15 canções
by: Lilah Aoki
betada
por: Carolis
Capítulo 1
Eram
quatro e cinqüenta da tarde e se preparava para o habitual chá das cinco
que, em três anos seguidos, jamais se realizara. Era incômodo sentar na ponta
da cama e ficar observando a porta fechada, tendo a leve esperança de que sua
carência seria arrancada do olhar perturbador que refletia no pequeno espelho
do criado mudo, mas nada ali era real, a não ser o copo d’água posto sobre a
mesa junto aos remédios coloridos.
- Beba
querida, ou não dormirá bem hoje à noite...
A voz que ali
soou era da mulher de vestes brancas, a psicóloga que lhe fazia perguntas freqüentes
sobre o passado. Podia ver seu comportamento preocupado. Fazia dois dias que
não tomava seus remédios e não pregava os olhos; ficava andando pelos
corredores e se posicionava em frente a janela, debulhando-se em lágrimas todas
as vezes que uma visita ia embora. Visitas que não eram dela e sim de suas
colegas de personalidade irregular. Estavam naquele lugar por questões
diferentes, mas pretendendo o mesmo fim.
- É melhor
beber... – a mulher caminhou em direção a garota, dando-lhe a impressão de
que a faria engolir até mesmo os copos plásticos. Inclinou-se e ficou diante
dela – é para seu próprio bem, para que possa descansar...
abaixou a
cabeça, dando movimento aos seus longos e negros cabelos, lisos, mas bagunçados.
Suas mãos eram trêmulas como se sentisse frio o tempo todo e sua voz saía
baixinho:
- Eu não
quero... eu não preciso... eu preciso ficar acordada para vê-lo...
Ela se referia
a , o filho da psicóloga que aparecia todas as noites para dormir naquela
“casa”. Alto e olhos azuis, já fazia meses que sonhava com ele
alternadamente, mas sonhos já não bastavam, pois a sensação de vê-lo era
muito mais satisfatória.
- Ver quem? De
que está falando?
- Eu... eu
preciso vê-lo...
- Fique calma, sim? Estou dizendo que precisa tomar isso...
A garota não
queria ser contrariada e com a mão esquerda derrubou os copinhos no chão. Com
a respiração abafada, disse, em um tom de voz alto:
- Eu já disse
que não quero!
Alguns
segundos de paz interrompidos por três enfermeiras. Duas delas a imobilizaram
enquanto a terceira lhe aplicou uma seringa com um líquido transparente no braço,
fazendo com que seus olhos começassem a se fechar. Repetir palavras
vagarosamente não faria nenhum efeito contra o sono que lhe tomava. Deitaram-na
e lhe jogaram um cobertor por cima, deixando só a luz do corredor entrar.
So here we are
(Então aqui estamos
We are alone
There's weight on your mind
I wanna know
(Eu quero saber)
The truth
(a verdade)
If this is how you feel
Say it to me
(Diga pra mim)
If this was ever real
A porta da
frente foi aberta com cuidado, sem ruído para não acordar ninguém. Ela podia
ver a sombra de pelo vão da porta. A direção era a que ele sempre
pegava, à direita, em seu quarto. Girava a chave e caía na cama, cansado, sem
ao menos tirar os sapatos, trajando o mesmo casaco cinza escuro. o seguiu
com passos leves para que não a percebesse e ficava esperando que alguma
palavra surgisse dali. Como na noite passada, e em tantas outras, ela deitou-se
ao lado do adormecido garoto que a abraçou pela cintura, mantendo aquecido seu
corpo frágil. A respiração tocava seu pescoço e ela se arrepiava com a brisa
gélida vinda da fresta da janela. tinha mãos frias e lábios rachados e
no momento em que o beijou, sentiu sabor de sangue; ela recuou e ficou
parada, sobre o tapete xadrez ao pé da cama. “Se ele não respirar, eu
morrerei...”
O peso sobre os olhos já desaparecera às sete da manhã. Depois do café, a sala lotou. Quatro garotas formaram uma pequena roda no canto da escada, carregando caixinhas com maquiagem; elas iam sair para um passeio com seus supostos namorados, sob as vistas de duas enfermeiras. A música que tocava na rádio era a mesma que escutara em seu sonho. The Truth, interpretada pelo Good Charlotte. Ela sentou-se no sofá, concentrada em cada palavra cantada por Joel, lembrando do sangue em suas roupas. Não piscava, parecia uma estátua exceto pelo tremor de seus braços. Houve algo errado, estava descomposto, estava diferente. Ele estava morrendo.
I
know that this will break me
(
I
know that this might make me cry
(
You
gotta say what's on your mind, on your mind
(
I
know that this will hurt me
(
And
break my heart and soul inside
(
But
I don't wanna live this lie
Um grito no
corredor e a voz de ecoou pelo quarto pedindo que ela fugisse.
- Eu amo você,
mas me deixe esta noite...
Ela correu
mais rápido do que podia, mas as portas fechadas pareciam não acabar. A neve
que caía grossa lá fora, se desviava para dentro, transformando as cortinas
azuis em tecidos pigmentados. Alguém agarrou-a pelos ombros e o chão se
aproximou de seu rosto assim que a música parou.
-
Me dê o lenço, me dê o lenço! – Sam gritava. Ela se encontrava em cima de
, enforcando-a com um lenço amarelo, imaginando que a estariam roubando
algo. Foi tirada à
força e trancafiada num quarto isolado. Sam podia ter ataques e era muito
violenta. Estava ali porque perdera a mãe num incidente causado pelo pai e por,
em seguida tentar matá-lo, segundo lhe disseram. Seu quarto era forrado com
fotos de um garoto loiro e com olhos , a quem chamava de .
o viu
algumas vezes, parado no meio da sala ou andando ao lado de Sam, sem dizer nada.
Ele às vezes sorria para ela, mas era como se ninguém pudesse vê-lo, e hoje
ele estava na porta do quarto, talvez esperando que Sam a abrisse.
I don't care no more, no
(Apenas me dê a verdade)
O teto
parecia aconchegante para os olhos. Sombras circulares rodavam a lâmpada
desligada, ditando que ainda era dia. A garota do quarto ao lado gritara a
tarde toda, fazendo os ouvidos de doerem. Ela, por sua vez, temeu sair para
mais uma tediosa “consulta” com a psicóloga porque agora tinha medo de
.
- ,
precisamos ir...
-
Eu não quero, ele está furioso...
A enfermeira
mais amigável permaneceu parada, com uma das mãos esticadas, esperando
levantar-se. Fazia parte do tratamento cuida-la bem.
- De
quem está falando?
Ela
exitou e permaneceu muda.
-
Diga-me, quem está furioso?
-
... ...
-
Quem é ?
- Deixe que eu faça
as perguntas – empurrando a enfermeira para fora, a psicóloga puxou
pelo
braço, segurando-a firmemente e levando-na até seu gabinete. Livros
amontoados sobre duas ou três mesinhas transmitiam a impressão de que a sala
era muito pequena, além de mal iluminada. Havia chaves nas paredes e um casaco
cinza escuro familiar, recostado numa poltrona marrom, onde a doutora pôs sua
bolsa horas antes. As mãos inquietas descansaram sobre a mesa – agora diga-me quem é , sim?
- Ele
é amigo da Sam... deve ser...
-
De onde o conhece?
Por um segundo
ela pensou e talvez não fosse conveniente contar a verdade.
- Não me
lembro.
- Por que
estava com medo dele?
fixou o olhar na grossa prancheta sob a mesa e lembrou-se do natal passado.
We'll do it all
(Nós
faremos tudo isto)
Everything
(Tudo)
On our own
(Sozinhos)
We
don't need
(Nós não precisamos)
Anything
(De nada)
Or
anyone
(Ou de ninguém)
Forget what we're told
(Esquecer do que nos falam)
Before we get too old´
(Antes de ficarmos muito velhos)
Show
me a garden that's bursting into life
(Mostre-me um jardim que esta se abrindo para a vida)
- Porque
quebrei uma promessa...
A voz
saiu difícil e a garota apertou a barra da blusa, evitando olhar para a psicóloga
e fazendo menção de querer gritar. A curiosidade daquela mulher parecia ter a
ganância de penetrar nos pensamentos mais obscuros e se apoderar de todos os
seus segredos. Isso a deixava impaciente e a fazia controlar tudo o que dizia,
para não deixar escapar que a repugnava.
- Pode me
dizer que tipo de promessa?
balançou
a cabeça negativamente.
- Ele a fez
prometer isso também?
- E onde ele
está?
- Estava
comigo no natal passado, mas a senhora não deve tê-lo visto pois estava com
seu filho e... - O copo
derramou toda a água ao ser brutamente virado pela alteração da psicóloga,
que agora
- Filho?
Haviam oceanos
sobre as pálpebras de seus olhos e o inconsciente provocava a sensação de amargo entre os dentes, fazendo a psicóloga range-los de tanto temor.
- Seu filho
...
- Meu... meu
? Mas...
Soluçou com
as palavras e, olhando para , arrancou uma folha branca e rabiscou alguma
coisa, fazendo-a sair depressa.
- Tem que
tomar esses remédios, boa noite.
O som da
batida dada à porta repetiu-se durante horas em sua cabeça, deixando a impressão
de que um tambor rufava, dirigindo um desfile na rua principal. Porque o nome
causava-lhe tanta fraqueza era um mistério e, por mais fantasioso que
isso fosse, ela pareceu-se com uma réplica da verdadeira doutora, porém muito
mal concluída sem suas sórdidas atitudes.
Forget what we're told
(Esquecer do que nos falam)
Before we get too old
(Antes de ficarmos muito velhos)
Show
me a garden that's bursting into life
(Mostre-me um jardim que esta se abrindo para a vida)
A porta dos
fundos escancarou-se e de lá, uma das quatro garotas que estavam festivas
durante a manhã, saltitou aos berros para o banheiro, atraindo a curiosidade
das outras. Deixou cair o cachecol e os brincos; logo depois, um garoto magro
entrou e demonstrou desespero ao socar seguidamente a porta do banheiro,
trancada por dentro. Enfermeiras tentavam controla-lo, sem efeito.
- Abra,
Mandy, abra!
Os
gritos estarrecidos pararam quando a porta se abriu, mas ganharam continuação
pelo fato de Mandy atacar o garoto com uma tesoura. Debatendo-se contra ela,
ele procurava uma maneira de conte-la, mas enfraquecia a cada segundo. Uma das
enfermeiras tentou puxa-la pela perna e acabou com um grave corte no braço. Só
parou quando outra garota lhe jogou água na cabeça.
- Eu não...
não quero me afogar...
Mandy
encontrava-se paralisada sobre o corpo do garoto, estatelado ao chão, com
cortes profundos. Carregaram-na até seu quarto, dando-lhe uma camisa de força
de presente; quanto ao garoto ferido, lamentavelmente ele estava em péssimas
condições e inconsciente. Pelos poucos documentos, era de outra cidade e
chamava-se .
All that I am
(Tudo que eu sou)
All that I ever was
(Tudo que eu sempre fui)
Is
here in your perfect eyes, they're all I can see
(Esta aqui em seus olhos perfeitos, eles são tudo o que eu
consigo ver)
I don't know where
(Eu não sei onde)
Confused about how as
well
(Confuso sobre o como também)
Just know that these things
will never change for us at all
(Apenas sei que estas coisas nunca mudarão para nós em
nada)
Capítulo
3
Após o segundo ataque, foram estabelecidas mudanças nos horários e agora
elas tinham menos tempo para o lazer. Passavam a maior parte do dia no quarto,
escrevendo ou lendo alguma coisa, saindo apenas para coisas necessárias, como
banho.
Hold up
(Acalme-se)
Hold on
(Aguente firme)
Don’t be scared
(Não se assuste)
You’ll never change what’s been and gone
(Você nunca mudará o que aconteceu)
entrou na banheira. A camisola branca em contato com a água a fazia
lembrar-se dos rios onde costumava nadar. A pia trincada precisava de conserto e
a janela fechada deixava escapar uma pequena parte do luar, cujo fecho de luz
reclinava-se sobre a porta de um guarda-roupa devoluto, na parte mais sombria do
banheiro. Ali ao lado, encostada numa parede manchada, havia uma cadeira
com forro vermelho e pernas bambas, onde estava...
- Você fica linda quando
molha os cabelos...
Dando um pequeno sorriso, olhava para a torneira, que
gotejava, enquanto brincava com a cadeira. Pôde-se escutar o som do
pêndulo preso ao relógio da sala; era novo, uma das enfermeiras o tinha
colocado lá.
- Eu mencionei que ele vinha?
- Não.
- Terá que cuidar bem
dele... sabe disso não é?
- Sei, mas até este instante eu não pude sequer
vê-lo...
Voltou os olhos a ele. Sua face denunciava que ele estava contente.
-
Perdoe-me por não lhe trazer presentes...
- Não me preocupo com isso... tudo
bem, ...
- me disse... - ajeitava os sapatos - que ainda confia em
você...
Uma sensação de alívio filtrou o sangue dela, fazendo-a soltar um
grande suspiro e relaxar. A luz vinda do corredor pareceu aumentar.
- Pensei
que...
- Não precisa ficar com medo...
- Ele me olhou com desprezo depois que a
Sam...
Os sons dos passos de uma enfermeira começaram a reinar sobre os sussurros
e a porta imediatamente se abriu.
- Pronta para uma longa noite de sono?
Os
olhos atordoados iniciavam uma noite bem dormida. Os gritos do quarto ao lado
diminuíam como no botão da TV. O travesseiro era seu melhor amigo agora. A
imagem de , criada em sua cabeça, ficava embaçada, mas a voz se repetia
incansavelmente: "Cuidar dele, cuidar dele, cuidar bem dele..."
Cause all of the stars
(Porque todas as estrelas)
Are fading away
(Estão desaparecendo)
Just try not to worry
(Apenas tente não se preocupar)
You’ll see them some day
(Você verá algum dia)
Take what you need
(Apenas pegue o que você precisa)
And be on your way
(E siga seu caminho)
And stop crying your heart out
(E deixe de desespero)
passou despercebido pela mãe, que colocou um de seus CD's
maravilhosamente bem escolhidos. Ao som de "Stop Crying Your Heart
Out" do Oasis, ela ficou brincando com sua cadeira do mesmo modo de .
Lembrancinhas e fotos estavam por toda a parte; nas estantes, os vários
retratos pareciam chacoalhar e em muitas prateleiras se encontravam livros e
diários de folhas amareladas ou roídas. Tirou o jaleco e logo depois a blusa
branca de mangas compridas, deixando a mostra uma grande cicatriz no braço
direito. Abriu uma das gavetas e tirou um maço de cigarro. sentiu que
estava encostada na porta do gabinete, invisível aos olhos da psicóloga que, a
cada tragada, virava uma das páginas de um histórico aberto sobre a mesa.
-
Mandy Denver, 19 anos... "filhinha de papai"
Ria
aturdida,
tirando as cinzas que caíam sobre a pasta. Por um momento, pensou em dar
um passo à frente, mas foi puxada abruptamente por .
- Não confie nada à
ela...
O garoto estava atordoado, o casaco cinza amarrotado e a voz fraca, dando
a nítida impressão de ter sido atacado.
- ... não é assim que alguém
se refere à própria mãe...
- Isso não é brincadeira...
- Eu compreendo que
não, mas por que não devo confiar nela?
- Porque ela não é quem você
pensa...
Fora acordada com gritos e choros e pelas sirenes da ambulância e do carro de
polícia. Assim que abriu a porta de seu quarto, viu Mandy coberta numa maca,
sendo levada para fora, morta.
- O que houve? - perguntou a uma enfermeira
que estava paralisada junto a uma parede.
- Ela se matou... cortou os pulsos.
O
alvoroço diminuiu quando o corpo foi levado. Todas as garotas se punham diante
das janelas para vê-lo ir para longe, sabendo que Mandy não voltaria.
apressou-se e adentrou na enfermaria, onde repousava, sem saber do
ocorrido. Ela se agachou ao lado da cama, ouvindo a leve respiração do garoto,
que devagar abriu os olhos e a encarou, dizendo:
- O que aconteceu com a Mandy?
Ela se dividiu entre contar ou não a verdade, mas se não o fizesse, logo
saberia por outros.
- Ela... ela se foi...
Ele pareceu entender e aceitar bem,
apesar de demonstrar, sem querer, a dor que tomava seu corpo. Deixou rolar uma
lágrima, que foi limpa por um dos dedos de .
- Você sabe por que ela
estava aqui, ? Todos têm um motivo e...
- Ela tentou me matar, como
ontem...
- Por que, se ela estava tão feliz para te ver?
virou o rosto
contra a garota, direcionando o olhar às camas vazias e permaneceu imóvel por
alguns segundos. Extremamente triste, ele se recompôs e voltou-se à ela.
-
Acho que eu não fazia bem pra ela...
- Impossível. Você era tudo o que ela
tinha...
- Então já tem um porquê, não acha?
- Não.
Séria, imaginou
, três anos antes, quando ele não dava conselhos e sim, carinho.
Get up
[get up]
(Levante-se [levante-se])
Come on [come on]
(Vamos! [vamos!])
Why’re you scared? [I’m not scared]
(Por que está assustada? [não estou
assustada])
You’ll never change
(Você nunca mudará)
What’s been and gone
(O que aconteceu)
A neve encobriu todos os telhados e árvores e engrossava a cada hora. se
atrasara novamente. A festa no fim, mas ela saiu para procurá-lo na escuridão
mais patética, vencida pelas luzes do ano-novo.
O parque e seu lago congelado
davam espaço para as brincadeiras das crianças escandalosas e na frente de um
dos prédios ela pôde ver Sam e seu lenço amarelo, ao lado de um alto e
esbelto garoto e um cachorro. Acenou e continuou caminhando até ver
encostado na parede de um mercado, muito atencioso, dando meias palavras
encantadoras a uma garota, que hora corava, hora sorria, entregando-se à
malícia do rapaz. Não acreditando no que viu, passou pelos dois e
adentrou no mercado, fazendo percebê-la e seguí-la para se desculpar.
-
Não pense algo errado...
Ela agora pagava por um litro de vodca. O atendente
sem dar muita atenção, lhe entregou um pequeno calendário de bolso e os dois
jovens saíram depressa, em direção à ponte central.
- Me desculpe, eu não
queria te ver assim, magoada...
- E eu não queria um ano novo assim, ...
Deu
as costas, mas o garoto segurou-a pelo braço, fazendo com ela voltasse.
- Me
solta!
Num movimento brusco, o litro quebrou-se ao ser jogado contra ele, que
desmaiou e caiu nas águas correntes sob a ponte.
- !!!
deu um pequeno pulo, acordando da alucinação.
- E você? Por que
está aqui?
- Te digo outro dia ... até mais.
A porta bateu e novamente
ouviram-se gritos no quarto ao lado... aquela garota devia realmente estar
passando mal.
We’re all of us stars
(Nós todos somos estrelas)
We’re fading away
(Nós estamos desaparecendo)
Just try not to worry
(Apenas tente não se preocupar)
You’ll see us some day
(Você nos verá um dia)
Just take what you need
(Apenas pegue o que você precisa)
And be on your way
(E siga seu caminho)
Capítulo
4
Após uma longa hora, os gritos vizinhos pararam,
como se alguém tivesse amordaçado sua língua. afundou a cabeça no
travesseiro, pensando em algo para vencer a monotonia. Quando quase ficou
sufocada, deitou-se novamente e deu um breve bocejo. estava sentado na ponta
da cama, balançando as luvas brancas de um lado para o outro.
- O que faz aqui?
- Ora, você acabou de pensar em mim... por que não contou ao ?
- Ele
seria amigo de uma assassina?
largou as luvas num canto.
- Você não é
assassina, foi um acidente...
Ela descruzou seu olhar do dele e virou o rosto para
o lado, deixando rolar algumas lágrimas desvalidas. Sentiu que ele tocava uma
de suas mãos, tentando comprimir a dor da culpa, porém nada dizia. As sombras
se moviam nas paredes e só o que se conseguia ouvir era a respiração alta de
ambos. enxugou algumas lágrimas e resolveu falar:
- Conta pro ,
talvez ele diga algo que te interesse...
A porta se abriu e
uma enfermeira avisou que ela teria uma "consulta" com a psicóloga.
Para era uma sandice ter que ver a doutora mais que duas vezes por semana,
mas não havia escolha, depois da manhã conturbada, todos deveriam estar
preocupados se as garotas não fariam outras loucuras. Ela deixou e as luvas
e direcionou-se até o gabinete. Assim que entrou, pôde ver três históricos
sobre a mesa, incluindo o de Sam; todos em pastas negras com várias etiquetas.
A psicóloga continuava a examiná-las e pediu que a garota se sentasse, sem ao
menos olhar para ela.
- Sam teve um lacônico ataque quando mencionei ... -
agora ela encarava-a, como quem deseja uma resposta à todo custo - o que me diz
sobre isso?
- Ele deve ter sido alguém muito especial pra
ela...
E agora que você compôs essa canção
Esvaziou o ódio do seu coração
Viu que não é assim que você vai parar de chorar?
Dias depois de seu
aniversário, Sam ganhou o costume de se trancar no quarto e dizer coisas às
fotos, tendo o leve devaneio de que ali estava ele, em carne e osso. Numa dessas
tardes chuvosas e escuras, se pôs a ouví-la do outro lado da porta e
o acompanhou, ficando ao seu lado. Fortes trovões impediam que escutassem
tudo o que Sam resmungava, mas puderam compreender que ela pedia pra ficar junto
dele.
- Amanhã são exatos dois anos e ela deve ter se lembrado.
- Não se
preocupe ... ela vai ficar bem...
sorriu e encostou o ouvido na
porta, desejando mais do que nunca estar lá dentro. O barulho da tempestade foi
diminuindo e ele permaneceu
contente.
E os teus olhos que não podem nem mais se fechar
Se toda vez que fecham te fazem lembrar
Memórias que a mente insiste em guardar pra te fazer chorar
Pare de chorar
Feche seus olhos e durma
E vá sonhar no seu sono profundo
- Ele foi especial pra
ela, senhorita , sabemos disso, consta na ficha... assim como na sua há um
tal ... deseja falar sobre ele?
A garota abaixou a
cabeça e sua respiração tornou-se abafada, dando a entender que o nome mexia
com seus nervos e, de fato, era muito importante em sua vida. A psicóloga
gostou da reação, tirando proveito desse desvalido detalhe.
- , 21 anos, causa da morte: afogamento... hum, quer dizer que você deu
uma garrafada nele, muito original...
ainda imóvel, começou a soluçar,
já que a cena se repetia enquanto a doutora falava. Vivenciar todos aqueles
fatos novamente seria seu pior castigo.
- Querida... não precisa ficar assim...
mortos não guardam rancor...
Sua vontade era de pular no pescoço daquela
mulher, fazê-la parar; tolice a dela pensar que isso ajudaria no tratamento.
Rancor era uma mísera sensação psíquica perto do seu ódio e a única coisa
que a impedia de se mover era o pequeno amor a vida que ainda conservava.
- Ora,
vamos... me fale mais sobre ele...
- A senhora tem a ficha, por que não lê?
-
Não me venha com essa atitude, mocinha, quero ouvir da sua boca, sua
impertinente...
Socou a mesa, deixando o rosto ferver. olhava, um tanto
espantada, imaginando se naquele braço haveria realmente uma cicatriz. As mãos
trêmulas indicavam um nervosismo instável. A garota sem lembrou do que
lhe disse e somente perguntou:
- Vai mudar meus remédios?
Enfurecida, a
psicóloga rasgou e rabiscou uma folha, esticando-a em frente ao próprio rosto.
- Tome isso agora... quero você dormindo e acordando só amanhã, boa
tarde!
Você sem querer mais acordar
Quero um sonho que você nunca sonhou
E uma razão pra voltar a amar
Aquele que nunca te amou
passou por
sua mãe novamente, e desta vez, "Sono profundo" da banda Fresno,
embalava seus pensamentos no isolado sofá do gabinete. seguiu o garoto,
que caiu cansado sobre a cama. A razão dele estar assim, deveria ser o trabalho
com que se ocupava ao dia e onde ele gastava toda a sua energia. Pediu que ela
se aproximasse e segurou uma de suas mãos.
- Não queria ter te conhecido
nessas circunstâncias...
- Se eu não viesse pra cá, nunca nos veríamos...
-
Sim, mas acho que seria melhor estar com você longe daqui...
Os lábios se
encostaram por um tempo. Ele sorriu enquanto ela massageava suas costas,
aliviando um pouco a dor. A expressão de era exausta e ele mal se mexia;
a boca machucada às vezes sangrava.
Permaneceram ali, quietos, se entreolhando
até a porta se abrir e a psicóloga estrar chorosa no local. Ajoelhou-se e
debruçou os braços sobre um baú, abrindo-o um tempo depois. De lá saíram
álbuns de fotos, roupas e brinquedos.
- , por que... por que...?
sentou-se na cama e passou a observar a cena.
- ... sua mãe... está
chamando por você...
Ele sequer abriu os olhos. Continuou dormindo e segurando
a mão da garota, que se preocupava com o aparente desespero daquela mulher.
-
... sua mãe...
- Deixe que ela me chame, deixe-a rasgar suas cordas vocais
porque eu não me importo com alguém que não me ama!
Agora ambos
encontravam-se sentados, enquanto a doutora abraçava uma blusa preta do filho.
Ela não reparava nele, como se estivessem invisíveis. sentiu seu
coração apertar ao ver assustada com a frase que ele acabara de quase
gritar. Tocou seu rosto, ainda ignorando a mãe.
- Calma, sim? Ela não é o que
chamamos de mãe exemplar...
- Mas é SUA mãe...
- Então diga isso à ela...
lhe deu um beijo e tudo em volta escureceu. Já não via mais nada, quando
a porta se
fechou.
Então deixa eu cantar
Pra você dormir
E nunca mais acordar
Do sonho que eu fiz pra ti
Capítulo 5
Naquela manhã, os corredores
estavam silenciosos e limpos. A luz do sol que partia da janela acordou ,
que permaneceu pensativa sobre o sonho que acabara de ter. tinha uma
enorme fúria nos olhos, uma fúria que ela jamais viu em pessoa alguma.
Uma
enfermeira abriu a porta levemente espiando para ver se a garota já acordara.
Ao ver que sim, disse:
- Pode vir até a enfermaria?
Os joelhos ainda
dormentes, a enfermeira aparentava ter sono e dor de cabeça. Entraram na enfermaria, onde a maioria das coisas eram brancas, e estava olhando
para o nada.
- Ela está aqui, fiquem à vontade!
A mulher saiu e os deixou a
sós na sala. se voltou para , sorrindo.
- Eu pedi que ela te
chamasse...
- Algum problema?
- Não, mas gosto de ter com quem desabafar...
sorriu ligeiramente, fazendo ela se lembrar do dia em que Mandy chegou
ali.
I open my eyes
(Eu abro meus olhos)
I try to see but I'm blinded by the white light
(eu tento enxergar mas estou cego
pela luz branca)
I can't remember how
(não consigo lembrar como)
I can't remember why
(não consigo lembrar porquê)
I'm lying here tonight
(Estou deitado aqui esta noite)
And I can't stand the pain
(e eu não posso agüentar a dor)
And I can't make it go away
(e eu não posso fazê-la ir embora)
No I can't stand the pain
(não, eu não posso agüentar a dor)
Em
um ano, a única novata era Sam. Costumavam ser amigas lá fora, o que distorceu
levemente a idéia de loucura. A porta se abriu e de lá veio Mandy, tonta por
conta de alguns medicamentos. Trancaram-na num quarto que desde então passou a
ser o local onde ela se recompunha. Outras garotas sussurravam e inventavam
histórias do porquê de sua vinda, mas ninguém sabia ao certo. não
trocava palavras com ela nas horas das refeições, até porque permanecia muito
tempo calada e quase sem se recordar da própria voz, mas o motivo deveria ser o
mesmo. Todas as garotas que ali viviam, sob vigília constante, tinham motivos
para não voltar pra casa, para uma vida convencional; todas ali haviam trocado
proezas felizes por medos e transtornos; todas sabiam que o descontrole
guardava-se em seus corpos para sair e se alimentar de crises... todas elas
mataram alguém.
Um forte vento entrou na enfermaria, fazendo os
cabelos de ambos esvoaçarem. falava pouco e, percebendo pequenas
distrações momentâneas de , decidiu perguntar-lhe sobre ela.
- Diga-me,
por que está aqui?
- Deve saber... Porque matei uma pessoa.
- Sim, mas conte-me
sua história...
ficou cabisbaixa, enquanto contava a história de que se
recordava a cada minuto e que se repetia. Ela podia ver claramente se
afogando, mas tudo não passava de uma lembrança.
Mandy ficou
encolhida num canto do corredor, observando todos que ali passavam, fitando o
chão às vezes e cantarolando algo.
How could this happen to me?
(como
isto pôde acontecer comigo?)
I made my mistakes
(eu cometi meus erros)
Got no where to run
(não tenho pra onde correr)
The night goes on
(a noite vai embora)
As I'm fading away
(eu estou murchando)
I'm sick of this life
(estou cansado dessa vida)
I just wanna scream
(eu só quero gritar)
How could this happen to me?
(como isto pôde acontecer comigo?)
sentou-se ali em frente, ainda encarando os sapatos, esperando alguma pergunta
ou mesmo bronca.
Era o Valentine's Day e as pessoas costumavam se agitar,
pensando nos bombons e nas atitudes caretas dos apaixonados. havia
penteado os cabelos, tinha brilho no lábios e usava um vestido azul; não tinha
o que comemorar, mas queria que a visse assim. Já Mandy vestia qualquer
blusa branca com um jeans rasgado, cantarolando o refrão da música
repetidamente, até que parou e disse:
- É bom você não me amar...
encarou-a, perguntando o porquê.
- Todos que me amam deveriam estar
mortos...
prestava atenção nos gestos da garota,
concentrado em cada palavra. Quando ela terminou, ele não se conteve:
- Foi um
acidente.
Era o que todos repetiam, menos a psicóloga, que parecia julgá-la
como insana. A transparência dos fatos direcionava a palavra
"assassina" para bem longe, mas a doutora fazia questão de tornar a
sua vida turva e sombria, fazendo-a esquecer das boas recordações. não
mais sabia como conhecera , mas se esforçava para lembrar, sem sucesso e,
aos poucos, a psicóloga também lhe arrancaria da memória o dia em que
conhecera .
A mão de escorregou pelo braço da garota, dando-lhe a
impressão de que encontrava segurança ali.
- Eu conheci o ...
- E me odeia
por tê-lo matado?
- Não. E tenho certeza que ele ainda ama você...
- Como?
-
Nós nunca esquecemos do amor de alguém quando ele é demonstrado com
sinceridade, mesmo que isso só cause destruição...
O silêncio abrangeu a
sala, deixando livre o canto de um pequeno pássaro parado à janela. Ambos
tinham lágrimas nos olhos. Eram onze e quarenta e teve de sair para
deixá-lo descansar. Fechou os olhos enquanto caminhava em direção à sala
onde todos estariam se preparando para o almoço, e podia escutar
acalentando seu sono, num acampamento escolar, descansando as mãos sobre seus
cabelos, fazendo-a estar protegida envolta em seus braços. Era assim que o
conhecera e era assim o modo como deveria lembrar-se dele.
Sentou-se numa das
pontas da mesa. Sam estava lá e logo atrás dela. Ela parecia estar bem.
Um pequeno sorriso despontava em seu rosto, e ao que tudo indica refletiu em
, fazendo-o ter um ar mais feliz.
O lugar de Mandy permaneceu vazio por
semanas. Poucas vezes, uma garota ou outra repousava ali uma rosa branca, um
significado de respeito para com sua memória, mas não tocavam em seu nome.
circulava pela "casa" em certos dias, mas continuava fraco e não se
sentia bem com a presença da psicóloga.
Aos poucos, foi calando-se
novamente, guardando as palavras para suas diárias conversas na
enfermaria.
Everybody's screaming
(todo mundo está gritando)
I try to make a sound
(eu tento fazer um som)
But no one hears me
(mas ninguém me ouve)
I'm slipping off the edge
(estou caindo do alto)
I'm hanging by a thread
(estou pendurado por um fio)
I wanna start this over again
(eu quero começar de novo)
So I try to hold onto
(então eu tento esperar)
A time when nothing mattered
(pelo tempo quando nada importava)
And I can't explain what happened
(e eu não consigo explicar o que aconteceu)
And I can't erase the things that I've done
(e eu não posso apagar as coisas que
eu fiz)
No I can't
(não eu não posso)[Untilted - Simple Plan]
- Eu me lembrei ...
A garota entrou contente
na enfermaria, puxando uma cadeira e direcionando um sorriso singelo a ele, que
retribuía com o doce olhar que sempre a encantava.
- Acampamentos
escolares são realmente ótimos para conhecer pessoas...
- Sim, sim...
Mas... está melhor hoje?
revirou os olhos, dando uma coreografia
maluca a eles. Queria dizer que não muito, pois os cortes ainda lhe arrancavam
gemidos de dor. não queria, francamente, que ele se recuperasse tão
cedo. Não por ser má, mas para não ter que perder suas agradáveis manhãs,
recheadas de conversas e olhares. Simplesmente não queria vê-lo ir embora.
-
Quando melhorar... Você vai me esquecer?
- Não.
- Mas, er... Eu não
quero que você melhore, quero dizer, eu quero, mas...
- Por quê?
-
...
Ela parou as mãos entrelaçadas diante do peito, inspirou e
expirou o ar devagar, apertou os olhos, deixando que uma lágrima escorresse e
continuou:
- Todos que eu amo vão embora...
Such a lonely day
(Que
dia solitário)
And it's mine
(E é meu)
The most loneliest day of my life
(O dia mais solitário da minha vida)
Such a lonely day
(Que dia solitário)
Should be banned
(Devia ser banido)
It's a day that I can't stand
(É o dia que não posso aguentar)
Os portões aumentavam e o carro se
aproximava daquele lugar estranho. olhava pela janela e depois para sua
mãe, que dirigia um tanto aborrecida. Pararam no jardim, lotado de flores
pequenas. A placa não indicava coisas animadoras:"Centro de adaptação
psicológica". A mãe e a garota seguiram a psicóloga até o
gabinete.
passeou os olhos por tudo, girando com a
cadeira sem entender muito; duas semanas antes estava trancada em seu quarto,
proibida de ir ao enterro de , e agora esta casa com leviana aparência de
hospital.
Alguém, em um dos quartos, ligara uma música
que vinha sorrateiramente aos ouvidos da garota. Já não prestava mais
atenção ao que as duas mulheres à sua frente diziam, mas reconheceu "Lonely
Day" do System of a Down. A letra caía perfeitamente sobre sua vida nos
últimos tempos.
The most loneliest day of my life
(O dia mais
solitário da minha vida)
The most loneliest day of my life
(O dia mais solitário da minha vida)
Such a lonely day
(Que dia solitário)
Shouldn't exist
(Não devia existir)
It's a day that I'll never miss
(É o dia que nunca sentirei falta)
Ainda
distraída, olhou para um porta-retratos da estante e viu a foto de , por
quem estremeceu. Sua mãe levantou-se e deu-lhe um forte abraço, deixando
fora do transe momentâneo. Saiu e foi embora.
- Bem vinda,
senhorita , a partir de agora esse é o seu novo lar...
não se importou quando mudou o assunto. Os dois não queriam falar de
idas e vindas e abandonos, mas não evitavam o assunto. Contudo, ela sabia que
um dia a deixaria, porque ele tinha que voltar para sua própria vida.
Sam
vinha para a sala, à tarde, com seu lenço amarelo enrolado nos dedos. Parecia
um tanto confusa. Sentou ao lado de outras garotas no sofá e comentou algo como
"esquecer vale a pena". estranhou não ver e buscou sua
imagem por todos os lados.
- O que você fez?
Sam parou de falar
para entender a pergunta.
- Como... O que eu fiz?
- Você... Você o
apagou? O esqueceu?
parecia preocupada. Sam sabia o que ela queria
dizer e murmurou um "estou tentando" bem baixo, enquanto as outras
brincavam com retalhos de panos coloridos. Uma delas apontou para a janela e
todas se levantaram para ir até lá, deixando as antigas amigas esquecidas.
Ainda
respirando abafado, não queria acreditar que Sam deixara suas lembranças
serem esmagadas daquela forma. , com certeza, era a pessoa mais importante
em sua vida e estaria chateado com essa atitude. Sam inclinou-se um pouco e
cochichou:
- Estou fingindo...
A outra garota franziu a testa,
inclinando-se também, para que a conversa não fosse estendida a outro alguém.
-
Ninguém pode saber... A doutora quer que eu o esqueça, então é melhor que eu
finja ou...
- Ou o que?
- Ou vocês terão de esquecer a mim...
As
palavras aturdiram a cabeça da garota, fazendo-a ficar mais confusa que
anteriormente. O termo "esquecer" não era bem vindo em seu
vocabulário e Sam, mesmo tão diferente, lembrava a boa atriz do colégio.
retirou-se, despedindo-se da amiga com um sorriso um tanto forçado.
Entrou no quarto e pô-se a encarar o teto. Sam nunca esquecerá ... Nunca
o deixará de lado, nem as lembranças, nem os sonhos... Ao menos que tudo fosse
arrancado pela morte.
And if you go
(E se você for)
I wanna go with you
(Eu quero ir com você)
And if you die
(E se você morrer)
I wanna die with you
(Eu quero morrer com você)
Take your hand and walk away
(Pegar sua mão e ir embora)
A
escola lotava no festival de fim das aulas. Era onde os encontros mais
aconteciam, porque, no ano seguinte, não aturariam mais tudo aquilo, poderiam
entrar em férias permanentes se quisessem.
e Sam andavam pelo lugar,
comendo guloseimas e bebendo um pouco. Algumas vezes se perdiam e se encontravam
em lugares inusitados, como a barraquinha de arrecadação de "fundos para
novas flores na praça". Num desse desencontros, Sam conheceu
, se
apresentaram, se gostaram e não se separaram mais. adorou a nova
companhia da amiga e começou a sentir-se responsável para tornar aquele
relacionamento uma coisa certa e otimista, para que a vida corresse em
perfeição. Queria poder retribuir os cuidados que a amiga tinha quando
chegou em seu mundo, mostrar que o amor unia ainda mais aquela amizade.
Such a lonely day
(Que
dia solitário)
And it's mine
(E é meu)
It's a day that I'm glad I survived
(Fico feliz por ter sobrevivido a dias assim)
Capítulo
11
parou por alguns instantes. A psicóloga então se pôs
de pé e seguiu até a porta, deixando a menina estática no gabinete.
-
Pense um pouco, menina, depois descanse.
estava isolada em seu
pequeno mundo. Olhou em volta e os retratos de pareciam sorrir para ela.
Foi até a poltrona e sentou-se, pegando o casaco cinza escuro e o colocando
sobre o colo. Fechou os olhos.
Something has been taken from deep inside of me
(Algo
foi tirado bem do fundo de mim)
The secret I've kept locked away no one can ever see
(Um segredo que tenho
mantido trancado, ninguém pode sequer ver)
Wounds so deep they never show they never go away
(Ferimentos tão profundos
nunca mostrados, nunca desaparecem)
Like moving pictures in my head for years and years they've played
(Como figuras
se movendo em minha cabeça por anos e anos elas passam)
ligou o som do seu quarto e deixou tocar "Easier to Run" do Linkin
Park, como sendo a última canção, antes de partir. O casaco branco e azul que
vestia não a mantinha tão aquecida quanto os braços de , agora tão frios.
Ela caminhou até a janela e deu uma longa olhada para a sua paisagem. Todos
aqueles lugares em que ela se animava lhe traziam memórias com poderes de
apagar qualquer sorriso. Trancou o vidro e puxou a pequena cortina bege,
voltando a se sentar sobre uma cadeira ao lado da cama. Observou a pequena mala
ao lado da porta e pensou rápido que talvez a estariam fazendo fugir.
Abaixou
a cabeça e chorou baixinho.
If I could change I would take back the pain I
would
(Se eu pudesse mudar eu o faria, tirar a dor eu tiraria)
Retrace every wrong move that I made I would
(Refazer cada passo errado que dei,
eu faria)
If I could stand up and take the blame I would
(Se eu pudesse ficar e levar a
culpa eu o faria)
I would take all my shame to the grave
(Levaria toda a vergonha para a sepultura)
Se
tivesse uma vida pela frente, como ela seria, já que agora carregava um
epíteto pesado e desastroso...?
se levantou da cama assim que ouviu
sua mãe chamar e andou até a cômoda, arrancando uma foto de e enfiando-a
num dos bolsos. Não o matou, não o amor deles...
Suspirou e
começou a dar passos pelo gabinete, segurando o casaco contra o corpo. Por outro
ângulo era assustador. Se partisse, nunca mais sentiria e ele não a
encontraria, já que passaria a odiá-la.
A cabeça de começou a
doer e ela não pôde deixar de notar cinco enormes caixas no lado mais escuro
do local. Se não tivesse caminhado até lá, pensaria que eram uma parte
deformada da parede. Abaixou-se e com um pouco de esforço, puxou uma delas.
Abriu com cuidado, cheia de receios. Não sabia que coisas haviam ali, mas sabia
que poderiam ser importantes. Ajoelho-se mais perto. Era um amontoado de cartas,
grandes, médias e pequenas, e também alguns pacotes amassados, cheios de fitas
coloridas e papéis estampados. Cartas recentes e presentes, talvez de natais
passados, tudo no mesmo esconderijo. Devagar, foi lendo os destinatários,
até achar uma no nome de Sam. O remetente era Josh Melvic, seu irmão. Segurou
com a mão esquerda, junto com o casaco e revirou a caixa novamente, encontrando
uma em seu nome. Seus olhos se encheram de lágrimas ao ler o remetente. Pensou
no tempo que havia gasto ali, enfiou tudo no bolso e guardou os objetos no
devido lugar, saindo e indo até seu quarto, onde prendeu a porta com uma
cadeira.
pôs a carta de Sam embaixo da cama, junto à sua
mala, correu até o guarda-roupa e de lá tirou a foto de , tanto tempo
reclusa no escuro bolso do casaco branco e azul. Sentou-se na ponta do colchão
e ficou olhando do papel, onde seu nome se encontrava, para a foto.
",
Espero
que esteja bem e que não sinta ódio de mim. Hoje, como em tantos outros dias,
me sentei na mesa da sala de estar para lhe escrever novamente. Há tanto tempo
não recebo notícias suas e meu coração, já fraco, está cada vez pior.
Choro quando falo de você e quando penso que está voltando para casa com sua
mala e braços abertos. Sinto falta daquela coisa 'mãe e filha'. Não estou bem
o bastante para te buscar. Seu pai deixou muitas dívidas, como deve saber e meu
estado não melhora. Mas, por favor, espere... você é minha única filha e eu
sofreria amargamente se algo ruim te acontecesse. Repito que não foi culpa sua.
Os acreditam que foi um acidente, eles mesmos me disseram. Escreva para
mim... é só o que eu peço mais uma vez...
Com amor, Mary "
Pequenos
borrões formaram-se sobre a bela caligrafia no papel, devido às lágrimas de
. Então sua mãe se importava, mas nunca soubera. Sentiu uma mão fria
tocar seu rosto.
- Todos se importam, meu anjo, todos... - disse,
encostando o rosto com o dela, que estremeceu. Ela colocou uma das mãos no
rosto do garoto.
De repente, a saudade e a surpresa deram lugar ao ódio.
apertou a carta com muita força contra o peito. A psicóloga a manteve longe de
sua família por todo o tempo, sugando toda a sua vida, fazendo-a pensar que o
mundo a exilara, quando na verdade, ela ainda tinha o que amava. Começou a
tremer, achando que seus pulmões não aguentariam todo o excesso de ar. Tentou
achar uma razão.
- Acalme-se, , tudo tem o seu tempo...
- Agora
sei porque a odeia, ...
- Sim, eu sei que sabe, mas ainda
tem muito a descobrir...
A garota o olhou cansada e o envolveu num abraço.
Acabou adormecendo.
It's easier to run
(É mais fácil corrrer)
Replacing this pain with something numb
(Substituindo essa dor por algo
insensível)
It's so much easier to go
(É muito mais fácil fugir)
Than face all this pain here all alone
(Do que encarar toda essa dor aqui
sozinho)
Caída no corredor, usava um longo vestido
preto. Olhou em volta eo tempo era nebuloso e escuro. Sentou-se ali mesmo,
apoiando as costas na parede, esperando um bom motivo para se mexer. Teve a
impressão de ficar horas assim até ver discutindo com a mãe.
- Eu
te odeio!
Os dois diziam em altos tons de voz. , furioso, jogou um
punhado de papéis no chão e saiu, passando pelo corredor sem nem ao menos
notar , que chamou:
- ...!
Mas o garoto passou reto.
Sentiu
um aperto na garganta, tentando gritar, sem sucesso. O ambiente mudou sem mais
nem menos. Estava com um vestido prata agora.
- ...
Ouviu a voz
de e ficou como uma estátua. Ele veio até ela e entrelaçou as mãos de
ambos, abraçando-a por trás e beijando sutilmente seu pescoço.
- O que
é que está acontecendo, , eu me sinto mal...
- Você só está
encaixando as peças, desvendando o quebra-cabeças...
- Isso não parece
um jogo...
- Eu sei que não.
Sentaram-se no chão. Ela ficou entre as
pernas de enquanto ele brincava com as mãos, querendo dar nós com os
dedos. Parou para olhar o quão vazio aquilo estava.
- O que discutia com
sua mãe?
- Era minha lembrança do dia em que descobri que ela escondia
cartas do meu pai...
- É uma mania?
- Não sei te responder, ela tem
muitas...
Ele passou os braços sobre os dela e cantarolou "You're not
alone".
despertou com fortes batidas na porta.
Empurrou tudo para debaixo da cama - papéis, fotos - e a destrancou. Uma
enfermeira estava parada e olhou a garota da cabeça aos pés. Adentrou o quarto
e verificou se estava tudo em ordem. Em seguida, tirou a cadeira de lá e
levou-a embora. fechou a porta e olhou-se no espelho. Tivera dois sonhos
distintos em um só, e se sentiu mal ao ser tocada por , como se, mesmo
tão perto, ele estivesse fora do seu alcance. Ela se deitou no chão com as
mãos na cabeça, ouvindo o apito do vento ecoar pela sua janela. No meio da
baderna sob a cama, ela puxou a carta de sua mãe e ficou lamentavelmente
quieta. Sua mãe citara dívidas, coração fraco e culpa. O que, em três anos,
poderia ter acontecido com o que chamava de lar?
Sometimes I remember the darkness of my past
(Às
vezes me lembro da escuridão do meu passado)
Bringing back these memories I wish I didn't have
(Trazendo de volta essas
memórias que eu desejava nunca ter)
Sometimes I think of letting go and never looking back
(Às vezes penso em deixar
e nunca olhar para trás)
And never moving forward so there'd never be a past
(E nunca seguir adiante,
nunca haveria passado)
Capítulo 12
Quatro
dias e ainda pensava sobre como
descobrir o que havia ocorrido em sua
casa. Queria ter certeza de que tudo estava em ordem antes de voltar, mas era
algo que ela não sabia como obter. Dispersa em preocupações, ela caminhou
até a sala e se juntou às outras garotas que ali estavam, assistindo a
programas infantis na TV. Olhou pela janela e viu Sam no jardim, chorando.
Take my photo off the wall
(Tire
minha foto da parede)
If it just won´t sing for you
(Se ela não for cantar pra você)
Cause all that´s left has gone away
(Porque tudo o que sobrou se
foi)
And there´s nothing there for you to prove
(E não há mais nada pra você
provar)
foi visitar
a nova casa de Sam, no outro lado da
cidade, sem , mais uma vez. Estava
bastante frio. Ao virar a esquina, deu de
cara com a amiga aos prantos e correu para abraçá-la. O que quer que tivesse
acontecido, era seu dever tentar ajudar, pois sempre é amargo ver alguém que
você gosta, sofrer.
- O que houve?
-
não me quer, nunca
me quis, ele dizia coisa tão bonitas e nenhuma delas era verdade - Sam tapava o
rosto com as mãos, deixando sua voz um tanto quanto abafada. A rua, nada
movimentada, tinha flores caídas das árvores e se tornava colorida, mas nada
ao redor conseguia mudar a infelicidade dentro dela - a mãe dele, ela me disse
que ele estava com a namorada, mas EU sou a namorada dele e ela não pareceu
perceber este detalhe...
não
sabia o que dizer, embora soubesse o
quão desajustados os garotos podiam ser. Ora atenciosos, ora desleixados e
incompreensíveis a todo nível. Tratou então, de convencer que ali houvera
apenas uma pequena confusão, nada além disso...
Oh, look
what you´ve done
(Oh,
olhe o que você fez)
You´ve made a fool of everyone
(Fez a todos de bobo)
Oh well, it seems likes such fun
(Oh bem, parece tão divertido)
Until you lose what you had won
(Até você perder o que
ganhou)
-
Por que o choro Sam? - perguntou,
juntando-se a garota de belos traços
desfeitos pela solidão.
- Eu... eu fiz a minha escolha... - Sam soluçava.
viu de longe. Ele as estava observando
da janela da sala e a impressão era
de que estava desalentado. Ela parou os olhos diante da cena e sentiu um frio
no estômago. Algo estava errado novamente. A palidez da amiga lhe fez concluir
que talvez ela não estivesse se alimentando direito, mas mal queria saber de
pequenos detalhes. Sam parecia demasiadamente abatida e por suas poucas
palavras, era por algo que havia feito.
- Escolha?
Sam sacudiu a
cabeça, dizendo sim. Despejou algumas lágrimas e em seguida abraçou
,
que viu aquilo como algo insperado.
- Eu escolhi ficar,
, ficar aqui! -
Sam se distanciou um pouco, enxugando o rosto com o lenço amarelo. Olhou para o
alto e respirou fundo. Ela transmitia melancolia nos olhos, como se sua alma
estivesse em cacos. Fez um pequeno nó no lenço - ela me perguntou, sabe? E eu
disse que não, que queria ficar!
- A psicóloga?
- Sim... eu... não
quero ir... não tenho mais nada...
- Sam... -
disse pausadamente,
cortando um breve desespero da amiga - eu te trouxe uma coisa, é... uma
carta... do seu irmão.
As duas garotas voltaram os olhos para o papel
rosado, cujo selo tinha uma bela flor estampada. As letras de Josh eram
garrafais e davam um toque de leveza às palavras. Os nomes estavam ali, junto
aos endereços, mas a coragem de ler era mínima. Sam a pegou nas mãos e sequer
abriu, deixando que os sentimentos expressos fluíssem pelo tato.
Inusitadamente, amassou-a e segurou com força.
sorriu ao ver a ponta
de alegria aflorar dos olhos de Sam.
- Nunca repita que não tem nada... -
disse oportunamente.
Levantou-se e seguiu para dentro, deixando a garota
aos sonhos lá no jardim. Era o que ela precisava, saber que não esteve sozinha
todo esse tempo.
caminhou até o
quarto, onde deitou na cama com os
pés encostados na parede e fechou os olhos. A dor de estar só, diminuíra ao
fazê-lo com sua amiga, que agora aparentava estar melhor, mas algo a fazia
questionar o lugar onde estava. Questionar se haviam mais mentiras.
Give me back my point of view
(Devolva-me
meu ponto de vista)
Cause I just can´t think for you
(Porque eu não posso pensar por
você)
I can hardly hear you say
(Eu mal posso te ouvir dizer)
What should I do, well you choose
(O que eu devo fazer, bom você
escolhe)
sentou-se ao seu lado no
sofá da sala vazia. Era dia das mães e
as garotas saíram para ir ao parque fingir que tinham suas mães por perto. Mas
resolveu ficar, talvez sua mãe pudesse
ligar, pensava, ou talvez ela
pudesse invadir o gabinete e ligar escondido para casa. Ficou minutos pensando em
como tudo estaria.
Virou-se e encarou
. Sua face assustada e
pensativa, como se estivesse querendo algum consolo.
- Belo dia. - ele
balbuciou. Passou os lindos olhos pela
sala. A permuta de silêncio
denunciou que ambos estavam sem ânimo para conversar.
mexia as
mãos enquanto ouvia o vento soprar as flores da fachada. Sua expressão não
mudara.
- Por que ela não consegue me esquecer? - disse alto e
rapidamente. quis responder, mas não
sabia o que falar, não conseguia
mais entender Sam e nem a maneira como tratava o caso de
. Nem bem se
entendia. Balançou a cabeça negativamente e completou o silêncio mais uma
vez.
A maçaneta começou a se movimentar e
se pôs sentada
na cama. Ajeitou os cabelos e tossiu disfarçadamente, vendo a psicóloga surgir
na porta. Esta, porém, passou os olhos pelas quatro paredes, verificando se
estava tudo em ordem. Viu o olhar lacrimejado da garota e sentiu que era hora de
contar-lhe a verdade.
- Venha até o gabinete. - disse simplesmente e
saiu.
pensou em não obedecer,
mas algo pedia para lutar consigo e reaver
os fatos. Logo sairia dali, portanto era bom fazer o que a mulher de branco
pedia. Juntou os pés ao chão, levantando-se e caminhando para fora do quarto.
Viu de relance o quarto de Sam, onde a garota arrancava as fotos de
da
parede, guardando-as dentro de uma pasta. Parou. O que estaria havendo? Pensou,
sem tirar as mãos dos bolsos. Sentiu alguém tocar sua cintura e escutou:
-
Ela finalmente compreendeu... obrigado por tudo!
Uma brisa gélida bateu em
seu rosto, fazendo-a virar para . Ele
sorria. Seu corpo começou a
esfriar e a garota achou a situação um tanto quanto estranha.
a encarava
e agradecia, rindo e mirando Sam.
- Adeus.
ouviu o garoto dizer
e de repente, desaparecer. A brisa parara e Sam cantava feliz em seu quarto. Algo
como "Look What You've Done" do Jet. Era como se, por instantes, uma
história tivesse sido resolvida.
Capítulo 13
Os
joelhos tremiam e o silêncio estava de volta. Parecia incrível, mas ele nunca
a abandonara. Depois de alguns minutos, se deu conta de que havia
ido embora, agora para sempre, pois Sam o havia libertado. Sorriu consigo e
escutou uma porta ser aberta. Rumou com medo até o gabinete, onde previu ser
bronqueada por ter fuçado onde não devia, mas se assustou ao ver o jaleco da
psicóloga sobre a mesa.
- Sente-se.
estremeceu e se jogou sobre a cadeira. A tranqüilidade exposta pela doutora a
fez cultivar um certo receio. Olhou para o braço dela, para a cicatriz,
exatamente como no sonho, era idêntica. Sentiu um frio ruim subir pela
traquéia. Era terrível saber que o que vira era real.
- Não
vou mais esconder-lhe nada, senhorita . Seu estado psicológico teve muitas melhoras e já está na hora de voltar às normalidades.
O estômago
pareceu afundar e a respiração tornou-se difícil. teve de se conter
para não gritar, já que não suportava tanta formalidade.
- Que quer
dizer?
A garota arriscou, recebendo um sorriso de volta. Teve a leve
impressão de que o escritório estava maior e mais iluminado, podendo assim,
contemplar melhor os retratos de . A psicóloga recomeçou:
- Quero
dizer que vou lhe contar tudo o que quiser saber... vamos, comece!
A
doutora se sentou frente a frente com a garota e passou a observá-la. No fundo
de toda a amargura, havia uma mulher envolta em sonhos e que odiava seu
trabalho. Mas ela mostrou-se realmente como era, queria paz e sua família de
volta. Ela sentia-se culpada por .
pensou nas milhões de
perguntas em sua cabeça e disse:
- O que aconteceu com a minha casa, minha
família?
A garota teve medo da resposta, mas ouviu, séria.
- Sei que
em três anos você nunca teve notícias, , mas é hora de saber. Depois
que você foi trazida para cá, seu pai saiu de casa e deixou a cidade - a
doutora pausou a frase ao ver a expressão inconformada da menina - seja forte -
concluiu. Sentiu que poderia continuar - ninguém sabe dele.
sacudiu
a cabeça e se lembrou de um outono antigo.
Well when you go
(Quando você partir)
Don't
ever think I'll make you try to stay
(Não pense que vou tentar fazê-la ficar)
And maybe when you get back
(E talvez quando você voltar)
I'll
be off to find another way
(Eu terei saído para encontrar outro caminho)
Seu
quarto estava todo empacotado. Acabara de se mudar e havia adorado a vista
de sua nova casa. Foi até a porta e escutou pequenos murmúrios, o que a fez
aproximar-se do quarto de seus pais. Ficou assistindo a uma pequena discussão,
prevendo que um dia, tudo acabaria. Ela sabia que seus pais não mais se amavam
e isto há um longo tempo. A única coisa que desejava era que eles entrassem em
um acordo e recuperassem a harmonia da casa, o que não era nada fácil.
-
Sei que poderá me odiar e, convenhamos, quero que saiba que eu própria me
odeio, mas seja corajosa, menina. Sua mãe sempre lhe escreveu e em todas as
cartas declarava o quanto te amava.
piscou seguidamente. Sabia do que
falavam. A doutora continuou:
- Ela queria seu bem e conseguiu me fazer
entender que você só estaria apta a sair daqui quando soubesse definir quem
eram as pessoas que realmente se importam... e o momento chegou.
A garota
brincava com a blusa e parou. Os olhos chegaram a brilhar.
- Quer dizer que
vou poder ver minha mãe?
- Não... não mais...
Sua esperança fora
corroída visivelmente. Se fosse uma árvore, todos os seus galhos
cairiam. As garotas se reuniram na sala para ouvir I Don't Love You do My
Chemical Romance e balançar os cabelos ao som da música. O coração de
foi sendo cortado devagar e ela insistiu em não chorar.
- Por... por quê?
- gaguejou.
- Ela teve problemas com o coração. Pedi a ela para cancelar
sua estadia aqui, mas ela recusou. Repito: queria o seu bem, somente o seu.
Pediu para cuidá-la e para esconder-lhe tudo o que pudesse vir a causar algo
pior, mas ela morreu. Ela pensou que teria tempo de vê-la se recuperar e até
eu acreditei, mas o mundo não lhe deu tempo suficiente.
And after all this
time that you still owe
(Afinal depois de todo esse tempo que me tomou)
You're still a good-for-nothing I don't know
Você ainda é essa inútil que eu nem conheço)
So
take your gloves and get out
(Então pegue suas luvas e vá embora)
Better get out
(É melhor ir embora)
While you can
(Enquanto
você pode)
Uma lágrima escorreu dos olhos da garota viajando
por seu rosto. Concretos desmoronavam dentro dela, trazendo a poeira para as
pálpebras. Suas mãos oscilavam sobre os braços da cadeira e ela jurava ouvir
um agudo zumbido penetrar seus neurônios. Morta? Era a última coisa que
desejava ouvir. Demonstrou um pouco de frieza e despejou:
- Por que me
escondeu isso?
- Acha que estaria viva se soubesse? - a doutora disse
calmamente - por que acha que Mandy se suicidou? Ela tinha passos e tratamentos
pela frente... poderia estar curada hoje, mas jogou tudo fora ao saber que seus
pais estavam mortos.
Cada palavra assustava mais do que sentir pontadas
fortes na cabeça. ouvira tal comentário, segurando-se para não surtar,
já que um redemoinho de lembranças confundia seu cérebro. Mandy era mais
sensível do que imaginara.
- Todos passam por isso, perdem pessoas...
Mandy não foi tão forte quanto Sam está sendo. Ela pensou que não tinha mais
nada e quis acabar com o garoto que a amava para que ele não sofresse. Escondi
as coisas de você para que não cometesse os mesmo erros e garantir que,
brevemente, poderia lhe dar opções, crente que faria as escolhas certas... - a
psicóloga continuou a explicar, tentando ao máximo oprimir o drama. - ... e eis
que concluo ter acertado. Aí está você, menina...
Os olhos encharcados
foram rapidamente enxugados pela manga da blusa de , que repetia o gesto a
cada momento. Estava compreendendo... tudo se encaixava.
- Você e todas
essas meninas passaram por situações conturbadas e garanto que permanecer num
lugar como este não é a melhor coisa do mundo. Apesar disso, conheço cada
tristeza e amargura por ter vivido algo semelhante...
- Com ?
A
doutora inspirou fundo, tomando um pequeno gole do café, aparentemente quente
pelo vapor que emitia. Olhou em volta, para os retratos e chaves e sorriu
francamente.
- Que bom que chegou a este ponto, eu o estava esperando, mas
antes preciso que me responda: o que significa pra você?
- é
o garoto que me deu forças para continuar...
When you go
(Quando você partir)
Would
you even turn to say(Você deveria ainda sim voltar para dizer)
I don't love you, Like I did yesterday
(Eu não te amo, como amava ontem)
A
quarta noite num lugar desconhecido não imprimia imagens muito diferentes.
estava sentada na cama, a mala desarrumada no chão. Sentia um vento frio
invadir o local, pois deixara a janela aberta para tentar não sentir-se
sufocada. A cada hora, a lua tornava-se mais chamativa e iluminava um canto da
porta fechada. Assim que resolveu se levantar e caminhar pelo quarto, ouviu um
som abafado vindo de fora. Não temeu e abriu a porta devagar. noite
nefasta deixava o corredor obscuro, mas ela pôde ver o vulto de um garoto
passar e parar um pouco à frente.
- Quem é você?
Disse baixinho,
mas ele não a ouviu, ou fingiu, e se dirigiu até outro quarto, sendo seguido
por , nem um pouco intimidada. O perfume e a sombra do garoto a atraíam
como se já o conhecesse. Até um ponto, os dois seres se encontravam imóveis e
compenetrados no silêncio. sentiu seus joelhos amolecerem e caiu com eles
no chão. Não sabia de onde havia vindo essa fragilidade, mas o medo começava
a se apossar de seus nervos, impedindo-a de manter-se em pé. Após cinco longos
minutos, o garoto se ajoelhou em frente à menina e segurou seu rosto com
delicadez, fazendo-a encarar seus olhos azuis.
- Eu sou o ...
Sometimes
I cry so hard from pleading
(Às vezes eu choro tanto por implorar)
So sick and tired of all the needless beating
(Tão doente e cansado dessa violência desnecessária)
But
baby when they knock you
(Mas, meu amor, quando te derrubarem)
Down and out
(No chão e te jogarem pra fora)
Is where you oughta stay
(É lé que você deve ficar)
A
psicóloga acariciou seu braço direito e riu baixinho, tirando do transe.
Logo sua face tornou-se séria novamente.
- sempre foi um bom menino,
sabe? Meu único filho...
- E o que houve? Por que ele insiste em ter ódio
de você?
A doutora mordeu os lábios e sentiu que ficara pálida. Tapou o
rosto com as mãos e se pôs a chorar, como no fim de um trágico filme.
So
fix your eyes and get up
(Então dê um jeito em seus olhos e levante-se)
Better get up
(É melhor se levantar)
While you can
(Enquanto você pode)
continua...
N/A: É,
acabou. Só quero agradecer à todos que tiveram paciência de ler e dizer
que
eu amei os comentários... deixei todo mundo pensando nesse fim, que nem
foi
tão legal, mas deixou claro que eu adoro essa coisa que fica entra a linha
do
sobrenatural e da vida. A fic começou a ser escrita no finzinho de 2006 e
foi
finalizada em 2007, mas só depois de um tempo eu resolvi mandá-la para o
site.
Está há um tempão no ar o.O
As quinze canções:
1. The Truth - Good
Charlotte
2. Chasing Cars - Snow Patrol
3. Stop Crying Your
Heart Out
- Oasis
4. Sono Profundo - Fresno
5. Untiltled - Simple Plan
6.
Lonely Day - System Of A Down
7. Somewhere Only We Know - Keane
8. My
December - Linkin Park
9. Too Close For Comfort - McFly
10. Oh,
My
Love - John Lennon
11. Easier To Run - Linkin Park
12. Look What
You've
Done - Jet
13. I Don't Love You - My Chemical Romance
14.
Letting The
Cables Sleep - Bush
15. Bubble Wrap - McFly
Obrigada a
todos, eu
amo mto vocês!
E estas são as fics que eu tenho aqui no
site:
15 Canções [McFly/finalizadas]
xD
Valentine's Day 1, 2 e 3 [McFly/finalizadas]
You Should Be With Me [McFly/finalizadas]
Fim de Festa [McFly/finalizadas]
Happy Kids [McFly/finalizadas]
I Can't Wait Forever [Simple Plan/finalizadas]
Dentista [Hein?/finalizadas]
Love Like A Bomb [McFly/em andamento]
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