Ali estava novamente. Sentada no banco. Sozinha. Há alguns anos que havia perdido a esperança de amigos, mas mesmo que acreditemos não ter esperança, ela sempre existe. Comia silenciosamente aquele sanduíche que minha mãe me obrigava a levar para a escola. Senti uma forte dor no meu pé e ergui os olhos encarando alguém que nunca vira na vida. Ele se desculpou e timidamente sentou ao meu lado. Estranhei aquela ação, nunca ninguém tentara se aproximar de mim. Ele sorriu, e aquela fora uma das coisas mais lindas que já vira na vida.
'' sorriu e abaixou a cabeça
'' continuei a comer meu sanduíche silenciosamente.
Passamos o resto do intervalo em silêncio. Nos despedimos com um aceno de mão e cada um foi para o seu lado.
Passei por várias tentativas frustradas de me concentrar na aula. Aquele garoto não saía da minha cabeça. Talvez pelo fato de ser a única pessoa dos últimos anos a falar comigo. Saí quase correndo da sala quando o “bendito” sinal tocou. Segui meu costumeiro caminho no mesmo ritmo de sempre. Meu coração acelerou de repente ao escutar sua voz. De algum modo esperava por ele.
Ele apenas sorriu novamente. E tive novamente a sensação de ser a coisa mais linda que já vira. Caminhávamos em silêncio, nossos corpos se chocavam em dados momentos, e sentia meu rosto esquentar mais cada vez que isso acontecia. Me senti estranhamente decepciona ao avistar minha casa, avisei-o como consegui que havia chegado. Ele pareceu se decepcionar ao ouvir isso. Mais uma vez nos despedimos com um simples aceno de mão. Entrei em casa me sentindo feliz, o que não era muito comum desde que me mudara.
I O Primeiro beijo
Caminhávamos apressadamente, na verdade ele caminhava rápido, eu apenas o seguia. Não sabia para onde estava me levando, por várias vezes tentei questioná-lo, mas em nenhuma tive resposta, ele apenas alegava ser uma surpresa.
'Olha isso' sentou-se no chão sendo seguido por mim.
Aquela fora, com certeza, a coisa mais linda que já vira. Na minha vida tediosa nunca havia reparado em como a natureza pode ser linda. Estávamos sentados em um tipo de penhasco com grama. E a nossa frente um sol vermelho cobria o horizonte. Senti me puxarem e encostei a cabeça em seu ombro. Ficamos longos minutos observando o sol desaparecer, e quando finalmente aconteceu, senti nossos lábios se unindo. Não sei como explicar aquilo, mas de algum modo já esperava que acontecesse. me fazia sentir como nunca me sentira com nenhuma outra pessoa. Me sentia estranhamente feliz ao seu lado. Era como se não houvessem problemas em minha vida. Na verdade não haviam, mas o simples fato de ninguém se importar com você já ajuda a não ser uma pessoa feliz.
II A Primeira vez
Estávamos deitados na areia observando as estrelas. Os únicos sons existentes ao nosso redor eram os das ondas se chocando com a praia e as nossas respirações ofegantes. Olhei para o anel em meu anular direito e não pude deixar de sorrir. Ele sorriu também unindo nossos lábios e mais dos seu beijos calmos e doces. Encostei minha cabeça em seu peito nu sentindo meus olhos pesarem. Suas mãos foram de encontro ao meu cabelo um pouco suado, o acariciando levemente, me dando uma sensação de leveza.
Acordei com o sol batendo em meu rosto e com me chamando baixinho. Recolhemos nossas roupas na areia e saímos da praia de volta para casa. Já faziam uns cinco meses que namorávamos. E aquela havia sido a minha primeira vez com um garoto, e, de acordo com ele, a de também. Foi tudo muito perfeito, como tudo o que ele faz. Caminhávamos lentamente em direção à cidade, nossas mãos estavam unidas e tudo parecia ser perfeito. O dia estava claro. Passarinhos cantavam. Crianças corriam pela calçada gritando e rindo. Isso me lembrou da minha infeliz infância. Não foi o que se pode chamar de infância feliz. Sempre fora muito sozinha, minha mãe não tinha irmãos, então, nada de primos. e os parentes do meu pai moravam na Irlanda, então, os primos estavam sempre distantes, de modo que só nos víamos no natal e ano novo. Senti uma tristeza repentina ao lembrar-me disso.
'Que foi?' ergueu meu rosto levemente com a ponta dos dedos.
'Nada' de algum modo sorri sinceramente esquecendo da minha tristeza.
Chegamos à porta da minha casa. Nos despedimos com um beijo curto. Então ele foi para sua casa.
Meus pais sabiam que eu namorava, não foram muito a favor no início, mas acabaram concordando que um amor poderia ser bom para a minha alto-estima.
III A despedida
'Eu vou viajar' sentei-me no chão daquela casinha evitando o encarar.
'Vai pra onde?' ele procurava pelos meus olhos, mas se o encarasse provavelmente choraria, e não queria fazer isso na frente dele.
'Irlanda' respirei fundo continuando 'vamos visitar uns parentes do meu pai... E talvez fiquemos por lá'
Permaneceu em silêncio me deixando um pouco impaciente.
'Eu só vim pra dizer que não precisa ficar me esperando, talvez eu não volte nunca mais.' retirei o anel de meu dedo e deixei no chão à sua frente 'Adeus , eu te amo' ao dizer essas últimas palavras as lágrimas vieram com força aos meus olhos. Saí da casinha escutando apenas os trovões que me rodeavam. Corri para longe dali, até avistar a pracinha.
Sentei-me num dos balanços coloridos e me permiti chorar em silêncio. Eu não queria deixá-lo, mas não havia escolha. Senti as gotas de chuva me lavando e me permiti chorar mais forte. Vi mãos em meus joelhos e ergui os olhos encarando quem mais amava no mundo. Ele não disse nada, apenas uniu nossos lábios em um beijo doce, lavado pelas nossas lágrimas e pela chuva. Nosso beijo de despedida.
'Fica pra ti' sorriu entre as lágrimas recolocando o anel em meu anular. 'eu vou te esperar' me encarou sério 'por favor não demora' juntou nossas testas fechando os olhos e permitindo que algumas lágrimas escorrecem por eles. A chuva havia diminuido, mas ainda existia.
'Eu juro que volto, ok?' tentava ao máximo não chorar, mas era impossível não chorar em uma situação dessas 'me perdoa se eu demorar, mas não depende só de mim, eu vou tentar e...' juntou nossos lábios mais uma vez e então levantou sendo seguido por mim.
'Eu te amo, e não é mentira, vou te amar pra sempre, independente do que aconteça, já disse isso uma vez e vou dizer de novo: meu amor por ti só acaba, quando TODAS as estrelas se apagarem e quando o sol não nascer, porque daí vai ser o fim do mundo.' me encarava nos olhos com um pequeno sorriso no canto de seus lábios, mas sorrindo por completo através de seus olhos.
'Então acabou...' abaixei a cabeça 'eu vou indo , adeus' levantei do balanço o abraçando mais uma vez.
'Até logo' sussurrou no meu ouvido.
Nos beijamos uma última vez e caminhei em direção à minha casa o deixando sentado naquele balanço molhado. Talvez nunca mais nos víssemos. Mas independente disso, sempre o amaria. Ele sempre seria o homem da minha vida.
IV Saudades
Estava sentada na sacada da casa de minha tia quando vejo meus primos brincando no jardim. O mais novo pegou uma flor e me deu. Era uma azaléia. Isso me fez lembrar do dia em que me pediu em namoro...
Flashback on
"Estávamos sentados na grama do pátio do colégio, quando levantou e foi pegar uma flor, na escola haviam algumas mudas de azaléias, ele pegou uma branca e ajoelhou-se na minha frente a mostrando.
'Namora comigo?' colocou a flor em minhas mãos olhando em meus olhos
'Sim...' sorri olhando para a flor que segurava.
'Não é nenhuma aliança, mas por enquanto é tudo que eu posso te dar...' riu levantando a flor levemente e a colocando de volta em minhas mãos.
'É perfeito' sorri o abraçando.
'Quando eu conseguir dinheiro compro um anel pra você' retribuiu o abraço.
'Não precisa, até se tu me desse um chinelo com as tiras arrebentadas eu ia achar lindo'
'Mas você merece, então eu vou comprar um anel, e não discute. '
Sorri e ele me beijou..."
Flashback off
Peguei um livro em minhas malas e o abri em uma determinada página. Ali estava ela. A flor. À essa altura já estava murcha e meio marrom, mas ainda era a nossa flor. Lágrimas me vieram aos olhos ao me lembrar desse dia. Ainda o amava, e sempre o amaria. Não conseguia me imaginar com nenhum outro garoto. Tinha certeza que ninguém me entenderia e completaria como faz...
V O retorno
Saí daquele avião sentindo o vento frio que fazia em Londres naquela parte do ano. Caminhei até a saída do aeroporto pensando em tudo que acontecera. Finalmente alcançara a maldita maioridade e pude voltar pra Inglaterra. Tudo o que sabia sobre é que estava em uma banda, McFly, tocavam músicas lindas, e parecia feliz. Peguei um taxi e pedi que fosse ao endereço da casa de . sabia que era praticamente impossível ele ainda estar morando naquele fim de mundo, mas talvez seus pais ainda vivessesm ali.
Toquei a campainha e sua mãe abriu. Sim, era a senhora , com alguns anos a mais, mas ainda era ela. Sorriu ao me ver.
'Oi' me abraçou carinhosamente. ' não mora mais aqui.'
'Pois é.' mexia minhas mãos nervosa 'a senhora não pode me dizer aonde ele mora agora?'
Ela me passou o endereço e nos despedimos. Peguei outro taxi e fui até o endereço determinado. Parei em frente à casa e fiquei a observando. Meu coração batia fortemente. Estava olhando a aliança que ainda usava até que um garoto de olhos abrir a porta. Perguntei se morava ali, ele confirmou e foi chamá-lo. Aguardei parada na porta, não tive coragem de entrar.
Ele apareceu na porta e foi como se meu coração desse um pulo.
'?' se aproximou de mim me olhando fixamente nos olhos. 'Amor...' me abraçou forte juntando nossos lábios. Partimos o beijo minutos depois. Nos olhávamos sorrindo. Palavras não eram necessárias. Era possível ver todo o sentimento no de seus olhos.
'Senti sua falta' ele acariciava meu rosto com a ponta dos dedos. 'demorou tanto'
'Desculpa, meus pais não deixaram que eu viesse antes dos dezoito...'
'Isso não importa agora...' sorriu. Ainda era aquele sorriso lindo. 'Agora é pra sempre' me abraçou mais uma vez.
Epílogo
'Que foi?' peguei-o no colo o levando para a cama.
'O monstro' falou coçando o olho e fazendo bico.
'Vem aqui com o papai' esticou os braços e engatinhou até os mesmos fechando os olhinhos.
Deitei-me ao lado deles abraçando-os. logo adormeceu no meio de nós dois.
'Te amo' sussurrou me dando um selinho
'Te amo' falei do mesmo modo desligando o abajur que a pouco fora ligado.
'Pra sempre...' concluímos adormecendo em seguida.
FIM...