Valentine's Day
by: Lilah Aoki

Dia dos namorados. Um dia feliz para se passar ao lado da pessoa que você mais ama no mundo. Não, não é a sua mãe... É a pessoa com quem você pode manter um contato extremamente forte e carinhoso. Aquela pessoa que te liga todos os dias para saber o que você está fazendo ou até mesmo pensando. Sim, o dia dos namorados existe para que você possa demonstrar de alguma forma que essa tal pessoa é quem mais te importa e quem você mais quer.
Finalmente, o dia dos namorados só é legal se você tem alguém assim.

estava sentado na varanda de seu quarto, escutando Blink e observando a casa ao lado. Estava havendo um tipo de reunião que seus vizinhos repetiam todos os anos no Valentine's Day. Claro que para um garoto como ele, aquilo tudo soava como uma imensa bobeira, já que namorados têm mesmo é que comemorar sozinhos, mas, vendo por outro ângulo, era mais divertido estar rodeado de gente do que sozinho. olhou para seu quarto e mordeu o lábio. Ele queria ter alguém, assim como seus amigos - que a esta hora deveriam estar muito contentes com suas garotas - mas era devidamente impossível, vendo que a única garota que ele realmente desejava, era inalcançável. Fechou os olhos e tentou mais uma vez esquecer que sentia aquilo, mas nunca era diferente. Estava preso aos seus sonhos e conseqüentemente aos seus pensamentos. A música parou de repente e ele se virou para ver o que havia acontecido, dando de cara com alguém que nunca imaginaria estar ali num dia como esse.
- ? - ele disse, estranhando sua presença. Ela estava parada em frente ao som.
- Quantas vezes eu tenho que repetir ? Blink me traz más recordações...
- Eu sei, eu sei. - ele sorriu, vendo-a colocar as mãos na cintura - Mas cá entre nós... Os caras são bons...
- Muito!
- Mas o que faz aqui? - ele perguntou quando ela se sentou ao seu lado na varanda - Você não devia... Estar com o Trevor?
- Acho que... Não necessariamente - ela respondeu cabisbaixa - ele teve que ir viajar...
- Ahn... algo ruim?
- Foi a avó dele - ela gesticulou - ela já estava meio doentinha, coitada...
balançou a cabeça, como querendo dizer que sentia muito e sorriu. Sabia que seria muito melhor se seu namorado estivesse com ela, mas era a morte de um ente querido. Sentiu tanto quando o viu receber a notícia que nem se despediram direito, mas ele voltaria em uma semana, então estaria tudo bem. Ficaram um pouco em silêncio, apenas sentindo uma leve brisa tocar seus corpos.
- Frio? - falou, vendo que estava sem casaco, apenas com suas roupas normais, jeans, camiseta e seu inseparável All Star bege. Ela concordou com a cabeça.
- Seria abuso pegar uma blusa emprestada?
Ele negou e ela caminhou para dentro do quarto, abrindo o guarda-roupa dele, impecavelmente desarrumado. Tirou de lá uma blusa vermelha - que por sinal era a que ela mais gostava - e a vestiu.
- Arrumar o seu armário seria uma terapia e tanto...
- Se tiver coragem... - Ele a observou mexer nas suas camisas amassadas - Está procurando o que?
- Nada... - ela deu de ombros e acabou tropeçando em alguma coisa - o que é isso?
- É uma caixa - ele respondeu simplesmente. Ela fez careta.
- Eu sei que é uma caixa, o que tem nela? Posso ver?
- Pode - ele riu depois de tanto interrogatório. Conhecia bem o lado curioso dela e se divertia muito com isso - São fotos...
- Legal, adoro fotos... - ela disse dando pulinhos e sentando novamente ao lado dele - Hey, esse bebê fofo aqui é você?
- Sou eu sim - ele pegou a foto e ela sorriu.
- Nossa... E dizem que a tendência é piorar...
- O que você quis dizer?
corou, pois não era sua intenção que o comentário saísse tão alto. riu e ela disfarçou. 
- Que... Que você continua fofo, ué!
- Ah, obrigado. - os dois agora mexiam nas fotos - Eu costumava ser menos tímido...
- Há! Você? Tímido? - ela tirou onda - você deveria aprontar pra caramba, isso sim...
- Eu? - ele se fez de ofendido, levantando a sobrancelha - Ah, quase nunca...
deixou escapar um risinho. É claro que ele aprontava! Garotos sempre aprontam! É algo que nunca ninguém vai conseguir mudar, nem com a diminuição do açúcar. Ela balançou a cabeça em negação, ainda olhando para as fotos.
- Olha só a carinha de safado que você tinha!
- Eu não era tão sapeca, tá?
- Há, me explica direito, porque isso é quase impossível...
- Bom, basicamente eu preferia ficar sentado na mesa, comportadinho, só pra ganhar beijos das amigas da minha mãe...
disse na maior naturalidade, como se todo menino de cinco anos fizesse o mesmo. Caindo na parte das teorias, todo garoto de cinco anos ODEIA beijos e marcas de batom no rosto, até porque eles odeiam meninas e suas bonecas. Ah, se soubessem o que todo esse nojo viraria. estreitou os olhos.
- Hey! A minha mãe era amiga da sua!
- Eu sei - ele deu um sorriso maroto e ela abriu a boca indignada.
- Seu... Seu... - ele ergueu os braços em rendição e ela riu - , você não existe...
- Claro que existo! Estou aqui não estou? - ele brincou e ela rolou os olhos.

Depois de meia hora, os dois amigos já estavam cansados de ver as fotografias e de discutir a importância dos clubinhos masculinos e femininos no primário. A festa na casa ao lado continuava no maior pique, mas não dava mais pra agüentar as músicas velhas de discoteca. já estava quase dançando a "macarena" quando pôs o CD do Oasis pra tocar.
Sentou-se novamente perto dele, pegando em sua mão e começando a brincar com ela. Eram melhores amigos e se conheciam há um tempo... Uns oito anos mais ou menos. adorava quando ela tocava suas mãos, porque podia senti-la, o que não era um bom sinal, vendo que ela já tinha alguém. Ele tentou espantar certos pensamentos, inventando algo para falar.
- Então... Qual foi o último filme que você viu?
- Em busca da Terra do nunca. - ela respondeu distraída - E você?
- De volta para o futuro, na casa do ... Pensamos até num nome pra banda...
- Ah, é? E que nome escolheram?
- McFly...
- Hum... é legal, eu gostei - ela mexeu as mãos de um lado pro outro - eu preciso ver um ensaio de vocês...
- Claro! - ele sorriu - Assim você vê que somos bons e compra nosso CD quando lançarem um...
- Eu compraria o CD de vocês de qualquer maneira. - ela comentou. Sabia que os amigos tinham talento - Me diz, quando vocês ficarem famosos, vão sair da cidade e se esquecerem de mim?
- Claro que não, vai ter sempre seu nome nos agradecimentos do CD. - ele brincou. Gostou dela ter feito esta pergunta, pois era um modo de ele saber que ela se importava com ele - A gente nunca vai deixar de pensar em você...
Ele disse todo bobo. não gostava quando ele falava assim, dava impressão de algo... Ah, deixa pra lá.
- Err. quer dizer - ele tentou concertar - Você vai filmar todos os vídeos do McFly...
- Adorei a idéia - ela sorriu, soltando as mãos dele. Seu sonho era esse, sair por aí colecionando prêmios pelos vídeos que faria para as bandas famosas.

- Olha só pra você, pequena... Está crescendo - disse de repente.
- Você também, - eles se analisavam - até ontem era o garoto bobo que me seguia na detenção...
- É que você não aparece mais na detenção! - ele abriu os braços como quem diz "fazer o que?" 
- Você podia ser como o Peter Pan, que tal? - bagunçou o cabelo dele, enquanto ele fazia uma careta - assim você ficava criança pra sempre!
- Por quê? Não gosta de me ver crescer?
- Gosto! - ela disse rápido pois a resposta era óbvia. Tentou justificar - É que quando crescemos as coisas mudam.
- Lá vai você filosofar...
- Ah, eu não gosto de pessoas muito maduras sabe? - ela estava com o olhar um pouco perdido enquanto a observava - um dia você vai ter um trabalho, uma família, um cachorro pra cuidar e nós nunca mais vamos ter essas conversas de melhores amigos... 
lamentou. Era o que ela mais via acontecer com os adultos ao seu redor.  
- Não vai ser assim - se manifestou - a gente vai manter contato e eu vou ser o padrinho quando você... Casar com o Trevor... - disse com a garganta seca. Odiara a idéia - E se você quiser, eu posso ser seu amante, como naquela música, qual mesmo?
- ! Não! - os dois riram - E eu não vou casar com o Trevor...
- Não?
- Não - ela o encarou e seus olhos se encontraram - eu não tenho certeza se ele é a pessoa certa... 
ergueu a sobrancelha tentando entender o que acabara de ouvir. Era incrível como ela o deixava idiota com qualquer simples frase. O que será que ela quis dizer? Ele ficou sério.
- Algo pra me contar? 
- Bom... Eu gosto do Trevor... Muito - ela abaixou a cabeça, respirando devagar, como em todas as vezes em que fora contar um segredo, e olhou para o amigo - Mas acho que... Não o suficiente... 
- Como não o suficiente? Eu sempre achei que vocês estavam bem e... 
- Nós estávamos... - o cortou - mas ultimamente temos brigado tanto que eu comecei a me chatear...
mordeu o lábio e esperou que ela pudesse completar a história, mas a garota ficou calada. Talvez estivesse lembrando-se da última briga com o namorado, por isso os olhos marejados. Não suportava ver a menina daquela forma, tinha que fazer alguma coisa. Dizer alguma coisa.
- Bem - ele falou lentamente, mexendo no próprio cabelo - Todos os casais brigam, é normal...
- Eu sei, eu sei... - ela riu abafado - Eu sou mesmo boba de levar tudo tão a sério, não é?
- É? 
- É! - ela confirmou - Trevor tem muito com o que se preocupar e... E ele gosta de mim... É o que importa...
enxugou uma lágrima que estava prestes a cair e desviou dos olhos de mais uma vez. Ele, por sua vez, não estava se sentindo muito bem com esse diálogo. Trevor gostava dela, mas ele a amava. Se lembrou dos tempos em que armavam travessuras para seus colegas e de como Trevor o odiava. Ele era "popular", o filho do diretor do colégio, e quando se interessou por , fez de tudo para acabar com a amizade dos dois. só aceitou tudo calado, porque ela demonstrava que estava realmente apaixonada, o que acabava com ele. Mesmo. Ela forçou um sorriso e ele teve vontade de abraçá-la, mas se conteve.

- , você quer tomar alguma coisa? - perguntou bastante educado, vendo que ela estava perdida em pensamentos. acenou com a cabeça - Tudo bem, eu já volto...  
Ele desceu as escadas pensativo e foi até a cozinha. Na porta da geladeira haviam muitos imãs e fotos. passeou os olhos e parou para ver uma foto onde se encontravam seus melhores amigos. sorria segurando um pedaço de pizza e bagunçava todo o cabelo de , que aparentava estar furioso por isso. Juntos deles estavam uma garota bonita, , que hoje em dia mora no Canadá, e . Ele a abraçava e ela ria. O garoto ficou paralisado ao se lembrar. Por que ter amigos é tão bom? Mas por que tê-la como amiga era tão ruim? Subiu depois para o quarto, voltado à varanda. 
- Trouxe chá gelado que eu sei que você adora - ele estendeu o copo e o pegou. Seu rosto estava levemente corado por causa do frio, mas ela não ligava. Viu fazer careta por causa do gelo. Por que ele sabia de tudo sobre ela?
- Obrigada e espero que nenhum de nós pegue um resfriado.
- Se você quiser entrar...
-
Não... Aqui está bom... - olhou para a janela mais a frente, vendo que as pessoas se despediam - Parece que a festa acabou...
- Ah, sim, é mesmo. - ele disse distraído, vendo a casa esvaziar - Também, já é tarde...  
O relógio marcava onze e vinte. A música já havia parado há algum tempo e os dois estavam mais contentes agora, relembrando festas de aniversário. Eram sempre episódios constrangedores dos quais eles zoavam depois. 
- E naquela festa que o ganhou um enorme urso de pelúcia? - lembrou e fez bico - Eu sempre quis um daqueles...
- rasgou ele todo um mês depois...
- Há! O é muito malvado... 
- É, mas foi com ele que você dançou no baile da quarta série... - apontou, fingindo estar bravo.
- Ah, eu nem me lembrava disso - ela mexeu nos cabelos, colocando uma mecha atrás da orelha - qualquer dia desses eu vou zoar ele... 
- Melhor não... Ele pode te zoar por outra coisa...
- Pelo que? - ela pensou um pouco e riu - Ah! Cara, é verdade...
Estavam falando desse mesmo baile e eles recordavam muito bem. não era do tipo que atraía os menininhos porque em sua turma ela era a amiga feinha, mas seus amigos garantiram que naquele baile ela estava linda. Tanto que, dentre tantas meninas chatas que davam em cima já naquela idade, a escolheu e eles se beijaram pela primeira vez. 
- Pensei que você já tivesse apagado isso do seu histórico de infância - disse meio sem graça. riu.
- Claro que não ! - ela mexeu os pés, animada. Lembrar dessas coisa era tão legal! - Foi coisa de criança, mas foi o meu primeiro beijo... 
- Coisa de criança? - ele franziu a testa - Crianças não deviam sair se beijando por aí... 
- Pára de zoar, tá? Vai dizer que não gostou?
- Ah - os dois começaram a rir com a brincadeira, tirando com a cara um do outro - Eu nem me lembro...
- Há, há... Eu também não, você beijava mal!
- Eu? Mas foi seu primeiro beijo e você não sabia de nada!! Como pode me julgar?
- Sei lá... - ela deu de ombros e eles gargalharam. Olharam para a casa ao lado e viram o vizinho limpando a bagunça e cantando feliz.  
- ... - disse, fazendo a garota virar-se para ele, dando movimento aos cabelos e o deixando um pouco hipnotizado. Ele se recompôs e continuou - Fazia tempo que não conversávamos, né?  
- É - ela sorriu docemente e voltou os olhos ao céu. Que diabos! Não conseguia encará-lo e por que? - Sabe, eu... tenho medo de perder esses momentos com você, eles... Eles são importantes pra mim.
sentiu um frio interior. Poderia jurar que seus pulmões estavam em cacos. Ouvir descrevendo seus encontros - mesmo não sendo românticos nem nada - era algo que o fazia quase perder a cabeça. Estava sentada ali na sua frente, a tal garota inalcançável, que tantas vezes chorou em seu ombro, tantas vezes o fez sorrir com seus conselhos... e ela parecia sempre tentar contar as estrelas. Por que ela parecia tão perfeita em conseguir tudo?
- Importantes? - ele disse com a voz falha. Seus pensamentos estavam transtornados dentro dele. 
- Sim, não sei o que seria de mim sem você...  
As mãos de começaram a tremer. Naquele momento ele teve certeza daquilo que guardava por tanto tempo. Ele amava aquela garota e inocentemente, começava a ter sonhos com ela, mas desabava quando revia a realidade. Nada nunca pareceu tão difícil. 
- Também não sei o que seria de mim sem você... - ele disse baixinho, sentindo o perfume quando ela se aproximou e o abraçou forte. 
- Eu amo você - ela sussurrou perto do ouvido dele - Você é o melhor amigo do mundo... 
encarou a rua, sério, ainda abraçado à ela. Aquilo machucava demais, saber que eram SÓ amigos. Afastou-se um pouco, apoiando uma das mãos na bancada e fazendo o possível para largar seus sentimentos. Quem dera ele, poder arrancá-los e jogá-los ali de cima. Pôs a outra mão no estômago, aparentando estar mal, mas fora interrompido pelo barulho de uma porta batendo. O vizinho estava apenas levando o lixo para fora e ao dar meia volta, encarou os jovens.   
- Feliz dia dos namorados! - falou alto e contente e em seguida retornou à sua casa.
- Puxa, já passa de meia noite, eu... - ia dizendo, mas fora interrompida pelos lábios de .
Ele a puxou para perto, ainda sentindo as mãos trêmulas. Era uma loucura, certo, mas era o que seu coração pediu que fizesse. Docemente passou as mãos pela cintura da garota, que ao poucos se entregava àquele beijo. Ele estava explodindo de felicidade por tê-la tão perto. passou os braços ao redor do pescoço do garoto e, de leve, brincou com seus cabelos. Não sabia exatamente o que estava fazendo, mas sentia-se melhor do que nunca. tinha os lábios quentes e parecia interpretar aquilo como uma primeira vez, intensificando o beijo e juntando mais seus corpos. Era o momento que ele mais esperava, estar com ela, tocá-la, senti-la ser mais que uma amiga. Os dois romperam o beijo, ofegantes, e se separaram. Assim que ele a olhou, abriu a boca, mas antes que pudesse dizer qualquer palavra, ela fez sinal para que ele parasse.
- ... Não...
viu um lágrima viajar pelo rosto dela e não pôde sequer se mexer ao vê-la sair depressa dali. Apoiou na bancada, realmente se sentindo mal, e a seguiu com os olhos pela rua até que ela desaparecesse de vista. O que ele tinha feito? Não era assim que desejava que acontecesse. Ficou lembrando atordoado de como havia sido precipitado e pensou que talvez tivesse estragado tudo. Sentiu o rosto úmido por conta das lágrimas, mas não se moveu.  

O Valentine's Day nunca era bom... Nunca.

.fim da primeira parte.

n/a: Olha  só, eu  finalmente  consegui  terminar  essa  shortfic,  que  aliás  é  a  minha  primeira  shortfic =P
Queria  agradecer  a  quem  leu,  a  quem  gostou,  a  quem  não  gostou,  enfim, se  você  passou  por  aqui,  obrigada!  Você  me  fez  feliz,  pode  acreditar.  Então  vamos  parar  com  toda  essa  pieguice  e  bora  escrever  a  parte  dois,  porque  eu  fico  deprimida  quando  uma  fic  termina  assim,  triste.

novamente,  thanks  e  comentem

beijinhos. Lilah.

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