O cara da poltrona ao lado
por: Duh e Becki
beta: May

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Online: lendo a fic

"Auimaue
Auimaue
In the jungle,
The mighty jungle
The lion sleeps tonight"


Cara, eu era viciada em Rei Leão, mas depois de anos acordando com "The lion sleeps tonight" e o "auimaue" eu meio que quero matar Simba e companhia.

"In the jungle,
The quiet jungle
The lion sleeps tonight"


Um pouco antes do agudo do Timão, bati a mão no despertador. Tentei lembrar da onde vim, para onde vou e quem sou, até que meus olhos bateram no relógio, meus neurônios começaram a funcionar e me dei conta que estava muito, muito atrasada.
Levantei da cama rápido e fiquei zonza, mas mesmo assim consegui enxergar que minha mala ainda estava aberta e pela metade. Merda! Eu só tinha 1 hora pra tomar banho, terminar a mala, tomar café, chamar um táxi e pegar o engarrafamento matinal de Londres para chegar ao aeroporto.

Legal perdi 1 minuto e meio só fazendo minha agenda mentalmente.

Corri para o banho e tomei coragem para abrir somente a torneira de água fria. Banho quente só dá mais vontade de dormir, e acredite, eu já cochilei embaixo do chuveiro.
Terminei o banho e joguei o resto das roupas que tinha separado na mala. Nem liguei se chegariam todas amassadas e minha mãe daria um daqueles chiliques do tipo "Você ainda não aprendeu a passar roupa? Se vestir isso vai ficar parecendo um maracujá de gaveta". É, minha mãe é muito carinhosa.
Acabei saindo de casa sem comer nada, já faltavam 15 minutos para o avião sair e ainda teria que fazer o check-in. Por que eu não aprendo a usar as tecnologias e faço o check-in pela internet? É tão mais prático. Um defeito meu: Complicar as coisas.

Xx~~

Cheguei ao aeroporto pra entrar na sala de embarque quando um guarda fortão me olhou duramente como se eu fosse uma terrorista. Ia abrir a boca para discutir com ele quando me lembrei que não tinha passado no check-in. Ok! Tudo bem, respire . Estou atrasada e ainda tenho que rodar todo o aeroporto para encontrar os balcõezinhos.
Enfim cheguei à sala de embarque, no horário, com meu café que comprei no caminho. Talvez a cafeína melhorasse o estado deplorável que eu me encontrava. Tenho certeza que quando chegar a Sydney vou ouvir como boas vindas da minha mãe um comentário sobre minha falta de noção fashion. Voltando a dizer, minha mãe é muito carinhosa. Não posso fazer nada se minhas irmãs são protótipos de manequim de vitrine da Barney's.
Vi um lugar vago junto de um garoto que estava lendo uma revista. Eu precisava conversar com alguém e ele parecia ser um cara legal. Quem lê Rowlling Stones sempre é legal, segundo meu pai.
- Oi. Vai fazer o que em Sydney? - Perguntei me sentando muito empolgada, o que acabou fazendo com que ele fosse atingido com minha enorme bolsa feita com retalhos de roupas velhas. Minha mãe odeia essa bolsa, mas nela cabe tudo, é original e fui eu que fiz! Tenho muito orgulho disso. - Desculpa!
- Ah, tudo bem... - Ele nem tirou os olhos do que estava lendo. Ok! Tenho que aprender que nem todas as pessoas gostam de bater um bom papo como eu.
Consegui ficar calada por uns 2 minutos. Mas, cara, eu não agüento! É muito desconfortável ficar em silêncio do lado de uma pessoa.
- Tá lendo o que? - meti minha cabeça dentro da revista
- Hãn? - Ele afastou a revista tirando ela do meu campo de visão mostrando que estava desconfortável com minha pequena invasão de privacidade.
- É, o que você tá lendo? - Dessa vez falei sem ultrapassar o braço da cadeira.
Ele fez uma cara de "O que essa maluca quer?".
Por que os ingleses são tão frios e não conseguem ter uma conversa?
Ainda não me acostumei com isso.
- Tá. Te assustei, né? - Comecei tentando conquistar a confiança dele - Meu nome é Crow. - Estendi a mão.
- Ah... - Ele falou ainda com desdém no rosto - .
- Ah , você vai fazer o que lá na Austrália?
- Eu tô de férias e resolvi ir pra lá - falou voltando a abrir a revista querendo cortar o papo. Só que eu não vou desistir! Eu estou prestes a fazer uma viagem de 20 horas e preciso de um ser para dividir minhas angústias.
- Eu sou australiana. Tô indo para o casamento da minha irmã Bridget. Tô morando em Londres há dois anos e...

"Passageiros do vôo 1456 com destino a Sydney, Austrália. Se direcionar ao portão 7".

- Somos nós! - Falei empolgada quando fui interrompida pela voz calma e nada afetada da mulher do alto falante.
Me levantei um pouco desajeitada, como de costume, e fui pra fila.

Xx~~

- Bom dia! - A aeromoça me recebeu na porta do avião.
Eu nunca conseguiria ser aeromoça nem por míseros segundos. Elas fazem um coque que correm um risco de ficar carecas de tão puxado que é, além de que elas conseguem ser tão sutis. Eu tenho muita inveja disso. Não consigo andar de salto nem nas plataformas. Pra mim é muito mais seguro manter os pés no chão.
Respondi com o mesmo sorriso que ela e fui andando no corredor apertado e cheio de gente do avião.
...14 C... Onde está minha poltrona?... Ah... Aqui. Vi meu lugar onde duas velhinhas estavam implicando uma com a outra e a poltrona que sobrava era da maldita janela. Eu odeio janelas de avião! Na verdade eu tenho medo de avião e as janelinhas só fazem piorar a situação.
Fui me sentando na cadeira com dificuldade e acabei batendo minha bolsa na testa de uma delas.
- Porr*! - A que foi atingida soltou.
- Desculpa - Falei meio sem graça.
Respirei fundo já sentada e comecei a fazer meu ritual de sempre antes que aquele monstro começasse a decolar.
- Desculpa senhoras, mas... - Comecei - vocês poderiam falar mais baixo?
- Senhoras não! Senhoritas.
- Quem você acha que é? - A outra falou. Quer dizer: Gritou.
As duas pararam de discutir entre elas e começaram a brigar comigo. Eu sempre tento melhorar a situação, mas as pessoas simplesmente não me compreendem.
Tudo bem, eu vou tentar me acalmar sem a ajuda delas. FLORAIS! É claro! Vasculhei minha bolsa e achei o vidrinho com a essência. Joguei umas gotas na boca e encostei minha cabeça na poltrona fechando meus olhos. Ok! Nada vai lhe acontecer . Você está protegida. A probabilidade de alguma coisa acontecer é uma em um milhão.

"Senhoras e senhores o avião irá decolar daqui a alguns instantes".

Elas começaram a fazer aquelas demonstrações de segurança e eu percebi que eu não estava calma. O desespero começou a tomar conta de mim!

"As máscaras de oxigênio irão cair automaticamente...".

Enquanto todos estavam ouvindo tranqüilamente às recomendações, eu me levantei bruscamente e uma luz iluminou meus pensamentos.
Vi um garotinho sentado umas duas cadeiras na minha frente na poltrona do corredor.
- Ei menino! Que tal trocar de lugar comigo, hein? Eu estou sentada na janela, tem uma bela paisagem... - Eu devia está com cara de desespero porque todos os passageiros me encaravam preocupados.
- É... - O garotinho olhou pra uma mulher - Posso mãe?
- Não, por que isso? - que estava sentado do lado do garotinho se intrometeu na conversa.
- Nós precisamos conversar - Ele me olhava com uma cara de desespero. Provavelmente ele não queria a companhia de uma maluca feito eu. - Meu amor, precisamos nos acertar. Não podemos viajar brigados não é? - Torci pra que ele não desmentisse minha história.
Ele arregalou ainda mais os olhos. Meu Deus! Como o medo me afeta.
A mãe parecia ter concordado porque o garotinho estava vindo na minha direção com seu ursinho. Ela devia ser uma daquelas mulheres românticas que fariam de tudo para que um casal apaixonado se acertasse. Agradeci mentalmente por existir romances e mulheres sonhadoras.

Xx~~

- Oi . - Falei sorrindo enquanto apertava meu cinto.
- Por que você fez isso sua... Sua louca? - Ele ainda me olhava incrédulo com a situação.
- Ah, desculpa! - Um dia eu ainda conto quantos "desculpas" eu falo por dia - É que... Sabe, você é meio caladão, né? E eu precisava de concentração.
Ele me olhou com irritação e voltou a ler sua revista.
Ta, isso não foi um gesto muito educado. Mas ele tem um pouco de razão, não é sempre que uma maluca diz para todo o avião que é sua namorada e vocês estão em crise.
Mas eu não tinha outra opção.
Fechei os olhos novamente enquanto já sentia o avião ganhando altura.
Num gesto sem pensar acabei agarrando o pulso dele. Eu precisava de segurança masculina.
- Ei... - ele falou balançando seu braço - Minha circulação.
- Calma... Só espere até o avião se estabilizar.
- Contanto que o sangue volte a circular...
Soltei a mão dele quando a luzinha que liberava o cinto acendeu.
- Eu tenho medo de avião - Falei abrindo os olhos.
- Sério? Eu não tinha percebido. - Ele voltou a folhear.
Eu comecei a ficar com raiva daquela revista. Eu sou uma garota problemática, eu preciso de um mínimo de apoio nessa hora difícil.
- Vai ficar em Sydney mesmo?
- Você não precisava de silêncio e concentração?
- É, mas só nas horas críticas.
- Ah... Então o resto do tempo você gosta de atrapalhar a concentração dos outros.
Porr*, que fora.
- Ah, tudo bem, não vou mais atrapalhar o senhor irritadinho.
Tirei meu discman da bolsa com o CD de Arctic Monkeys e comecei a cantarolar, olhando para o corredor.


"They've sped up to the point where they provoke
The punchline before they have told the joke
Plenty of desperation to be seen
Staring at the television screen".


Quando virei o rosto o vi fechando a revista e me encarando.
- Você quer conversar? Tá, vamos conversar. Faço tudo para você parar de cantar.
Tentei intimidá-lo com meu olhar de reprovação ao seu comentário, mas só fez ele dar uma risada, muito linda por sinal.
Eu não posso fazer nada, sou uma criatura doce e não consigo ser dura com ninguém.
Tirei meus fones e ele comentou olhando para o meu discman.
- Você ainda usa isso?
- Isso eu não troco por nenhum mp3. Ele me acompanha desde a infância.
- Infância de seu pai você quer dizer.
Eu ia retrucar, mas ele estava começando a falar e eu não podia perder essa oportunidade.
- Tô vendo que você é uma defensora do planeta Terra.
- Ah... - ele provavelmente reparou nos mil adesivos do Greenpeace colados no meu aparelho. - É, sou sim. Trabalho pra National Geographic!
- Então é por isso que você está morando em Londres?
- É, basicamente por isso. E você trabalha, estuda, filosofa...?
Ele deu mais uma risadinha fofa. Acho que finalmente conquistei a confiança dele. Pelo menos ele não estava mais com aquela cara.
- Eu trabalho em uma das lojas de meu pai e tenho uma banda com meus amigos.
- Loja de que?
- De música. Vende de CDs até amplificador de som.
- Qual o nome?
- Musical Store.
- Não acredito! Eu adoro aquela loja. Foi a única de Londres que encontrei o CD de meu pai.
- CD de seu pai?
- É... Ele era um rock star nos anos 70. Não muito conhecido. Não eram todos que curtiam o estilo diferente de meu pai.
- Qual o nome dele?
- Ronald Crow.
- Ah, já ouvi falar nele. Aquele coroa com a tatuagem de "não mate as baleias" nas costas - Eu concordei animada, nunca o reconheciam quando eu contava sobre meu pai. - Acho ele da hora!
disse rindo e balançando a mão direita como os roqueiros faziam antigamente.
- Depois de alguns anos na banda, ele foi expulso. Não aceitavam o seu jeito pacifico de ser, enquanto os outros gritavam e se drogavam, ele preferia participar de campanhas contra a extinção do mico leão dourado.
- Aaah! Ele parece ser um cara legal!
- Bem, só eu entendo ele. Nem minha mãe o compreende... - Então eu comecei a tagarelar, quem mandou ele abrir uma brecha? - Ele queria que o casamento da minha irmã fosse ao ar livre, com incensos invés de vela na mesa dos convidados, mas a Brittany disse que o vento iria desarrumar o cabelo das pessoas e o incenso deixaria um cheiro horrível no seu vestido e...
- Mas a sua irmã que vai se casar não é a Bridget?
- Você prestou atenção ao que eu disse?
- Você não me deu alternativa... Você fala quase gritando...
- Haha, é que certas pessoas só escutam os outros assim, sabe, elas deveriam ser um pouco educadas e demonstrar um mínimo interesse no que o outro diz.
- Eu não costumo ser abordado por pessoas histéricas e que não sabem se comportar normalmente dentro de um avião.
- E eu achava que as pessoas eram mais piedosas e ajudavam o próximo quando sofre de alguma fobia. É isso que falta no mundo, mais compaixão... O mundo seria bem melhor se...
- Se você me deixasse ler minha revista sem interrupção - voltou a pegar a revista para minha frustração, na verdade, eu não queria mesmo mais conversar com alguém que não mantém um papo legal e descontraído com a companheira de poltrona. Primeiro eu encaro duas velhinhas solteironas e mal comidas e agora um grosso e antipático. Será que eu não merecia algo melhor depois de ajudar Koalas perdidos no meu último trabalho no set?
Botei os fones no ouvido de novo, mas voltei a ter um pequeno ataque de pânico, quando observei aquele local fechado e o ar começou a sumir dos meus pulmões, tinha que voltar a conversar com o mal educado do ...
- Então, tenho duas irmãs a Brittany e a Bridget, elas são gêmeas, uma vai se casar nesse final de semana e a outra tá com inveja. Ela tem uma mania irritante de fazer tudo igual a outra... - Eu tinha que continuar falando e falando e tentar esquecer que estava a milhões de quilômetros do chão. - Elas são mais velhas do que eu, sabe, eu tenho uma família bem grande, tenho mais quatro irmãos, O Chad, o mais velho, depois veio o Colin, as gêmeas e finalmente eu. - eu dizia tudo rápido e embolado, apertando a cadeira ao máximo como se isso dependesse a minha vida.
- Certo, só respira. - ele disse com aquela suavidade irritante, será que ninguém percebia que não tinha como escapar dali? Senti um pequeno tremor debaixo dos meus pés. Isso não podia ter acontecido.
- Você sentiu?
- Sentiu o que?
- Isso! Esse tremor...
- Não senti nada , você está imaginando coisas...
Tá, eu realmente tenho uma imaginação muito fértil, deve ter sido só fruto da...
- Agora você sentiu não foi? - Falei querendo que ele percebesse que eu não era uma maluca, o avião realmente estava tremendo...
- É, deve ter sido só uma nuvemzinha, não faça dramas...
- Tudo bem... 1, 2, 3, 4, 5, 6...
- Hum... É... Então, como vai ser o casamento?
Meu deus não tem mais oxigênio, o ar está acabando, estamos caindo, não estamos? Preciso respirar...
Até que senti um dedo me cutucando no rosto.
- , pare de prender a respiração, assim você vai ficar sufocada, tá até ficando branca, só respire, ok?
- Ah! OK - Finalmente reparei que eu é que estava trancando o ar nos pulmões.
- Só tente não ficar tão nervosa, o piloto deve ter passado por uma nuvem mais carregada, nada demais... Fique bem, certo... É, se isso te conforta... Eu tô aqui do seu lado...
O que havia acontecido com a falta de tato com a minha fobia? Agora ele me lembrou meu velho pai quando viajei pela primeira vez aos sete anos de avião. A diferença é que ele parece ser da minha idade e bem, não tem aquela pança instalada na barriga.
- Obrigada.
Ele ficou me olhando por um tempo, acho que esperava que do nada eu desse um ataque.
- ?
- Hum?
- Você tava irritado com alguma coisa? Quero dizer... Você parece ser legal... E parecia tá meio irritado com alguma coisa...
- É que meus amigos foram uma semana antes para o acampamento, onde eu vou passar as férias. Eu tive que ficar em Londres até hoje por causa da loja. E já perdi varias coisas que rolaram por lá... Eu tô mesmo meio chateado com isso. Não liga não... Eu não costumo ser tão rabugento assim.
- Ah, que bom! Eu já estava achando que você era a miniatura do meu avô. Ele é meio assim... Reclamão! - Ele tava sorrindo, e a tremedeira no avião até passou, milagres acontecem? Acho que sim.

Xx~~

Já tinha comentado o quanto bonito esse garoto é? Pois é! Muito bonito e ele tem certo charme. Já havia passado algum tempo e até ali estava tudo tranqüilo. me contou um pouco da vida dele. Ele tinha uma banda com os amigos, estuda administração para ajudar nos negócios do pai, mas o que ele quer mesmo é seguir carreira com o Mcfly. Enquanto ele contava e eu deixava minha boca momentaneamente parada, deu tempo de perceber melhor o sorriso canto de boca que tem mania de dar, o sarcasmo em suas frases e o jeito que cruzava as pernas, não sei como aquelas pernas enormes cabiam ali. Malditas fileiras apertadas de avião, xinguei mentalmente com piedade do coitado.
- Posso falar uma coisa que eu estava reparando? - disse tirando os olhos do meu braço e me encarando nos olhos. Minha respiração acelerou, não me sinto muito confortável quando uma pessoa fica me reparando. Logo fico angustiada se ela percebeu como meus peitos são pequenos demais. Trauma pré-adolescente, ainda não superei muito bem isso, desde que descobri que eles ficariam assim pra sempre a não ser que eu encarasse uma cirurgia como já sugeriu minha mãe. Claro que eu não encararia.
- Pode dizer.
- Você coleciona essas pulseiras? Por que eu nunca vi alguém com tantas pulseirinhas em um braço só. - Respirei aliviada, talvez não fosse do tipo tarado ele preferia observar minhas queridas pulseiras a meus seios.
- Ah! Não coleciono, elas são tipos pulseiras sentimentais. Cada um tem um significado ou lembra um momento ou alguma pessoa... Essa foi uma amiga minha que trouxe de uma viagem à África há sete anos atrás, ela sabia que eu queria muito mesmo ir a essa viagem. Então ela viu um dos nativos fazendo pulseiras manualmente e pediu para fazer uma pra mim.
- Nossa, e depois de todo esse tempo você nunca perdeu ela?
- Ah não! Acho que minhas pulseiras são as únicas coisas no mundo que eu nunca perdi na vida, depois que ponho uma no braço não tiro mais. Só quando tem algum evento chique para ir, mas eu não vou muito pra essas coisas... Essa aqui foi de um cara famoso que deixou cair na viagem de navio que eu fui com minha família. - Ele olhou para mim como se eu fosse uma cleptomaníaca - Ei... Eu não tenho culpa!
- Tudo bem, eu não te culpo, ela é realmente bonita! - A pulseira era de prata, creio que a mais sofisticada entre as outras de contas coloridas e cheias de vida. Elas eram minha marca. Únicas e carregavam muitas memórias.

Xx~~

- Com licença, os senhores aceitam almoço?
- Não obrigado!
- Eu quero! - falou olhando para a aeromoça e ela entregou a refeição - Tem o que pra beber?
- Senhor, temos refrigerante, suco de uva e laranja e whisky.
- Eu quero um suco de uva, por favor.
- E a senhora? - A aeromoça voltou a falar comigo.
- Não... Olha posso dar um palpite?
- Claro senhora.
- Vocês deveriam mudar essa embalagem da comida. Isso aqui é plástico, sabe quantos anos demora pra se decompor no ambiente? 100 ANOS! Duvido que reutilizem isso aqui...
- Desculpe, mas isso é com a fornecedora de alimentos - Ela disse já se afastando.
- Você tem problemas? - falou comendo um pedaço de frango
- Não tenho problemas, você que deveria ter piedade dos pobres franguinhos que você está devorando agora!
- Além de protetora dos animais, também é vegetariana?
- Claro! Imagine você ser criado e alimentado só para no final ser alimento de humanos DESUMANOS.
- Nossa, que profundo, mas é a cadeia alimentar, meu bem!
Nessa hora me irritei e como não tinha resposta pronta peguei minha marmita e comecei a comer minha salada.
- E as plantinhas? Você acha que elas não têm vida? - Ele perguntou.
- Tem, mas... Ah eu não conseguiria sobreviver só de luz.
- Pois é, mas as plantinhas conseguem. Elas nos dão oxigênio e não tiram nada de nós, enquanto os animais comem uns aos outros. Você acha isso justo? - Ele comeu outro pedaço de frango.
- Ih , cala boca. Não me deixe com remorsos.
Ele riu vitorioso. Sacana.

Xx~~

Lá das profundezas do meu sono ouvi aquela voz calma da aeromoça entrando pelos meus ouvidos. Não tinha idéia de quanto tempo fiquei ali dormindo. Enquanto acordava fiquei feliz crente que iríamos pousar, mas o grande tremor me fez cair na realidade!

"Senhores passageiros, estamos passando por uma área de turbulência. Gostaríamos que se mantenham sentados e com os cintos. Dentro de instantes poderão voltar a circular pelo avião.Continuem tendo uma boa viagem. A Airlondonlines agradece a preferência".

Pronto. Agora sim entro em pânico total. Virei pro lado em busca do apoio de , mas ele estava dormindo e detalhe, de boca aberta. Como você faz para acordar um estranho? Fiquei com vergonha e receio que ele fosse uma daquelas pessoas mal-humoradas quando são acordados.
Então, tentei me esbarrar nele fingindo não ser proposital, mas ele só fez resmungar. Ai meu Deus, não posso ficar aqui sozinha, "acorda , acorda ". Tentei acordá-lo mentalmente.
Não sei se foi pela minha força do pensamento ou pelo tremor que houve, mas ele acabou acordando. Graças a Deus!
- ! - Me agarrei ao pescoço dele
- Eiii, que foi?
- Turbulência!
- Tá, mas sou eu agora que não tô conseguindo respirar, você pode largar meu pescoço?
- Ah, desculpa - Eu ia soltá-lo juro, só que a merda tremeu de novo e eu não consegui largá-lo. Aquilo tudo não podia ficar pior... Só um detalhe salvava: O cheiro que vinha do pescoço de . Esse perfume acalma qualquer mulher em estado de pânico. Por que ele não me ofereceu o pescoço para cheirar antes? Seria tudo mais tranqüilo.
- , eu não vou poder te ajudar se eu morrer sufocado.
- Desculpa, mas eu não consigo! - Falei meio chorosa. Eu sempre faço essa voz ridícula quando estou nervosa.
- Certo vamos aos poucos. Primeiro você tira um dedinho... Isso! Agora o outro... Isso, tá indo bem... Pronto, tá vendo como é fácil. - Depois que ele parou de falar como se eu fosse uma criança de 10 anos e consegui me afastar do pescoço dele lentamente. Nossos olhos se encontraram. Essas coisas geralmente me deixam sem graça, mas era simplesmente impossível desviar daqueles olhos . Até que o filhodaput* do avião deu um chilique e eu soltei um gritinho nervoso. E adivinha? Ele passou os braços pelo meu ombro fazendo com que eu encostasse minha cabeça nele.
- Relaxa que isso é normal. Olha como as pessoas estão calmas, viu? - Ele começou a fazer cafuné em minha cabeça. Depois disso, seria estranho desejar que aquela turbulência não acabasse? - Ei, você tem uma tatuagem aqui na nuca! Que língua é essa?
- Ah, português! Gostou?
- Se eu tivesse entendido o que tem escrito...
- Relaxa, eu traduzo: "O amor foi a pedra que faltou no alicerce da nação".
- Você fala português?
- Sim... Haha... Na verdade, não. Só sei essa frase mesmo, descobri o que significava no tradutor on-line! É uma musica...
- Portuguesa? - Ele ainda continuava mexendo nos meus cabelos. Ai como isso é bom!
- Não. Brasileira.
- Ah... Eu também tenho uma tatuagem bem chocante.
- Onde? - Me levantei do seu ombro animada. Nem me lembrei que meu cabelo devia tá meio... Desarrumado.
- Aqui - Ele me mostrou seu pulso e eu vi a sua "tatuagem chocante"
- Um pato Donald?
- É! Eu queria ser ele quando era criança - Ele falou com a voz do pato.
- Nossa, realmente muito chocante.
O avião ainda estava na área de turbulência e um garotinho começou a chorar...
Iai involuntariamente...
- Você tá chorando? - Eu quero me matar. Por que eu não consigo me comportar normalmente pelo menos quando estou perto de caras gostosos?
- Não... - as lágrimas corriam. Merdas de lágrimas - Você não acha que tá demorando demais essa turbulência? - Tá tudo bem, - Ele disse olhando pra mim - Se te ajuda... Pode apertar minha mão.
Segurei a mão dele e não é que meu nervosismo diminuiu?! Ficamos calados enquanto eu amassava a mão dele atá que uns 10 minutos depois a voz da aeromoça voltou.

"Senhores passageiros, o mal tempo está causando este desconforto, mas o piloto pediu para avisar que daqui a 15 minutos estaremos pousando no aeroporto internacional de Sidney".

Xx~~

- Acho que finalmente a tormenta acabou.
E acreditem, isso não estava sendo tão feliz como esperado...
- É...- Soltei a mão dele relutante. Tava tão bom! - Já vamos pousar...
- Parece que sim!Está mais calma agora?
- Eu consigo me controlar por 15 minutos. - Ele deu mais uma daquelas risadas de canto de boca. Eu estava apaixonada por aquela risada.
- Então , você vai ficar somente pro casamento?
- Não, tô voltando só depois do Natal. Três semanas na casa de meus pais, não sei se vou agüentar - Rimos - E você?
- Em janeiro. Daqui eu vou para a Nova Zelândia, os esportes radicais da Austrália não são suficientes para os meus amigos.
- Então você veio para a minha terra pra isso?
- Basicamente.
- Então você não vai ficar em Sydney, não é?
- Não! Só salto no aeroporto mesmo. Meus amigos vêm me buscar. Pelo menos isso...
- Ah... - Eu olhei pela janelinha do avião, quase pulando no colo de , e vi Sydney. Cara, eu amo minha cidade!
- , esse é meu lar.
Ficamos olhando a janelinha até que a aeromoça falou que já íamos pousar.
Normalmente seria o momento mais emocionante do vôo. Eu sempre começo a curtir a viagem quando somos avisados que o avião vai pousar e fico observando a cidade de cima. Na minha cabeça nada pode dar errado nesse meio tempo.
Mas eu não tava feliz, nem curtindo a viagem e tinha uma leve suspeita que isso tinha haver com o garoto do meu lado.
Por um momento, pensei que quando chegássemos à Londres poderíamos nos comunicar e sair, sei lá. Mas... Eu não sei nada sobre ele. Só passei algumas horas dentro do avião com ele e já tava assim toda derretida? Além do mais eu devia ter assustado o pobre coitado, depois dos meus "ataques", não sei se conseguiria encarar ele em um encontro normal, tipo, ele já conhece alguns dos meus defeitos, não é? Não haveria como esconder que sou desajeitada, faladeira, e um tanto histérica quando se trata de voar por ai. Pronto. Eu já tô idealizando meu futuro e complicando tudo. Definitivamente tenho que parar de ver comedias românticas.
- ?
- Oi - Falei depois percebendo que ainda olhava para janelinha, bloqueando a saída de .
- Pousamos! - Ele riu pra mim. Eu acho que vou tirar uma foto dele rindo e mostrar pra todas minhas amigas. Eu não vou ver mais ele então não vai ser tanto mico assim não é?
- É, parece que sim...- Levantei da poltrona e me estiquei. Nossa, to quebrada!

Xx~~

Fomos seguindo a fila indiana que se formou no avião e saímos até a sala de desembarque, aquela que tem várias esteiras e nossas malas ficam passeando em cima.
Bom, deveria haver uma placa pendurada em mim dizendo:
Pessoa não habilitada a pegar a mala na esteira do aeroporto sem causar danos.
- Essa é a minha - pegou uma mochila grande e preta e colocou nas costas. - Bom ...
- Ai, aquela é a minha! - Vi minha mala verde passando pela esteira e empurrei pro lado pra pegá-la. por que você não pode ser delicada uma vez na vida? Às vezes pedir licença ajuda.
Pulei tentando alcançar a alça da mala e quando senti ela em minhas mãos, puxei com tudo e acabei derrubando uma malinha pequena... Quer dizer, umas três malas rosas de uma perua enfurecida. Preciso urgentemente pendurar aquela placa que eu sugeri no meu pescoço.
Bem, no final consegui recuperar minha mala antes que ela desse mais uma volta na esteira, a perua me xingou com os olhos e tinha quase caído.
- Desculpa! - Falei pela milésima vez.
- Tudo bem! No fundo eu sabia que você ainda ia tentar me matar pela última vez de alguma forma. - Nós rimos e ele deu AQUELE sorriso.
- Certo . Eu tenho que ir embora e se você continuar a sorrir assim vai ser difícil.
- O que? - Ele falou meio sem entender. Merda! Eu sempre falo MERDA!
- É... - As palavras saíram descontroladas pela minha boca. Minha língua não obedece meus comandos. Quando eu digo não diga merda é pra não dizer MERDA - Esse ai que você curva seu lábio inferior pra cima e pra direita deixando metade dos seus dentes amostra e pra acompanhar da esse olhar penetrante.
Legal eu já tinha fingido ser sua namorada em crise no começo da viagem e pra fechar o pacote fico dizendo detalhes do jeito sexy dele ser. Como se ele já não soubesse que é muito sexy.
- Bom... Tchau . A gente se ver por ai. - Disse bem rápido ser dar tempo dele me chamar de idiota-compulsiva-por-fazer-merda. Dei um beijinho na bochecha dele e fui caminhando quase correndo para o portão de desembarque.

Xx~~

Vi a Brittany parada no celular falando com alguém empolgada e quando me viu deu aquele gritinho básico que toda Oceania ouviu. Ela vinha correndo na minha direção e nos abraçamos.
- Só eu que vim te buscar. Ninguém queria.
- Cala boca Brit! Eu sei que vocês estão fazendo uma festa surpresa para minha chegada.
- Meu Deus, você ainda tem essa bolsa e sai desfilando com ela por ai? Se prepare para o escândalo da Sra. Crow quando avistar isso, e agora com as novas lentes de contatos verdes que ela comprou, ela verá esse trapo velho quando meu Xukis passar pela casa dos Parrow!
Eu já meio que estava preparada para isso. Ah, o Xukis é o carro querido da minha irmã, um apelido carinhoso para o bebê dela e os Parrow's é a família que moram na primeira casa da minha rua. Os mais engraçados e beberrões da Austrália! Eu gosto deles mesmo não concordando com o hábito nada legal de fazer churrasquinho no jardim. Tudo bem que eu como alface, e segundo o , a alface também sente dor quando é arrancada sem crueldade da terra...
- ! - Um cara gritou e eu, a Brit e o resto do aeroporto viramos para encará-lo.
Vi andando rápido olhando pra mim e eu, é claro abri um daqueles sorrisos como se tivessem colocado um cabide na boca.
- , o que foi? - Falei quando ele chegou junto de mim.
- Eu... Eu esqueci de uma coisa. Minha irmã olhou para mim com um sorrisinho e entrou no carro nos deixando a sós. Ela sempre saca as coisas rápido, eu não herdei esse gene da família.
- Bridget?
- Não, Brittany.
- Ah...
- , o que foi?
- Ah sim... Bom... Você saiu de lá sem me dar seu telefone nem nada então eu fiquei pensando... Como vou ligar pra ela?
- Você vai me ligar?
- Se aquela menina que é toda atrapalhada, protetora das baleias e do meio ambiente com o sorriso mais doce me der o telefone dela.
- Ah... Certo. - Abri minha bolsa, ainda não acreditando que ele tava ali, e procurei uma caneta.
- , é mais fácil você colocar no meu celular.
Ri envergonhada e anotei meu número no aparelho.
- !- Uma voz gritou e eu vi três garotos mais afastados.
- São os caras! Antes, fica com isso pra você... - Ele tirou uma pulseirinha cheia de contas coloridas que estava solitária no braço dele e botou no meu pulso - Para você não se esquecer do seu "falso" namorado, mas acho que a gente já superou nossa crise não é?
Eu ri, o que eu mais poderia fazer? Um cara muito gostoso estava me dando mole depois do meu comportamento nada normal... É no mínimo para ficar sem ter o que dizer em um momento desses.
Dessa vez ele me beijou no rosto e seguimos sentidos contrários. Eu fui em direção ao "Xukis" e ele foi abraçar os amigos.

Xx~~

Eu estava sufocando, alguém já devia ter me socorrido, será que ninguém via que eu estava VERDE? Aquele vestido de madrinha de casamento que minha irmã escolheu devia ser no mínimo dois números menores do que o meu. Certo ele era lindo de morrer, até eu concordo com isso, só que ele não me deixa respirar. O padre nem notava isso, eu acho, porque falava calmo o quanto Deus estava abençoando a união entre a Bridget e o Simon.
Só se ouvia a voz do velho, o resto da igreja estava em silêncio, provavelmente também desejando um pouco do ar lá fora. E então aquela musiquinha toca...


"Imagine there's no heaven
It's easy if you try…"


Bastante apropriado, o John Lennon começar a cantar no meio do casamento. Sabe, ele estava aumentando o tom de voz a cada segundo...


"No hell bellow us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today…"


E sabe também, acho que a cantoria vem da minha bolsa! Típico eu esquecer que "Imagine" é o toque do meu celular.
- Desculpa! - Disse com o olhar de reprovação da mãe e do pai do Simon, minha mãe e meu pai, da própria Bridget e do Simon e até dos coroinhas. Legal, se eu não atendesse aquilo logo era capaz de ser expulsa dali e nunca mais por os pés naquela igreja.
- Alô?
Afastei-me aos tropeços para uma sala pequena e cheia de imagens empoeiradas de santos.
- Querendo fugir mais cedo da família? - Alguém ouviu minhas preces? Tudo que eu queria era correr dos olhares fuzilantes e tirar aquele vestido - Prometo que seguro sua mão na nossa viagem pra Nova Zelândia!
- ?
- Antes de responder, eu pesquisei no google, lá todos os passeios são ecologicamente corretos, topa?
- Outra viagem turbulenta?
Tinha como negar? Se alguém sabe como fazer isso me diga logo porque eu já to comprando as passagens.

FIM.

N/A:
Mais uma fic, a gente já tem um estoque respeitável no computador, só falta coragem pra mandar ;] Então se preparem pra nos ver bastante por aqui...
Obrigada por todos os comentários nas outras fics. Amamos muito meninas e lemos várias vezes. Todos são muito, muito especiais!
Sobre "o garoto da poltrona ao lado" nenhuma de nós duas temos medo de avião, mas se aparecesse um cara desses nós fingiríamos um ataque de pânico numa boa :)
Obrigada por lerem! ;]
Odiou, amou? É só ir na caixinha ali!
Comentem, é muito importante pra gente.
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