NA SUA ESTANTE
por Carol Ahmed.
"Que saco essa aula! Mas pra que diabos eu preciso estudar química orgânica se quero ser
escritora?" pensava enquanto estava com a cabeça encostada na cadeira, quase dormindo. Mr. Stuart era aquele típico professor velho, chato e rabugento, que não dava um sorriso pra ninguém e que ensinava muito, mas muito mal. achava que ele já devia ter se aposentado há muito tempo; a falta de cabelo já estava afetando os neurônios dele, coitado.
Alguma coisa a despertou, foi a porta da sala que tinha acabado de ser aberta. A menina olhava atentamente o inspetor do colégio que estava parado ali. Ele pediu desculpa por interromper a aula,
"Desculpa? Queria poder te agradecer agora, Mr Thompson!", e dizia que estava entrando atrasado porque tinha ido ao médico, dando, em seguida, passagem ao garoto, que foi se sentar atrás de sob olhares de todos os alunos da classe.
Mr. Stuart se virou, continuou a dar aula e logo todos já estavam com a atenção voltada para o quadro.
- Médico? O que você tem, meu amor? - se virou e perguntou baixinho para não interromper mais.
- Ah, não é nada, . Estava um pouco tonto pela manhã, só isso. - ele respondeu meio sem emoção, para não preocupá-la.
- Mas já está melhor? - ela insistia.
- Estou sim! - ele deu um selinho nela. - 'Brigado pela preocupação, linda. Mas acho melhor a gente prestar atenção na aula antes que o Stuart me cape. - e sorriu. Ela fez o mesmo e se virou, tentando se concentrar naquele monte de rabiscos no quadro que ela não conseguia entender patavinas.
e namoravam há cerca de um ano, haviam se conhecido no colégio mesmo e eram um casal considerado 'perfeito', se é que isso podia existir. Eles se davam bem, eram bons amigos, gostavam muito da companhia um do outro, dividiam problemas, tinham só amigos em comum, e raramente brigavam. Eles se apaixonaram desde que ficaram pela primeira vez em um baile que a escola proporcionou aos alunos de primavera. A princípio foi uma surpresa para , , , e , seus maiores amigos, mas eles adoraram a idéia e gostavam de ver o casal junto.
Ao tocar o sinal para o intervalo, os oito amigos se reuniram na mesa de sempre. Era engraçado ver como tinham panelinhas por ali, e parecia que tinham até mesas marcadas; todos sempre se sentavam no mesmo lugar, tanto na sala de aula como nas mesas do refeitório. Já eram veteranos na escola, e conheciam até os funcionários.
- Sai da frenteeeeeeeeeee! - alguém gritando assustou e , que andavam apressados no corredor atrás de comida. Ao se virarem puderam perceber que estava nas costas de , que a segurava pelas pernas e corria como se estivesse apostando corrida.
- Cadê o fôlego, ? Mais rápido! - ela dizia animada e tendo ataques de riso. Até que ele não agüentou mais e a colocou no chão, ofegante.
- Vou ficar forte de eu te carregar todo dia. - ele dizia ainda com voz falha pelo cansaço.
- Tá me chamando de gorda, seu palhaço? - ela deu um tapa no braço dele e logo em seguida um beijo. - Te amo.
- Também te amo, mesmo você sendo gorda, feiosa e gostando do gay do Orlando Bloom. - ele respondeu.
- Hey, não vamos apelar pra falar mal do Bloom, ok ? - disse ao se aproximar dos dois.
- O Orlando Bloom é hottie, mas eu sou mais, né? - perguntou ao se sentar ao lado dela.
- Você é muito mais, dude. Sem comparações! Ele nem tem essa sua bunda sexy! - fez voz de gay e sentou ao lado de como se fosse o agarrar.
- Meu namorado me traindo com o meu melhor amigo? Onde esse mundo vai parar? - fazia drama.
- Quem manda seu melhor amigo ser gostoso? - disse se achando.
- E seu namorado também. - completou, voltando para o lado da namorada.
- Isso eu concordo. - ela disse e deu outro selinho nele.
- Quaaaanta melação! Vocês não se cansam? - disse ao se sentar também.
- Ah, ! Você reclama só porque ninguém te quer.
- Quem disse que ninguém o quer, ? - perguntou ao chegar com a bandeja de comida.
- Não sabia que vocês tinham um caso, dude. - disse e todos riram.
- Não era pra ninguém saber, ! Você nem sabe disfarçar, hein? - deu um pedala no amigo.
- Foi mal! - fez cara de inocente - Hey guys, vai ter uma apresentação hoje aqui no colégio de uma banda cover dos Beatles, vamos vir?
- Beatles?? CLARO! Que horas? Ninguém avisou, que desorganização. - reclamava.
- Tem cartaz em toda a escola, seu mongol. - respondeu.
- Sério? Nem reparei. - ele disse pensativo.
- Vamos vir sim! Pelo que eu vi será às nove horas, você pode passar lá em casa, amor? - se virou para .
- Claro, passo sim. Algum de vocês quer carona? - ele respondeu.
- Sim, eu vou querer. - levantou o braço.
- Vamos querer. - completou, ao repetir o gesto.
- Ok, estejam prontos às 21 horas sem falta. - pediu. De repente sentiu seu celular vibrar. - Ops... - disse ao olhar o visor e ver quem era. - Com licença, preciso atender. - e se retirou para perto dos armários. estranhou um pouco a atitude do menino, mas logo se distraiu com a piada que começava a contar.
Quando voltou, nem tocou no assunto e fingiu não ouvir a namorada quando esta perguntou quem era no celular, o que a deixou muito chateada.
Já eram quase nove horas da noite, já estava pronta há uma meia hora e resolveu ligar para confirmar se iria. Ela sempre fazia isso, mesmo sabendo que quando ele marcava um compromisso nunca faltava e costumava ser bem pontual.
- Atende, , atende! - ela dizia para si mesma, enquanto o celular do menino só chamava. - Droga, caixa postal. - disse, jogando o celular na cama. Não resistiu e foi tentar ligar novamente, mas para sua tristeza ainda caía na caixa postal.
Faltavam apenas 5 minutos para as 21 horas, e seu namorado ainda não tinha retornado a ligação. Ele sabia que era muito ansiosa, e mesmo assim tinha sumido. Claro que ela já havia tentado ligar para a casa do menino, mas a Sra. disse que ele tinha saído muito cedo de casa dizendo que ia encontrá-la, e para não preocupar a sogra, achou melhor mentir e dizer que havia se perdido de na festa e queria saber se por acaso ele tinha voltado em casa.
Agora eram 21h25, e já haviam ligado perguntando por eles e a menina não sabia o que dizer. Ligava direto no celular do namorado, e já tinha deixado no mínimo umas três mensagens de voz, até que finalmente ele retornou.
- , aonde você se meteu?? Não me deixa preocupada! Nem sua mãe tem notícias suas. - ela dizia aflita.
- Amooooor, desculpe. - ele parecia bêbado. - Eu tava com uns amigos e nem vi a hora passar. - dizia rápido e ofegante, parecia até assustado.
- Que amigos? E onde você está agora? Você ta bêbado? - ela começava a se irritar.
- Bêbado? Sei lá onde estou, mas passo já na sua casa. - e desligou o celular.
ligou na mesma hora para .
- , to preocupada com o , ele ligou agora dizendo que tá vindo, mas parecia bêbado, apreensivo, não sei! - ela dizia com voz de choro.
- Se acalma, . Assim que ele chegar você conversa direito com ele. Eu vou avisar o que o tá vindo já. Se desistirem de ir nos avisem, ok? - a amiga tentava acalmá-la.
- Ok, ok! - ela ouviu a buzina do carro de . - , acho que ele chegou! Estamos indo, beijo!
Ao entrar no carro, pôde perceber que estava pálido e com os olhos meio vermelhos.
- , o que houve? Você poderia me explicar? - ela pediu antes mesmo de cumprimentar o garoto.
- Ah, não aconteceu nada! Que saco! - ele bufou - Me dá um beijo, amor! - e foi tentar roubar um beijo da namorada em vão.
- E você ainda tá fedendo! Sai de perto. - ela o empurrou. - Tô falando sério! Nunca te vi assim.
- Ah, não quer dar beijo? Ok! Vamos logo pegar aqueles dois trastes e ir pra esse show logo. - se irritou e ligou o carro.
- Não fala assim deles, são nossos amigos! - disparou ela.
- Tá bom, tá bom! Põe o cinto, .
- Não fala assim comigo! Você está fedendo, esquisito e ignorante. Perdi o ânimo pra esse show idiota. Amanhã a gente conversa. - ela disse e saiu do carro. Ele não tentou se defender, apenas engatou a primeira marcha e foi embora.
- Alô?
- , não vamos mais! - a essa altura já estava aos prantos. - o estava muito estranho! Não quero falar sobre isso hoje, apenas avisa ao , tudo bem?
- Tudo bem, , como quiser. Amanhã a gente conversa. Tenta se acalmar. Você conhece o , sabe que ele não é assim. Deve ter acontecido alguma coisa.
- Isso que me preocupa, ! Tô com o coração na mão pra saber o que deixou ele assim. Mas amanhã eu descubro! Preciso dormir, se é que vou conseguir parar de pensar nele.
- Pensa que você ta fazendo um ménage com Orlando Bloom e Johnny Depp que você consegue.- ela sugeriu, e deu risada.
- Ai, ! Só você pra me fazer rir depois disso! Obrigada e boa noite.
- Boa noite.
No dia seguinte, estava nervosa, esperando para conversar com o namorado, mas nem apareceu na aula, então ela resolveu ir visitá-lo pra saber como estava.
- Hey, tudo bem? - abriu a porta com cara de sono, devia ter acabado de acordar. - Entra aí, amor. - ele deu passagem para ela.
- Hey! Hoje você me chama de amor, ? - ela disse ironicamente ao se sentar no sofá da sala.
- , me perdoa por ontem. Eu tava meio atordoado. - ele se sentou ao lado dela.
- Eu percebi, só gostaria de saber o que houve pra você ficar daquele jeito.
- Ah... - ele pegou na mão dela e ficou segurando firme. - Eu estava lá com aqueles caras da natação, nós bebemos e fumamos um pouco. - estava com as mãos suadas.
- O quê?? Fumaram? , por que você fez isso? - ela soltou as mãos dele.
- Porque eu quis, sei lá o que me deu, tava legal lá com eles e resolvi experimentar. Me perdoa, amor, não queria ter te tratado daquela forma e nem furar com vocês. Eu te amo demais. - ele agora a abraçou forte.
- Você sabe que eu também te amo! E não coopera pra minha gastrite, ! Eu fiquei nervosa demais! Nunca fui com a cara daqueles garotos. Fica longe deles, por favor.
- Não queria te deixar nervosa, desculpe. - ele deu um selinho nela e ficou acariciando o rosto da menina. Adorava sentir que ela se preocupava com ele, seus pais estavam se divorciando e por isso pareciam meio ausentes, então gostava de sentir que se importava com ele, e estava o apoiando.
- E porque você não foi na aula hoje, mocinho? - ela colocou as mãos na cintura.
- Ontem eu fui dormir tarde. Fiquei discutindo com meus pais quando cheguei em casa. As coisas por aqui não estão fáceis. - dizia com uma expressão de tristeza. - Mas hoje também ia ser aula de história e português e putz, eu não tava nem um pouco afim! Prefiro ter aulas particulares com a minha futura escritora mais linda de todas. - ela sorriu e deu um longo beijo no menino.
- Seu bobo! Amo, amo, amo você! Se quiser ir dormir lá em casa quando estiver mal, pode ir! Você sabe que meus pais te adoram e não veriam problemas.
- Eu sei, amor, mas depois do jeito que te tratei achei melhor ficar por aqui mesmo. Obrigado. Também amo, amo você. - ele dizia beijando o rosto dela.
- Mais do que a Rachel Bilson? - ela fez bico.
- Pera, essa é difícil. - ele fingiu estar pensando. E ela deu um tapa nele.
- Você prefere a Rachel Bilson, seu safado. Também vou fazer greve de beijos. - e cruzou os braços.
- QUÊ? Greve de beijos? Não, amor! Você é muuuuuuuito melhor do que ela! Quem é Rachel Bilson mesmo? Nem conheço essa mulher! - ele dizia tentando beijá-la, enquanto ela fechava a boca e virava o rosto.
- Vai ter que me pegar! - ela estirou a língua e saiu correndo pela casa. foi atrás dela, até conseguir prendê-la na parede.
- Diz que me ama, que eu sou mais hot que o Orlando Bloom junto com o Johhny Depp e que eu tenho o melhor beijo que você já deu. - ele dizia rindo.
- Eu nunca vou dizer isso, nem por tortura. - ela desafiou, fazendo enchê-la de cosquinhas. - Aaaaah, páraaaaaa! Isso é injusto, é injusto! Tá, tá... HAHAHAHA! - não parava de rir. - Eu te... HAHAHAHA... amooo, e... HAHAHAHA você... é... mais hot... HAHAHAHA... que o Orli e o Johnny... Aaaaaahh... tô ficando sem ar, ! HAHAHAHA e vocêtemomelhorbeijoqueeujádei. - ela disse mais rápido pra ele parar de fazer cócegas.
- Muito bem! Agora sim! - ele disse vitorioso.
- Foi injusto, INJUSTO! Humpf. - ela estava de braços cruzados e cabeça baixa, mas levantou e deu-lhe um beijo, fazendo com que ela se arrepiasse toda.
Os dois passaram o resto da tarde juntos, e como era de costume foram revisar algumas matérias, ou pelo menos tentar, já que no meio de um exercício e outro rolavam alguns beijinhos e no final de tudo... Bem, digamos que as coisas esquentavam bastante.
Assim que chegou em casa, tomou um banho antes de deitar, e foi remexer em uma caixinha que guardava em seu armário. Era do tamanho de uma caixa de sapato e dentro haviam vários papéis, fotos e cartas. Pegou algumas de e começou a ler, querendo relembrar o que o namorado dizia antes de se tornar o mesmo, e depois.
"Fala, menina fofa! Sabia que estou com saudades de você? Faz apenas cinco dias que vim aqui pra Paris passear com meus pais, e já sinto falta de te atazanar na aula ou de ir patinar no gelo e falar mal das pessoas com você. HAHAHA. Saudades das conversas diárias, dos risos, das caretas. Espero que goste desta carta... Só escrevo pra você, hein? É segredo, não mostre a mais ninguém..! Sabe como é, podem ficar com ciúmes! HEHE. Acho que vou visitar o museu do Louvre hoje. Lembrei de você e daquele dia que fomos na galeria de arte com a escola, lembra? Pode deixar que vou tirar muitas fotos de tudo e te mostrar depois! Te amo, garotinha!
Beijos, ."
Ela sorriu ao terminar de ler, lembrou que ficou muito feliz ao receber aquela carta do amigo e tratou de responder o mais rápido possível, para que ele recebesse ainda lá em Paris. foi até o lado da cama onde havia um sofá bem macio, daqueles que você afunda quando senta, e pegou uma mais recente para ler. Essa era do dia em que eles completaram três meses de namoro.
"Como alguém pode ser tão perfeito? Parece até que foi feito por encomenda, sabe? 'Eu quero alguém assim, que faça isto, que goste disto, que queira isto, e seja dessa maneira', e "plim", trouxeram você pra minha vida. =) Desculpe os garranchos, você sabe que eu tenho a letra feia e ainda mais agora que escrevo rápido e de improviso, mas são tantas coisas que eu gostaria de lhe dizer neste momento que até me faltam palavras. Eu queria tentar mostrar o quanto me sinto bem em ser seu namorado, ou mostrar minha felicidade de saber que você acima de tudo é uma grande companheira, mas não conseguiria definir o quão intenso isso é pra mim. Então peço desculpas novamente, amor, por não ser capaz de descrever meus sentimentos e tudo o que significou estes três meses de namoro ou os anos que te conheço. Obrigado por existir na minha vida, . E que venham muitos meses pra nós dois!
Te amo 'a lot', como você gosta de dizer. HEHE.
."
era muito sensível e ainda chorava ao reler as cartas que escrevera para ela. "Eu tenho o namorado mais perfeito do mundo todo!", ela pensava, ao dobrá-las e guardá-las de volta na caixinha. Resolveu ir dormir, pois na quarta-feira teria novamente aulas do velho e chato Mr. Stuart.
As semanas seguintes passaram muito rápidas, e era véspera de provas. Todos os alunos estavam desesperados com as matérias. Os seis amigos marcavam de estudar todas as tardes no colégio, mas não estava indo, dizia que não tinha saco pra estudar com todo mundo, pois tirava sua concentração. Como era a que mais sabia sobre história e português, seus amigos só faltavam torturá-la caso ela pensasse em não ir ajudá-los com a revisão.
Por causa da correria com as provas, e só estavam se vendo praticamente na sala de aula, isto é, quando ele ia. O menino já tinha faltado uns três dias seguidos e ainda não tinha tido tempo para ligar e saber o que estava acontecendo. Seriam problemas com a separação dos pais? Ela se preocupava, mas sabia que a procuraria caso precisasse de ajuda, então preferiu ajudar os amigos e quando as provas acabassem ela aproveitaria o tempo livre com o namorado.
- Com licença, Mr. Willian. Eu sei que estou interrompendo demais às aulas nesses meses, mas temos um problema na diretoria com um aluno e estão chamando o senhor pra resolver. - Thompson disse ao abrir a porta da sala.
Mr. Willian era diretor do colégio e também professor de geografia. Entretanto quando havia algum problema, ele saía na hora da sala de aula para resolver junto com a coordenação, o que alguns alunos até gostavam, pois ficavam sem aula e iam para o refeitório conversar. E foi o que aconteceu. Willian liberou a todos enquanto resolvia o problema na diretoria.
- O que houve dessa vez? - o diretor disse com a voz séria, tirando o casaco e pendurando-o em sua cadeira.
- Foi este aluno, Mr Willian. Chegou atrasado e quis entrar na sala de aula à força. Tentei impedi-lo e vi que ele estava estranho. E olhe só. - o porteiro pegou a mochila do menino e a abriu. - Cocaína aqui dentro.
O diretor olhava assustado, principalmente por perceber que o aluno sentado na cadeira ao lado de cabeça baixa era Douglas , já conhecido por todos.
- Muito me admira o senhor estar carregando isto, . Haveria alguma explicação? - ele perguntou ao menino.
- Não tenho nada a dizer pra você, Willian. - respondeu secamente ainda de cabeça baixa.
- Então neste caso sabe que tenho que comunicar seus pais do que ocorreu, não é? - Willian arqueou as sobrancelhas, esperando alguma outra reação de , mas não obteve sucesso.
- Vá em frente! Como se eles se importassem com isso... - ele deu de ombros.
- Você precisa ir a um psicólogo, . Vou marcar uma consulta com o nosso aqui da escola. - dizia enquanto pegava sua agenda.
- Não preciso de porra nenhuma! - ele gritou e levantou a cabeça. Parecia acabado. - Quem decide isso sou eu, tá ok? Não quero mais saber dessa escola também. Quanta burocracia! Estou cheio disso tudo! Só queria falar com a minha namorada, será que eu posso? - perguntou se levantando.
- , presta atenção no que você está dizendo. Não pode estar falando sério. - o diretor estava assustado com a atitude de .
- Poderia fazer a gentileza de chamar a aqui? - ele se forçou a ser simpático, tentando ser irônico.
- Chame a garota, por favor. - Willian deu ordem ao porteiro, que obedeceu e foi atrás de .
Alguns minutos depois, ela bateu na porta e pediu permissão para entrar. Estranhou ao ver que o namorado estava ali.
- ?? O que você está fazendo aqui? - ela o abraçou.
- Só queria te ver, entregar isto... - ele a entregou um papel dobrado. - e dizer que vou me mudar para a casa do Rony. Liga pro meu celular quando sair daqui que eu te passo o endereço e o telefone.
- Se mudar? Rony? O menino da natação? Você ainda tem visto esses moleques, ? - ela guardou o papel na bolsa, e perguntou como se desse uma bronca.
- O que eu menos quero agora é problemas, ok? Já tenho muitos! Depois a gente se fala! Até mais! - ele pegou a mochila da mão do diretor e saiu da sala, o que fez a garota se sentar e começar a chorar com as mãos no rosto. Resolveu abrir o papel e ver o que tinha escrito. Aparentemente alguns rabiscos, parecia o rascunho de alguma música.
"Life is getting harder day by day
And I, I don't know what to do or what to say, yeah
And my mind is growing weak every time... step I take
It's uncontrollable now they think I'm fake...
And I, I get on the train on my own…
Yeah, my tired radio keeps playin' tired songs
And I know that there's not long to go, oh
And all I wanna do is just go home…"
Uma parte da música que comecei a compor. Te amo, !"
- Peloamordedeus, Mr. Willian, me explique o que aconteceu. - ela pedia em desespero após ler a música de . Após ouvir atentamente cada detalhe do que aconteceu, começou a tremer. - Não conte isso a ninguém se quer ajudá-lo! Não sei o que fazer, mas alguma coisa eu farei. Peço encarecidamente. - suplicava ao diretor, pois se esta notícia chegasse aos s, o namorado ainda teria mais brigas em casa e isso era o que ela menos desejava no momento.
O diretor foi bem solidário e prometeu fingir que nada tinha acontecido, mas com a condição da menina convencer a procurar ajuda.
havia decidido não ligar para o namorado naquela semana de provas. Apenas pegou o endereço de onde morava o tal Rony e o telefone, que prometeu não dizer aos s.
Cinco dias haviam se passado desde o dia em que fora parar na diretoria do colégio. Como ele disse antes de sair da sala do diretor, não voltou à escola e ninguém mais tinha notícias do amigo, exceto que recebia mensagens de texto dele dizendo que estava bem, o que de uma certa maneira a confortava.
- Será que esse é o endereço certo? - ela se perguntou ao tocar o interfone do prédio. Era um prédio pequeno, apenas com quatro andares, no centro de Londres.
"Oi?", ela ouviu uma voz.
- Oi, esta é a casa do Rony?
"Sim! Quem é?"
- Sou namorada do , ele está? Fiquei de encontrá-lo hoje aqui!
", sua namorada", a voz o avisara, e alguns segundos depois voltou a se comunicar com ela.
"Ele disse pra você subir!", e a porta foi aberta.
"Apartamento 401... 398... 399... 400.. aqui! 401!", ela andava lentamente pelo prédio, procurando o apartamento certo. Bateu na porta e demoraram uns dois minutos para atender.
- Hey, mocinha! Pode entrar aí! - Rony dizia apontando para o sofá da sala, que por sinal, estava uma bagunça. - Você lembra de mim, gata? - ele estendeu a mão para cumprimentá-la. apenas apertou a mão do garoto, dando um sorriso meio forçado. "Gata? ODEIO que me chamem de gata! Soa tão falso!"
- Claro que lembro. - foi a única coisa que ela disse antes de se sentar. - Onde está o ?
- Ele está no banheiro e já vem. - se virou para a direção do banheiro e gritou. - ! VEM LOGO!
- Opa, tô indo! - apareceu após desligar a luz do banheiro. Suas roupas estavam meio amassadas, os cabelos mais bagunçados do que de costume, parecia até mais magro, mas o rostinho continuava lindinho, como sempre. Apenas os olhos estavam meio lacrimejando, e isto deixava aflita. - Meu amor! - ele deu um beijo e um abraço sinceros na namorada. - saudades de você! Já acabaram as provas?
- Já sim, amor! - ela dizia meio tímida. Queria conversar apenas com o namorado, mas aquele tal de Rony não saía da sala. Estava sentado vendo tv, mas parecia prestar atenção aos dois. - Podemos conversar sozinhos?
- Claro, vem no meu quarto. - ele pegou na mão dela e a guiou.
- O que você tem nos olhos? Você tem comido direito, ? O que está havendo com você? - ela começou um questionário assim que ele fechou a porta e percebeu que finalmente estavam a sós.
- Tenho comido o necessário. Não tenho nada nos olhos e não está havendo nada comigo, apenas estou de saco cheio dessa vida rotineira que levava. - respondeu diretamente. ia abrir a boca para criticá-lo, quando lhe faltou voz ao ver que ele acendia um cigarro de maconha.
- , apaga isso! - ela pediu irritada. - Anda, apaga! - ela foi tentar tirar da mão dele.
- Sai! Me deixa, ! Não foi pra me controlar que eu pedi pra que você viesse aqui hoje. - ele disse desviando dela e se sentando na cama.
- E como você quer que eu fique do seu lado vendo que está mal?
- Você me ouviu dizer que estou mal? - ele retrucou.
- Obvio que está. Olha pra você, meu amor! - ela o abraçou forte. - Pelo menos diz que vai hoje na casa do . É aniversário do e vamos fazer um bolo pra ele! Só vamos estar nós!
- Dude, é mesmo! Aniversário daquele biba! Saudade de todos! - ele coçou a cabeça e gargalhou pela primeira vez depois de muito tempo. - Se for bolo de chocolate, eu vou! - e sorriu para a menina.
- Jura? Eu mando fazer muitos bolos de chocolate, meu lindoooo! - ela pulou em cima dele em vibração. - Me deu vontade de ir ao banheiro.
- Sua louca! É na porta ao lado, pode ir lá.
- Já volto! Não foge. - ela o beijou e foi até o banheiro.
Assim que chegou, pôde perceber que havia uma caixinha de remédio jogada no lixo. Não resistiu e abaixou para pegar e ver o que era. "Meu deus, colírio? Era isso que o estava fazendo no banheiro pra sair com os olhos lacrimejando? Qual era a intenção dele? Me enganar?", o coração dela estava em disparada. Sentia até o estômago reclamar. No mínimo a gastrite nervosa ia atacar de novo. resolveu fingir que não tinha visto o colírio lá, lavou o rosto e retornou ao quarto.
Agora estava deitado na cama, olhando fixo para o pôster de Green Day que tinha na parede de frente.
- Voltei. - ela disse fazendo-o desviar o olhar do pôster. - ... - ela suspirou. - Esteja lá no às oito horas, ok? Preciso ir agora! Se cuida, amor!
- Mas já? Nem tem 15 minutos que está aqui! - ele disse se levantando.
- Eu sei, mas ia passar rápido mesmo! Do jeito que você está, fica difícil conversar direito, até porque eu odeio esse cheiro dessa coisa aí! - ela fez cara de nojo e abanou o ar.
- Se for por isso eu apago agora mesmo. - ele disse jogando no lixo.
- Não é só isso, ! São muitas coisas! A gente conversa hoje! Não falte, ok, honey? Te amo demais, lembre-se disso. - ela o beijou e o abraçou. - Descansa aí que eu sei o caminho de volta. - piscou o olho e saiu.
Já eram nove horas, todos estavam reunidos comendo e bebendo na casa de , e pareciam se divertir. Com a exceção de , que não parava de pensar em . Será que ele iria furar com eles de novo?
- Peste! - chegou dando um pedala na menina, que estava quietinha sentada no chão da sala e vendo umas fotos deles todos juntos há alguns meses atrás.
- Porra, ! Não me mata de susto, dude. - ina disse com a mão no meio do peito. - Olha só essa foto sua e do quando perderam a aposta de que o Mr. Stuart ia morrer enfartado no ano retrasado e tiveram que pagar ir vestidos de mulheres por uma semana pra escola. - ela começava a rir lembrando da cena.
- Nem me lembre! Aquele velho coroca além de não morrer ainda me faz pagar mico! - ele revirou os olhos e depois riu também. - Como nós somos ruins.
- Sim, nós somos maus! - ela passou a foto e viu uma em que ela, e estavam fazendo caretas na neve. Os três estavam de touca e luva. suspirou ao ver a foto.
A campainha tocou, e levantou disparada para ver quem era. Sorriu ao constatar que era o namorado. Com roupas normais e bem cheirosinho.
- ! - ela pulou para abraçá-lo. - Pensei que não vinha mais. - e deu um selinho nele.
- Eu não perderia isso, amor! Só me atrasei um pouco por causa do trânsito, me desculpem. - ele foi entrando e logo deu de cara com que ainda estava sentado no chão vendo as fotos. - Duuuuuude! - gritou e foi abraçar o amigo. - Quando tempo! Cadê o pessoal?
- ! Pensei que tinha morrido! Não nos assuste mais assim, dude. Quem é que eu vou agarrar no meio da noite quando a estiver dormindo?
- Se você agarrar outro, eu termino nossa relação por aqui. - disse colocando o dedo na cara dele.
- Não, não, querido! Ninguém tem uma pinta tão sexy na bunda igual você tem. - fez voz de gay. Os três riram e se abraçaram.
- Ouvi mal ou é a voz do ? - perguntava chegando na sala, acompanhado de e . - Você apareceu mesmo! - ele foi abraçar o amigo.
- ! AHHHHHHHHH! - pulava em cima dele. - Saudades, seu cabeça de vento.
- Tambéééém, ! - ele dizia ao abraçá-la. E foi cumprimentar , finalmente. - Parabéns, biba master!
- O merece um selinho de aniversário, . - disse com os olhinhos brilhando.
- Deixa de ser gay, . - riu.
- Dude, ela já obrigou o e o a me darem selinhos.- comentou.
- E vocês deram? Seus gays. - ele zoava os amigos.
- Amor, pela felicidade da e do , eu permito. - disse pegando na mão dele.
- Até você, amor?
- Vai, . Selinho! *-* - saltitava.
- Vocês estão falando sério? - ele arqueou as sobrancelhas.
- Estamos! - e disseram juntas.
- Se é pela vontade da minha querida amiga, da minha namorada e pra felicidade do bundão do aniversariante de receber um selinho meu, eu faço esse esforço. - Ele disse indo pra cima de . Os dois deram um selinho e fingiam se agarrar, quando começou a rir e tirar fotos.
- Epa, epa, epa! Tenho que manter minha imagem, rapaz! Você pode sair publicando isso ou querer fazer chantagem por aí! Não pode expor meu caso com o assim. - disse engrossando a voz e fingindo se recompor ao ajeitar a roupa e o cabelo.
- Nossa, todos querem ter caso com o meu namorado. Soltem, soltem! É meu! - foi chegando perto e agarrou por trás.
- Agora só falta rolar beijo da e do . - começou a botar pilha, ao mesmo tempo em que segurava as mãos na namorada na barriga dele.
e já tinham ficado uma vez em uma brincadeira de 'verdade ou conseqüência' que fizeram no colégio. Ela confessava para que gostaria de ficar de novo, enquanto ele fazia exatamente o mesmo com . Como o casal não tinha segredo entre eles, então já passaram tardes e mais tardes armando planos diabólicos em prol de unir os amigos.
- Que? - corou e deu um tapa no braço dele.
- Ah, eu concordo. - ficou ao lado de e , e os três passaram a encarar e , um ao lado do outro.
- ? - gritou. - Se toca, pô!
- Ah sim! Foi mal! Eu também concordo! - e foi ficar ao lado dos três amigos.
- Vocês são patéticos! Parem de gracinha! - disse desconsertada.
- Ah, eu também concordo! - disse olhando para ela.
- Quê? - ela arregalou os olhos pra ele.
- Eu disse que concordo. - e foi se aproximando dela até beijá-la ao som de aplausos dos quatro que assistiam.
- Seus putos, vocês me deixam envergonhada assim! - ela dizia ao terminar o beijo.
- Qual é, ? Estamos entre amigos. - respondeu o comentário da menina e soltou as mãos de ao sentir que seu celular vibrava no bolso da calça. - Alô? Oi! To com alguns amigos e minha namorada, porquê? Ah, tô indo, dude! Me espera! - desligou e virou-se para . - Tenho que sair, o Rony ta com uns amigos lá no apartamento e estão esperando por mim.
- Não acredito, dude! Mas você não comeu nem bolo. - ficou indignado.
- Quer dizer que a gente só vai se ver 15 minutos cada vez que nos encontramos, ? - perguntou olhando séria para ele.
- Desculpa gente! Desculpa, , amanhã me liga e a gente conversa, mas agora eu preciso ir. - ele deu um selinho na menina que continuou estática, abraçou rapidamente os outros e saiu correndo para o carro.
se sentou incrédula no sofá, e foi consolada por e , que se sentaram ao lado.
- Vocês viram, não é? Aquele não é o que eu conheço, não é! - ela repetia acima de tudo para tentar acreditar no que tinha acontecido.
- Logo tudo vai voltar ao normal, . - a abraçou, e ela encostou-se ao ombro dele e começou a chorar. - Fica calma, fofura.
- Precisamos ajudá-lo, ! Eu não sei o que faço! Ele não tem mais contato com ninguém direito, não se alimenta direito, não se veste direito, não se cuida, e isto porque faz apenas uns dois meses. Não agüento mais! Me dói o coração só de pensar no que pode acontecer futuramente. - ela dizia aos prantos, sua voz estava trêmula.
Todos se abraçaram para tentar amenizar o clima. foi deixar em casa e em seguida foi deixar , que ainda ficou com o menino pelo resto da noite.
"Haja saco!" reclamava ao ser acordada pelo toque do celular às 3 horas da manhã.
"Quem será o maldito que tá me acordando?", ela fazia esforço para ler aquelas letrinhas do celular, mas fez esforço maior ao reparar que era de .
"I cannot speak, I lost my voice, I'm speechless and redundant... 'cause I love you's not enough.. I'm lost for
words..." (N/A: Redundant, Green Day).
Ao ler a mensagem, ina pensou no que responder para ele.
"Are you felling like a social tool without a use? Scream at me until my ears bleed, I'm taking heed just for
you..." (N/A: She, Green Day)
Esperou para ver se o menino responderia, e ele o fez, mas apenas com uma "carinha" feliz e a imagem de um coração. Ela sorriu e voltou a dormir. Sua vontade realmente era de estar ao lado dele fazendo carinho, conversando ou fazendo planos sobre o futuro dos dois como costumavam fazer quando dormiam juntos. Sim, eles já haviam dormido juntos, mas nem os pais dele e nem os dela sabiam. Todas as vezes que dormiram juntos foi na casa de ou de , que moravam sozinhos na capital.
- Oi mãezinha! - deu um beijo na bochecha da mãe ao chegar da escola. Parecia bem apressada, pois largou seu material na mesa da sala e entrou no quarto já tirando o uniforme e trocando de roupa.
- Vai sair, minha filha? - a mãe perguntou ao ver a agitação da menina.
- Vou ver o , mãe. - ela colocou os brincos e calçou o all star lilás.
- Mas nem vai almoçar? Ele nunca mais veio aqui em casa! Como está? - a mãe ia pra um lado e pro outro junto com ela.
- Pára de ser minha sombra, mãe! - ela pediu quando escolhia a bolsa que ia levar. - Vou almoçar com ele no shopping. Eu sei que ele nunca mais veio, e agora vai ficar difícil ele aparecer. Férias chegando, né - escolheu a bolsa jeans para combinar com a roupa. - Tô pronta! Vou nessa, mãezinha! Mais tarde eu to aí! Te amo. - ela deu outro beijo na mãe e saiu apressada.
O ônibus estava passando no momento em que atravessava a rua, e para sorte dela conseguiu pegar a tempo. estava já parado esperando por ela, e pôde perceber mesmo de longe que seus olhos estavam meio que lacrimejando. Se lembrou do colírio que vira da outra vez, mas achou melhor nem tocar no assunto; queria que tudo fosse perfeito como era antes.
- AMOOOOOOOOOOOOOOOR! - ela gritou ao vê-lo na entrada do shopping. Correu para abraçá-lo, pulou o colo dele e deu-lhe um beijo.
- Lindaaaaa! Te amo, te amo, te amo! - ele dizia sem parar ainda com ela no colo!
- Também te amo! Mas vem, vamos entrar porque eu tô faminta! - ela desceu do colo dele e foram entrando de mãos dadas. - Além disso, tenho que te dar bronca por ter saído ontem do nada, tenho que te dar um monte de beijos e que te contar uma coisa.
- O que sugere? Burger King? - ele perguntou indo à direção à lanchonete.
- WHOPPEEEEEER! - ela gritou imitando os funcionários de lá e arrancando risadas do garoto. - Sim, sim! Burger King! - se dirigiu à moça do caixa. - vamos querer dois whoppers.
- Whopper? - a moça repetiu alto. E todos os funcionários gritaram ao mesmo tempo: WHOPPEEEEEEEEEEEEER! - São 20 dólares, senhorita.
Pegaram seus lanches e continuaram a conversa na mesa da praça de alimentação.
- Amor, me dá bronca outro dia. Eu sei que vacilei ontem, mas queria estar só com você hoje o dia todo e sem falar de problemas. - ele dizia ao mesmo tempo em que tomava a coca-cola.
- Hm... Deixa eu pensar! - fez cara de pensativa. - Tá, eu dou um desconto! - e sorriu.
- Que bom! E o que você queria contar? - deu mais uma mordida no sanduíche.
- Então... É que vou com meus pais para Winchester nas próximas férias. Vamos passar o mês todo lá visitando a família do meu pai.
- O quê?? Você vai ficar um mês longe? Mas as férias já são daqui dois dias, ! - até parou de comer ao perguntar isto. Nem quando eram apenas amigos tinham ficado esse tempo todo sem se ver. O máximo foram sete dias, quando ele passou férias em Paris.
- Eu sei, amor! Mas não tenho escolha, sinto muito! Prometa que vai ficar bem? - ela pegou nas mãos dele e começou a beijá-las.
- Não posso prometer nada, . Eu já não estou bem e você sabe disso. Só gostaria que você me prometesse mandar mensagens sempre que puder.
- Claro que mandarei, e vou esperar respostas suas. Tenta se cuidar, !
- Só se você for hoje comigo lá pro apartamento. O Rony vai dormir fora. - ele deu um sorriso malicioso.
- Não posso dormir lá, mas podemos ir até lá agora pra ficarmos juntos um pouco. O que acha, Mr. ? - ela terminou de tomar a coca-cola.
- Acho que estamos demorando demais aqui nesse shopping! Vamos logo!
Eles passaram o resto da tarde como a muitos dias não passavam. Riram, comeram chocolate, namoraram bastante, ficaram relembrando as viagens que fizeram juntos, e à noite se despediram, pois ainda tinha que fazer as malas pra viagem de dois dias depois.
Diferente do previsto, ela ficou sem manter contato com na maior parte dos dias em que esteve em Winchester. Na verdade, só mandou mensagem duas vezes pelo celular da sua tia, pois o dela não pegava na região. Isto impossibilitou o contato entre os dois durante o mês todo de julho. Mesmo assim tentou aproveitar ao máximo seus dias. Visitou museus, foi a diversos restaurantes e lojinhas com sua mãe, tirou muitas fotos e mandou um cartão-postal por semana para , no primeiro deles explicou o motivo pelo qual não estava mandando as mensagens que tinha prometido. Ela esperava que ele entendesse, e sabia que iria.
Logo os trinta dias que ela achava que seriam demorados se passaram num instante, e quando menos pôde ver já estava de volta em casa. A primeira atitude da menina foi ligar para o namorado. Em vão. estava com o celular desligado. Lembrou-se então que a mãe dela tinha comprado um casaco de presente para a mãe de , e ela resolveu ligar para a sogra contando da viagem.
- Alô? - uma voz chorosa atendeu ao telefone.
- Olá, eu gostaria de falar com a senhora , por favor.
- ? - a pessoa da outra linha arriscou.
- Eu mesma, quem é?
- Até que enfim você apareceu, minha querida! Tem como você vir aqui agora? O mais rápido possível? - tinha conseguido finalmente reconhecer a voz da sogra no telefone.
- Claro, vou sim. Chego aí em alguns minutos.
Desligou o telefone, pegou o presente que a mãe havia comprado, avisou que ia sair e foi até a casa dos s, lugar já bastante freqüentado por ela.
A própria sogra a atendeu e a acompanhou até o quarto onde dormia. Queria falar a sós com a menina. Ela tinha uma expressão de tristeza tão grande no rosto, que o coração de já estava a mil.
- O que houve, Sra. ? Estou preocupada. - ela dizia se sentando.
- Não sei o que fazer com relação ao meu filho, minha cara. Acho que a esta altura do campeonato todos sabemos o que está passando! Meu marido já se separou de mim e se mudou para os Estados Unidos, e você é a única pessoa fora ele que tem um amor incondicional pelo meu filho. - ela começou a chorar.
- Peloamordedeus, sra. . Não chora! Está me assustando. - segurou firme nas mãos dela, como quem quer passar força.
- Querida, este último mês foi o cúmulo de tudo. Eu não pensei que chegasse a este ponto. veio em casa semana retrasada. A principio eu fiquei feliz, porque pensei que estivesse de volta, mas me enganei. Ele estava alucinado; pegava todas as coisas dele e colocava em uma mala. Dizia que precisava de dinheiro e iria vender tudo. TUDO, , TUDO! Relógios, roupas, celular, até mesmo o baixo que ele tanto amava. Ele não atendia meu pedido de parar. Não sei mais o que fazer, está incontrolável. - ela já estava soluçando, e suas palavras fizeram começar a chorar também. Simplesmente não saberia o que dizer à senhora .
- Meu deus! O que aqueles infelizes fizeram com o ? - a menina se levantou e ficou andando de um lado para o outro no quarto, tentando pensar no que fazer. - Eu não sei o que fazer! Precisamos interná-lo, mas não podemos fazer isto sem consentimento dele. Isso só o deixaria furioso. - ela colocava as mãos na cabeça em sinal de desespero. - Vou encontrá-lo, preciso resolver esta história de uma vez por todas.
deu um beijo na testa dela, e saiu em direção ao apartamento de Rony. Ao chegar, batia na porta freneticamente até ir atender.
A imagem do namorado naquele estado era chocante para a garota. Ele estava bem mais pálido do que antes, e os olhos muito vermelhos, que nem o colírio conseguiria disfarçar.
- ? - estava surpreso com a presença dela. Sentiu uma pontada no coração. - Não sabia que você já tinha voltado. Quer entrar? - ela passou velozmente pra dentro do apartamento e constatou que Rony não estava lá. - , desculpe... Eu...
- Senta, . - ela ordenou para que ele sentasse no sofá. E ele o fez. - O que você está fazendo com a sua vida? Cadê o que eu conheci? Aquele que sempre saía com a gente? Aquele que gostava de brincar com o , de fingir que agarra o , de jogar vídeo game com o , de colocar a de ponta cabeça? Aquele que amava a mãe e que a tratava com carinho? Aquele que freqüentava a escola e sonhava com um futuro promissor? - a cada palavra de ele sentia uma pontada na cabeça, mas nada dizia. E ela prosseguia. - Cadê, , aquele que se dizia meu namorado? Que me abraçava, me beijava e era presente na minha vida? Aquele que me mandava cartas e me ligava toda noite mesmo se estivesse passado o dia inteiro comigo? - ela parou de gritar e começou a chorar ao lado de , que chorava junto. A cada lágrima que descia pelo rosto dela, uma sensação ruim invadia o corpo do menino. Ele a abraçou ternamente, e deu um beijo em sua testa.
- ... - com voz falha conseguiu começar a falar. - Eu amo você mais do que tudo. Eu te amo incondicionalmente e não importa o que houver, eu sempre vou te amar! Eu sempre vou ser o que quer passar o resto da vida ao seu lado, e sempre vou querer o seu bem. E justamente por querer o seu bem, meu amor, que eu peço que me desculpe. Não pelo que eu fiz até agora, mas pelo que não vou poder fazer neste momento.
- O que? - ela disse calmamente, mas ainda chorando.
- Eu sinto muito, amor! Você é o amor da minha vida. Se todo mundo tem alguém que vai levar pra vida inteira, eu posso dizer com toda convicção de que esse alguém pra mim é você. Mas eu não consigo largar das drogas.
- , eu estou do seu lado. Eu, sua mãe e todos os seus amigos. Nós vamos te ajudar. - ela chorava mais ainda e o abraçava, mas no fundo sabia que não iria obter sucesso.
- Eu amo você, minha linda... Mas eu não consigo! Me desculpe. - ele deu outro beijinho carinhoso na testa dela. - Eu espero que você seja muito feliz, . E que alguém seja capaz de dar tudo o que você merece de bom. Infelizmente eu não sou essa pessoa. Olha pra você, olhe a sua volta! Eu não agüento ver você sofrer, ainda mais por minha culpa. Quero te entregar uma coisa antes de você ir embora. - ele foi até o quarto e voltou com um envelope. - Escrevi uma carta ontem e ia te mandar, mas já que posso entregar pessoalmente, aqui está. - ela pegou o envelope limpando as lágrimas. - Diz pra minha mãe que eu a amo, e voltarei pra casa assim que achar que devo.
- Te amo, . Pra sempre! - ela o abraçou e sussurrou algumas coisas no ouvido dele.
"Te vejo errando e isso não é pecado, exceto quando faz outra pessoa sangrar. Te vejo sonhando e isso dá medo, perdido num mundo que não dá pra entrar. Você está saindo da minha vida e parece que vai demorar.. se não souber falar ao menos mande
notícias..." (N/A: Na sua estante, Pitty)
Ela deu um último beijo em e foi embora. A sensação de perda era terrível, ela sentia como se alguém tivesse morrido. Chegou em casa e nem quis falar com ninguém. Trancou-se no quarto ainda chorando e foi ver o que tinha no envelope que ele a entregou. Era a letra completa da música que ele tinha escrito outra vez, e a nomeou de "Not alone". Junto com a letra tinha uma foto que eles haviam tirado no dia em que começaram a namorar. Estavam esquiando. Ambos de tocas, casacos e luvas. Ele tinha caído na neve e ela se sentou atrás dele para tirar a foto. Estavam felizes demais naquele dia.
ficou tão mal com tudo o que tinha acontecido naquele semestre, que quis ir para bem longe. Foi morar nos Estados Unidos com uma prima sua. Terminou a escola por lá, e começou a fazer faculdade.
Três anos se passaram desde então, e ela pouco tinha contato com qualquer um dos amigos de Londres. Também não soube mais nenhuma notícia de , tampouco tinha namorado sério com algum outro cara.
Ela chegou tarde do trabalho no restaurante e se atirou no sofá para tirar aqueles saltos apertados que era obrigada a usar, quando o telefone tocou.
- Alô?
- ?
- Meu Deus... - ela não acreditava no que ouvia. - ??? É você??
- Acho bom que reconheceu a minha voz.
- Nossa, dude! Quantos anos que não falo com você! Que saudade.
- Iiiiih! Já ta com sotaque americano, hein? Precisa passar uns tempos por aqui de novo. - ele zoava.
- Nem fala, já tô americanizada! HAHA. Mas preciso voltar mesmo pra ver vocês! Me diz como estão todos!
- Pera, te liguei pra pedir uma coisa.
- O quê??
- Liga a televisão e põe na MTV aí! Em meia hora espero sua ligação. - e desligou na cara dela.
Curiosa, ligou a tv e ficou esperando pra ver o que ia passar. Ela não podia acreditar no que via. , , e ! Sim, ! Ele estava lá junto com seus outros três amigos na MTV dando uma entrevista. Espera aí, McFLY? O coração dela disparou ao ver ali, depois de tanto tempo que não tinha notícias dele. E nossa, em uma banda com os melhores amigos? Como ninguém falou sobre isso com ela antes?
Resolveu prestar atenção no que eles diziam.
- Então quem vai cantar a música? - a apresentadora loira e gasguita perguntou. pegou o violão e disse que gostaria de cantar uma música sim.
- Essa música eu fiz tem uns anos já. Foi um tempo em que as coisas estavam de cabeça pra baixo na minha vida. E graças a uma pessoa especial estou melhor hoje. Chama-se "Not alone" e está no nosso álbum "Room on the third floor". Eu gostaria de agradecer a esta pessoa. Ela sabe quem é e sabe tudo o que fez por mim. - e começou a tocar a música. Exatamente a música que tinha escrito para ela na última carta.
Ela não resistiu e chorava a cada palavra de . Pegou o telefone na mesma hora, e discou o número de .
- Seu filho da mãe!
- HAHAHAHA, sabia que você ia ligar antes da meia hora. - ria na outra linha.
- Como vocês montam banda e não me falam?
- E você tem um convite VIP para o nosso primeiro show aqui em Londres, que será no dia 14 do próximo mês. Ah, o espera a sua presença. - novamente o coração dela disparou ao ouvir o nome do ex-namorado.
- Verei no trabalho quais são as possibilidades de eu ir, e te aviso. Mas agora me conta essa história direito.
ficou quase uma hora com no telefone. Soube que ele estava namorando , que também falou um pouco com a amiga. e roubaram algumas vezes o telefone deles. À medida que ia a atualizando das coisas, o coração da menina se enchia de alegria. Era bom saber que estava bem e saudável novamente. Não sabia se ia para Londres no show do McFLY, mas torcia muito para a felicidade de cada um ali, principalmente de . Pelo menos seu sofrimento tinha valido a pena.
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