- ! Você pega!
-Sem chance, !
-Eu pego!- eu e anunciamos em tom uníssono.
Nós quatro, , , e eu, éramos melhores amigas. E desde o inicio da nossa amizade, e espero que até o fim, nós vamos à casa de uma das quatro uma vez por semana para filmar coisas inúteis. E como estava na semana de ser na minha casa, resolvemos filmar-nos jogando vôlei. Genial, claro, se não fosse por dona .
Fazia uns cinco minutos que ela havia isolado a bola de vôlei no vizinho e, desde então, ela e estavam discutindo para ver quem iria buscar a mesma.
Percebendo que a pequena discussão não ia a lugar algum, resolvi me apresentar. Afinal, a casa era minha e a bola era do meu irmão. Para começar, eu tinha pegado sem pedir. E ele odiava quando eu fazia isso.
-Obrigada, do meu coração!- agradeceu. Ela era exagerada à maioria das vezes. Ela fala que aprendeu isso comigo, mas duvido muito. Ela já era assim antes de conhece - la. Pelo menos é o que dizem.
De qualquer jeito, não tinha o porquê de ela ter feito tanto drama para ir pegar a bola. Mas a mente dela era simplesmente muito complexa para eu tentar entender. E qualquer outra pessoa que se atravesse também.
-Menos, santa!- a reprimiu. Ela era o tipo de pessoa que se estressava com quase tudo. Eu adorava ficar tirando com a cara dela, mandando ela desestressar e ir fazer massagem com pedras quentes. Ela me batia. É. Ela também era muito má. E também, ela se estressava com discussões idiotas. Vai ver foi por isso que ela se ofereceu para ir até o vizinho também.
-E não se esqueçam! Foi tudo culpa da . - lembrou.
Ela certamente estava desesperada, como sempre. E quando ela estava assim, ela gesticulava freneticamente com as mãos. O que ficava totalmente estranho devido ao seu tamanho. Não que ela fosse anã nem nada, era só que ela era menor do que todas nós. E quando ela fazia aquela coisa com as mãos, ficava engraçado.
Fato: Eu só tenho amigas problemáticas e retardadas.
Capitulo 2
-, porque você trouxe a câmera?- perguntou, após fecharmos o portão.
-Não sei!- dei os ombros - Acho que meu subconsciente me mandou pegar.
-Lógico!-ela disse revirando os olhos. – Você e seu subconsciente.
-Uai! Você tem um também. -E fiz pose de esperta.
Agora estávamos parados em frente à casa em que a bola tinha caído. Não sabia muita coisa sobre quem morava lá. Quer dizer, sabia que era uma velhinha chamada Esther. Minha mãe tinha me contado uma vez. Mas como ela era, ou se tinha mais alguém morando com ela, isso eu não sabia. E nem esperava descobrir tão cedo.
-Eu não alcanço a campainha!-eu disse, após uma tentativa falha de apertar a mesma. Era minha culpa a campainha ser, pelo menos, um metro longe do portão? Não mesmo.
-Gorda!- disse, mostrando a língua.
Capitulo 3
-Oi meninas!- Uma mulher de aproximadamente sessenta anos atendeu a porta. Ela tinha os cabelos ondulados, com a tintura já gasta que acabava fazendo a parecer mais velha. Vestia uma camiseta branca, e uma saia marrom na altura dos joelhos. Ela parecia cansada. Logo deduzi que ela provavelmente cuidava da senhora que morava na casa.
-Sabe, a gente não quer incomodar, mas é que a nossa bola caiu aí.- disse após ver que eu estava observando a mulher e fazendo notas mentais. Ela sabia sempre que eu fazia isso. E digamos, era bem freqüente.
-Um minuto que eu já pego para vocês. - A mulher disse, e depois retornou pela mesma porta de antes.
Ela voltou aproximadamente após uns três minutos, com as mãos vazias.
-Vocês gostariam de procurar?- ela perguntou enquanto abria o portão - Não consegui achar em lugar nenhum.
Capitulo 4
-Isso tá te dando medo também, ou eu estou ficando paranóica?- perguntou baixo. Ela leu meus pensamentos. Aquele lugar, sem dúvida, estava me dando arrepios.
A mulher estava nos levando até o quintal. Passamos pela garagem, entramos em uma sala. Uma TV pequena estava posicionada em um canto, um pequeno sofá no canto oposto, e uma cadeira de balanço. Nela, estava uma velhinha de uns oitenta anos. Acredito que seja Dona Esther, pelo que minha mãe me contou. Ela tinha os olhos castanhos saltados, e o pouco cabelo preso em um coque. Parecia lúcida.
Estava com uma manta sobre as pernas, costurando alguma coisa.
-E só seguir em frente - A mulher de antes disse, e se posicionou na cadeira ao lado da velha. Ela parecia que nem tinha notado a nossa presença, a não ser por um sorriso sincero. Apesar do que parecia, ela soava como uma velhinha normal, que mima os netos.
Capitulo 5
Macabro: a única coisa que eu podia pensar. Já tinha visto vários quintais mal conservados, mas como esse, nunca. E pelo jeito, também não.
-O que você acha de a gente deixar a bola aí e voltar para a tua casa? A gente compra outra para o teu irmão!- falou já se virando para ir embora.
-É, acho melhor!-concordei, e me virei para voltar também.
-A porta não quer abrir, ! - comecei a berrar histericamente, enquanto batia na porta. Como se realmente fosse adiantar alguma coisa.
-Respira, inspira! Ai meu deus, a gente tá presa!- chegou a essa conclusão também, e começou a gritar comigo.
Após cerca de dez minutos de pedidos de socorro inúteis, chegamos à conclusão que qualquer coisa seria mais útil do que ficar gritando para um objeto inanimado. Primeira grande conclusão do dia.
- , se a gente morrer, eu quero que você saiba que a nossa amizade foi muito importante para mim, tá?- ela disse, me puxando para um abraço. Em circunstâncias normais, eu teria falado algo do gênero também, mas alguma coisa, ou alguém, me interrompeu.
-Você ouviu isso?- perguntei, tirando a câmera do bolso. De repente, se a gente saísse viva dessa, e eu tivesse filmado algo decente, podia virar documentário. “O caso da velhinha seqüestradora de bolas que prendia inocentes no seu quintal macabro”. Certo, muito grande.
-A gente vai morrer!- resmungou chorona. Até parecia que ela tinha desistido de achar saída. Nota mental: lembra-la que se a gente sobreviver, ela já foi mais medrosa que eu uma vez na vida. - A propósito , porque você tá filmando a nossa morte?
Não respondi nada, só comecei a examinar o lugar e falar coisas para a câmera. Um pouco para frente da porta que estava trancada, tinha uma casa abandonada, com as janelas estilhaçadas, a pintura gasta, as paredes mofando, e várias teias de aranha como decoração.
Capitulo 6
-! Achei a bola!- Após vasculhar um pouco mais adiante, acabei me deparando com uma árvore estranha. E, quando olhei novamente, a bola estava junto ao tronco.
-Ah, jura? Parabéns!- ela disse ironicamente, enquanto se aproximava com dificuldade da onde eu estava.
-Se a gente não morrer, pelo menos nós temos a bola para passar o tempo nesse lugarzinho. É, no fim das contas a gente vai morrer. Ou de fome, ou de tédio. De repente a gente até faz uma baladinha com as aranhas.
Esperei que ela respondesse algo, mas ela estava muda. Olhei para ela. Ela estava olhando fixamente um ponto, com uma cara de pânico. Receosa, resolvi virar para ver o que ela via.
-AAAAAAAAAAH!- gritei, fazendo com que gritasse junto. Tentei correr, mas minhas pernas não obedeceram. Só conseguia olhar para frente, com as duas mãos na boca.
Na nossa frente, se encontrava um garoto. Ele estava com seus jeans rasgados, a camiseta sobre os ombros. Ele estava pálido, com alguns hematomas no corpo, e uma feição triste.
Ele olhava para nós duas com curiosidade e ternura. Parecia que há tempos não via o sol. E provavelmente alguma alma viva que não incluísse aranhas e ratos.
Capitulo 7
-Por favor! Não mata a gente!- comecei a implorar, me ajoelhando em frente a ele. Fato: acho que nunca tive tanto medo na minha vida inteira.
-Olha, nós sempre fomos garotas boazinhas!- se junto aos meus apelos. Olhei de relance para ela. Ela estava tão assustada como eu.
-Vocês são engraçadas. - o garoto disse. Como assim, engraçadas? A gente aqui, morrendo porque ele vai matar a gente, e ele achando que nós somos engraçadas. Tá de brincadeira, só pode.
-Hã?- eu e perguntamos em coro.
-Eu não vou matar vocês!- Ele disse, e se sentou no chão sujo, que um dia provavelmente já tinha sido um gramado. Agora não passava de terra e pedaços avulsos de mato.
Por impulso, ou talvez medo, eu e sentamos em frente ao garoto.
-E porque você assustou a gente?- perguntei enquanto analisava o garoto de verdade. Apesar do jeito que ele estava, era bonito. Os cabelos encaracolados caiam sobre o rosto perfeitamente, os olhos castanhos transmitiam ternura.
-Desculpe, não foi a minha intenção. - ele sorriu sem graça.
Capitulo 8
-Então, o que aconteceu com você?- perguntei. Sabe, depois de uns dois minutos, eu meio que perdi o medo. Tudo bem que nós ainda estávamos trancadas no quintal de um total estranho e tudo mais, mas só de saber que a pessoa que estava na minha frente não ia me fazer mal, já me reconfortava.
Quanto a , não tinha a mínima idéia do que se passava em sua cabeça. Ela estava olhando, novamente, um ponto fixo. Mas dessa vez decidi não olhar. Era simplesmente cedo demais para eu morrer de ataque no coração.
-Er, eu morri. - ele disse timidamente. Eu não disse nada. Só senti minha cabeça girar, e tudo apagou.
Como assim, morreu? Não, não! Rebobina a fita! Ele não podia estar morto, simplesmente! Porque, se ele estivesse isso significaria que eu tinha morrido também. E pelo amor de Deus, eu não podia estar morta, não podia.
Capitulo 9
-! Acorda, acorda!-alguém gritava ao fundo.
Não conseguia identificar quem era. Levantei um pouco zonza. e o garoto que se dizia morto estavam a minha volta.
-Você tá legal?- o garoto perguntou. Novamente, aquela tontura me dominou, mas tentei resistir dessa vez.
-Defina estar legal. - disse e ri baixo da minha própria piada. Eu sei que não era momento, mas de repente piadas assim me deixassem mais calma.
Eu ainda tinha esperanças de tudo isso ser um grande pesadelo. Talvez eu pudesse estar até dormindo na minha cama, abraçada com algum dos meus bichinhos, esperando só que minha mãe fosse me acordar.
-Ai dona , você quase me matou!- exclamou, me puxando para um abraço apertado.
Talvez fosse impressão minha, mas o garoto pareceu ficar pouco a vontade quando pronunciou o verbo morrer. Porque ele ficaria assim?
Será que ele realmente estava morto? E se estava, porque é que ainda estava na Terra? Muitas perguntas, nenhuma resposta. Pelo menos, não no momento.
-Não foi minha intenção!- respondi, empurrando uma mecha do cabelo para trás da orelha. Eu fazia isso quando estava sem graça. Se estivesse prestando atenção, ela perceberia. Mas ela não estava.
Capitulo 10
-Ela acordou?- ouvi alguém perguntar ao fundo. Um alguém, que até então, era totalmente desconhecido. Que eu sabia, somente eu, e o garoto estranho estávamos lá. Mais ninguém. Ou assim achava.
Mas antes que eu pudesse gritar novamente, senti uma mão me impedir. O garoto estranho, percebendo o que eu estava prestes a fazer, colocou uma de suas mãos na minha boca.
-, antes que você morra de infarto ou algo do gênero, me deixa te explicar algumas coisas. - começou a dizer. - Nós ainda estamos vivas, mas por alguma razão desconhecida, viemos parar em um universo paralelo. Tecnicamente, este ainda é o quintal da sua vizinha, mas não é, entende?
-Então ele- apontei para o primeiro garoto- Está realmente morto?-perguntei.
Para ser sincera, não tinha entendido nada do que ela havia dito sobre universo paralelo e coisa e tal. O que realmente estava me perturbando era o fato de eu estar falando com gente morta.
Acho que eu tinha morrido. Mas ao contrário do que eu sempre pensei sobre o que aconteceria comigo quando eu morresse, eu não estava no céu, não mesmo.
Capitulo 11
-Não leva por esse lado !
-, responde! Ele está, ou não está morto?
Ela não respondeu, somente assentiu com a cabeça.
Senti meu corpo todo ser tomado por um formigamento repentino. Comecei a andar de costas, mesmo sabendo que não haveria escapatória.
-A gente não vai machucar você!- senti uma mão sobre meu ombro direito, e um ar quente sobre a minha orelha.
Uma coisa que teria de me acostumar em relação aos seres que aparentemente tinham morrido: eles aparatavam.
Porém, uma pequena dúvida. Desde quando fantasmas transmitiam calor?
-Mas você... Tá morto. - lágrimas quentes começaram a rolar pelo meu rosto, era inevitável. Eu não podia acreditar em tudo aquilo, não podia.
-Confia em mim, . - ele apoiou sua outra mão no meu ombro esquerdo, e fez com que eu me virasse para encará-lo. Seus olhos brilhavam como o de uma criança que havia acabado de ganhar um novo brinquedo. Eles transmitiam segurança. - Me deixa tentar explicar.
Capitulo 12
-Eu e o - ele apontou para o garoto ao seu lado- Não sabemos exatamente o que nos aconteceu. A ultima coisa que lembramos é de alguém nos dando uma pancada na cabeça. E a partir daí, tudo ficou preto.- o garoto contou.
Não pude dizer a quanto tempo ele havia morrido, porém acreditava que não havia sido muito tempo atrás, pelo jeito que ele estava vestido e que falava.
-A propósito, . - estendeu a mão para eu poder apertá-la.
- - e peguei sua mão.
Naquele momento, um choque percorreu todo meu corpo. O toque dele era diferente, a textura de sua mão era diferente. Ele era diferente.
-Encantado.
e estavam conversando animadamente sobre qualquer coisa.
Era incrível com ela era diferente de mim em alguns aspectos. Talvez eu fosse mais sensata algumas vezes, inclusive por não ter acreditado logo de cara na historia dos garotos mortos, por mais que eu não soubesse o que tinha acontecido enquanto estava desacordada. Às vezes, foi nessa hora que explicaram para ela o que realmente tinha acontecido.
Capitulo 13
- - comecei a dizer, fazendo com que ele transferisse a atenção que antes estava sobre uma folha, e passasse para mim. - Desculpa.
-Tudo bem, .
Eu não iria ser rude com ele por ter me chamado de .
Odiava meu nome e sempre culpei minha mãe por ter lido tanto Romeu e Julieta. Mas acho que era hora de ficar quieta, porque já tinha sido com muito indelicada com .
Agora me pergunto também, será que ele gostava do nome, ou se importava de eu chama-lo de ?
Às vezes ele podia odiar o apelido pelo fato de lembrar alguém que o chamava assim quando estava vivo, ou era alguma lembrança nostálgica para ele.
Um silêncio predominou sobre nós dois. Mas ao contrário de ser um silêncio desconfortável, era um silêncio bom.
Encontrei o olhar dele no meu, e me peguei olhando para os seus olhos também.
Capitulo 14
-!- alguém passou a mão em frente ao meu rosto, para chamar atenção. -Acorda!
-Hã?
-Você está assim faz pelo menos uns cinco minutos!- sentindo que não tinha entendido nada, prosseguiu -Você estava meio que petrificada olhando o .
-Não estava nada!- retruquei, e revirei os olhos. Eu estava olhando além dele. Não no sentido literal. Só estava, na verdade. Pensando o que tinha acontecido aos meninos, o que tinha acontecido comigo e com a .
-Deixem ela!- pediu de um modo brincalhão, e deu um sorriso divertido.
-Obrigada, . -respondi ironicamente.
Eu não precisava dele para me defender, mas não estava em modo de discussões.
-, porque é que você e o ainda estão na Terra? Ou nesse universo paralelo, como a disse?- perguntei após e se retirarem para dar uma volta no quintal. Grande volta.
Bom, acho que eu tinha sido sutil demais.
-Eu também queria saber - respondeu e em seguida abaixou a cabeça. -O disse uma vez alguma coisa sobre a nossa missão na Terra ainda não ter sido cumprida. Sinceramente- ele deu os ombros -Eu não sei.
Não fiz nada. Somente peguei uma de suas mãos, e apertei em sinal de apoio. Com ele eu podia dizer que palavras não eram necessárias. Eu podia ler seu olhar.
Capitulo 15
-Fantasmas sentem fome?- perguntou após ter retornado do seu pequeno passeio com .
Não sei quanto a eles, mas eu me sentiria extremamente ofendida se estivesse morta e me chamassem de fantasma. Ela poderia ter sido, pelo menos, mais indireta.
-Eu sinto. Quanto ao , eu não sei. - respondeu, dando os ombros.
Agora olhava fixamente , e podia sentir certa semelhança entre ele e . Provavelmente eram irmãos ou primos.
-Eu também sinto!- respondeu instantaneamente, parecendo não ter ligado por ter sido chamado de fantasma.
-E tem alguma coisa para comer aqui?
-Se você considerar grama e insetos como alimento, então você tem um prato cheio. - Ele disse, fazendo com que os três restantes rissem de sua piada.
-Acho que eu vou dormir para passar a fome então!- concluiu e se levantou para procurar algum lugar mais confortável para se deitar. foi junto com ela, e pegou em sua mão.
Capitulo 16
-Será que algum dia eu vou voltar?- perguntei ao , enquanto encostava minha cabeça em seu ombro direito.
-Quando você voltar, eu vou descobrir porque ainda estou assim.
Não entendi o que ele quis dizer com isso. Mas estava cansada demais para perguntar. Apenas concordei.
Novamente, um silêncio se instalou. Podia ouvir claramente sua respiração. E era isso o que me intrigava: O jeito com que ele parecia estar vivo.
Vai ver, era assim que as pessoas quando morriam ficavam de verdade. Iguais quando vivas só que, mortas.
Não tinha porque me preocupar.
-, eu posso te beijar?
Não respondi.
Senti o mesmo formigamento de antes percorrer meu corpo. Virei-me para poder encará-lo. Ele me olhava com ternura. Inclinei-me para poder chegar mais perto.
Aos poucos, ele foi se aproximando. Fechei os olhos e pude ouvir um sussurro.
-O motivo de eu ainda estar aqui é que meu destino era conhecer você.
Capitulo 17
-, acorda!- uma voz de pânico interrompeu meu sono. Olhei em volta. Tudo parecia normal. Diria até normal demais.
-...- senti meus olhos marejarem.
Não era possível que nada daquilo tivesse acontecido! Era real, eu sei que era. Eu sei!
-Eu acho que a gente sonhou com tudo aquilo.- ela disse desapontada e estendeu uma mão para eu poder me levantar.
Mas se era sonho, porque é que ainda estávamos no quintal de Dona Esther?
-Não era sonho, eu sei que não era!- respondi, dando outra olhada em volta.
A bola estava no mesmo lugar de antes. Abaixe-me para poder pega-la e senti uma mão sobre meu ombro. Virei rapidamente na esperança de ser , mas era somente a mulher que cuidava da velha.
-Encontrou a bola querida?
Minhas bochechas arderam. Realmente, nada daquilo tinha acontecido de verdade.
Assenti com a cabeça e puxei pela mão. Passei pela velhinha, agradeci e saí cabisbaixa da casa.
Capitulo 18
-Garota!- uma mulher gritou. Virei, e dei de cara com a mesma mulher que antes me tinha feito acreditar que era .
-Oi?
-Você deixou isso para trás!- ela correu até onde eu e estávamos, e depositou na minha mão um objeto. Olhei melhor. Era a minha câmera.
Com todos os acontecimentos, não lembrava mais dela.
-Obrigada. - respondi e voltei ao meu caminho até minha casa.
Enfiei a câmera no bolso da calça, até cutucar meu ombro.
-, me deixa ver uma coisa?- perguntou, e no momento seguinte puxou a câmera recém colocada no bolso, para fora.
Continuei andando com as mãos enfiadas no bolso, até notar que não estava mais ao meu lado.
Olhei para trás; Ela estava parada, olhando a tela da câmera, estática, com uma cara confusa.
Corri até ela e espiei sobre seu ombro. Soltei um grito.
-Mas... - tentei dizer algo, mas as palavras pareciam não querer sair da minha boca.
Na minha câmera, estava o vídeo que eu havia começado a filmar no quintal da velha, até ser interrompida por alguém.
não fora meramente um sonho.
Eu não estava sonhando! Tinha acontecido, e estava ali a prova que eu precisava.
Capitulo 19
-Porque é que vocês estão chorando?- e perguntaram após nos ver andar em direção a elas na cozinha.
Elas estavam sentadas, comendo algum sanduíche que provavelmente minha mãe havia preparado.
-Foi um cisco. - justificou.
-Nos olhos das duas? Muita coincidência, não? Conta outra!- afirmou, e revirou os olhos. - O que aconteceu com vocês?
não respondeu, somente enxugou as lagrimas com a palma da mão.
Larguei a bola no chão e apertei a câmera que estava novamente no meu bolso contra meu corpo. Ainda estava lá.
-Eu acho que vou me deitar um pouco. - anunciei, me virando para abrir a porta que daria para o corredor.
e olharam com caras confusas, mas perceberam que não queria ser interrompida. foi para o quarto de visitas.
Deitei na minha cama, me sentido como uma criança desamparada.
Abafei meu rosto com um travesseiro, em uma tentativa inútil de fazer com que as lagrimas parassem de cair.
Senti meus olhos pesarem.
Capitulo 20
-, querida!- ouvi a voz suave da minha mãe, e sua mão acariciar meu rosto, em sinal que era hora de acordar.
-Mãe. - respondi desanimada, e esfreguei meu rosto.
-Desculpa incomodar querida, eu sei que você está cansada, mas tem alguém que está querendo te ver.
Olhei para a porta. Encostado no batente estava , é você!
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