Capítulo Único
Enquanto aguardava ser chamada, ela orava baixinho, tinha que passar naquela audição, ela havia apostado todas as suas fichas. Ela tinha os olhos fechados e pressionados ainda, quando finalmente a chamaram, ela soltou o ar que estava preso dentro de si e caminhou devagar, subiu as escadas, sentindo cada partícula de seu corpo tremer. Posicionou o microfone na boca e escutou os acordes da música tocar. Fechou os olhos e se deixou levar pela letra:
When your soul finds the soul
It was waiting for
When someone walks into your heart
Through an open door
Sentiu a voz tremida e pressionou os olhos, precisava controlar seu nervosismo, mesmo sem olhá-la, eles eram profissionais renomados e estavam com a audição apurada. Eram tantos candidatos… erros não seriam tolerados.
When your hand finds the hand
It was meant to hold
Don't let go
Sentiu a voz mais firme, mas o microfone tremia em suas mãos. Droga, ela ainda estava muito nervosa, sabia o peso que aquela apresentação tinha e era impossível não sentir vontade de vomitar ali no meio do palco.
Someone comes into your world
Suddenly, your world has changed forever
No, there's no one else's eyes
That can see into me
No one else's arms can lift
Lift me up so high
Your love lifts me out of time
And you know my heart by heart, ooh, ooh
No refrão foi conseguindo ter firmeza na voz, e não pôde deixar de sorrir, apesar de ainda estar nervosa. Abriu os olhos, e tudo o que viu foram as quatro cadeiras vermelhas, eles ainda não tinham virado, voltou a fechar os olhos, tentando ignorar aquilo, tinha que dar o melhor de si.
When you're one with the one
You were meant to find
Everything falls in place
All the stars align
When you're touched by the cloud
That has touched your soul
Don't let go
Alongou a última nota precisamente, estava indo bem. Continuou cantando a música da melhor forma que conseguiu, como havia treinado tanto tempo, ela amava cantar, desde muito pequena. E aquela música tinha um significado grande em sua vida. Apesar de cantar, ela também tocava como ninguém seu piano, queria ter a oportunidade de mostrar aquilo para o mundo.
Someone comes into your life
It's like they've been in your life forever
No, there’s no one else’s eyes
That can see into me
No one else’s arms can lift
Lift me up so high
Your love lifts me out of time
And you know my heart by heart
Assim que finalizou a música, em sua versão mais curta, já que era assim na apresentação do The Voice, abriu seus olhos, e engoliu a vontade de chorar, nenhuma cadeira, nada. Não tinha conseguido entrar no The Voice. Sentiu os olhos úmidos, e mordeu os lábios.
- Olá, qual é o seu nome? Idade? De onde vem? - ela tentou engolir o bolo que se formava em sua garganta, só podia ser um pesadelo quando viu a questionar.
- Oi! Meu nome é Daniele Alves, tenho 23 anos e venho da Hackensack. - ela escutou alguns aplausos a menção de sua cidade.
- Seu rostinho não me é estranho, querida… Não é sua primeira vez aqui, certo? - escutou Blake perguntar e forçou um sorriso.
- Essa é minha quarta vez. - sentiu-se levemente envergonhada com o olhar de puro deboche de Primadonna.
- Uau, temos um recorde esta tarde! - Primadonna, que até então estava calada, gargalhou alto, sendo levemente repreendida por Blake, afinal, tinha a plateia ali. - E por que você tenta tantas vezes, meu amor? Já não ficou claro que…
- Seu nervosismo te atrapalhou um tanto, apesar de ter um tom de voz agradável. - Britney interrompeu a mulher, Primadonna já estava passando dos limites.
- Sim, o nervosismo atrapalhou bastante sua apresentação, , mas volte em uma próxima vez, viu? Você tem um potencial vocal incrível. Estaremos te esperando aqui. - comentou, e ela mais uma vez naquele dia forçou um sorriso. Sua vontade era de desmanchar em lágrimas, mas não podia. Não queria dar o gosto para Primadonna, quem diria que aquela mulher fosse tão ácida? Já tinha ouvido rumores que ela era arrogante, indelicada, mas jamais imaginou que seria daquele jeito.
- Na quinta vez pede bolo, hein? - Primadonna gargalhou, e o público riu junto. Mais deboche, sentia-se humilhada, queria sumir dali para poder chorar à vontade.
- Obrigada. - foi a única coisa que conseguiu falar, pisando forte para a fora do palco, a acompanhou com o olhar, sentindo-se mal por ela, e em como ela tinha ficado fragilizada com tudo aquilo.
- Depois de quatro vezes ela não entendeu ainda que cantar não é para ela? Eu não fiz nada demais. - ela negou incessantemente com a cabeça. ainda conseguiu ouvi-la, pressionou os lábios.
🎤 🎤 🎤
Já fazia um certo tempo que estava no banheiro do local, todas as vezes que ela tentava se levantar do vaso sanitário que estava sentada, sentia as pernas fraquejarem. Chorava copiosamente, e já não sabia há quanto tempo o fazia. As pessoas não entendiam, até a repreendiam, diziam que ela deveria tentar outra coisa, mas não, tudo o que ela amava nessa vida era música.
Ela tinha um canal no Youtube, que ela postava covers, tinha alguns inscritos que sempre a elogiavam, possuía TikTok, mas por meio das redes ela não tinha conseguido estourar. Sentia-se extremamente fracassada a cada não que tomava. Tinha tentado American Idol, The Voice, X-Fator, mas nada, nenhum sim.
Talvez Primadonna tivesse razão, por que não desistir de uma vez de cantar? Não tinha o apoio de ninguém mesmo, sua própria família lhe dizia que ela nunca conseguiria. Sua única amiga, Kath, fingia apoiá-la, mas partilhava da mesma opinião que seus pais, sutilmente induzindo-a a fazer qualquer outra coisa. Deus, será que aquelas pessoas todas estavam certas?
Ela respirou fundo, tentando controlar o choro forte que queria tomar conta de si. Pegou mais papel, limpando as lágrimas e o nariz. Orou mais uma vez naquela tarde, para que tivesse forças para conseguir sair daquele lugar, ela precisava ir para casa, tomar um banho e tomar um bom chá. Sentia a cabeça latejar por conta da crise de ansiedade, misturada com o choro intenso que tinha tido.
Forçou seu corpo para sair dali e sentiu firmeza nas pernas. Abriu a porta da cabine, pela primeira vez naquele dia, Deus ouviu suas preces e ela estava sozinha no local. Ela caminhou até a pia, abriu a torneira, e começou a lavar seu rosto. Molhou a nuca, os pulsos, tentando parar o mal-estar que sentia. Fechou a torneira, e olhou-se no espelho, estava em um estado deplorável, parecia que tinha levado um soco em cada olho de tão inchados que estavam, mas ela não se importava, a figura que ela olhava no espelho era idêntica à como estava por dentro. Destruída.
Parecia um drama aquilo tudo olhando por fora, mas não era, concessões haviam sido feitas para que ela estivesse ali… sentiu um amargo na garganta, engoliu a saliva. Não, não podia chorar. Mordeu os lábios, lembrando-se da conversa de ontem.
- , eu estou falando muito sério! Já estou farto de você faltar no trabalho para se apresentar em programa de calouro, quando vai cair na real? - ela fechou os olhos, aquilo doía de uma forma que ela nunca pensou doer.
- Eu… me desculpe, senhor James, quero que compreenda que faço isso porque é meu sonho e…
- Seu sonho desde criança, já sei do blá, blá, blá inteiro que vai proferir, . E como eu já disse há pouco, eu não tenho mais paciência. Se você sair por aquela porta, considere-se sem emprego. - ela prendeu o ar, sentindo a garganta secar.
- Por favor, senhor James, eu juro que eu dobro amanhã, não faça isso comigo.
- A escolha é sua, , inteiramente sua. - o homem fez um gesto com as mãos, banalizando e saiu da frente dela.
E nós sabemos qual foi a escolha dela, não? tinha conseguido sair do banheiro e agora saía do local, direcionando seu olhar o tempo inteiro para baixo. Buscou o celular no bolso, e decidiu que chamaria um motorista de aplicativo, sabia que agora que estava desempregada, deveria economizar, mas sua cabeça latejava tanto que o que ela mais queria era chegar o mais rápido possível até sua casa e descansar.
Entrou pela porta de casa, e sentiu seu gato passar por suas pernas, suspirou baixinho, sorrindo com vontade naquele dia, Ted sempre conseguia arrancar um sorriso verdadeiro dela. Ela sentia-se inteiramente sozinha já que estava bem longe de casa, tinha deixado tudo para trás para realizar seu sonho.
Ted pediu para descer e ela o obedeceu prontamente, deixando-o no chão. Caminhou até seu quarto escolhendo qualquer roupa, deixou separado e foi tomar um banho, depois deitaria e esqueceria daquele dia.
Mas ela não esqueceu quando olhou as dívidas chegando em seu endereço, sua poupança iria dar para ela segurar as pontas, mas até quando? Ela não sabia o que fazer, três semanas haviam se passado e ela não conseguia arrumar nada. Pedir ajuda dos pais estava fora de cogitação, porque se fizesse aquilo ela sabia que teria que voltar para casa, e teria que admitir que eles estavam completamente certos, e agora ela realmente sabia que eles estavam. Durante aquelas três semanas ela procurou emprego em vários locais que viu placas, mas nada, nenhuma oportunidade.
Ela estava deitada, com o notebook no colo, vasculhando alguma agência de empregos online, largou o aparelho de lado, e suspirou fundo, ela queria dormir, mesmo estando acordada há apenas duas horas, sentia-se tão cansada.
Ela tinha planejado sair de casa naquele dia novamente, como tantas vezes havia feito, talvez andando pelas ruas do bairro achasse algo, mas de repente a ideia era ruim, porque ela teria que tomar banho, vestir uma roupa limpa, e tudo o que ela mais desejava naquele momento era dormir abraçada com Ted e foi isso mesmo o que ela fez naquele dia.
Aliás, o que ela foi fazendo por vários outros tantos dias, sentia-se cada vez mais indisposta, não tinha vontade de fazer nada, só dormir lhe parecia agradável, sentia-se completamente sem forças.
Além de estar extremamente indisposta por tudo o que estava dando errado, ela viu seu refúgio na bebida alcoólica, então garrafas e garrafas de whisky completavam o cenário caótico de onde morava, a bebida a deixava com uma felicidade momentânea, e ela gostava da sensação que tinha com ela. Seus pais tentavam falar com ela, sua amiga, mas ela não atendia ninguém, queria imergir no mais completo silêncio.
Mas nem tudo era o que mais desejávamos, naquela fatídica tarde a campainha do local que morava havia tocado, ela passou as mãos na cabeça, soltando um gemido baixo e despertando do sono que havia a acometido. Se ficasse quieta a pessoa desistiria e iria embora, ela não estava a fim de conversas vazias, ou sorrisos falsos e assim ela o fez, apagando no sofá novamente com as batidas fortes em sua porta, não importava, ela só queria desaparecer, sua vontade de viver se esvaía a cada dia mais.
🎤 🎤 🎤
Ela pegou o óculos de sol que encontrou perdido na bagunça que estava em sua casa, pegou a blusa de frio que tinha capuz.
- Eu já venho, Ted. - alisou o pelo do animal.
Ela tinha adiado ao máximo sair de casa, mas ela precisava sair, o whisky acabou e ela precisa comprar comida para Ted. Pegou as chaves e saiu para o mercado, era só comprar o que precisava e já, já estaria de volta para ficar imersa em sua bolha.
Chegou até o local, comprou a ração de Ted e caminhou em direção às bebidas alcoólicas, pegando três garrafas e colocando-as na cestinha que portava.
- ? - ela fechou os olhos, não tinha um pingo de sossego. Fingiu não escutar, assim quem quer que fosse, desistiria, mas não foi assim. Teve seu braço segurado. Virou-se, cansada. - Uau, você está…. diferente. - Bethany, a garota que trabalhou com ela, falou.
- Oi, Bethany. - abriu um de seus melhores sorrisos forçados, mais uma conversa vazia, como tantas outras que ela havia tido antes. Será que era difícil alguém que estivesse interessado em si de forma verdadeira? Era pedir muito?
- O que tem realmente feito depois que saiu da cafeteria? Assistimos sua apresentação ontem. - eles tinham televisionado a sua apresentação, não tinha como piorar ainda mais. Achou que não televisionariam. - Sinto muito que deu tudo errado.
- Está tudo bem, eu não me importo mais. Você sabe se tem alguma mínima chance do senhor James estar precisando de alguém lá?
- Bom, qualquer pessoa teria mais chances que você, , ele pareceu adorar que você não conseguiu, já que quando você passou lá para acertar as contas, não disse nada para ele. - soltou a respiração baixinho, incapacitada de falar qualquer coisa com coerência.
- Eu preciso ir, Beth, prazer revê-la. - abriu novamente um de seus melhores sorrisos e sumiu rapidamente. Foi até a fila do caixa, direcionou o olhar para cima, não queria mais chorar, ela não imaginava como aquilo a feriria. E aquela noite ela chorou copiosamente em como as coisas estavam dando errado com ela, afogada no álcool. Será que alguém seria capaz de aparecer para ajudá-la? Ela já não rezava mais como antes, ninguém nunca a ouvia, e ela sentia-se idiota quando o fazia.
🎤 🎤 🎤
se incomodou com a apresentação daquela garota naquele dia, mas do que pretendia, não terem virado a cadeira para uma pessoa que havia tentando quatro vezes, com certeza devia mexer com ela, percebeu o olhar baixo, a voz meio tremula... Ele sabia o que era tentar por várias vezes e nunca obter êxito, tinha recebido muitos nãos na carreira, mas nunca tinha sido humilhado, como viu a garota ser por Primadonna.
Passou dias com aquilo o incomodando, sabia que seria contra as regras, mas queria ajudar aquela garota, que era cheia de sonhos e merecia que fosse ouvida, era uma pedra bruta, que precisava ser lapidada.
Pegou o notebook durante a folga das gravações daquela tarde e procurou pelo nome dela, não tinha esquecido, Evans, achou o canal dela no Youtube, deu uma rápida visita na apresentação com mais views e realmente a menina tinha uma doce voz, o nervosismo a havia atrapalhado mesmo.
Viu que em seu canal também havia outras redes sociais, foi até o Instagram, ficou encarando a DM dela por um tempo, se decidindo se mandaria ou não mensagem à garota, se decidiu e deixou uma mensagem simples, esperava que ela visse, daria a força que aquela menina precisava, sentia que deveria fazer isso.
Mas será que aquela mensagem chegaria tarde demais?
- Pelo amor de Deus, arromba essa porta! Ela não atende ligações, está sumida há há tempos, seus pais não conseguem conversar com ela, eu estou desesperada, ninguém a viu, temo pelo pior. - Kath esbravejava com o porteiro. - Ela pode…
- Calma, menina, vamos abrir, tá? - o homem deixou a guarita com o filho e eles se direcionaram para o apartamento de , bateram à porta, e como imaginavam, ninguém atendeu nada.
- Arromba, por favor… - a garota implorou e assim o fizeram, a porta foi aberta, uma bagunça tremenda e um gatinho miando os recepcionou, estava jogada no chão, Katherine se desesperou, correu até a amiga e verificou os batimentos cardíacos que estavam fracos.
- Não, não, não, , fica comigo, por favor, por favor… - Kath já chorava copiosamente. - Chama ajuda, anda, ela está com a pulsação fraca. Não faz isso comigo, , não faz, meu amor. - Kath beijava a testa da amiga que estava fria. O porteiro sumiu dos corredores, ligando para a emergência. - Tem que dar tempo, tem que dar tempo. - Kath sussurrava baixinho, enquanto abraçava a amiga desacordada.
It was waiting for
When someone walks into your heart
Through an open door
Sentiu a voz tremida e pressionou os olhos, precisava controlar seu nervosismo, mesmo sem olhá-la, eles eram profissionais renomados e estavam com a audição apurada. Eram tantos candidatos… erros não seriam tolerados.
It was meant to hold
Don't let go
Sentiu a voz mais firme, mas o microfone tremia em suas mãos. Droga, ela ainda estava muito nervosa, sabia o peso que aquela apresentação tinha e era impossível não sentir vontade de vomitar ali no meio do palco.
Suddenly, your world has changed forever
No, there's no one else's eyes
That can see into me
No one else's arms can lift
Lift me up so high
Your love lifts me out of time
And you know my heart by heart, ooh, ooh
No refrão foi conseguindo ter firmeza na voz, e não pôde deixar de sorrir, apesar de ainda estar nervosa. Abriu os olhos, e tudo o que viu foram as quatro cadeiras vermelhas, eles ainda não tinham virado, voltou a fechar os olhos, tentando ignorar aquilo, tinha que dar o melhor de si.
You were meant to find
Everything falls in place
All the stars align
When you're touched by the cloud
That has touched your soul
Don't let go
Alongou a última nota precisamente, estava indo bem. Continuou cantando a música da melhor forma que conseguiu, como havia treinado tanto tempo, ela amava cantar, desde muito pequena. E aquela música tinha um significado grande em sua vida. Apesar de cantar, ela também tocava como ninguém seu piano, queria ter a oportunidade de mostrar aquilo para o mundo.
It's like they've been in your life forever
No, there’s no one else’s eyes
That can see into me
No one else’s arms can lift
Lift me up so high
Your love lifts me out of time
And you know my heart by heart
Assim que finalizou a música, em sua versão mais curta, já que era assim na apresentação do The Voice, abriu seus olhos, e engoliu a vontade de chorar, nenhuma cadeira, nada. Não tinha conseguido entrar no The Voice. Sentiu os olhos úmidos, e mordeu os lábios.
- Olá, qual é o seu nome? Idade? De onde vem? - ela tentou engolir o bolo que se formava em sua garganta, só podia ser um pesadelo quando viu a questionar.
- Oi! Meu nome é Daniele Alves, tenho 23 anos e venho da Hackensack. - ela escutou alguns aplausos a menção de sua cidade.
- Seu rostinho não me é estranho, querida… Não é sua primeira vez aqui, certo? - escutou Blake perguntar e forçou um sorriso.
- Essa é minha quarta vez. - sentiu-se levemente envergonhada com o olhar de puro deboche de Primadonna.
- Uau, temos um recorde esta tarde! - Primadonna, que até então estava calada, gargalhou alto, sendo levemente repreendida por Blake, afinal, tinha a plateia ali. - E por que você tenta tantas vezes, meu amor? Já não ficou claro que…
- Seu nervosismo te atrapalhou um tanto, apesar de ter um tom de voz agradável. - Britney interrompeu a mulher, Primadonna já estava passando dos limites.
- Sim, o nervosismo atrapalhou bastante sua apresentação, , mas volte em uma próxima vez, viu? Você tem um potencial vocal incrível. Estaremos te esperando aqui. - comentou, e ela mais uma vez naquele dia forçou um sorriso. Sua vontade era de desmanchar em lágrimas, mas não podia. Não queria dar o gosto para Primadonna, quem diria que aquela mulher fosse tão ácida? Já tinha ouvido rumores que ela era arrogante, indelicada, mas jamais imaginou que seria daquele jeito.
- Na quinta vez pede bolo, hein? - Primadonna gargalhou, e o público riu junto. Mais deboche, sentia-se humilhada, queria sumir dali para poder chorar à vontade.
- Obrigada. - foi a única coisa que conseguiu falar, pisando forte para a fora do palco, a acompanhou com o olhar, sentindo-se mal por ela, e em como ela tinha ficado fragilizada com tudo aquilo.
- Depois de quatro vezes ela não entendeu ainda que cantar não é para ela? Eu não fiz nada demais. - ela negou incessantemente com a cabeça. ainda conseguiu ouvi-la, pressionou os lábios.
Já fazia um certo tempo que estava no banheiro do local, todas as vezes que ela tentava se levantar do vaso sanitário que estava sentada, sentia as pernas fraquejarem. Chorava copiosamente, e já não sabia há quanto tempo o fazia. As pessoas não entendiam, até a repreendiam, diziam que ela deveria tentar outra coisa, mas não, tudo o que ela amava nessa vida era música.
Ela tinha um canal no Youtube, que ela postava covers, tinha alguns inscritos que sempre a elogiavam, possuía TikTok, mas por meio das redes ela não tinha conseguido estourar. Sentia-se extremamente fracassada a cada não que tomava. Tinha tentado American Idol, The Voice, X-Fator, mas nada, nenhum sim.
Talvez Primadonna tivesse razão, por que não desistir de uma vez de cantar? Não tinha o apoio de ninguém mesmo, sua própria família lhe dizia que ela nunca conseguiria. Sua única amiga, Kath, fingia apoiá-la, mas partilhava da mesma opinião que seus pais, sutilmente induzindo-a a fazer qualquer outra coisa. Deus, será que aquelas pessoas todas estavam certas?
Ela respirou fundo, tentando controlar o choro forte que queria tomar conta de si. Pegou mais papel, limpando as lágrimas e o nariz. Orou mais uma vez naquela tarde, para que tivesse forças para conseguir sair daquele lugar, ela precisava ir para casa, tomar um banho e tomar um bom chá. Sentia a cabeça latejar por conta da crise de ansiedade, misturada com o choro intenso que tinha tido.
Forçou seu corpo para sair dali e sentiu firmeza nas pernas. Abriu a porta da cabine, pela primeira vez naquele dia, Deus ouviu suas preces e ela estava sozinha no local. Ela caminhou até a pia, abriu a torneira, e começou a lavar seu rosto. Molhou a nuca, os pulsos, tentando parar o mal-estar que sentia. Fechou a torneira, e olhou-se no espelho, estava em um estado deplorável, parecia que tinha levado um soco em cada olho de tão inchados que estavam, mas ela não se importava, a figura que ela olhava no espelho era idêntica à como estava por dentro. Destruída.
Parecia um drama aquilo tudo olhando por fora, mas não era, concessões haviam sido feitas para que ela estivesse ali… sentiu um amargo na garganta, engoliu a saliva. Não, não podia chorar. Mordeu os lábios, lembrando-se da conversa de ontem.
- , eu estou falando muito sério! Já estou farto de você faltar no trabalho para se apresentar em programa de calouro, quando vai cair na real? - ela fechou os olhos, aquilo doía de uma forma que ela nunca pensou doer.
- Eu… me desculpe, senhor James, quero que compreenda que faço isso porque é meu sonho e…
- Seu sonho desde criança, já sei do blá, blá, blá inteiro que vai proferir, . E como eu já disse há pouco, eu não tenho mais paciência. Se você sair por aquela porta, considere-se sem emprego. - ela prendeu o ar, sentindo a garganta secar.
- Por favor, senhor James, eu juro que eu dobro amanhã, não faça isso comigo.
- A escolha é sua, , inteiramente sua. - o homem fez um gesto com as mãos, banalizando e saiu da frente dela.
E nós sabemos qual foi a escolha dela, não? tinha conseguido sair do banheiro e agora saía do local, direcionando seu olhar o tempo inteiro para baixo. Buscou o celular no bolso, e decidiu que chamaria um motorista de aplicativo, sabia que agora que estava desempregada, deveria economizar, mas sua cabeça latejava tanto que o que ela mais queria era chegar o mais rápido possível até sua casa e descansar.
Entrou pela porta de casa, e sentiu seu gato passar por suas pernas, suspirou baixinho, sorrindo com vontade naquele dia, Ted sempre conseguia arrancar um sorriso verdadeiro dela. Ela sentia-se inteiramente sozinha já que estava bem longe de casa, tinha deixado tudo para trás para realizar seu sonho.
Ted pediu para descer e ela o obedeceu prontamente, deixando-o no chão. Caminhou até seu quarto escolhendo qualquer roupa, deixou separado e foi tomar um banho, depois deitaria e esqueceria daquele dia.
Mas ela não esqueceu quando olhou as dívidas chegando em seu endereço, sua poupança iria dar para ela segurar as pontas, mas até quando? Ela não sabia o que fazer, três semanas haviam se passado e ela não conseguia arrumar nada. Pedir ajuda dos pais estava fora de cogitação, porque se fizesse aquilo ela sabia que teria que voltar para casa, e teria que admitir que eles estavam completamente certos, e agora ela realmente sabia que eles estavam. Durante aquelas três semanas ela procurou emprego em vários locais que viu placas, mas nada, nenhuma oportunidade.
Ela estava deitada, com o notebook no colo, vasculhando alguma agência de empregos online, largou o aparelho de lado, e suspirou fundo, ela queria dormir, mesmo estando acordada há apenas duas horas, sentia-se tão cansada.
Ela tinha planejado sair de casa naquele dia novamente, como tantas vezes havia feito, talvez andando pelas ruas do bairro achasse algo, mas de repente a ideia era ruim, porque ela teria que tomar banho, vestir uma roupa limpa, e tudo o que ela mais desejava naquele momento era dormir abraçada com Ted e foi isso mesmo o que ela fez naquele dia.
Aliás, o que ela foi fazendo por vários outros tantos dias, sentia-se cada vez mais indisposta, não tinha vontade de fazer nada, só dormir lhe parecia agradável, sentia-se completamente sem forças.
Além de estar extremamente indisposta por tudo o que estava dando errado, ela viu seu refúgio na bebida alcoólica, então garrafas e garrafas de whisky completavam o cenário caótico de onde morava, a bebida a deixava com uma felicidade momentânea, e ela gostava da sensação que tinha com ela. Seus pais tentavam falar com ela, sua amiga, mas ela não atendia ninguém, queria imergir no mais completo silêncio.
Mas nem tudo era o que mais desejávamos, naquela fatídica tarde a campainha do local que morava havia tocado, ela passou as mãos na cabeça, soltando um gemido baixo e despertando do sono que havia a acometido. Se ficasse quieta a pessoa desistiria e iria embora, ela não estava a fim de conversas vazias, ou sorrisos falsos e assim ela o fez, apagando no sofá novamente com as batidas fortes em sua porta, não importava, ela só queria desaparecer, sua vontade de viver se esvaía a cada dia mais.
Ela pegou o óculos de sol que encontrou perdido na bagunça que estava em sua casa, pegou a blusa de frio que tinha capuz.
- Eu já venho, Ted. - alisou o pelo do animal.
Ela tinha adiado ao máximo sair de casa, mas ela precisava sair, o whisky acabou e ela precisa comprar comida para Ted. Pegou as chaves e saiu para o mercado, era só comprar o que precisava e já, já estaria de volta para ficar imersa em sua bolha.
Chegou até o local, comprou a ração de Ted e caminhou em direção às bebidas alcoólicas, pegando três garrafas e colocando-as na cestinha que portava.
- ? - ela fechou os olhos, não tinha um pingo de sossego. Fingiu não escutar, assim quem quer que fosse, desistiria, mas não foi assim. Teve seu braço segurado. Virou-se, cansada. - Uau, você está…. diferente. - Bethany, a garota que trabalhou com ela, falou.
- Oi, Bethany. - abriu um de seus melhores sorrisos forçados, mais uma conversa vazia, como tantas outras que ela havia tido antes. Será que era difícil alguém que estivesse interessado em si de forma verdadeira? Era pedir muito?
- O que tem realmente feito depois que saiu da cafeteria? Assistimos sua apresentação ontem. - eles tinham televisionado a sua apresentação, não tinha como piorar ainda mais. Achou que não televisionariam. - Sinto muito que deu tudo errado.
- Está tudo bem, eu não me importo mais. Você sabe se tem alguma mínima chance do senhor James estar precisando de alguém lá?
- Bom, qualquer pessoa teria mais chances que você, , ele pareceu adorar que você não conseguiu, já que quando você passou lá para acertar as contas, não disse nada para ele. - soltou a respiração baixinho, incapacitada de falar qualquer coisa com coerência.
- Eu preciso ir, Beth, prazer revê-la. - abriu novamente um de seus melhores sorrisos e sumiu rapidamente. Foi até a fila do caixa, direcionou o olhar para cima, não queria mais chorar, ela não imaginava como aquilo a feriria. E aquela noite ela chorou copiosamente em como as coisas estavam dando errado com ela, afogada no álcool. Será que alguém seria capaz de aparecer para ajudá-la? Ela já não rezava mais como antes, ninguém nunca a ouvia, e ela sentia-se idiota quando o fazia.
se incomodou com a apresentação daquela garota naquele dia, mas do que pretendia, não terem virado a cadeira para uma pessoa que havia tentando quatro vezes, com certeza devia mexer com ela, percebeu o olhar baixo, a voz meio tremula... Ele sabia o que era tentar por várias vezes e nunca obter êxito, tinha recebido muitos nãos na carreira, mas nunca tinha sido humilhado, como viu a garota ser por Primadonna.
Passou dias com aquilo o incomodando, sabia que seria contra as regras, mas queria ajudar aquela garota, que era cheia de sonhos e merecia que fosse ouvida, era uma pedra bruta, que precisava ser lapidada.
Pegou o notebook durante a folga das gravações daquela tarde e procurou pelo nome dela, não tinha esquecido, Evans, achou o canal dela no Youtube, deu uma rápida visita na apresentação com mais views e realmente a menina tinha uma doce voz, o nervosismo a havia atrapalhado mesmo.
Viu que em seu canal também havia outras redes sociais, foi até o Instagram, ficou encarando a DM dela por um tempo, se decidindo se mandaria ou não mensagem à garota, se decidiu e deixou uma mensagem simples, esperava que ela visse, daria a força que aquela menina precisava, sentia que deveria fazer isso.
Mas será que aquela mensagem chegaria tarde demais?
- Pelo amor de Deus, arromba essa porta! Ela não atende ligações, está sumida há há tempos, seus pais não conseguem conversar com ela, eu estou desesperada, ninguém a viu, temo pelo pior. - Kath esbravejava com o porteiro. - Ela pode…
- Calma, menina, vamos abrir, tá? - o homem deixou a guarita com o filho e eles se direcionaram para o apartamento de , bateram à porta, e como imaginavam, ninguém atendeu nada.
- Arromba, por favor… - a garota implorou e assim o fizeram, a porta foi aberta, uma bagunça tremenda e um gatinho miando os recepcionou, estava jogada no chão, Katherine se desesperou, correu até a amiga e verificou os batimentos cardíacos que estavam fracos.
- Não, não, não, , fica comigo, por favor, por favor… - Kath já chorava copiosamente. - Chama ajuda, anda, ela está com a pulsação fraca. Não faz isso comigo, , não faz, meu amor. - Kath beijava a testa da amiga que estava fria. O porteiro sumiu dos corredores, ligando para a emergência. - Tem que dar tempo, tem que dar tempo. - Kath sussurrava baixinho, enquanto abraçava a amiga desacordada.
Epílogo
se remexeu na cama, acordando depois de um período de intenso sono, piscou os olhos algumas vezes, até conseguir focar em algo, a claridade machucou seus olhos, ela precisou acostumá-los a ela.
- Onde eu estou? - falou baixo, sua voz estava fraca.
- , meu bem, você está em um hospital, você quase... - engoliu em seco quando ouviu Kath falar. A amiga se levantou bruscamente da cadeira que estava sentada, apertando a campainha que estava ao lado da cama dela. - Ela acordou - ela comentou assim que a enfermeira apareceu no quarto, a mulher sorriu, assentindo. – Ai, , que susto você me deu, achei que eu fosse te perder.
- Me desculpa, me desculpa, eu…
- Xiu, não fala muito, não se cansa, eu estou aqui com você e não vou mais te deixar sozinha, ok? Mesmo que você tente me afastar, eu estarei ao seu lado. - Kath a abraçou, lhe dando a força que ela precisava.
- Obrigada, eu perdi completamente o controle. - ela suspirou fundo. - Eu…
- Finalmente abriu os olhos, mocinha, vamos lá? Ver se está tudo bem? - o médico apareceu, auscultando o coração dela.
Fez os exames padrões com ela e estava tudo bem, ela só precisava se recuperar, se desintoxicar e urgentemente efetuar um acompanhamento contínuo com um psiquiatra e um bom psicólogo.
- , você não olha esse celular há um tempão mesmo, está bombando de notificações - deu de ombros, vendo a amiga mexer no celular que estava carregando. Olhando rapidamente pela janela, o seu interesse por redes sociais andava mínimo, não tinha mais vontade de nada, era sempre mais do mesmo, um desânimo a assolava. - Ah, meu Deus! - Kath soltou assim que umas das muitas notificações pipocaram na tela do celular dela.
- O quê, Kath? - a garota a encarou com um olhar cansado.
- te mandou uma DM. - arregalou os olhos. - Nem isso te anima um pouquinho? Ele disse que viu seus vídeos e que você tem muito potencial. Isso não é incrível?
- É, mas…
- Mas nada, , você vai se tratar, e quando estiver melhor, você finalmente irá realizar seu sonho, o seu momento chegou, meu amor!
- Chegou… - abriu um singelo sorriso, genuinamente feliz, Deus realmente tinha planos para ela.
- Onde eu estou? - falou baixo, sua voz estava fraca.
- , meu bem, você está em um hospital, você quase... - engoliu em seco quando ouviu Kath falar. A amiga se levantou bruscamente da cadeira que estava sentada, apertando a campainha que estava ao lado da cama dela. - Ela acordou - ela comentou assim que a enfermeira apareceu no quarto, a mulher sorriu, assentindo. – Ai, , que susto você me deu, achei que eu fosse te perder.
- Me desculpa, me desculpa, eu…
- Xiu, não fala muito, não se cansa, eu estou aqui com você e não vou mais te deixar sozinha, ok? Mesmo que você tente me afastar, eu estarei ao seu lado. - Kath a abraçou, lhe dando a força que ela precisava.
- Obrigada, eu perdi completamente o controle. - ela suspirou fundo. - Eu…
- Finalmente abriu os olhos, mocinha, vamos lá? Ver se está tudo bem? - o médico apareceu, auscultando o coração dela.
Fez os exames padrões com ela e estava tudo bem, ela só precisava se recuperar, se desintoxicar e urgentemente efetuar um acompanhamento contínuo com um psiquiatra e um bom psicólogo.
- , você não olha esse celular há um tempão mesmo, está bombando de notificações - deu de ombros, vendo a amiga mexer no celular que estava carregando. Olhando rapidamente pela janela, o seu interesse por redes sociais andava mínimo, não tinha mais vontade de nada, era sempre mais do mesmo, um desânimo a assolava. - Ah, meu Deus! - Kath soltou assim que umas das muitas notificações pipocaram na tela do celular dela.
- O quê, Kath? - a garota a encarou com um olhar cansado.
- te mandou uma DM. - arregalou os olhos. - Nem isso te anima um pouquinho? Ele disse que viu seus vídeos e que você tem muito potencial. Isso não é incrível?
- É, mas…
- Mas nada, , você vai se tratar, e quando estiver melhor, você finalmente irá realizar seu sonho, o seu momento chegou, meu amor!
- Chegou… - abriu um singelo sorriso, genuinamente feliz, Deus realmente tinha planos para ela.