apontando os dois com a cabeça, mas acabou por dar uma cotovelada no rapaz, e fez o mesmo na menina.
- Então, . – incentivou. – Pode falar, entendo que deva ser difícil, mas lembre-se que não importa quem for o próximo, contar vai apenas ajudar essa pessoa.
concordou e suspirou. Seus olhos correram a sala.
- O homem apontava... Pra você, Dougie. – ela disse, com a voz já embargada.
O menino arrumou a franja e sorriu forçadamente para , não querendo faze-la sentir-se culpada. Sentiu o corpo sendo abraçado e sorriu para , dando um beijo no topo da testa da menina.
Após um longo momento de silêncio, com abraçando Dougie forte, e de mãos dadas com Tom, e se entreolharam.
Eles levantaram subitamente, ainda com certe dificuldades, compartilhando de uma idéia repentina.
- Vamos tira-lo daqui. – os dois disseram ao mesmo tempo.
Os outros lhes olharam perdidos.
- Como?
- Temos que tirar o Dougie daqui. – disse, sorrindo para o amigo ao lado. – Eu tive uma idéia. Você pensou o mesmo que eu?
- Acho que sim. – sorriu e depois olhou para Dougie. – Nós sabemos onde você estará mais seguro. Mas temos que ser rápidos, não dá pra saber quando a maldição vai despertar novamente.
Dougie olhou para os dois e balançou a cabeça, concordando.
Tom sorriu discretamente, ao ver no rosto de e uma expressão extremamente otimista.
Capítulo 13 – Break Quebre
Um suspiro alto quebrou o silêncio que antes assombrava o zoológico.
Na ala dos primatas, um dos menores macacos acordou assustado e olhou ao redor, procurando o causador do barulho, mas com o lugar mergulhado em breu, apenas conseguiu ver um pedaço de pão voar através da grade.
O pequeno macaco não se incomodou em pegar a comida, apenas voltou a dormir.
- Não entendo bem porque estamos em um zoológico. – disse uma voz rouca, tentando fazer o mínimo de barulho possível. – A intenção é me salvar mesmo?
O outro rapaz, logo atrás desse primeiro, esfregou as mãos e soltou uma baforada, numa tentativa vã de amenizar o frio que sentia.
O vento soprava friamente cortante.
- Claro que é. – o outro respondeu. – Se não fosse, poderíamos ter te deixado na cozinha, com vários jogos de talheres em cima da mesa, não acha?
- Faz sentido.
O de cabelos mais escuros rolou os olhos, rindo.
Um novo momento de silêncio predominou no lugar.
- Mas, ô , por que nós estamos tentando salvar a minha vida no zoológico? E por que só ficamos aqui eu e você?
- Estamos no zoológico porque o que tem de mais perigoso aqui, são os animais, e eu realmente duvido que a maldição possa controlar seres vivos. Quanto a ficarmos só nos dois, não sei... A tem que ficar com o Tom, já que os dois têm aquelas habilidades e trabalham melhor juntos. A , bom, ela gosta de você, não queria correr o risco de te ver morrer. E quanto a , como eu disse, não sei, a é meio neurótica e quis que eu e ela não ficássemos no mesmo lugar.
- Aaaah. Entendi, eu acho.
Dougie se virou para trás e viu mancando.
- Ainda dói? – ele perguntou, apontando para a perna do amigo.
- Ah, um pouco. Mais se eu ando.
O loiro levantou as sobrancelhas.
- Por que não se senta, então?
deu os ombros, se responder nada.
Dougie sentou-se em um banco e depois puxou o amigo para junto de si.
- Eu não me importo de andar, sério.
- E eu não me importo de sentar, sério.
- Está bem, então... Me diga, Dougie, você e a , está rolando alguma coisa.
O menino corou mais do que instantaneamente.
- Mais ou menos. – disse ele. – A gente ficou ontem à tarde, pouco antes de... Bom, sabe, o acidente do armazém.
olhou para o céu, pensativo.
- É tanta coisa, acontecendo em tão pouco tempo, que nem parece que foi ontem que eu participei do acidente mais estranho da minha vida. Mal dá pra acreditar que hoje a gente é super amigos, e há poucos dias, nem nos conhecíamos.
Dougie riu.
- É como dizem: “The hardest moments are the ones that most get people close”.
- Frase bonita. É de alguma música? Porque eu realmente nunca ouvi ninguém dizer isso.
- Na verdade, nem eu.
riu, balançando a cabeça negativamente.
Ele suspirou alto e abaixou a cabeça, pensativo.
Dougie olhou para os lados, tentando ver algo alem da escuridão. Não conseguiu, mas sentiu uma brisa gelada lavar-lhe o rosto. Estremeceu de leve, atraindo a atenção do amigo.
- Que horas são? – perguntou, levantando a cabeça.
- Meia noite. Faz exatamente 24 que o Harry sumiu, e 12 que descobrimos tudo sobre a lenda. – ele riu desgostoso. – Você tinha razão, é muita coisa pra pouco tempo.
O rapaz riu, mas parou ao notar o amigo tremendo, arrepiado.
- O que foi? – perguntou a Dougie.
- Nada, bateu um vento frio aqui, eu fiquei com frio.
O outro mordeu o lábio.
- Essa cidade é temperamental, uma hora ta calor, outra ta frio. Ontem à tarde tava super quente, mas quando anoiteceu, e eu tava no armazém, também estava fr... – ele estancou a fala. Seus olhos arregalaram-se.
Ele puxou a cortina para a esquerda e olhou o céu azul marinho pela janela. A noite estava limpa e levemente fria, lembrando-o de Londres. O menino fechou os olhos, sentindo uma brisa fresca entrar pela janela.
- O que foi? – Dougie perguntou.
levantou, com certa dificuldade, apressado,
- Oh, droga! – ele exclamou, olhando para os lados.
Dougie assustou-se com o comportamento do moreno.
- O que foi?
- A brisa fresca, fria... – Ele disse. – Na noite que a mansão dos meus tios pegou fogo, como estava o tempo?
- Bom, teve chuva o dia inteiro, mas estava quente, só foi esfriar a noite e... Espera! Você não acha que...
- A brisa fria, eu também senti minutos antes do armazém do avô do Tom desabar.
Os dois arregalaram, olhando em volta.
Um rangido estranho soou alto por todo o zoológico, acordando alguns dos animais que ali dormiam.
Dougie e se entreolharam.
- Vamos sair daqui.
- Certo.
Eles se levantaram e correram para outra ala do zoológico.
- O que você acha que poderia acontecer aqui? – Dougie perguntou, ajudando a correr, enquanto olhava ao redor.
Um vento forte passou pelos dois, deslizando até o portão de ferro do lugar, que em segundos fechou-se com um estampido alto.
- Isso não é bom! ISSO NÃO É BOM!
- Pára de gritar, Dougie.
- EU TO DESESPERADO!
- VOCÊ ESTÁ ME DEIXANDO DESESPERADO! AGORA CALA A BOCA!
Um novo rangido metálico soou continuamente pelo lugar. Os dois olharam para os lados. As extremamente altas cercas de metal que faziam o contorno do zoológico, naquele ponto, estavam sofrendo ataque de alguma coisa.
Nas suas respectivas bases, elas começaram a se amassar, ficando cada vez mais finas e bambas.
- Calei. – Dougie disse com a voz falha.
O silêncio voltou ao lugar, quando as grades tinham suas bases apenas um fio de metal.
Era um corredor delas até a saída.
- Você acha que...
- Sim!
Novamente os dois saíram correndo por toda aquela extensão, querendo alcançar a saída.
Dos dois lados dos amigos, com um barulho agudo, as grades começaram a cair para dentro da área do zoológico. As duas primeiras esmagaram violentamente uma a outra, mostrando serem fortes, mas também pesadas.
Dougie e continuaram correndo.
As segundas grades despencaram também e por apenas um metro não esmagou os dois tão violentamente quando esmagara uma a outra.
As duas terceiras caíram, e as duas quartas logo em seguida, à centímetros dos calcanhares de Dougie.
Eles chegaram ao portão grande e olharam para os lados.
Atrás, havia apenas metal retorcido e afiado. Na frente, um enorme portão. E dos dois lados, as duas últimas grades metálicas balançavam de leve para lá e para cá, ameaçando despencar em cima dos dois.
- A gente vai morrer! A GENTE VAI MORRER! – Dougie choramingou.
- CACETE, CALA A BOCA, POYNTER! – gritou.
Ele olhou desesperado para o portão.
- Não tem como sair! NÃO TEM! – o loiro tornou a gritar.
- Por que eu sempre me meto nessas situações? POR-QUE?
- NÓS VAMOS MORRER!
Como se uma luz se acendesse acima de sua cabeça, olhou para as duas grades. As palavras de Dougie penetraram sua consciência em câmera lenta.
- JÁ SEI! – ele gritou.
O outro lhe olhou, desesperado.
- Ein?
- Você tem que correr em direção à grade!
- MAS EIN? VOCÊ QUER REALMENTE ME MATAR?
Lucas pegou o amigo pelos ombros e o chacoalhou, gritando estressado algo como “se acalme, sua bicha!”.
- Quando o topo do portão começa a despencar, eu não sei por que, mas a base levanta-se até uns dois metros de altura no ar, quando o topo atinge o chão. Desse modo você pode correr por debaixo dele quando o topo estiver longe do chão, e quando ele cair aqui, dá pra sair pela abertura da base, do outro lado.
- Mas isso é suicídio!
Um baque seco fez fechar os olhos com força.
- Você não tem outra opção, de qualquer forma.
A grade a sua direita emitiu um rugido agudo, enquanto pendia violentamente para cima dos dois.
- Mas e você?
continuou de olhos fechados.
- Não se preocupa com isso, corre!
- Mas...
- VAI!
Antes que Dougie dissesse mais alguma coisa, o empurrou em direção à grade, que finalmente veio abaixo.
Bem como o amigo tinha dito, Dougie conseguiu passar por debaixo do topo antes que esse chegasse no chão, abaixou quando viu o meio da grade sobre sua cabeça, e por fim, jogou-se para fora do zoológico quando viu a base da grade se levantar até um metro acima da sua cabeça, como um enorme tubarão de metal, curvando-se para fora da água.
Quando a base também atingiu o chão, fazendo o chão tremer de leve, Dougie já estava para fora do zoológico.
Ele levantou-se, tremendo absurdamente. A neblina lhe impedia de ver direito o lugar aonde a grade havia caído.
Ele ouviu a outra grade cair, do lado oposto.
- Lu? ? – ele chamou pelo amigo.
- Aqui! – ouviu o moreno responder.
Forçou os olhos e, no meio dos destroços de metal, ele estava em pé, abrindo os olhos, hesitante.
Aparentemente, um dos espaços vazios entre os tubos metálicos que formavam a grade havia passado pelo corpo do rapaz, deixando-o no meio dos destroços, sem nenhum machucado.
Dougie foi até ele, tomando cuidado com os pedaços afiados e pontiagudos do metal, e ajudou o amigo a sair de lá.
- Isso foi uma tentativa de suicídio? – ele perguntou, ofegante.
- Não... Eu não ia conseguir correr, então apelei para a lógica. – o moreno respondeu.
- Que tipo de lógica quase te levou às nuvens? – Dougie riu da própria desgraça.
apenas deu os ombros.
- Essa era a sua vez, a maldição estava concentrada em você, não ia causar nenhum dano à outra pessoa. Isso poderia alterar a ordem das coisas e o curso do feitiço.
Dougie olhou para , incrédulo.
- E se isso não estivesse certo?
riu balançando a cabeça.
- Deixa pra lá... Como você se sente?
Dougie olhou para o próprio corpo.
- Vivo!
Ele pegou no braço de , querendo sair dali, mas acabou por reparar um círculo perfeito, desenhado no chão aos seus pés.
O círculo tinha um contornou florescente que brilhava em azul. Novas linhas brilhantes foram surgindo dentro do círculo.
se afastou e ergueu a mão, em sinal para que Dougie não se movesse.
Essas linhas corriam rápidas por dentro do círculo, e quando finalmente pararam, perderam completamente a cor, ficando brancas como a luz de um flash fotográfico.
- Isso é um...
Dougie entortou a cabeça e a balançou confirmando o pensamento do amigo.
- É... – disse ele. – Um lobo. Um lobo branco.
O brilho branco elevou-se até a sua cintura, e uma rajada de vento quente soprou, parecendo sair das bordas do círculo.
Depois, subitamente, tudo se apagou.
- O... O-o que foi isso? – Dougie perguntou.
Nos lábios de surgiu um sorriso aliviado.
- Eu acho que quer dizer que você está livre. – ele fechou a mão em punho e deu um toque na do amigo. – Você quebrou a sua parte da maldição, Dougie. Você está fora de perigo.
O loiro abriu um sorriso, e expirou despreocupado.
Pela primeira vez desde que chegara ali, sentia-se realmente bem. E mesmo com a noite estando fria, Dougie agora se sentia quente por dentro.
Um ar cheio de novas esperanças soprava contra os dois rapazes, balançando os cabelos dos dois e evidenciando os sorrisos alegres no meio da noite.
Capítulo 14 – Half Metade
Enquanto Tom andava pra lá e pra cá, reclamando alto da demora de e Dougie para ligarem, apenas olhava de rabo de olho para , sentada ao lado de .
Ela, abraçada as pernas, sentia um forte aperto no peito. Tinha vontade de chorar, mas mesmo que nem tentasse conter lágrimas, ela não conseguiria.
Talvez porque estivesse confusa demais para isso. Talvez por se sentir inútil. Certo, não era por completo, ela, de certa forma, havia ajudado Dougie e naquele momento só dependia dele sobreviver, mas o que a incomodava não era bem isso.
Na sua cabeça, cenas completamente indesejáveis eram por ela protagonizadas e, em algumas faltava , em outras . Não suportava a idéia de não ter uma das melhores amigas, ou então, ainda pior, o próprio irmão.
Ainda com os olhos presos no olhar preocupado que dirigia à mesinha de centro, abriu a boca, mas antes que dissesse algo o telefone tocou, e todos ali praticamente avançaram nele.
- Alô? – Tom disse ao telefone. – Ah, oi . E então?
Os olhares das três meninas não foram menos do que ansiosos. fez um gesto exagerado, pedindo para que Tom falasse alguma coisa.
- Ah, sim... – ele disse, e sorriu. Colocou o telefone no gancho e ligou o viva-voz – Pode repetir?
- O Dougie está em perfeito estado. Houve um ataque, mas ele está perfeitamente bem.
deu um gritinho, aliviada, e jogou-se de costas no sofá, com as mãos no rosto, agradecendo o bem-estar do rapaz.
) sorriu e soltou a respiração, antes presa em ansiedade. Tom fez o mesmo, mas no rosto de ainda havia uma expressão rija.
- Ataque? – ela disse. – Você disse ataque, ?
Eles puderam ouvir um suspiro do outro lado da linha, e com a voz consideravelmente mais séria, o rapaz respondeu:
- É... Eu e Dougie chegamos a conclusão que não são acidente, e sim ataques. – ele explicou. – No zoológico, todas as grades do corredor de entrada e saída comeram a despencar de uma maneira que se tivesse nos atingido, tchau. E o que a gente pôde perceber, foi que a grade parecia estar sendo atacada por uma espécie de força invisível. Em suma, não tem lugares onde fiquemos realmente seguros, mas podemos escolher aqueles onde seja mais fácil de sobreviver.
Tom coçou o nariz.
- E como vocês sabem que o Dougie está seguro?
- Depois de ter se salvado, apareceu debaixo dele um sinal brilhante do lobo branco, que deve ser o animal referente a ele no Totem. Nós não temos certeza, mas achamos que isso é o que quebra de vez a maldição.
voltou a se aproximar da fonte do telefone.
- Então, de certa forma, conseguimos alguma coisa? – ela perguntou.
- Parece que sim, . – o menino disse. Seu tom de voz sugeria que estava agora sorrido do outro lado da linha. – O Dougie não está aqui agora, foi até uma padaria 24hrs aqui perto comprar algo para comermos, estamos famintos, mas quando ele chegar, vai te ligar.
A menina corou, mas não evitou um sorriso, à medida que sorria para ela e lhe piscava.
- Onde vocês estão? – Tom perguntou.
- Temporariamente hospedados na casa do senhor que nos esclareceu a maldição. – o irmão de disse. – Acho que descobri outra pista sobre a lenda. – ele abaixou a voz. – O senhor me deixou olhar nas matérias e reportagens que surgiram sobre os assassinatos das outras vezes, e se eu não me engano, acho que achei um detalhe do qual ele nunca se deu conta.
- E qual seria? – perguntou, curiosa.
- Bem, eu tenho quase certeza que... AH, MERDA!
Todos se entreolharam preocupados.
- O que foi?
- Já são sete e meia, eu preciso ir.
- , são sete e meia da manha, aonde você quer ir? – levantou a sobrancelha.
O silêncio se prolongou por cerca de um minuto, um longo minuto. Depois eles puderam ouvir um baque seco do outro lado da linha, como se algo caísse no chão.
- Eu... Eu estou bem. – o menino disse em um tom atrapalhado. – Eu tenho que ir atrás dessa pista nova... Digamos que ela aceitou me atender a esse horário, diante da situação.
- Mas, dude... – Tom tentou dizer.
- Desculpa aí, meu, eu realmente tenho que ir. Se cuidem... E , eu achei melosidade demais da parte do Poynter, mas enfim, ele mandou dizer que te ama.
A menina enrubesceu quase instantaneamente, enquanto e lhe lançavam olhares maliciosos. Tom sorriu de canto de boca, sem que se desse conta.
- Até mais tarde. Hasta lá vista, Babies.
olhou para Tom, que sorriu. Depois desviou o olhar para e suspirou alto.
- Eu juro, eu juro por Deus, que eu ainda mato o por me deixar sempre curiosa.
- Ou talvez você não, mas enfim... – disse.
lhe lançou um olhar repreensivo e se levantou.
- O ruim é não poder saber quando vai acontecer mais um ataque.
Tom concordou com a cabeça.
- Deveria ter uma forma de descobrir como isso está se processando. – ele disse, sentando-se no sofá, ao lado de onde estava há poucos minutos. – Quero dizer, a maldição não deve ser aleatória, se até os animais estão seguindo uma ordem.
- O Tom tem razão. – disse.
levantou e foi até a cozinha, voltando de lá com uma folha de papel e uma caneta.
- O melhor começo para vermos isso, é revendo os horários dos ataques. – ela disse, sentando-se no chão. – Certo, que horas foi o incêndio na casa dos Jones?
Tom desceu do sofá e sentou-se ao lado de , e depois e fizeram o mesmo, ficando a primeira de frente para a menina, e do lado oposto de Tom.
- O começo, pelo que fiquei sabendo, foi lá pela meia-noite. – o menino contou. – Eu, na verdade, cheguei quando a casa inteira já estava em chamas, e o tal do urso do Totem estava lá.
- Se o urso estava lá, porque não deixou você ajudar o Danny? – perguntou, incomodada.
coçou o queixo, pensativa.
- A missão desses animais é proteger as pessoas, talvez eles mesmos devam fazer isso.
- Gente, vamos nos focar no horário. – disse. – O desmoronamento do armazém foi dois dias depois, certo? À meia-noite?
- É. – concordou. – Exatamente à meia-noite.
- Então todos os ataques acontecem exatamente à meia-noite?
Tom balançou a cabeça, duvidoso.
- Talvez seja isso, mas não podemos apostar muito.
- Mas o Dougie também foi a meia-noite.
Tom ponderou. – Eu sei, mas entre o incêndio da casa dos tios da e do , e o derrubamento do armazém, tiveram dois dias de intervalo, por assim dizer. Já entre o ataque ao armazém e o acidente do Dougie, teve somente um dia.
- Talvez seja uma progressão geométrica. – arriscou. – Podemos usar uma fórmula geral pra descobrir quando vai ser o próximo.
negou categoricamente.
- Não tendo só dois fatores, como A-um e A-dois, por exemplo.
riu, olhando para a amiga e exclamando “CDF”.
- Mas é verdade. – a outra se defendeu. – Foi o que caiu na prova de recuperação.
- Ta explicado.
- Cala boca.
- Gente, vamos nós focarmos nos horários? – Tom sorriu amarelo.
- Concordo. – riu. Os dois se entreolharam e coraram, virando os rostos depois.
cruzou os braços. – Ainda assim não dá.
suspirou, encarando os horários. Eles não iam conseguir nada, eles iam ter que esperar a sua próxima visão. Tudo dependeria dela.
Seu olhar voltou-se ao papel, onde, junto aos nomes de Danny, Harry e Dougie, tinham três horários.
Ela sentiu o sangue correr mais rápido nas veias, ao lhe ocorrer um pensamento.
Ela tomou a caneta das mãos de , sem dizer nada. Isso fez com que todos olhassem para ela, assustados com sua atitude.
Ela rabiscou mais dois horários entre os nomes e abriu uma chave entre os, agora, cinco acontecimentos, escrevendo logo abaixo, o espaço de tempo entre eles.
- , sabe o negócio de progressão geométrica? – ela perguntou.
- Sim...
- Agora temos fatores suficientes. – ela disse, e ergueu o papel para que os outros vissem.
- Visão? – Tom leu, confuso.
- É. – disse . – Se vocês pararem para ver, as visões aconteceram bem no meio desses intervalos de tempo. Entre o incêndio e a primeira visão, temos vinte e quatro horas, e entre Harry e a segunda, só houve doze horas, o mesmo que entre a segunda visão e Dougie.
- Mais ein? – Tom franziu o cenho.
- Faz sentido. – disse eufórica. – Isso praticamente nos dá certeza que o tempo entre ataques está diminuindo pela metade...
- Como uma progressão geométrica descendente. – completou.
- Então, se entre o último ataque e esse, foram vinte e quatro horas, agora serão apenas doze.
- De meia-noite para meio-dia. – sorriu. – E a próxima visão...
Ela abaixou os olhos ao papel e apagou o sorriso do rosto.
- Está errado, a visão deveria ter sido as seis, e bom, não foi.
arregalou os olhos, aterrorizada.
- Ou talvez tenha sido.
- Como assim?
- , da última vez que tive a visão, o homem mostrou o e a , que estavam sentados juntos, eu não sabia quem ele estava apontando. Se ele não apareceu... – os olhos da menina marejaram. – Então...
- Ah, droga. – exclamou, levando as mãos ao rosto, já com a voz embargada.
- Significa que o é o próximo, não é? – Tom arriscou.
- Por isso o homem não apareceu aqui para a . – concluiu. Ela pendeu a cabeça para trás e suspirou, sentindo um aperto forte no peito. – Droga, quando isso vai terminar?
- Não sei. – disse . – Mas nós temos que avisar o disso.
#
Na casa do velho senhor que ajudará a Dougie e , a porta se abria com pressa.
O telefone tocava insistentemente há quase duas horas, mas só agora tinha alguém na casa para atendê-lo.
Dougie correu até ele, mas quando o atendeu, já não havia mais ninguém do outro lado da linha.
Ele deu os ombros e voltou o telefone no gancho.
Ele achava que quem tinha ligado, ligaria novamente. Estava enganado.
Nota do Autor:
Bom, vamos aproveitar a oportunidade para ajeitar mais um capítulo pra vocês.
Aliás, a oportunidade é a seguinte: eu to sem absolutamente nada pra fazer porque a energia caiu aqui em casa e só me restou os 80% de bateria do notebook. U_U eu percebi que a energia não vai voltar logo quando eu vi, pela porta de vidro da minha sala, o fio do poste pegar fogo lá fora... E eu to sozinho aqui...
Mas... Detalhes, quem se importa com eles, né?
O importante é que graças a isso eu to aqui preparando mais um capítulo pra vocês. Eu espero que já tenha uma caixinha de comentários aí em baixo pra vocês comentarem, e eu preciso de comentários legais, grandes e gordos, afinal de contas, eu perdi todos eles.
Whatever, o que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado.
O próximo se chamará Both, que significa ambos, ou alguma coisa assim.
- Dougie, preciso falar com o ! – ela disse veemente.
- Ah? Não! Quer dizer, ele não está aqui. – o menino coçou a cabeça, confuso. – Por que?
Capítulo 15 – Both Os Dois
- Eu não estou conseguindo falar com eles. – disse , voltando o telefone para o gancho com raiva. – Mas que droga!
- Calma, a gente vai arranjar uma maneira de avisar o ou o Dougie a tempo. – disse , tentando passar alguma confiança, embora não acreditasse completamente nas próprias palavras.
estava a ponto de um ataque de nervos, sentada no sofá. E Tom acabava de voltar da cozinha com um copo de água com açúcar para a menina.
- Se ao menos soubéssemos onde o está. – lamentou. – Eu ficaria mais tranqüila se soubesse que ele está em um lugar seguro.
- O pior é a possibilidade de ele não estar. – disse . – Deus, eu não quero nem pensar se acontecesse com ele o que aconteceu com o Harry e o Danny!
) levantou o par de olhos tristes e rasos para os amigos.
- Eu não posso suportar isso de novo. – ela disse, não conseguindo mais segurar as lágrimas. – Não vou agüentar ver meu irmão... Meu irmão na mesma situação que o Harry. Eu não posso.
Tom sentou-se ao lado dela e passou seu braço pelos ombros da menina. Pela primeira vez desde o beijo que os dois haviam trocado, ela não recusou o carinho do rapaz.
- Vai ficar tudo bem... A gente vai achar o , vamos ajudá-lo a quebrar a parte dele da maldição, e tudo ficará bem.
levantou o olhar para Tom. Ele esperou uma reação da menina e abriu um largo sorriso ao a sentirela afundar o rosto na curva do seu pescoço.
e se entreolharam, mas não conseguiram sorrir pelos dois.
Tom fez um carinho na cabeça da menina e, aos poucos, o choro carregado de medos foi se transformando em meros soluços.
abraçou o próprio corpo, virando-se para a amiga ao lado.
- Que horas são? – ela perguntou em um sussurro.
- Onze e meia. – respondeu mordendo o lábio.
olhou o vazio, pensativa, e depois mordeu o lábio como a amiga, tomando uma decisão. Ela foi até a cozinha, ouvindo chamá-la.
- Aonde você vai? – a outra perguntou.
Com um olhar que tinha um misto de determinação e medo, respondeu:
- Atrás dele. – ela disse. – A ficaria péssima se algo acontecesse com ele. Nós duas também e você sabe disso.
- Ainda assim, não acho que seja prudente.
riu num tom quase irônico.
- O que tem sido prudente nos últimos dias? – ela perguntou, deixando a casa discretamente pela porta dos fundos, e deixando sob um suspiro ansioso.
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Quando o telefone tornou a tocar, Dougie estava na cozinha conversando com o velho homem que havia socorrido a ele e . Contava sobre o acidente que quase o vitimara no zoológico.
Dessa vez o menino correu e conseguiu atender ao telefone a tempo de ouvir a voz de , aflita, do outro lado da linha. Por reflexo, o menino acabou sorrindo, mas a voz da menina tinha um tom de medo tão intenso, que a felicidade se esvaiu da expressão do rapaz, como se ele pudesse vez o rosto de bem na sua frente, com uma expressão triste e abalada.
- Dougie, preciso falar com o ! – ela disse veemente.
- Ah? Não! Quer dizer, ele não está aqui. – o menino coçou a cabeça, confuso. – Por que?
- Ah, desculpe, Dougie, sei que deveria estar ligando feliz por você, mas o próximo ataque será ao meio dia, e como a não teve nenhuma visão e você já está a salvo, achamos que será a vez do .
- Mas ein? Droga! Como vocês sabem desses horários?
- Longa história. Basicamente sabemos que é o porque a teve ontem uma visão com ele e a , mas o velho não tornou a aparecer, o que indica que deve ser só o mesmo. – ela explicou rapidamente. – Olha, a pegou o carro do avô do Tom e está indo para aí. Daqui não estamos conseguindo falar no celular do , tente você falar com ele e avisá-lo.
- Está bem... E-eu vou... Mas, por Deus, procurem se acalmar.
- Obrigada. Te amo.
Ele se despediu da menina, não conseguindo sorrir nem mesmo com tais palavras. Suspirou alto e voltou a discar outro número no telefone.
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respirou fundo, fechando o portão velho daquela velha casinha de madeira, enquanto ouvia o metal enferrujado do portão ranger.
Ele sentou-se na sarjeta e passou as mãos pelos cabelos. A cabeça fervia em confusão. As últimas horas haviam chegado altamente carregadas de informações e, embora o rapaz agora sentisse uma pontinha de esperança aliviar-lhe o aperto do peito, dando uma confortável sensação como a de enfiar mãos geladas em água quente, havia também motivo para que ele se desesperasse. A verdade era que tudo estava nas mãos dos seis adolescentes que sobraram dos oito.
Ele já se levantava novamente quando sentiu o celular vibrar no bolso e segundos depois começar a tocar insistentemente.
- Droga. – resmungou irritado. Não com o celular, com a situação. – O que foi, Dougie?
- Como sabia que era eu?
- Pode parecer uma pergunta idiota, mas você sabe que eu estou falando com você pelo celular, aquele aparelho que tem visor e identifica chamadas, certo?
- Aham. E daí?
riu. Não se sentia feliz, mas a forma como Dougie conseguia ser lerdo às vezes simplesmente o fazia rir.
- Ah, esquece, Poynter! Diz logo o que você quer.
A voz do rapaz hesitou do outro lado da linha.
- Bom, ... O caso é o seguinte: você é o próximo a morrer.
estranhou a forma como aquelas palavras lhe passaram pela cabeça. Elas deveriam criar pânico, mas de alguma forma o demasiado uso da palavra “morte” naqueles dias havia acostumado o rapaz a ela.
- Como você sabe? A teve outra visão? – ele perguntou. O tom de voz era cansado e triste.
- Essa é a questão. Pelo pouco que sei, parece que ela achava que seria você e a ao mesmo tempo, mas quando hoje de amanha a visão não aconteceu, eles deduziram que era você.
ficou em silêncio por algum tempo. As palavras de Dougie ainda eram digeridas com certa dificuldade.
O mais estranho era que o menino sentiu uma relutância para aceitar aquele fato, mas no segundo seguinte, se deu conta de que não era pela idéia de morrer e sim por outra terrível possibilidade que passava pela sua cabeça.
- ? ? – Dougie chamava. A respiração do amigo denunciava a presença dele, aonde quer que ele estivesse, do outro lado da linha.
O rapaz, ainda sem responder, fechou os olhos cansados e passou as mãos nos cabelos.
- Dougie... E se tivesse uma outra explicação pra isso?
- Qual explicação? – o menino perguntou, parecendo aliviado por ouvir a voz do amigo.
- E se o motivo da visão não ter acontecido, seja porque eu e a estávamos em lugares diferentes? Mesmo espíritos não podem estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Dougie crispou a boca. Já podia sentir o sangue correr mais rápido pelo corpo. O arrepio assustador já voltava a lhe correr pelo corpo.
- O-o que vamos fazer? – o menino perguntou. – ... A , ela... Ela está na estrada.
- Droga! – o outro reclamou. Ia começar tudo de novo e ele não se sentia nem um pouco disposto pra isso.
- Temos que achar ela.
olhou para o lado oposto da rua. Um homem saia de um carro e levava algumas compras para dentro de casa.
- Dougie, ligue para a , avise que estou indo atrás da . Depois pegue um carro e vá para a estrada. – Dougie concordou do outro lado da linha.
- E Dougie...
- Sim?
- Tente ligar para e falar para que saia do carro e corra para o campo. Acho que numa situação dessas o menos prudente de tudo é ficar perto de estradas.
- Está bem. E você, tome cuidado também.
concordou e desligou o celular. Esperou que o homem pegasse mais sacolas no porta-malas do carro e, depois que ter certeza que este havia entrado, atravessou a rua em direção ao carro.
#
Quando desligou o telefone, olhou para e Tom. Havia terror estampado em seus olhos.
- Quem era? – perguntou, esfregando as mãos nervosamente.
- O Dougie. – respondeu-lhe com a voz falha.
Ela se sentou no sofá e, sem nenhum pensamento coerente na cabeça, segurou fortemente a mão de Tom, começando então a contar aos dois tudo o que Dougie lhe dissera.
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- Dougie, o que aconteceu? – foi o que disse a voz do outro lado da linha, quando Dougie, trêmulo, já quase desligava o telefone.
- , por Deus, ainda bem que você atendeu. – o menino disse, suspirando alto.
- O que houve? Você não parece bem.
- E não estou! – a menina crispou a boca, ansiosa, apertando o volante com a mão direita. – Olha, aonde quer que você esteja, pare o carro e desça agora.
Ela franziu o cenho, enquanto, incomodada por uma brisa gelada que invadia o carro, fechava a janela.
- Por que? – ela perguntou. – Eu preciso achar o , você já deve estar sabendo de tudo e...
- , se você não sair desse carro logo, vai morrer! – ele disse quase gritando.
- Como? Dougie, o que está acontecendo? – perguntou, claramente confusa.
- Que saco, ! Pára esse carro! O espírito daquele velho nojento não apareceu hoje de manha porque o não estava com você e ele não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo. A estava errada, você também está correndo perigo!
A menina precisou até afastar um pouco o telefone do ouvido, tamanha era a altura da voz de Dougie. Aquelas palavras ainda não tinham lhe sido absorvidas totalmente quando ela inclinou-se para o lado, tentando fechar a outra janela.
- Que droga! – ela exclamou, não conseguindo alcançar a manivela.
- O que foi? – Dougie perguntou.
Ela desistiu da janela e voltou ao telefone, encolhendo de frio.
- Nada, é que aqui ta muito frio e eu não consigo fechar as janelas.
- , DESCE DO CARRO AGORA! – Dougie gritou.
A menina pulou de susto e o celular caiu com o flip fechado no chão. Ela apertou o pé no freio e os pneus gritaram alto, enquanto deslizavam freados pelo asfalto. No segundo seguinte, voltaram a correr normalmente como se a menina nunca tivesse brecado.
Ela desviou o olhar para o relógio do carro. Ele indicava meio dia em ponto.
começou a ofegar, nervosa. Ela pisou várias vezes no freio, mas o ponteiro que indicava a velocidade subia cada vez mais no sentido horário.
A morena tentou abrir a porta, mas ainda que não estivesse trancada, a mesma nem se mexeu. Numa tentativa de certificar-se de que aquilo não era um simples defeito do carro, ela soltou o volante e ficou ainda mais horrorizada ao perceber que o carro estava em uma direção perfeita.
O medo e o terror se estamparam mais do que imediatamente no castanho dos olhos da menina.
inspirou fortemente, sentindo o ar lhe faltar nos pulmões.
Em meio ao desespero, o som do toque do celular interrompeu pelo carro, causando-lhe o segundo susto daquele dia.
Num lapso de bom senso, a morena jogou-se para o lado, tentando pegar o celular, desistindo de tentar controlar o carro.
- Alô?! ? Você está bem? – a menina perguntou.
Ela sabia que estava em apuros, mas não tinha se esquecido do propósito de estar ali. Ainda temia pela vida do amigo. Ela, , e eram o tipo de amigos que não saberiam viver separados.
- Bom, no exato momento eu estou. – disse ele. – Mas talvez nos próximos minutos não esteja mais.
apenas mordeu o lábio inferior.
- Onde você está? – ela perguntou.
- Olha pra frente.
Ela o fez e sentiu o coração bater mais rápido. Havia um calor doído e incômodo crescendo no seu peito.
Tinha um carro vindo na sua direção e, forçando os olhos na direção do motorista, podia ver , com as mãos acima da cabeça segurando o celular, enquanto o volante se mexia sozinho.
As lágrimas, até então contidas nos lindos olhos castanhos da menina, agora lhe lavavam o rosto. Ela sabia o que iria acontecer.
Os dois carros se aproximavam cada vez mais.
Os segundo se arrastavam lentamente.
- Então... É isso? – sua voz tinha um tom triste. Ela se perguntava se daria tempo para o amigo responder.
Estavam a três segundo um do outro.
A voz dele tinha um tom diferente do dela, quando ele respondeu:
- Não!
Enfim os dois carros se chocaram. O impacto teve tamanha força que mais do que imediatamente os dois vidros dianteiros se estilhaçaram completamente. O capô do carro de se retorceu e perfurou com brutalidade a frente do carro de .
se jogou para o banco de trás enquanto gritava aterrorizada. A menina testemunhou quando os carros, entrelaçados pelo metal retorcido, tombaram para o lado. Ela bateu a cabeça em algum lugar, virando de ponta cabeça dentro do carro.
- ! – ela gritou, sem ter resposta. – !
Sua voz evidenciava o desespero que ela sentia.
Os carros bateram mais uma vez contra o chão, despencando pela ladeira íngreme ao lado da pista, e depois se soltaram. O carro de foi deixado para trás e explodiu, impulsionando o carro de para frente.
A morena gritou novamente, mas ao olhar para frente pôde ver agarrado ao lado direito da liga metálica aonde o vidro dianteiro era fixado. Ela podia ver o sangue dos dedos do menino escorrer pelo que sobrara do vidro.
O carro trombou novamente e se viu obrigada a estender a mão o máximo possível para .
Ele deu um impulso no volante e pulou para o banco de trás.
olhou para o lado e viu um barranco e depois dele uma área plana de plantação.
- Vai parar! – disse ele. – CUIDADO!
Ele apertou forte a amiga contra o próprio corpo e os dois sentiram o carro dar um tranco.
ergueu-se no ar e bateu a cabeça no teto, caindo atordoado no espaço entre os bancos da frente e os de trás. O rapaz gritou quando, usando sua mão como apoio, apertou-a contra o chão e vários cacos de vidro que havia ali.
O carro se projetou no ar. Parecia mais uma grande bola metálica, completamente deformada e perigosa.
segurou o braço de com firmeza, e o puxou para o banco.
O carro enfim caiu no chão, emitindo o mais assustador dos estrondos.
e apenas respiravam ofegantes e assustados.
- Acabou? – ela perguntou, com os olhos fechados, quase chorando.
O menino se levantou e olhou para as palmas das mãos, cheio de dores. Havia cacos de vidro ainda presos ali e o sangue escorria com abundancia pelos braços.
- Acho que sim. – ele disse, rasgando uma das mangas da blusa de frio para enfaixar as mãos.
A menina se ergueu e, com a ajuda de , saiu do carro.
- ! ! – eles puderam ouvir a voz de gritar.
Os dois olharam para cima e puderam vez , , Tom e até mesmo Dougie na beirada da pista.
e choravam abraçadas a Dougie e Tom.
abriu um sorriso, mas um estrondo foi ouvido atrás deles, antes que ele e puderam fazer qualquer coisa.
A menina olhou pra trás e viu o carro completamente em chamas. O tanque furado e amassado do carro, agora exposto, pingava lentamente.
- Ah, droga! – gritou.
O menino empurrou e puxou a primeira coisa que viu na frente, usando para cobrir o corpo da menina. No segundo seguinte o carro explodiu e, da pista, pôde ver o fogo devorar o corpo dos dois amigos, sem nenhuma piedade.
Então, a única coisa que podia ser ouvida ali, alem do fogo que crepitava nos arredores do carro, era o choro sentido e sem esperanças de .
Capítulo 16 – Mediator Mediadora
Quando fechou a porta do quarto, quase trombou com Tom por não olhar por onde andava.
- Ai, desculpa. – Ela disse, sorrindo fraco. – Eu estou tão avoada que nem mais percebo o que estou fazendo.
Tom riu forçado, seguindo com a menina para a sala da casa dos Fletcher.
- Todo mundo está assim nesses últimos dias. – ele disse e depois olhou para o corredor de onde estavam vindo. – Como a está?
- Dormindo desde que o Dougie contou o que o tinha falado com ele por telefone. Ela ta exausta e eu confesso que não estou reconhecendo a .
- Por que? – o loiro perguntou, sentando-se no sofá.
fez o mesmo.
- A sempre foi a mais forte de nós quatro. Quero dizer, eu, o , ela e a . – A menina riu com alguma lembrança. – Na verdade, entre eu, ela e a , porque o é homem e... Sabe como é, até hoje acho que ele nunca teve uma crise amorosa ou algo do tipo, ele é animado demais pra isso. Mas enfim, o que eu quero dizer é que a sempre foi a pessoa para quem eu pedia ajuda sempre e agora ver ela assim, é difícil sabe?
- Não sei. – o menino disse. – Eu, ao contrário de vocês, sempre tive tudo de mão beijada, então não sei bem como é batalhas pelas coisas e sofrer por elas.
- Não seria difícil, Tom, você tem ótimos amigos. - disse ainda mergulhada nas lembranças do colegial. – E eu posso dizer, que foi assim que me mantive durante todos os dramas adolescentes da vida, sabe? Com os meus amigos, quero dizer. Eu realmente não sei o que teria sido de mim sem a , a e o .
Tom suspirou alto.
- Voltando a ... Você não acha que embora ela seja forte, ver o irmão naquela situação não é uma barra pesada demais pra se levantar assim?
- Com certeza. – concordou.
A menina ainda abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas foi interrompida por um estampido alto.
Ela olhou para o lado e viu Dougie, que havia entrado na sala como um foguete e tropeçado no tapete, se levantar.
- Eu estou bem! – ele disse, com as mãos erguidas.
riu de leve e Dougie foi se sentar ao lado dela, a cumprimentando com um selinho.
- Então como a está? – o rapaz perguntou franzindo o cenho e ajeitando a franja. Ainda assim ele parecia bem mais eufórico que e Tom.
- Está bem, a medida do possível! – Tom respondeu com um suspiro. – E você? Posso saber o motivo de tanta euforia?
- Bom, uma noticia boa... Mas eu também tenho uma notícia ruim.
coçou o nariz.
- A ruim primeiro, já que pior do que está não dá pra ficar.
- Bom... – Dougie começou. – Eu fui conversar com os policiais e bombeiros e eles simplesmente não acreditam que qualquer pessoa que seja tenha morrido naquele acidente. Segundo a perícia, não havia vestígio algum de restos humanos... – Dougie parou por um momento e enfiou a mão no bolso. – Até eles encontrarem isso.
Dougie estendeu a mão e Tom e se aproximaram para olharem. A morena, num gesto quase que instantâneo, levou uma mão à boca, e com a outra pegou o que Dougie lhe mostrava.
Em uma pequena e feia pulseira de pedrinhas negras, cheias de marcas, estava preso um pequeno pedaço de papel. Apenas uma pequena tira, mais que suficiente para anotar um número de telefone.
- O que foi? – Dougie perguntou confuso.
lançou-lhe um olhar assombrado.
- Era do . – Ela disse. – Ele ganhou de uma menina com quem ficou uns tempos. – Um sorriso fraco se abriu nos lábios dela, vindo junto com lembranças. – Essas marquinhas, era ele que fazia... – e então ela riu. – Quer dizer, quando ele estava entediado, nas aulas, ele ficava mordendo essas pedrinhas. Como elas são pequenas, algumas dela, de tanto morder, ele acabou quebrando.
- E o que tem de errado com isso? – Tom perguntou, confuso.
levantou os olhos para o rapaz.
- O perdeu a pulseirinha no dia que fomos no zoológico, gente... Ela... Ela não poderia estar lá aonde o carro explodiu! Não poderia! – ela respondeu, veemente.
- Talvez... – Dougie ponderou. – A boa notícia possa explicar isso.
Tom e voltaram um olhar curioso ao rapaz.
- Diga logo então, oras! – disse Tom. , por outro lado, abaixou os olhos e voltou a mexer no papel e na pulseira.
- Lembra do que eu contei? Digo, sobre o ter me ligado e dito sobre uma descoberta ou algo do tipo?
- Ta... E daí?
- Então. E daí que ele foi atrás da de carro e, adivinhem, o não tinha um carro. – Dougie disse, abrindo um sorriso esperto.
- Mas então ele... Ele roubou aquele carro?
O sorriso de Dougie aumentou enquanto ele tirava um outro papel do bolso e entregava para Tom.
- Uma notificação de roubo de carro. – disse Dougie. – Aconteceu exatamente depois que eu desliguei o telefone depois de falar com ele.
- Espera! – exclamou Tom. – O disse algo sobre ir a algum lugar ou ir ver alguém, alguma coisa do tipo.
- Bom, já sabemos em que rua que foi. Achar a casa talvez não seja muito difícil e... – Dougie, contudo, estancou a fala, mediante a uma risadinha engraçada de . – O que foi?
guardou a pulseira velha de no bolso e olhou novamente para um papel. De fato, parecia um Post It de anotar telefones e, de fato, havia um numero ali. Um número de três dígitos.
- Não vai ser nem um pouco difícil de achar a casa. – Disse , e ergueu o papel. – Ele queria que achássemos.
Dougie e Tom sorriram junto a menina, vendo os números três, oito e cinco quase apagados do papel. Escritos na letra que eles sabiam ser de .
#
A rodovia que passava por Ipswich, em Suffolk, e levava à Londres, cortando o estado de Essex, estava especialmente calma naquela tarde. E no trecho que ligava Londres à Chelmsford nenhum único carro havia passado há cerca de vinte minutos.
Lá, debaixo de um céu cinzento e um mormaço, contrastantes, uma única pessoa caminhava pela beira da estrada.
Seus cabelos estavam desalinhados e o corpo coberto de suor e fuligem. O rosto estava machucado; um ralado no lado esquerdo da têmpora e um profundo corte um pouco abaixo, do lado da bochecha. Do lado direito, de algum ponto da cabeça escorria um filete de sangue que tocava a ponta da sobrancelha, contornava o olho, e descia em linha resta pela bochecha. As roupas estavam completamente sujas de terra, molhadas de suor e rasgadas.
Seus olhos pareciam opacos, sem brilho e sem vida. Suas feições expressavam desilusão e até sua forma de andar denunciava sua tristeza e evidenciava o que o rosto, cheio de lágrimas, e os lábios crispados já dizia: não restava nenhuma esperança.
A pessoa andou vários metros cambaleando, mas acabou por apoiar as mãos nos joelhos. Uma dor cortante espalhou-se pelas pernas e a pessoa perdeu o equilíbrio e caiu no chão, chorando. As palmas das mãos, agora, estavam completamente manchadas de sangue, constatando os machucados nos joelhos.
Essas mesmas mãos sujas, a pessoa levou à cabeça, desesperada. Seu choro tornou-se alto e evidente na estrada. E por longos minutos foi assim. Mas em algum momento, um som de um motor foi crescendo pelo ambiente e abafando os soluços sentidos da pessoa.
O motor logo se mostrou pertencente a uma Mercedes SLK preta, que deslizava rapidamente pela pista.
A freada brusca da Mercedes chamou a atenção da pessoa na beira da pista, que viu as portas de vidro fumê se abrirem e, de dentro do carro, saírem um homem, que usava óculos escuros e tinham uma expressão séria no rosto, e uma linda mulher, que, com os cabelos loiros balançando, tirou os óculos escuros Dior.
Enquanto os dois se aproximavam, a pessoa acidentada ficava confusa, a vista turva fazia a paisagem começar a se destorcer e rodar diante dos seus olhos. Seus pálpebras pesavam vacilante.
O homem se mostrou preocupado ao chamar-lhe, segurando seus ombros. Não respondeu, e nem mesmo entendeu o que a mulher loira lhe disse em seguida.
O homem segurou a pessoa em seus braços quase no mesmo momento em que ela desfaleceu e tudo diante de si, apagou.
#
- 385... É, parece que essa é a casa. – disse .
suspirou ao lado de Tom e eles ouviram o sino da igreja bater as duas horas.
Dougie, incomodado pelo silêncio, deu um passo adiante e tocou a campainha.
- Vocês acham mesmo que o ia fazer isso? – perguntou; sua voz estava rouca e o rosto ainda meio abatido – Quero dizer, deixar uma pista dessas? Porque... Como ele iria adivinhar que não ia se salvar?
Tom deu os ombros.
- Precaução. – disse ele – Embora eu deva admitir que eu não ia pensar nisso.
- Gente, isso não é realmente...
Dougie estancou a fala de imediato e fez careta ao ouvir o rangido agudo da porta da frente da casa.
- Importante... – ele completou.
riu de leve e lhe deu um tapinha no braço, depois se virou para a mulher que atendera à porta.
Ela não deveria ter mais de 25 anos. Tinha cabelos loiros bem curtos e os olhos eram quase amarelados, em um tom de mel. A roupa que usava era bem simples: uma calça jeans comum e uma blusinha branca babylook.
- Bom dia. – ela disse simpática, aproximando-se e abrindo o portão.
- Bom dia. – sorriu – Anh, desculpe incomodá-la, meu nome é , essa é a e estes são Dougie e Tom.
A mulher finalmente sorriu e estendeu a mão para .
- Prazer, Madilaine. – ela disse – Mas me chame de Madie.
sorriu e, depois de comprimentar a mulher, esfregou as mãos, ansiosa. , aparentemente, ainda mais nervosa, deu um passo a frente, afobada.
- Senhorita, desculpe o importuno, mas nós precisamos de uma informação muito importante!
- Pois não...
Tom se apressou a dizer:
- Precisamos saber se um amigo nosso veio aqui procurar pela senhorita.
Madie fez uma expressão pensativa.
- Ninguém esteve aqui procurando por mim ultimamente. – ele parou por um segundo e sorriu. – Mas um garoto, da idade de vocês, veio procurar pela minha avó. Vejamos, ele esteve aqui hoje mesmo, bem cedinho. Chamava-se... ?
abriu a boca, mas foi mais rápida.
- Isso! Halles, é meu irmão!
- Ele mesmo – Madie exclamou e, então, abriu um sorriso cúmplice. – Se for sobre uma tal de... – ela abaixou a voz – Meia-noite, a lenda, podem ir entrando.
mordeu os lábios, aliviada. E Dougie, Tom e suspiraram vitoriosos, enquanto Madie deixava a frente do portão para que eles entrassem e dizia:
- Vocês vão ter bem mais que uma informação.
crispou os lábios com ansiedade, mas não disse nada. Ela apenas continuou seguinte pelo curto caminho até a casa.
A menina observou o jardim e assustou-se ao ver, ao seu lado direito, um pequeno gato, de pêlos cinzas roçar sua perna.
Dougie olhou para trás, confuso.
- Tudo bem?
- Eu me assustei com o gatinho. – ela sorriu.
- Aham, ta. – ele riu, e continuou seguindo, deixando confusa.
Os três adentraram a humilde casa e se impressionaram com seu interior.
Tudo era tão simples quanto o que havia do lado de fora, mas a decoração era simplesmente linda. O primeiro cômodo já era a sala. Havia um grande tapete vermelho estendido no chão, com desenhos em hélice no meio que lembravam símbolos celtas. Havia uma poltrona grande e confortável, coberta por uma pequena manta laranja de lã. Bem de frente a poltrona tinha uma pequena mesinha de centro, onde descansava uma travessa prateada com várias xícaras de cerâmica e uma garrafa térmica de café, e dos seus dois lados, havia dois sofás que tinham um outro tom de vermelho. A sala ainda tinha cortinas que acompanhavam o resto da decoração avermelhada da sala. Quando o sol tentava entrar pelas cortinas, deixando um rastro de luz alaranjada no ar, a sala adquiria uma deliciosa sensação de calor.
- Fiquem à vontade. – disse Madie.
Ela passou pelos jovens e serviu o café quente para cada um deles.
- Obrigada. – agradeceu.
- Vou chamar minha avó.
A loira afastou-se e desapareceu pelo corredor.
) e Tom sentaram-se no sofá à direita da mesinha de centro, ficando de frente para Dougie e . As meninas se entreolharam por um momento, confusas, mas o barulho de cortininha de conchas do corredor logo as chamou a atenção.
Uma senhora de olhos verdes e cabelos brancos presos em um coque no alto da cabeça sorriu simpática para os quatro.
- Essa cortina – disse ela. – chama a atenção de quase todo mundo que vem aqui. – ela tocou uma das conchinhas e depois a soltou, indo sentar-se na poltrona com a ajuda da neta. – Ganhei do meu filho, pai de Madie, quando voltou de uma viagem a Califórnia.
sorriu para a mulher.
- É linda.
) concordou.
- Alias, tudo na casa da senhora é muito bonito. – ela riu. – Até o seu gatinho.
A mulher olhou-a, com uma expressão vaga, mas logo se voltou as conchinhas.
- E não é? – a senhora disse, mas depois os olhou curiosamente por cima dos óculos velhos. – Quando fiquei sabendo sobre o acidente pelo meu vizinho da frente – ela deu uma risadinha significativa. – eu logo soube que receberia visitas mais cedo ou mais tarde.
- Desculpe incomodá-la – disse –, mas acho que, nesse caso, a senhora já sabe do que se trata, senhora...
- Mulroney. – ela sorriu novamente, mostrando os dentes brancos em um sorriso sereno. – E sim, eu sei do que se trata, mas confesso que estou curiosa para saber como me encontraram.
retesou o corpo.
- Meu irmão. – a menina disse. – Ele escreveu um bilhete com o endereço da sua casa.
A velha senhora levou a mão ao queixo.
- Não me lembro de tê-lo visto anotando coisa alguma – ela abanou as mãos levemente –, mas isso não importa, vamos ao que interessa.
Então, a atenção de todos se fixou curiosa na Sra. Mulroney, enquanto ela inclinava o corpo para frente e cruzava as mãos em um gesto delicado.
- Me digam, o que vocês querem saber sobre Midnight?
Tom foi o primeiro a pronunciar-se, mas não para perguntar alguma coisa. Ao invés disso ele contou tudo o que havia acontecido a ele e os outros desde suas estranhas chegadas ao vilarejo.
A Sra. Mulroney ouviu-o pacientemente, mostrando expressões curiosas em certas partes da história.
Quando Tom terminou de relatar o que havia acontecido, detalhe por detalhe, a mulher voltou a recostar-se na cadeira.
- É, de fato, foi como seu amigo me descreveu, exceto, é claro, pelo triste acidente que o envolveu e a sua amiga. – ela suspirou. – Mas a maldição está acontecendo de forma um tanto diferente.
Dougie levantou o olhar curioso para a mulher.
- Diferente como?
- Diferente da vez em que isso aconteceu comigo. – ela disse.
mexeu os ombros, confusa.
- Não entendi. O que houve de diferente.
A mulher hesitou por um segundo.
- Seu amigo havia mencionado as habilidades cedidas a dois de vocês pelo Totem. – ela sibilou. – Ele, contudo, não havia mencionado quais eram e, agora que você explicou, eu não creio que você, , seja uma dotada.
- Dotada é a pessoa que tem o poder? – questionou .
A velha senhora confirmou com um sorriso.
- Não, eu tenho sim. – disse . – Quero dizer, eu vejo aquele homem toda vez que ele vem mostrar o próximo, então...
- E o seu amigo pode ver os espíritos animais do Totem. – a mulher concluiu. – É um mesmo dom que uma das pessoas que eu conheci tinha antes de morrer. – a Sra. Mulroney inclinou o corpo para frente. – Mas ver o homem não era uma das habilidades, querida. Nós nunca pudemos saber quem seria o próximo, porque não havia uma pessoa que pudesse vê-lo.
A menina de cabelos loiros franziu o cenho.
- Mas eu pensei que os poderes cedidos fossem sempre os mesmos.
- E são – a senhora lhe disse, com um sorriso no rosto. – O que nos leva a concluir que você não é uma dotada, só o Thomas.
Tom balançou a cabeça, negativamente.
- Não, ela vê o homem, de fato, Sra. Mulroney. – ele falou. – Ela é sim a segunda dotada.
A mulher tornou a negar.
- Querido, eu vi um teto em chamas cair em cima do segundo dotado da minha época, e ele era meu melhor amigo. O poder dele não era ver os mortos e nem é o da sua amiga. – a voz da mulher pesou sobre os garotos, que resolveram aceitar.
- Eu não entendo. – disse a menina. – Dessa vez deve ter mudado, então.
A velha mulher a sua frente suspirou, olhando de soslaio para a neta.
- Querida, você, quando entrou, disse que havia visto um gato na entrada. Como ele era?
- A senhora não sabe como é sua gata? – perguntou, olhando confusa para todos na sala. Ela já parecia atordoada o bastante para ouvir a mulher falando apenas em enigmas. – Ele era bem peludo e rajado, e era pequeno.
Madie pareceu assustada diante da resposta.
- Mas isso não é...
- Querida. – a Sra. Mulroney interrompeu a neta, olhando para . – Você não é uma dotada, você é uma mediadora.
- Perdão?
- Uma mediadora, que pode ver, falar, ouvir e até mesmo sentir os espíritos de seres que já morreram. É por isso que consegue ver o homem que os amaldiçoou, e não por ter algum dom do Totem. Esse dom é seu.
- Mas de onde a senhora tirou essa idéia maluca? – perguntou. A forma enigmática como a mulher falava já estava irritando-a.
- Tirei do fato de que eu não tenho nenhum gato vivo, querida. O gato que você viu era de Madie e morreu há alguns meses.
levou as mãos à boca, assustada. Tom e Dougie olharam para , apreensivos.
Aquela conversa estava, inegavelmente, agitando-os. Os quatro amigos sentiam uma dose fortíssima de adrenalina correr pelos seus corpos, quase rompendo suas veias.
Tom, por puro reflexo, levantou-se abruptamente, com uma possibilidade extraordinária passando pela sua cabeça. Ele olhou para todos na sala, aterrorizado.
- Mas se a não é a segunda dotada, então quem é? – ele perguntou.
Dougie olhou-o e arregalou os olhos.
- Pode ser qualquer um de nós, talvez fossem até mesmo a , o , o Danny ou o Harry.
A velha senhora sorriu misteriosamente.
- Vocês estão finalmente entendendo como isso funciona, não é? – seu olhar tornou-se severo. – Vocês devem entender que vão precisar mais do que resistência física para quebrar a lenda, vão precisar de inteligência, raciocínio.
abaixou a cabeça, quieta. E levantou novamente a cabeça para encarar a Sra. Mulroney.
- Então há uma maneira de quebrar a maldição?
- Se, de fato, há, eu não sei, já que ninguém nunca a quebrou, mas muitas pessoas dizem que se todos os amaldiçoados sobreviverem, a maldição não volta a se repetir. Caso contrário, só as pessoas sobreviventes poderão voltar a viver em paz.
Todos eles olharam para Dougie, mas antes que qualquer coisa fosse dita, levantou-se em um pulo.
- O fato da não ser a segunda dotada significa mais do que isso. – seus olhos brilhavam em uma possibilidade maravilhosa e assustadora. – Se ela é uma mediadora e vê as pessoas que morrem... Bem, ela não viu nenhum dos meninos, nem a , e eles tipo tinham várias pendências aqui na terra.
levantou um olhar surpreso para a amiga.
- Você acha que eles não...
- Oh céus, eu sou tão distraída. – disse a Sra. Mulroney, levando as mãos à cabeça. – Esqueci de contar sobre o mais importante.
- Sobre o que mais? – Dougie perguntou surpreso.
- Os Almes!
Tom e voltaram a se sentar.
- Por favor, é muito importante que a senhora seja rápida, Sra. Mulroney. – o loiro disse. – O que são Almes?
A senhora levantou a cabeça, olhando-os com um sorriso vitorioso que passava um sentimento de segurança e alívio.
- O Alme é aquilo que vai ajudá-los a trazerem seus amigos de volta!
Os quatro jovens entreolharam-se atônitos. No fundo de cada um deles a esperança que tinha desaparecido com e parecia voltar aos poucos.
Eles quase podiam ver, no sorriso da Sra. Mulroney, uma força revigorante atingí-los em cheio e preencher o ambiente de esperanças renovadas.
Capítulo 17 - The Fifth O Quinto
A cena que se seguiu foi calma e afobada ao mesmo tempo. Uma mistura de dois sentimentos tão contrastantes era facilmente causada pela ansiedade dos garotos contra a calma com a qual a sra. Mulroney corria seu olhar por eles todos.
A neta já saída da sala há alguns minutos quando Tom endireitou o corpo e pigarreou incomodado.
A sra. Mulroney, contudo, não mostrou-se apressada ao averiguar que horas eram e constatar que haviam ainda cerca de vinte minutos para as três horas da tarde.
- Almes. – Dougie disse quase inaudivelmente encarando o vazio com uma expressão pensativa.
- Almes... Ah, sim, eles podem trazer seus amigos de volta... – a senhora voltou a dizer. – Mas não digo que é fácil. Na verdade é uma prática difícil o bastante para que eu nunca tenha a tentado mesmo depois de ser a única a sobreviver na maldição.
crispou os lábios, se perguntando interiormente se deveria manifestar sua curiosidade em relação aos tais Almes. A velha senhora continuou calada, o que bastou para que a loura decidisse pronunciar-se.
- O que são esses Almes?
A sra. Mulroney sorriu quase travessa diante da pergunta; decididamente divertida.
- Um Alme é qualquer objeto ao qual seus amigos tenham sido extremamente apegados quando eram vivos – ela disse – É obvio que essa história surgiu como uma mera lenda, mas eu já tive motivos mais do que suficientes para acreditar que é verdade.
e continuaram a encará-la com apreensão.
- Enfim, dizem que os objetos aos quais nós nos apegamos demais passam a guardar a nossa essência, o nosso toque – a sra. Mulroney abriu um sorriso álacre. – E isso é uma ligação forte o suficiente para trazê-los de volta.
Dougie levantou um olhar enleado para a mulher a sua frente.
- Traze-los de volta? Tipo, da morte?
O olhar da mulher tornou-se sério sobre os quatro jovens.
- De onde eles foram por estar amaldiçoados.
Então, como se pudesse ver os fantasmas que via, lançou um olhar assombrado a mulher a sua frente; uma tremor passava pela sua pele num tom gélido.
- L-lugar para onde vão pessoas amaldiçoadas? A senhora... a senhora quer dizer que as almas do , da , do Danny e do Harry foram para... o inferno?
O silêncio que a sra. Mulroney decidiu por preservar foi absolutamente mais do que o necessário para que os rapazes entendessem sua atitude afirmativa. já não sabia quantas vezes tinha se espantado naquele dia, era difícil assimilar tanta informação em tão pouco tempo.
O que de fato os assustava, contudo, eram as novidades em si. Há alguns dias atrás eles não poderiam acreditar, em hipótese alguma, que a remota possibilidade de fantasmas, maldições ou até mesmo magia existissem. Agora, por outro lado, tudo parecia tão concreto que teve o ímpeto de imaginar a maldição de uma forma tão verdadeira, que quase lhe parecia palpável.
A sra. Mulroney não conseguia conter de sorrir superficialmente vendo aqueles quatro jovens tendo as mesmas surpresas absurdas que ela tiveram quando jovem, mas dentro de si havia marcas que, como cicatrizes negras incuráveis, a lembrava de como era horrível aquele destino que lhes fora imposto.
Mas ela sentia algo diferente vindo daqueles quatro pares de olhos inocentes; um brilho quase esperançoso o suficiente para fazê-la acreditar na determinação dele; uma luz branca que parecia ofuscar a sua visão pessimista. Ela os achava especiais, diferentes de qualquer pessoa que já tivesse passado por aquilo, incluindo a si mesma.
- É... difícil de acreditar – disse Tom. – Quero dizer, estamos lidando com algo que vai mudar as nossas vidas para sempre.
- Não estamos conseguindo lidar com isso, Tom. – Dougie observou.
Mas eles conseguiriam. A velha e sábia senhora a frente tinha certeza disso. Uma estranha certeza que parecia emanar dos espíritos corajosos daquelas crianças que encarava.
- Eu vou dizer a vocês uma frase que repito a mim mesma todas as noites, um conselho que nunca me deixou em apuros. – ela olhou-os blandiciosamente; sua voz suando suave como veludo. – Descubra quem você é antes que seja tarde!
Os quatro apenas se reservaram um momento de reflexão mergulhado no silêncio.
suspirou profundamente e apoiou as mãos nos joelhos, num impulso de se levantar, mas se deteve, sentindo-se tonta. Isso não fugiu aos olhos da sra. Mulroney, que levantou os olhos rapidamente para o relógio pendurado na parede oposta da sala.
- Três horas. – ela declarou; sua voz saiu com um leve tremor carregado de agonia e seu olhar se fixou no vazio, como se esperasse que algo acontecesse.
, Tom e Dougie sabiam o que era e correram os olhos preocupados para .
No segundo seguinte a menina percebeu os sons se extinguindo da sala. Os olhares dos amigos tornaram-se vazios e uma brisa gélida deslizou sinuosamente pela sala.
se virou, atordoada, e, sem ter certeza de que seria possível, quase chocou-se com a figura de um velho homem com as vestes rasgadas e sujas, a barba comprida, dando-lhe um aspecto de sujo, e os olhos negros como se neles guardasse as Trevas.
Por um momento achava que o olhar dele estava fixado nela, mas o foco de atenção do homem estava atrás de si.
Sua mente exigiu que se virasse para ver quem era, mas seu corpo não obedeceu. Uma fração de segundos depois, um instinto que ela não sabia de onde vinha mandou tocá-lo; ela queria, no fundo, saciar a curiosidade de saber se poderia, se era uma mediadora. Sua mão se moveu pouco mais de um centímetro, seus dedos travaram.
O ponteiro do relógio correu mais um pouco, produzindo um som que se arrastou grave pela sala. A tontura voltou a afligi-la, dessa vez mais fraca.
E dessa vez sentia que tinha assumido finalmente o poder sobre o próprio corpo. A sensação de frio passou e seus dedos tremeram. Mais um longo segundo se passou, e a menina, num súbito acato ao seu instinto, correu sua mão até o homem.
Seu corpo gelou e seu cérebro começou a trabalhar rapidamente quando ela sentiu o pulso frio do homem pulsar firme entre seus dedos.
Uma dor aguda no fundo dos olhos e os fechou com força, gritando. Sua voz foi abafada por sons que ela não sabia de onde vinham.
Quando os olhos tornaram a abrir o homem não estava mais na sua frente. Imagens se sucederam em uma velocidade que quase a impediu de reparar no que era.
Um grito, o rosto de apavorado, um zumbido ensurdecedor e um corpo caindo pesadamente na água.
sentiu-se sufocar no rápido segundo seguinte e piscou os olhos novamente, se deparando então com o teto de madeira da casa da sra. Mulroney. Os sons cessaram e a dor passou como se nunca houvesse existido.
Dougie, Tom e a olhavam preocupados, enquanto a voz da sra. Mulroney perguntava ao longe se ela estava bem.
Ela se levantou rapidamente; seus olhos molhados a beira de um ataque de choro. O rosto pálido portador de um olhar horrorizado que percorreu a sala anelante.
- A ... – disse em desespero, desconexamente. – A quinta. Você, , é a quinta... a próxima.
Tom e Dougie olharam preocupados de para , mas a reação da morena fora diferente do que eles imaginavam: ela apenas coçou a cabeça, mexeu displicente nos cabelos negros, e sentou-se em cima das próprias pernas.
O olhar que a sra. Mulroney lhe lançou, sem que percebesse, foi otimista. A mulher sentia que já se conscientizara sobre o que estava passando, ela parecia saber exatamente o que a aguardava e a sra. Mulroney sabia que aquilo era bom, sabia que era uma sinal de força que nenhum dos outros havia demonstrado ainda.
Então o olhar de encontrou o seu e ela não hesitou em passar toda a confiança que podia à menina. A sensação de algo grande chegando aumentava dentro do peito da velha; sua esperança crescia diante dos olhos da morena mesmo que ela própria não estivesse correndo perigo.
então sorriu e levantou-se do chão. A sra. Mulroney pareceu ler seus pensamentos.
- Aqui está – disse ela, estendendo nas mãos um grosso livro de capa de couro negro e bordô. – O livro que ensina sobre o uso das Almes.
Um por um, os outros três se levantaram atrás de e a velha senhora sorriu de satisfação. Nos olhos de cada um deles havia o que ela nunca havia visto em si mesma: determinação. E ela teve certeza sem dizer mais nada; eles venceriam. Aceitariam caminhar pelos caminhos mais obscuros e sombrios em direção, talvez, á morte, mas aceitariam o destino que lhes fora imposto, não temendo as conseqüências.
- Tocar esse livro significa aceitar o que está por vir – disse . A sensação de hesito atrás de si diminuiu significativamente. – Eu não vou ficar parada vendo tudo isso acontecer.
Aquela declaração causou uma sensação boa inexplicável em todos ali. abaixou o olhar, mas tornou a levantá-lo e tocar o ombro de com as mãos.
- Nenhum de nós vai. – ela disse.
pegou o livro das mãos da sra. Mulroney, aproximou-se dois ou três passos e despediu-se beijando carinhosamente o rosto da mulher.
Ela se virou e deixou a casa com os amigos. Eles saíram na rua e continuavam andando, sem se perguntarem onde estavam indo. Mas eles sabiam onde iam parar: onde tudo aquilo começara.
Capítulo 18 - Bee Abelha
O monte de cabelos dourados balançou graciosamente quando a mulher tirou os óculos escuros para observar o corpo dormente a sua frente. O rosto cheio de curativos agora estava, ao menos, limpo. O braço direito estava enfaixado devido a uma fratura, igualmente às costelas. Os cabelos castanhos estavam graciosamente arrumados, dando ao corpo um aspecto angelical.
A porta do quarto hospitalar se abriu com um ruído arrastado e um homem entrou com um andar marcado, como uma marcha. Ele pôs as mãos nos bolsos da calça e suspirou. Abriu a boca para dizer algo, mas um gemido dolorido da pessoa deitada à cama interrompeu-o.
A mulher olhou confusa para o corpo. Ela sabia, pela boca do médico, que a pessoa estava debilitada o suficiente para dormir por alguns dias e ficar sem se mexer por ainda mais tempo. A pessoa da cama mexeu os braços, apoiou-se na cama, e fez menção de levantar, coçando os olhos.
- Como ela...?
O homem fez um sinal brusco, estancando a fala da sua acompanhante.
- Vamos embora. – disse ele, e piscou.
O abrir dos seus olhos foi a primeira e única coisa que a pessoa da cama viu ao abrir os olhos e focalizar os dois borrões a sua frente; tudo acontecera muito rápido. Num segundo as escleróticas dos olhos do homem pareciam fundir-se com suas pupilas, cauginosas como a própria escuridão; e nesse segundo um tremor passara pelo corpo da menina; ela tinha certeza que vira, naqueles olhos absurdamente negros, a escuridão e a maldade em uma mistura caótica capaz de atormentar as pessoas mais corajosas.
Um frio percorreu o seu corpo por completo e instalou-se no seu peito. O ar lhe faltou como se duas mãos enormes lhe comprimissem os pulmões com violência; a pessoa ofegou fortemente, como se buscasse por um oxigênio que não existia mais ali. Um súbito desespero, grande e bruto, acompanhado de uma desesperança que duvidava já ter sentido na vida possuíram seu corpo e sua alma.
Contudo, ao piscar os olhos incrédulos, não havia mais nada na sua frente, nem os olhos negros, nem ninguém. E o mal-estar desesperador desapareceu como se nunca houvesse existido.
- A senhorita está bem? – perguntou carinhosamente uma voz aveludada.
E só então a menina percebeu a enfermeira que lhe olhava com preocupação da porta do quarto.
- Eu... E-estou.
A mulher sorriu.
- O doutor está atendendo alguém no centro do vilarejo, mas assim que ele voltar, pedirei que venha lhe examinar.
E então cenas chocantes voltaram à cabeça da menina com ferocidade; diante dos seus olhos, mais uma vez, um carro tombava ladeira abaixo e quatro pessoas lhe olhavam com preocupação, depois só havia calor... Calor e fogo.
- Ah, sim... Claro. – ela disse. Os pensamentos ainda levemente dispersos na cabeça.
Tão logo a enfermeira deixou a porta do quarto para atender a próxima ocorrência, a menina levantou-se com um pulo e vestiu-se com roupas que haviam sido deixadas cuidadosamente em cima de uma cadeira onde há poucos minutos tinha certeza de ter visto uma linda mulher de cabelos loiros. Deixou a tipóia de lado e moveu os braços com vitalidade.
A menina já quase deixava o quarto quando algo lhe chamou atenção. Ela voltou ao lado da cama e apanhou a prancheta transparente que segurava seu prontuário.
Uma surpresa tomou o lugar de um brilho ansioso nos seus olhos enquanto, confusa, mas sem tempo, ela pegava o papel e o lia uma segunda vez.
Fratura nas três costelas superiores diretas.
Fratura no antebraço direito.
Corte profundo no supercílio...
Dobrou o papel e enfiou-o no bolso sem cuidado. Depois apenas deu uma última olhada no quarto, certificou-se que não deixara rastros da sua identidade e deixou o lugar.
-X-
A tristeza que assolava completamente aquela rua e os seus moradores era evidente e vinha do lugar mais vazio e ao mesmo tempo mais preenchido: as ruínas da Mansão Jones.
Quando ouvira falar nas dimensões da casa do primo, imaginara um lugar enorme, mas aquela casa algum tempo atrás deveria ser simplesmente o lugar mais suntuoso de toda a região. O terreno onde fora construída juntava-se a mais quadro de mesmas dimensões, dando a impressão de ser uma área muito maior do que de fato era.
Agora, contudo, não havia mais vestígios de que uma família fora tão feliz ali, eram apenas destroços arruinados. A madeira podre e queimada cheirava forte ainda e, espalhada por todos os lados, deixava, mesmo de dia, o lugar jazendo sob uma falsa escuridão aviltada. Se alguém passasse ali não apostaria que dias atrás havia uma mansão bela e majestosa, mas uma casa decrépita e onerada de tristeza.
estava sentada em cima dos restos metálicos do que fora um pequeno portão para os fundos da casa. olhava para ela penalizada, querendo deixá-la ali, pensando, refletindo sobre as milhares de coisas que todos eles queriam refletir. Por outro lado, entretanto, ela tinha medo. O tempo parecia voar e ela tinha a terrível sensação que cara segundo fugia deles, numa tentativa sensata de deixá-los a mercê da maldição. Entrementes, ela desejava sair dali o quanto antes. E esse desejo crescia a medida que seus olhos encontravam os pedaços pontudos de madeira no chão, os cacos afiados de vidros, e os milhares de pregos enferrujados nas paredes.
- Acho melhor irmos embora – ela disse.
não respondeu. Ao invés disso um suspiro escapou por entre os lábios e ela deu uma última olhada em volta antes de se levantar.
Tom olhou para as duas e levou a mão até o bolso, procurando o celular para consultar as horas. Ele achou o aparelho e o tirou do bolso junto a carteira.
- Ficar aqui não vai adiantar nada mesmo – admitiu.
Ela já abria a boca para dizer alguma coisa quando Dougie gritou de algum canto da casa.
- Ei, venham aqui!
e entreolharam-se e depois saíram pela porta dos fundos da casa.
- Ei, me esperem! – Tom pediu, mas as duas pareceram nem ouvir.
O rapaz deixou o celular e a carteira no chão, escondidos entre as madeiras, e correu atrás das duas amigas.
Passando a zona de destruição que era o interior das ruínas da Mansão Jones, , e Tom impressionaram-se ao ver um quintal que, a medida que se afastava da casa, ficava verde e florido.
Era como um quintal recreativo onde o fogo não havia chegado. Havia uma churrasqueira de tijolos empoeirada e uma comprida mesa de madeira clara com cadeiras a frente dela. Um laguinho com peixes brancos e dourados nadando sofridos e outro boiando mortos. Por fim, mais a esquerda da churrasqueira, há uns cinco metros, havia uma grande piscina que estava cheia de uma água limpa, mas coberta de flores e folhas das árvores ao redor.
De longe era um paraíso, mas de parto voltava a refletir a tragédia que se abatera sobre aquele lugar.
- Bom, tirando os peixes mortos há dias e a piscina suja, eu pensei que seria mais confortável que lá dentro – Dougie deu um meio sorriso, balançando os ombros.
sorriu pra ele. concordou com a cabeça, olhando com nojo os peixes mortos no laguinho e Tom apenas levantou as sobrancelhas sem dizer nada, olhando ao redor.
- Bom – disse . – Pelo menos não cheira a madeira podre...
- É, cheira a peixe – riu.
sentou-se em baixo de uma árvore e apertou o Livro dos Almes contra o peito. Fechou os olhou, deixou a brisa limpar seu rosto de toda aquela amargura vivida até ali.
encostou-se à outra árvore ali perto, do lado oposto a amiga e logo Tom se junto a ela.
Dougie não estava mais no campo de visão dos dois, mas eles suspeitavam seriamente que ele estava com .
- Tom... – chamou brandamente.
O garoto virou o rosto pra ela, mas ela estava de olhos fechados.
- Você acha que a gente vai sair dessa?
O menino olhou para cima e não respondeu de imediato. Por um momento pensou que, nos filmes, o mocinho diria para a mocinha que tudo iria ficar bem. Mas claramente isso não era uma verdade incontestável.
- Eu não sei, – ele respondeu; os olhos ainda fixados no céu. – Gostaria de dizer que sim, mais do que qualquer coisa, gostaria de te dizer que sim.
A garota riu quase como se aquilo fosse uma piada. E então os olhos foram se abrindo vagarosamente.
- Eu também gostaria de te dizer uma coisa – ela pendeu a cabeça para o lado e franziu o cenho. – Ainda mais mediante a nossa... Situação... De possivelmente sofrer uma morte terrível e dolorosa.
Foi a vez de Tom franzir a testa e encarar e nesse momento ela virou o rosto para o rapaz também. Cinco centímetros de distância, não mais que isso.
- O que... V-você quer dizer? – ele gaguejou.
- Eu só queria que você soubesse, sabe, por via das dúvidas, que eu... Bom, eu... – ela respirou fundo e soltou o ar. – Eu acho que...
Mas a voz de Dougie voltou a preencher o ar e interromper a menina.
virou-se para o outro lado da arvora, vendo ele levantar-se do lado de , que continuava sentada no chão.
- Estamos aqui – ela disse tranquilamente. – O que foi?
- Esse barulho – o rapaz respondeu. – Vocês não estão ouvindo?
e Tom entreolharam-se.
- Não tem nenhum barulho, Dougie – disseram os dois.
Ele franziu o cenho e, ao seu lado, levantou o olhar para e Tom.
- Tem, sim – a morena disse. – Um bipe. Não estão ouvindo?
voltou o olhar para Tom, mas não disse nada. Ficaram apenas em silêncio, com os olhares desviados e com a testa franzida, tentando fazer o silêncio instalar-se no lugar.
E então puderam ouvir.
Bem de longe, quase como um eco fraco, um som agudo apitava diluído nos outros barulhos do quintal. Mas não vinha de lá. Vinha de algum lugar no interior da casa. E foi essa conclusão que fez os olhos de Tom quase saltarem do seu rosto.
Quando olhou para ele, um arrepio percorreu seu corpo com a certeza de que não poderia ser boa coisa.
- O que foi, Tom? – ela perguntou hesitante. – Se você sabe que barulho é esse, por Deus, fala logo.
O garoto olhou de rabo de olho para e Dougie. Aproximou então o rosto de . Os lábios quase tocaram o ouvido da menina, discretamente da maneira que podiam. E ele disse:
- É o meu celular – começou um suspiro, mas não chegou a soltar o ar que inspirou. Antes disso Tom completou: - Estava programado para despertar as seis.
E o olhar da menina, perseguido por uma terrível conclusão, correu até onde Dougie e estavam.
Os dois ainda olhavam para eles com olhares interrogativos.
Mas não disse nada, apenas percorreu todo o cenário ao seu redor, observando atentamente cada detalhe. Procurando pelo perigo que estava prestes a chegar.
Havia quatro ou cinco árvores por ali, incluindo as que serviam de lugar de repouso para ela, Tom, e Dougie. Na piscina nada parecia ser perigoso. Nem na churrasqueira velha. Dessa vez, o mal não dava sinal de vida na hora certa.
Ela ainda viu uma vassoura há poucos metros de si, mas alguma coisa a fez desconfiar que não era ali que o perigo estava. Depois viu um cesto de lixo, e no topo de uma árvore, um cacho de abelhas.
Um cacho de abelhas. Simples. Comum. Estranha e potencialmente mortal? Não parecia, e foi exatamente por isso que começou a correr.
Tudo aconteceu muito rápido.
A menina gritou o nome da amiga a pleno pulmões:
- , cuidado!
E a mesma olhou para cima. No topo da árvore estava o cacho de abelhas, com algumas delas rodeando sua própria moradia. E de lá de cima, subitamente, ela despencou.
Não foram mais que cinco segundos que separam o momento em que jogou seu corpo sobre o de e, com um dos braços, desajeitada, empurrou Dougie para o lado.
Os corpos de e precipitaram-se alguns metros à frente e caíram pesados sobre o chão no exato momento em que o cacho de abelhas chocava-se com o chão e se quebrava em pedaços.
Tom e Dougie logo chegaram para ajudar e a levantarem. tinha um ralado feio no braço, sujo de sangue e terra, mas o estado de era um pouco pior. A menina tinha um machucado profundo no joelho, por onde esvaía-se uma quantidade razoável de sangue, e tinha torcido violentamente o tornozelo, que latejava tão terrivelmente que a impedia de tocar o pé no chão.
Metros adiante, dos restos do cacho de abelhas, suas moradoras erguiam-se no ar, irritadas, leves como uma nuvem, mas zumbindo ferozmente como o enxame que eram. Elas rodearam a árvore e então pararam no ar por um segundo.
Dougie sentiu um arrepio na vértebra. Um frio congelante espalhar-se pelo seu estômago e atingindo seu peito. Era a mesma sensação que sentira no zoológico na noite que ) o ajudara a continuar vivo. E pensar que ele não fizera o mesmo pelo amigo fez seu coração apertar. Mas diante da enorme nuvem negra de abelhas, ele teve algo mais com o que se preocupar.
- Corre – foi a única palavra que ele disse, quase num murmúrio, para .
- O-o que?
- Corre! – e olhou para ela. – Vai, , agora!
E como se os milhares de insetos pudessem ler seus pensamentos, dispararam feito rajadas de flechas contra o quarteto.
E deu um beliscão em Dougie, lembrando-o que não conseguiria correr. E diante dessa situação ele, e Tom começaram a correr puxando a amiga junto de si da melhor maneira possível.
Mesmo sendo óbvio que as abelhas poderiam alcançá-los facilmente, não era algo com o que Dougie contava.
Suas pernas já doíam pelo esforço de estarem suportando ainda um terço do peso de e sua mente estava a ponto de queimar visto a velocidade na qual trabalhava.
Eles passaram por detrás de uma árvore e depois contornaram outra. Correram por mais alguns metros, e ainda assim parecia que não havia uma saída.
A enxame negro, quase espertamente, dividiu-se em dois, partindo também ao meio as chances que os quatro tinham de sair daquela vivos. Uma metade continuou a segui-los, outra contornou o caminho, vindo então de encontro a eles.
Agora só havia eles, a piscina e as abelhas.
Esperando pelo momento em que seriam cobertos de doloridas ferroadas, Tom teve uma idéia. Ele agarrou o braço de com força e olhou para Dougie.
- Abelhas não gostam de água! – e ele emendou sorrindo como se fosse uma brilhante conclusão: - Ao lado do veneno, sempre há o antídoto! Pulem na água!
Ele puxou bruscamente para a sua frente e empurrou-a na piscina, pulando logo atrás da menina.
As nuvens estavam prestes a chocarem-se quando a água espirrou nos ares abrindo um espaço e fazendo as abelhas recuarem.
Foi o segundo que Dougie precisou para entender direito o que Tom havia dito. Ele fez o mesmo que o loiro: puxou para junto de si e depois pulou na piscina.
Lá embaixo Tom abriu os olhos e se viu ainda de mãos dadas com , se esforçando para não voltar à superfície. Debaixo da água as flores das árvores que repousavam pela superfície impediam Tom de ver as abelhas ali fora, mas mesmo dentro d’água o som do zumbir delas era alto. Abafado, mas alto.
Alguns metros adiante Tom percebeu que Dougie e não tiveram a mesma sorte. Na queda, o amigo não conseguira segurar a mão da menina e, sem poder nadar, com o sangue ainda saindo do tornozelo e diluindo-se na água, ela logo voltaria à superfície.
Dougie já nadava até na tentativa de mantê-la debaixo d’água, mas Tom sabia que ele não chegaria a tempo até ela. E quando ela atingisse a superfície as abelhas atacariam quase instantaneamente.
Ele se viu numa situação onde poderia apenas rezar. Apenas torcer da maneira mais intensa possível para que aquilo terminasse logo e, que o que havia acontecido com , Harry, Danny e não voltasse a acontecer com .
Foi aí que sentiu falta de respirar. O oxigênio em seus pulmões já havia sido usado pelas células do seu corpo e pouco a pouco uma queimação o invadia por dentro, sufocando-o. Ele olhou para , com os olhos já ardendo, e pela expressão da menina, ela estava com o mesmo problema.
Suas esperanças se concretizaram no segundo seguinte. Meio metro a sua frente a água começou a rodopiar, como um furacão debaixo d’água. Depois começou a circular irregularmente, e então, pouco a pouco, contraindo-se ali e aqui como uma célula gigante, começou a tomar forma.
A massa de água foi ficando mais comprida e depois começou a enrolar em si mesma. Numa das extremidades o que parecia um focinho explodiu para fora e duas pequenas orelhas cresceram. A outra balançou excitadamente e soltou partes de si em forma de bolhas, resumindo-se a uma cauda.
Quando Tom olhou uma segunda vez, o tatu de água brilhava pacificamente debaixo das águas da piscina. , ao seu lado, estava olhando-o ainda como se esperasse que ele fizesse algo; ela não era capaz de ver os espíritos do Totem.
O tatu precipitou-se para frente com força e saiu da água com um salto. Tom olhou para cima, acompanhando-o, e então fez o mesmo, mas ainda que entendesse mais ou menos o que Tom estava presenciando, ela mesma não estava.
E então, umas vez fora da água, o tatu emitiu um brilho azul claro forte e depois se quebrou como se a água que formava seu corpo fosse vidro. Quando os olhos de Tom finalmente voltaram a se adaptar a luz, não havia sinal algum das abelhas ali fora.
Ele viu chegar à superfície e respirar profundamente. Dougie o fez segundos depois. E, ao seu lado, começou a nadar para cima.
Mas ele mesmo não conseguia. Já estava perdendo a consciência. Seu corpo e sua mente haviam chegado ao limite extremo do que podiam suportar sem oxigênio. Ele iria morrer. Já estava morrendo.
Aos poucos, sua consciência esvaía-se junto a sua vida. Pouco a pouco, Tom sabia que estava morrendo e não conseguia mover seu corpo para fazer nada que pudesse impedir isso de acontecer.
Mas mesmo que ele quisesse, não poderia morrer. Antes disso uma mão irrompeu pela água e agarrou a sua com grande firmeza. Só o toque foi o bastante. A queimação parou, o tato voltou à pele e seus pés e braços voltaram a ter mobilidade.
E a mão o puxou para cima com força, sua cabeça rompeu a superfície ondulada da água e seus pulmões encheram-se da maior quantidade de ar possível. Uma sensação de alívio o possuiu como o frio, o fez tremer.
E como se isso já não fosse um milagre, ele abriu os olhos e, diante dele, sorrindo, havia outro.
Capítulo 19 - The story of Hell and Heaven A História do Céu e do Inferno
De fato, a consciência estava voltando aos poucos. Fazia cinco minuto ele aparentava estar voltando à si. Primeiro mexera um dedo, depois um braço inteiro; pouco depois a pernas e, então, mexera o corpo inteiro. Mas no ponto de vista de Tom, ao ter os olhos abertos e a escuridão do seu subconsciente iluminado por uma forte luz branca, foi como se a sua consciência tivesse voltado naquele exato segundo brusca e instantaneamente.
Em torno da luz branca borrada, manchas se moviam para perto dele, aos poucos tomando forma e ganhando contornos. Logo ele estava diante de , e Dougie. Mas parecia que faltava alguém.
Tom desmaiara na beirada da piscina, logo depois de sentir que caíra para trás estando cruzando o limite entre a vida e a morte e respirar profundamente tirando a cabeça da água. E naquele momento ele vira algo que o deixara completamente atordoado. Uma pessoa que não deveria estar ali.
E agora – infelizmente, Tom sentia – ela não estava mais ali. Ou, pelo menos, ele ainda não a havia visto. Porque no segundo seguinte, detrás de , que sorria abertamente, ela surgiu, olhando-o com o carinho e a felicidade de estar de volta. Os cabelos estavam lisos caindo sobre os ombros e escorregando pelas costas, a pele limpa e macia. Roupas novas, limpas e arrumadas lhe vestiam o corpo. sorria, não só com os lábios, mas com cada traço do seu rosto.
Por um minuto inteiro Tom só conseguiu abrir e fechar a boca sucessivamente, sem nada dizer. Milhares de perguntas surgiam em cada canto da sua mente. Ele sentiu-se tonto, mas quando tocou sua perna por cima do lençol que cobria seu corpo ela pareceu mais real e toda a agonia dissipou-se.
Só então Tom percebeu que estava em um quarto de hospital.
- Oi – foi a única coisa que ele pôde dizer.
adiantou-se e abraçou o amigo, respondendo com uma risadinha:
- Oi.
Tom sorriu, mas sua expressão continuava interrogativa.
- Como... Como v-você...?
riu e olhou para Dougie e .
- É isso que todos nós queremos saber – disse ela.
E o sorriso alegre de desapareceu enquanto aquela felicidade anterior sumia, diluída em outro sentimento não tão bom. Tristeza.
Ela suspirou e puxou uma cadeira para perto da maca de Tom. Sentou-se com calma e um olhar sóbrio.
- Então é melhor vocês se prepararem... – e continuou – Porque a coisa está prestes a ficar feia!
Dougie e se entreolharam.
- Feia como?
- Bom, eu descobri que...
Mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, levantou a mão ao ar, balançando-a impaciente.
- Espera um pouco! – ela disse. – , começa a história pelo que aconteceu com você e o , certo? Vamos com calma.
Tom concordou com a cabeça e também.
maneou a cabeça; o lábio crispado de maneira aflita.
- A verdade é que não tem muito o que contar sobre o acidente – ela disse. – Quando o carro explodiu, o jogou-se em cima de mim e eu desmaiei. Quando eu acordei ele não estava mais lá.
- Então ele também...
- Eu acho que sim. A gente não sabe como ou porque os corpos somem quando o ataque dá certo, mas eu suponho que o mesmo tenha acontecido com Danny e Harry – suspirou alto e continuou. – Depois eu segui pela estrada e desmaiei. Acho que um casal me ajudou e me levou para um hospital, mas isso não é importante, eu acho que ainda estava meio dopada com todos os remédios que tomei lá. O importante dessa história toda – ela disse. – É isso.
E tirou do bolso um pequeno cartão de papel dobrado com um símbolo de três estrelas e um G maiúsculo entrelaçado com uma circunferência na frente e uma tabela na parte de dentro, com duas ou três assinaturas feitas a caneta de tinta azul.
Tom pegou o cartão hesitante das mãos de e analisou-o curiosamente.
- É um cartão bibliotecário? Parece um.
- É, de fato, um cartão bibliotecário – disse . – Mais do que isso, é um cartão de locação de livros da biblioteca municipal daqui. As assinaturas são claramente do – ela passou o cartão para e , que concordaram. – E eu botaria minha mão no fogo pelo fato de que ele colocou esse cartão no bolso da minha calça quando pulou em cima de mim, quando o carro explodiu.
deu uma última olhada no cartão e passou-o para Dougie.
- Ele pegou esses livros lá? – ela perguntou.
) consentiu com a cabeça, e depois disse:
- Eu fui atrás e consegui os livros que ele leu – então tirou uma pedaço rasgado de papel do bolso, onde estava escrito um texto por ela mesma. – Copiei esse trecho de um dos livros, mas isso é pouco perto de todas as coisas que o conseguiu descobrir.
Ela entregou o papel para Tom, mas ele continuou encarando-a com um olhar frustrado.
- Ele descobriu muita coisa.
- Ele deduziu muita coisa – ela corrigiu. – Mas são teorias completamente plausíveis que tornam essa coisa toda de maldição ainda mais complexa. Parece que teriam pessoas que, no passado, acreditavam que a maldição era só o começo de algo muito maior. Depois a ciência gerou muito ceticismo e essas histórias desapareceram no tempo, mas só esse texto, que eu tirei de um livro muito velho sobre a história local, é um poema de um velho senhor que morou nessa região no século XVII e as pessoas acreditavam ser um profeta. Esse texto é supostamente uma das suas profecias, e ler isso é de arrepiar cada pêlo do corpo.
O final do discurso de foi a deixa para que Tom baixasse os olhos para o surrado pedaço de papel e começasse a ler, em voz alta, o texto copiado pela própria menina.
“Veritas Veritas será o sangue, Veritas será o fogo. E aqueles que os desconhecem, teram o insípido desprazer. O desaforo da destruição sobre um mundo de falsas verdades.
Malditos aqueles que verão os primeiros sinais.
Para a morte da qual alguns fogem, outros serão arrastados. De lá vira o terror, a solução.
De bom grado, por obséquio, desvendarão os segredos do céu e do inferno para o bem da Terra. E previsível, o resultado será somente para os pobres malditos.”
- Credo, isso é bem apocalíptico, né? – observou, e os olhos focaram . – Você acha que tem alguma coisa a ver com a gente?
Tom continuava a encarar o pedaço de papel.
franziu o cenho, com um ar de preocupação.
- Eu demorei um pouco pra entender o que o tinha vista de estranho no poema, mas olhem bem... “Malditos aqueles que verão os primeiros sinais”, isso não diz nada?¬¬
- Você está se referindo à palavra “malditos”, certo? – Dougie ponderou. – Mas teria que ser amaldiçoados! Malditos, por si só, quer dizer algo como “azarados” ou “infelizes”, eu acho.
tomou suavemente o papel das mãos de Tom e, ao olhar fixamente para o papel, pareceu desconfiada.
- Eu acho que não – disse ela. – Em qualquer texto “malditos” seria um ofensa, um insulto, ou estaria no sentido do que o Dougie falou, mas esse texto é uma versão traduzida do inglês arcaico e, por isso, pode haver mudanças de significação de certas palavras que tem a grafia ou a sonoridade similares.
Ela então olhou para , e depois para os outros amigos.
- Eu acho que a pode estar certa.
- E que o tal profeta se refere à gente? – Tom ergueu os olhos.
deu os ombros.
- Se ele era capaz de prever o futuro...
balançou a cabeça veemente e levantou as mãos espalmadas em um gesto aflito e afobado.
- Ei, ei! Espera aí! Vocês estão insinuando que esse cara sabia da maldição e que ele previu que ela era só o começo de algo maior, isso não é um pouco demais?
- Talvez seja, , mas faz sentido demais pra gente só ignorar! – disse, e então foi até a cadeira mais próxima, onde um moletom cinza estava jogado mal dobrado e, de um dos dois bolsos frontais dele, tirou um livro fino de capa dura. – Mais um dado histórico muito interessante que o ) achou na biblioteca local.
Ela abriu o livro de capa surrada e, contra os finos raios de luz que entravam pela veneziana fechada na janela, uma fina camada de poeira desprendeu-se das páginas interiores do livro enquanto o folheava.
- “Almas e Destinos”? – Tom leu, em letras grandes e prateadas, na capa do livro virada para si. – Isso é um livro espírita?
apenas sorriu.
- Não, é um livro dórgão – , , Tom e Dougie levantaram as sobrancelhas, confusos e até meio irônicos. – Dorganismo era uma religião local que existiu nos tempos do anglicanismo. Se vocês puxaram um pouco de história inglesa e independência americana, vão lembrar que os primeiros colonos ingleses a ir para a América do Norte eram puritanos que foram fugidos da perseguição religiosa aqui, já que o único culto permitido na época era do anglicanismo.
Dougie balançou a cabeça debilmente.
- Tá, e daí?
rapidamente pisou com força no pé do rapaz, que gemeu de dor, sorriu amarelo, e deu um beijinho na bochecha da menina.
e apenas sorriram em silêncio e a morena voltou a falar:
- Bom, o Dorganismo também foi uma religião renegada e muito perseguida na capital e nos seus arredores, mas pode-se dizer que era uma “religião dos pobres”, ou então de membros na nobreza que praticavam o culto à religião escondidos. Desse modo, ao invés de partirem para a colônia, os dórgãos fugiram para o interior e pequenas cidades e vilas, como esta, por acaso!
Dougie abriu a boca para falar, mas olhou para e a fechou novamente. Então ergueu a mão, lenta e quase timidamente, esperando permissão para falar.
E diante disso riu e assentiu, balançando a cabeça.
- Pode falar, Dougie.
- Er, veja bem, eu ainda não entendi aonde a gente entra nisso tudo.
olhou de Dougie para , bem como Tom, esperando uma resposta.
- A gente não entra na história, Dougie, pelo menos não nessa. A questão é que essa mesma vila, há cerca de cento e cinqüenta anos atrás, chegou a ter uma pequena capela, mais como uma casinha, onde as pessoas cultuavam o Dorganismo – e finalmente ele parou em uma página específica. – Esse livro é um dos poucos que sobraram, uma vez que a religião não sobreviveu à perseguição.
- E o que tem aí? – Tom perguntou.
- Veja por você mesmo – ela disse, e entrou o livro ao loiro. – A teoria Dorgão sobre espíritos é a seguinte: as pessoas morrem e, de acordo com o que fizeram em vida, suas almas são libertadas para o céu, ou presas no inferno para sempre. Eles também diziam que o inferno era um lugar tão horrível que toda e qualquer alma que fosse para lá perderia sua humanidade pouco a pouco, transformando-se em algo puramente escuro, como uma alma eterna sem luz...
- Como um demônio! – Tom exclamou, levantando os olhos do livro. – Mas isso é horrível.
- E eu não sei? Os Dorgãos ainda diziam, ao contrario do espiritismo, que nenhuma alma ficava presa a terra, muito pelo contrario, uma vez que ela partisse do seu corpo, ela só voltaria para a terra quando as portas do céu se abrissem ou quando os portões do inferno fossem abertos, e esse é o problema: no cálibrir, o livro que é uma espécie de bíblia para eles, esses dois eventos só acontecem uma vez na história da humanidade.
- Quando? – perguntou.
suspirou toda a tensão que sentia surgindo pouco a pouco no ambiente, cada vez mais pesada.
- As portas do céu se abririam para mandar oito almas divinas, especialmente puras, carregadas de luz e poderosas. Eles diziam que seriam almas guerreiras enviadas a terra num momento de crise para defender a humanidade. E o inferno... Bom, o inferno iria se abrir anos depois, liberando todos seus demônios e todas as coisas ruins que lá havia e que o mundo desconhecia.
levantou os olhos saltados no rosto para . Uma expressão de medo e horror era tudo o que estava estampado em cada único traço do seu rosto.
- Oh meu Deus, isso é horrível.
Dougie soltou uma gargalhada irônica.
- Mas é claro que é! Eles estavam falando, discretamente, do fim do mundo.
negou veemente, quase desesperada.
- Não, não é isso – os outros tres olharam para ela. – Se eles dizem que não há nenhuma alma presa a terra, fora essas duas ocasiões, então... Quero dizer, quem está nos perseguindo é o espírito de um velho senhor que morreu há séculos... Gente, se isso é verdade, então o inferno já está se abrindo, pouco a pouco, há muito tempo...
E Tom completou:
- E, conseqüentemente, essas oito almas de luz já foram enviadas à terra – ele deu uma risada irônica, pouco otimista, e olhou para os outros três diantes da sua maca. – Ah, adivinhem só quem são...
Capítulo 20 - Touch Toque
O tic tac do relógio de parede do corredor do hospital parecia fazer questão de lembrar que dali a alguns minutos ela conheceria o próximo deles a ser perseguido pelo espírito. Mas dessa vez algo mais a preocupava.
Todos os componentes da turma das oito crianças amaldiçoadas já haviam sido perseguidos: exceto por ela e Tom. Essa era a causa do sentimento ruim que lhe afligia o peito. Sentimento este que ela conhecia, embora preferisse não ceder a ele.
E agora, diferente do que ela pensava, ela não estava feliz com a perspectiva de ver tudo aquilo acabar logo. Estava mais nervosa do que nunca, sem a certeza de que o medo por si própria era maior que o medo que sentia por Tom.
Enquanto servia-se de uma xícara de café sob o olhar de e Dougie, então, decidiu que não olharia mais um segundo sequer para o relógio e tentaria não dar mais atenção ao tic tac irritante.
- Ele vai ficar bem... – disse , aproximando-se de com um sorriso terno e colocando a mão em seu ombro amistosamente.
correu o olhar do próprio café para o rosto bonito da amiga. Ela não tinha tanta certeza, e sabia que também não teria se pudesse enxergar aquele homem horrível como ela podia. Mas não podia culpar a amiga por simplesmente não carregar o fardo que lhe fora dado. Outrora, também tinha sido forçada a ser a única a ver alguém de fato morrer diante de si.
E mais uma vez o coração de doía, agora pensando no irmão.
- – a atenção lhe fora chamada mais uma vez. – A gente vai salvar o Tom, eu prometo.
E então ela não foi mais capaz de segurar as lágrimas e, na forma de um abraço forte, desatou a chorar no ombro da amiga.
- Eu não sei qual seria a sensação de morrer, , eu tenho medo, muito medo – ela choramingou. – Mas eu sei qual seria a sensação de perder o Tom e eu não quero ter que sentir isso!
A morena apenas sussurrou palavras confortantes com a frustrante incerteza sobre o efeito delas sobre a amiga. Ela queria ajudá-la, mas sentia-se completamente impotente. E era horrível ver naquele estado.
Os olhos rasos em lágrimas da menina se levantaram para o rosto da amiga no momento em que ela afastou-se um pouco da outra.
- , o que aconteceu com o Harry e o Danny foi horrível e mexeu demais comigo, mas... O meu irmão... Com o meu irmão foi horrível demais – as lágrimas continuavam a deslizarem incontidas pelo rosto da menina. – Eu sinto como se ele ainda estivesse por aqui, e saber que isso não é verdade é horrível – a cabeça meneou veemente. – Eu não posso perder mais alguém de quem eu gosto.
riu com doçura.
- E você gosta muito do Tom, né?
olhou para baixo, envergonhada. Os lábios curvaram-se no que poderia vir a ser um sorriso.
- Mais do que eu gostaria.
segurou as mãos de , e ela olhou nos olhos da menor.
- Então você ergue o rosto e toma coragem, porque a gente vai salvar o Tom, entendeu?
Ela sorriu. Suspirou. E disse:
- É, acho que você tem razão.
Ela olhou para agradecida. O rosto da amiga não tinha uma cicatriz sequer. Nem a menor delas. Uma curiosa observação, visto tudo o que a garota havia passado poucos dias antes.
O sorriso dela aumentou ainda mais e se transformou em uma risada. A amiga continuou a sorrir.
E de um modo tão estranho que chamou seu nome. Mas os lábios da garota continuaram do mesmo modo, os olhos estáticos sem sequer piscarem.
A garota afastou-se, então, assustada, olhando ao redor. e Dougie estavam parados da mesma forma, e também todas as outras pessoas ali.
Foi então que os olhos dela o encontraram.
Estava ali, parado no meio do corredor, pouco há mais de um metro dela. Ele sorria, dessa vez. Sorria com satisfação. E sarcasmo.
Ele virou-se e deu um passo para longe de . Uma sensação de terror subiu fervente pela sua garganta. Todo e qualquer vestígio de oxigênio deixou seus pulmões. Ele estava diante do quarto de Tom.
E suas mãos magras e decrépitas levantaram-se; o dedo indicador apontando para frente, acusador, sentenciando o garoto dentro do quarto a um destino horrível.
Só que o fogo que parecia queimar por dentro a alma de vazou cada vez mais para fora. Até chegar a sua pele, a sua respiração, e intensificá-la. E enfurecer cada um dos cinco sentidos da menina.
Ela nem sequer considerou todas as milhares de coisas que poderiam suceder daquela fração de segundo seguinte. Ela apenas rendeu-se aos instintos mais fortes da fúria que a tomou e avançou contra o velho. Superou a distância entre os dois em dois passos rápidos e pegou o braço do homem com força.
A pele era seca, áspera e fria como uma pedra de gelo. Apenas o toque denunciava a falta absoluta de vida.
E cerrou os dentes e disse:
- Eu estou cansada de você – o sorriso no rosto dele desapareceu como ele costumava fazer. – E eu vou acabar com você.
Ela sentiu o corpo dele responder com resistência. Ele tentou puxar a mão para si, mas seu braço continuou fortemente preso pelos dedos dela.
- Está me ouvindo? – ela gritou; o espírito foi capaz de sentir o ódio que ele mesmo havia provocado, mas nem sequer mudou a expressão vazia no rosto. – Eu-vou-acabar-com-você!
O movimento foi inesperado da parte dele.
Ela torceu seu braço para detrás do corpo e empurrou-o com força contra a parede. Ele bateu a cabeça e soltou um grito rouco.
Escorregou de costas até o chão e dissipou-se em vapor.
olhou para o alto e respirou fundo. A Terra parecia ter voltado a girar ao seu redor, e , Dougie e a olhavam assustados. Eles sabiam o que ela tinha acabado de ver.
Mas ela não voltou a chorar. Nem mesmo teve vontade.
Apenas olhou as próprias mãos, fascinada ao saber que podia tocá-lo. Surpresa ao descobrir a nova habilidade.
E pensando no que fazer com ela.
E com ele.
Capítulo 21 - Salvation Salvação
O vento uivou em algum lugar não muito longe dali. O mato alto, de quase quarenta centímetros se mexeu perto dali.
E Tom estremeceu.
- Que horas são mesmo? – ele perguntou, esfregando as mãos nervosamente.
consultou o relógio no pulso esquerdo e constatou que era a quinta vez que Tom perguntava a hora só nos últimos vinte minutos.
- Oito e quarenta e sete.
Ela o ouviu suspirar e virou um olhar hesitante para . A outra deu o ombro, claramente sem saber o que fazer, e as duas olharem novamente para Tom.
O garoto estava sentado em um tronco de árvore velho. estava entre ele e Dougie, e era a última na ponta oposta.
estava de pé. Os pensamentos muito agitados a deixavam nervosa. Ela começava achar que estava ainda mais nervosa que Tom.
Olhou para o céu, mas não viu nada. Uma nuvem grossa pairava na frente da lua, nem mesmo deixando que a luz iluminasse a noite. E não havia postes ali perto. Eles estavam no único lugar aonde achavam que Tom estaria seguro: no meio do nada.
Não importava para qual direção olhassem, tudo o que viam era terás e mais terras cobertas por uma grama alta e mais nada, um campo aberto completamente vazio.
E mesmo assim andava de um lado para o outro, ansiosa. E de algum lugar dentro de si, junto a falta de ar nos pulmões e o batimento cardíaco acelerado, existia uma forte sensação de que mesmo ali, no meio de um vazio de terra e mato, alguma coisa feia estava prestes a acontecer.
Mas, novamente, era só o vento. Da mesma forma que havia sido na última meia-hora.
- , você tem certeza que seu relógio está certo? – perguntou.
Na verdade era mais uma pergunta para quebrar aquele silêncio, do que uma real dúvida. A menina já estava sentindo-se mais insegura e intimidade pelo silêncio, pela escuridão... E tinha quase certeza que os amigos também.
Se tinha uma coisa que Tom não precisava naquele momento, era insegurança.
- Meu relógio está ajustado de acordo com o horário do Big Bang, então eu acho difícil estar errado – a outra tentou responder com bom humor.
Infelizmente, sem sucesso.
Tom suspirou alto e levantou-se do tronco. Todos voltaram a ele olhares assustados.
Estava claro a qualquer um que aqueles garotos já estavam cansados de terem que lidar com tudo aquilo. Era fora demais da realidade como eles conheciam. Lendas tornando-se reais, maldições, espíritos, magia e inferno? Onde aquilo iria parar? Quando eles deixariam de correr risco de vida?
sabia quando, agora ela sabia: quando chutasse o traseiro daquele velho miserável de volta para o lugar de onde ele tinha saído. Ela só não sabia muito bem como faria aquilo.
E a julgar pelo fato de que ainda aquela noite a maldição se daria por encerrada, ela tinha que descobrir rápido uma maneira da fazer o que tinha que fazer. Mais do que isso, o que ela sabia que ela, e somente ela, poderia fazer.
Tom, apesar de qualquer coisa que os amigos poderiam supor que ele iria fazer, apenas ficou ali, parado, de pé. Os olhos claros agora pareciam negros mergulhados na escuridão da noite.
e Dougie também se levantaram e suspiraram. O garoto abraçou a menina pela cintura e com pequenos e sutis passinhos, eles se afastaram um pouco. Uma tentativa pouco eficiente de aliviar a tensão entre eles.
Vendo-se sozinha com , e tendo absoluta certeza de que os outros três estavam focados demais nos próprios pensamentos para ouvi-la, fez a a pergunta que martelava insistentemente a cabeça da amiga:
- Depois do Tom, só teremos uma hora e meia pra salvar a sua vida, quarenta e cinco minutos antes e depois de...
- Ele não vai aparecer – a cortou; a voz rouca, mas determinada. – Ele não vai aparecer para mim dessa vez. Vai esperar esse uma hora e meia, e tentar me matar.
abaixou a cabeça. Ela entreabriu os lábios, mas pareceu prever o que ela diria.
- Eu não sei como sei – ela riu timidamente e os olhares das duas se encontraram. – Acho que tem a ver com a história de ser mediadora. Eu simplesmente sei o que ele vai fazer.
A amiga balançou a cabeça, compreensivamente.
- E o que pretende fazer a respeito.
suspirou.
- Eu não sei, acho que de alguma forma a história de eu poder tocá-lo pode ser uma vantagem, mas sinceramente não sei – então ela sentou-se ao lado de . – Eu só não creio que ele vá mandar as urucubacas dele atrás de mim. Eu o ameacei, o provoquei... Não me arrependo disso, mas...
- Acha que ele virá pessoalmente quando for sua vez – terminou a frase por ela.
E não disse mais nada. Só concordou com a cabeça.
- O que me preocupa, sinceramente, não é isso.
- Então o que é?
- , mesmo que a maldição acabe e tal, esse espírito vai continuar aqui. E as próximas oito pessoas com o nosso perfil que chegarem aqui vão acabar como nós?
A amiga parecia confusa.
- O que você quer dizer?
- Eu quero dizer que temos que mandar esse desgraçado para o buraco de onde ele saiu!
arregalou os olhos e quase caiu em uma crise de tosses.
- Você quer dizer... O inferno? – ela perguntou incrédula. – Mas, , como faríamos uma coisa dessas?
- Bom, eu...
Mas ela não teve tempo de terminar.
O relógio de apitou um som aguda três vezes seguidas e a atenção das duas voltou-se para ele. A expressão da dona não pareceu muito boa quando ela se levantou, logo depois, exasperada.
- Faltam dois minutos! – Tom ouviu e não demorou a se aproximar. – Dougie, , faltam só dois minutos!
- Acho que devíamos ficar todos juntos – disse nervosa.
E depois que os outros dois se juntaram novamente ao grupo, o silêncio voltou a reinar naquele lugar. Mais aterrorizante do que nunca.
jurava poder ouvir os batimentos cardíacos de Tom ao seu lado. Ela segurou a mão dele com força. E ele segurou a de , que segurou a de Dougie. E o mesmo se fez com , até novamente, quando eles se viram em roda, muito pertos um do outro, esperando o que viria inevitavelmente.
Todos virados para fora do círculo que formavam, olhando ao redor. Apreensivos, apenas esperando.
ouviu um barulho vindo do mato, mas não era nada.
também pensou ter ouvido alguma coisa, mas devia ser coisa da sua cabeça.
Dougie suspirou, depois fechou os olhos sentindo uma brisa fria, quase congelante, deslizar pela sua pele dolorida como uma faca. E ele se lembrou!
- Está aqui! – disse ele. - Quando eu fui ao zoológico com o , na hora que tudo começou, tinha uma brisa fria no ar, que ele disse ter sentido quando o armazém despencou com ele e Harry em cima. Está aqui em algum lugar.
arrepiou-se e prendeu a respiração, olhando desesperadamente ao redor.
- Oh, meu Deus – exclamou. – Eu não estou vendo nada. Não há nada aqui.
- Nem eu... – Tom murmurou, alto o bastante apenas para que os amigos o ouvissem.
Ele não estava com medo, mas sua voz não expressava nenhuma outra emoção também.
- Mas que merda! Não tem nada aqui! – Dougie gritou.
E todos os sons pararam. Só havia um leve chiado no ar. Quase como um rosnado, e nada mais.
A voz de surgiu, então, fraca e horrorizada.
- Estão ali.
Mais do que rapidamente todos os olhares acompanharam o dela, mas novamente não parecia ter nada ali.
Só que ela via. Ela conseguia enxergá-los muito bem, ali na sua frente, há poucos metros. Nem cinco inteiros. Olhando para Tom com olhares de ódio, suas bocas cheias de dentes afiados, espumando prontas para matar sem nenhuma piedade. Ela sabia que era a única que podia vê-los e sabia o porquê.
Porque estavam mortos.
Eram dois. Cães de pêlos curtos, negros como a própria escuridão, rosnavam emanando a essência da morte como se ela fizesse parte deles.
E sabia que estavam mortos porque tinham feridas feias, profundas e ensangüentadas por todo o corpo. Um deles tinha o osso da perna exposto em um enorme rasgo, o outro tinha quase todo o dorso machucado, à carne viva.
Estavam um do lado do outro, com os dentes assassinos a mostra, apenas esperando a primeira reação de medo que vissem, para então atacar. Rasgar. Dilacerar.
- São cães... – ela sussurrou para os amigos. – Dois deles, e estão mortos... Eu acho.
Dougie abriu a boca, mas fez um rápido e discreto sinal de silêncio.
- Eu vou contar até três... – ela parou por um momento; os olhos presos e atentos às feras. – Corram o quanto suas pernas agüentarem.
Todos eles fizeram singelos movimentos de concordância. Estavam nervosos, com a tensão percorrendo suas veias à flor da pele. Só queriam que terminasse logo.
- Um...
Ela pôde sentir a perna de se mexer na sua esquerda. E na direita, Tom apertou mais forte sua mão.
- Dois...
Um dos cães latiu alto, fazendo-a fechar os olhos e morder o lábio inferior com força. Disse alguma coisa a si mesma. Uma prece, ou talvez um palavrão.
E finalmente ela disse:
- Três.
Ela puxou a mão de Tom com toda sua força, e o fez correr para longe dali tão rápido quanto podia. , Dougie e estavam logo atrás.
Os dois cães agora latiam como loucos e corriam desembestados.
E para , e Dougie, nada mais restava alem de seguir e Tom, já que todas as vezes que, por puro reflexo, um deles olhava pra trás, não via nada.
olhou para trás.
- Eles não estão atrás de vocês – ela exclamou. – Vão por ali.
E apontou para sua direita.
Dougie pegou na mão de e e puxou as duas na direção que indicara. Os cães continuaram seu trajeto atrás de e Tom.
Os três sabiam que também não estavam atrás de , mas ela não deixaria Tom em hipótese alguma.
Os dois continuaram correndo. Tão rápidos quanto podiam. As pernas de começavam a doer, um calor insuportável subindo pelas canelas. Mas ela não podia parar.
Uma cena de total desespero seguiu-se, então.
Por um segundo Tom sentiu que o chão não estava mais debaixo do seu pé. A perna entrou até o joelho em um buraco e ele caiu de costas para cima no chão. Por mais que segurasse sua mão com força, ela sentiu os dedos do rapaz escorregarem por entre os seus e sua mão largar completamente a dele.
Ela se virou para trás e girou, tomada pelo desespero. O movimento foi tão rápido e mecânico que ela tropeçou nas próprias pernas e acabou caindo metros a frente do rapaz.
Tom rolou pelo chão, mas não a tempo de se levantar.
O primeiro cão pulou com força no seu peito, derrubando-o contra a terra fria, e mordeu com uma força descomunal o ombro do rapaz.
Ele gritou de dor, mas alguma coisa bateu com força no cachorro e ele voou para longe de Tom com um ganido de dor.
Era Dougie, que havia visto somente o sangue brotar do ombro do amigo e arriscara um chute no ar com toda a sua força. Ele sentiu o pé bater em alguma coisa, mas não podia ver.
O segundo cão pulou alto, avançando contra Dougie numa ferocidade que o mataria. gritou:
- Dougie, do seu lado.
E Tom decidiu que era a sua vez que ajudar. Ele puxou o pé de Dougie com força e o amigo caiu sentado, apenas sentindo o vento agitar-se acima da sua cabeça. Mas viu quando o cachorro caiu deitado atrás de Dougie.
O primeiro pulou novamente em cima de Tom. O garoto sentiu quando suas garras perfuraram seu braço e seus dentes morderam-lhe o pulso. Ele fechou os olhos e tentou imaginar o cachorro em cima de si. Levantou a mão e, num gesto rápido e milagroso, conseguiu agarrar a pata do cachorro e empurra-lo para longe.
Tom se levantou, puxou Dougie e se pôs a correr, mas ambos os animais estavam perto demais para o perderem.
O segundo pulou alto, mas só conseguiu arranhar superficialmente as costas do loiro. O que diante dos olhos de e foi horrível. A camisa dele simplesmente rasgou-se de súbito e o sangue fluiu para fora.
O primeiro saltou tão alto e tão certeiro, com os dentes grandes prontos para abocanhar a garganta de Tom, que gritou o nome do garoto com desespero, já deixando lágrimas descerem pelo rosto.
Era simplesmente uma cena horrível e grotesca que ela não gostaria de ver nunca. Não era como num filme, era terrivelmente real.
Já não sentia mais nenhuma emoção, nenhuma vontade de clamar pela vida do garoto, quando ela surgiu.
Surgiu do nada, aparentemente saída da escuridão, mas rápida e precisa, a fraca zuniu cortando o ar e terminou bruscamente enterrada no pescoço do primeiro cão, que ganiu alto e caiu no chão em um baque seco.
sentiu-se inundada de um sentimento quente e tranqüilizador que surgiu bruscamente dentro de si. Era esperança. Ela sentiu vontade de gritar novamente. E foi o que ela fez, ao pulo do segundo cão.
- Cuidado! Pra direita!
Tom empurrou Dougie com força para a sua direita, e depois jogou-se ao lado do amigo. Ele não tinha visto, mas podia jurar que o animal havia passado há poucos centímetros de si.
Mas no segundo seguinte, quando ele já se preparava para atacar uma segunda vez, sua investida foi interrompida por um chute forte que o fez voar metros para longe dali, até que finalmente seu corpo decomposto batesse contra o chão.
Agitando os cabelos loiros, a mulher que parecia ter surgido do nada passou por cima do corpo do primeiro defunto, retirando a faca em um só movimento. Então se dirigiu para o segundo.
Ele latiu e já estava se levantando quando recebeu o segundo chute da mulher. Rolou no chão até perto dali, e antes que pudesse reagir, com uma tranqüilidade que , e desconheciam, a loira ajoelhou-se sobre a garganta do bicho e enfiou a faca com destreza em seu peito.
Ele ganiu, tentou resistir, mas ao que faíscas foram expelidas do metal frio e sujo de sangue da lâmina, o cachorro ficou mole e deixou a cabeça cair no chão, sem, dessa vez, nenhum tipo de vida remanescente.
Ela levantou-se e se virou para o quinteto.
Pela primeira vez puderam vê-la de verdade.
Usava uma blusa justa cinza escura por debaixo de uma jaqueta de couro preta. Um colar prateado no pescoço, e um cinto negro que decorava a calça jeans. Nos pés havia apenas uma bota e no rosto, um sorriso.
- É, essa foi por pouco – ela disse; a faca rodou entre seus dedos e voltou para o bolso da calça.
E ninguém soube o que dizer, porque nenhum deles a conhecia.
Exceto por . Ela nunca conseguiria esquecê-la. Não... A imagem continuava na sua mente, da sua salvadora...
Dos óculos Dior.
Capítulo 22 - Opened Door Uma Porta Aberta
- Quem é você? – foi o que perguntou.
Foi também a primeira frase dita por qualquer um deles depois que Tom e Dougie se levantaram, ofegantes, olhando ainda atordoados para a mulher a sua frente.
A loira pendeu a cabeça para o lado, balançando os cabelos loiros com graça. O sorriso no seu rosto era lindo e cheio de uma malícia quase divertida.
- Alguém que pode ajudar vocês com toda essa confusão que vocês estão causando – ela disse, soltando uma risada travessamente doce.
soltou uma risadinha nervosa e olhou para os amigos. Tom e Dougie não olhavam para ela, pareciam preocupados demais com os próprios ferimentos. Mas a olhava cheia de desconfianças, enquanto estava estática, completamente sem reação.
- Confusão? – o tom de continuava a soar desconfiado. – Que confusão?
A mulher suspirou, por um momento deixando de sorrir. Ela franziu o cenho e balançou a mão despretensiosamente.
- Ah, você sabe – ela deu os ombros. – Essa coisa toda de maldição, portões do inferno e oito almas de luz. – Ela pôs a mão na boca e uma expressão falsamente surpresa tomou lugar no belo rosto – Aliás, oito almas das quais eu só consigo ver cinco... Ah, claro, vocês me fizeram o favor de deixar que três delas ganhassem uma passagem só de ida lá pra baixo.
- Como você sabe de tudo isso?
A pergunta tinha vindo de Tom, que havia tirado o casaco de frio e o pressionava contra o ombro machucado numa tentativa pouco eficaz de parar o sangramento. pensou que aquilo não faria a menor diferença a julgar pelos outros cortes profundos que os cães haviam causado em outras partes do corpo.
Mas a loira se virou para ele com os lábios levemente curvados, uma pitada de ironia brilhando nos olhos sob a testa franzida.
- Ora, Tom, você acha que mitologia dorgã é só pra vocês? Qualquer um pode ler sobre ela, sabia? – ela tirou as mãos da cintura e suspirou, indo na direção do rapaz, que recuou. – O que é? Você acha que tampar um dos buracos vai fazer com que os outros parem de vazar? Fique mais duas horas inteiras nesse estado e todos os cinco litros de sangue no seu corpo vão estar tingindo a grama aos seus pés.
- Como eu vou saber se posso confiar em você se eu nem te conheço?
- Eu... – a voz veio fraca de uma que ainda tinha uma expressão atônita no rosto. – Eu conheço, Tom.
A loira olhou para e sorriu. Depois pegou os óculos escuros e jogou para a menina.
- Ora, que bom que você ainda sabe reconhecer quem te salva, né ? – disse, e balançou a cabeça rolando os olhos. – Ainda, é claro, que você não precisasse da minha ajuda pra sobreviver, claro. Mas, convenhamos, eu quebrei um galho e tanto trazendo você de volta ao vilarejo.
balançou a cabeça, confusa.
- Espera, do que vocês estão falando?
Então o olhar de pareceu ganhar vida novamente.
- Foi ela a mulher que eu disse que me levou até o hospital e que eu vi logo que acordei.
abriu a boca sem dizer nada, em compreensão. Dougie, por outro lado, não parecia exatamente preocupado com isso.
- Ei, espera aí, não me importo com o que você seja, nem como chegou até aqui, mas... Como você conseguiu enxergar os cachorros?
- Boa pergunta, Dougie – ela riu, e finalmente conseguiu que Tom baixasse a guarda para que ela se aproximasse e examinasse o ferimento dele. – Uma vez meu oftalmologista disse que eu enxergava perfeitamente bem... Acho que deve ter alguma coisa a ver com isso.
As palavras saiam da sua boca quase como se não fossem irônicas.
O dedo indicador apertou forte contra o ombro roxo e inchado de Tom, onde vários furos profundos marcavam o lugar aonde o cão o havia mordido.
O rapaz gritou de dor e a olhou emburrado, mas ela continuou apertando até que pudesse constatar – de uma forma que os outros desconheciam como – a profundidade do ferimento.
Então tirou um pano do bolso, passou pelo ombro e debaixo do braço do rapaz, depois de rasgar completamente a manga da blusa sob seus protestos, e amarrou com força num improviso perfeito de um curativo.
Depois, do bolso esquerdo da calça, tirou um frasco com um líquido branco e grosso que usou para molhar o tecido que antes era a manga comprida da camiseta de Tom. Levantou a blusa do garoto para dar uma olhada nas costas, e depois de algum tempo examinando os profundos arranhões, começou a passar o líquido pelas costas do rapaz.
- Quem era aquele homem com você? – perguntou. – O que havia de errado com os olhos dele?
A mulher sorriu, e respondeu, sem caso:
- Um tipo diferente de catarata.
a olhou com raiva e avançou em passos largos até ela e Tom.
- Ok, quer saber? Chega! – a menina puxou Tom pela braço para seu lado e o abraçou pela cintura, mantendo um olhar fulminante na loira a sua frente. – Você aparece do nada, sabendo e fazendo coisas que supostamente você não deveria saber fazer e querendo dar uma de boa pra cima da gente com essas ironias irritantes. Pode parar! Ou você nos diz quem é você, ou pode dar o fora daqui agora!
A loira cruzou os braços e levantou as sobrancelhas, de uma forma até mesmo meio arrogante.
- Se o problema é meu nome, então saiba que você pode me chamar de Alice – ela se aproximou de , pegou no braço esquerdo de Tom, e olhou nos olhos da menina. – Agora, sabe qual outro problema temos aqui? Você tem um atestado de óbito assinado pra daqui a menos de uma hora, portanto, se você não quer acabar no mesmo lugar onde seus amigos estão agora, é melhor você cooperar.
Ela passou por puxando Tom junto de si e parou na frente de Dougie, mandando que os dois se sentassem no chão. E sob um olhar de aprovação de e , eles obedeceram.
- Posso saber como você pretende me salvar do meu destino cruel? – perguntou ironicamente.
Ela mandou Tom e Dougie tirarem a camisa para que ela pudesse tratar os ferimentos, e ainda que e a fuzilassem com o olhar, eles obedeceram.
Então ela levantou a cabeça e olhou para .
- Ora, da maneira mais fácil e obvia que existe para se livrar de um espírito – e ela sorriu. – Vamos exorcizá-lo.
- Certo – disse . Ela, e estavam sentadas de frente para Dougie e Tom, enquanto Alice terminava de dar os devidos cuidados aos ferimentos dos dois rapazes. – Como, exatamente, você pretende fazer um exorcismo?
Tom já estava novamente vestido com uma blusa de frio, agora que o casaco que antes vestia eram apenas pedaços de pano que estavam amarrados pelo ombro e pelo tronco como forma de estancar o sangramento das feridas. E parecia ter funcionado.
Dougie, ao contrário, tremia de frio, ainda com o tronco nu, enquanto Alice providenciava para as suas feridas o mesmo tratamento que usara nas de Tom. Ainda que o rapaz estivesse bem menos ferido que o amigo, sentira alívio quando o líquido pastoso branco foi espalhado pela sua pele lhe trazendo alívio para as dores do corpo.
Enquanto enfaixava os ferimentos do loiro com os restos do casaco de Tom, Alice levantou um olhar despreocupado para .
- Um exorcismo pode ser feito de várias maneiras – ela tirou um papel dobrado do bolso da jaqueta e jogou para . – Para a ocasião, eu acho que o romano pode ser o suficiente.
- E como se faz um exorcismo romano? – perguntou.
Mas ela não olhava para a loira, os olhos estavam furiosamente focados no pano branco que a outra usava para limpar os ferimentos de Dougie.
- Recitando um texto em latim, continuamente, na presença do espírito – ela deu um ultimo nó forte no tecido que enfaixava o tronco de Dougie, fazendo-o soltar um gemido de dor. – O que não significa que será fácil.
Ela se levantou e suspirou.
- Eu sugiro que decore esse texto, é provavelmente a única coisa que pode salvar você.
Alice correu o olhar por todos eles. Depois se afastou um pouco do grupo sacando a faca do bolso num movimento rápido e ágil.
- O que você vai fazer? – Dougie perguntou.
Ela agora se abaixava e olhava o chão com atenção. Então enfiou a faca na terra e começou a desenhar um círculo de mais ou menos um metro de diâmetro.
- Preparar o lugar em que irá se abrir – ela fechou o círculo e passou a desenhar alguns símbolos dentro dele. – Sabe, a porta para o inferno.
soltou uma gargalhada descrente e levantou as sobrancelhas ao olhar para Alice.
- Como é que é?
A loira olhou-a colocando novamente um sorriso no rosto.
- Você achou que ele ia pra onde? – ela riu. – Ou será que você não pensou foi no “como”? É pra isso que o exorcismo serve, querida, abrir uma porta para o inferno e dar a espíritos uma passagem só de ida pra lá.
Ela levantou-se novamente, olhou para o desenho feito no chão e suspirou.
- É, isso deve servir – e olhou para o grupo a sua frente. – Façam o favor de não pisar aqui dentro depois que o exorcismo for recitado, ou terão suas belíssimas almas eternas arrancadas para fora dos seus lindos corpinhos e sugadas direto para o lugar aonde só aquele velho nojento deverá ir. Mais alguma pergunta?
ainda tinha um olhar desconfiado, mas deixou o seu perder-se em algum ponto distante. , Dougie e Tom também estavam inexpressivos.
Eles todos ouviram um suspiro alto de e a menina, abraçando o próprio corpo, afastou-se alguns metros do grupo. Tom a seguiu sem dizer nada a ninguém e sem também ser questionado.
Os outros resolveram desviar o olhar e mergulharem nos seus próprios pensamentos enquanto viam os dois amigos afastarem-se juntos.
- Você não precisa ficar com medo, – a voz de Tom soou a poucos centímetros atrás de si. – Nós faremos o possível e o impossível para que nada aconteça a você.
Ela sorriu vagamente, com um ar de distração.
- Eu não tenho medo de morrer... – ela respondeu. – Tenho medo, muito medo, mas não de morrer... De não ter feito ou dito todas as coisas que eu poderia ter dito.
Por um segundo, o loiro que já estava ao seu lado não soube o que dizer. Então a voz cortou novamente o silêncio.
- Eu também... E se não fosse pela Alice, acho que existe uma coisa que você nunca teria como saber... Algo que eu realmente acho que você deveria saber.
O olhar dela correu para encontrar o dele. Ela nem sequer havia percebido o movimento, não que tivesse sido discreto, tinha sido automático. Como se fossem imãs de polaridades opostas atraindo-se magneticamente.
Tom viu que ela mordia o lábio inferior e achou que ela realmente ficava sexy com a expressão insegura.
- Algo que eu devia saber? – a garota perguntou.
- Algo que eu gostaria que você soubesse – ele respondeu.
Ela queria desviar o olhar, mas não conseguiu. Havia algo no castanho dos olhos dele que distraia completamente ela das suas vontades.
- E o que é?
não tinha noção da extensão da sua vontade de saber o que era, mas uma curiosidade formigava dentro de si emocionantemente.
E como forma de conspiração contra isso, Tom pareceu hesitar mais de uma vez. Ela quase podia imaginar as milhares de coisas que passavam na sua cabeça.
- É... – ele suspirou. – É uma coisa que eu acho mais fácil mostrar.
Ela não chegou a questionar o que ele dissera. O polegar dele alisando sua bochecha quando ele segurou seu rosto como se ela fosse tão delicada quanto uma boneca de porcelana paralisou seus lábios. Ela não poderia – e nem queria – impedir o que sabia estar finalmente prestes a acontecer novamente.
Tom extinguiu a distância entre seus lábios e os dela como se ela nunca houvesse existido. Uma corrente elétrica foi a reação que isso provocou nos corpos dos dois.
Os lábios dele se moveram sobre os dela com uma calma absurda, mas não reclamou. Ela queria aproveitar cada pequeno segundo daquilo porque sabia que podia ser a última vez que faria aquilo. E pôs as mãos nos ombros dele, buscando apoio para aprofundar o beijo.
Durou muito mais do que eles poderia supor, porque quando terminou parecia ter sido rápido demais. Mas Tom encostou sua testa a dela e os pequenos choques que eles sentiram durante o beijo não foram totalmente embora.
- Eu acho que estou apaixonado por você – ele finalmente disse.
Um sorriso se fez nos lábios dela por conseqüência.
- Eu tenho bastante certeza que também te amo, Tom – ela disse.
Mas nenhum dos dois pôde dizer mais nada. Um som agudo irrompeu irritante pelo silêncio da noite e chamou a atenção de todos eles para a direção de onde vinha.
Era o relógio no pulso de Alice que apitava. E ela sorria ao levantar o olhar para os cinco amigos e balançar a cabeça.
- É... Que comece o show!
Capítulo 23 - London's Calling Londres está chamando
Todo o silêncio anterior parecia ter voltado de uma só vez, engolindo tudo o que havia naquele campo aberto no fim da noite. Dali algumas horas a madrugada começaria, mas eles continuariam longe do amanhecer.
De todo modo, não conseguia se ver chegando ao vilarejo, com uma sensação de alívio, enquanto o sol nascia no horizonte. Na verdade, a menina não tinha nenhuma certeza de que veria novamente o sol nascer e a cada minuto que passava aqueles pensamentos se distanciavam cada vez mais da realidade.
Segurando uma de suas mãos, estava mergulhada aos mesmos pensamentos, mas pelos motivos diferentes. Ela não tinha motivos para temer a morte como tinha, mas desde que Alice surgira, salvando Dougie e Tom tão facilmente, um sentimento estranho transitava dentro da cabeça da menina.
Ela não confiava em Alice, nem um pouco. Mas não era nada em relação a ela. Na cabeça de , as memórias das mortes de Danny, Harry e continuavam vivas demais e ela não via como a vida deles poderia voltar a ser como era antes sem os três amigos. Com a memória eterna do que havia acontecido a eles.
Por isso ela não conseguiu sorrir quando olhou pra ela e forçou um sorriso. Por isso ela só conseguiu sentir raiva quando viu, no rosto de Alice, a confiança que a mulher apostava naquele momento, na hipótese de que tudo ficaria bem – e que agora parecia tão distante.
Todos os outros também pareciam estar envolvidos nos seus próprios pensamentos enquanto permaneciam em pé, formando uma roda, um de mãos dadas com o outro. Até mesmo Alice olhava para o nada, o foco do olhar misteriosamente perdido em algum pensamento que nenhum dos cinco amigos conseguiam sequer imaginar do que se tratava.
Mas mesmo assim, continuaram nervosos, esperando. Cada batida do coração parecia mais forte e mais rápida. Cada vez mais forte o medo dentro de cada um deles, um medo que eles nunca haviam sentido antes.
Eles esperavam, mas nem por um segundo estiveram preparados.
E foi então que, no mais absoluto silêncio e na mais densa escuridão, o inferno se abriu ao meio.
Tom e Dougie só se deram conta do que havia acontecido quando e ) gritaram alto olhando para trás: havia sido subitamente puxada para trás por alguém que eles sabiam que estava ali, mas não podiam ver.
Quando Tom viu o braço dela virado pra trás num ângulo estranho, ele soube por onde ela estava sendo puxada.
E o caos se instalou.
Dougie e Tom mergulharam de uma só vez para frente tentando desesperadamente liberar , mas o esforço foi desnecessário. A menina caiu no chão e silenciou-se, olhando assustada para os lados.
Dougie olhou confuso para os lados.
- Ele te soltou?
Alice sorriu com uma pitada de sarcasmo, mas quase como se estivesse se divertindo.
- Ele está brincando com vocês... Quer provocá-los!
- Eu não acho tentativa de assassinato uma brincadeira muito esportiva – retrucou , carrancuda.
se levantou e sacudiu as roupas sujas de terra.
Ela olhou para os lados, mas não viu ninguém além dos amigos e Alice. Era estranho: se ela podia ver espíritos, porque não podia ver o velho bruxo agora? A resposta surgiu fulminante diante de seus olhos: porque ele não queria.
O velho materializou-se na frente da menina e, antes que ela reagisse de qualquer forma, ele a empurrou para trás. Só que dessa vez sua força agira de forma sobre-humana e não caiu pra trás, ela voou mais de três metros para longe depois de cair no chão com um baque seco.
- ! – gritou.
Ela correu até a amiga e virou-a para si. Havia um corte pequeno, porém profundo, três dedos acima da sobrancelha esquerda e de lá um filete de sangue escorria pela lateral do rosto até o queixo.
- Eu estou bem – a menina disse. – , cuid...
Mas a frase nunca foi completada. viu quando o velho novamente surgiu do nada atrás da amiga. Ele apenas levantou uma mão e o corpo de sofreu o mesmo efeito que o de .
Dougie e correram para ver se estava bem, enquanto Tom foi até . Ele não sabia que estava indo na direção exata do velho, mas pode supor algo assim quando sentiu o corpo comprimir contra uma parede que não existia, uma barreira invisível que não o deixava chegar até .
E então, Alice, que até então apenas olhava tudo aquilo, resolveu agir.
Ela passou rápida e suavemente correndo pelo lado de Tom e saltou no ar. Executou uma cambalhota com a destreza de uma ginasta, mas o chute forte que atingiu precisamente o peito do bruxo foi brusco e nem um pouco delicado.
O velho caiu com um grito rouco que só e Alice ouviram.
Tom, então, resolveu que era hora de tentar de novo. Correu contra a barreira invisível, mas, como ele suspeitava, ela não estava mais ali. Ele pegou pelos ombros quando chegou até ela.
- Meu Deus, , você está bem? – ele perguntou.
A menina não respondeu a pergunta dele.
- O exorcismo – ela murmurou, em pânico. – Preciso ler o exorcismo!
Só que quando suas mãos tatearam o bolso de trás das calças jeans, ela não pôde sentir o papel dobrado que Alice lhe dera ali.
Foi quando ela o avistou a poucos metros de distância, onde Alice começava uma briga violenta contra o espírito, caído no chão.
Dougie, e tinham chegado ao lado dos dois amigos. O ferimento causado pelo espírito no rosto de era bem pior que o de . A morena não havia somente cortado a testa, ela tinha batido o rosto fortemente contra o chão, sofrendo uma pequena hemorragia que deixara uma grande mancha roxo-avermelhada logo abaixo do olho direito.
- Eu preciso pegar o papel! – exclamou.
Mas quando os amigos viram ao que ela se referia, quase como se pensassem em sincronia, eles barraram seu caminho.
- A gente pega o papel, você vai pro círculo – disse Tom.
- Mas...
- , a gente vai chamar bem menos a atenção dele do que você – retrucou. – Vai lá!
Hesitante, obedeceu aos amigos.
E de longe ela viu quando eles todos se aproximaram do papel sem nenhum tipo de cautela, ao mesmo tempo. Ela viu o rosto do bruxo virar-se pra eles.
Agora, ele estava diferente de todas as outras vezes que ela o vira. Ele estava com uma expressão vivaz, o ódio emanava pelos olhos furiosos. Às vezes, ela tinha até mesmo a vaga impressão de ver uma luz vermelho-bordô acender-se em torno do corpo dele. Era como se ela estivesse vendo todo o ódio dele vazar pelos poros do corpo na forma de poder.
girou, aterrorizada, quando viu que o olhar dele destinava-se a Tom, e que o menino fora atingido com força por aquele brilho vermelho e jogado para longe dali com uma força descomunal.
Tom não teve a mesma sorte de e . Quando seu corpo bateu contra o chão, seu braço foi forçado em um ângulo anormal e quebrou. Uma injeção de dor lancinante subiu pelo braço quebrado e espalhou-se pelo resto do corpo. O menino não perdeu a consciência, mas sua cabeça rodava tanto que ele não conseguiu mexer o corpo nem mesmo numa tentativa de levantar-se.
Ao longe, o velho parecia estar prestes a fazer o mesmo com Dougie, mas o grito de chamou sua atenção de tal forma que a rajada vermelha destinada ao menino desviou para cima.
- Dougie, abaixa! – ela gritou.
E o rapaz obedeceu a tempo. Toda a energia direcionada a ele passou a mais de um metro acima dele e a distração do velho ainda lhe deu tempo suficiente para se levantar.
Quando o espírito fez menção de deixar a luta com Alice para ir atrás de , outro chute lhe veio na direção da face, mas ele parou-o com a mão direita, agarrou o calcanhar de Alice e jogou-a no chão.
Ele teve tempo de novamente estender a palma das mãos para Dougie, mas dessa vez o garoto não foi jogado para longe. Ele sentiu como se uma corda invisível se enrolasse em seu pescoço, sufocando-o brutalmente. As mãos correram até o local numa tentativa frustrada de se libertar, mas não havia nada ali além da garganta se contraindo pelo nada.
Pouco a pouco o garoto foi perdendo o corado do rosto, e quando chegou para tentar ajudá-lo – mesmo com uma quase certeza de que não conseguiria – o efeito da tentativa de assassinato do espírito se estendeu a ela.
Lado a lado, os dois jovens estavam lentamente sendo erguidos ao ar, sufocando. A sensação de queimação nos pulmões era comum entre eles. O desespero de não ter como salvar suas próprias vidas também.
E, de fato, foi Alice quem salvou.
Ela se levantou do chão e adiantou-se o mais rápido que pôde na direção do velho. Ele não viu ela se aproximar, por isso não previu a dor lancinante que ferroou sua coluna quando Alice investiu-lhe um soco nas costa.
Ele se virou para encará-la com ódio, mas tudo o que fez foi observar o incrivelmente rápido movimento que ela fez com a perna comprida, atingindo-lhe o rosto com um chute violento.
Ela lançou um olhar significativo a , que só conseguia ver a mulher se sentando em cima do nada e distribuindo sucessivos socos no ar.
viu Dougie e caindo no chão, buscando o ar desesperadamente, mas dessa vez conseguindo respirar. Ela hesitou em pegar o papel com o rito exorcista ao pensar que eles poderiam precisar de ajuda, mas um olhar de Dougie, que agora abraçava ajudando ela a respirar, foi mais do que o suficiente para que ela soubesse o que tinha que fazer.
Ela completou seu trajeto até o pedaço de papel e pegou nas mãos no exato momento em que viu alguma coisa atingir Alice no peito e fazê-la voar muitos metros acima do chão, caindo ao lado de Tom.
Só viu quando o bruxo se aproximou dela com um sorriso malicioso e as mãos estendidas, mas todos eles conseguiram ver o corpo dela se erguer do chão enquanto ela sufocava tentando afastar as mãos invisíveis que apertavam sua garganta.
- Você! – Alice gritou para , que ao longe estava paralisada de terror com o papel em mãos. – Recite o exorcismo!
A garota apenas mudou o foco do olhar de para a mulher. Estava estupefata, cada nervo paralisado com o horror do que presenciava.
- , ACORDE! – ela gritou. – Você PODE recitar o exorcismo, qualquer um pode!
O olhar da menina correu para o papel. Aquilo não era inglês, mas mesmo não sabendo latim, ela sabia pronunciá-lo.
“Regna terrae, cantate deo, psallite dominio... Tribuite virtutem deo.”
E o pronunciar de tais palavras fez o vento uivar. E soprar mais forte, balançando sinistramente os cabelos de .
Dougie e Julia, Tom e Alice olharam para ela. Ela olhou para .
E de confuso, seu olhar tornou-se determinado. A menina elevou ainda mais a voz, fazendo-a ecoar por todo o campo aberto, até onde eles podiam ver, ao recitar as frases seguintes.
“Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii, omnis legio, omnis congredatio et secta diabolica...”
Longe dali, os contornos profundos do desenho que Alice fizera no chão começaram a afundar ainda mais, a ficarem mais profundos até que o desenho ficasse evidente no chão.
Uma fumaça avermelhada surgiu, aos poucos, do nada, cerca de três metros acima do círculo. Não era densa, muito menos opaca. Era suave, mas ainda assim era possível ver os lentos movimentos circulares que ela fazia acima do círculo, poucos centímetros atrás de .
“Ergo... Perditionis venenum propinare. Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciae. Hostis humanae salutis. Humiliare sub potenti manu dei. Contremisce et effuge. Invocato a nobis sancto et terribile nomine. Quem inferi tremunt...”
E então a fumaça recuou do meio do círculo que ela mesma formava, rodopiando ao redor do mesmo, deixando no centro um buraco negro cujo fundo era impossível de se ver.
O espírito empurrou , ainda com as mãos na sua garganta, até que a ponta dos seus pés não ultrapassasse a borda do círculo desenhado no chão por pouco mais de um centímetro.
olhou aterrorizada para Alice. Ela parou por um segundo de falar, mas pela garganta de , um grito sufocado pediu para que ela continuasse.
Tom tentou mais uma vez chegar até o velho, bem como Dougie e , mas os três foram barrados pela mesma parede invisível conjurada pelo bruxo morto há minutos atrás.
“Ab insidis diaboli, libera nos, domine. Ut ecclesiam tuam secura tibi facias, libertate servire, te rogamus, audi nos. Ut inimicos sanctae ecclesiae humiliare digneris, to rogamus audi…”
Alice tentou também, então, chegar até os dois, mas o choque contra a parede invisível afastou alguns passos novamente.
Pela primeira vez na noite, ela não parecia confiante. Cada único traço no seu rosto demonstrava preocupação e medo. só não sabia do que.
As lágrimas já escorriam sôfregas pelo rosto de quando Alice tentou investiu mais uma vez contra a barreira, em vão.
- Não entre no círculo! – a mulher gritou.
apenas respondeu, como pôde, a plenos pulmões:
- Continua!
E adiantou-se para a última parte.
“Dominicos sanctae ecclesiae, terogamus audi nos, terribilis deus do sanctuario suo deus israhel. Lpse tribuite virtutem et fortitudinem plebi suae, benedictus deus, gloria patri…”
A última palavra soou mais alta, quase como uma sentença. E quando o buraco negro se abriu por completo, passando a sugar o ar para dentro de si, também largou o papel e correu na mesma tentativa vã de ajudar .
E foi quando o velho espírito empurrou-a para dentro do círculo e continuou a segurá-la, de fora.
sentiu o mundo rodar ao seu redor. A queimação nos pulmões diminua lentamente. Ela constatou, aterrorizada, que pouco a pouco não sentia mais necessidade de respirar.
Não sentia mais o vento frio e cortante lamber sua pele, não sentia mais o vento verter para cima, balançando seus cabelos furiosamente. Ela simplesmente não sentia mais seu corpo.
Mas já sabia o que fazer.
Ela não teria forças para afastar-se do espírito. Certamente não conseguiria empurrá-lo ou inverter suas posições. Então, ciente do que estava acontecendo consigo mesma, ela apenas pôs os pés no chão e impulsionou.
puxou o velho para perto de si, para dentro do círculo.
Ele gritou e a soltou, mas não conseguiu ultrapassar as linhas no chão desenhadas por Alice. Estava preso.
A menina olhou para os amigos; as lágrimas ainda escorriam lívidas pelo rosto. Ela não forçou um sorriso, ela não gritou. Apenas continuou a chorar.
E nem teve tempo. No segundo seguinte ela olhou para cima. O buraco negro se aproximava, escuro e aterrorizante, cada vez mais perto. Até que tudo o que ela via era a completa escuridão.
E do lado de fora, e choravam alto, gritavam, enquanto o buraco se fechava acima do círculo na terra, a fumaça vermelha dissipava sem deixar vestígios e o corpo de caía mole e desfalecido no chão.
Tom estava silencioso, sentado no chão, encolhido, garantindo que estava bem, mas chorando copiosamente com o rosto escondido entre os joelhos.
Dougie não chorava como ele, mas o rosto também estava molhado, os olhos vermelhos e inchados que ele não fazia muita questão de esconder.
e agiam de forma completamente contrária. Os rostos belos estavam pálidos e os olhos vermelhos de tanto corar, elas soluçavam alto quebrando o silêncio da noite.
- Foi minha culpa – declarou silenciosamente, sem parar de chorar. – Foi tudo minha culpa.
mordeu os lábios e negou veemente com a cabeça. Dougie se deu ao trabalho de entreabrir os lábios e murmurar o mesmo que tentara dizer com um gesto.
- Não foi culpa de ninguém – Alice declarou sem emoção.
Sua bota deslizou pelo círculo no chão sobre o qual o buraco negro se abrira há mais de três horas atrás, desmanchando os desenhos que ela mesma fizera.
- Ela sabia o que ia acontecer, ela estava bem ciente da decisão que ela tomou – a mulher repetiu, a voz parecia um pouco fria demais para a ocasião.
Tom levantou a cabeça e a olhou com ódio. Ele passou as costas das mãos nas bochechas e levantou-se.
- Ela sabia? – ele perguntou furioso, apontando o dedo acusador para Alice. – Você é quem sabia! Você sabia desde o começo e você simplesmente não se importa.
Novamente, com uma atitude que parecia muito fria, ela rodou os olhos como se aquilo fosse muito entediante.
- Chega de drama, certo? Eu ouvi vocês chorarem por mais de uma hora, e nós não temos tempo a perder...
- Sabe o que você é? – a encarou, os dentes trincavam de raiva. – Você é uma assassina, além de uma pessoa ridícula e hipócrita! Você simplesmente não se importa. Você é uma vadia!
Alice estreitou os olhos e direcionou a um olhar que a confrontava de igual para igual.
- Eu não me importo? – ela soou incrédula. – Quem foi que avisou que ninguém além daquele velho decrépito deveria entrar no círculo? Quem foi que salvou a vida dos dois rapazinhos ali? Quem foi?
Ela deu um passo adiante, intimidando .
- As oito almas de luz não servem muito pra humanidade sendo só quatro – disse ela. – E eu certamente não fiz o que fiz, não me dei ao trabalho de vir até aqui pra salvar mais um ou dois se soubesse não tem como consertar o que vocês fizeram! – ela suspirou. – E não me chame de vadia.
fungou o nariz e tentou controlar o choro.
- O que nós fizemos?
- É – a mulher respondeu com simplicidade. – Deixar Harold Judd, Daniel Jones e Halles morrerem.
Tom balançou a cabeça, confuso, e retrucou:
- Espera... Como assim, consertar? V-você quer dizer...
Ele não completou, mas Alice fez isso por ele sem se importar nem um pouco. Ela só disse com simplicidade:
- Trazê-los de volta do inferno... É, foi isso que eu quis dizer – um vestígio de sorriso apareceu no canto de seus lábios. – Vocês conhecem as almes, não?
e se entreolharam.
A história das almes contada pela velha senhora não tinha soado muito digna de confiança, talvez fantasiosa demais até para quem estava na situação incomum que eles estavam.
Contudo, vinda da voz de Alice, na forma como ela falava, a teoria das almes não parecia mais tão absurda.
- As almes... Aquilo que prende a alma de alguém a terra? – arriscou Dougie.
Alice riu.
- Existe uma forma bem mais clássica de explicar, mas não deixa de estar certo – o olhar dela tornou-se sério sobre os quatro amigos. – O corpo da caiu daquele jeito porque a alma dela foi sugada para dentro do buraco, para o inferno. Mas com as almes tanto ela, quanto Danny, Harry e podem ser trazidos de volta para a Terra.
- E como vamos saber como identificar uma alme? – perguntou confusa, levantando-se do chão com , se pondo em pé ao lado de Dougie e Tom.
Todos eles já haviam parado de chorar. E por mais que a ferida da perda dos amigos ainda latejasse por dentro da alma, agora os quatro sentiam uma ponta doce e refrescante de esperança atingir seus corações.
- Isso não é importante agora – Alice virou-se de costas para ele, olhando para o horizonte, onde o sol ainda não dava sinais do nascer do dia. – O corpo dela foi enterrado da maneira apropriada, os dos seus outros amigos provavelmente também foram pelos espíritos animais. Agora o mais importante é voltar para onde as almes com certeza estão
Tom suspirou pesadamente.
- Londres, certo?
, Dougie e concordaram silenciosamente.
Alice sorriu. Dessa vez não havia malicia ou sequer sarcasmo no seu sorriso, apenas expectativa.
- Por bem ou por mal – disse ela. – A história de vocês não está terminando aqui... De fato, ela mal começou.
- Então... – disse . – Londres está nos chamando.
Ninguém respondeu, mas todos sabiam que sim.
Os olhares todos convergiram para o horizonte. Ainda estava escuro, mas já era possível ver um contorno escuro delimitando o fim do que se podia ver da terra e o começo do céu. Não havia nuvens, seria um dia ensolarado, de um céu muito azul.
O dia ainda estava longe de amanhecer, mas pelo menos, agora, eles tinham a certeza de que veriam isso acontecer.
Agora, tinham certeza de que veriam o sol nascer ali.
E que, há muitos quilômetros de distância, naquela direção, Londres os aguardava.
F.I.M.
Curiosidades de Midnight
• Na idéia original de Midnight, a fic deveria ter acabado com a quebra da maldição e os personagens mortos não voltariam.
• No decorrer da fic houve mudanças nos planos de quem iria morrer e quem iria viver. O irmão da Fletcher e Harry, a princípio, viveriam, e o Tom e a Poynter morreriam.
• Embora não especificado na fic, a Mercedes SLK de Alice é roubada.
• Veja aqui uma foto do carro.
• O fato dos primos do Danny serem gêmeos terá grande importância para a série futuramente.
• O primeiro nome de Midnight era em português: À Meia-Noite.
• Originalmente, a personagem Alice não existia em Midnight. Ela foi criada posteriormente para que alguns mistérios da fic fossem esclarecidos sem embromação, mas acabou não tendo oportunidade de responder as várias perguntas cujas respostas ela sabe.
• Existe uma razão pela qual o companheiro de Alice desapareceu da fic. Essa razão será explorada em uma futura continuação da fic.
• As sensações de Tom na cena do afogamento no capítulo Bee (Abelha) mantêm uma ligação com um aspecto da lenda das oito almas de luz que também será visto futuramente.
• Os mistérios não-resolvidos de Midnight foram todos deixados para a sua possível continuação.
• Alice é uma personagem que esconde um segredo que pode estar relacionado com o que pensa ter visto enquanto estava no hospital.
• A história da pulseira do irmão da Fletcher surgiu a partir de algo real, mas ela não desaparecerá de cena.
• Os horários dos ataques e a história da progressão geométrica foram criados depois para situar melhor os acontecimentos da fic no tempo e por os personagens em uma “corrida contra o tempo”.
• O Harry não tem par na fic ainda por causa de um detalhe da lenda das almas de luz ainda não descoberto.
• A história do Dorganismo é completamente fictícia.
• Existem personagens que foram criados para aparecerem no decorrer de Midnight, mas que acabaram não aparecendo por falta de espaço no enredo pra isso.
• O irmão da Fletcher, na versão original da fic (não-scriptada) se chama Lucas.
• As três meninas também têm nomes dedicados a pessoas específicas na versão original. A Fletcher se chama Karol (minha prima) e a Jones e a Poynter são, respectivamente, Juliana e Júlia (duas grandes amigas).
• Midnight, à princípio, não seria postada como uma fanfic interativa.
• Foi durante o período de hiatus que Midnight teve durante 2008 que o rumo da fic foi mudado e que o enredo foi esticado, ganhando a possibilidade de uma futura continuação.
A única coisa certa sobre a possível continuação de Midnight é que ela NÃO se chamará Midnight 2 ou algo do gênero. Para manter-se atualizado sobre isso, detalhes sobre essa futura fic estarão sendo ocasionalmente liberados no blog Allowed Words.
Nota do Autor (20/04):
Exatamente um mês desde que mandei a última atualização. Decepcionante, né? Eu sei, desculpa. Pra quem acompanha o Allowed Words (que também ficou paradão por muito tempo) o motivo dessa demora toda já foi explicada. Enfim, problemas... Não quero mais falar sobre eles...
O último capítulo de Midnight está aí e eu nem sei direito descrever como é finalmente terminá-la depois de tanto tempo (em especial porque ela não está totalmente terminada). Eu acho que de modo geral a fic saiu bem do jeito que eu sempre imaginei ela, mas teve muita coisa que eu tirei dela porque não ia se encaixar bem no enredo e ia ficar uma porcaria!
Ahn, eu espero que vocês tenham gostado da fic e que acompanhem as outras que eu colocar aqui no site... Eu já disse no Allowed Words que Cante Comigo será a próxima, né? Pois então...
E quem sabe eu também não junte todos os pedacinhos que cortei de Midnight para fazer alguma coisa legal com eles???
Fica aí o Link do Allowed Words.
ACESSEM: Allowed Words E também meu Orkut, se alguém quiser conversar ;D :: clique aqui :: Bom, agora é esperar e ver nessa caixinha aí embaixo o que vocês acharam!
xoxo, Lucas Esteves.