I've Been Missing You.
Por Mariana.


Parte I



Música incrivelmente alta. Adolescentes sem limites bebendo cerveja. Uma aniversariante fazendo 16 anos. Ótimo! Isso é... incrível. Eu poderia estar em casa, no conforto do meu lar; mas nãããão. Tinha que ser idiota o bastante para aceitar o convite dela. Por que diabos ela me convidou mesmo? Não, não. Já sei. Hey! Convide a intercambista sem amigos. Isso aí. Ainda passa uma imagem bem falsa de popularidade. Ótimo. Isso é... fantástico. Ela estava em um conflito interno, ainda com o pulso fechado e levantado. Na outra mão, carregava um pacote pequeno. Ok. Bater na porta ou não? Eis a questão. E Sócrates achava que ele tinha problemas. HAHA, GOT’CHA! Olhou para os lados e ouviu o som da porta sendo aberta. Disfarçou colocando uma mecha do cabelo para trás e pensou, por fim: Já era. Uma senhora de, aparentemente, quarenta e poucos anos sorriu para ela, fazendo um gesto para a garota entrar. Ela sorriu, tímida, e entrou, ouvindo o som ainda mais alto e algumas pessoas rindo.
- Você é a... - a mulher perguntou, olhando para ela. Era bem conservada e parecia gentil. Não pôde evitar o sorriso.
- . - estendeu a mão, sorrindo de lado. - Prazer. - ela disse, formalmente. A senhora riu, apertando as mãos, e chamou uma outra garota, pelo apelido. mordeu os lábios, aparentemente nervosa. Uma outra menina chegou perto dela. Era a cara daquela senhora. Então, havia acabado de conhecer a mãe de sua colega.
- ! - a garota sorriu, indo dar um abraço na outra. - Tudo bom?
- Tudo legal, Izzie. - respondeu, entregando o pacote à ela. A garota arqueou uma sobrancelha e olhou novamente o pacote. - Parabéns.
- Ah, obrigada. - Izzie falou, rindo um pouco. Chegou perto de e sussurrou no ouvido dela: - Acho que você foi a única pessoa a trazer, mas valeu mesmo assim. - ela saiu, indo guardar no quarto dela. deu uma olhada em volta e suspirou. Música incrivelmente alta. Adolescentes sem limites bebendo cerveja. Uma aniversariante fazendo 16 anos. Vamos lá.

- Hey! Vem cá, . - sua colega da aula de química chamou a menina. Ela foi, sorrindo. Chegou lá e deparou-se com quatro rapazes, com garrafas de cerveja na mão. Pareciam mais velhos do que o pessoal do colégio. - Esse aqui é o , - apontou para o primeiro, que acenou a cabeça. - , - os outros, que, respectivamente, deram um sorriso e uma levantada de sobrancelha. E, por último, a amiga lhe apresentou um , que tinha os olhos e uma aparência jovial. - E , meu irmão. - esse último sorriu para ela, acenando com a cabeça. retribuiu.
- ! - ouviu uma voz chamá-la e virou, automaticamente. Deparou-se com um garoto da idade dela, das suas aulas de física avançada. Ela sorriu e começou a falar com ele. Não ouviu quando sussurrou para .
- E aí? O que você acha?
- Eu acho - ele falou, tomando um gole e analisando a garota da cabeça aos pés. - que minha irmã deveria ter mais amigas assim. - riu. O amigo balançou a cabeça em negação e tomou outro gole. Izzie chegou perto dele e o chamou para dançar. rolou os olhos e deu a mão à garota. Quem sabe ela não parasse de lhe encher a cabeça se ele simplesmente desse o que ela estava pedindo. olhou aquilo e riu. Foi até a cozinha, depois de perceber que sua cerveja havia acabado. Estava passando em frente ao quintal, com uma parede de vidro. Então viu alguém encostado na mesa e sozinho. Abriu a porta e ouviu alguém cantarolando algo parecido com Don’t Stop Me Now e sorriu, logo acompanhando a pessoa. A garota olhou para trás e riu, vendo-o fechar a porta de vidro e ficar do lado dela, na mesma posição em que ela se encontrava.
- Então... - ele começou, seguido de um silêncio desconfortável. - Que tipo de garota você é para estar aqui, do lado de fora, ao invés de lá dentro, onde todos os adolescentes normais estão?
- Pelo que você disse, uma adolescente anormal, eu acho. - ele riu e ela apenas olhou para cima, analisando as estrelas. - Alguém que preferiria estar em casa, ouvindo seus cd’s prediletos, do que estar aqui, ouvindo disco. - falou, como se tivesse nojo, dando de ombros. Ele riu de novo e tomou outro gole, olhando agora na direção em que ela estava olhando.
- Então porque você está aqui?
- Não sei. - respondeu, rindo. - Sua irmã me pediu para vir, sabe? Ela... Eu acho que ela tem a impressão de que tinha a obrigação de me convidar, senão meu coração ficaria arrasado ao descobrir que eu não fui convidada para a festa dela ou algo assim. - ela observou, vendo-o rir.
- , certo? - ele perguntou. Ela acenou com a cabeça, tomando um gole de sua bebida. Ele viu que era apenas um copo com água. - Então... Você não é daqui, é? - ele perguntou, fazendo a careta. Ela riu.
- Nope. - disse, simplesmente, se perdendo na vastidão que era aquele céu que se encontrava acima de sua cabeça.
- De onde você é? - ele perguntou, levantando uma das sobrancelhas.
- Brasil.
- Uôu uôu. Pára um segundo. - ele disse. E, pela primeira vez naquela conversa, ela olhou para ele. Diretamente para os olhos dele. - Brasil? - ele perguntou. - Deve ser o máximo morar lá. - ela apenas deu de ombros.
- Eu acho que deve ser o máximo morar aqui e ser apenas um turista no Brasil. - ela disse, sorrindo de lado. - Mas, mesmo assim, eu amo morar lá. - falou, e voltou a olhar as estrelas que cobriam o céu. Ele sorriu e fez o mesmo.
- O que você faz aqui, então?
- Intercâmbio. - respondeu, fazendo um som estranho com a boca. - Vim passar uns seis meses, ou quem sabe um ano, por experiência. É bom de vez em quando. - sorriu.
- Você sente falta de alguma coisa? - ele perguntou. Ela olhou-o novamente.
- Se eu sinto falta de alguma coisa? Eu sinto falta de tudo! - exclamou, rindo. Ele abriu um largo sorriso. - Mas eu não paro para pensar nisso. Senão eu já tinha voltado.
- Há quanto tempo você está aqui? - ele perguntou.
- Dois meses.
- Bastante tempo, não é? - ele disse e percebeu que sua cerveja já havia acabado novamente. Mas, não tinha a mínima vontade de ir buscar outra.
- É. Mas passa muito rápido, se você quer minha opinião. - ela sorriu e ouviu a porta se abrindo. e olharam para trás ao mesmo tempo. Viram a senhora chegar com um prato com alguns bolinhos em cima.
- Vão querer alguma coisa? - ela perguntou, sorrindo. falou um ‘não, obrigado, mãe.’ Mas a menina esticou o braço e pegou um deles.
- Nossa! - ela falou, ainda mastigando. - São muito bons! A senhora quem fez? - ela perguntou, pegando outro e sendo encorajada pela senhora Angeline.
- Sim, minha querida. - ela respondeu, com aquele mesmo sorriso. - , faça diferente. Tente manter essa garota por um tempo, certo? Ela é ótima. - ela saiu e ficou parada, com a boca aberta. Apontou para a porta, murmurando algo inaudível. Ele riu.
- Deixa pra lá. Ela adora qualquer um que adore seus bolinhos. - ele disse, rolando os olhos, fazendo-a rir.
- Por que ela pediu para ‘me manter por um tempo’? - ela perguntou, fazendo aspas imaginárias. - Não sendo um incômodo, claro...
- Não, não. - ele disse, sorrindo. - É que... eu tenho meio que... uma banda. - falou, coçando a nuca. Ela sorriu. - É meio difícil manter um relacionamento assim.
- Imagino. Mas você tem uma banda? - perguntou. - Isso é o máximo.
- É. McFly. - ele disse e olhou para ela. - Nunca ouviu falar?
- Talvez; o nome é bastante familiar. Mas sei que nunca ouvi nenhuma música. - ela respondeu, com uma expressão de dor. Ele riu. Ficaram conversando por mais um tempo. Ele contando sobre a vida dele, fazendo-a rir com as coisas mais bestas e discutindo para saber qual banda era a melhor: Beatles ou Queen.
- Nada disso. - ele replicou, quase gritando. - Beatles vai ser sempre Beatles.
- É aí que tá o problema, cara. - ela disse. - Beatles era uma porcaria. Mas, por ser Beatles, muita gente gostava. Ou pelo menos dizia que gostava. Eles tiveram lá seus sucessos, mas eles escreveram a pior música de todos os tempos, de acordo com a própria BBC. E Queen foi considerada a melhor banda britânica de todos os tempos. E FOI! - ela gritou, rindo. Ele jogou a cabeça para trás e bufou, sorrindo.
- ? - ouviram alguém chamar. Era Angeline. - Será que você podia me ajudar com a bebida? Vou ter que trazer mais algumas garrafas.
- Tô indo. - ele falou, indo até a porta.
- Cara. É muito estranho uma mãe incentivar a filha de 16 anos a beber. - ela falou, franzindo a testa e coçando a cabeça.
- Ela diz que prefere na frente dela do que pelas costas. - ele disse e sorriu.
- Compreensível. - o viu fechar a porta e seguir para a cozinha, junto com os outros três amigos dele. Ela voltou a olhar o céu e deu uma olhada em seu relógio. QUÊ? COMO ASSIM DOZE E TRINTA E QUATRO? Era para eu estar em casa às doze! Ela olhou para os lados, rapidamente, e foi dizer adeus à Izzie, que estava conversando e rindo. Falou com a menina e saiu porta afora, apressada.

- , você é uma bicha, cara. - falou, dando uma tapa em sua cabeça.
- Eu achei que fosse uma cobra, tá legal? Não enche. - falou, irritado.
- ERA UM GALHO, POR DEUS! - praticamente gritou, rindo. já estava ficando com falta de ar. Presenciar um ataque bicha do seu amigo ‘eu-sou-hétero’ era impagável. Olhou para o vidro e não viu ninguém lá. Nenhuma garota vestindo jeans e uma camiseta branca. Ninguém olhando para o céu. Ninguém.
Arqueou a sobrancelha direita e procurou pela casa. Não era possível. Ele pegou seu casaco, olhou a rua à sua direita. Ninguém. À sua esquerda. Uma figura bem torneada andava não muito rápido. Ele correu para alcançá-la.
- E aí? - ele disse, rindo. Ela olhou para ele, confusa, e girou os olhos.
- O que você faz aqui, ?
- Acompanhando você, oras! Por quê? - ele perguntou, fazendo uma careta.
- Você vai voltar para casa, sozinho. - disse. - É perigoso um cara andando sozinho nas ruas de Londres à meia-noite e meia. - replicou dando de ombros.
- Mais perigoso ainda é uma garota de dezessete anos andando sozinha nas ruas de Londres à meia-noite e meia. - ele disse, dando língua. - Isso sim é bronca.
- Eu disse que não precisa! - respondeu. - Além do mais, eu sei me cuidar.
- Aham, sei. - ele falou, como se não acreditasse. Ela olhou-o com a boca aberta, indignada, e deu-lhe uma tapa no braço. - Ai! Isso dói, tá legal?
- Ótimo. Cumpriu seu propósito. - disse, vendo-o rir.
- Você está indo para onde? - ele perguntou.
- Lar. - ela disse, sorrindo.
- Não é meio estranho, sei lá, você chamar de lar um lugar onde você passou apenas dois meses, com pessoas totalmente estranhas no começo? - ele disse, virando-se para ficar de frente a ela e andando de costas. Ela riu e deu de ombros.
- Você sabe o que dizem. Lar é onde o coração está. - respondeu, calma. Ele parou, de repente, fazendo-a parar também.
- Cara... Você tem certeza que nunca ouviu nossa banda? - perguntou.
- Absoluta. - ela riu. - Por quê?
- Essa última frase. - ele disse. - É uma música nossa.
- Ah. - ela sorriu. - É de uma música de Green Day. Você sabe, não é? - voltaram a andar, seguindo até a casa de . Ele acenou a cabeça em afirmação e riu, olhando para a rua deserta que seguia ao lado deles. - É aqui. - ela falou, apontando para uma casa pintada toda de branco com alguns tons de verde-claro e azul. Tinha um jardim bonito e estonteante. Era encantador. Ela virou para ele e sorriu. - Obrigada.
- Você também. - respondeu, sorrindo em resposta.
- Boa noite. - os dois disseram ao mesmo tempo e riram. deu um beijo na testa de e murmurou um ‘até logo’. Ela entrou em casa e fechou a porta. Trinta segundos depois, saiu correndo.
- ! - ela gritou. Ele virou para trás e se deparou com a garota. Tinha a bochecha rosada pelo frio e pelo esforço. Ele ficou confuso.
- Hey. Quer um outro beijo de boa-noite, honey? - ele perguntou, dando um sorriso maroto. Ela deu outra tapa nele.
- Babaca. - respondeu, rindo. - Minha irmã londrina. - ela respondeu, estendendo o CD mais novo deles na direção de , junto com uma caneta. - Ela ama vocês mais do que qualquer coisa nesse mundo. Os pôsteres comprovam isso. - falou, girando os olhos e rindo. Ele riu e autografou o encarte, entregando o CD de volta para ela.
- Isso é para sua irmã. - ele falou. Pegou o braço dela e começou a anotar um número de telefone em sua mão. - E isso, é para você. Qualquer coisa me liga. - ele disse. Não tinha nenhum tom de galanteio em sua voz ou qualquer tipo de tática de sedução. Estava completamente sem segundas intenções.
- Você sabe que isso é caneta permanente, não sabe? - ela falou, com tom de raiva fingida em sua voz.
- Ótimo. Estarei marcado para sempre em você, não vê? - ele riu e levou outra tapa.
- Boa noite, . - ela falou, falando mais alto e dando ênfase à frase toda. Deu um beijo na bochecha dele e foi se direcionando de volta para casa.
- Hey! - ele gritou. Ela girou os calcanhares, encarando o . - E se eu quiser outro beijo de boa-noite? - apontou para a bochecha. Ela riu, rolando os olhos.
- SE VIRA! - gritou e voltou para casa. Ele riu e decidiu fazer o mesmo que ela. foi recebida pela irmã, de onze anos, que gritava histericamente porque agora tinha o autógrafo de seu baixista predileto. Ela riu e deu um beijo na testa da irmã do meio, que correu atrás da mãe para mostrar alegremente. subiu as escadas, sentindo a exaustão, o cansaço e o sono tomarem conta de seu corpo. Trocou de roupa, colocando um casaco enorme, e se enfiou embaixo do lençol. Olhou o telefone em suas mãos e soltou uma risada bufada. Desligou seu abajur e descansou os olhos, caindo no sono mais rápido do que você consiga dizer ‘Transylvania’.



Parte II



O que mais adorava naquela cidade e naquele local era a tranqüilidade. Definitivamente, prezava por esse fato. E, de onde estava, tudo parecia ainda mais calmo. O sinal havia batido há pouco e ela estava sentada embaixo de uma árvore, lendo um livro de sua autora preferida, Jane Austen. Podia ouvir o som de crianças brincando, rapazes conversando e fazendo piadinhas entre si e o bater do vento nas árvores; o que tornava a leitura, sob uma sombra natural, ainda mais prazerosa. Suspirou, sorriu e voltou sua atenção para “Orgulho e Preconceito”.

estacionou o carro um pouco distante da entrada daquele colégio. Fechou a porta, ajeitou o casaco contra seu corpo e foi andando. Via uma quantidade grande de adolescentes, achava que seria impossível encontrar sua irmã. Na verdade, ele procurava pela Izzie, mas só sossegaria seus olhos quando visse uma outra pessoa. E ali estava ela, exatamente como ele imaginara. Sorriu e foi até lá, parando em pé ao seu lado. - Oi. - disse, calmamente. Ela olhou para cima e franziu a testa, estranhando.
- Hey. - sorriu. - O que você faz aqui?
- Vim buscar a minha irmã. - ele falou, apontando, com o dedão, para trás.
- Ah. - exclamou. - Se você está procurando pela Izzie, ela está ali. - apontou para um banquinho onde a menina estava sentada, com algumas amigas, e rodeada por garotos. Um deles sussurrou algo no ouvido dela, que começou a rir. rolou os olhos e soltou uma risada bufada. apenas sorria, voltando sua atenção para o livro.
- Ei! - ele reclamou. - O que esse livro tem que eu não tenho? - sentou-se ao lado dela, também se encostando na árvore. riu.
- Você tem certeza que quer saber? - ela perguntou, olhando para ele e sorrindo de lado. Ele concordou, meio assustado. Ela chegou perto dele, fechou os olhos e sussurrou em seu ouvido: - Ele é muito mais interessante. - sorriu e viu que ele estava com o rosto franzido, olhos fechados e mordia os lábios. Homens. - Isso é calúnia, difamação, garota! - ele dizia, indignado. A menina riu e fez que não com a cabeça, virando a página. - Eu sou muito mais interessante do qualquer coisa aqui, tá legal?
- Se você diz. - ela deu de ombros, ainda sem olhar para ele. - Deve ser muito legal viver no seu mundo, . - murmurou depois, divertindo-se, mas sem realmente demonstrar. Ele estreitou os olhos na direção dela e acenou a cabeça em negação.
- Ah é, né? Você vai ver quem é o chato aqui. - ele falou, pouco antes de começar a fazer cócegas nela. Só podia ouvir aqueles gritos pedindo para ele parar e uma risada contagiante. Ela se levantou rapidamente e pôs uma mão na frente, impedindo ele de chegar perto, depois de ter se levantado também.
- ... Por favor, não. - ela falava, rindo e massageando a barriga, que se encontrava vermelha.
- Então, quem é mais interessante? - ele perguntou, chegando perto. - Eu ou o livro? - ameaçou. Ela fingia pensar numa resposta, então ele chegou mais perto e colocou as mãos na cintura dela, como se dissesse ‘a resposta errada e você sofre de novo’.
- Não, não. Você! Você é muito mais interessante! - exclamou, se afastando e sorrindo forçadamente. Ele riu e girou os olhos. Então ouviu alguém chamá-la. Virou a cabeça e se deparou com um rapaz de dezessete anos e um menino de cinco. Sorriu imediatamente. Olhou para de novo.
- Tenho que ir. - falou, se abaixando e pegando suas coisas no chão.
- Até logo. - ele disse, sorrindo para ela. Viu a garota ir até os dois.

- ! - o mais novo, David, chegou e abraçou-a. Ela deu um beijo no topo de sua cabeça e sorriu para o mais velho, Matt. - Quem era aquele? Seu namorado? - perguntou, sorrindo alegremente e segurando na mão dos dois irmãos. riu.
- Não, não. Aquele é irmão de uma amiga minha, Dave. - ela respondeu e Matt sorriu de lado para ela. Não que ela soubesse, mas ele gostava dela desde que a conheceu. E, de uns tempos para cá, ele passou a sentir uma outra coisa por ela. Ainda mais forte.
- ! - David parou, fazendo os outros dois pararem e olharem para ele. - Vamos brincar de cavalinho, vaaaaaaai? - ele implorou, sorrindo e falando arrastado. Ela olhou para o mais velho e rolou os olhos. Ele apenas riu.
- Vamos lá, criança. Sobe aqui. - ela falou. Entregou sua bolsa para Matt e se abaixou. David subiu nas costas dela e abraçou-a bem forte. Uma das coisas que ela mais sentiria falta quando fosse embora seriam seus irmãos. Ainda estava faltando a filha do meio, Jennifer, que tinha adoecido naquele mesmo dia de manhã. Voltaram a andar pela entrada.
- Pergunta para ele o que ele fez hoje na aula. - Matt sussurrou em seu ouvido e ela riu. David cantarolava algo como ‘eu vou passear no bosque, enquanto seu lobo não vem’.
- Hey, criança. O que você fez hoje na aula? - perguntou, desviando a atenção do mais novo para ela. Ele sorriu quase como num súbito.
- Hoje eu fiz... Eu fiz um desenho de lá de casa. - ele falou. - Tinha mamãe, papai, o Matt, a Jennie, eu e você. - falou, rindo. Ela fez um som parecido com um awn e riu. Olhou para o mais velho e murmurou ‘isso é golpe baixo, sabia?’ O rapaz apenas riu, jogando a cabeça para trás. Ele olhou-a e murmurou de volta ‘ainda não acabou’. - Aí... aí... aí eu desenhei um garoto e uma garota de mãos dadas, sabia? E ficou bem legal. E eu coloquei que era você e o Matt. - David falou, ainda distraído. franziu as sobrancelhas para o outro, que tinha a mesma expressão. O rapaz deu de ombros. - E eu fiz ainda outro, que era o mais bonito de todos. Era eu e uma garota. Então... Então eu entreguei para Amy e ela me deu um beijo na bochecha. - ele falou, divertido. Matt e riram.
- Sério? Então Amy é o nome da sua namorada, né? - ela perguntou, virando a cabeça para trás e vendo o sorriso no rosto do mais novo. Ele mudou de expressão e olhou para os lados.
- Eu não tenho namorada, não. - David afirmou, mordendo os lábios e balançando a cabeça. E, durante todo o percurso de volta para a casa, os mais velhos encheram o saco dele em relação aos desenhos e a sua ‘namoradinha’, causando muitas risadas e brincadeiras.

ainda olhava pela rua, vendo os três que pareciam se divertir, quando sentiu um cutucão em seu ombro. Virou-se e deu de cara com Izzie. Os dois sorriram.
- O que você está fazendo aqui, ? - sua irmã perguntou, franzindo a testa.
- Eu vim buscar minha irmã preferida, oras! - ele beijou a testa dela e passou o braço pelo seu ombro, guiando-a até seu carro. A menina riu.
- Você tem certeza? - ela perguntou. Ele virou para ela e arqueou uma de suas sobrancelhas. - Você tem certeza que veio por minha causa? Ou veio por causa da minha parceira de química? - Izzie parecia estar se divertindo.
- Claro que não, né? - ele falou, como se fosse óbvio. Tinha demorado um tempinho para descobrir que era colega da aula de química de sua irmã. Depois da sugestão, foi que ele entendeu. - Eu vim aqui ver você. - afirmou, dando ênfase.
- Mas eu podia ter muito bem voltado para casa sozinha. - ela disse, quando chegaram ao carro. Abriu a porta enquanto o irmão se dirigia ao banco do motorista. Ele riu.
- Tivemos folga do Fletch, hoje. - ele disse, dando partida e começando a sair. - Então, já que eu não estive sendo muito presente como um irmão deveria, sabe como é, então resolvi levar você para almoçar fora e tomar um sorvete comigo. - sorriu, vendo a irmã sorrir também. Ela deu um beijo na bochecha dele e perguntou como estava indo a escola. Começaram uma conversa animada, comparando o colegial na época dos dois.
Talvez, há algum tempo atrás, ele nem iria, numa folga da banda, buscar a irmã e irem passar um tempo juntos. Há algum tempo atrás, ele provavelmente aproveitaria para tomar um tempo para ele mesmo e fazer as coisas que interessavam apenas para si próprio. Mas, há pouco tempo, ele havia percebido a importância da família e de manter contato com seus parentes. Ele apenas tinha percebido isso há mais ou menos uma semana. Exatamente quando conhecera .



Parte III



Folhas de outono. É realmente muito bom quando se brinca com elas. Mas limpá-las? Não mesmo! pensava, enquanto passava aquele “projeto de vassoura”, varrendo pelo quintal de sua casa. Toda vez que ela conseguia reunir um montinho de folhas e ia buscar uma pá, um vento forte espalhava tudo de novo. Parecia brincadeira. Estava com o celular no bolso do casaco, esperando por uma possível ligação de sua amiga. Não prometeu nada, mas ela sabia que, se conseguisse, sua melhor amiga iria ligar o mais rápido possível. Juntou um outro montinho e, quando foi buscar a pá, sentiu aquele vento forte. Suspirou fortemente, com os olhos fechados, e virou para trás, vendo o quintal novamente. Cheio de folhas. Claro.
- Muito obrigada! - ela exclamou, olhando para cima e fazendo cara de cínica. Bufou e foi juntar tudo de novo.
- Falando sozinha, ? - seu irmão mais velho, Matt, perguntou. Ele era um doce de pessoa e fazia de tudo para ela se sentir feliz ou confortável naquela casa. Ou pelo menos o possível para alguém que foi morar numa casa totalmente desconhecida com mais cinco pessoas. Ela olhou para trás e sorriu.
- Nope. - ela respondeu, sorrindo e parando. - Falando com o tiozinho lá de cima... QUE PARECE ME ODIAR! - gritou esta última parte, olhando novamente para o céu e encarando um tempo nublado. Rolou os olhos e ele riu.
- Quer ajuda? - ofereceu, segurando a vassoura onde a mão dela estava e sorrindo amigavelmente para a menina. Ela abriu um largo sorriso e deu um beijo na bochecha dele, indo pegar a pá que estava encostada na parede de trás. Ele sabia que os brasileiros era pessoas muito calorosas. Aprendeu isso com . Mas ele levou aquele beijo a sério. A sério demais.
Ela foi até ele e, com o esforço dos dois, conseguiram em cinco minutos o que não tinha conseguido em uma manhã praticamente inteira de um sábado. Ela olhou para o quintal todo limpo e suspirou, colocando a língua para fora. Ele fez uma careta, segurando o saco de lixo e levando até uma lixeira preta que ficava mais adiante. Ela riu e encostou-se na parede, ao lado da pá, parecendo cansada. Fechou os olhos e sorriu, sentindo a brisa leve passar-lhe por entre seu rosto. Matt olhou-a daquele jeito e pareceu-lhe que não conseguiria resistir por mais nem um segundo.
- Então... - ele começou a falar, se aproximando dela. Ela abriu os olhos e sorriu, o encarando. - Quando você parte? - perguntou, chegando perto dela e parando logo à sua frente. levantou uma sobrancelha e pensou por um instante.
- Daqui a seis meses. - disse, sorrindo. Tinha prolongado o tempo que ficaria lá e só voltaria ao Brasil no meio do próximo semestre, o que dava a ela um tempo bem longo de férias. Ele chegou mais perto dela. A uma distância mínima. A garota estranhou no começo, mas não falou nada. Realmente, não tinha idéia do que estava por vir.
- Sabe, - ele começou, passando a mão levemente pela bochecha dela e colocando uma mecha de seu cabelo para trás da orelha. - Eu vou sentir muito sua falta. - afirmou, mordendo o lábio inferior. sorriu mais uma vez.
- Eu também vou sentir muito sua falta, Matthew. - respondeu, abrindo um largo sorriso e colocando a mão levemente no ombro dele. Olhou para os lados e suspirou, fazendo uma cara um pouco triste. - De todos vocês. - disse, levantando e encolhendo os ombros. Ele chegou ainda mais parte, com um sorriso nos lábios.
- Não era dessa saudade que eu estava falando. - falou, um pouco antes de encostar sua boca na dela e beijá-la. De tão assustada que a menina ficou, o beijou de volta, ficando naquela mesma posição. Quando finalmente se deu conta do que estava acontecendo, o empurrou de leve, com as mãos no peito dele.
- Não, Matt... - murmurou, ainda de olhos fechados. Ouviram alguém falar algo e viraram-se a tempo de ver a mãe dele, com olhares mortais para os dois. abriu a boca para falar alguma coisa, mas foi interrompida.
- NÃO! ACREDITE, GAROTA. - ela começou a gritar, com o rosto vermelho. Se tinha uma coisa que a Sra. Helen Thompson não aturava era mentiras. Mentiras, traições e segredos. E, para ela, aquela cena continha tudo aquilo. - EU TINHA CERTEZA QUE NÃO PODERIA DAR CERTO ISSO! Uma garota de dezessete anos vindo para cá... COMO EU NÃO VI ISSO ANTES? - berrou, furiosa e adentrando a casa. foi atrás, seguida por Matt. - Olhe, . Vou ser bem sincera com você. - falou, virando rápido e quase esbarrando na menina, que parou bruscamente e foi segurada por Matt. - Eu não quero você aqui em casa. Não me leve a mal, você foi uma ótima garota. Mas acabou. Vou ligar para o sistema de intercâmbios e você vai mudar de casa, certo? - ainda estava com muita raiva, mas engoliu-a e disse tudo aquilo calmamente.
sentiu um nózinho na garganta e a boca ficar ligeiramente seca.
- Mas... - ela sussurrou, com a testa franzida. Pensou em tudo que teria de mudar. Além da casa, teria que mudar de irmãos, escola, os poucos amigos que tinha feito. Poderia parecer pouco, mas era tudo que ela tinha. Eles eram algo quando ela não tinha nada.
- Não, por favor. Não diga nada. - Helen afirmou, com as mãos esfregando a testa. - E, faça-me um favor, saia daqui. Agora. - disse, falando diretamente com a menina. - Só quero ver você aqui de novo quando tiver de buscar suas malas. - bateu a porta da cozinha com força e sentiu aquela tristeza lhe invadindo e saiu de casa, correndo até uma pracinha e chorando. A última coisa que viu foi o rosto de Matt, com uma expressão de dor. Sabia que ele ia tentar falar com a mãe, mas era uma situação irreversível. Sabia das regras da casa dos Thompson’s. E tinha acabado de quebrar umas três delas.
Olhou para a sua mão, vendo uns rabiscos ainda legíveis e sentindo uma gota de lágrima cair nela. Pensou por uns instantes. Não tinha para quem ligar, não mesmo. A não ser que aquela pessoa pudesse atender. Pegou seu celular e discou o número, fungando um pouco.
- ? - perguntou, limpando umas lágrimas e fungando novamente. Olhou ao seu redor e viu pessoas felizes, que pareciam completamente alheias a ela. É realmente impressionante como algo pode acabar para você assim. Em segundos.
- ?! - ele perguntou, se levantando em súbito. Estava no estúdio, gravando algumas músicas. Todos pararam olhando para ele e continuaram a fazer o que estavam fazendo antes.
- É, sou eu. - ela falou, olhando para os lados, ainda com uma voz de choro.
- Você está bem? Quero dizer, você não me soa bem. - ele disse, com um tom de preocupação na sua voz e saindo da sala, indo para o corredor do local. Passou as mãos pelo cabelo, nervoso. Apesar do pouco tempo que se falaram, ele gostava bastante dela. Era alguém importante para ele. Tanto, que podia sentir as dores dela.
- Não. Eu não estou bem. - ela respondeu, rindo abafado e fungando. Sentiu as lágrimas virem à tona de novo e suspirou. Não poderia chorar. Não agora. - ... Será que... Será que você poderia vir aqui? Eu... não estou me sentindo muito bem e... bom, eu preciso de alguém. - ela falou, sabendo o quanto soava patética. - Se você não estiver ocupado, claro. - disse, rapidamente. Ele olhou em volta. Estava ocupado sim. Mas não a ponto de não poder ir buscá-la quando ela mais precisava dele.
- Não! Não, não. Estou aqui no estúdio, gravando. Mas tudo bem, não tem problema. - ele falou. Porque não tinha. De verdade. Pelo menos, não para ele.
- Por favor, . Não. Fique aí, vá. - ela respondeu, se levantando e indo de um lado para outro, roendo as unhas. Ele bufou.
- Nada disso, . Estou indo aí. Agora. - ele deu ênfase, voltando a andar pelo corredor. - Onde você está?
- Não, . Não mesmo. Você está ocupado. Eu dou um jeito. - ela disse, olhando à sua volta. Sabia onde estava e sabia que era bem longe da casa dela. Mesmo parecendo que não tinha corrido nada.
- . - ele exclamou, em tom imperativo. - Me diga onde você está. - perguntou, mais uma vez. Não aceitaria um ‘não’ como resposta. Nunca aceitava.
- ... - ela murmurou, mordendo o lábio inferior. Agora estava se sentindo culpada. Não deveria ter ligado para ele. Estúpida!
- Olha, a gente pode ficar aqui o dia inteiro. - ele disse. - O que você prefere? - perguntou. Ela bufou e olhou uma placa.
- St. James Park. Em frente a uma loja da HMV. - respondeu, conformada. Estava feliz por ele ter insistido na história. Sorria sem nem saber.
- Ótimo. - ele disse, feliz. Estava sorrindo, mas não fazia idéia. Estava feliz por ela ter ligado. - Estou aí em dez minutos. - falou. Ela fez um sim com a cabeça e murmurou algo, desligando. entrou rápido na sala onde estava e se abaixou na mesa de centro, para pegar as chaves de seu carro.
- Hey, aconteceu alguma coisa? O que foi? - perguntou, olhando meio preocupado para , que tinha uma expressão longe.
- Aconteceu. - disse. - Mas não tenho a mínima idéia do que seja. - respondeu, sincero. Foi indo até a porta, sendo acompanhando pelos olhares dos companheiros de banda e de seu agente. - Não vou mais voltar. - afirmou, pouco antes de bater a porta e sair correndo para o carro. Quanto mais rápido partisse, mais rápido poderia vê-la.

Saiu do carro e olhou para a loja de CD’s. Virou a cabeça e viu o parque. Deu uma rápida olhada pelo local e logo viu uma garota sentada num banco, com a cabeça encostada nas mãos, que usavam o joelho de apoio. Ele não pode conter a dor ao vê-la. Muito menos a felicidade em vê-la. Andou até lá e parou na sua frente.
- Hey, . - colocou uma mão sobre seu ombro. Ela levantou a cabeça, olhando fundo em seus olhos. - O que foi que acon... - Não pôde terminar a frase. Ela já tinha se levantado e lhe abraçado com força, como se ele fosse a sua única segurança no momento. E era exatamente como ela estava se sentindo. Ele olhou o topo da cabeça dela e devolveu o abraço, ouvindo os soluços dela.
- ... - ela sussurrou, tendo o som abafado pelas fungadas e aquele conhecido nó na garganta.
- Hey, hey, hey. - ele chamou-a, passando a mão pelos cabelos dela e beijando o topo da cabeça dela, carinhosamente. Parecia que todos os outros estavam completamente fora daquela situação. Ninguém percebia os dois. Menos uma pessoa.
- Eu não... não deveria... - ela começou, suspirando e fazendo uma careta. Ele olhou-a e guiou a menina até o banco novamente. Os dois sentaram-se e ele continuou apenas ouvindo o choro dela. Queria acabar o que fez aquilo com ela. Ou quem. Continuou a afagar os cabelos dela, fazendo-a se sentir mais calma. Só por uma questão de tempo.
- AH, FOI ÓTIMO SABER DISSO. - ouviram alguém exclamar perto deles. Era Matt. - SABE! Eu até tentei reverter a situação. Não consegui nada, mas vim aqui para lhe mostrar algum apoio, sabe? - ele gritou, com o rosto vermelho. olhava-o com uma expressão triste enquanto estava atento. - Mas eu já vi que você já conseguiu um OUTRO apoio não é, ? - ele disse. Ela sentiu as lágrimas voltarem, mas segurou. - EU ACHEI QUE EU SIGNIFICAVA ALGO PARA VOCÊ! Você me beijou DE VOLTA!- urrou, na frente dela. sentiu seu pulso fechar num súbito, mas se repreendeu. Provavelmente não fosse gostar do que ele estava realmente querendo fazer naquele momento.
- Mas, Matt... - ela começou, com uma voz esganiçada.
- MAS NADA! - interrompeu-a. - É bom que você vá embora mesmo. Eu achei que você tivesse um pingo de decência, mas eu estava muito enganado, não é? - exclamou. Ela sentiu as lágrimas de novo e suspirou, indicando que iria começar a chorar novamente.
- OLHA AQUI, PIRRALHO! - chamou sua atenção, levantando e ficando claramente mais alto que ele, impondo certa moral. Tinha se enchido daquela situação. - Ou você vai naquela direção... - apontou para a saída do parque. - Ou você vai ver a direção que a minha mão vai na sua cara. - falou, sem um pingo de educação na voz. Estava fulo da vida! Aquele idiota tinha xingado . De uma coisa que ela não era! Ah, se ele não saísse de sua frente em quatro segundos...
- Tá. Só mais uma coisa... - disse, com certo medo e olhando de volta para . Um. - Nunca mais... - começou, apontando um dedo para ela. Dois. - Nunca mais fale comigo ou com nenhum de meus irmãos. Eles vão esquecer assim, olha - estalou os dedos. Três. - Que você existe. - terminou, olhando com mágoa e raiva para a menina, que apenas sentia as lágrimas escorrerem. Quatro.
pisou o pé forte na direção de Matt, que tomou um susto e saiu correndo. Podia estar magoado, mas não era idiota de levar um soco na cara de graça.
- Panaca. - murmurou, sentando-se novamente ao lado e , envolvendo-a em seus braços.
- Ele está certo, . - ela disse, entre suspiros. - Eu... eu sou uma completa... Argh!
- Nem ouse terminar essa frase. - disse, pegando o queixo dela e olhando em seus olhos. Nada, nada do que ela pudesse dizer mal a respeito dela poderia ser verdade. - Ele é um idiota que não deveria ter dito aquelas mentiras...
- Verdades. - ela interrompeu, corrigindo-o.
- Eu disse mentiras. - afirmou. - Ele não deveria ter dito aquelas mentiras para você. Nada pode justificar aquilo, certo? - ele disse, dando um beijo na testa dela e vendo-a se acalmar e sorrir de leve. - Porque eu sei que, mesmo não sabendo de nada, você não tem culpa na história. - observou, sorrindo.
- Como você... sabe? - ela perguntou. Ele apenas riu, misterioso.
- Aquele Matt... - parou um tempinho. - Não é esse o nome dele? - perguntou. Ela acenou a cabeça em afirmação. - Ele apenas está machucado porque gosta de você e você não gosta dele do mesmo jeito. - ele disse, dando de ombros. arqueou uma sobrancelha. Como ele poderia saber tanto? - Eu não culpo o cara. Se eu gostasse de você e você não gostasse de mim do mesmo jeito, também ficaria magoado. Enlouqueceria, digo mais. - riu, divertido. Ela deu uma tapinha de leve nele.
- Bobo. - murmurou. Ele viu que estava funcionando. Estava conseguindo fazê-la esquecer aos poucos e se acalmar, apesar de ainda estar com a bochecha e a ponta do nariz vermelhos. O que apenas a deixava ainda mais encantadora.
- Mas então... O que aconteceu? - indagou, sentindo ela se afastar e se virar de frente para ele, com as pernas cruzadas em cima do banco. E, então, em questão de segundos, contou a história toda para ele, incluindo alguns fatos de como Matt olhava para ela às vezes, mas ela nunca percebia nada. parecia meio em dúvida. - Que mulher radical. - disse. afirmou com a cabeça, mordendo os lábios. - E VOCÊ O BEIJOU DE VOLTA? COITADO, . - exclamou, rindo. Ela deu uma outra tapa nele. Dessa vez, nem tão de leve assim.
- Pô, . Corta essa. - ela disse, rindo. Olhou para os lados e pensou em como aquele rapaz conseguiu reverter a situação dela em tão pouco tempo. Era realmente alguém especial. - Enfim, eu não sei o que fazer agora. - ela observou, chateada. Não tinha para onde ir. Até que a empresa arranjasse outra casa, seria um tempão. Era oficialmente uma sem-teto em Londres. Legal!
- Você pode ficar lá em casa. - ele ofereceu, sorrindo. - Quero dizer. Eu moro num flat de dois quartos e o outro tá vazio, saca? Você poderia ficar lá por enquanto. - ele falou, olhando para ela. pensou um pouco e soltou uma risada abafada. - Além do mais, eu nunca tenho companhia, por isso vivo na casa do ou do . Se você for para lá, eu posso não mais ir para a casa deles. E, consequentemente, não vou mais ouvir reclamações de como eles não podem ter as relações deles com as namoradas enquanto eu estou lá. - disse, divertido. teve uma crise de riso.
- Doido. - ela falou, rindo dele e rolando os olhos. Ele se levantou e ofereceu uma mão para ela. A menina pegou na mão dele e foi levantada. passou o braço pelo ombro dela e foi guiando-a até o carro.
- Vamos fazer o seguinte. - ele falou.
- Diga. - disse, divertida e abraçando-o na cintura.
- Você vai hoje lá para casa e fica lá. Dorme com umas roupas minhas, visto que não rola dormir de jeans. - falou, vendo-a sorrir. - E, amanhã de manhã, eu passo lá na casa da sua família e pego suas coisas, certo? Para você não ir e evitar certos desentendimentos. - chegaram até o carro e ele abriu a porta para ela. - E, depois, a gente resolve o resto. - ele disse. A menina sorriu, afirmando com a cabeça, e deu um beijo na bochecha dele, entrando no carro logo depois. Ele passou para o outro lado e entrou, sentando-se no banco do motorista. Ligou o carro.
- . - ela chamou. O virou o rosto para ela, com um sorriso nos lábios. Não pôde evitar e sorriu também. - Só por termos de conhecimento seus. - ela começou.
- Hm... - murmurou, olhando sem entender para ela e saindo com o carro.
- Sobre seus amigos e os relacionamentos sexuais deles. - ela começou, vendo-o sorrir, olhando para frente. - Informação totalmente dispensável. - observou. olhou para rapidamente e sorriu. Afirmou, vendo-a rir. Ligou o rádio e ouviu Don’t Stop Me Now. Mas não era a versão de Queen. Era a deles. estranhou, vendo-o rir misteriosamente mais uma vez. Entendeu e começou a cantar, feliz, sendo seguida por ele. estava orgulhoso de si mesmo. Tinha feito ela se sentir melhor. O que, estranhamente, o fez feliz também. Estava seguindo em direção ao apartamento dele e pensou. Ele era um cara famoso, bonito e que sabia falar com as mulheres. Tinha sempre aqueles encontros de apenas uma noite. Como será que ela iria lidar com isso? Ele olhou-a de novo e a viu sorrindo, batucando o ritmo nas pernas e cantando a música. Mordeu o lábio inferior, sorrindo. Em um instante, nada mais daquilo lhe importava. Ele apenas ficava satisfeito em saber que tinha como protegê-la, como mantê-la longe de todo o mal que poderiam causar-lhe. Ele apenas ficava feliz em saber que ela iria estar próxima dele.



Parte IV



abriu os olhos lentamente, deixando-os se acostumarem com a luz que entrava no quarto em que estava. Olhou ao redor e viu um quarto simples. Apenas um armário ao lado da cama, uma bancada na outra parede e, de frente para o armário, a porta. Em outra parede, a porta de um banheiro daquela suíte. Suspirou e levantou-se, cansada. Foi até o enorme banheiro, chique e espaçoso e viu a roupa que vestia. Uma camiseta de Dashboard Confessional que ficava na metade da sua coxa e uma samba-canção branca com desenhos verdes. Sorriu, lavou seu rosto e escovou os dentes. Ouviu um barulho de chave abrindo a porta e saiu, indo até a sala. E encontrou com um um pouco machucado e sorrindo.
- Bom dia. - ele falou, pegando as malas da garota e deixando do lado dela, beijando sua testa logo em seguida. Ela estranhou.
- Bom dia, . - respondeu, arqueando uma sobrancelha e indo atrás dele, até a cozinha. - Eu acho. - viu ele sorrir, pegando uma bolsa de gelo no congelador e colocando embaixo de seu olho, numa mancha avermelhada. - O que foi isso?
- Seu “irmão”. - ele falou, fazendo careta. Ela riu. - Vamos apenas dizer que ele sabe a força que tem. - se dirigiu à sala para se sentar, cansado. Ela deu um sorrisinho. Puxou ele até o sofá e o sentou lá.
- Hey, . Onde tem uma caixa de primeiros-socorros? - ela perguntou, sorrindo gentilmente. Ele fez que não com a cabeça.
- Não precisa, cara. Só um gelo está ótimo. - ele afirmou, tentando se levantar, mas ela o puxou de volta e levantou as duas sobrancelhas.
- Olha. A gente pode ficar aqui o dia inteiro. O que você prefere? - perguntou, sorrindo. Ele havia dito isso no dia anterior para a garota. Os dois não eram tão diferentes como achavam que fosse. Ele soltou uma risada.
- Espertinha você, não?
- Aprendi com o melhor. - ela fez charme, dando de ombros. Ele riu.
- Entra no meu quarto, daí vai ter uma gaveta trancada. A chave vai estar no bolso do um smoking, no armário. - ele falou. Ele se levantou, ainda conseguindo ouvir a sua voz. Entrou no quarto e logo achou a chave. Abriu a gaveta, que estava cheia de coisas e de caixas pequenas. - NÃO ABRA NENHUMA DESSAS CAIXAS. - ele gritou. - Apenas pegue a branca com uma cruz vermelha. - falou. assentiu, mesmo sabendo que ele não podia ver. Pegou a caixinha, trancou a gaveta e guardou a chave no lugar de antes.
- Que tipo de idiota... - ela falou, chegando perto dele e se sentando ao seu lado, abrindo a caixa. - guarda uma caixa de primeiros-socorros dentro de uma gaveta trancada? - perguntou, fazendo uma cara de idiota e colocando um spray num algodão.
- O meu tipo de idiota. - respondeu, simples, fazendo-a rir de leve. Passou o algodão gentilmente no machucado, ouvindo-o reclamar. - Ai. Isso arde.
- Cala a boca, . - disse, firme. Estava tão concentrada que nem reparou quando chegou ainda mais perto dele. Mas ele reparou. Pôde diferenciar cada traço no rosto dela, cada pequena imperfeição que ele tanto gostava. Ela colocava a língua para fora, focada. Ele sorriu e mordeu os lábios. Ela voltou para guardar as coisas na caixa.
- Mais algum machucado? - ela perguntou, rolando os olhos. Ele fez uma careta.
- Sabe de uma coisa? Meu pulso tá doendo um pouco de quando ele me agarrou e me jogou no chão. - ele mentiu. Nada daquilo havia acontecido. O que aconteceu, na verdade, foi que quando chegou lá, pedindo pelas coisas dela, Matt atendeu a porta. Ele deu um soco em , que apenas deu um de volta, fazendo o garoto cambalear e seu nariz sangrar um pouco. Os dois se encararam um pouco e teve de falar umas “palavras de incentivo” para ele finalmente ir buscar a mala.
Ele estava mentindo porque gostava de quando ela cuidava dele.
- Nesse pulso? - ela perguntou, pegando o braço esquerdo de e ouvindo-o chiar um pouco.
- E no braço também. Eu aposto que daqui a alguns dias vai ficar roxo. - acrescentou, num tom pensativo. Ela rolou os olhos e pegou um gel de dentro da caixa. Passou um pouco no pulso e no braço, fazendo uma massagem. Ele sorriu e jogou a cabeça no encosto do sofá, fechando os olhos. Ela foi acariciando o braço dele de leve e estava concentrada beliscar de leve a pele dele, espalhando o gel e soprando de leve, com extremo cuidado e zelo. Olhou e soltou um suspiro.
- E agora, ? - perguntou, dócil e alisando o braço dele, tão de leve que ele mal podia sentir.
- Bem melhor. - ele respondeu, voltado a si e olhando-a, com um sorriso quase angelical nos lábios. Ela deu seu melhor sorriso. E também uma tapa no braço dele. - Ai, porque isso?! - ele exclamou, passando a mão pelo local.
- Mentiroso. - ela falou, por entre os dentes, quase rindo. Ele deu um sorriso de lado, malicioso, fazendo-a rir. - Não deve ter sido nada disso. - observou, se levantando e colocando a caixa em um armário, embaixo da pia da cozinha.
- Porque você diz isso? - ele perguntou, levantando-se e pegando a mala dela, para colocar no quarto da garota. Ela apenas deu um sorrisinho.
- Porque, sim. - ela disse, dando de ombros e olhando a cama toda desarrumada. - É o sexto sentido feminino. - olhou para ele e sorriu.
- Eu sempre tive medo dessas coisas. - afirmou, colocando a mala na bancada e se virando para ela, encostando-se na madeira. riu e girou os olhos. - Quer ajuda para desempacotar as coisas? - perguntou, vendo-a abrir o cadeado da mala e depois um compartimento.
- Não precisa. - respondeu, sorrindo. Ficou olhando algo dentro e um silêncio ficou no ar. Ela pensava nas coisas que tinha que fazer, tal como ligar para a agência e falar com a sua supervisora de viagem. Tinha um problema enorme para resolver e achava que seria difícil ficar um tempo com ele, na verdade. Ele apenas queria que esse tempo se prolongasse. - Você ainda tá fazendo o quê aqui?
- Erm, como assim? - ele estranhou, encarando-a.
- Saaaaai, eu vou trocar de roupa. - ela fez, empurrando com as duas mãos para a direção da porta. Rapidamente, ele pegou as duas mãos dela, se virou e as pôs em sua própria nuca, deixando-o tão perto da garota que as respirações se misturavam. Passou as mãos pela cintura dela e sorriu de leve.
- Eu não posso ficar, então? - indagou, com um tom malicioso na voz e mordendo o lábio inferior, deixando com uma aparência irresistível. Ela apenas retribuiu o sorriso. Da mesma forma.
- Claro... - respondeu, aproximando ainda mais os lábios e falando perto da boca dele, que já havia fechado os olhos, apenas sentindo a proximidade entre os corpos e os rostos. Ela passou suas mãos gentilmente pela bochecha dele e pelo seu pescoço, sentindo-o de uma forma tão extrema que ela se assustaria se não estivesse fora de si naquele momento. Deixou-as descansarem no peito do rapaz. - que não! - falou, rapidamente, empurrando ele para a porta. acordou do transe temporário, com uma cara de total descrença e frustração. Ela apenas riu, rolando os olhos, e fechou a porta na cara dele. Ele esfregou as mãos na cara, achando que aquilo foi algo essencialmente físico e que essa era a única atração que sentia por ela. Coitado.

- Hey. - ela falou, chegando à cozinha e vendo ele com um cardápio e um telefone na mão, provavelmente decidindo algo, pela forma em que sua testa se franzia. Olhou para ela.
- Hey. - voltou sua atenção para o pedaço de papel vermelho, com letras brancas. chegou mais perto e sentou-se do lado dele, olhando para . - Vai querer almoçar o quê? - ele perguntou, virando-se para ela e deixando os olhares se encontrarem. Ambos sorriram.
- Ah, você vai pedir? - ela gemeu, fazendo uma careta.
- Alguma outra idéia, gênio? - ele perguntou, deixando as coisas de lado e encostando-se na cadeira e cruzando os braços.
- Bom, eu sei cozinhar. - afirmou, dando de ombros. Ele voltou-se rapidamente.
- Sério? - perguntou. Ela afirmou com a cabeça.
- Você tem alguma coisa nessa cozinha? Tipo, comida de verdade? - perguntou, olhando em volta. Ele riu.
- Nope. - respondeu. Deu a língua e tentou pensar em outra alternativa. - Bom, a gente pode ir num mercado e compra alguma coisa que você saiba fazer. - disse, fazendo-a concordar. Pegou a chave do carro e eles foram até um estabelecimento ali perto e organizado. Ela pegou um carrinho e ele, outro. Enquanto a menina pegava carne, arroz e macarrão, o rapaz pegava doces, biscoitos, chocolates. Às vezes apostavam corrida, se divertindo, ou inventavam uma outra brincadeira, fazendo todos olharem para eles. No final, quando estavam passando pelo caixa, deu uma boa olhada nos dois carros. Deu uma gargalhada. No dela, parecia que sua mãe estava fazendo compras. O dele, parecia seu irmão de cinco anos. Ele pagou tudo, fazendo cara feia para ela por ter reclamado das besteiras que ele havia comprado. Ela fez cara de anjo. Chegaram no flat e ela foi logo começando a preparar um prato. Um tipicamente inglês, como sua mãe de lá havia ensinado. Às vezes atrapalhava, nada que alguns tapas não resolvem. Quando ela finalmente acabou e colocou no prato, ele se sentou à mesa, parecendo uma criança. Ela sorriu e pôs o prato em sua frente.
- Voilá! - sorriu, sentando-se ao lado dele e se preparando para comer enquanto ele dava a sua primeira mordida. Mastigou um pouco, enquanto ela parecia ansiosa. Pareceu pensar e, então, olhou para ela.
- Meu deus. - exclamou. - Casa comigo?
deu uma risada, indo comer também.
- Olha que eu aceito, hein? - respondeu, colocando a comida na boca e pensando que realmente estava bom. Ele olhou-a em súbito, de novo.
- Por favor! - disse, rindo e sendo seguido por ela. Depois, um silêncio desconfortável pairou pelo ar. O único som que se podia ouvir era o de talheres batendo em porcelana. Logo começaram um papo divertido sobre algo para fazer, esquecendo toda aquela situação desconcertante. Quando terminaram, foram guardar aquilo na pia e lavar, revezando-se.
- Nossa, tava bom mesmo. - ela disse, caindo no sofá-cama com a mão na barriga. Tinha comido por duas pessoas. Ele acompanhou-a, soltando um gemido de dor misturado com prazer quando se sentiu afundar na mobília.
- É... - murmurou sentindo suas pálpebras fecharem de leve e descansando, rapidamente. Estavam os dois exaustos. Mal tiveram tempo de manter um diálogo que não fosse monossilábico.

acordou com um toque de telefone. Mexeu-se na cama, resmungando, e abraçou o travesseiro, pensando que podia fazer aquele som insuportável parar. Tocou novamente. Tirou o lençol de cima dela, irritada, e se levantou. Viu que estava em seu próprio quarto e estranhou. A última coisa de que se lembrava era de se jogar no sofá. Corou ao pensar que talvez ele tivesse a carregado para lá. Tocou de novo. Foi até a sala, batendo os pés, e arrancou o telefone da base.
- Alô. Residência de um . - disse, cínica. Sempre que acordava quando não queria, era extremamente irônica e cínica. Irritava quem quer que estivesse ao seu redor. Por isso, todos tinham um medo tão grande de acordá-la.
- Hey, dude? - ouviu uma voz masculina perguntar. Corou novamente.
- Quer falar com o ? - ela perguntou, coçando a cabeça e olhando em volta.
- Erm, por favor. - o homem disse. Parecia desconcertado. Quando ela ia responder que achava que ele estaria dormindo, ouviu alguém andar atrás dela. Virou-se e encarou o rapaz. Ele estava com o cabelo todo desgrenhado e tinha os olhos quase fechados. Vestia apenas uma samba-canção amarela do Bob Esponja e coçava a cabeça, com uma mão estendida para ela. corou pela terceira vez, mordendo os lábios e entregando o telefone para ele. Viu sentar na poltrona e começar a conversar com quem quer que estivesse na linha. Ela foi até seu quarto, trancou rapidamente, continuando a segurar a chave, sem querer. Jogou ela em qualquer lugar da bancada e se dirigiu ao banheiro, indo tomar um banho. Estava nervosa. Nervosa pelo pensamento que havia passado por sua cabeça. Nervosa pela vontade que estava desejando. Nervosa pelo que estava sentindo.



Parte V



Estava passeando pelo parque, naquele mesmo dia. Sentiu seu celular vibrar e rezou para que não fosse ele. Depois do banho, apenas se trocou e correu para fora, sem nem falar com ele. E estava andando pela rua desde então. Olhou no visor e viu que o número que lhe chamava era de sua agência. Suspirou e atendeu, sem falar nada.
- Alô? - ouviu uma voz pouco conhecida. - ?
- Sim? - respondeu, olhando em volta e sentando-se perto de um lago, arrancando um pouco da grama e jogando em sua frente, para depois começar a arrancar de novo. Formou um ciclo de atividades repetitivas que ela realmente esperava que fosse sua única preocupação.
- Ufa, finalmente consegui localizar você. - confessou a pessoa do outro lado da linha. - Aqui é a Carrie, lembra de mim?
- Sim, claro. Você me apresentou minha família daqui. - respondeu, calmamente.
- Sim, sim... Olha, ela já me ligou e me avisou de tudo... - disse. teve vontade de completar a frase, afirmando que não tinha culpa. Mas, àquele ponto, não mais fazia diferença. Para ninguém. Apenas ouviu mais atentamente. - Eu tenho más notícias. - observou. A menina olhou para os lados, suspirou e pensou. Mais uma? - Mas, antes disso, eu queria saber onde você está hospedada por enquanto.
- Ah, certo. - pensou em mudar de assunto, mas, de um jeito ou de outro, ela descobriria. - Na casa de um amigo.
- Certo, certo... - murmurou, curiosa. - Você sabe das regras, não é? Essa sua viagem não é uma viagem de lazer, . Você está aqui para estudar e para se relacionar com pessoas da Inglaterra. Você não pode...
- Ele é inglês. - interrompeu-a, sem se importar.
- Oh, sim. - agora, a mulher havia ficado ainda mais curiosa. - Ele? Oh, apenas deixe para lá. Tenho que lhe contar. As más notícias são que não há famílias à procura de intercambistas ou estrangeiros. Nenhuma. - respondeu, firme. A garota suspirou novamente. - E, bom, eu teria que arranjar um jeito para alojar você em alguma casa e...
- Mas, Carrie. - chamou. - Eu estou em uma casa. - afirmou, olhando ao seu redor. Agora, ela ficava assim toda vez que uma alusão a ele era mencionada. Não sabia por que, mas ficava... aérea. Perdida nos seus próprios pensamentos, como se eles tomassem conta do corpo todo e de todos os sentidos. Quando pensava nele, não conseguia ouvir mais nada; não conseguia enxergar nada além dele; não conseguia sentir algo que não fosse ele; nem sentir um cheiro que não fosse o dele. Não tinha o costume de resistir a esse tipo de coisa, mas realmente não queria que seu quinto sentido fosse posto à prova.
- ... - advertiu.
- Sério. - respondeu. - Você mesma acabou de falar que não há lugar para eu ficar. Eu estou em um flat de ótimas condições; se você quiser, te dou o endereço depois. E esse meu amigo... - parou um tempo. Como poderia descrever? - Ele... ele sabe cuidar de mim. - falou, num tom tão diferente de si mesma que chegou a estranhar. Seu coração parecia ter diminuído a uma insignificância. - Você não tem saída.
- Bom... Você está certa. - admitiu, com um pouco do orgulho ferido na voz. - Mas é só por essa vez, hein? Quando eu conseguir uma família, você sai daí rápido e vai se hospedar lá, certo? - perguntou.
- Vamos ver... - murmurou.
- Como?
- Eu perguntei se você quer o endereço. - disfarçou, se levantado do gramado e dando uns tapas na parte de trás de sua calça, tirando qualquer vestígio de grama e terra. A mulher do outro lado da linha afirmou e a menina lhe informou o endereço. Desligaram logo depois. continuou a andar e passou em frente a uma loja de sorvetes que, a essa época do ano, não vendia nada. Ninguém compra sorvetes no inverno. Sorriu e foi até lá, pedindo uma super casquinha com quatro bolas. Por algum motivo, sua fome havia sido afetada pela conversa. Ficara feliz, pois parecia ter feito o dia do vendedor; antes, ele estava limpando qualquer sujeira inexistente no balcão que parecia mais brilhante do que diamante. Satisfeita, pagou e foi divagando pelas ruas, parando para ver algum artista de rua ou em bancas de jornais, para ler revistas. Iria fazer uma horinha antes de voltar para o flat. Sabia que não devia explicações a ninguém, mas era realmente isso que a assustava. Ninguém lhe fazendo perguntas ou questionários. Antes, era bom saber que alguém se importava. Agora, parecia ninguém ligava. Nem ele.

Abriu a porta do apartamento daquele andar e ficou feliz em saber que não havia ninguém lá. Mais aliviada, na verdade. Entrou, carregando uma sacola plástica, e foi até seu quarto, jogando-a na cama. Deu uma olhada ao seu redor. Não queria ficar parada. Ele provavelmente teria algo relacionado com a banda, o que implicaria qualquer tipo de relações com um ser do outro sexo - que ela definitivamente não queria pensar. Coçou a nuca e desceu até a rua, novamente. Alugou um filme M. Night que queria ver há eras e um meloso e fácil de chorar, que a faria dormir com mais facilidade. Quando chegou no apartamento, teve um susto. No sofá, estava sentada uma mulher muito bonita. E, o que era pior, não parecia ser atirada. Na verdade, parecia ser alguém simpático e inteligente. Ela sorriu e foi retribuída, com um olhar duvidoso.
- Você é... - perguntou a moça, se levantando. Ela deixou a sacola com os filmes na cozinha.
- . - respondeu, apertando as mãos dela e sorrindo. Percebeu que a dúvida permaneceu e viu que tinha dado a resposta errada. - Sou uma amiga do . Estou hospedada por pouco tempo aqui, no quarto de hóspedes. - disse e viu que essa resposta havia sido satisfatória. - E você é...
- Lisa. - respondeu. - A namorada do . - sentiu uma pontada no seu estômago enquanto a ouvia proferir essas palavras. Achou que fosse apenas o sorvete que havia comido e não se importou. Ouviram alguém assobiar e olharam para o lado, vendo vestido com calças jeans com o zíper aberto, deixando sua samba-canção à mostra, e com uma toalha enrolada no pescoço, usando a mesma para secar o cabelo. Quando viu as duas, ficou um pouco surpreso.
- Ah, vocês... Uh, se conheceram. - balbuciou, com um tom de preocupação na voz.
- Sim. - Lisa respondeu, sorrindo e indo até ele, dando um beijo estalado. desviou o olhar e foi até a cozinha, vendo algumas coisas na sacola. Logo eles já estavam na cozinha, para pegar um copo d’água para a mulher. pediu licença, sorrindo de lado, e saiu em direção ao seu quarto. Foi segurada por uma mão, que logo a puxou.
- Sim, ? - perguntou. Não queria ter a obrigação de olhar nos olhos deles, o que a proximidade e a posição causavam. Estava sendo curta e grossa. Não porque queria, mas porque precisava.
- Ela.. Erm, a gente... - ele começou, tentando achar algumas palavras. sorriu.
- Você não deve nada a mim, . - respondeu, soltando-se de um jeito sutil. Ajeitou o cabelo atrás da orelha. - Se você quiser, eu posso ir dormir na casa de uma amiga. Sem problemas. - tentava parecer o mais casual possível e estava conseguindo. Tinha grande facilidade para mentir e disfarçar, fazendo com que outros não pudessem vê-la por dentro.
- Não, eu nunca... Eu não... É que... - ele parecia perdido. Totalmente perdido.
- Olha. Eu vou ligar agora para uma amiga minha, certo? - ela falou, indo até o quarto, sendo seguida por ele. - Eu arrumo minhas coisas e...
- ! - chamou. Ela se assustou. - Eu nunca pediria para você dormir fora. - ele disse, como se fosse óbvio. - Eu vou, erm... dormir na casa dela. - murmurou essas palavras, quase inaudíveis. Aquela dorzinha, a familiar dorzinha, havia voltado. Ignorou-a novamente e sorriu para ele.
- Ah, beleza. - virou-se e fingiu ver algo na mala. Qualquer coisa distante dos olhos dele. - Então o que você ainda faz aqui? - brincou. Ele arqueou uma sobrancelha. - Vá logo, cara. Sair com sua namorada. - o empurrou para fora do quarto, rindo.
- A minha...
- Tchau, . - interrompeu-o, rindo. Fechou a porta e ficou um tempo encarando-a. Fechou os olhos com o máximo de força. Ouviu um som de porta batendo e sabia que era a da sala. Bateu as costas com força na porta de seu quarto e escorregou, com as mãos na cabeça. Respirou com força e coçou a cabeça com ainda mais força, sabendo que ficaria vermelho eventualmente. Pegou as duas sacolas. Uma com os filmes e a outra com uma revista que havia comprado. Foi até a sala e se sentou em frente à tevê, ligando-a logo em seguida. Folheou a revista, pensando em se distrair de seus próprios pensamentos. Quem sabe fugir para um lugar mais seguro. Foi quando viu ele, numa foto que ocupava toda a página. Uma entrevista. Só dele. Bufou e colocou a revista de lado, irritando-se. Quanto mais fugia, mais ele parecia chegar perto. Levantou-se e foi para a cozinha, preparando uma pipoca e pegando um sorvete. Voltou à sala, colocou o filme e se esparramou no sofá. Sorriu satisfeita. Estava extremamente confortável e não sairia dali por nada no mundo. Ouviu um apito e percebeu que era o microondas. Porcaria, não consigo parar por um segundo. Sentou-se, pronta, e começou a ver aquele filme, se distraindo um pouco para variar.

Quando estava mais ou menos em vinte minutos de filme, ouviu uma chave ser passada na porta. Estranhou. Eles provavelmente haviam esquecido alguma coisa. Continuou a assistir o filme, sem nem piscar os olhos. Ouviu a porta sendo aberta e fechada. Tentou concentrar-se em Bruce Willis. Quando sentiu o lugar ao deu lado afundar, desistiu. Ele estava realmente dificultando tudo. Pausou o filme e olhou para o lado. E lá estava , ainda olhando para a tela.
- Tá. O que você tá fazendo aqui? - ela perguntou, estranhando. Ele continuou a olhar a tela, distraído. - ? - estalou os dedos na frente dele, fazendo-o ter um susto leve. Sorriu para ela.
- Ah, acho que não deu muito certo. - ele falou, coçando a nuca. Parecia um tanto... envergonhado? Não, era só impressão. - O jantar foi uma porcaria. - fez uma careta e ela riu.
- Por quê? - perguntou, virando-se para ele e cruzando as pernas, sentando-se nelas.
- Não sei. Ela não é quem eu pensei que fosse. - confessou, dando língua. - Além do mais, QUEM DIABOS É GALLIANO? - gritou, consternado. Ela riu novamente. - Olha, se eu realmente gostasse dela, eu teria ficado com terríveis ciúmes desse cara. - Ela riu mais ainda, mais pelo fato da confissão dele do que pelo comentário.
- Ele é um estilista, . - falou, simples.
- Ah, ótimo. Eu passei meus últimos vinte minutos ouvindo falar sobre um viado? - reclamou, ainda irritado. Ela se divertia mais ainda. - Ótimo. Só o mesmo, para fazer algo assim comigo. - disse, cruzando os braços e parecendo uma criança. Agora a menina dava gargalhadas, fazendo-o sorri de leve. - E porque você disse que ela era minha namorada?
- Oras. Ela que me falou. - deu de ombros, pegando o balde de pipoca ao seu lado e direcionando a ele. - Pipoca? - perguntou, enquanto pegava uma mão inteira. Ele riu e pegou um pouco.
- Você vê o que acontece? - começou, colocando as pipocas na boca. - Eu prefiro uma garota que não finja ser quem não é do que uma pseudointelectual. - confessou, embolando as palavras por falar de boca cheia. - Ela nunca foi minha namorada! - exclamou, deixando a mostra toda a pipoca mastigada em sua boca. Ela fez cara de nojo.
- , não se fala de boca cheia! - reclamou, com as mãos na cintura. - Você sabe que isso é falta de educação.
- Nossa, para que eu preciso da minha mãe se eu tenho você? - ironizou, com as sobrancelhas levantadas. Ela cerrou os olhos em sua direção. sorriu largo e pegou mais pipocas, parecendo feliz. rolou os olhos.
- Afinal, como você saiu tão cedo? - perguntou. Ele sorriu maroto.
- Minha mãe estava passando mal, . Tive que socorrê-la. - fingiu, com uma cara dramática e expressões grotescas. Daria um péssimo ator, mas como era uma simulação, deixou para criticá-lo depois. olhou para a imagem parada na tevê.
- Nossa. Essa é clássica. - ela respondeu, pensando em quantas vezes seus próprios amigos já haviam utilizado dessa desculpa para poder sair no meio de um encontro. Especialmente um arranjado. Ele concordou, sorrindo. - Mas, bom, você poderia estar fazendo outra coisa com ela agora. - deu de ombros, olhando para ele, que virou o rosto novamente para ela e sorriu.
- Prefiro ter um papo-cabeça com você. - piscou, pegando mais pipocas. Por mais que ela estranhasse aquilo, ficou feliz com a resposta dele. Radiante. Sorriu, disfarçando. Ele perguntou sobre o filme e ela começou a explicar. Resolveu voltar até o começo, para ele poder assistir e entender o filme. Divertiram-se, com ele sempre fazendo piadinhas, o que impossibilitou a menina de ver o filme. Em certo ponto, parou e o ameaçou, fazendo-o calar a boca. Isso por só cinco minutos. Desistiu e deu um soco no braço dele. Qualquer pessoa que visse aquela cena de fora, perceberia de imediato a simetria e sincronia dos dois. A felicidade enquanto brincavam entre si. A conexão que vinha dos dois, que apenas se conheciam há uns meses. A amizade que compartilhavam. Mas, esse último, já havia tomado outra forma. O que faltava agora era eles descobrirem o que os corações já sabiam há muito tempo.



Parte VI



havia acabado de voltar de sua nova escola. Não era tão nova assim, já que estava lá faziam mais ou menos dois meses. E, tinha se dado bem melhor nessa outra instituição. Nota mental: agradecer ao Matt por ser tão otário. Adentrou a cozinha e pôde ver um sonolento, segurando uma caneca com bastante café dentro. Provavelmente acabara de acordar. Ela lembrou que tinha algo a falar para ele, mas não queria falar agora. Ela mesma não havia gostado da notícia que havia recebido. Uma família se candidatou a aceitar e ela deveria ir para lá em um período de uma semana, no máximo.
- Ei. - ele chamou-a, pela milésima vez. Chacoalhou um pouco a cabeça e sorriu para o rapaz, colocando a bolsa no chão e sentando-se numa cadeira próxima.
- Bom dia. - ela falou, roubando a xícara dele e bebendo um gole. - Acordou agora? - perguntou, colocando a xícara de volta ao alcance dele e vendo sua cara de indignação.
- Mais ou menos. - disse. deu de ombros e foi para seu quarto. Tinha que começar a arrumar todas as suas coisas que estavam no armário de volta para a mala. Jogou-se na cama e decidiu pensar em outra coisa. Até as provas eram melhores do que todo o resto. Suspirou e sentiu uma pontada na cabeça. Talvez fosse melhor parar de pensar. Ao todo.

- Então uma das raízes da função vai ser... - ela estava falando sozinha, quando olhou no relógio. Seis e meia. Tinha marcado de encontrar um amigo seu para ir ao cinema. Às sete. Para variar, ela chegaria atrasada. Como sempre. Levantou-se e foi até o armário, ficando de costas para a porta. Olhou para trás e foi fechá-la, esquecendo-se de onde colocou a chave. Praguejou baixinho e voltou a ficar de frente para o armário.
- ... - falou, abrindo a porta devagarzinho. E então ele parou de falar. A menina estava tirando o short jeans, ficando apenas com uma calcinha e uma blusa. A estampa da calcinha da menina tinha um Garfield com um balãozinho, escrito algo provavelmente engraçado. Ele teria achado graça, se realmente estivesse em condições de fazê-lo. Ela tirou a blusa e o sutiã, deixando à mostra suas curvas, e ajeitou o cabelo preso, fazendo o rapaz ter uma visão ainda maior. Ele engoliu em seco. Estava totalmente estático, não conseguia se mover para sair dali. Ou pior. Não queria. A menina foi procurando uma roupa, jogando uma calça, uma blusa e um casaquinho na cama. Provavelmente o que vestiria. resolveu sair logo dali, antes que fosse visto. Fechou a porta, silenciosamente, e foi até seu quarto, com uma cara nada boa. Olhou para baixo e soltou um gemido. Precisaria de um banho frio. Muito frio.
terminou de colocar sua roupa, pegou o celular, dinheiro e ia saindo quando se deparou com na sala, de braços cruzados. Parecia ter acabado de tomar um banho e podia sentir o cheiro de sabonete que vinha dele. Sorriu.
- Hmm, vai sair é? - ele perguntou, tentando esquecer a cena. Estava bancando o paizão. Bem que servia nele. deu uma risada de leve.
- Vou sim, papai. - falou, e se dirigiu a porta, abrindo-a. Mas outra mão, que veio logo depois, fechou-a. Ela encarou o rapaz. - O que foi?
- Sério, . - ele disse, olhando para ela. Ela revidou o mesmo olhar. - Eu estou responsável por você agora. - afirmou, num tom sério e tão diferente dele que não teria reconhecido se não estivesse vendo.
- ... - estava tomando bastante cuidado ao escolher as palavras. - Você nunca me deu satisfações nenhuma. Nem eu a você. E esse esquema tem funcionado há algum tempo. Eu vou sair com um amigo meu, certo? Cinema. Agora se você me der licença... - pediu, abrindo a porta novamente. Ele a fechou de novo. A menina estava começando a se irritar.
- Me diga com quem você vai sair. - ele falou. Não fazia sentido algum ele estar perguntando isso. Nunca fora do tipo de querer saber essas coisas, nunca. Ele sempre perguntava para onde ela ia, mas só para ter uma noção. E avisava que, qualquer coisa, ela deveria ligar para ele. Só isso. E, agora, ele inventou mais essa. Não era da conta dele. bem que poderia falar, mas era teimosa demais e estava confusa demais para não fincar o pé.
- Não. É. Da. Sua. Conta. - disse, pausadamente. A pessoa que inventou o esquema de contar até dez mentalmente deveria ser uma espécie de Buda, porque aquilo realmente não funcionava com pessoas normais. E ela achava isso por experiência própria. - Nunca foi e nunca vai ser, tá legal? Com quem eu saio, honestamente, não lhe diz respeito.
- ... - ele falou, em tom de advertência.
- PÁRA COM ISSO, OK? QUE SACO. - ela gritou, zangando-se com ele sistematicamente. - Ora porcaria, eu vou sair e não vou lhe dizer com quem é. Porque, sinceramente, NÃO LHE INTERESSA. Além do mais, o que diabos você poderia fazer com essa informação, hein? NADA. SIMPLESMENTE NADA. ENTÃO PORQUE VOCÊ SE IMPORTA TANTO? - bufou e saiu porta afora. Ele fez uma expressão de dor, olhando para a porta fechada. chamou o elevador, com pressa. Esfregou as mãos no rosto, irritada. Suspirou e entrou no elevador, olhando-se no espelho. Esqueceu o acontecido e ajeitou o cabelo, descendo e se encontrando com Andy, seu melhor amigo. Ele deu um beijo na testa e passou o braço sobre o ombro dela. Começaram a conversar sobre qualquer outra coisa, fazendo-a se divertir e não ficar pensando sobre o outro.
- Porque eu me importo com você. - falou, lá de cima, olhando pela janela os dois caminhando juntos. Chacoalhou a cabeça. - Ai meu Deus, o quê eu tô falando? - andou em direção ao seu celular e procurou o número de qualquer uma de suas ex-namoradas. Tinha que arranjar um jeito de esquecê-la. Mesmo quebrando uma regra que os dois haviam feito.

Eram onze horas quando a menina abriu a porta. Entrou devagar, com medo de fazer algum barulho e acordar . Logo desistiu dessa idéia, quando ouviu uma risada fina e alta que vinha da sala. Olhou para lá e viu ele e uma loira, bebendo cerveja e falando alto demais. Assim como eles já deveriam estar. Altos. Ou pelo menos, só aquela mulher. franziu a testa, estranhando aquela presença na casa.
- . - o rapaz chamou-a. - Conheça...
- Britney. - aquela mulher falou, rindo logo depois. ia continuar a falar quando a menina o puxou para o corredor. Encarou os olhos dele.
- Quem é essa, ? - perguntou, tentando manter a calma na voz. Se fosse o que ela estava pensando, ele havia acabado de quebrar uma das regras dos dois. E isso, amiguinhos, não era nada legal.
- A Blondie. - ele falou, como se fosse óbvio.
- Britney. - corrigiu, bufando. - Mas você sabe que não foi isso que eu perguntei.
- Mas você perguntou quem...
- ... - advertiu ele, fechando os olhos.
- Uma ex-namorada minha. - ele disse, sorrindo vitoriosamente.
- E porque você não me avisou que ela vinha? - perguntou. Ele deu de ombros, ainda com aquele ridículo sorrisinho no rosto. A vontade que tinha era de socar o rosto tão bonitinho dele. Não importa o estrago que fizesse.
- Não sei. Qual é o problema dela ficar aqui?
- ... - ela gemeu. - A gente combinou, lembra? Que quando você trouxesse uma de suas piriguetes para cá... - falou, em tom de nojo. - você deveria me avisar, pôxa. Eu evito ter que ouvir gritos e presenciar cenas como ela vestindo uma blusa sua, enquanto toma café. - fez uma careta. Ele sorriu de lado.
- Eu ia avisar, mas você estava com seu namoradinho se divertindo. - ele falou, com uma expressão cínica. - Não queria atrapalhar sua relaçãozinha amorosa com uma coisa tão banal como sexo. - disse, por fim, cruzando os braços. Ela sentiu o sangue ferver de novo. Ele ia se arrepender de não avisar.
- ORA MERDA! CORTA ESSA, CARA. - ela bufou, irritada. - Nós concordamos que seria incômodo para os dois isso, lembra? E, pôxa, eu achava tão legal porque talvez você fosse o único cara do mundo que achasse que realmente devesse algo pra mim, entende? Eu achava isso fantástico. - ela dizia, mais desabafando do que reclamando. - Mas eu acabei de perceber que você é só mais um panaca. Não custava nada para você ter mandado uma mensagem para mim, avisando. Eu nem precisaria vir para cá de novo. Podia ficar na casa da namorada do meu amigo. - ela soltou, suspirando.
- Que ami...
- Justamente, . - ela disse, irritada. - Eu saí hoje com mais cinco pessoas. O meu “namoradinho” - falou, fazendo aspas no ar. E fazendo ele se arrepender. - A namorada dele, que é, por um acaso gigante do destino, minha melhor amiga, e mais três amigos meus. - observou, antes que se arrependesse. - Eu realmente achava que seria mais divertido ficar aqui, de uma forma meio independente, do que morar numa casa normal. Agora, eu mal posso esperar para sair daqui. - bufou e foi até seu quarto. Fechou a porta e procurou pela chave. Achou-a e trancou logo, irritada. Decidiu esquecer ele de vez. Prometeu uma vez que nunca se apaixonaria por um idiota. E era isso que acontecia. Colocou todas as roupas na mala, num acesso de raiva. E arrumou tudo. Na próxima merda que ele fizesse, sairia dali. Não esperava que ele fosse fazer uma tão cedo.


Ela acordou no outro dia, sentindo a cabeça pesar um pouco. Ficou um tempo na cama, para ver se aquela dor, que insistia em latejar na sua cabeça, passava. Quando nada aconteceu, resolveu ir tomar um banho. Na verdade, não queria, de certa forma, seu corpo limpo. Queria a cabeça limpa, purificada. Queria que aqueles pensamentos parassem, de uma vez por todas.

acordou, sentindo já uma pontada na cabeça. Viu os lençóis remexidos, algumas peças íntimas femininas no chão e sabia que tinha feito besteira. Quando levantou seu próprio lençol, teve essa certeza. Suspirou e levantou-se, pegando o lençol e cobrindo-se. Olhou em volta e sentiu-se um pouco tonto, por ter levantado rápido. Segurou-se no criado-mudo e fechou os olhos com força, chacoalhando a cabeça. Quando os abriu, viu a chave na fechadura e a gaveta aberta, com todos seus papéis espalhados. Logo, a raiva subiu à sua cabeça. E, ele sabia, só uma pessoa sabia onde ficava a chave. Respirou fundo, lavou o rosto e pôs uma roupa decente. Se ela queria, tinha simplesmente conseguido.
- ! - ele gritou, indo até o quarto dela. Foi andando rápido pelo corredor, furioso. Ela tinha mexido nas coisas dele. Se ele tinha feito uma besteirinha, ela tinha pisado na bola. Feio. - ! - bateu na porta do quarto dela com força e abriu. Não esperava por àquela imagem. Tinha ficado... Como é que dizem mesmo? Ah, sim! Sem fala.
- Meu deus, . - ela reclamou, passando a mão pelos cabelos molhados e espremendo-os na toalha. Tinha o ouvido reclamar e acabou saindo no meio do seu banho. - O que foi que aconteceu? - perguntou, vendo-o pigarrear e virar o olhar por um instante.
- Erm é que... Eu, ahm... - coçou a nuca e mordeu os lábios, tentando olhar para qualquer outro lugar que não fosse ela.
- Sim...
- Eu... - ele foi chegando mais perto, vendo ela se afastar e, eventualmente, atingir a parede atrás dela. Mordeu o lábio e chegou mais perto da garota. - Não lembro. - sussurrou, pouco antes de beijá-la. Estranhou no começo, mas, sem pensar direto, cedeu. Tinha sido a melhor coisa que já fizera. Senti-lo perto dela. Tão próximos que praticamente se fundiam em um só. A sensação que ambos sentiam era inexplicável. Estavam em um território em que já haviam estado antes, mas não era assim tão... intenso. Nunca tinha sido. Para nenhum dos dois. Ela passou a mão pela nuca dele e o segurou com muita força, como se nunca fosse o deixar ir embora. Ele apertou-a ainda mais ao corpo dele. Deixou sua mão passear pela cintura dela e chegar até o nó da toalha, ameaçando abri-lo. E era disso que tinha medo. De ser apenas mais uma que ele vai se divertir. Apenas mais uma que vai com ele para a cama na primeira vez. Talvez aquilo que ele tivesse feito tinha sido apenas hábito, mas ela não havia gostado. Quando finalmente percebeu, o afastou com força. Respirou com força, mordeu os lábios e passou a mão neles, olhando para o lado. Sabia que ele provavelmente não tinha entendido nada. E, bom, ela estava errada.
- ... - chamou. Ela percebeu que estava errada pelo tom de voz dele. sabia que tinha feito besteira, mas só não sabia bem porque foi empurrado. Por qual dos motivos.
- , é melhor você ir... - disse, ainda sem olhar para ele e colocando o cabelo para trás da orelha. Ele ainda ficou lá.
- .
- , POR FAVOR. - ela falou, finalmente olhando para ele. Tinha os olhos marejados e uma expressão nada boa. Ele suspirou, passou a mão pelos cabelos e saiu do quarto, fechando a porta atrás dele. Ela fungou um pouco e se sentou na cama, colocando a mão na cabeça. Não sabia o que faria em relação a ele. Iria sair dali sem dar nenhuma explicação a ele. Até porque, ela pensava, não devia nada a ele. Limpou as lágrimas e decidiu fazer, de fato, alguma coisa. Colocou a sua roupa, viu o quarto quase vazio, com exceção de uma blusa, um short e um ursinho de pelúcia. Colocou as roupas e ficou olhando para o ursinho. Tinha sido de quando ela, , , e tinham ido a uma feirinha tipicamente inglesa, para mostrar para como eram as coisas lá. Tinha uma máquina de pegar bichinhos e tinha ido para lá, convencido de que ia pegar. Depois da sétima tentativa, desistiu. pegou a única moeda que tinha sobrado e foi lá pegar. Conseguiu de primeira um gatinho e deu para ele, de presente. Isso o irritou tão profundamente que só saiu de lá quando conseguiu pegar um para ela. Os outros, incluindo , se divertiram pela feirinha e compraram coisas do tipo que você nunca precisa. Só no final ele apareceu, com a camisa de botões abertos e a de baixo arregaçada. E então entregou um ursinho azul claro para ela, que apenas rolou os olhos e agradeceu. Ela riu quando lembrou disso, mas logo depois voltou com a expressão preocupada. Anotou alguma coisa num papel e colocou preso nas mãos do ursinho, pondo-o no travesseiro. Olhou em volta e suspirou. deu uma olhada e viu que a porta do quarto de estava fechada. Pegou a sua mala e, fazendo o máximo de silêncio possível, foi até a sala. Então alguém falou com ela.
- Bom dia! - Britney falou, com a voz esganiçada e usando uma camisa de Dashboard Confessional. Sorriu triste quando viu. Tinha sido ela mesma quem usou aquilo quando veio dormir da primeira vez lá. - Vai aonde?
- Erm... - pensou um pouco. Não podia demorar. - Embora. - disse, por fim, com um sorriso no rosto.
- Ah.. Quer que eu diga algo pro zinho? - perguntou, feliz.
- Diga apenas... “Adeus”. - sorriu novamente e foi até a porta. Fechou logo atrás dela e saiu de lá. Saiu do apartamento. Saiu da vida dele. Suspirou e pediu um táxi. Iria até a agência, ver quem seria seus novos “pais”. Mesmo sabendo que nenhum poderia substituí-lo; nunca daquele jeito. ouviu o barulho da porta e foi ver o que havia acontecido. Quando passou pelo corredor, viu a porta do quarto de aberta. Colocou a cabeça para dentro e o viu vazio. Começou a ficar inquieto. Entrou e viu o ursinho na cama. Pegou-o e leu o que havia escrito no papel. “Vou sentir sua falta.”, dizia. Gemeu baixinho, sentindo alguma coisa invadi-lo aos poucos. Só não sabia o que era. Foi até a sala e viu a loira comendo um salgadinho e olhando para a tevê.
- Bom dia, amorzinho. - ela disse, sorrindo.
- Bom dia... Você viu a ? - perguntou, olhando para os lados.
- Vi. Ela tava com a mala dela e foi embora.
- Ela não deixou nenhum recado, não mandou dizer nada?
- Adeus. - falou, sem tirar os olhos da tevê. Ele sabia que se ouvisse a menina falar isso teria sido muito mais impactante do que a loira lhe dizendo aquilo, totalmente sem emoção. Mas a falta que sentia era a mesma.
- Só isso? - perguntou novamente, preocupado.
- Nada mais. - a loira sorriu largo. - Ah, amor... Eu adorei aquelas cartinhas que você mandava para as suas ex-namoradinhas, amorzinho. Você era tão romântico com elas, sweetie. - levantou-se e passou a mãe pela nuca dele. ficou estático na hora. Não acreditava... Simplesmente não era possível.
- Você... Você leu aquilo? - indagou, com os olhos arregalados e se afastando.
- Claro. Eu fui pegar uma roupa para usar, depois da nossa noite perfeita, - foi chegando ainda mais perto dele. - e achei uma chave num paletó. Como aquela era a única gaveta trancada do lugar, presumi que fosse isso. - Deu um sorriso e o beijou. Ele afastou-a logo. Não sentia nada quando a beijava. Nada comparado ao que sentia quando estava apenas junto de . Mandou-a pegar suas coisas e ir embora. Finalmente percebeu o que estava sentindo. O que havia invadi-lo de tal forma que o deixara devastado, sem avisar que viria e tomando conta de seu corpo. Algo que o fez sentir tão mal em tão pouco tempo, simplesmente ao ver que ela havia indo embora. O que estava sentindo era um vazio. Um imenso vazio.



Parte VII



Os outros dois meses tinham sido uma loucura. Não teve um dia que ele não ligou para a agência para perguntar onde ela estava morando agora; e, claro, não teve uma dia em que ela não lhe dizia que era privacidade da empresa e do cliente. Não teve uma hora em que ele não pensasse nela e acabasse se perdendo, errasse enquanto tocava ou chegasse atrasado em algum compromisso. Não teve nenhum segundo em que ele não parou para pensar o que ela talvez estivesse fazendo naquele momento. Se ela sentia falta dele, se gostaria de voltar no tempo e desfazer tudo. Ou se apenas gostaria de voltar para um momento, um momento em particular. O que fez o perceber que gostava dela. Decidiu, novamente, ir à agência. Quem sabe, dessa vez, alguém lhe desse uma explicação. Estacionou seu carro na rua e foi andando até lá. Tinha um aspecto limpo e leve, aquele lugar. Entrando na recepção, vi logo uma senhora não tão velha sentada na cadeira, atendendo a qualquer ligação.
- Não, senhor, me desculpe. Não há nada que possamos fazer no momento. – ela dizia, coçando os olhos por trás dos óculos de aro prateado. Fez um gesto para , indicando que ele sentasse em qualquer poltrona do lugar. Obedeceu, um pouco nervoso. Tinha que dizer algo que a fizesse dá-lo o telefone ou qualquer possível número de contato que o fizesse ouvir a voz dela novamente. Esperava por aquilo. Tinha que dizer algo... – Não, senhor. Depois do momento em que o intercambista parte para seu país de origem, nossa conexão com ele é desfeita. Desculpe, não está no nosso alcance.
Voltar pro país de origem. Ele nunca tinha pensado nisso. Em sua mente, ela estava lá em Londres – o que era fato – mas e depois dos poucos meses? Ela voltaria pra sua família de verdade, e ele ficaria ali... Sozinho? Então ele começou a surtar, ficou mais nervoso ainda, roia suas unhas compulsivamente. Ela iria voltar um dia. “Claro, seu imbecil”. Nada que ele jamais pudesse dizer iria fazer com que ela continuasse ali, não é? “Mas isso é obvio... Estúpido, quando foi que você se deixou tão vulnerável assim?
- Senhor? – ele via que agora aquela mulher se direcionava a ele. Parecia que ia pedi-la em um encontro. Suas mãos suavam e tremiam. Temia que ela não lhe desse a resposta tão esperada. Não a confirmação do encontro. Apenas alguns dígitos que o fizesse voltar ao normal. Afinal, o que é o normal? Quem é que dita essas regras? Quem é que diz que você tem que ter alguém que você ama do seu lado ou nunca vai ser feliz? Porcaria de New Age. Amor agora é supervalorizado. Ora, droga. – Senhor, posso ajudá-lo?
- Sim, perdão. Eu queria uma informação, moça. – “Seja educado e, se puder, elogie. Mas não bastante para ela achar que é o número dela que você quer. Oh, obrigado, .” – Eu sou... – “Minta sobre quem você é. Afinal, quantas vezes você já ligou? pode ser útil às vezes.” – Dean Warner. E, eu queria saber...
- Você é . Minha filha não fala de outra coisa além de vocês. – ela disse, com um sorriso no rosto e calma na voz. “Se algo der errado, saia correndo e gritando que nem uma bicha, como você sempre faz. Porque, eu pergunto, porque eu ainda ouço ao ?
- Ah, claro. Certo. Então você provavelmente...
- Não, senhor. Me desculpe, mas nós não podemos fornecê-lo essa informação, como eu mesma já lhe disse milhares de vezes. Tudo bem, você pode até estar tentando fazê-la voltar para seus braços... – Ele abriu a boca para falar algo, mas ela fez um gesto, demonstrando que ainda estava falando. – Mas, você também pode ser um psicopata necrofilíaco, entende? Não posso fazer isso, além do que, eu posso perder meu emprego. – ela deu um sorriso e voltou a digitar algo no computador.
- Mas, por favor, eu peço...
- Não. – respondeu, direta. Ele suspirou e franziu a testa, triste. Caminhou lentamente até um sofá e desabou, com um ar triste e distante. Ela o olhava agora.
- Ela... Ela é diferente, sabe? – deu um sorriso, involuntário. – Ela...
- Senhor...
- é apenas diferente de todas as mulheres que eu já estive. Certo que ela ainda é uma garota, mas isso é apenas tempo cronológico. Eu não me importo. Ela age como uma adulta nas horas certas... – sorriu, mordendo o lábio. – Ela me convenceu a cozinhar. Quero dizer, eu estou, de fato, cozinhando. Nada de comida congelada, pronta ou delivery. Eu levanto a minha bunda do sofá e vou até a cozinha. É uma revolução, isso. Principalmente depois de tantos anos. – ele fez uma cara convincente. Ela parecia estar cedendo, mas ele nem percebia. – Eu vou dizer uma coisa à senhora, eu... Eu não ficava com alguém mais do que alguns minutos, entende?
- Não, na verdade.
- Mas, não sei, não consigo passar nem um segundo sem ela. Quero dizer, era muito fácil antes, quando ela morava comigo, sabe? Eu sabia, eu tinha certeza de que ela estaria lá quando eu chegasse. Eu tinha certeza de que ela estaria fazendo qualquer trabalho ou vendo tevê ou jogando paciência. Não me pergunte por que, mas ela gostava daquele jogo. – soltou uma risada bufada. – Gostava. – falou, com um ar ainda mais distante. - Eu tinha certeza, sabe? Que ela estaria lá para conversar comigo, perguntar como foi meu dia, me contar qualquer piada que ela aprendeu no dia e eu ia rir, mesmo que não fosse engraçado. O engraçado era o esforço dela para fazer alguém sorrir. Eu tinha certeza, sabe? Que ela estaria lá para me fazer sorrir. Mas agora... Desde que ela partiu... – Ele pôde ouvir um suspiro, mas continuou falando. – Sabe, senhora. O que me mata, mesmo... O que me corrói por dentro, o que me traz aquele sentimento de angústia e opressão, o que me... O que me mata mesmo é a incerteza. Quero dizer, a certeza... de que ela nunca mais vai voltar. – ele suspirou. Houve um momento de silêncio em que ele percebeu que nunca tinha realmente falado aquilo para alguém. E agora uma total estranha sabia o que sentia. Sentia-se... transparente.
- Droga, quem manda ser tão vulnerável? – ela reclamou, bufando. – Vê? Agora eu estou prestes a fazer algo que não deveria. Porcaria de sentimentos.
- Ahn? – ele perguntou, meio aéreo.
- Venha cá, seu... Nem para xingar, meu deus. Eu vou lhe dar a porcaria do telefone. Venha cá. – ele levantou-se num súbito e quase derrubava algumas revistas em um compartimento do seu lado. Sorria. – Olha, está aqui. – Ela anotou em um papel amarelo deu a ele, inconformada.
- OH, DEUS. MUITO OBRIGADO, SENHORA. MUITO OBRIGADO. – ele puxou o rosto dela e deu um beijo em sua bochecha, sorrindo. Ela fez um não com a cabeça, sorrindo meio de lado.
- Ei, rapaz! – ela chamou, fazendo-o parar no meio da saída. – Como você disse que era o nome dela, mesmo?
- . – estranhou.
- Ahm... – ela olhou em uma lista, fazendo uma careta logo depois. – É melhor você se apressar. O avião dela sai às três da tarde, falta pouco tempo.
- Sério? Merda! Obrigado, senhora. Até logo. – disse, saindo apressado.
- Até... – ela disse, sentando-se novamente. – Eu preciso de um emprego com menos relações com outras pessoas, caramba.

- DROGA! Todos os sinais fechados, todos os carros decidiram bater e todos os velhinhos ou grávidas decidiram caminhar pela cidade JUSTAMENTE AGORA? Murphy, vá pro inferno. – praguejou ele, batendo no volante do veículo e dando uma arrancada quando viu o primeiro sinal de cor verde no semáforo. Entrou correndo no estacionamento e estacionou em vaga dupla... e de deficiente.
- Ei! – um guarda gritou.
- Me multe! – gritou de volta, correndo para a seção de partidas. “Porcaria de milhões de vôos.” Olhou em um telão, mas, quantos aviões partiriam às três horas? Milhares. E quantos iriam para o Brasil ou fariam conexões no Brasil? Muito menos, mas ainda eram muitos. Ele tentava lembrar qualquer coisa que fosse. Eles tinham conversado uma vez, quando ela estava revendo suas coisas na mala. Algo sobre o número do vôo de volta. “Porcaria, era aniversário da irmã do ou da namorada do ? Merda!” Batia constantemente na sua cabeça, vendo que alguns paravam para o olhar.
- Caramba! – pegou o celular rapidamente e discou o número.
- Dude?
- HARRY! Ainda bem. Me diz uma coisa. Quando é o aniversário da tua irmã?
- Minha nossa, você tava todo em cima da e agora...
- A porcaria do aniversário, !
- Nossa, também não precisa ficar nervosinha. 12 de março, sua aberração... Agora para que...
- Valeu. – interrompeu e desligou na cara do amigo, procurando pelo vôo número 1203. 1203, 1203... “Achei, vôo 1203 partindo para Portugal e depois Brasil. Atrasado? Porcaria, Deus existe! Engula essa, Murphy. Agora, onde encontrar uma adolescente no meio de um aeroporto? Se eu quisesse encontrar uma adolescente consumista, eu ia pra seção de compras. Se eu quisesse achar uma adolescente compulsiva por comida... Ahá! Eu iria à praça de alimentação.” Correu até o outro lado do aeroporto e, enquanto subia uma escada rolante e esbarrava em todos, começou a ver uma figura conhecida. O rosto meio franzido, como se estivesse falando consigo mesma em pensamento. Já tinha presenciado aquilo várias vezes. Uma calça jeans, sandálias de dedo e uma camiseta de algodão? O que isso tinha de tão... impactante? Nada. E porque causava tanto impacto nele?
Quando finalmente subiu e passou a ter a visão completa da garota, parou, estático. Não conseguia sair do lugar. De repente, uma sensação de medo e de possível rejeição surgiu nele. Só saiu de frente da escada porque um empresário irritado – e provavelmente atrasado – empurrou-o. Suspirou. Não fazia idéia do que iria dizer.

“Minha nossa, dezenas de vôos e o MEU atrasa porque Keith Richards embriagou-se e se recusa a sair até que seu pai venha buscá-lo. Acho que cheirar as cinzas dele realmente não o fez bem.” Ela olhou para o décimo bolinho que comia naquele dia. Colocou-o de lado com a mão e pegou o copo de chocolate quente. Não queria tomar café, pois sua vontade era de dormir a viagem toda. Olhou as outras pessoas, enquanto tomava um gole. Mulheres grávidas com mais seis filhos e maridos cheios de bolsas atrás, empresários com seus ternos, casal de namorados, artista de banda famosa. “?!?” Quase cuspiu todo aquele liquido, mas engasgou-se, tossindo logo depois. Se recompôs e desviou o olhar, coçando os o olhos. Olhou-o novamente e o viu virar de costas para ela e se apoiar em uma barra de ferro, vendo o vão de pessoas que iam e vinham lá embaixo. Suspirou, pegou sua bolsa de lado e foi até ele, parando de costas para a barra e apoiando seus braços. O que ele estava pensando?
- Veio dizer adeus? – ela perguntou, sorrindo meio de lado e olhando para ele. Ainda se olhar para a garota, soltou uma risada bufada.
- Acho que eu vim com a esperança de não ter que dizer adeus. – disse, finalmente olhando para ela e deixando um sorriso escapar. Ela suspirou e olhou para os lados, com uma cara triste.
- Não é possível, eu acho. A não ser que o guitarrista dos Rolling Stones passe a morar nesse avião. – falou, soltando uma risada e fazendo-o confuso. – Então, o que você tem a dizer? – perguntou, sem muita certeza de que queria saber a resposta.
- É engraçado, sabe? – ele começou, brincando com os dedos e sem conseguir olhar para ela. – Enquanto eu vinha pra cá, eu meio que treinei tudo o que eu ia dizer, sabe? As coisas que eu disse para a mulher que trabalha na sua agência, era tudo verdade. E era uma completa desconhecida. E você, a pessoa a quem eu deveria contar tudo, mas não consigo. Simplesmente não sai. – falou, finalmente se desencostando da barra de ferro e indo para frente dela.
- , eu...
- Não é bem engraçado. É trágico, na verdade. Mas como não estamos em um romance de Shakespeare, então é só a vida. – ele disse, sorrindo e fazendo-a sorrir também. Chegou mais perto e colocou a mão no rosto dela, acariciando de leve e vendo-a fechar os olhos. Talvez se ela não o encarasse... – , eu gosto muito de você. Até demais, se você quer saber. Do tipo que dói em mim se eu estiver longe de você... – falou chegando mais perto. – e dói se eu estiver perto de você. Mas essa última dor é tão boa que chega a ser o que faz isso valer a pena. – disse, chegando ainda mais perto. Ela abriu os olhos e viu a proximidade. Colocou os braços em seu pescoço e sentiu-o colocar as mãos na sua cintura. A última coisa que ouviram foi: “Passageiros do vôo 1203 com destino a Portugal, Brasil e Chile. Embarque no portão 10”.



Parte Final



Minha mãe sempre me disse que odiava despedidas. E eu nunca acreditei! Merda. Talvez seja porque eu nunca tinha tido uma experiência tão traumatizante nesse departamento. E porque eu tinha de dizer adeus, afinal?
Merda, meu lápis de olho tá saindo. Ah, claro. E eu pareço Rudolph, a rena. Talvez coçar o nariz não adiante, pensei. Vai ficar bem pior. Entrei no avião, carregando minha bolsa, e sentei na minha poltrona, que ficava na janela. Isso é bom de ser uma menor viajando sozinha. Lugares especiais só para você. E era bem no começo do avião. Provavelmente eles acham que eu vá chorar mais se eu demorar mais do que cinco minutos sem ver a minha mãe. Principalmente depois de dez meses (isso foi sarcástico).

Sabe o que é pior? Não deu um ponto final à história. Foi uma vírgula, no máximo uma reticências... Ela continua inacabada, porém ainda mais triste. Teria sido muito melhor se ele simplesmente esquecesse de mim. E eu dele...
Queria eu que fosse assim tão fácil. Depois que a gente se beijou, eu insisti que não poderia ficar. Não podia mesmo! Não me culpe se agora você está sofrendo. Eu sentia falta dos meus amigos, da minha família. Foi uma experiência muito boa, mas experiências passam.
Ele insistiu que eu ficasse, mas não cedi. Não ia perder um vôo por pura luxúria. É, isso aí, luxúria. Nada de amor. Não, nem um pingo. Não confunda um ato com um sentimento.

Ele me deixou no portão de embarque, enquanto eu deixava algumas lágrimas caírem, silenciosas. Sem ele ver, claro. Ou pelo menos eu tentei. O que acontece é que, logo depois que me deixou lá e sorriu, dizendo adeus, ele saiu andando rápido. Ou ele iria chorar (o que é muito improvável, parecia só difícil) ou ele iria voltar para casa e agir como se nada tivesse acontecido.
Casa, estranho não? Eu morei lá por tanto tempo. É difícil morar com alguém que você ama e saber que ele não corresponde. Quero dizer, já é ruim amar e não ser amado. Quando se coloca uma proximidade nisso então...
Acho que não me resta mais nenhuma opção a não ser esquecê-lo. Nunca ia dar certo mesmo, pensei. Limpei as últimas lágrimas e me olhei no espelho de bolso que eu tinha. Merda, tava tudo borrado. Tirei a maquiagem e deixei daquele jeito mesmo. Não fazia questão. Olhei para a janela.
- Licença. – alguém disse, sentando-se do meu lado. Suspirei, sem realmente ligar. Um elefante poderia ter sentado ali e eu não saberia. Talvez fosse sentir, mas... – Algum problema, senhorita?
- Vários. Todos. – respondi. – Mas quando chegar no Brasil, espero que sejam esquecidos.
- Eu acho difícil... – ele disse. Estranhei. Como assim “eu acho difícil”? Quem era ele para...
- ! O que você ta fazendo aqui? – perguntei, sorrindo. Borboletas? Check. Sorriso? Check. Mãos tremendo? Super Check.
- Viajando para o Brasil e você? – ele perguntou, virando para mim e se aproximando, com um sorriso.
- Eu? Eu estou com você. – falei, sentindo os lábios dele se encostar com os meus. Aquela sensação que eu já conhecia. Aquele sentimento... Bom, que era a primeira vez, na verdade, que eu conhecia. Vai saber, né? Era ruim, era bom. Eu não sei. No começo era só uma quedinha, eu acho. Ah, sei lá. Ele era bonitinho (haha, bonitinho. Brincadeira, né?), era legal, me fazia rir. Era só paixãozinha, sabe? Ah, que coisa. Mas agora, no final... Me deram muitas alternativas, sabe? Do que poderia ser. Queda, paixão, casinho, até affair me falaram. Mas, não sei, a última pessoa que realmente deixou isso claro para mim foi ele, enquanto saímos do avião e pegávamos minha mala.
- Ei, amor.





manda um email qualquer coisa. (H)
então, fic acabada. YES! Que beleza, eu sinto cheiro de realização no ar. Ah, como cheira bem... Bom! eu queria agradecer a todo mundo que fez meus dias mais felizes (chora). HAHAHA, brincadeirinha :) Mas eu quero agradecer a uma pessoa em especial. Ela lê minhas fics e diz se tá bom ou não :D Naverdade, ela sempre fala que tá bom. E eu nunca sei se ISSO é bom ou ruim. LÍVIA! haha, te amo, mate. brigada por tudo. tu é minha bff <3 e à vocês, pessoas que comentam e que me odeiam por demorar tanto, obrigada também. até a próxima, pessoal.

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