Ela estava sentada no parapeito da janela, o vento frio parecia congelar as lágrimas escorridas em seu rosto, enquanto balançava os pés calçados com meias de caveirinhas em um gesto infantil.
Olhou para baixo e viu várias pessoas aterrorizadas, comentando sobre a garota sentada no parapeito do décimo andar prestes a pular, fechou os olhos e ouviu o sibilar do vento gelado de Nova Jersey ser interrompido pela sirene de um caminhão de bombeiros. Um dos homens de uniforme seguiu na direção da portaria. Mas não queria saber de nada que estava acontecendo, com todos os problemas que estava enfrentando, ela tinha coisas demais para se preocupar. Ainda de olhos fechados ela respirou fundo e começou a soltar os dedos do apoio onde estava sentada, de repente um barulhinho rompeu o silêncio, ela hesitou um pouco, mas tirou o celular de dentro do casaco preto e felpudo e atendeu com voz serena.
“Alô?”
“Garota! Não pule! Por favor, não se mexa!” pôde notar o tom desesperado na voz do bombeiro, então resolveu obedecê-lo.
“Tudo bem...” disse ela segurando-se novamente.
“Qual seu nome?”
“.”
“Ok! Eu sou o Anthony. Vou mandar um dos meus companheiros buscar você.”
“Se alguém aparecer nessa porta eu pulo sem hesitar.” A garota mantinha o tom calmo.
“Hum... eu... ok! Ok! Ninguém vai subir”, apesar de contrariado, o homem continuou falando. “Mas, por favor, não faça nenhuma besteira! Você parece ser tão jovem. Tem tanto para viver”, ao o ouvir falar, riu ironicamente.
“Anthony, me desculpa, mas quantos anos você tem?”
“52, minha filha.”
“Certo... E os seus pais estão vivos?”
“Só minha mãe, meu pai faleceu há três anos.”
“Pois bem, com 52 anos o senhor perdeu o pai. Com 22, eu perdi minha mãe e meu pai. No dia do enterro deles meu noivo terminou comigo e viajou para a Austrália, e o emprego dos meus sonhos pelo qual eu tanto trabalhei foi por água abaixo em um dia. Então não me diga que eu tenho muito o que viver porque não me resta vida alguma”, quando a garota terminou de falar do modo mais doce possível, o homem não respondeu, mas os ruídos indicavam que ele chorava.
“Você acredita em Deus?”
“Claro que acredito, minha filha.”
“Então reza pra mim? Pede para Ele me perdoar por isso. E pede para que meus pais estejam esperando por mim.” sorriu e sentiu os olhos marejarem; olhou para o céu e viu que a lua começava a aparecer por entre as nuvens cinzentas.
“Não faça uma besteira, por favor.”
“Reza pra mim...”, ela sussurrou e soltou uma das mãos enquanto a outra segurava o telefone perto do rosto. Naquele momento o mundo havia parado, ela começou a se inclinar para frente e uma sensação de paz a invadiu.
“! Não faça isso!”, a voz veio do telefone, mas não era Anthony que fazia o pedido. Ao ouvir aquela voz conhecida, a garota se segurou rápido e olhou para baixo.
“Sabe quem é?”
“Como não saber?!”, ela riu de leve ao lembrar que desde seus cinco anos ela e tinham o mesmo diálogo todos os dias enquanto ele ficava atrás dela e cobria seus olhos.
“Você enlouqueceu? Por que está fazendo isso?”, a voz dele, mesmo que triste, tinha um efeito inexplicável sobre a garota.
“Ah , você não faz idéia do que aconteceu.”
“Faço, meu anjo. Sua tia ligou para mim e me contou tudo; então eu decidi voltar para te dar uma força. Quando cheguei aqui e percebi o que estava acontecendo, entrei em desespero, e agora eu me amaldiçôo por fazer essa viajem estúpida e não estar ao seu lado!”
“Não foi sua culpa.”
“Claro que foi! Na única semana que seu mundo desmorona eu vou para um lugar onde a comunicação é impossível.”
“Não importa. Isso tudo ia acontecer!”
“Eu sei, mas eu deveria ter ficado! De qualquer jeito quero te pedir uma coisa: não faça isso.”
“...”, ela respirou fundo, pois a vontade de chorar fazia com que as palavras não saíssem de sua boca. “Não me peça uma coisa que eu não posso fazer.”
“. Eu não entendo! Você sempre foi tão forte. Seus pais não gostariam de te ver assim.”
“Não fale isso! Eles me abandonaram!”
“Não é verdade e você sabe disso. Eles foram porque você precisava continuar sem eles.”
“Mas e o Josh?”, agora chorava abertamente sentindo como se cada lágrima cortasse seu rosto.
“Aquele idiota não te merecia! Eu mereço!”
“Como assim?”
“Eu... nunca te disse isso porque quando percebi você já estava namorando com ele. Mas a verdade é que eu quero estar ao seu lado para te ajudar a passar por tudo isso; quero estar ao seu lado sempre! Dormir e acordar ao seu lado.”
“... O que você está dizendo?”, se assustou ao sentir duas mãos segurarem sua cintura.
“Eu te amo, .” O garoto sussurrou no ouvido dela e começou a puxá-la para dentro do apartamento devagar. Ela fechou os olhos ao sentir os pés tocarem o chão, não conseguia se mover então ficou parada, sentindo o corpo do garoto muito próximo ao seu. Respirou fundo e começou a virar devagar.
“Hey...”, o riso fraco de logo se tornou um sorriso radiante quando deixou que seu nariz gelado tocasse o dele. Ele encostou sua testa na dela e abriu os olhos observando a garota. A dor podia ser vista nos olhos dela, mas ele tinha certeza que havia um brilho diferente neles.
“Eu também te amo, ”, sem hesitar ela juntou seus lábios com os dele; o garoto segurava o rosto de enquanto fazia carinho em sua bochecha, e ela apertava o braço dele porque sabia que agora ela tinha em quem se segurar.
Eles romperam o beijo devagar; abraçou a garota, beijou o topo de sua cabeça e eles sorriram ao ouvir as pessoas comemorando lá em baixo.
“Obrigado por salvar minha vida”, disse , beijando-o de novo.