Primeiro Dia de Aula

Por: Bru.Nimrods
Beta-Reader: Natalie
Revisada por: Benny Franciss


*

, ACORDA!
Sabe aquele dia que você acorda puta? Pois então. Primeiro dia de aula. ODEIO primeiro dia de aula. É, muita gente acha muito empolgante e divertido; rever amigos, conhecer gente nova e tal. Bom, eu acho um saco. Primeiro porque vejo meus amigos as férias inteiras, aliás eu, o e o praticamente moramos na casa do no verão, já que os pais dele viajam e ficam só ele e a irmã na casa. Segundo porque, cara, a última vez que alguém decente entrou naquele maldito colégio foi há três anos, quando conheci , um dos meus melhores amigos desde então. Mas voltando, primeiro dia de aula é uma merda, e eu já estava de saco cheio antes mesmo de chegar à escola.

Arrumei-me muito rápido e, como sempre, passei na casa do já estava lá esperando, é claro, o irresponsável do , que apesar de não ligar pra porra nenhuma, a gente ama muito, né, cara. A gente atura essas coisas por amigos. Dez minutos antes da aula começar, o chega, perguntando se estamos empolgados quanto ao primeiro dia de aula.
— É, claro dude, deve ser muito interessante. O colégio deve ter mudado muito desde o fim do ano letivo e agora escola deve ter se tornado um negócio legal. — eu disse, CHEIA de empolgação, enquanto saíamos de casa e trancava a porta.
— Já esperava isso de você, Senhorita Mau-Humor. — aqui você pode imaginar o gesto que fiz pra ele com os dedos. — Estava perguntando pros outros dois, um pouco mais felizes e otimistas. — completou sua frase, enquanto todos entrávamos no carro.
— Ah, sei lá, cara. Só espero que tenham novas alunas, e que de preferência sejam gostosas.
Típico do . Sempre fala esse tipo de coisa quando estou junto. Mas estou acostumada, sempre fui amiga de meninos e tive de superar o fato de que não tenho com quem comentar sobre quem é gostoso e quem não é, e que vou ter que aguentar eles fazendo observações sobre garotas na minha frente.
zinho aqui pra você! É assim desde quando tínhamos sete anos, baby!
— Acertou em cheio, , estou morrendo de ciúmes.
— Voltando ao assunto. Sei lá , eu não fico muito empolgado quanto ao primeiro dia de aula, mas espero realmente que entrem alunos novos e tal... Não custa né! — manifestou-se pela primeira vez.
— Não preciso de novos amigos, se vocês querem mesmo saber. Vocês me bastam, xuxus, mesmo sendo inconvenientes às vezes. — disse, mandando beijinhos exagerados no ar. — Menos você , você é o mais decente. — acrescentei, ao ver que estranhou o comentário.
— Oh amorzinho, nós também não precisamos de novas amigas, mas uma namorada não cairia mal, e sabemos que não podemos os três namorar você, baby! -
de novo, é lógico. Quem mais teria a audácia de me chamar de baby?
— Ainda bem que tem plena consciência disso.

E então chegamos. Seguimos pra sala, já que devido à pontualidade do Sr. , quando botamos o pé pra dentro da escola, o sinal já havia batido. Começamos o dia com álgebra. É, muito legal! Mas OK, primeiro dia de aula tem seu lado bom, ninguém estuda porra nenhuma. Sentamos como sempre, eu na primeira fila da direita, na última carteira, e logo a minha esquerda. Na minha frente, , e na frente de , . Estávamos conversando sobre o que faríamos no dia, e quando estávamos quase chegando a conclusão de ir ao cinema, a professora entrou e começou seu discurso. Depois de toda aquela baboseira de bem-vindos novamente e o caralho a quatro, ela resolveu apresentar os alunos novos.

Um nerd, como sempre, duas patricinhas que parecem já se conhecer, uma menina muito tímida, mas que parecia ser legal (ainda estou pra descobrir), e finalmente, um garoto. Mas não qualquer garoto, um garoto de cabelos bagunçados, calças jeans largas e tênis all star. Sim, um GAROTO DE ALL STAR (OK, , e são garotos de all star, mas não são garotos, são irmãos, fala sério. Imagina eu e um deles! Nossa, que nojeira, dude!), e que ainda por cima era bonito. Minto, era gostoso. Meu Deus, olha o que eu estou falando. A última vez que eu disse que um cara era gostoso (sem ser admirando meu pôster do Green Day), foi... Cara, nem lembro quando foi. Não que eu seja um tipo de aberração de 16 anos que nunca beijou. Longe de mim, fala sério! Mas apesar de receber várias propostas (modéstia à parte), não costumo me sentir tão atraída assim pelos caras. Fico mais por ficar, nunca olhei pra um e senti vontade de agarrar. Mas confesso que senti quando vi o aluno novo (Deus, estou cada vez pior).
Ele era lindo, sério mesmo. Cabelos escuros, olhos , e um sorriso que não dá nem pra descrever. Mas tudo bem, aposto que vai fazer uma fama enorme, já que é aluno novo, é gostoso e tal, e vai acabar fazendo amizades pelo grupinho das patricinhas histéricas e namorar uma do tipinho eu-sou-a-gostosa-e-você-não-chega-aos-meus-pés.
Não que eu queira ser uma delas ou algo do tipo, eu me garanto e muito bem (modéstia à parte novamente), mas confesso que não acho que tenha chances com um cara desses. Mas que ele é muito... Puta que o pariu! O sinal do recreio bateu e eu não pensei em outra coisa que não fosse esse garoto nas duas aulas de álgebra e na de inglês inteiras! Meu Deus, o percebeu que eu estou viajando! Ele tá me cutucando e me falando pra "volta pra Terra, Senhorita eu-babo-no-aluno-novo"! Ah foda-se, ele é lindo mesmo. Ah, de novo falando nesse garoto!
No recreio, ninguém estava com fome. Sentamos num canto do pátio e ficamos conversando. Lógico que os meninos começaram a avaliar as alunas novas.

— Cara, o que é aquela aluna nova? Gostosa! E não parece ser do tipinho fútil e tal... Acho que é a única do colégio!
Creio que o percebeu que eu quase o fuzilei com os olhos, já que acrescentou bem rápido um "tirando você , é claro, né!"
— Ah bom, ! Bom, ela parece ser legal...
— Aquelas outras duas não ficam muito atrás não hein, são lindas também.
, óbvio.
— Mas muito patricinhas. Não fazem meu tipo. — é por essas e outras que eu simplesmente amo o ! Mas o também não fica pra trás, apesar de idiota é um ótimo amigo, isso é indiscutível.
— Pra pegar uma vez, ser linda basta, ! — disse , e eu o respondi com um tapa no braço.
— É, a única que achei que parecia ser gente boa mesmo é a tal da . Acho que depois vou tentar falar com ela, ver se faço uma amiga garota uma vez na vida! — eu disse rindo.
— Se falar, me apresente!
— Pode deixar ! — falei, rindo da cara-de-pau dele. — Mas você só achou que ela parecia gente boa, hein? Você parecia bem interessada no aluno novo, ! Qual o nome dele? , não é?
. — respondi de imediato, só percebendo depois a cagada que havia feito.
— Hm, apaixonadinha hein !
— Vai se foder, ! — disse rindo, novamente.
— Ah, eu também percebi, nem vem . — É , vou rever meus conceitos sobre você ser um ótimo amigo, .
— Você sabe que normalmente eu te defendo , mas sua babação tava muito na cara!
— Era melhor quando você me defendia, ! Mas não viajem hein, só achei que ele parecia diferente dos boyzinhos e dos nerds que costumam frequentar o colégio. — recebi três olhares maldosos, e continuei rapidamente. — Fora vocês, é claro, xuxus!
— Bom mesmo! — responderam em coro, quando a aluna nova passou. Ela parecia meio sozinha, então resolvi ir falar com ela.
— Bom xuxus, agora vou falar com a aluna nova, ela não parece ter feito muitos amigos... Vejo vocês depois! — disse, mandando um beijo no ar com a mão direita e assoprando, e recebendo de volta três beijos enviados pelos garotos.

Andei um pouco e me aproximei da garota:
, certo?
— Sim. — ela respondeu levemente envergonhada.
— Prazer, eu sou a...
, não é?
— Sim, como você soube?
— Bom, não é tão difícil assim ouvir seu nome aqui na escola...
— Se você fez amizade com alguma menina, provavelmente já deve ter aprendido meus inúmeros apelidos... Esquisita, metida, sapata, excluída...
— Pura inveja, se quer saber minha opinião!
— Haha, obrigada ... — disse, feliz com o fato de que a menina não levou a sério o que já devia ter ouvido de mim nos corredores. Se quer saber, as garotas tendem a não gostar muito de mim, nunca entendi o porquê disso. Mas não vejo diferença, não costumo gostar delas também.
— Ah, imagina... E hey, me chama de !
— OK , você pode me chamar de ! Importa-se se eu sentar?
— Claro que não, ! — ela disse, frisando bem a última palavra.
Conversamos um pouco durante o recreio e descobri que ela realmente era uma garota bem legal. A primeira que conheci, se quer mesmo saber. Convidei ela pra ir ao cinema comigo e com os meninos depois da aula, e ela aceitou. Fiquei feliz por fazer uma nova amiga, feliz mesmo. Até que meu primeiro dia de aula não estava sendo tão ruim. Fomos andando juntas até a sala, preparadas para mais duas aulas, ou seja, mais dois períodos de tortura. se sentou mais perto de mim e dos meninos. Apresentei-os e conversamos mais durante as aulas, quando conseguíamos.

Quando finalmente o sinal bateu, saímos da sala juntos e combinamos de três horas todos estarem na casa de , para irmos de carro. Combinei com a dela passar na minha casa às 14:45, para irmos juntas.
A já tinha ido embora, eu e os meninos estávamos andando em direção ao carro do , quando me dei conta de que tinha esquecido meu celular. Pedi pros meninos esperarem e andei em direção à sala. No caminho, esbarrei com alguém no corredor, e derrubei todo o meu material. Sem nem ver quem era, respondi com meu instinto de barraqueira, como sempre faço.
— OLHA POR ONDE ANDA, IDIOTA! — e abaixei para pegar minhas coisas. A pessoa em quem esbarrei fez o mesmo, e pediu desculpas sem graça. Quando levantei os olhos para ver quem era, deparei-me com lindos olhos , que insistiam em olhar para baixo, provavelmente intimidados por meus berros histéricos. Por que eu faço isso nas piores horas? Tinha de ser justo o aluno novo? Foi então que resolvi consertar a cagada.
— Ah, digo, desculpa, não quis dizer isso, estou um pouco estressada e erm... É...
— Sem problemas... Também não estou no meu melhor dia, estava andando distraído e...
OK. é aí que eu acabo a cagada de vez. Sem deixar o garoto acabar a frase, não sei porque e nem como, mas eu me inclinei, puxei ele pra mais perto pela nuca, e o beijei. O melhor beijo da minha vida, sem dúvidas. E tenho certeza de que senti os cabelos da nuca dele se arrepiarem. Acho até que ele deve ter se assustado um pouco, porque botei muita intensidade no beijo.
— Ah meu Deus, desculpa! Não acredito que fiz isso! Você nem sabe meu nome e... Por favor, não vai pensar que eu faço isso com qualquer garoto que eu conheço por aí, é que você é realmente gostoso e...
SIM! NÃO ME PERGUNTE COMO, MAS EU CONSEGUI COMETER ESTE ATO ABSURDO (que arrancou risos do garoto. Quem não riria de uma garota que beija você do nada e diz que você é gostoso?)! Ah Deus, eu só faço merda. Mas pensando bem eu não me arrependo tanto do beijo...
Foi muito bom na ver... AH CÉUS! CHEGA! PARA COM ISSO !
— Imagina. Você definitivamente não me deve desculpas. — ele sorriu sem graça e se levantou. Foi aí que percebi que ainda estávamos agachados no meio do corredor do colégio (que, graças a Deus, estava deserto). Levantei-me também, e ele me devolveu parte dos meus livros, que tinha acabado de ajuntar. Ficamos nos encarando um bom tempo, eu estava simplesmente hipnotizada por aqueles lindos olhos . Foi então que ele se manifestou:
— Bom, eu preciso ir...
— Ah, eu também, é, esqueci meu celular e erm... É... — falei completamente desconcertada.
Não entendia aquilo! Nunca fiquei desse jeito na frente de um garoto, sempre fui acostumada com a presença deles. Senti-me estranha. Uma sensação no estômago, horrível e deliciosa ao mesmo tempo. Sinceramente, não sei explicar.
Ele interrompeu minha frase (graças a Deus!) com um beijo na bochecha e foi embora. E me deixou ali. Sorrindo como uma idiota, por mais incrédula que estivesse com minha atitude, estava feliz por dentro. Aliás, o que eu estava fazendo ali mesmo? Já ia dando meia volta de volta à porta de saída da escola quando me lembrei... Meu celular! Fui até a sala e encontrei-o embaixo da minha carteira. Peguei o celular e saí, caminhando alegremente e cantarolando The Beatles.
Quando cheguei no carro, e não perceberam meu estupor. Mas nada passa despercebido ao . Às vezes, sinto como se me conhecesse mais do que eu mesma me conheço. Mas em troca, conheço-o melhor do que ele mesmo em muitas situações. Se eu pudesse escolher alguém pra ser meu irmão, com certeza seria o . Só ele me faz sentir melhor até nos meus piores dias. E isso foi extremamente meloso, mas hoje eu não ligo que as coisas pareçam melosas e infantis. Preciso rever meu conceito sobre primeiro dia de aula. Eles não são tão ruins quanto parecem.
Mas voltando ao fato de que já havia percebido meu estranhíssimo estado de idiotice, quando entrei no carro e me sentei no banco da frente, ao lado dele, a primeira coisa que ouvi foi:
— Preciso conversar com você, .
— Fale, xuxu! A respeito do quê?
— Você sabe do que, mas vai ser quando esses dois não estiverem por perto.
— OK! Quer ir almoçar lá em casa então? — convidei implorando mentalmente que ele recusasse e trocasse o local de almoço para a casa dele, já que minha mãe estava em casa hoje e eu não queria almoçar com ela e com o , porque, não me leve a mal, minha mãe é legal e tudo o mais, só que quando o vai lá, ela começa a falar sobre coisas vergonhosas, tipo, como a gente ficou preso num armário quando tínhamos oito anos e tal.
— Adoraria almoçar com você xuxu, mas não pode ser lá em casa? — Obrigada , adoro quando você lê meus pensamentos!
— OK, vou ligar pra minha mãe e avisar. — tirei meu celular da bolsa e disquei o número dela. Sem rodeios nem nada, ela disse que sim. Afinal, como ela diz, "Se você está com o , não tem problema, sabe que é seu amigo de que eu mais gosto!".
— Pode ser então? — ele perguntou, como se a resposta não fosse óbvia.
— Alguma vez minha mãe já se importou em deixar eu ir a algum lugar com você? Principalmente se esse lugar é a sua casa, ?
— Não, mas pra tudo tem uma primeira vez, né? — deu uma piscadinha e imitou uma cara sexy, que ele sempre faz quando quer me matar de rir.
— OK, xuxu, presta mais atenção que você quase passou a rua do — disse rindo.
Deixamos os dois garotos em suas respectivas casas e fomos pra casa de . No carro, ligamos o rádio, viemos escutando meu CD adquirido mais recentemente: Sim! Eu comprei o Spend The Night! The Donnas é demais. Botei o volume no máximo e vim cantando Take It Off na maior empolgação, fazendo quase rolar de tanto rir. Quando chegamos a casa dele, entramos, e já começou gritando:
— Mãããããe! Mããããe, está em casa?! Tem visita!
— Ah, oi , estou sim, mas já estou de saída, tem uma lasanha no forno. Quem é a visi...? ! QUANTO TEMPO, MINHA FILHA!
— Oi Sra. ! Tempo mesmo! Estava com saudades da senhora!
— Senhora não, você! Haha, muito bom te ver, querida! Mas agora eu tenho mesmo que ir, mande um beijo pros seus pais e faça com que o se comporte!
— Pode deixar que eu mando, e eu cuido do pra você! — disse, quando ela já ia batendo a porta.
A mãe de sempre me tratou muito bem. Sempre gostei muito dela e amo encontrá-la, apesar de acontecer muito raramente, já que ela trabalha o tempo todo.
— Minha mãe não muda mesmo, né? Ainda te vê como se tivesse dez anos, babe!
— Sua mãe é um amor, . E não a culpo por isso, eu mesma estou estranhando. Olha só a sua irmã, ! Ela já tem doze anos, e parece que foi ontem que eu a vi pequeninha!
— Você parece uma velha falando assim! — ele disse rindo.
— Não ri da minha cara, xuxu! Você pode se arrepender!
— Ah é? Por quê? — ele respondeu com um sorriso do tipo por-que-eu-teria-medo-de-você?
Não pensei duas vezes antes de atacá-lo com cócegas. nunca resistiu à cócegas. Estávamos morrendo de tanto rir, ele contra a vontade, por causa das cócegas, e eu, da cara de súplica que ele fazia, implorando para que eu parasse. Ele estava deitado em cima do tapete, e eu estava ajoelhada ao lado dele, ainda continuando as cócegas.
— Para , para! — ele disse, em meio às gargalhadas. — Promete que nunca mais ri da minha cara ou duvidar de mim!
— Não vou conseguir parar de rir da sua cara. — demorou muito pra concluir a frase, já que não parava de rir entre uma palavra e outra.
— Promete ou eu não paro! — disse em um tom superior.
— Tá bom, tá bom, eu prometo! — finalmente ele se rendeu.
Nos separamos e ambos caímos na gargalhada, os dois jogados no tapete.
— Fazia tempo que nós não fazíamos isso! — falei, feliz por relembrar nossos velhos tempos. — É verdade, pequena. Estava com saudade de você.
— A gente se vê todo dia, . E além do mais, pequena? Falou o grandão, hein, anãozinho!
— Porra , eu tentando ser carinhoso! Estou com saudade de você sim, dessa pequena, que vinha aqui em casa todos os dias, que quase me matava de tanto rir, e que não se importava quando eu a chamava de pequena! — ele disse, rindo.
— Ah Tchutchuco, eu tava brincando! — disse, rindo do apelido idiota que tinha acabado de inventar. — Também estava com saudade disso, eu vou sempre ser a sua pequena, .
Ficamos nos olhando, e então percebi que seria uma ótima hora para um abraço. Um abraço que me fazia falta. E como! Sentei-me no chão, e fez o mesmo. Ele passou seu braço por trás e segurou no meu ombro.
— Te amo, .
— Também te amo, . — ele respondeu, dando um beijo em minha testa. Deitei minha cabeça no peito dele e relaxei como não fazia há dias. Só aquele abraço me fazia sentir daquela maneira. Ficamos ali abraçados, sem falar nada. E apenas meia hora depois, acordamos daquele transe, depois de relembrar milhares de momentos que passamos juntos. Foi então que a fome falou mais alto e meu estômago roncou.
— Eu sempre cortando o clima, hein!
— Ih, nem se preocupa pequena, já tava morrendo de fome também. Mas eu meio que esqueci disso... Meu Deus, a gente tem que almoçar, a gente combinou com os garotos e com a às 15:00!
! A Juh! Eu combinei com ela que ela passaria lá em casa às 14:45, pra gente vir juntas pra cá! Vamos almoçar logo que eu ainda preciso correr pra casa depois!
— OK, OK, vou tirar a lasanha do forno, tá pronta mesmo! Minha mãe é demais!
— É mesmo. — disse rindo. — Mas afinal , o que você precisava falar comigo?
— Você sabe. Eu vi como você entrou no carro hoje. Pode ir falando.
— Meu Deus , não é nada de importante, só estava feliz.
— É claro , você é bem do tipo que fica de bom humor sem motivos!
Mais uma vez, me conhecendo mais do que deveria. Às vezes isso atrapalha. Mas ele tem razão. Nunca fui das mais bem humoradas.
— OK , você venceu baby. Por mais que eu queira mentir pra você, não consigo. Ainda mais depois do momento ursinhos carinhosos de agora há pouco.
— Desembucha.
— O garoto novo...
— Você está apaixonada por ele? — me interrompeu.
, quer que eu conte ou não, porra?
— Ah tá, desculpa nervosinha. — disse ele, servindo-me lasanha.
— Bom, eu beijei ele.
— Ah, sei, quer tomar algu... O QUÊ? COMO ASSIM VOCÊ BEIJOU ELE?
— Ai , não é nada tão grandioso assim. A gente se esbarrou no corredor e eu não sei o que me fez agir assim, mas num impulso eu puxei ele pra perto e o beijei. E isso nem é o pior, depois eu ainda disse que ele era gostoso!
— O QUE? AAAAAAAH , SÓ VOCÊ MESMO! — disse ele, caindo numa explosão de risos.
— Porra , não foi tão divertido assim. Eu achei super constrangedor e inconveniente se você quer saber! — disse, também começando a rir. Como pude ser tão idiota? Analisando a situação de fora, realmente parecia ridículo!
— Bom, e aí?
! Não fala com a boca cheia! — falei irônica, com a boca cheia de comida também. — Bom, eu pedi desculpas e ele disse que eu não precisava me desculpar. Ele disse que precisava ir, deu-me um beijo na bochecha e foi embora.
— Não esperava isso vindo de você! — disse ele, ainda achando graça.
— Ah, nada demais... Só quero ver como ele vai reagir amanhã, quando me ver... Deus, pensando nisso agora, como EU vou reagir quando vê-lo? Pode falar , eu só faço merda! — falei, rindo de mim mesma.
— Relaxa pequena, se ele fizer algo que você não goste eu quebro a cara dele.
— Não precisa, eu dou conta sozinha, xuxu!
— Esqueci que você não é do tipo que precisa de proteção, Mulher Maravilha! — ele disse, irônico.
— Não mesmo! — falei, rindo, pra variar.
Impossível parar de rir quando se está com . — Tudo bem ! Te vejo daqui a pouco!
— É, até daqui a pouco.
— Precisamos relembrar os velhos tempos mais vezes.
— Definitivamente! — disse sorrindo. Muita coisa mudou nos últimos anos. Mas não . seria sempre o . O meu , meu melhor amigo. Mandei um beijo e bati a porta, enquanto tirava a mesa sorrindo.
Andei até em casa, tomei meu banho e esperei a . Fomos andando e conversando um pouco até a casa de , e cada vez me aproximei mais dela. Ela realmente era uma garota legal. Conversamos sobre gostos musicais e descobrimos que tínhamos mais em comum do que pensávamos. Então resolvi mudar de assunto.
, o que você achou dos garotos?
— Ah, ainda não falei muito com eles, mas achei todos muito simpáticos!
— Algum especificamente? — perguntei, sorrindo.
— Bom, mais ou menos, é...
— Ah, agora fala! — disse, já imaginando a resposta. Era óbvio que estaria caída pelo .
— Bom, o é muito bonitinho... — a garota corou.
— Pode apostar que é! Tanto por fora quanto por dentro. Você escolhe bem, a garota que conseguir amarrar o vai ser uma garota de muita sorte! — disse sorrindo. era demais. E também. Seria ótimo se os dois ficassem juntos!
— Vocês se gostam muito né?
— Você nem imagina o quanto. Somos melhores amigos desde a primeira série. E desde lá, nunca se livrou de mim, e nem vai se livrar tão fácil!
Ela riu, e depois olhou pra mim meio sem graça, pedindo-me:
— Bom, mas não comenta nada, erm...
— Pode deixar , não vou falar nada não, entendo você. — disse, rindo. — Mas se eu fosse você, eu mesma falava. Impossível não perceber que o também está caidinho por você.
Depois disso não falamos mais nada, mas era inevitavelmente exagerado o modo como sorriu depois desse comentário. E era verdade. Eu sabia que não demoraria muito e os dois já estariam juntos. Ainda mais se dependesse de mim!
Finalmente chegamos a casa de . Abri a porta, gritei "!", sentei-me no sofá e perguntei à se queria algo pra tomar. perguntou se eu não deveria ter tocado a campainha. Ri e respondi que já era de casa. desceu e nos cumprimentou com um beijo na bochecha. Os garotos não demoraram a chegar, e fomos ao cinema. Foi uma tarde extremamente divertida, com direito a guerra de pipoca e todas as diversões que o cinema proporciona, fora o filme. não parava de babar em cima de . E lógico, a única que percebeu fui eu.
Lá pelas 19:00h, depois de tomarmos um sorvete e darmos uma volta pela cidade, deixou todos em casa e eu por último. Antes de sair, olhei bem para ele, dei uma pequena piscadela e disse: — Vai na , . Tenho certeza de que ela quer tanto quanto você. Só me promete que não vai machucá-la! — mandei um beijo e bati a porta do carro, deixando um pensativo sozinho, mas ao mesmo tempo sorrindo. Era o que ele iria fazer!

No dia seguinte, acordei no horário de ir pra aula e fiz o trajeto comum. Eu e os três garotos chegamos ao colégio juntos, e em cima da hora, como sempre. Muitas garotas ficariam nervosas, afinal, como reagiriam a encontrar , o garoto novo? Mas não eu. Ah, não eu! Sempre adorei essas situações que você não pode planejar e acaba agindo por impulso. Delas é que vêm as melhores consequências, e as mais divertidas também.
Não encontrei nenhum, até que bateu o sino. Fui em direção à sala com os garotos, e avistei . Cumprimentei-a e ela se juntou a nós, e então fomos os cinco andando juntos. Todos entramos na sala, e eu fiquei por último. Acabei entrando ao mesmo tempo que o garoto ao meu lado, que acabou esbarrando em mim.
— Sempre nos esbarrando por aí, não é ?
— Ah, oi! — o garoto disse sem graça, mas sorrindo.
— Meu nome é , a propósito. Mas pode me chamar de !
— OK, , pode me chamar de !

O professor entrou na sala, então fomos cada um para nossas carteiras. Ao chegar a minha carteira do fundão, percebi que se sentou mais a frente. O motivo? , é lógico. Ele fez questão de sentar na carteira ao lado da dela, e os dois ficaram conversando durante toda a aula. Bom, e adivinha quem sentou ao meu lado? Sim, ! A aula não poderia ter sido melhor. Conversamos bastante e fui conhecendo ele cada vez mais. Estávamos discutindo sobre o que era melhor, Sex Pistols ou The Clash (eu defendendo Sex Pistols, até o fim, como sempre!), quando o sinal do recreio tocou, e ele, muito fofo, perguntou se eu me importava se ele passasse o recreio comigo.
Dude, desde quando alguém se importa de passar o recreio com um gostoso que ama as mesmas bandas que você? Lógico que não respondi isso. Disse que adoraria passar o recreio com ele e nós conversamos bastante. E descobri que ele também toca . Nota mental: avisar ao , está faltando justo esse integrante na banda dele e dos garotos. Quem sabe ainda não ajudo o a se enturmar? Seria ótimo! Mas confesso que estou completamente confusa. Quer dizer, eu tasquei um beijo DAQUELES nele. E tudo que temos agora é... Amizade. Ah, vai saber!
O recreio acabou e nós voltamos pra sala de aula juntos. Apresentei ao e falei sobre a banda. achou ótimo, e também. Eles vão se ver amanhã pra fazerem um ensaio e ver se o é o que a banda está precisando! Eu e conversamos o resto da aula inteira, e então, chegou a hora que eu mais esperei. Precisava me despedir dele.
— Ah, então até amanhã !
— Até, ! — ele se inclinou e foi chegando mais perto. Senti meu coração se desesperar. Estava amando aquilo. Fiquei feliz sem a menor explicação. Foi então que ele me beijou. Na bochecha. E foi embora. Toda aquela felicidade repentina que eu senti, sumiu. Sumiu, MESMO. Senti-me horrível. Quer dizer então que só eu senti algo mais naquele beijo? E afinal, por que eu estava me importando tanto? Nunca tinha ligado tanto para o que um garoto sentia por mim, e nunca me senti tão esquisita. Logo eu. É, a vida tem dessas.
No dia seguinte a aula foi a mesma. Eu e estávamos cada vez mais próximos, mas sempre como amigos. O ensaio foi ótimo e definitivamente entrou para a banda. Finalmente eles poderiam tocar! Nem sei quanto tempo esperou por isso. Os garotos me convidaram para assistir um ensaio na próxima semana e eu concordei em ir. Espero que eles sejam bons de verdade.

Os dias foram passando e estava tudo na mesma. Eu continuava me divertindo todos os dias com os garotos e me aproximava cada vez mais de e de . Mas aquilo não estava certo. Eu queria muito me aproximar de , mas não só como amiga. Aquilo estava me deixando louca, e agora os garotos estavam andando com ele todo o tempo. E eu tinha de considerá-lo apenas um amigo, que era o que ele me considerava. Uma AMIGA.
Às vezes eu posso jurar que sente algo mais por mim. Mas na última hora ele sempre fraqueja. A semana passou completamente normal, exceto pelo fato de que toda a vez que via , meu estômago surtava e eu me embaralhava com as palavras. Estou cada dia mais estranha! E então, finalmente chegou o dia do ensaio.

Combinei de almoçar na casa do e esperaria pelos garotos lá, onde seria o ensaio. Nos divertimos, como sempre, e foi atacado por mais cócegas. Depois do almoço, ajudei a tirar a mesa e lavar a louça. Depois, sentamos no sofá e resolvemos conversar.
, o que houve?
— Como assim, ?
— Você sabe. Acha que não percebi que você está mal à semana toda?
— Ah , mais uma vez, nada passa despercebido por você né?
— Quando se trata de você, não, pequena.
, eu sinto algo mais pelo . Eu não sei direito o que é! Mas ele só me vê como amiga! , ajude-me! Eu não sei o que é isso! Minhas pernas tremem e eu gaguejo, ! Você sabe que nunca agi assim, por nenhum garoto no mundo!
— Ah pequena, eu sei que é difícil. Mas sei lá, e se talvez ele te veja como mais que amiga? Diz pra ele o que você sente, garota! Tá esperando o quê? Eu tô aqui pra quebrar a cara dele, já te disse!
— Te amo, . — disse, abrindo um sorriso.
— Te amo demais, . — e então ele me abraçou. E não pude impedir. As lágrimas foram mais fortes que eu. Nunca havia chorado por garoto algum. realmente tinha algo especial. Ainda bem que eu sempre teria o meu , quando precisasse. Um tempo depois os garotos chegaram, e eu e ainda estávamos abraçados. Levantei, cumprimentei a todos, já esperando meu estômago dançar quando visse , o que aconteceu, como sempre, e os segui até a garagem, onde aconteceria o ensaio.
Os garotos são demais. Impossível não ter percebido o quanto babei vendo ali. Foi demais. Simplesmente demais. Quando o ensaio acabou, parabenizei todos eles.
— Garotos, vocês foram demais.
— Obrigado, xuxu. — disse .
— Foram ótimos mesmo. Juro que vocês têm futuro!
— Ouviram garotos? Se a disse, acontece hein! — disse , irônico.
— Ah , o que você prometeu outro dia? Que não ia mais rir da minha cara, não é? — perguntei, um sorriso malicioso no rosto.
— Ah , não resisti xuxu!
— Xuxu? Retira o que você disse, baby!
— Não mesmo!
— Então vou fazer você se arrepender na frente de todo mundo! — peguei de novo com um ataque de cócegas. Todos gargalhavam, inclusive eu, enquanto quase morria de tanto rir. Depois, conversamos um pouco, sentados na sala de . Ele trouxe umas cervejas e começamos a puxar assunto. Como sempre, nos divertimos muito. Graças é claro, aos meus amigos. São incomparáveis, mesmo.

Eu estava sentada, com deitado no meu colo. e espalhados no tapete, enquanto estava sentado no outro sofá. De vez em quando nossos olhares se encontravam e ele sorria para mim. Como era lindo aquele sorriso. Mas o fato de não tê-lo pra mim estava me matando por dentro, mesmo que não transparecesse.
Depois de um tempo perdida nos traços de e de algum silêncio na sala, se manifestou.
— Hey gente, meus pais vão viajar no fim de semana, estou pensando em fazer uma festa lá em casa.
— OK , mas festa enorme ou só a gente e mais um pouco? — perguntei, torcendo para que fosse a segunda opção.
— Ah, só a gente e quem realmente vale a pena convidar.
— Ótimo! Nunca gostei de festas muito grandes! — disse, sorrindo. — Convida a !
— Fala você com ela, vocês podem ir juntas aí. — disse. — Vocês dois estão dentro né? — perguntou, olhando para e .
— Opa, sempre! — disse , sorrindo.
— Precisava perguntar, ? — Tom respondeu.
— E você ? — olhou para ele. Eu torci para que ele dissesse que sim. Por mais que fôssemos só amigos, amava a companhia dele.
— Claro! Só não sei onde é sua casa... — ele respondeu, sorrindo, e quase me matando.
— Passa lá em casa então , a gente vem juntos, eu, você e a .
— OK, ! — ele respondeu, olhando diretamente nos meus olhos, fazendo-me estremecer e tomando mais um gole de cerveja.

Depois de um tempo, resolvemos ir pra casa. e iam na outra direção, então eu e acabamos indo sozinhos até a minha casa. Conversamos um pouco, disse a ele que ele tinha ficado ótimo na banda, combinamos dele passar na minha casa no sábado, às 19:00h, pra irmos pra casa do . Rimos bastante nesse meio tempo, como eu amava a companhia dele! Até que chegamos em frente a minha casa.
Dei um beijo na bochecha dele e entrei em casa, suspirando. Ele foi embora lentamente, e eu fiquei olhando-o pela janela. Ele era realmente lindo.
No dia seguinte, era sexta-feira, e já havia convidado mais alguns amigos nossos para a festa. Chegamos ao colégio um pouco mais cedo do que o normal (milagrosamente o chegou no horário na casa do ). Quando cheguei a escola, estava sentada num canto, fazendo tarefa e ouvindo seu iPod. Cutuquei ela, que logo quando me viu abriu um sorriso, e nos cumprimentamos.
, amanhã tem festa na casa do ! Vamos?
— Claro! Mas... Erm, ele me convidou?
— Deixa de ser tola guria, claro que sim! — disse rindo. Ela ainda não tinha se acostumado com o jeito 'foda-se' de ser meu e dos garotos.
— OK então... Que horas vai ser?
— Passa umas 18:30h lá em casa, a gente se arruma, o passa lá 19:00h e a gente vai juntos!
— 18:30h? Para estar pronta 19:00h? Você realmente não é uma garota comum!
— Ainda bem que você já percebeu! — disse rindo. - OK, então que horas você precisa ir pra conseguir se arrumar?
— Erm... Lá pelas 18:00h, acho que aí dá tempo!
— Combinado então! — sorri e pisquei pra ela. — Vamos para sala? O sinal toca daqui a pouco e...
Não pude terminar minha frase. O sinal tocou, nós duas rimos e imediatamente fomos em direção à sala. se juntou ao nosso grupo de carteiras no fundo, mas ela não conversa tanto quanto eu e os garotos. conversa como nós também, afinal já se enturmou e está bem amigo dos meninos, e meu também. Aliás, estou ficando preocupada. Cada dia estou mais amiga dele e não sei o que dizer. Conversamos sobre coisas inofensivas, na maioria das vezes sobre música e bandas que ambos gostamos. Eu adoro todo o tempo que passo com ele. Mas me tortura ter de beijá-lo apenas na bochecha todas as vezes que nos encontramos.
No final da aula de sexta-feira, fui me despedir de e , para depois pegar carona para casa com os garotos.
— Tchau , até amanhã! Dê-me um toque quando estiver saindo de casa!
— Combinado então, ! Até! — disse ela, e me beijou na bochecha.
Olhei pra e senti meu estômago se manifestar de novo. É, ele ainda não se acostumou. E acho que nem vai, se você quer saber.
— Tchau , passa lá em casa às sete, então!
— OK , tchau... — beijei-o na bochecha e me virei para a saída, quando o ouvi me chamar:
! — Mmeu coração disparou. Virei novamente para ele.
— Fala ! — disse com um pouco mais de empolgação do que deveria.
— Será que o se importaria de me dar uma carona? — murchei. Mas não deixei que ninguém percebesse, muito menos ele, é claro.
— É claro que não, . Vem, ele te leva em casa! — falei sorrindo.
Fomos andando até a saída da escola, onde encontrei os três garotos já me esperando, reclamando da demora e me xingando de lerda, irresponsável e derivados.
— Falando de mim, xuxus?
— Sempre né Senhorita Lerda! Porra, da próxima vez pode tentar não nos deixar plantados, quem está de carona é a senhorita, não é?
— OK papai! — respondi com voz de criança, o que fez esquecer seu stress por estar esperando e sorrir. — Hm, vejo que tem companhia então, agora entendo porque demorou tanto!
, óbvio. Ele achou super engraçado. Não achei tanta graça assim. Respondi com um pedala, e sorriu, sem graça. Não preciso nem dizer os efeitos que aquele sorriso provocava em mim.
, amor da minha vida, você pode dar uma carona pro ?
— Claro. O que eu não faço por você, hein xuxu?
— Oh, que fofinho, . Agora vamos, entra logo no carro! — disse rindo.
— Quem disse que eu estava falando com você? Era com o Boy que eu estava falando, baby! Não é zinho? — riu, mas corou.
! Sem ataques gay por enquanto! O ainda não se acostumou com sua preferência sexual, dê tempo pra ele ao menos assimilar! — falei rindo. fez uma carinha de desolado, soltando um "OK mamãe", e todos rimos. Viemos conversando e morrendo de rir o trajeto todo e, como de costume, fui a última a ser deixada em casa. Quando estávamos apenas nós dois, perguntei ao :
— Ainda não falou com a , não é ?
— Pretendo falar com ela amanhã à noite! — ele disse, um sorriso enorme no rosto.
— Tenho certeza de que ela vai ficar muito feliz. Que vocês dois vão ficar muito felizes. — sorri fracamente, lembrando que uma hora precisaria contar ao . Não estava mais conseguindo segurar.
— Você também poderia ser feliz, se parasse de tentar adivinhar o que os outros pensam. — ele sorriu e piscou para mim. Não entendi o que disse. Fiquei pensando até chegarmos na frente da minha casa. Dei um beijo na bochecha dele e saí, em direção a minha casa, e chegando lá, direto ao meu quarto. Ainda pensativa. Como assim? Poderia ser feliz? Ele realmente não entende a situação. Adivinhar o que os outros pensam? O definitivamente não estava muito bem. Mas OK, desencanei disso de uma vez, e desci pra almoçar.
O almoço foi o mesmo de sempre. Sabe como é, almoço em família. Mãe, pai, você. Nenhum assunto; às vezes, comentando o que deu no noticiário do dia anterior, aquelas perguntas do tipo "como foi a escola hoje?", como se eles não soubessem que eu responderia "tediosa". Depois, subi para o meu quarto e resolvi escutar meu CD do Weezer. Depois, achei que seria um bom momento para Rancid, The Distillers e The Donnas. E fiz isso a tarde inteira, cada vez escolhendo um CD diferente. Fazia tempo que não passava uma tarde toda, só eu e meus CDs. Foi bom. Me deixou mais tranquila.

Mais tarde, depois do jantar, tomei um banho e resolvi ligar o computador, para entrar no msn e me atualizar um pouco quanto aos shows do mês ou CDs a serem lançados. Conversei com vários amigos no msn, e percebi que estava online. Perguntei a ele o que ele quis dizer com "você poderia ser feliz também" e blá blá blá. Mas tudo o que ele fez foi dizer que eu sabia a resposta, bastava pensar um pouco. Desisti de tentar arrancar isso dele e fui me deitar.
Acordei realmente tarde no sábado. Às 14:00h, pra ser mais específica. Desci pra procurar comida e encontrei um bilhete na geladeira, avisando que meus pais foram passar o fim de semana na casa da minha avó, e que só voltariam amanhã ao entardecer. Ótimo, não vou ter hora pra chegar da festa e ainda por cima vou poder passar o dia todo sozinha.

Resolvi alugar uns filmes pra passar o sábado, só eu. Foi ótimo! Nunca pensei que pudesse me divertir tanto sozinha. Só eu, as pipocas, o brigadeiro e minha amiga coca-cola. Foi tão ótimo que resolvi me esclarecer. Ia contar tudo pro , e fosse o que fosse. É, eu sou louca. Mas sou feliz assim. O tempo passou rápido e, quando percebi, já estava quase na hora da chegar. Fui tomar um banho pra esperá-la, e nem tive tempo de pensar no que falar pro . Melhor assim. Sempre agi melhor quando não tinha nada planejado. Sempre gostei de agir por impulso. Diferente da maioria das garotas. Mas quem disse que eu sou uma garota comum?
A chegou seis horas em ponto, e a gente subiu pro meu quarto. Colocamos nossas roupas e fomos acabar os retoques, tipo, maquiagem. A usava uma saia com uma blusa linda preta, adorei! E a sandália dela também era linda. Mas não faz meu tipo, sempre fui do básico. Eu, , ia, é lógico, com minha clássica calça jeans. Dessa vez mais justa, e escura. Um pouco mais arrumada do que as que costumo usar na escola. Uma blusa tomara que caia de malha verde, que é apertada embaixo do peito com um laço. Muito diferente das camisetas que eu costumo usar, mas algo me fez ter vontade de usá-la. E é aí que vem o mais chocante. Não vou de all star. Vou de sapato. Um scarpin preto de bico redondo! Sim, de salto agulha! Bom, a vida tem dessas. Ambas usamos delineador e rímel preto, e se arriscou a passar batom, mas eu não curto. Não acho nada confortável aquela coisa melequenta na boca.
chegou também sete horas em ponto, e pareceu entrar em estado de choque quando atendi a porta.
, você está... — ele disse, meio que gaguejando. — Estranha? É, eu sei, não costumo me vestir assim, mas OK, as pessoas mudam e tal! — disse rindo.
— Na verdade, eu ia dizer...
Bom, não sei o que ele ia dizer pois bem na hora a desceu e interrompeu a frase dele com um "oi !", e nós resolvemos ir até a casa do . Não falamos muito no caminho, mas não demoramos a chegar. A casa de fazia um barulho que eu aposto que os vizinhos não devem ter achado nada agradável, mas quem se importa? Eu não ia dormir ali do lado mesmo!
Tocamos a campainha, e logo veio atender a porta.
— Oi , oi garotas... ! O QUE É ISSO?
— Oh , muito gentil seu jeito de nos convidar para entrar! Obrigada! — falei, já entrando na casa, fazendo e rirem e me seguirem.
fechou a porta e veio atrás de nós três, enquanto entrávamos na cozinha.
— Sério , você está diferente hoje. Está linda.
— Obrigada, — eu sorri. Sério vai, eu tenho os melhores amigos do mundo.
— Eu concordo ! — surgiu na conversa: — Nossa , cada dia mais linda!
— Você sempre foi um cavalheiro, ! É por isso que eu te amo xuxu. Pprecisava de um cavalheiro depois de anos de amizade com dois indivíduos como e ! — falei rindo, e mandando um beijo no ar para . entrou na cozinha, cumprimentando , eu, e , e seguindo os outros dois amigos:
— Concordo com vocês. Se ela não fosse quase minha irmã, eu juro que pegava! — Eele disse, rindo.
! — respondi, dando tapas no braço dele e fazendo ele fingir se contorcer de dor, arrancando risadas de todos. — OK, OK, agora que meus amigos acabaram com o momento cavalheirismo, que por sinal, poderiam repetir mais vezes, onde está a bebida nessa casa, ?
— O que você quer tomar, xuxu? — perguntou. — Não estou a fim de me embebedar hoje, então vou ficar na cerveja, baby!
— OK, cerveja lá vamos nós! — disse, tirando uma garrafa do freezer.
— Já que o não tem educação, eu tenho por ele. , , querem beber o quê?
— Eu tomo uma cerveja também! — sorriu. Já está ficando extremamente repetitivo o número de vezes que eu comento do sorriso dele, mas sinceramente, eu me derreto toda vez que vejo!
— Erm... eu também! — respondeu, tímida. Entregues as cervejas, saímos da cozinha e nos espalhamos. , e foram conversar com outros garotos do colégio, que cumprimentei mandando acenos de longe. Eu e fomos dar uma olhada na sala pra ver quem estava presente, e o sabe-se lá pra onde foi.
Tinha muito mais gente do que eu esperava. Aliás, tinha gente pra cacete ali dentro. E olha que o disse que só iria convidar os íntimos. Mas OK, algo me dizia que a noite seria divertida. Perguntei pra se ela estava afim de dançar. Ela disse que sim, e resolvemos nos juntar a pequena aglomeração na sala, que dançava a música extremamente alta e empolgante.
Dançamos por um tempo, e do nada, surgiu.
— Se importa se eu roubar sua amiga por um tempo, ?
— De maneira alguma, ! — respondi, dando uma piscadinha discreta, pra que não percebesse. corou, mas mesmo assim foi dançar com . No mesmo instante que os dois começaram a dançar, o sujeito ao meu lado me perguntou se eu me importava se ele me fizesse companhia. Eu disse que de maneira alguma, era um cara muito bonito, mas sinceramente, parecia já ter tomado vodka demais. Dançamos por um tempo e ele me perguntou como era meu nome.
— Me chamo , e você?
— Ah, prazer, John.
— Hm, e então John, conhece o de onde?
— Ah, moro aqui perto, nos cruzamos na rua e ele acabou me convidando...
— Entendo... — respondi sem entusiasmo. Sabia que ficaríamos sem assunto em um instante. E foi aí que me surpreendi. John tentou me beijar, sem nem ao menos me conhecer! Eu mereço?! OK, eu beijei o sem conhecê-lo, mas foi um deslize, vai! Educadamente virei meu rosto para o outro lado e continuei dançando. Achava que seria o bastante, certo? O cara toma um fora, desiste, e pronto, você dança feliz e em paz! Ah não. Não o John. Ele tentou me beijar de novo e de novo, olhei pros lados desesperada procurando e . Mas é lógico que já tinham sumido. Estava ficando cada vez mais difícil fugir de John, e eu não queria ser mal educada. Ele me puxou pelo braço, e daquela vez eu sabia que não teria escapatória.
Foi aí que surgiu a salvação. Senti uma mão por trás do meu ombro me puxando pra longe de John, e dizendo pra ele:
— Hey, devolve minha garota cara!
— Ah, desculpa, não sabia que tinha namorado! — John respondeu e saiu correndo.
Virei-me pra ver a quem devia aquele imenso favor, e dei de cara com belíssimos olhos . É óbvio que eu me apaixonaria cada vez mais por . Quem é que não se apaixonaria por um garoto desses?
— Valeu . Valeu mesmo.
— Imagina. Dava pra ver que você tava sofrendo de lá da cozinha! — ele disse rindo.
— Dude, esse cara aí é louco! — respondi, rindo também.
— Por quê? Por querer beijar você? Isso não é motivo pra ser louco.
Era a hora. Eu tinha que contar tudo. Eu tinha que beijá-lo, tinha que agarrá-lo. Tinha que dizer que não queria mais ser amiga dele. Queria ser muito mais que isso. E o que eu fiz? EU SORRI SEM GRAÇA E MUDEI DE ASSUNTO! NA ÚNICA VEZ EM QUE EU REALMENTE DEVIA TER SIDO IMPULSIVA, EU NÃO FUI! E POR QUÊ? PORQUE EU SOU IDIOTA. PORQUE EU NÃO FUNCIONO QUANDO ESTOU PERTO DO . OK, EXTRAVASEI MINHA RAIVA. Estou melhor. Em vez de dizer que estava perdidamente apaixonada por ele, perguntei se ele queria outra cerveja. É por isso que às vezes eu tenho vergonha de ser eu.
Ele respondeu que sim, e fomos até a cozinha pegar mais cerveja. O resto da festa foi normal. Eu e conversamos sobre mais coisas idiotas e sem importância, enquanto ficava cada vez mais tarde, e o pessoal ia embora. e simplesmente desapareceram. Até que a não é tão tímida quanto parece ser, hein? Pois é.
Quando eram mais ou menos 4:30 da manhã e desligou o som, cansado daquele barulho enorme (sim, a ressaca do começou mais cedo. Ou então ele criou consciência!), e mandou todo mundo embora. perguntou se nós não devíamos ir, e eu respondi que todo mundo queria dizer qualquer um que não fosse eu, , , e consequentemente e ele. Ele riu e disse que tudo bem então, que iria ficar também.
Sentamos todos no sofá, e finalmente e apareceram, de mãos dadas.
— Finalmente, ! Eu te disse que ela também gostava de você! — pisquei para .
— Não acredito que você falou, ! — disse corando, mas rindo.
— Foi pro seu próprio bem, xuxu!
— Te amo , você sempre faz as coisas darem certo na minha vida! — disse, rindo.
— Também te amo, . O que seria de você sem mim, hein?! — respondi, e todos rimos.
— Dude, tô morrendo de dor de cabeça.
Você já deve ter adivinhado que era falando.
— Eu também cara. E ficamos sem ninguém né . Sempre sobramos. Que saco isso cara!
zinho, não fica assim não xuxu, você ainda acha alguém decente! — respondi rindo, e ele me mandou um dedo como resposta. Preciso dizer qual?
O que se passou depois disso, eu não sei. Perdi-me completamente admirando . Só acordei do transe quando falou:
— Tá tarde gente. Eu preciso ir pra casa! — demorei um pouco, mas me toquei que ia a pé comigo e com , porque nós não temos carro e não estava em condições de nos levar.
— OK pessoal, está na nossa hora então! — falei, pegando minha bolsa. — Vamos? — ele pareceu tomar um susto, ter acordado ou sei lá, mas sorriu e me respondeu.
— Claro! Tchau pessoal! — se levantou e andou em direção à porta. Eu e demos um beijo na bochecha de cada um dos garotos, exceto quando chegamos no . o deu um selinho de despedida, e eu o beijei na bochecha e fui surpreendida por um daqueles abraços que só o sabe me dar.
— Obrigado ! — ele cochichou no meu ouvido.
— Estou sempre aqui, .
— Lembra hein, você também pode ser feliz. — rompemos o abraço e saí em direção à porta, onde e me esperavam. Mandei um beijo no ar e bati a porta, ainda pensando no que me falou.

No caminho, não parava de sorrir e suspirar. Eu e ríamos do estado de felicidade da garota, e ela nem ligava. Estava feliz demais pelo . Ele nunca havia achado uma garota de que realmente gostasse. Agora que achou, era uma garota demais, e minha primeira amiga. Parecia que tudo estava dando certo. Menos eu e , é claro. Comecei a pensar novamente no que disse. Estava completamente perdida em meus pensamentos quando me acordou, mais uma vez.
— Gente, aqui é a rua da minha casa... Já vou então...
— Ah! — acordei num susto — OK , até amanhã, ou segunda, sei lá! — dei um beijo na bochecha dela.
— Tchau ! — sorriu e deu um beijo na bochecha da garota. Eu e ele seguimos caminho. Caminhamos falando sobre acontecimentos engraçados da festa, como a garota que tomou um tombo, ou o cara que deixou cair um copo cheio de uísque. Até que chegamos na porta da minha casa. Era a hora. Iríamos nos despedir. No que aquilo ia dar?
— Erm... Acho que a gente se vê então, . — falei, fazendo o máximo para conseguir encará-lo diretamente nos olhos.
— É, a gente se vê.
E então ele chegou mais perto. E mais perto. E minhas esperanças cresceram novamente. Mas tudo o que aconteceu, foi um beijo na bochecha. Demasiadamente demorado, eu sentia minha respiração ofegante. Então, se afastou um pouco do meu rosto. Mas não foi embora. Continuou me encarando. Aqueles olhos mais uma vez me hipnotizaram, e meus instintos novamente falaram mais alto.

— Eu não posso mais aguentar isso, .
E então, o beijei. Sim, o beijei de novo. E com mais intensidade do que da primeira vez, o que eu não achava possível. Pus uma mão em sua nuca, enquanto a outra estava em sua cintura. Ele me segurou pela cintura e me puxou cada vez mais perto. Até que ele partiu o beijo. E me encarou. Examinou cada parte do meu rosto, e o alisou com sua mão direita.
— Não aguentava mais esperar por isso. — disse ele.
E eu sorri. E como poderia não sorrir? Estava nas nuvens. me via como mais que amiga. Graças a Deus.
— Não posso acreditar que você me escondeu isso tanto tempo. Você tem noção de quantos desse já podíamos ter dado?
— Hey! Quem age por impulso aqui é você! Eu é que sou o tímido na relação!
— Ah, então eu é que tenho que ser o macho da relação é, ? Fala sério, você é muito lerdo! — disse rindo. E foi a última coisa que eu consegui dizer antes que ele me beijasse com toda a força possível e me empurrasse contra a porta. Um beijo que me fez arrepiar inteira. Não era possível. Eu e . Juntos. Num beijo como eu nunca sonhei presenciar.
— Quem é que é lerdo agora, xuxu? — ele perguntou com um olhar que me fez suspirar.
— Acho que ninguém, Sr. Tímido! — respondi sorrindo.
— Precisa mesmo entrar em casa ou tá a fim de dar uma volta?
— Dar uma volta? , está um frio do caralho, e você quer dar uma volta por aí! Ainda mais que tipo, você não consegue pensar em nada melhor que a gente pode fazer não?
, sua lerdinha, dar uma volta foi só uma maneira sutil de dizer que eu quero te agarrar um pouco mais! — ele disse com um sorriso malicioso.
— E não podemos fazer isso lá dentro? — respondi com o mesmo sorriso.
— Como você quiser, , como você quiser. — e me beijou de novo.
Explodi de felicidade. Mesmo. Peguei minha chave no bolso e destranquei a porta, sem partir o beijo. Consegui achar a maçaneta e entramos. chutou a porta para fechá-la, e eu o virei de costas para sala, me deixando mais perto da porta, para que pudesse trancá-la. Subimos as escadas, ele de costas, ainda me beijando, e chegamos ao meu quarto. Nos viramos novamente pra que eu pudesse abrir a porta, entramos e me deitou na cama, deitando por cima de mim. Só então paramos de nos beijar, e pude voltar a encará-lo. Aqueles olhos realmente me enlouqueciam.
Sorri para ele. Ele chegou perto do meu ouvido, e num sussurro quase inaudível, disse-me a coisa mais linda que eu podia ouvir naquele momento, principalmente vindo da pessoa de quem eu mais queria escutar.
— Te amo, .
— Eu também, .
Acordei no dia seguinte, e olhei para o lado. Ali estava , deitado na minha cama, dormindo, parecendo-me a pessoa mais linda desse mundo. Talvez ele não fosse, mas pra mim ele era. Com certeza era. Levantei, encontrei minhas roupas espalhadas pelo chão e me vesti; um sorriso enorme estampado no rosto. Parecia que eu havia dormido com um cabide enfiado na boca. Nunca havia me sentido melhor na vida. Eram duas e meia da tarde. Desci e procurei algo pra comer, não havia absolutamente nada. Tirei o suco da geladeira e servi um copo, quando senti duas mãos em minha cintura, e um beijo suave em meu pescoço.
— Bom dia, .
— Ótimo dia, . — respondi. Aquele enorme e maravilhoso sorriso apareceu no rosto dele. E ao ver aquilo, meu sorriso aumentou ainda mais, se é que era possível. E nos encaramos, sorrindo. Sorrindo muito, e verdadeiramente. Como dois idiotas. Como dois apaixonados.


FIM


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