You should be with me
por Lilah Aoki | betada por Alê
revisada por Lelen



Era para ser um dia comum, não fosse a pequena discussão que teve com o namorado uma semana atrás e que resultou no fim do relacionamento. Em pleno natal, só o que alegrava a garota era o fato dela poder voltar pra casa depois de uma tarde cheia e de uma dor de cabeça insuportável. Ela saiu de uma loja no centro da cidade, onde trabalhava, e decidiu tomar alguma coisa numa das lanchonetes que ainda estavam abertas.  
Por mais incrível que parecesse, tudo conspirava contra ela. Pensava que passaria um natal brilhante ao lado daquele que amava e agora não tinha mais ele ao seu lado. Não podia voltar para sua cidade natal, pois era muito longe. Pensou que de nada adiantaria ficar matutando essa dura realidade e abriu a porta do lugar, ouvindo os sininhos pendurados na porta tilintarem. Estava lotado, quase não parecia sobrar lugares vagos. se aproximou do balcão e pediu um café ao atendente que anotou algo num bloco de papel e desapareceu por detrás de uma porta. Ela se virou cuidadosamente pra não trombar com nenhuma criança que estivesse passando e de repente viu alguém que no mesmo instante a encarou.  
Era . O garoto estava sentado numa das mesas perto da janela, aparentemente fazendo nada. estava petrificada. Seu coração começou a dar pulos - que ela não identificava se eram de alegria ou de ódio - e quase desmaiou quando o menino apontou para a cadeira à frente dele, demonstrando que era para ela se sentar.
O atendente voltou e lhe entregou o café. sorriu em agradecimento e voltou a se virar para . Ele parecia esperá-la. Ela deu passos lentos até que o alcançou e o viu indicar o lugar vago na frente com a cabeça. Ela suspirou e se sentou, apoiando o copo na mesa e desviando o olhar para fora dos vidros da janela. 
- Okay, não está sendo um bom dia pra mim também - disse esperando convencer a garota a falar com ele. Ela apenas balançou a cabeça sem tirar os olhos do lado de fora - ... - ele insistiu - vamos... vamos conversar.
- Conversar? - ela falou sem se mover - sobre o que? Sobre como meu natal foi arruinado por alguém que só brincou comigo?
- Eu não brinquei com você! - ele se manifestou e ela riu irônica.
- Mas é claro que não... - disse - fui eu quem brincou com você, não?
abaixou a cabeça. Fazia exatamente uma semana que não a via. Tinha saudades, afinal um ano e meio era tempo suficiente pra poder dizer que estava apaixonado de verdade. Ele tentou ser sutil, ao contrário dela que parecia querer ser o mais rude possível. 
- , o que foi que eu fiz pra você? - ele perguntou baixinho. se virou, sem encará-lo e bebeu um gole do café.
- Você não me amou, , não como eu esperava... - ela respondeu, fazendo careta.
- Como assim? - ele não entendeu.
- Como assim o que? - ela indagou.
- Como assim eu não te amei... ? - ele franziu a testa e a garota bufou - quer me explicar, por favor?
riu. Bebeu outro gole do café e fez mais uma careta. O que é que estava havendo, ela nem gostava de café! Mexeu na franja afastando-a dos olhos e mirou um ponto na mesa.
- Tenho mesmo que explicar? - ela perguntou e o garoto concordou - está bem, vamos por ordem... 1...
- Espera! - ele pediu e tirou o celular do bolso que parecia vibrar. Ele desligou o aparelho, voltando a prestar atenção na face murcha e triste da menina - continua...
- Você... desligou o celular? - ela disse, assustada e apontando para o bolso dele.
- Aham, continua... - ele falou.
- Mas... você nunca desliga o celular... - ela continuava estranhando aquela atitude - você... - viu a cara de sonso que ele estava fazendo e se recompôs - tudo bem, voltando... número 1, você é ...
- O que tem a ver? - ele arregalou os olhos e ela finalmente o encarou. Viu como ele estava bonito. Usava uma blusa xadrez azul, e tinha os cabelos levemente arrepiados. A blusa estava repousada na cadeira e era de cor preta. Ela pôs as mãos na mesa e começou a brincar com um guardanapo. Estava nervosa, e sempre que ficava assim tinha que procurar se distrair com algum objeto - vamos, o que tem a ver?
- Tem a ver que só consegue ser tão frio e distante... - ela deu de ombros e ainda não entendia muito bem.
- ... resume tudo e só me diz o que foi que eu fiz, por favor? - ele quase implorou. Estava começando a achar que ela tinha inventado tudo o que já tinha dito, e por isso não fazia sentido.
- Não dá pra resumir, ... - ela esticou a mão direita e começou a numerar - você estava sempre ocupado com seus amigos, não saía comigo, não me dizia mais as coisas que eu gostava de ouvir e não me escrevia mais músicas... eu não pedia nada cara, só atenção e você ainda teve coragem de dizer que tudo não faz sentido? Ah, dá um tempo!
não sabia o que dizer. Era verdade que nos últimos tempos estava bastante ocupado com seus amigos, mas era porque tinham uma banda e trabalhavam um bocado pra compor e gravar demos. Ele tinha um sonho, e estava conseguindo seguí-lo com dedicação. Queria que fizesse parte desse sonho também, e ela fazia, mas estava sendo difícil pra ela se adaptar. 
- Me desculpe, mas isso não é motivo pra você dizer que eu não a amava o suficiente... - ele disse, mas o interrompeu, resmungando algo.
- Não foi isso o que eu disse - ela falou - você me amava o suficiente, mas não como eu gostaria, é diferente...
- Como diferente??? - ele disse um pouco mais alto, chamando a atenção de algumas pessoas de mesas próximas - posso saber o que você esperava de mim então?
Ele estava incrédulo. Não entendia como podia querer tanto dele. Ele se esforçava ao máximo para demonstrar que era pra ela que ele vivia e que era por ela que faria qualquer coisa, mas agora, com aquelas palavras, parecia que ela era uma esganada e insatisfeita engolidora de sentimentos. , por sua vez, queria fazer o garoto compreender que não bastavam carícias e afins. Ela o queria por perto quando tirava folga, quando tinha que ficar sozinha ou em todo e qualquer momento do dia, porque o amava e odiava estar longe dele. O que ele não entendia era que ela era alguém que não suportava não ser ouvida.
- Esperava que você se importasse - ela disse apenas. ergueu uma sobrancelha e se calou por um tempo. Tempo suficiente pra que os dois sentissem o silêncio cutucar suas entranhas e os fazer sentirem-se mal. Era até constrangedor eles não se encararem, como se fossem estranhos tendo que dividir a mesa ou inimigos. O clima estava realmente pesado.
- Vão querer mais alguma coisa? - o atendente perguntou se aproximando da mesa. Os dois olharam pra ele.
- Um chá - pediu.
- Bolachas - falou em seguida e o olhou de repente - sem recheio, por favor.
- Claro - o atendente sorriu e seguiu pra outra mesa. mirava .
- Pára com isso... - ela disse rindo e ele balançou a cabeça.
- Bolachas... - ele repetiu - pra você molhar no chá... eu sei que você gosta.
- É, combina com natal não? - ela olhou para os enfeites em toda parte - ainda mais se forem em forma de bonequinhos... - disse mais pra si mesma, mas escutou.
- OW, TRAZ BOLACHAS EM FORMA DE BONEQUINHO, OKAY? - ele gritou, erguendo o braço para o atendente, que fez joinha. 
- Você é louco? - perguntou, revirando os olhos de vergonha, enquanto algumas pessoas olhavam pra mesa deles estranhamente.
- Não. - ele respondeu, bagunçando os cabelos. viu como ele ficava bonito quando ajeitava a si mesmo.
- Então, algo marcado pra noite de hoje? - A garota puxou assunto. debruçou os braços na mesa e encarou os olhos da menina. Tão brilhantes como se dentro deles houvesse mil pisca-piscas. Ele sorriu abobado.
- Acho que vou voltar pra casa apenas e assistir alguns desenhos - ele sorriu de lado - e você? Algum encontro? Algo com pista de patinação e um grosso casaco verde?
- Não, meu último encontro foi assim e ele foi desastroso - ela riu, lembrando-se de três semanas atrás - o garoto derrubou sorvete no meu casaco verde e eu o cortei com meu sapato na hora de patinar. Se fossemos maiores, estávamos mortos...
- Que exagero - ele fez careta - aposto como esse cara era bonitão, não era?
- Ihh, aflorando seu lado feminino, ? - ela brincou e ele desmunhecou o pulso pra zombar dela, que continuou rindo. Fez que era brincadeira e a garota deu um risinho - nah, era bonitinho...
- É? - ele perguntou interessado. Era engraçado vê-la falar dele daquela maneira.
- Aham - ela sorriu, mirando os olhos dele - ele tem a mesma idade que você, sabe? - entrou no jogo - mas ele é mais bonito...
- Oh, não, fui trocado... - ele falou, pondo a mão no peito, encenando levar um tiro. riu.
- E você? Nenhum encontro desastroso? - ela perguntou, esperando que ele levasse na brincadeira também.
- Algo parecido com o seu, mas sabe? - ele se aproximou, fingindo que ia contar um segredo - mesmo ela tendo me cortado acidentalmente, eu me sentia inteiro por ela estar ali...
Ele se afastou novamente e corou de leve.
- E você a amava? - quis saber.
- Acho que sim, ela era gostosa - ele disse e a menina abriu a boca indignada - brincadeira, eu a amava sim, muito e... posso te contar um segredo? - falou e viu ela mexer a cabeça, dizendo sim - acho que ainda a amo, mais do que antes... sabe aquelas coisas que crescem dentro de nós?
- Sei, sei muito bem... - ela disse e o silêncio voltou à tona.
Os dois miraram a rua de novo. O frio, as pessoas e seus casacos. O natal era uma época em que todos iam pra casa, comer peru e jogar conversa fora com a família. As crianças só pensavam em presentes, mas dormiam cedo, ansiosas. E nas ruas só ficavam grupos de corais e aquelas pessoas que não sabiam o que fazer.
Os sininhos da porta da lanchonete tilintavam à todo instante e o brilho dos enfeites fazia querer voltar a ser pequena, à época em que só o que fazia era esperar o bom velhinho deixar seu presente embaixo da árvore. Ah, uma árvore de natal, tinha tantas saudades de casa, do ótimo jantar que sua mãe preparava e das histórias mágicas que seu pai contava. Agora estava ali, num lugar que cheirava vazio, com um garoto que ela pensava conhecer bem, mas não, não sabia nem metade do que ele era verdadeiramente.
também tinha saudades, mas no exato momento só conseguia olhar pra . Aquela pele que ele não sentia há uma semana, a voz que ele tanto adorava escutar. Tudo o que ele queria era se redimir mesmo que não soubesse porque.
O atendente pôs um prato com biscoitos na mesa, junto ao chá da garota. Eles agradeceram e o moço se retirou.
apontou para os biscoitos, enquanto soprava a xícara.
- São em forma de bonequinhos - ele sorriu feito criança e ela pegou um dos biscoitos. Tinha bracinhos, perninhas e uma cabeça redonda com olhinhos e boquinha. Os botões eram feitos com açúcar. Ela mergulhou o biscoito no chá como gostava de fazer.
- E o pobre morreu afogado! tsc, tsc - brincou e tirou o biscoito do chá. Estava meio mole.
- Coitadinho - ela exclamou olhando para o estrago - hum, agora já foi.
riu vendo ela comer o biscoito com pena de desmanchá-lo. Eram bonitinhos. Ele resolveu experimentar um e estavam realmente bons.
- Eu como uma perna e depois a outra - ele disse, mordendo o biscoito com cuidado - agora os braços e ops...! Lá se foi uma cabeça!
- Pára , está massacrando os coitados - deu um tapa de leve na mão do menino que riu.
- Mas você está afogando eles nesse chá fervente - ele reclamou, apontando para a xícara que exalava vapor.
- Ah é... - ela falou com o dedo no queixo e deu de ombros - bom, o sofrimento acabou, os biscoitos acabaram...
- Pois é - ele mordeu o lábio. Consultou o relógio e viu que eram onze horas da noite - vai pra casa?
- Vou - ela respondeu e se levantou.
pagou a conta e os dois saíram ouvindo os sininhos tilintarem uma última vez. A rua estava começando a ficar deserta porque todos voltavam pra festividade de suas casas. Ele meteu as mãos nos bolsos da calça e apertou seu casaco com força por causa do vento frio. Seus rostos estavam levemente corados. mexeu os pés de uma forma engraçada e virou na direção de , que encarava os próprios sapatos. 
- Bom... feliz natal - ele disse de repente. Suas mãos estavam suando.
- Feliz natal - ela falou e sorriu amarelo. Se encararam por alguns instantes até que cada um virou para um lado.
- Até mais - ele se despediu.
- Até - fez o mesmo e começou a caminhar na direção oposta. Tinha sido uma conversa não finalizada, mas parecia ter terminado bem, na paz. Ela sentiu alguém tocar em seu braço e se virou, dando de cara com .
- Esqueci de uma coisa - ele disse arfando por ter corrido até ela e tirou um envelope amassado do bolso - agora sim, feliz natal...
pegou o envelope e viu o garoto desaparecer na esquina, junto a escuridão. Ela andou por mais algum tempo, até chegar num parque velho e vazio. Sentou-se num dos bancos que havia perto de uma luminária e olhou séria para o envelope. Decidiu abrir. Havia um papel e um saquinho pequeno de confetes de chocolate. Ela riu e desamassou o papel pra ler.

",
Eu pensei, e pensei, e pensei, mas sabe, não consegui achar um presente ideal pra você. Sabe, qualquer coisa ia ser muito pouco se comparado àquilo que você me dá todos os dias, que é seu amor, seu afeto, sua companhia. Sei que você ama chocolate então estes doces são apenas um trote, está bem? Qualquer dia desses a gente combina de sair e daí você escolhe o que você quiser. É sério, pode estar rindo agora, mas eu estou sendo sincero com você. Não sou de escrever cartas, não sou de me expressar muito bem com atitudes, mas apesar de tudo, quero que saiba que eu amo você, muito mesmo, tanto que acho que ganhei meu presente de natal antecipado. Um ano e meio antes pra ser mais exato.
Bom, é isso, te vejo mais tarde, amor.
."

sentiu seu coração disparar. Leu uma, duas, três vezes e sentiu seus olhos lacrimejarem. Então ele se importava? Como ela pôde ser tão egoísta e pensar só no próprio bem estar, descartando todo aquele belo sentimento que mantinha em si? Ela tinha sido muito burra, pensou. 
Amassou o envelope com uma das mãos e decidiu ler o bilhete mais uma vez. Ela não podia acreditar.
De repente, notou um pequeno borrão no canto da folha e forçou a vista pra tentar ler. Parecia algum tipo de complemento.

"Desculpe pelo telefonema e pela briga. Amo você."

- Não vai abrir o docinho? - ela escutou e deu um pulo, assustada. estava logo atrás do banco.
- Senta... senta aqui - indicou o lado vazio do banco e o garoto se sentou. Ela sentiu um arrepio passar por seu corpo e não se conteve, abraçando com força. 
Ele passou seus braços pela cintura dela, apertando-a contra seu corpo. Era tão bom tê-la tão perto de novo, sentir o perfume que lhe entorpecia, sentir a respiração que o deixava louco. Era tudo o que ele precisava.
- Me desculpa, , eu sou uma idiota por pensar aquelas coisas de você - ela disse chorosa - eu te amo, eu te amo, por favor, me perdoa...
- Só por uma condição... - ele a afastou, ainda segurando em sua cintura e olhando fundo em seus olhos.
temeu a fala do garoto. E se ele dissesse que não, que ela não significava mais nada pra ele? Ela morreria.
- Qual? - falou tristonha, sentindo o sangue gelar.
- Que você volte comigo... - ele disse e sorriu. mordeu o lábio e se aproximou até encostar a boca na dele e o beijar intensamente. Ele era tudo o que ela mais queria naquele natal.
- Então... você volta? - ele perguntou depois de partir o beijo. Ela sorriu.
- Sim, sim, eu te amo... - disse, beijando-o novamente.
- Eu também amo você... - ele falou e deixou que apoiasse a cabeça em seu peito. Ela pegou o pacote de chocolates e abriu. 

- Os azuis são meus - disse e abraçou o menino, que riu e beijou o topo da cabeça dela. 
- Papai Noel foi bonzinho mesmo eu tendo massacrado os biscoitos bonitinhos... - ele falou, tentando dar um tom de surpresa à fala.
- Ainda bem, né? - disse, brincando com o cordãozinho da blusa preta dele.
- Ainda bem...

Fim.

n/a: Ahhh, Feliz Natal!!!
Essa foi a primeira fiction de natal que eu escrevi. Queria agradecer ao Poynter por me inspirar e por ser o baixista mais lindo ever xD Obrigada ao tempo, por ter passado devagar hoje, a banda de J-Pop Smap, porque eu ouvi a música deles e me inspirei [não pergunte como] e à todos vocês que leram, que gostaram ou não. Comentem pra que eu saiba tá? ^^
=* .Lilah.



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