Valentine's Day - parte 3

by: Lilah Aoki
betada por: Carolis


Saber que você gosta de alguém que não pode ficar ali, do seu lado, dói. Dói demais. E quando você sabe que essa tal pessoa está nos braços de outro, feliz e protegida, você nem precisa ver pra ter certeza. O velho ditado de "o que os olhos não vêem, o coração sente" vem a calhar. As pessoas vivem sonhando com o que não podem ter e, afinal, pra que? Só para parecerem mais idiotas do que já são. Enfim, amar alguém e não poder ser correspondido é como morrer sufocado. Sufocado pela maior mágoa de todas: a desilusão.

passou a tarde toda na varanda de casa, chorando. Homens não choram, pensou, mas não podia se conter diante daquela situação. Ele viu Trevor e viu como havia ficado depois de tudo e sabe do que mais? Ela parecia se importar! E era isso o que causava mais confusão naquela cabeça cheia de dúvidas. Afinal, aquele Trevor não deveria estar no enterro da avó dele? Por que ele tinha que voltar agora? Por quê? Por que ele sempre chega na hora errada?
já não queria mais saber disso, afinal, era um jogo perdido. continuava sendo a garota inalcançável com quem sonhara a vida toda e que nunca poderia ter. Ou mais recentemente, a garota que ele teve no dia dos namorados que jamais poderia ter ocorrido. Ele já podia até se tornar um escritor de romances e acabar como os antigos artistas: se apaixonando por uma bela dançarina de cabaré e morrendo de tuberculose. Mas isso se fossem os velhos tempos. Olhando para fora ele apenas teve certeza de que teria de conviver com isso, levando os passos e seu destino.
Abaixou a cabeça, querendo arrancar tudo dali de dentro. Tinha horas em que queria ser mágico, pegar sua varinha e BAM! Sumir. 

Ficou assim a tarde toda, vendo o Sol se pôr e escurecer. Não quis comer nada, jantar, ver TV, nem falar com os próprios amigos, que ligavam vez ou outra. Só queria ficar sozinho, como sempre foi.
Alguém bateu na porta e ele virou a cabeça para encará-la. Não ia abrir, não importava quem fosse. Bateram com mais força, quase em desespero, e achou que iam arrancá-la fora.
- Eu já disse que não quero comer, mãe! - ele reclamou, caminhando até a porta e se pondo diante dela. Estava péssimo - Vai embora...
- , abre...
Seu cérebro parou por um momento. Ele reconhecia aquela voz, mas não, não podia ser. Se aproximou, mas logo pulou para trás quando socaram a porta e um barulho horrível se formou.
- ? - ele perguntou, ainda paralisado. Estava com cara de quem podia enxergar através das paredes.
- Sou eu sim, , abre... - ela disse e ele fez menção de fazer o que ela pedia, mas voltou atrás. Não queria mais se magoar.
- , vai embora... - ele pediu. Ouviu ela resmungar e não pôde deixar de sorrir.
- Eu PRECISO falar com você, é sério...
apenas repetiu que não iria abrir e sentou encostado na parede do quarto, de frente para a porta. Ele não estava com muita coragem de encará-la. Ouviu um estrondo.
- O que foi? Você caiu? - ele perguntou preocupado. Ouviu rir.
- Não, estou bem... é esse urso gigante que me atrapalha!

ficou assim, encostada na porta, tentando convencer a abrir, mas em vão. O garoto não iria ceder assim tão fácil. Ficaram um longo tempo em silêncio, até pigarrear e rir.
- Que foi? - ela perguntou. estava gostando de saber que a menina não tinha ido embora.
- Nós dois... - ele respondeu - separados por uma porta...
- Então abre... - ela riu - por favor...
- Não... - ele ficou sério - estou com medo...
Ela coçou a cabeça sem entender. Ajeitou o urso e deitou sobre ele.
- Medo?
engoliu seco. Por que sempre fazia essas confusões com as palavras? Como iria explicar esse tal medo agora? Bufou e bateu a cabeça na parede.
- Ora, medo de errar de novo, acho...
franziu a testa. Como assim errar? O que ele estava tentando dizer? Será que o que tinha acontecido não significava mais nada? Resolveu deixar quieto e olhou pro relógio de pulso que marcava sete horas.
- , abre, estou a mais de quatro horas aqui com esse urso... - ela pediu, mas ele nem se moveu.
- Eu pedi pra você ir embora... - ele falou como se fosse tão simples. Não era! seu coração ficava apertado quando ele dizia aquelas coisas. Ele nunca a mandaria embora, mas no momento nem pensar direito ele conseguia. Ouviu mais alguns barulhos do outro lado e se levantou, caminhando e encostando o ouvido na porta. Apoiou uma mão para não bater brutamente contra ela e não fazer ruído algum.
ainda estava deitada sobre o urso de pelúcia, bocejando pela falta de assunto. Ela tinha que falar com ele, mas olhando pra ele! Não com uma imagem criada em sua cabeça.
- Você não vai abrir mesmo? - era sua última tentativa. Já tinha tudo planejado, por que estava atrasando tudo?
- ... - ele quase sussurrou, mas ela conseguiu escutar. Levantou-se e se aproximou da porta tocando a maçaneta.
- ... - falou baixinho também. Estava começando a querer chorar - abre... por favor...
fechou os olhos. Nunca quis que ela implorasse por nada, pelo contrário, em todos esses anos, o único que pedia algo era ele. Ele pedia todos os dias pelo amor dela. Pra quem? Não sei, mas era só o que importava. Respirou fundo e se afastou um pouco, destrancando a porta e girando a maçaneta devagar. Viu a garota dos seus sonhos parada, com os olhos marejados e não deixou de notar o quão bonita ela era. Seus olhos o miravam e o deixavam mais preocupado que o normal. Se estavam voltados a ele, que mal poderia sofrer? 
- Oi - ele falou com cuidado, sem esperar muita coisa.
- Oi - ela respondeu, dando um leve passo em sua direção. Aos poucos eles iam se aproximando e sentindo uma certa sensação interior, que percorria todo o corpo e terminava nas famosas borboletas. Os lábios se tocaram primeiro, quentes, nervosos. Pareciam ter esperado eternidades por aquilo. tocou a cintura dela, trazendo-a para perto. Pareciam estar em câmera lenta. acariciou o rosto do menino antes de passar os braços pelo pescoço dele, sentindo o mesmo arrepio. Separaram as bocas ainda de olhos fechados, talvez com um certo receio de se encararem, mas continuavam juntos. Num impulso, o abraçou muito forte, sem se importar se o derrubaria ou se o sufocaria. só suspirou.

- O que você tinha pra falar? - ele perguntou. Agora estava curioso, não podia negar.
o olhou e sorriu, pegando em sua mão e o levando até a cama, onde se sentaram um de frente pro outro. Ela estava levemente rosada e ele sorria meio bobo, procurando um ponto, que não fossem os olhos dela, para observar. Não achou.
- Hoje, quando você foi até minha casa, eu percebi, ... - ela disse, ainda segurando as mãos do garoto.
- Percebeu? O que? - ele falou meio confuso. Ela causava isso nele.
- Eu conversei com o Trevor, eu disse tudo o que estava sentindo - ela riu - ele nem quis ouvir tudo, mas acho que entendeu...
ficou meio abismado. Trevor entender alguma coisa? Difícil.
- E o que você falou pra ele?
- Tudo - ela abaixou a cabeça - eu sei que fiz o certo porque era o que meu coração estava me mandando fazer...
- Okay - riu baixinho, lembrando-se da noite passada - e...?
- Eu amo você... - ela disse, verdadeiramente. abriu a boca pra falar, mas não conseguia conciliar as palavras. Ele estava escutando direito? 
- Er... - ele balbuciou. Seu coração agora parecia estar tão acelerado, que poderia ter um ataque. Não! Pensou, não agora. chegou bem perto e repetiu:
- Eu amo você...

Foi instantâneo. poderia estar com medo, mas não deixaria nada dar errado. Não mais. Sorriu, mexendo nos dedos das mãos dela, distraindo seus olhos. Ela apenas o encarou, imaginando o que estaria passando em sua cabeça. Ele deveria estar taxando-a de atrasada, pensou, mas não teve tempo de concluir tais palavras, porque foi mais rápido:
- Não sabe como é bom ouvir isso...

e passaram a tarde toda deitados sobre a cama do quarto dele, conversando e tratando de esclarecer certas dúvidas que, por mais inúteis e pequenas, ainda provocavam aquele nó na garganta difícil de engolir. Ele queria saber como uma decisão podia ser tomada tão rapidamente e ela só queria entender quando tudo aquilo havia realmente começado.
- Você se lembra daquela viagem? - perguntou, olhando para a garota ao seu lado que mirava o teto.
- Claro, você me elogiou daquela forma... - ela riu - você era um menino diferente mesmo...
- É? E por quê? - ele ergueu a sobrancelha. apenas deu de ombros.
- Um garoto de 8 anos não é tão saidinho...
- Saidinho? Eu não era saidinho - ele se fez de ofendido - mas eu... eu só tinha gostado muito de você...
fechou os olhos depois de voltar-se ao garoto e suspirou. Ouvir aquilo era tão bom. Muito melhor do que estar com Trevor. Às vezes ela se sentia culpada por sentir essas coisas, mas a realidade era que era o cara da sua vida. Não poderia mais negar. Sentiu o garoto apertar mais as mãos, que estavam entrelaçadas e começou a falar.
- Sabe o que eu disse pra ele? - ela perguntou. Não era um assunto muito bom, mas tinha que desabafar. 
- Quem? - disse distraído. abriu os olhos.
- Trevor... sabe o que eu disse? - ela tornou a perguntar - imagina?
- Não... - ele respondeu um pouco inseguro. O que quer que ela tenha dito, com certeza, deixou o outro furioso - você contou sobre nós? Sobre o Valentine's Day?
- Foi - ela mordeu o lábio, lembrando. Tinha sido difícil - ele me disse um monte de coisas, eu chorei, ele gritou... mas nada muito diferente das nossas brigas convencionais...
- Ele gritava com você? - levantou assustado e junto dele. Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, o telefone tocou e ele se esticou para atender. 
- Alô? Oi , que foi? - rolou os olhos e a menina riu - o que? Quem? Ah é? Legal...

Alguns minutos depois, desligou e voltou a brincar com as mãos de
- O que ele queria? - ela disse curiosa. deitou do seu lado de novo. 
- Sabe a ? Aquela nossa amiga que estava no Canadá? - ele falou e a garota assentiu - então, ligou todo feliz porque ela vem passar uns dias aqui...
- Sério? - ela sorriu - ai, que bom, estou morrendo de saudades...
- Não só você - ele riu - está louco para vê-la... 
- - disse baixinho - posso te contar um segredo? 
- Fala...
- Eu sempre soube que o gostava dela...
- Eu também... - ele se aproximou, encostando os narizes e fazendo ela sorrir docemente - assim como sempre soube que tinha nascido pra você...
- Não fala assim, é meio piegas - ela brincou e ele lhe deu um beijo de leve nos lábios.
- Vai ter que se acostumar, eu consigo ser muito bobo quando estou apaixonado...

sentiu que tinha feito a escolha certa. era tudo o que ela sempre sonhou e ele desistiu daquela mania de sonhar com coisas inalcançáveis. Agora ele tinha compreendido que poderia conseguir o que quisesse se, se mostrasse verdadeiro. Parece que o dia dos namorados tinha lá suas vantagens. 

- - sussurrou - como você gosta de ouvir? Eu te amo ou eu amo você?
apenas continuou com os olhos fechados, acariciando a pele macia do garoto, desejando estar para sempre assim, do seu lado.
- Tanto faz, , tanto faz...

.fim.

n/a: 
E  acabou  o  Valentine's  Day,  gostaram?  Espero  que  tenha  ficado  bem  bonitinha,  afinal  eu  coloquei  um  pouco  de  verdade  nela,  se  é  que  me  entendem...  Obrigada  a  quem  leu,  a  quem  passou  por  aqui,  a  quem  comentou  e  tal...  isso  faz  meus  dias  de  aspirante  a  escritora  valerem  a  pena. 
Ah!  E  um  thanks  especial  pra  minha  beta  Carolis  que  aceitou  betar  minhas  palavras  doidas.  Palmas pra  ela,  meninas xD
Beijinhos. Lilah.




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