Escrita e scriptada por Stefania
Betada por Luh







Despiértame, que paraste el tiempo y nada sucedió y acuestate, vuelve a contarme el cuento donde acaba bien


O barulho estava me irritando profundamente. Me virei na cama, puxando as cobertas para mais perto do meu corpo e afundando o rosto no travesseiro, enquanto escutava o despertador tocar insistentemente nos meus ouvidos. Eu só queria dormir mais um pouco. Certo, eu precisava levantar para trabalhar, mas principalmente, precisava fazer aquele barulho parar. Estava fazendo minhas células cerebrais latejarem, como se gritassem e se contorcessem, implorando para porem um fim na tortura. Com um tremendo esforço, arrastei meu corpo pela cama, levando as mãos pesadamente sobre o celular e apertei com força, repetidamente o botão, até ter certeza absoluta que havia parado. Joguei o pobre aparelho, que não tinha culpa de nada, com brutalidade na mesinha ao lado e afundei em meio às cobertas e travesseiros novamente. Contei até três e levantei. Com um impulso, ao final da minha contagem mental, parei sentada na cama, observando ao redor. Hum, nada mal, até que o quarto estava arrumado, não ia precisar me preocupar com isso. Com um sofrimento, que, se fosse observado de fora parecia anunciar minha morte por enforcamento eminente, coloquei as pernas no chão e levantei, caminhando até o banheiro. Lavei o rosto e observei-o, amassado, no espelho, com a menta vazia, pensando apenas que eu precisava urgentemente de uma grande caneca de café, sem imaginar que aquele era o primeiro dia de uma grande mudança na minha vida. O começo de uma jornada em busca de algo que eu não sabia que estava procurando, até encontrar. E descobrir, com pesar, que minha vida sempre estivera incompleta sem ele. Mas talvez não éramos nós que realmente mandávamos em nossas vidas, quem sabe não era o destino? Tudo acontecia quando tinha de acontecer, certo? Certo. Café, café, precisava de café. Saí do banheiro, arrastando os pés em direção à cozinha. Eu não estava filosofando em pensamento, naquele momento eu não pensava em nenhuma dessas coisas que acabei de comentar, afinal, eu não sabia que iam acontecer, lembram? Então.


Puede ser que la vida me guíe hasta el sol


Trabalho, trabalho, trabalho. Eu sei que reclamo na hora de levantar da cama, reclamo quando tenho que me arrumar para trabalhar, mas se tem uma coisa que gostava de fazer, depois que toda a preguiça passava, era trabalhar. Era realmente legal trabalhar com publicidade, sabe? Conheci muitas pessoas interessantes e... Meus pensamentos foram interrompidos pela voz suave da minha chefa. Suave sim, ela era muito gente boa, não era um pesadelo na minha vida, graças a deus. Afinal, quantas pessoas no mundo podiam dizer que gostavam de seus chefes? Não muitas, vou te contar.

- , você está sabendo sobre o festival de propaganda que as agências italianas estão fazendo?
- Hum, situe-me, por favor. Sei superficialmente.
- Bem... - ela tossiu de leve, com a mão na boca, e prosseguiu. - é uma espécie de troca. Intercâmbio de mentes criativas. - balancei a cabeça levemente, indicando que compreendia o que ela explicava. - Serve tanto de maneira pessoal e profissional para os funcionários, como para a empresa. Vocês entram em contato com outra cultura, se relacionam em um ambiente de trabalho diverso e a empresa se recicla com outros tipos de idéias, de pessoas diferentes. Está acompanhando?
- Sim, perfeitamente. - sorri, tentando imaginar onde ela queria chegar.
- Então, como uma das melhores funcionárias, mais criativas e empenhadas, - meu ego ia às alturas. Ai, nem imaginam como é bom escutar uma coisa dessas. Eu me dedicava, viu? Merecia o reconhecimento, oras. - E nesse caso, acredite, até digo com certo pesar, sabendo que posso perdê-la. - ela suspirou e eu ergui levemente as sobrancelhas, estava começando a entender onde ela queria chegar. - Você é uma das candidatas mais propensas a ir para a Itália, participar dessa experiência. - Uou, é, eu estava imaginando que era isso, mas ouvir sair da boca dela, era diferente. - Eu acho que seria excelente para sua carreira, muito promissora, em minha opinião, e certamente você voltaria, se isso fosse de sua vontade, é uma troca, não permanente, portanto fica a seu cargo decidir se permanece lá ou retorna, mas ainda assim, somente você poderá decidir se aceita ir.
Esqueci tudo que tinha na minha vida e antes que pudesse pensar em algo, ouvi sair da minha própria boca:
- É claro que aceito! - sorri involuntariamente ao ver o sorriso sincero que ela dirigiu a mim e senti, logo em seguida, os braços dela ao redor do meu corpo, dando um carinhoso abraço que foi, obviamente, retribuído. Após o choque inicial, claro.
- Te desejo muita boa sorte. Isso vai mudar sua vida. - e ela não tinha idéia do quanto estava certa.


Aquí hago lo que quiero, aquí cuento mis miedos y me siento mucho mejor // Son canciones


Caramba, eu ia morar na Itália. Bem, não sabia por quanto tempo seria, mas estava indo. Se eu me adaptasse, ficava, senão eu podia voltar. Mas até então, ia morar na Itália! Não era o máximo? Quer dizer, eu sabia que meu sonho maior sempre foi morar na Inglaterra, mas mamma mia, era da Itália que estávamos falando. Eu não podia estar mais feliz. Eu tinha sido parabenizada por ser boa profissional, tinha uma vida linda pela frente, ia me mudar para um país maravilhoso e sabe-se lá o que mais me aguardava nesse mundão. Eu estava radiante. Naquele dia cheguei em casa sorrindo até para as malditas formigas que infestaram o bolo que eu havia feito no dia anterior. Calma aí. Rebobina. Meu bolo!

- Cacete! Mas que desgraça.

Eu olhei com profundo pesar para o meu bolo em cima da mesa, sofrendo ao ser impiedosamente devorado, tanto quanto eu por perdê-lo. Era tão bonito e gostoso. E eu nem tinha comido quase nada dele. Por que eu tinha sido estúpida a ponto de não colocá-lo em um lugar aonde as formigas não chegassem? Ok, alguma coisa tinha que dar errado em um dia tão perfeito. Mas tudo bem. Não eram algumas formigas e um bolo perdido que estragariam a minha felicidade.

- Eu vou morar na Itália!

Sorri novamente, ignorando completamente o bolo que antes me causara certo sofrimento por vê-lo perdido e andei até o telefone, discando o número da casa da minha mãe, para contar-lhe todas as boas notícias. Pobrezinha, não tinha pensado nela. Ia sofrer com minha partida. Mas era a vida. Os filhos não vinham ao mundo para ficar debaixo das asas da mãe, era preciso viver a vida. E ela ia adorar saber que ia morar na Itália. Afinal, era a nossa terra!! Minha família era toda italiana, quer dizer, exceto meu pai, que era espanhol, mas já tinha falecido. E era aí que as pessoas se perguntavam: mas então por que você sonhava em morar na Inglaterra? Quer dizer, eu tinha sangue espanhol e italiano, onde entrava a Inglaterra nessa história? E eu respondo: no coração. Ohh, isso foi lindo, não é mesmo? Patético, mas era a verdade. Não sei explicar, caramba. Eu sempre fui fascinada, acho que minha vida pertence àquele lugar. Eu realmente gosto da Itália e realmente gosto da Espanha, mas sinto uma coisa diferente pela Inglaterra, como se ela me chamasse. Mas por enquanto esse sonho estava adiado, eu estava indo para a terra da minha mãe e, como disse, ela ia adorar saber disso, porque ela era uma que vivia se perguntando por que cargas d'água eu tinha essa estranha fixação pela terra do chá. E eu nem gostava de chá. Eca.
Após contar todos os mínimos detalhes e anunciar que estava de partida na próxima sexta-feira, o que me dava exatos 4 dias para resolver tudo, desligamos e decidi tomar um banho relaxante. Passei pelo aparelho de som, ligando-o e sentido a voz de Freddie entrar pelos meus ouvidos. Freddie. É, o Mercury. Não, não era meu cantor preferido, mas eu o amava. Na realidade, eu amava tanta coisa. Tanta coisa relacionada à música, quero dizer. Eu confesso, se tinha uma coisa de que eu gostava mais no mundo, acima de todas as coisas, menos da minha mãe, obviamente, era música. Eu gosto do meu trabalho, da minha carreira e tudo mais, mas se eu tivesse a chance de fazer um desejo eu pediria talento. Talento, claro, para tocar um instrumento musical e tentar a carreira nesse meio. Mas nesse ponto, Deus não foi legal comigo, e me deu talento para muitas coisas, mas música, definitivamente, não foi uma delas. Eu precisava aprender a conviver com isso, mas era difícil. Era uma espécie de trauma para mim. Mas que eu ia viver no meio musical eu ia. Nem que para isso eu tivesse que casar com um rock star. Soei interesseira? Desculpe. Tudo bem, ele não precisava ser famoso, se soubesse tocar algum instrumento já era o suficiente. Para alguém que não sabia tocar nada como eu, se ele tocasse a marcha fúnebre no violão para mim, já ia ser quase como se estivesse ouvindo Jimmy Page tocar Stairway to Heaven na minha frente. Ok, foi uma péssima comparação, de muito mau gosto, mas mesmo assim, dá pra ter uma idéia do quanto eu admirava quem sabia fazer música. Tocar, levar a música para o mundo, ou só para si mesmo, enfim. Chega. Eu estava apenas apertando o botão do rádio para ouvir Queen e de repente comecei a ter ataques de groupie. Minha paixão por música a parte, meu banho foi extremamente relaxante e em todo aquele momento não conseguia parar de me imaginar andando pelas ruas de Roma, Milão, Veneza e em qual cidade eu ia morar mesmo? Isso ficou de fora da conversa com minha chefa. Aliás, ela somente me disse que iria providenciar os documentos, comunicar à agência da Itália que sua melhor funcionária [palavras dela, veja bem] estava partindo ao encontro deles e a minha passagem com destino ao paraíso das massas, vinhos, chocolates, queijos, nossa senhora, se eu não ficar atenta, vou virar uma bola em menos de uma semana. Certo, lá também tem marcas legais, grifes famosas, mas sinceramente? Preferia Amaretti. E olha que legal a minha chefa é: me deu 2 dias de folga para resolver tudo antes de partir, ela não era o máximo? Dois dias, o que significava que amanhã ainda tinha que ir trabalhar. Era melhor eu dormir.


Quiero que busques dentro mientras yo te lo cuento, que sientas lo que siento yo


Que corre-corre tinha sido aquela. Finalmente pude respirar fundo e relaxar de verdade, ocupando minha mente somente com o que ia encontrar na minha vida dali para frente. Eu estava dentro do avião, um pouco apertado, diga-se de passagem. Estava viajando de classe econômica, ou pensam que iam me dar primeira classe? Nem executiva, esses pão-duros. Mas tudo bem. Eu supero. Pelo menos tinha aquela televisãozinh alegal até o passageiro da poltrona da frente deitar e a minha televisão abaixar junto. Quem foi o animal que projetou os aviões da Alitalia? Como ele coloca a televisão nas costas da poltrona da frente? Será que ele não pensou que as pessoas deitam as poltronas e dessa maneira impossibilitam quem está atrás de ver a porcaria da televisão? Merda, eu não queria ver TV mesmo, que se dane. Não tinha nada que prestasse para assistir, fiquei só observando a tela da frente, que mostrava o trajeto percorrido do avião em um mapa do planeta terra, com a distância percorrida e a temperatura do lado de fora. Impressionante, mas eu não conseguia dormir. Tirando o fato de que já era um bocado desconfortável ficar ali com a poltrona abaixada, sem televisão e sem espaço. Não deveria ser tão difícil pegar no sono naquele momento, mas eu não consegui. Faltavam só sete horas de viagem.
Três horas depois o cara da frente ainda estava dormindo e eu perdendo minha pouca paciência.
Mais três horas depois, a viagem estava acabando e eu enlouquecendo.
"Per piacere, tutti i passeggieri, rimettere le poltrone a posto. La colazione sará servita fra alcuni instanti."
Isso! Finalmente, ele ia voltar sua poltrona pro lugar original e eu ia encher minha barriguinha com essa a medíocre de avião e logo, logo, estaria pousando. Não via a hora de dormir direito. É claro, estava achando que eu ia sair para agitar? Conhecer Roma toda naquele dia? Eu estava cansada, só pensava em dormir tudo que podia e tentar me adaptar no final de semana, pra começar a trabalhar na segunda-feira. Eu ia morar em Roma, não era lindo? Castelo Sant'Ângelo, Piazza di Spagna, Fontana di Trevi e por que não a Basílica de São Pedro? Eu nunca gostei muito dessas coisas de igrejas, me desculpe, mas é uma obra prima da arquitetura Renascentista, é preciso ser vista. Eu adorava o velho continente. Tanta coisa bonita para ser vista, castelos e catedrais. Achei que não fosse querer ir embora dali nunca mais.


Algo puede mejorar // Algo que pueda encontrar


Um homem baixinho e careca me levou do aeroporto até a casa onde eu ia morar. Ele tinha uma plaquinha com meu nome e me disse que a empresa o enviou para me buscar. Lar doce lar. Certo, ainda não era exatamente meu lar, mas eu ia morar ali por um tempo e o lugar era bem jeitosinho, se quer minha opinião. Eu podia muito bem gostar de morar naquele lugar. Estava um trapo e só queria um banho e uma cama bem quentinha. Mas, meu primeiro contato com um baixinho careca? Comecei mal. Mas a Esperança é a última que morre nessa Terra Nostra, então eu ainda esperava encontrar algo melhor. Ele disse que ia voltar na segunda para me levar para o trabalho, até que eu aprendesse a chegar sozinha, conhecesse os lugares...


Voy a intentar mostrar lo que hay que regalar con la mirada // Que me muero por tu vida cuando veo esos ojitos


Lugar legal. A empresa era bem parecida com a que eu costumava trabalhar, na realidade, mas ainda assim era legal. Não tinha conseguido conhecer nada na cidade nos dois primeiros dias em que estive na Itália, só o supermercado da esquina. Eu precisava arrumar minha casa ante sde sair pra fazer turismo. Além de ser verão e a cidade estar cheia de turistas, o que dificulta conhecer os lugares, então, me dediquei a arrumar minhas coisas, abastecer a despensa com comida saudável e descansar da viagem para estar pronta pra trabalhar na segunda. MAs o fato de ser verão me deixou bastante aborrecida. Odeio, odeio, odeio, odeio calor, odeio ficar suada. Pra quem achava que o verão na Europa é menos pior do que o brasileiro está enganado. É pior. Pode não chegar às temperaturas altas brasileiras, mas a sensação é de muito mais calor, porque a Europa é seca e o Brasil é úmido, o que torna o calor mais suportável. E como o verão dura pouco, nem todo lugar europeu tem ar-condicionado. Só quem tinha mesmo dinheiro que tinha esse luxo, e eu não costumava viver sem ar-condicionado. Tentei me animar pensando nos casacos, cachecóis, luvas e boinas que usaria no inverno.
Logo que cheguei ao escritório, fui encaminhada à sala do meu novo chefe. É, meu novo chefe era homem e gato. Mas isso não era importante, pois ele tinha uma doença grave na mão esquerda, uma aliança. De casado. O cara era casado e meu chefe, então eu não tinha nem chance de pensar nele de outro modo. Ele foi super simpático comigo, me desejou muita boa sorte em meu novo emprego ali na matriz e eu saí de sua sala contente e louca pra trabalhar. Conheci muita gente legal, os italianos eram absurdamente simpáticos e não eram tão escandalosos como eu costumava pensar.
No meio da semana, foi convocada uma reunião para incentivar todos os funcionários a procurarem os cursos de verão que as faculdades ofereciam na época, sendo da área do trabalho ou não, só para aprendermos algo novo ou entrarmos em contato com a cultura, mesmo que poucos fossem imigrantes como eu. Achei a idéia muito interessante. O trabalho não ocupava todo o meu dia e seria uma maneira de conhecer coisas e pessoas novas. Saí do trabalho entusiasmada, pensando seriamente em fazer algum curso na área de marketing, mas o entusiasmo não durou muito. Fiquei bem triste ao saber que todos os cursos na área que eu queria e que me interessavam já tinham todas suas vagas preenchidas. Que falta de sorte a minha, mas como eu já tinho ido até ali, querendo estudar algo novo, procurei algo e um curso em particular me chamou a atenção. Literatura britânica. Eu sei, não tinha nada a ver com a minha profissão e nem com a Itália, mas eu amava ler e era britânico. Eu já expliquei que sempre gostei da Inglaterra. Enfim, era aquilo que eu ia fazer. Oscar Wilde, Charles Dickens... Eu já sabia alguma coisa, mas quase nada. me inscrevi no curso, que começaria dali a uma semana e fui pra casa meio frustrada de não ter conseguido me increver no curso que queria, mas feliz por ter me inscrito em algo interessante. Mesmo não fazendo nenhum sentido, eu sentia que tinha que fazer aquele curso.
Com os dias passando, eu estava me enturmando melhor, tanto no trabalho quanto na cidade. Além do mercado da esquina, eu já conhecia uma farmácia e uma cafeteria, já me sentia uma completa cidadã italiana. Da Basílica de São Pedro eu não tinha visto nem a ponta da cúpula até então.
Chegar na faculdade para a primeira aula do meu curso foi um caos. Estava chovendo, eu me atrasei, me perdi, fiquei toda descabelada e com toda a educação que o Brasil me deu, ao invés de esperar o fim da primeira aula para entrar, eu resolvi bater na porta e entrar, sem nem esperar resposta da parte do professor. Ele parou de falar e eu senti todos os olhos da sala em mim. Por que diabos eu não pensei na educação que minha mãe me de e esperei a maldita primeira aula acabar? eu tinha mesmo que atrapalhar a aula do cara, não devia nem ter saído da cama naquele dia. Senti que ia tomar um esporro fenomenal e que nunca mais teria coragem de botar o pé naquela sala ou olhar na cara de qualquer aluno ali, por isso, abri o meu melhor sorriso e olhei para o professor pela primeira vez. AI, MEU DEUS! Ele tinha os olhos mais lindos que eu já tinha visto na vida. Contrariando todas as expectativas, ao invés de me colocar pra fora da sala de aula censurando minha falta de educação, ele abriu um sorriso pra mim e continuou a aula. Se os olhos tinham me feito parar de respirar, o sorriso me congelou de vez. Ele era maravilhoso. O sorriso quero dizer, se bem que analisando melhor o cara como um todo, ele é inteiro maravilhoso. Com as pernas meio bambas e desnorteada demais pra prestar atenção ao poema complexo demais pro meu cérebro paralisado entender, eu caminhei até uma cadeira e me sentei, apertando as pontas do meu cabelo pra me livrar do excesso de água de chuva acumulada e com o olhar fixo em um ponto qualquer da mesa a minha frente, eu só conseguia pensar na sensação estranha que percorreu meu corpo quando olhei pra ele.


Todo eso que no tengo y que sigo sintiendo hoy por ti. Incluso en mis sueños, me invento y me creo que te tengo, que toco tu cuerpo y sé que eso no es cierto


A semana passou rapidamente comigo correndo de um lado ao outro, tentando conciliar trabalho, curso e a casa. Me vi enfrentando uma dura batalha com minha própria mente, que simplesmente não conseguia parar de pensar no professor. era o nome do ser que não me deixou em paz um minuto sequer depois da minha entrada triunfal em classe. Ele não devia nem saber da minha existência, exceto pela minha demonstração patética de educação suína, ele nem devia saber quem é esse ser que vos fala. Mas na minha imaginação, ele não me deixou em paz. me imaginei saindo com ele, sendo sua amiga e analisando seriamente se ele não seria meu par ideal. Era um absurdo as coisas em que pensava, considerando que eu nem o conhecia. Ele só me dava aulas e aulas sobre poemas extraordinariamente belos, tocantes e quase impossíveis de entender e que ele parecia conhecer como se fizessem parte de sua alma. Era tudo o que eu sabia dele. Isso e o seu nome. , professor de literatura. Como eu podia fantasiar qualquer coisa com alguém que nem conhecia? Tinha mais uma coisa que eu não mencionei e que era um senhor empecilho. Eu tinha namorado. Não estávamos exatamente juntos porque estávamos dando um tempo particularmente longe e eu já estava vivendo tão bem sem ele que nem sequer lembrei de sua existência nas primeiras duas semanas que morei na Itália. Eu nem avisei a ele que estava na Itália. Fiquei com pena quando me lembrei desse pequeno detalhe, mas passou instantaneamente. Ele provavelmente não quereria saber mais de mim mesmo depois que soubesse que eu mudei de continente sem avisar. Eu me perguntava se o era uma boa pessoa, mas não tinha coragem de me aproximar. Não tinha coragem nem de abrir a boa em suas aulas, porque ainda me sentia extremamente envergonhada da primeira vez que entrei na sala de aula.

- ? - ouvi uma voz me chamar e se afastou temporariamente da minha cabeça, permanecendo em algum cantinho, aguardando para ser lembrado novamente mais tarde.
- Sim? - olhei para cima, desviando o olhar do computador à minha frente, estacionado na mesma figura há uns bons 20 minutos. Era o protetor de tela. Eu precisava me concentrar.
- Você poderia fazer o favor de levar esse envelope para o Sr. Bulzomi assinar? - minha colega de trabalho empurrou gentilmente o envelope em minhas mãos, indicando levemente com a cabeça a sala do meu chefe e sorriu.
- Claro. - sorri para ela e quando estava me virando para sair, senti sua mão em meu ombro.
- Está tudo bem?
- Perfeitamente. - sorri novamente e saí, me dirigindo à sala no fim do corredor e trazendo de volta aos meus pensamentos.


Quiero saber si te mueres por mi vida y sientes esa cosa extraña tú también


Três semanas. Faziam exatamente três semanas que estava na Itália e ainda não tinha tido tempo de conhecer os pontos turísticos. O calor estava me matando. Já não era nada fácil ter de ir à faculdade e ao trabalho, andando e pegando ônibus com todo aquele calor. Não bastasse todo o calor que eu senti no Brasil toda a minha vida, eu precisava senti-lo na Europa também. Eu estava andando, pensando que uma carona seria muito bem vinda naquele momento excruciante quando meus pensamentos foram interrompidos por uma buzina ao meu lado. O carro me acompanhava devagar. Eu parei e o carro parou também. Quando ele abriu a janela e eu vi quem estava em seu interior, minhas bochechas ficaram levemente avermelhadas. Era ELE. O que eu fazia então? Onde estava a Fontana di Trevi para eu me afogar e parar de pensar naquele homem?

- Você quer uma carona? - Como assim se eu queria uma carona? Eu não conseguia me ver entrando naquele carro depois de tudo que já tinha imaginado. Estava morta de vergonha ali e a primeira coisa que me passou pela cabeça foi uma recusa calorosa.
- Não, obrigada. - saiu instantaneamente e eu soei desesperada. Por que eu só conseguia agir feito idiota do lado dele? Pronto, mais uma coisa pra me envergonhar, eu tinha sido mal-educada DUAS vezes. Mas é que a possibilidade de bater papo com ele me assustava. Qualquer troca de palavras com era algo humanamente impossível pra mim. Só que ele não desistiu.
- Você tem mesmo certeza? - Era a minha chance. Eu tinha sido idiota de verdade duas vezes e ele ainda assim me deu uma terceira chance, me provando que eu não era insignificamente pra ele. Aceitei a carona, abrindo a porta do carro e entrando rapidamente, antes que minha coragem se fosse. Ele sorriu novamente e eu me senti uma gelatina gigante, ainda bem que estava sentada e podia me apoiar na porta do carro.
Ele começou a falar de coisas bobas, de quem não sabia nada sobre a pessoa com quem estava conversando. Eu ainda estava nervosa e respondia tudo monossilabicamente, mas com o tempo fui me soltando e conseguimos conversar como duas pessoas normais. Pra minha sorte, minha casa era longe da faculdade. Eu andava uns quarenta minutos todos os dias e isso nos deu um tempo considerável para conversarmos. Eu descobri que sua personalidade era extremamente próxima da imagem que eu fazia dela e que ele era uma pessoa sincera, simpática e muito interessante. Passados os momentos de tensão, eu me sentia confortável ao conversarmos e percebi, com um certo temor, que estava começando a gostar dele de verdade. Quando chegamos à minha casa, reuni toda a coragem que me restava e o convidei para tomar um café depois do trabalho. ele aceitou educadamente e disse que me buscaria às dezoito horas.


Te quiero tener y mirar esa carita y disfrutar de tu sonrisa


Nem um minuto a mais ou a menos, ele apareceu na minha porta exatamente no horário marcado. Pontualidade britânica. Ele era britânico, de fato. Foi uma das primeiras coisas que descobri em nossa conversa. Ele era inglês, resolveu conhecer outro lugar além de sua querida Inglaterra e para sobreviver, ganhar algum dinheiro, tinha resolvido dar aulas em cursos de verão, pois era formado em literatura britânica. Mas não pretendia fazer aquilo pelo resto da vida, seu sonho era voltar pra casa e viver de música. Sem querer, eu tinha achado o homem perfeito. Inglês e músico, tudo o que eu queria pra mim, e eu nem precisei sair procurando por ele, ele chegou a mim sem querer. Será que podia me considerar uma não-groupie? Talvez, mas ele não demonstrava nenhum interesse em mim além da amizade e da vontade ter alguém pra conversar. Eu estava feliz por ter ganho um novo amigo, mas não sabia se a aparente falta de interesse da parte dele era mero cavalheirismo britânico. Na verdade, pouco mais adiante na nossa conversa, descobri que ele era comprometido e toda minha esperança de algum tipo de romance se viu destruída e massacrada embaixo da sola de seu all-star. Ele era bem jovem, era só dois anos mais velho que eu. Eu tinha vinte e quatro, ele tinha vinte e seis. Todo esse compromisso me fez lembrar que eu também era compromissada. Quer dizer, mais ou menos, se você analisar bem a situação, não. Então pra mim, esse não era exatamente um motivo para não me encolver com ele. Ele sim tinha um grande motivo para não se envolver comigo. O mundo era cruel e eu não conseguia entender que tipo de namorada deixava o namorado sair para um café com outra mulher na sexta a noite. Ele me respondeu antes que eu precisasse perguntar. O tipo de namorada que estava em uma viagem de negócios na Holanda. Eu ainda não conseguia entender como alguém podia abandonar um cara como ele sozinho assim, se eu fosse sua namorada ia querer viver abraçada a ele o resto da vida.


Por ti lucharé por todo el cariño que has puesto conmigo // Por todo tu tiempo por haber querido tenerme contigo


Com o passar das semanas, nós conversamos bastante e estávamos nos tornando muito amigos. Amigos até demais. Não que eu não quisesse ser amiga dele, mas eu estava me apaixonando e não era correspondida, e cada minuto ao seu lado era uma tortura. Em um sábado, ele me convidou para um passeio por Roma. Eu ainda não tinha tido oportunidade para conhecer a cidade e ele se ofereceu para ser meu guia. Sua namorada tinha viajado de novo e quando isso acontecia ele tinha mais tempo para se dedicar à minha companhia. Ainda assim, a presença dela não tinha sido nenhum empecilho para sairmos para conversar nos outros dias. Ela parecia não se importar, mas tinha razão, ele era sempre muito educado e não saía um dedo da linha, para o meu tremendo azar. Como de costume, ele estava na minha porta na hora marcada e nossa primeira parada era o Coliseu.

- Vem, . - me puxou pela mão quando saímos do monumento, me levando em direção à dois homens vestidos de guerreiros, para tirar uma foto. Eu comecei a rir da situação e tentei negar, mas o sorriso dele me desarmava e eu não pude resistir. Andamos até os dois e eles logo começaram uma pequena encenação particular, pois aos olhos do público, eles sempre agiam como guerreiros e não como pessoas normais. Bem, vestidos daquela maneira, normais era a última coisa que pensaria deles. Mas era bem legal. Vi um dos homens entregar uma espada nas mãos de e este fazer uma pose, como se fosse enfiar a espada na barriga do guerreiro. Me posicionei entre e o outro guerreiro, que fingia tentar matar a mim. Pobre de mim. Um turista barrigudo que passava por perto tirou a foto e nós dois saímos rindo pelo grande pátio que circundava o Coliseu.
- , você é uma figura.
- Eu adoro sair com você. Me divirto muito. - ele sorriu e eu não tinha como não retribuir. - Agora, vamos andando, que há muito para se ver.
Era sábado e a cidade estava lotada, portanto ficava meio difícil o acesso aos pontos turísticos, mas conseguíamos ver bastante coisa.
- Olha só, se você jogar uma moeda de costas aqui nessa fonte, você volta. - ele me explicou, mexendo no bolso atrás de alguns euros, e apontando a Fontana di Trevi logo à frente. À propósito, naquele momento eu não tinha mais vontade de me afogar nela. Analisando meus pensamentos daquele ponto, eu me sentia uma boba por ter pensado que me sentiria mal perto de . Ele era sensacional. Simplesmente, não tinha como se sentir mal perto dele. - Tome. - ele colocou uma moedinha na minha mão, enquanto segurava outra na sua. Com sua mão livre, segurou a minha outra mão livre, me olhando nos olhos e me virando de costas para a fonte. Eu senti um friozinho gostoso percorrer minha espinha e sorri, fechando os olhos e desejando estar ali novamente um dia, com ele. Jogamos nossas moedas e viramos para observá-las afundar lentamente, juntando-se às outras milhares de moedinhas no fundo da fonte. Quase não se enxergava o fundo dela, afinal era um dia de pico, e possivelmente, a maioria dos turistas que ali passaram, haviam jogado suas moedinhas, na esperança de voltarem um dia. Nos olhamos novamente e sorrimos.
Andamos o dia inteiro, e eu quase não sentia minhas pernas de tão cansada que estava. Quando vimos, havíamos percorrido todos os monumentos a pé, terminando nossa jornada na Basílica de São Pedro, que ficava, acreditem ou não, praticamente do outro lado da cidade, oposta ao Coliseu. Foi um dia muito gostoso, e eu me diverti bastante, era como se não existissem outras coisas no mundo além de nós dois e nossa alegria. Uma pena que a melhor parte, eu sentia sozinha.
Chegando em casa, me joguei no sofá, pois o meu cansaço era absurdo e antes que pudesse pensar em qualquer coisa, como comida e banho, eu já havia adormecido, o que me rendeu uma bela dor nas costas quando acordei na manhã seguinte, com um raio de sol invadindo a janela e atingindo sem piedade o meu rosto. Meus olhos doeram quando os abri e a primeira coisa que fiz foi tomar um café. Tomei banho, deitei na cama e adormeci de novo, dessa vez, com muito mais conforto. havia me dado uma canseira. Não a que queria, se é que me entendem. Desculpem, mas é a realidade. Perto de meio dia, eu acordei pela segunda vez naquela manhã, com a campainha tocando e com minha cara mais amassada e olheiras profundas, me arrastei até a porta para constatar que era, bem, que perturbava meu sono.

- Mas você não cansa? Não dorme? - olhei para ele, através das pequenas fendas dos meus olhos, que não suportavam abrir mais do que aquilo.
- E você só pensa em dormir. - Ele sorriu, vendo o estado deplorável em que me encontrava. Ótimo. Se ele já não nutria sentimentos amorosos por mim antes, depois de me ver assim é que não ia acontecer nada mesmo. Ah, whatever. Azar. Nunca ia conseguir nada mesmo. Afastei a porta, o deixando entrar e sentei no sofá, esfregando o rosto para espantar o sono, enquanto ele fechava a porta e sentava-se ao meu lado. - Então...
- Então o que? - olhei para ele com uma sobrancelha erguida, sem a mínima idéia do que ele havia ido fazer ali.
- Vamos fazer alguma coisa.
- Dormir, que tal? - ele riu.
- Sem ser dormir, obviamente, você já dormiu demais.
- Não dormi não. Seu passeio me deixou cansada ontem. - olhei para ele indignada.
- Deixa de ser preguiçosa. Aquilo não foi nada. Ainda tem um mundo inteiro para a gente conhecer. Ontem foi apenas Roma, amanhã, quem sabe?
- Amanhã eu tenho que trabalhar.
- Você me entendeu, engraçadinha.
- O que você sugere?
- Sobre?
- Para a gente fazer, inteligência. - dei um petelequinho na testa dele e ri. Sim, eu tinha essa liberdade, o curso de verão já havia acabado, ele não era mais meu professor e depois de tantas saídas, conversas, momentos, bem, ele havia se tornado meu melhor amigo, não poderia negar. E tinha certeza que pelo menos esse sentimento era recíproco. Ele também me considerava sua melhor amiga.
- Hum, não sei, você tem alguma idéia? - olhei para ele e antes que pudesse responder, ele completou. - Sem ser dormir, já avisei. - deixei meus ombros caírem em sinal de derrota e sorrimos.
- Tudo bem. Não vamos dormir. Mas também não tenho condições mentais, muito menos físicas para sair andando pela cidade novamente.
- Sem problemas. Que tal passar a tarde morgando, assistindo filmes e comendo? - meus olhos brilharam e acho que ele pôde perceber isso, pois sorriu abertamente, do jeito que eu gostava.
- É por isso que eu gosto de você. - falei, sorrindo também e me levantei para pegar outra xícara de café, para me manter acordada. Já comentei que gosto muito de café? Eu realmente gosto. Em todas as suas maneiras. Café, espresso, sorvete de café, bombom de café, bala de café. Aliás, na Itália eu me sentia no paraíso. Ô povinho para gostar de café. E eles tinham uns chocolates com recheio de café eram um sonho. Hum, fiquei com vontade de comer agora, mas não tenho nenhum aqui em casa, que pena. Me contentarei com essa humilde caneca, por enquanto.
- , quer café? - gritei da cozinha, enquanto ouvia a televisão ser ligada e uma busca incessante por um canal decente começar.
- Café? Ao meio-dia? - gritou em resposta. Ouvi passos e logo ele estava encostado no batente da porta, me observando encostada na pia, tomando minha maravilhosa canequinha. - Isso é hora de tomar café? Eu quero é comida.
- Ah, então você veio aqui em casa só para comer? - ergui uma sobrancelha e sorri cinicamente. - Sinto muito, veio na casa errada. Não tem comida, eu dormi a manhã inteira, .
- Mas que absurdo. Acho que vou ter que arrumar outra amiga, que tenha comida em casa, porque assim não vai dar para viver. - ele balançou a cabeça em negação e entrou na cozinha, abrindo algumas portas, pegando uma panela, macarrão e um vidrinho com conteúdo verde na geladeira. Encheu a panela com água e colocou no forno para ferver. Exato, ele também tinha essa liberdade na minha casa, já era quase dele também, porque ele vivia lá. Eu já disse que àquela altura do campeonato, éramos realmente amigos.
- Macarrão ao pesto? - Hum, que delícia, adoro. - Boa escolha. - coloquei minha caneca vazia na pia, enchi de água e me sentei na mesa da cozinha, enquanto observava cozinhar o macarrão. Em menos de 40 minutos, já estávamos acabando de comer e eu levantei para lavar a louça, enquanto ele ia para a sala escolher um filme para assistirmos.


Volverá, te juro que volverá. Ese amor verdadero [ ] seguro que volverá


Basicamente, aquela fase da minha vida tinha sido isso. Eu trabalhava na empresa de publicidade e gostava muito do meu emprego, enquanto dava aulas de literatura e música em alguns cursos, como aquele da faculdade em que a gente se conheceu. Nós víamos algumas vezes por semana, mas todos os finais de semana eram nossos, a não ser quando a namorada dele estava na cidade. Eu achava que aquiloe ra um sinal de que eles não erm tão compatíveis assim enquanto casal, mas não me manifestei. Nós éramos um exemplo perfeito de sintonia e tínhamos gostos extremamente parecidos, só que, aparentemente, só eu achava isso. Ele continuava sem nenhum tipo de iniciativa e aquilo me matava. Eu estava empacada sentimentalmente. Queria que algo acontecesse com ele, o que parecia impossível, mas não tinha coragem de falar, para não estragar a amizade, e como eu estava presa nos meus pensamentos por ele, não conseguiria ter interesse por mais ninguém. Meu ex dizia me esperar no BRasil, mas eu não tinha mais nenhuma intenção de voltar pra ele e deixaria isso bem claro assim que estivesse de volta. O que aconteceria em breve. Minha passagem para o Brasil já estava marcada e eu não conseguia mais imaginar a minha vida sem . Mas, talvez, depois de ir embora eu conseguisse esquecê-lo. Não estava indo embora por causa disso, o programa de troca tinha acabado, e apesar de eu ter a opção de ficar, decidi que tinha absorvido toda a experiência possível e que era hora de voltar pra casa.
ficaria na Itália, lógico, sem idéias de retornar para a Inglaterra, pois além de suas aulas, tinha ali um projeto paralelo, em uma banda que estava começando a engatinhar, e eu torcia para que desse logo certo, ele merecia. Ele estava inconsolável com a minha partida, mas era claro como água para mim que ele nunca tinha nem pensado em gostar de mim, ele só estava sofrendo ao me ver ir embora porque tinha um enorme carinho de amigo por mim. Nada mais. Eu, por outro lado, sofria por deixar pra trás alguém que eu já amava loucamente, e que tinha certeza que seria o único amor verdadeiro da minha vida.


Y por tu calor y por tanta mágia me quedo contigo // Y por tu calor y por tu carisma te llevo conmigo


- Você promete que não vai esquecer de mim? - estava com lágrimas nos olhos e eu achei aquilo particularmente fofo. O abracei com força, pensando que seria a minha última oportunidade de sentir seu calor, e querendo guardar para sempre na minha memória a sensação gostosa de abraçá-lo.
- É claro que nunca vou te esquecer, . - sorri, sentindo lágrimas nos meus olhos também.
- Eu não vou deixar você me esquecer, mesmo. - ele sorriu, apesar da lágrima estar rolando livremente pelo seu rosto naquele momento. Eu levantei a mão e sequei-a com carinho. Isso estava partindo meu coração, o ver chorando, essa proximidade, como eu gostaria de beijá-lo. - Eu vou te escrever sempre, assim não vai ter como você me esquecer. - sorri e dessa vez foi a minha lágrima que se aventurou pelo meu rosto. Senti se aproximar e me dar um beijo na bochecha, exatamente onde a lágrima havia passado, como se quisesse impedi-la e isso me fez sentir mais vontade ainda de chorar. Me afastei dele, dei um beijo em sua bochecha também, e segurei minhas malas, dirigindo-me para o portão de embarque.
- Adeus, .
- Não, até logo. Eu pretendo te ver de novo na minha vida. - ele abaixou a cabeça, mas logo levantou para me ver sorrir e acenar, indo embora através do grande portão, após mostrar minha passagem para o homem à minha frente.


Y ahora lo pienso, no veo una razón, que triste es esto // Dentro de mi vida, donde se ha creado todo, donde están todos mis miedos, donde entro si estoy solo


É doloroso sentir como algumas pessoas causam choques tão grandes em nossas vidas que após aparecerem, nunca mais seremos os mesmos. E no meu caso, foi doloroso porque não foi uma mudança feliz e agradável. Desde aquele dia desastroso em que entrei na sala de aula como uma mendiga desesperada e conheci a pessoa que faria meu mundo girar, eu mudei. E meu mundo de fato girou, mas girou tão rápido e desordenadamente que eu me sinto enjoada, perdida e não consigo mais voltar ao normal. Fiquei melosa, boba e romântica, logo eu, que sempre achei que esse tipo de coisa fosse coisa de novela. Os clichês passaram a fazer parte do meu cotidiano e eu acabei assumidamente brega. Porque tudo que é romântico é muito brega. MAs quando a gente se apaixona, tudo fica lindo. Eu não sei nem dizer porque diabos era tão bom se sentir assim. Eu não estava correspondida e nunca seria, mas ao mesmo tempo que amar queria dizer sofrer, amar queria dizer não sofrer mais. E era bem assim que eu me sentia sempre que chegava um novo e-mail dele. Sempre que acessava meu e-mail, o sorriso característico de quando eu escutava algo em relação ao seu nome surgia em meu rosto sem pensar duas vezes. Ele me mandava uma média de quinze e-mails por mês, o que significava que no ano depois que voltei da Itália eu já tinha recebido uns cento e oitenta e-mails dele. Alguém tem noção do quanto são cento e oitenta e-mails por ano? Era quase um pesadelo, considerando que eu estava tentando esquecê-lo. Se ele fosse uma pessoa que eu não gostava, eu podia smplesmente bloqueá-lo e jogar os e-mails fora, mas era o , e eu jamais faria algo assim. Além de que, os e-mails eram particularmente lindos, ele era formado em literatura e escrevia música e por mais que eu quisesse esquecê-lo, eu ainda o amava. Então, como nas outras cento e oitenta vezes, apertei o botãozinho para começar a ler e comecei minha tortura.

Minha querida ,
já estou com saudades de escrever para você, embora o último e-mail tenha sido somente há 3 dias. Como estava em casa, em um de meus momentos de folga, aqueles que costumávamos passar juntos, resolvi que iria te escrever, de novo. Porque em todos esses momentos, eu só consigo lembrar de como era bom quando você estava aqui. Quando vamos nos ver novamente? Estou com tantas saudades. Tenho uma notícia boa e uma ruim. Qual você quer primeiro?
Ok, vou contar a boa primeiro.
A minha banda, aquela que estava começando quando você foi embora, está fazendo certo sucesso nos belos cafés italianos, e eu estou muito feliz, vamos tocar naquele lugar que você adorava ir para a gente conversar, lembra? Gostaria que você estivesse aqui para compartilhar essa alegria e assistir o meu show.
Agora a notícia ruim.
Eu me separei da minha namorada. Não estava dando certo e nós dois decidimos que era o melhor que poderíamos fazer. Não conseguimos sequer imaginar-nos juntos por mais um ano, o que dirá casados eternamente. Eu não a amava há tanto tempo, não sei como pude arrastar essa relação por tão longa data. No fim, não creio que seja uma notícia tão ruim assim. Estou bem.
Você gostou do presente que mandei para você na semana passada? Espero que tenha gostado, aguardo notícias suas.
Com amor,


Ok, como assim ele tinha terminado com a namorada? Notícia ruim? Só se fosse pra ele. Sim, o que me importava realmente era a sua felicidade, mas eu não podia negar a felicidade que a notícia me trouxe. Se ele não estava feliz com ela, devia estar feliz sem ela, então, não tem nada de errado em eu ficar feliz com o término da relação do , né? Pelo menos era o que eu achava.document.write(James) tocando e fazendo sucesso. E, meu, ele me mandava presentes! Não eram presentes caros e eu nem me importava com isso, mas a lembrança dele derretia meu coração. Brega. Eu precisava fazer alguma coisa da minha vida, já estava ficando doente.
Eu tinha dispensado meu ex assim que cheguei ao Brasil, como havia dito que o faria. Eu não conseguia nem pensar em beijar alguém que não fosse . Eu não odeio meu ex, e nosso fim não foi nada desastroso. Não teve brigas nem traições, mas eu já não gostava mais dele. Acho que o caso do foi meio assim também, quem sabe?


No sé si quedan amigos, ni si existe el amor, si puedo contar contigo para hablar de dolor // Si existe alguien que escuche cuando alzo la voz y no sentirme sólo


Eu não podia acreditar. Como pude dispensar aquele clone do Paul Walker, simplesmente porque a imagem de não me saía da cabeça? Como? Quando, no mundo, ia achar outro clone do Paul querendo algo comigo? Se eu estivesse perto de alguma especialista, certamente teriam pegado aquela simpática camisa branca, enrolado meu corpo nela e me levado direto para o manicômio mais próximo. Alguma especialista, claro, pois tinha que ser mulher para entender a gravidade da situação. Como alguém dispensava um loiro, alto, de olhos azuis por uma lembrança que sequer me amava?
Minhas amigas tiveram essa brilhante idéia de me arrastar para uma noitada e eu não estava com a mínima vontade. Aliás, desde que voltei da Itália, não tinha vontade de socializar muito. Trabalho, casa, trabalho, casa, trabalho... Era um curto e pavoroso resumo do que tinha se tornado a minha vida pós- .
Eu precisava de terapia, ou de um novo amor. Mas como eu ia conseguir amar alguém se não conseguia apagar da minha memória? Bem, recebendo três e-mails por semana e presentes de tempos em tempos, definitivamente não seria tão fácil.


Estoy cansado de siempre lo mismo, la misma historia y quiero cambiar // Y darle tiempo a este momento, que me ayude a superar


Tinha recebido uma nova proposta de emprego. Dessa vez não era uma troca, era permanente. Sabia que precisava dar uma sacudida na minha vida e o lugar que me ofereceram o emprego era certamente o que eu precisava na minha vida, o meu lugar. A Inglaterra.
Demorou, mas finalmente meu sonhod e morar lá ia se realizar. Eu não podia acreditar quando minha chefe me contou que me queriam por lá. Era bom demais pra ser verdade. Sem contar que era o país de , mesmo ele não morando lá. Mas eu ainda estava tentando esquecê-lo e tê-lo por perto seria de menos ajuda do que os e-mails e presentes que eu continuava recebendo. Mas eu estava indo embora e ia deixar tudo pra trás, e algo me dizia que daquela vez as coisas eram definitivas. Parecia que eu estava indo buscar um pedaço de mim que tinha ficado por lá, era isso que sentia. Aceitei a proposta no mesmo instante, do mesmo jeito que aceitei quando me propuseram o emprego na Itália. Como se fosse a reprise de um filme na minha cabeça, fiz tudo que tinha feito um ano antes. Cheguei em casa radiante, liguei pra minha mão pra dizer que estava indo embora de novo e esperei pacientemente os dias passarem e a hora de pousar na terra da rainha que não governa chegar. Mais doze ou treze horas de avião, sem posição para sentar, dormir ou ver TV e comendo mal. Eu já estava me acostumando, por mais que reclamasse, voar ainda era lindo. Ver as luzinhas do alto e ficar imaginando que aqueles pequenos pontos luminosos juntos formam uma grande cidade, e ficar imaginando o que as pessoas estão fazendo no momento. Nunca fez isso? Eu sempre faço quando vôo. Você já parou pra pensar quantas pessoas estão escovando os dentes nesse momento no mundo? Ou quantas pessoas estão acordando, indo dormir, brigando, namorando... É uma coisa estranha de se imaginar, mas eu gosto. Estava pensando nas pessoas lá embaixo e meus pensamentos recaíram sobre . Me peguei me perguntando o que ele estava fazedo naquele momento. Provavelmente estaria dormindo, afinal eram quatro da manhã. Eu disse pra ele que estava indo morar na Inglaterra e ele ficou muito contente, imaginando que assim seria mais fácil de nos encontrarmos. Mas eu não estava muito animada com isso, ele morava na Itália há quatro anos já e ele tinha ido visitar a família na Inglaterra apenas uma vez. Eu não podia culpá-lo, ele tinha um trabalho na faculdade e agora sua banda estava engrenando, não dava pra largar aquilo pra fazer visitinhas. Tentei cochilar pra não ficar pensando.
"Atention please, fasten your seat belts, we are going to land very soon. Thank you."
Me assustei com a voz avisando que íamos pousar. Eu não tinha nem tomado café da manhã, devia ter dormido mesmo, finalmente. Era um milagre, eu nunca dormia em aviões, podia comemorar essa data pra sempre.
Sempre que eu passava tempo demais dentro do avião saía meio retardada. Eu sei que sempre fui retardada a maior parte do tempo, mas era incrível como isso se intensificava depois de algumas horas de avião. Algumas não. Muitas, longas, torturantes horas.


Trato de verme como soy hoy, cambiar lo que duele // Voy haciendo mis planes, voy sabiendo quien soy, voy buscando mi parte, voy logrando el control


Aquele era o meu lugar. Estava me sentindo em casa de verdade.
Mesmo sentindo um aperto no coração, como se me faltasse algo para me sentir completa, uma grande parte da minha angústia passou quando caminhei pela primeira vez por Londres. A casa onde eu ia morar não era das mais bonitas e bem conservadas, mas era tudo que eu podia pagar sem passar fome, a libra era uma facada para o bolso de uma brasileira. Nunca vi moeda mais desvalorizada que a nossa, comparado com a libra esterlina, nosso real é um pintinho. Eu quase infartei quando vi o preço dos apartamentos, mas enquanto não receber em libra, não podia nem pensar em regalias. Mas eu ia sobreviver. Sabia que ia. Além do mais, estava em Londres, e para morar ali, eu dormiria até embaixo da Tower Bridge. Se eu fosse um peixe, lógico, porque embaixo da ponte só tem água.
Com o corpo latejando de dor, a única coisa que eu queria naquele momento era um banho e minha cama. Dormi maravilhosamente na minha primeira noite londrina. Pela manhã, ajeitei as cosas rapidamente e na falta do que fazer a tarde, resolvi dar uma volta pela cidade. Em Roma o turismo teve de esperar , mas em Londres não podia esperar nem mais um minuto.
Com a facilidade de morar bem perto da estação de metrô, eu rapidamente chegaria longe se tivesse dinheiro pra passagem, senão, só me sobraria minhas solas de sapato. Como já estava tarde, era outono e a cidade já estava sombria, eu não tinha muito tempo pra passear, então acabei ficando ali por perto de casa mesmo, caminhando em um parque agradável. Já imaginou se me perco no primeiro dia?
As pessoas que não economizavam em elogios aos parques da cidade tinham toda razão. Que tranqüilidade. Parecia coisa de filme. Os parques eram enormes, limpos, agradabilíssimos. Adorei e planejei passear ali sempre que pudesse.
Cheguei em casa quando já estava escurecendo. Comi umas frutas que tinha comprado no caminho de volta e liguei o laptop para falar com alguém do Brasil. Eu precisava compartilhar minha felicidade com alguém. Quando abri meu e-mail, sem surpresas, novas notícias de . As mesmas de sempre. Naquele momento, decidi que não podia mais continuar com aquilo, que eu precisava de verdade dar um basta nessa história ou estragara ainda mais minha vida. Ao ir para Londres, a intenção era recomeçar.
Eu tinha tomado uma decisão importante, qie podia fazer uma grande diferença na minha vida. Ia dizer a verdade para , não consegui amais guardar aquilo só pra mim e sabia que aquilo acabaria com a amizade, mas, estava pronta pra nunca mais receber notícias dele. Comecei bloqueando seus e-mails, não queria nem saber da resposta ao que ia dizer. Estava guardando tudo aquilo por dois longos anos e não seria fácil, abri uma página para escrever e fiquei um bom tempo encarando a tela branca, que aguardava aparentemente minha digitação. Demorei horas para escolher as palavras certas e após muitas tentativas frustradas e introduções apagadas, eu tinha o texto completo, só precisava apertar enviar.

,
essa é, provavelmente, a última vez que vamos nos comunicar. Estou bloqueando seus e-mails, pois eu não faço questão de ouvir as verdades que você terá para me dizer após saber o que vou te contar agora. Sabendo que isso afetaria profundamente nossa amizade, eu optei pelo caminho da separação, para que eu pudesse parar de sofrer e evitando sofrer ainda mais por estar estragando nossa amizade.
Desde a primeira vez que te vi, sabia que não seria mais a mesma. Você mudou minha vida de uma maneira que sequer pode imaginar. A cada dia da minha vida, desde que te conheci, eu amava mais e mais sua presença, sua lembrança, seu sorriso. Eu me apaixonei por você e sabia que era errado, mas eu não pude impedir. Durante aquele ano todo em que tive sua amizade, vivi uma tortura sem fim, pois estava com você ao meu lado e nem sequer podia dizer o quanto te amava. Nunca tive coragem de contar, porque obviamente, sempre tive a certeza de que você não compartilhava desse sentimento. Eu podia ver pelas suas ações e ler em seus olhos, que você só me queria como amiga e ainda por cima, tinha uma namorada, com a qual eu nem ousaria competir. Depois que fui embora, passei outro ano da minha vida ainda pior, pois além de não te ter como amor, não o tinha como amigo próximo. Quando fui embora da Itália, achei que isso ajudaria, a distância ajudaria a te esquecer. Mas depois de todo esse tempo, vi que só piorou e a cada dia me sentia mais perdida sem você. Me desculpe, eu não pude deixar de me apaixonar. Eu te amo muito e por isso preciso cortar o contato com você. Peço que não responda a esse e-mail. Estou deixando de viver.
Com amor,
.


Apertei o botão, não dava para voltar atrás. Eu não acreditava no que tinha acabado de fazer, tinha perdido pra sempre.
Enfim, a vida continuava, e era isso. Fechei o laptop com um pouco mais de força que o necessário, as lágrimas queimavam em meus olhos. Levantei da cama e corri para o chuveiro, sem sequer lembrar de tirar as roupas. Fiquei alguns minutos só sentindo as gotas baterem no meus rosto e respingarem contra a parede. Lentamente, tirei a roupa encharcada e a deixei cair pesada no chão. Podia ficar horas ali, só deixando a água me lavar a alma, mas eu era a favor do racionamento de água e da natureza, então, nada de desperdício. Desejei que estivesse chovendo, poderia pelo menos lavar minha alma naturalmente. Sendo uma pessoa muito consicente, fechei a torneira e me enrolei na toalha. O banho tinha sido suficiente, me sentia um pouco melhor. Coloquei uma roupa quente e fui à cozinha esquentar uma caneca de leite, eu precisava dormir. Deitei debaixo das cobertas após tomar o leite e em alguns instantes estava dormindo tranqüilamente, só precisava esquecer o que tinha acabado de mandar a . Só tinha que esquecer... .


Hoy me siento tan grande, por tenerte a mi lado, me regalas la vida, que sin ti yo no valgo // Mucho cariño que regalar, te necesito tanto, tanto


Trabalhar em Londres esava sendo muito prazeroso. Eu adorava a cidade e quase todos os dias passava por um dos parques espetaculares. Me adaptei depressa à cidade, tão bem quanto jamais teria me adaptado ao Brasil. Aquele era sem dúvidas o meu lugar e eu ia fazer de tudo para minha vida ali dar certo. sempre que a imagem de me voltava a mente eu a empurrava para longe, bloqueando as lembranças. Era a única maneira que eu tinha para me esquecer de tudo.
Fazia uma semana que eu estava ali, uma semana que tinha mandado aquele e-mail a e, claro, não recebia nenhuma notícia dele. O meu horário de trabalho tinha acabado e eu estava fazendo meu caminho de volta pra casa. Era final de tarde e o clima estava agradável, fresco. Andei calmamente até a porta do meu prédio, onde vi alguém sentado, abraçando os joelhos e com a cabeça afundada entre eles. Senti algo estranho, algo que não sentia há muito tempo e tinha a ligeira impressão de que conhecia aquela pessoa, aquele cabelo de algum lugar, mas logo afastei o pensamento e resolvi oferecer ajuda.


- Olá, você está bem? - eu parei em frente à escada onde ele estava sentado, com um certo receio de me aproximar. Senti o sangue abandonar meu rosto e as mãos suadas, meus olhos arregalaram levemente quando a pessoa levantou o rosto e cravou seu olhar em mim. - ? Mas o que ? - Eu estava sem fala, confusa. Sentia que podia desmaiar. - O que vo.. - não conseguia terminar nenhuma frase, olhando naqueles olhos que me perseguiram durante tanto tempo, que me encaravam levemente vermelhos e com algumas olheiras acompanhando.
- . - esfregou a ponta da manga da blusa comprida, em seus olhos e nariz, levantando depressa, mas sem tirar os olhos de mim. - Eu... - ele também parecia sem fala. O que eu fazia? Ele está ali. Por que ele teve que ir até lá? Para tornar tudo pior? Será que ele não entendia o mal que estava me fazendo? Ele não me amava e eu precisava esquecê-lo. - ... precisamos conversar.
- Eu já te disse tudo que tinha para dizer naquele e-mail. - a minha voz pareceu voltar de um lugar muito distante no fundo das minhas cordas vocais e por isso saiu meio rouca.
- Não. Você disse tudo que tinha para dizer, mas não me deu nenhuma chance de dizer o que eu tinha para dizer a você. - também pareceu recuperar sua voz de um lugar distante, mas agora parecia mostrar um pouco mais de energia e coragem.
- Será porque eu não quero saber o que você tem para me dizer? - eu falei com raiva, por ele ter tido a coragem de ir até ali para jogar na minha cara que eu não deveria ter me apaixonado e estragado a amizade.
- Mas você não sabe o que eu tenho para te dizer. - ele falou suavemente e eu abaixei a cabeça, sem querer ouvir.
- Eu sei. - funguei, porque a essas alturas eu já estava chorando de raiva, de dor, de saudades. Como era bom vê-lo novamente. Que droga. - Você veio esfregar na minha cara o quanto eu sou infantil e boba por ter me deixado apaixonar por você e estragar uma amizade tão legal como a nossa. - ouvi rir fracamente e se aproximar de mim. Tentei me afastar, mas eu não conseguia me mover.
- Nessa bobagem toda que você falou, só acertou duas coisas. Você é infantil e boba. - olhei para ele com raiva. Quem ele pensava que era para realmente dizer o que eu achei que ele ia dizer? Achei que estava ficando tonta. - Você é infantil e boba, por não me deixar falar exatamente o que eu vim falar, que está longe de ser uma repreensão por você ter se deixado apaixonar. - ele se aproximou mais e eu podia sentir o calor que emanava do corpo dele envolver o meu. Senti a mão esquerda dele secar minhas lágrimas e seus olhos buscando os meus. Levantei a cabeça devagar, passando o olhar pela boca dele, que eu desejava beijar todos os dias e que naquele momento ostentavam um leve sorriso. Passei o olhar pelo nariz dele e nesse momento, eles quase se tocaram, os nossos narizes, quero dizer. E finalmente depositei meu olhar nos olhos dele e pela primeira vez vi tudo aquilo que passei um ano procurando em vão. Todo o amor que eu procurara incessantemente em seus olhos e que jamais encontrara, que me convenceram que ele não me amava e que jamais o faria. De repente, estava ali e eu estava ficando ansiosa para saber o que afinal ele queria me dizer.
- Fala. - eu sussurrei e vi que os olhos de desviaram rapidamente para minha boca e quando voltaram a focalizar os meus, eu vi outro sentimento que nunca havia visto, desejo.
- Eu também te amo. Eu também sofri e lutei o tempo todo contra a vontade de ficar com você, porque eu tinha certeza que era você quem não queria nada comigo. - eu parei de respirar. Eu mal podia acreditar que estava finalmente ouvindo aquilo da boca de . Era um sonho. Espera, e se fosse um sonho? Eu me inclinei levemente em direção à boca dele, indicando que queria beijá-lo e fui prontamente correspondida. abaixou sua cabeça, fazendo nossos lábios se encontrarem e aplicando um pouco de força contra os meus. Se era um sonho, eu queria pelo menos aproveitar. Senti a língua de pedir espaço na minha boca e abri-a de leve, permitindo que ele intensificasse o beijo. Meu Deus, se isso for um sonho, sinceramente, não sei se fico frustrada ou empolgada. Ficamos nos beijando por longos minutos, até separarmos por falta de ar. Olhei para os olhos dele novamente e vi brilho.
- Será que é um sonho? - Eu precisava ter certeza. Não era um sonho. Não podia ser um sonho. Não podia, não podia, não podia.
- É. - Preciso dizer que não era a resposta que eu esperava ouvir? - É um sonho real. - melhorou. Essa sim era uma resposta interessante. - Venha. - pegou minha mão e começamos a caminhar em direção ao metrô.
- Onde estamos indo, ? Está escurecendo já. - Na realidade, eu pouco me importava. Ele podia me levar até pro inferno que naquele momento eu ia achar o paraíso.
- Eu morava nessa cidade, eu a conheço. Não vamos nos perder. - ainda segurava minha mão e logo estávamos dentro da linha circular que nos levaria para algum lugar que eu ainda não sabia qual era. Precisamos pegar uma conexão, pois aquela linha não levava até onde queria ir e eu estava cada vez mais curiosa. Só fazia uma semana que estava ali e o máximo que havia visto eram alguns parques próximos ao meu apartamento. Nem a Clock Tower eu tinha visto. E não havia sido falta de vontade. Saindo do metrô, começamos a andar e logo avistei duas coisas que eu certamente havia sonhado a vida toda em conhecer. ainda não havia dito uma palavra desde que saímos da frente do meu prédio, não havia soltado minha mão e o máximo que aconteceu para me provar que ele ainda estava no planeta Terra, fora um selinho dentro do metrô. Mas agora eu estava ali, ao ar livre, vendo aqueles dois monumentos magníficos, e não tinha palavras para descrever. E ainda assim, não parou. Onde diabos ele estava me levando? Os monumentos? A Torre de Londres e a Tower Bridge. Onde paramos? No meio da ponte. Pela passagem de pedestre, andamos até a metade da ponte. Dali eu veria o Rio Tâmisa logo abaixo, se não estivesse cheio de neblina, fazendo parecer que a ponte flutuava entre as nuvens. A Torre de Londres e o resto da cidade iluminados completavam a paisagem. Uma das paisagens mais extraordinariamente belas que já tinha visto na minha vida. , que ainda segurava minha mão, ficou observando minhas reações, enquanto eu olhava para todos os lados, tentando gravar cada pedaço daquele cenário na minha memória. Quando olhei para novamente, ele estava ajoelhado e tinha uma caixinha na mão. Eu não acreditava que era o que estava pensando. Ele não estava fazendo isso, estava?
- Mas o q... - Ele não me deixou terminar de falar.
- Espera. Deixa eu falar primeiro. - ele inspirou e soltou o ar levemente, antes de começar a falar o que queria. - , você é tudo que eu quero para minha vida. Eu te amo desde a primeira vez em que te vi e cada dia amo mais. Você quer casar comigo? - As lágrimas voltaram sem piedade e antes que eu pudesse responder, estava chorando como um bebê nos braços de . Nunca imaginei que conseguiria sequer beijá-lo, o que dirá me casar com ele. Definitivamente, só podia ser um sonho. - ? - acariciava meus cabelos, porque eu ainda tinha a cara enfiada em seu peito, chorando por tudo que havia passado até ali, tudo que havia sofrido pra conseguir viver aquele momento com ele. E ele estava esperando minha resposta. Eu precisava parar de chorar e responder o coitado. Respirando fundo, me afastei rapidamente.
- Aceito. - Falei na voz mais chorosa possível e afundei novamente no seu peito, continuando minha sinfonia de choro e fungadas. riu de mim e me abraçou forte. Passado um tempinho, no qual eu já estava um pouco mais calma, afastei meu rosto da blusa encharcada dele e olhei com um pouco de vergonha para seu rosto.
- Será que eu posso botar o anel no seu dedo ou você vai querer me dar outro banho? - Ele falou rindo e eu ri junto com ele. Que patética eu era. Que patética eu sou, na realidade. colocou delicadamente o anel no meu dedo e novamente eu senti o gosto dos lábios dele nos meus. Dessa vez foi um pouco mais salgado e molhado, porque meu rosto estava coberto de lágrimas recém derramadas. Mas não tinha como ser ruim. Era o .
Eu estava tão extasiada, que sequer me lembro do caminho de volta para casa. Quando chegamos em meu apartamento, começamos a nos beijar novamente. De início era algo calmo, mas logo a intensidade foi aumentando e eu sabia que aquela noite tinha tudo para acabar muito bem. passou suavemente a mão que estava na minha cintura para dentro da blusa, fazendo movimentos leves nas minhas costas, de modo que eu quase não sentia ele percorrer meu corpo. Eu acariciava sua nuca, delicadamente, e com a outra mão bagunçava seu cabelo. Com carinho e abraçados, ainda nos beijando, fomos andando para o quarto, enquanto escorregava a minha blusa para cima. Foi, sem sombra de dúvidas, o melhor dia da minha vida. Eu ia me casar com a pessoa mais maravilhosa que já havia conhecido.

- ? - Estávamos deitados na minha cama, abraçados e enquanto mexia no meu cabelo, eu olhei para cima para falar com ele. Ele me olhou de uma maneira tão carinhosa, que eu sentia que o mundo podia acabar naquele instante, eu estava protegida. Nunca havia me sentido tão amada.
- Sim...
- Como vão ser as coisas daqui para a frente? - Minha expressão demonstrava um pouco de preocupação, mas a paz que emanava dele, me deixou tranqüila. Não fazia a mínima idéia do que aconteceria com a gente depois daquele dia. morava na Itália, tinha uma banda e eu não podia largar meu emprego e a nova vida que estava começando ali na Inglaterra.
- Como assim?
- Em relação a nós dois. Quero dizer, eu moro aqui, você mora na Itália.
- Mas do que você está falando? - dessa vez foi ele quem demonstrou preocupação. Como assim? Será que ele não entendia do que eu estava falando, realmente? - Eu vou voltar para a Inglaterra, . Você é minha noiva e vamos morar juntos.
- Mas, ... - levantei parte do meu corpo, apoiando a mão na cama, ao lado de e outra em seu peito, olhando diretamente para ele. - Como você vai fazer com a banda? E seu emprego? A sua vida está toda lá.
- Não, a minha vida está aqui na minha frente, achando que eu não sou capaz de largar tudo por ela. - sorriu levemente. - Eu vou deixar tudo para trás, não me importa a banda, ou meu emprego, nada do que conquistei até hoje se compara ao que sinto quando estou ao seu lado. E eu acho que tenho algum talento, posso arrumar outra banda por aqui. - Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo, sinceramente. Será que fabricam mais desses por aí? Quero dizer, acho que toda mulher merece um cara desses. Mas azar o delas, eu estava feliz que esse, era exclusividade minha. E sobre o talento dele, bem, ele definitivamente sabia tocar muito mais que a marcha fúnebre.


Te miro en el tiempo y siento que tú eres lo que quiero, mi niña, mi sueño // Siempre he estado pensado como agradecerte. Por hacerme el regalo más grande, más fuerte. Haberme regalado todo lo que ienes


de fato largou tudo que havia conquistado na Itália e em menos de um mês, estávamos morando juntos. A banda que ele deixou para trás, vai sobreviver. Tenho fé. E logo ele juntou alguns amigos aqui de Londres e formou uma nova banda. Eu pedi um namorado músico, e de repente tinha cinco. Não namorados, obviamente. Mas músicos. Meu, somente , mas os demais faziam nossa casa de alojamento e para ser sincera, eu adorava todo aquele clima de bagunça, amizade e felicidade que nos cercava. A banda ainda não era conhecida e mais uma vez tinha a sua frente o desafio de fazer uma banda funcionar, mas ele ia conseguir. Tinha certeza disso. Logo, logo, toda a Inglaterra e o mundo vão ouvir falar nos Dorks mais importantes da minha vida. Nosso casamento foi marcado para o meio do ano seguinte, pois era inverno no Brasil e eu não queria casar no calor. No Brasil, sim, pois queria que eu estivesse perto da minha família no dia mais importante de nossas vidas. E para fazer inveja a quem não tem um amor como o meu... Para dar somente mais uma prova de que havia feito a escolha certa e aquele era o homem da minha vida, vou deixar um trecho dos votos que escreveu para o nosso casamento, contando de uma maneira criativa, como foi o nosso primeiro encontro. E ainda me perguntam como posso amá-lo tanto...

[...]
Minha sogra, recentemente, me descreveu para alguém como algo que trouxe para casa em sua mala, da Europa. A verdade é que: há uns três anos atrás, enquanto ensinava na Itália, no verão, eu tinha acabado de começar uma complicada análise de um poema para uma classe de uns vinte alunos, quando, de repente, a porta da sala de aula se abriu com um estrondo e, ignorando completamente seu professor, entrou a Garota de Ipanema. Condizendo com as indústrias de cartões postais, ela tinha esquecido de colocar boa parte de suas roupas naquela manhã, os cabelos molhados sobre os ombros e simplesmente os maiores olhos que já havia visto. De qualquer forma, quando percebeu que devia satisfações a mim, ela levantou o rosto me fitando e abriu um sorriso. O mundo sorriu para mim naquele dia. Bem, eu era um professor, sim, mas tinha apenas vinte e seis anos e, para ser honesto, nunca havia visto uma carioca antes. Então, ao invés de mandar a gatinha de volta ao lugar de onde havia vindo, eu cometi o erro profissional de retribuir o sorriso. Em apenas um sorriso, eu tinha acabado de achar minha garota.

Contudo, antes que pudesse ganhar seu coração, um ano se passou em que eu busquei-a ao redor do mundo e finalmente consegui pedi-la em casamento. Então, a explicação de minha sogra sobre como vim, está errada. Ela estava errada, me desculpem, em um ponto crítico, porque não foi na mala de que vim para o Brasil. Foi em seu coração.

Senhoras e senhores, por favor, fiquem de pé e juntem-se a mim em um brinde à minha bela noiva, .


E antes que eu termine, lembram da sensação que disse sentir, sobre faltar alguma coisa em minha vida? Naquele dia, em que chorei abraçada a na ponte, eu senti essa angústia abandonar meu corpo e dar lugar a uma certeza que vou levar para sempre na minha vida: eu estava completa.

FIM~




Amaretti: Biscoito feito com amêndoa, açúcar e ovos, e pode ser aromatizado com chocolate ou licores. São crocantes por fora e fofinhos por dentro. [Até onde sei, não vende no Brasil]
Pesto: Molho de macarrão, feito com manjericão. [Vende no Brasil]


N/A: Oláaa, amiguinhos.
Primeiro e antes de mais nada, se você viu as frases em espanhol e pensou em Rebelde, antes de atirar 500 pedras, não é RBD. E se você gosta, e ficou com raiva por parecer que eu estou falando mal, também não estou. Eu gosto deles, mas não é deles. Então, se você não tem preconceito com músicas em espanhol, não acha brega, aconselho essa banda, El Canto del Loco. Não é uma música só, e a fic não foi baseada nelas. São trechos de várias músicas deles, que eu estava ouvindo depois que havia escrito e achei que combinavam bastante.
Segundo, a idéia dessa fic surgiu quando eu estava no Orkut, em uma comunidade sobre casamento e em um tópico as mulheres contavam suas estórias. Gente, tinha cada uma linda, mas teve uma que me chamou atenção e eu quase chorei, e pensei "isso pode virar uma fic legal". Então, essa minha fic é toda baseada em uma estória real, mas é claro que os detalhes eu acrescentei pq a mulher só resumiu e tal.. as característcas e personalidade são minhas em sua grande maioria. E os votos de casamento são reais também. Ela colou lá e eu adorei, roubei. Espero que não seja processada. mas como disse para uma amiga, botou no Orkut, virou do povo hahahaa, e eu não fiz nada de ruim, acho.
Bem, dedico essa fic às minhas Splinters, às leitoras de BTTP [vamos fazer a parte II, eu jurooo], à minha mais nova beta que eu adoro e que aceitou por livre e espontânea pressão ser minha beta.. hahaa, Luh, te amo, amore.. e por último, mas não menos importante, à Bárbara, minha mala preferida.. =], acho que depois disso só faltou mandar beijo pra Xuxa
Quero desejar tb PARABÉNS pra Camis!!!!! Te amo, xuxu...
Espero que tenham gostado da estória. Se gostaram comentem, se não gostaram... comentem também.. hahaha.. e quem quiser, pode me adicionar no msn: stefania_ak@yahoo.com.br
Beijos,
Stef



Minhas outras fics:
Back to the Past em parceria com a Camila
This Never Happened Before





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