Um estranho no natal
by Carolis
[carolzita_potter@hotmail.com]

‘Obrigada!’ disse saindo da loja de doces com um pacote de confetes na mão. Era noite de natal, e ela tinha esse costume. Sentava na praça principal de Londres e assim que desse meia noite, saboreava aquele doce, que pra ela tinha um valor especial. Seu favorito era o vermelho, tinha gosto de natal, ela sempre dizia.

“Pode deixar, , depois eu dou uma passada aí.” dizia saindo de casa e entrando no carro. Ia fazer como de costume: passar o natal da casa da mãe, e depois da meia noite, iria para casa de , cumprimentar os amigos.

foi pra casa, querendo tomar um bom banho. Havia trabalhado no estúdio o dia inteiro. Faltavam 2 horas para a meia noite, disso ela estava ciente, e como todo ano era a mesma coisa, não iria se espantar de chegar em cima da hora, em sua adorável praça. Entrou no chuveiro, fechou os olhos, e pôde se lembrar de tudo. Era tão bom, quando ele estava ali, dando força sempre que ela precisasse. Queria poder ter aquele último natal de novo.

‘Ah, merda! Que trânsito horrível!’ batia com a mão no volante. Estava a caminho para a casa da sua mãe. Pelo visto não era só ele que estava indo passar o natal com a família.

Saiu do banho e colocou uma calça jeans. Em cima colocou uma bata simples vermelha, que era presa nos ombros e depois caía pelos braços. Uma sandália branca envernizada, aquilo estava na moda, e antes de sair não podia deixar de pegar seu sobretudo preto e seu gorro vermelho.

‘Não, eu não ultrapassei sinal nenhum!’ brigava com o guarda que insistia em lhe dar uma multa.
‘Olha aqui moleque, é noite de natal, e eu quero ir logo pra casa porque tenho a minha família me esperando, e pelo o que eu posso notar essa gente toda atrás de você também tem, por isso faz favor de aceitar logo essa multa e ir comemorar o seu natal!’
‘Seu guarda, por favor...’ abaixou a cabeça e fingiu um choro. ‘Minha mãe não está em boas condições e...’
‘E o que?’ O guarda disse impaciente.
‘E esse pode ser o meu último natal com ela. O senhor já pensou na tristeza que eu terei ao lembrar desse natal com a minha mãe, e também lembrar que recebi uma multa?’
‘Humm... Vai embora logo. Mas finja aceitar o papel, se não pensarão que eu sou um frouxo.’ Ele piscava várias vezes para não deixar que as lágrimas tomassem conta dele. havia conseguido.

A menina já estava pronta para sair, e resolveu ficar mais um pouco em casa. Aquilo lhe trazia boas recordações. Sentou-se na poltrona, e ficou analisando a lareira. As lembranças voltavam. O porta-retrato, as cartas, e principalmente os confetes, a faziam lembrar dele.

‘Ah, não!! Isso é praga!!’ parou, pois o carro não queria mais andar. Aquele dia para ele estava sendo o inferno. ‘Por que isso hoje, meu deus? Por quê?’ Ele dizia olhando pro céu. ‘Ah, o senhor queria que eu analisasse como essa praça está bonita hoje? Ok, ela está linda, agora faça o meu carro voltar a andar, por favor!’ Ele implorava sozinho. Respirou fundo e fechou os olhos. ‘Calma, é só a noite de natal.’
‘Só?’ Ele escutou uma voz feminina, e abriu os olhos.
‘Ah, er... Oi. Eu estava...’
‘Falando com Deus?’
‘Sim, eu...’
‘Falando com deus, para ele arrumar seu carro?’ franziu a sobrancelha e começou a andar em direção ao seu banco favorito. O banco sempre tinha um boneco de papai-noel, o qual tinha o tamanho dela. Aquilo era como uma companhia.
‘Quem é você?’ a seguiu.
‘Eu? Por que te interessa?’ Ela sentou e abriu a bolsa, tirando o pacote de confete.
‘Por quê? Oras, você se intromete no meu assunto com deus, e não quer me dizer nem o seu nome?’
‘Você não está atrasado? Faltam 20 min. para a meia noite.’ Ela fechou os olhos e respirou fundo. não estava entendo nada. Abriu a boca para gesticular algo, mas deu as costa e começou a andar a caminho do carro. Parou por um instante e balançou a cabeça. pegava confete por confete, e os colocava na boca, ainda de olhos fechados.
‘Por que está fazendo isso?’ estava sentado ao seu lado.
‘Ah, você ainda está aqui?’ Ela abriu os olhos e perguntou.
‘Sim. O meu carro está quebrado, eu não tenho como ir pra casa, e muito menos pra casa da minha mãe que é um pouco longe daqui.’
‘Hum.’
‘O que é isso? Confete?’ colocou a mão no pacote e pegou uns dez de uma vez só.
‘Hey! São meus!’
‘Humm. Eu adoro confetes. Larga de ser egoísta!’
‘Eu não sou egoísta! E... Você... Você... Não se cansa de fazer perguntas? Quem é você? O que está fazendo aqui? Ah, o que é isso? Confetes? Eu amo confetes...’ o imitou com uma voz um pouco mais grossa.
‘Ok, desculpe se eu te ofendi. Dá licença.’ levantou e começou a andar. começou a chorar. Isso não era comum, devia ter um propósito. ‘O que faz uma garota em véspera de natal, faltando 10 min. para a meia noite, sozinha, comendo confetes, em uma praça? Tudo bem que é a praça mais bonita de Londres, mas isso não justifica.’ começou a falar rápido. ‘Olha, eu só quero ajudar. Afinal, eu não tenho mais nada o que fazer por aqui.’ Ele estava sentado novamente.
‘Me desculpe.’ balançou a cabeça.
‘Olha, se for os confetes, eu compro mais pra você.’
‘Não, não é isso.’
‘Se quiser conversar.’ tocou a mão dela, e não pode deixar de sorrir. Nem ele.
‘Esses confetes, significam muita coisa pra mim. Praticamente a minha infância. Meu pai. Ele nunca tinha dinheiro pra nada. No almoço a carne era no máximo uma vez por semana, e os outros dias comíamos ovo e arroz. Eu nunca reclamei sabe, era uma vida difícil. E o meu pai sempre sorrindo. Conhecia todos na rua, todos gostavam dele. E todo o natal, ele me dava um pacote de confetes. Era pouco, mas era do meu pai, entende?’ começou a chorar. ‘... e tudo que vinha dele, para mim era perfeito. Meu pai era perfeito! Ele era capaz de encontrar a felicidade em qualquer coisa, por pior que seja.’
não sabia o que dizer. Aquela história o tinha feito se emocionar.
‘Na noite de natal, comíamos eu e ele, olhando para as estrelas e vendo qual era a que brilhava mais.’ deu um pequeno sorriso. ‘Deixávamos os vermelhos para a meia noite. Era a nossa única regra.’
‘Humm... Três minutos. Pode começar a separar os vermelhos.’
‘Já? Parece que passou tão rápido, eu... Me desculpe fazer você escutar isso, mas desde que meu pai morreu eu passo o natal desse jeito.’
‘Você passa sozinha?’
‘Sim, sozinha. Eu nunca tive mãe. Bom, é claro que eu tive mãe, mas nunca a conheci.’ Mais um tempo em silêncio se passou.
‘Feliz natal!’ estava com lágrimas nos olhos, pela história dela.
‘Ah, pode pegar. Os vermelhos!’ sorriu ao estender o pacote.
‘Brigado.’ fechou os olhos e saboreou aquele doce. ‘Humm. Muito bom!’
‘Sim eu sei!’
‘É... Tem gosto de natal.’ olhou para ela e ficou parado.
‘Tudo bem?’ ergueu a sobrancelha.
‘Vem comigo!’ pegou a mão dela e começou a andar rápido.
‘Onde estamos indo?’ perguntou enquanto segurava, desajeitada a bolsa e o pacote de confetes.
‘Surpresa... Ah, a propósito... Qual é o seu nome?’
‘Surpresa.’
‘Que?’ sorriu, mas não parou de andar.
‘Tenta descobrir.’
‘Ok.’ Ele respondeu enquanto olhava para a rua antes de atravessá-la.
‘E o seu nome?’
‘Hum. Quer saber o meu nome? Eu tenho cara de que?’
‘Deixa eu ver... Hey! Pára!’ gritou de repente o que o fez parar de andar. ‘Para onde você está me levando em plena noite de natal, onde todas as lojas estão fechadas, e as pessoas comemoram felizes com a família em suas respectivas casas?’
‘Vem!’ não deu atenção a ela e voltou a andar. ‘Ah, ... Mas eu deixo você me chamar de .’ Ele sorriu.

‘Cara, cadê o , hein?!’ dizia sozinho.
‘Algum problema, querido?’ A mãe dele havia entrado na sala.
‘Ah, o disse que ia aparecer, e até agora nada... Nem na mãe dele ele chegou.’
‘Tenta ligar no celular dele.’
‘Eu já tentei, mas o maldito não atende!’

‘Você é louco?’ disse espantada.
‘Não. Só me deu vontade de fazer isso.’
‘Ah, então você sai beijando toda a garota que encontra na rua, e que lhe oferece um confete?’
‘Não, né?! Só as bonitas...’ Ele sorriu malicioso.
‘Engraçado.’ disse voltando a andar.
‘Hey! Aonde você vai?’
‘Pra casa!’
‘Não! Mas nós já chegamos!’ gritou, no meio da rua.
‘Chegamos onde, ? Em Londres?’ Ela disse como se fosse óbvio.
‘Não! Volta aqui, vai...’ disse indo atrás dela. ‘Desculpe se eu te beijei. Eu não penso às vezes e...’ Não terminou de falar e pode sentir os lábios da garota junto dos seus. Ainda se podiam ver os fogos do natal, e toda a cidade acesa. Parecia cena de filme. ‘Você sempre sai beijando todo o garoto que aparece com o carro quebrado e rouba uns dez confetes seus?’
‘Não. Só os s.’ Ela disse analisando o cabelo de .
‘Ainda não me disse o seu nome...’
‘Hum. Tenho cara de que?’
‘Fala looogo!’
‘Ok!’ disse rindo e ficando vermelha de vergonha. ‘, ou , como quiser...’
‘Eu sabia! Ia dizer isso!’
‘Ah, ia sim!’ a menina fingiu acreditar. ‘Então, chegamos aonde?’
‘Aqui. Essa rua não te encanta?’ disse olhando a sua volta.
‘Sim, mas...’
‘E outra... Assim que der meia noite e meia, a rua inteira se apaga, e a única coisa que fica acesa é a árvore.’ apontou para a mais linda, e gigante, sim era uma das mais gigante árvores de Londres.
‘Nossa! Deve ser um sonho!’ Os olhos de brilharam.
‘Sim, ela é perfeita!’ olhava com admiração. Admiração por ela não ter família e passar todos os natais sozinha, e comendo confetes vermelhos. ‘Eu te admiro.’
‘A mim?’ Ela riu e abaixou a cabeça. ‘Por quê?’
‘Você sempre passa a data mais importante do ano sozinha. Acho que eu não conseguiria.’ a olhou nos olhos dela e pode ver um brilho mais intenso.
‘Ah, depois a gente se acostuma. E eu não passo sozinha. Passo com o meu pai. Eu sei que não posso vê-lo, mas ele...’ seu choro estava mais alto ‘...pode me ver. E é isso que me consola.’
‘Vem cá.’ a abraçou forte e começou a acariciar sua cabeça delicadamente. Nenhum dos dois queria que aquele momento acabasse.
‘Aiw, desculpa, desculpa!’ Ela se afastou e limpou o rosto. ‘Você devia estar com a sua família, e não com uma estranha, que precisa de consolo.’
‘Isso é comum.’ sorriu.
‘Comum?’
‘É. Minha família não é biológica.’
‘Como?’
‘Isso mesmo. Eu nunca conheci meus pais biológicos. Eles me largaram em uma porta qualquer, e... Tive sorte, porque tenho uma família maravilhosa!’
‘Nossa! Eu sinto muito.’
‘Não! Não sinta, só disse isso pra você não se sentir culpada. Tenho certeza que a minha mãe no momento que me viu na porta, me pegou e me levou pra dentro de casa como se eu fosse seu próprio filho. Por isso estarmos conversando agora como se fôssemos amigos, pra mim seria algo comum.’ Ele disse sentando-se na calçada.
‘Brigada! Brigada mesmo!’ sorria que nem boba.
‘Não agradeça, apenas dance comigo.’ lhe estendeu a mão.
‘Mas não tem mu...’ Sua frase foi interrompida pela baixa música de natal que começara a tocar em várias caixas de sons espalhadas pelas ruas. As luzes se apagaram e o rosto de estava iluminado apenas pelas luzes da linda árvore. o olhou nos olhos e levantou. Colocou as duas mãos em volta do pescoço do rapaz, e ele as mãos na cintura dela. Era como se nada mais importasse. Apenas a música, as luzes e ele, , alguém que acabara de conhecer.
Aquele natal estava sendo um dos melhores que ela já passara. Com um estranho. Um estranho que tinha beleza ao extremo, isso era claro de se ver. Mas não foi só isso que chamou a atenção da menina. Aquela pessoa, desajeitada, ladra, sim podia se chamar assim, afinal ele havia roubado seus confetes, e um pouco folgada, onde já se viu sair beijando alguém que nem se quer conhece? Aquela pessoa estava fazendo daquele natal, um presente. Um presente que ela sabia muito bem quem havia lhe enviado. Alguém que sempre, vai olhar por ela, independentemente do tempo.


n/a Carolis:

Espero que tenham gostado. Minha primeira fic de Natal o/. Obrigada por lerem!
McBeijos, Girls!

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