olhou para um tapete límpido e aveludado, sua perfeição era
interrompida apenas por pequenas pegadas. Pegadas essas que saíam da porta, viravam a direita e
continuavam, dando a volta pela casa. Supôs que iam parar no jardim de trás. Sorriu suavemente e seguiu
para a cozinha.
Pegou o liquidificador e alguns ingredientes nos armários. Já estava acostumado com isso, era uma
espécie de rotina deles. Independente do motivo da briga, mesmo que fosse algo quase insignificante, se
a menina ficasse irritada, a mesma saía de casa, batendo a porta, e refugiava-se no grande jardim dos
fundos.
jogou o leite, leite condensado, chocolate em pó e maizena dentro
do liquidificador e ligou o aparelho. Um minuto depois, desligou o aparelho, jogou a mistura numa panela
e acendeu o fogo. Puxou então uma cadeira e sentou-se para esperar.
Naquela manhã de inverno, comentara casualmente sobre onde eles
passariam o natal, sugerindo que fossem visitar seus pais. Em parte, ele ainda sustentava a esperança de
que e tivessem uma
relação mais amigável. No entanto, sua sugestão, como esperava não fora nem de longe bem recebida.
Mas não pelo motivo óbvio, sua mulher e sua irmã nunca se deram muito bem, mas depois de seu casamento a
"inimizade" só piorou. O surpreendente foi quando disse que
aquele seria o primeiro natal deles casados, na nova casa e por isso eles deveriam passar ali mesmo. E
apesar de sentir-se levemente emocionado pelo comentário, não
desistiu da idéia. E como esperado, eles acabaram discutindo.
E saíra de casa, ainda vestindo seu roupão verde e suas
pantufas rosas em forma de coelhos. se preocupara no primeiro
momento, pensando que a menina poderia pegar resfriado - ou até uma pneumonia - por um motivo tão besta.
Mas não adiantaria tentar argumentar com , sabia o quanto ela
podia ser teimosa.
Finalmente, o conteúdo da panela começou a ferver. desligou o
fogo, despejou o chocolate numa caneca e abriu a porta dos fundos. A neve cobria o jardim, tão
completamente que não era mais possível ver as flores, que geralmente cresciam tão altas. No entanto,
por mais que procurasse atentamente, não viu sinais de pegadas na neve.
"Estranho..."
Pensou por um momento. Então pegou a caneca, voltou até a sala e saiu pela porta da frente. Seguindo as
pegadas, o menino percebeu que, ao contrário do que imaginara, elas não contornavam a casa. Logo após
virarem à direita e passarem pela cerca elas continuavam em linha reta.
resolveu seguir as pegadas.
A casa ficava no final da rua de um bairro calmo e afastado. Ali era o limite entre a rua e o bosque que
cercava boa parte da cidade.
No bosque tornava-se mais difícil seguir a trilha de . A neve
não conseguia atravessar completamente a copa das árvores. Quanto mais avançava, mais difícil era
distinguir as marcas de passos no chão. já estava começando a
achar aquilo absurdo demais, até que chegou um momento em que as pegadas sumiram por completo. Depois
dali, a trilha ziguezagueava por entre as árvores, nunca seguindo uma linha reta. Seus olhos
exploraram o espaço em volta, procurando o caminho mais provável.
Extremamente irritado, continuou andando.
Não demorou muito até que chegou numa pequena clareira, onde
estava sentada em uma pedra bem grande. estava irritado, com
certeza, mas vendo a menina assim, não conseguia brigar com ela. Suspirando levemente, aproximou-se e
sentou-se na mesma pedra.
O silêncio prolongou-se, recusava-se a olhar para
. Por fim, o menino estendeu o chocolate para ela, que pegou a
caneca e o encarou por alguns segundos, antes tomar um gole. Logo depois do segundo gole
sentiu sua irritação voltar e, finalmente, falou impaciente:
- O que você está fazendo?
não respondeu.
- Isso foi muito irresponsável, sabia? - continuou - Antes você
saía de casa, mas ficava no jardim. Agora, você vem pra cá. O que vem depois? Você vai me deixar e fugir
com algum amante pro Caribe? - a voz do menino aumentou.
A última frase pareceu finalmente conseguir a atenção de . Ela
virou-se, com uma expressão incrédula.
- É claro que eu não faria isso, . Faça-me o favor. Além do mais,
você está fazendo tempestade em copo d’água. Afinal, você...
- Eu me preocupo. - a interrompeu. - Cada vez que você sai de
casa, irritada, eu me preocupo.
o encarou intensamente e
percebeu que ela estava arrependida. Suspirou. Ele próprio se sentia um pouco culpado. Afinal, tudo que
ela queria era que aquele primeiro natal na nova casa fosse especial.
- Me desculpe, amor. É claro que a gente pode passar o natal aqui.
Aquela pequena sentença pareceu derreter o orgulho e a teimosia da menina.
inclinou-se e beijou
gentilmente.
- Obrigada, e me desculpe. - ela sussurrou.
O menino sorriu abertamente.
- Tudo bem. Vamos voltar pra casa.
- Eu te amo .
Dito isso os dois se levantaram. abraçou
pela cintura, puxando-a para perto, e assim eles deixaram a
clareira.
Fim ;*
N/A: Super short fic, maaas que me diverti muito escrevendo, coisa que levou um tempo, acredite.
Presente de aniversário para a Poynter mais Fletcher do mundo! Thaís tudo de bom, muitos anos de vida,
bla, bla e mais todas aquelas coisas que as pessoas dizem e emocionam. Te amo sua besta. :)
O legal dessa fic foi que eu mantive características da própria - amiga problemática - Thaís -
tipo a teimosia absurda - e fiz alusão ao filme Piratas do Caribe, coisa que faço constantemente
nas minhas conversas.
Como aniversário da minha pequena Poynter é dia 24, eu tinha que encaixar a palavra "natal" por ai. Acho
que não tenho nada mais a declarar :)
E claro: Minn, obrigada por betar outra das minhas idéias malucas :)