Capítulo Único
– Feliz aniversário! – Mamãe gritou ao telefone e ouvi meu padrasto rir e comemorar também.
– Obrigada, gente. – Agradeci com um sorriso enorme.
O relógio marcava meia-noite do dia vinte de março, sexta-feira, a data do meu aniversário. Espantei o lado pessimista que dizia que, com vinte e sete anos, eu deveria estar fazendo algo útil com a minha vida. Crises.
– O que vai fazer hoje? – Mamãe questionou, suas sardas na bochecha ainda aparentes pela tela do celular.
– O de sempre. Trabalhar. Acho que vou sair com alguns amigos também. – Mentira. – E é isso. Estou morrendo de saudades. Vão dormir, vocês acordam cedo amanhã.
– Estamos indo, querida. Te amamos muito. – Robert, meu padrasto, sorriu e acenou, mandando um coração.
Retribui o gesto e despedi-me com um aceno. Estava novamente sozinha em meu apartamento quando a chamada foi encerrada. Era o dia do meu aniversário e faria turno extra.
Joguei-me na cama e resmunguei. Ser jornalista poderia ser muito cansativo, especialmente porque, no meio jornalista, quanto mais enfiado no trabalho e mais consumido pelo escritório, melhor. Não caía nesse papo – na maioria das vezes. Prefiria ser uma jornalista medíocre do que passar doze horas do meu dia naquele cubículo branco. Mas não tinha opção naquele dia. Precisava daquele furo, era parte de todo o meu trabalho e o motivo que me fez tornar-me jornalista investigativa. Além disso, receberia uma promoção imensa. A única coisa que teria a perder naquele dia seria a vida. Mas até aí, só de sair pela porta de casa já me colocava em perigo, certo? Certo.
Deitei a cabeça no travesseiro e fechei os olhos, sorrindo ao pensar em uma cafeteira nova para meu escritório.
***
– Feliz aniversário, ! – Mais um colega me cumprimentou com um sorriso.
Todos na redação já haviam recebido o e-mail com os aniversariantes do dia. Agradeci cordialmente e fui até minha baia. Já passava das seis da tarde, eu estava exausta após lidar o dia inteiro com a coletiva de imprensa do presidente dos Estados Unidos da América. O homem era verdadeiramente um ogro, mas consegui material o suficiente para o jornal principal e para uma matéria mais aprofundada, a qual enviei na metade da tarde.
“, venha ao meu escritório, por favor.”
Li a mensagem flutuante de meu chefe no chat do Skype e levantei-me rapidamente, indo até o cubículo de paredes transparentes.
– Entre. – Ouvi a voz seca do senhor Lob e adentrei o escritório. – Oi, . Tudo certo para hoje à noite?
– Sim, senhor. Já devo ir para casa preparar tudo. – O senhor Lob assentiu e cruzou as mãos sob o queixo.
A barba branca não fazia jus à idade que aparentava ter.
– Espero que faça um bom trabalho. Dispensada. – Assenti e comecei a fechar a porta quando o ouvi gritar apressadamente. – Feliz aniversário!
***
– Vamos sair para comemorar amanhã. – Prometi à minha amiga, Aubrey, pelo telefone.
Estava correndo pela casa atrás dos meus brincos. Onde estariam os benditos?
– Você vive dizendo que não depende do seu trabalho, mas acaba fazendo coisas que você não precisa fazer, ! Pelo amor de Deus! Você vai realmente oferecer sexo a um filho de político apenas para conseguir uma matéria? – Fiz uma careta, que fic substituída por um sorriso vitorioso ao achar meu par de brincos no rack da TV.
– Eu não vou oferecer sexo a ninguém...
– Ah, não? E como vai fazer para entrar na casa desse figurão?
– Eu vou improvisar.
Estava mentindo. Eu iria oferecer sexo, mas não significava que iria até o fim.
– Está mentindo! É seu aniversário, pelo amor de Deus! Combinamos há meses de nos reunirmos com as meninas. Se surgisse algo amanhã, você também iria dar um bolo na gente, não iria?
– Claro que não. Amanhã é sábado, não é dia útil. – Aubrey bufou do outro lado da linha, parecia chateada de verdade. – Eu sinto muito, Aubrey. Mas o aniversário é meu, eu é quem deveria estar estressada, não você.
– Mas esse é o problema! Você nunca demonstra estar estressada por precisar fazer essas coisas, guarda isso para si. Do que adianta passar oito horas por dia trabalhando se você passa as seguintes fazendo o que você vai fazer agora?
– É a minha chance de uma promoção, Aubrey!
– Sua promoção vai valer a sua dignidade e o seu corpo? Você realmente vai seguir por esse caminho?
Suspirei e fecho os olhos. Aubrey estava certa. Eu esquecia meus princípios quando se tratava de fazer o que fosse necessário para conseguir minha matéria. Já até havia sido detida uma vez – uma longa história envolvendo um traficante de animais e uma amiga minha veterinária que havia conhecido em Londres.
– Você tem razão. Vou pensar em alguma outra alternativa, ok?
– Bom mesmo. Boa sorte. Vou rezar por você. – Sorri e me despedi de minha melhor amiga.
Pedi desculpas novamente no grupo das meninas e reforcei o convite para o dia seguinte.
Balancei o cabelo e encarei-me no espelho. Minha pele era pontuada por várias sardinhas na bochecha, descendo para o pescoço, ombros e colo. Observei meus lábios vermelhos e arrumei um detalhe borrado. Ajeitei o decote da blusa. Estava extremamente desconfortável em deixar meus seios tão à mostra. Não estava acostumada com aquele tipo de roupa, especialmente se levasse em consideração o meu local de trabalho. Não gostava do papel ao qual me prestaria naquela noite. Nunca precisara fazer algo assim.
Peguei meus documentos e os encaixei dentro do meu sutiã. Coloquei o mini gravador próximo à minha calcinha. Minha pequena bolsa continha apenas o necessário: spray de pimenta, uma faca e um celular reserva. Estava usando um short desconfortavelmente justo que estava inutilizado em meu guarda-roupa e uma blusa prateada com glitter extravagante e mangas bufantes. Definitivamente, havia entrado na personagem. Mirei meu suéter preto em cima da cama e estremeci ao me imaginar deitada, vendo algum filme e comendo uma barra inteira de chocolate ao leite.
– Droga. – Murmurei e fechei a porta do quarto.
Não ganharia nada deixando as tentações desanimarem minha noite. Era meu aniversário, caramba. Precisava, pelo menos, me animar. Andei até a porta de casa e espirrei um pouco mais de perfume entre meus seios, esfregando o dorso da mão ali.
Minha informante, uma acompanhante de luxo de classe social alta, enviou uma mensagem listando três possíveis locais em que eu poderia encontrar Wright, filho de Barnett Wright, um dos concorrentes ao cargo de governador da Flórida. Enquanto o motorista do Uber me levava até a primeira localização, próximo a Far Beach em Key Largo, analisei novamente as informações que tinha sobre .
Não havia nada postado em seu Instagram, como o bom filho de político que era. Minha informante havia dito que Wright não costumava se expor nas redes sociais, mas era extremamente conhecido pelas festas, mas não pelas drogas. Estranhei ao ouvir aquela informação. As drogas geralmente eram o que regavam aqueles espaços, especialmente entre os engomadinhos filhos de políticos poderosos. Observei uma das fotos que havia postado, ele estava junto com seu pai, próximo a uma mesa de piquenique em algum parque fora do país.
“Momento pai e filho, apesar de achar que meu pai está ficando cada dia mais parecido com meu irmão.”
Revirei os olhos com a legenda e resolvi focar no rosto de . A pele negra era destacada por um sorriso branco radiante, os olhos ficavam pequenos quando sorria para a câmera. Possuía o porte atlético, era possível perceber por outra foto que havia postado em que carregava alguns sacos de arroz para uma fundação de caridade. tinha vinte e cinco anos. Eu sabia que parecia ser apenas um pouco mais velha, mas meu coração não deixou de se preocupar com a possibilidade de ele ser do tipo que só gosta de garotas recém saídas da puberdade. O pensamento fez com que um calafrio subisse por meu corpo. Eu não conseguiria lidar com um cara daqueles, definitivamente.
– Obrigada pela corrida, boa noite. – Agradeci o motorista ao chegar ao meu local de destino.
Observei a primeira balada. Tinha dois andares, as paredes eram transparentes, então conseguia observar perfeitamente as escadas brancas, as luzes alternando entre cores e intensidades de acordo com a música. O chão em meus pés tremia com o volume. Havia uma fila quilométrica, provavelmente de pessoas que vieram de outras cidades próximas para aproveitarem o final de semana, e agradeci ao lembrar que minha informante havia comprado os ingressos antecipadamente. Ter pessoas com influência a seu favor era muito bom.
– Oi, boa noite! – Sorri entusiasmada para o guarda.
Era um homem negro e baixo usando um terno vermelho cornalina.
– Boa noite, moça! – Ele respondeu com um sorriso.
Uau, um segurança que sorri?
– Sou a Lovely. – Ele franziu o cenho e começou a procurar na lista.
Abri um sorriso ao ter minha entrada liberada e o segurança colocou uma pulseira, parecida com um relógio, em minha mão esquerda. Do lado esquerdo, estava a saída. Não havia ninguém ali além de um segurança. Com certeza, se estivesse ali, haveria mais seguranças.
Senti-me desanimada, mas não perdi a esperança. Adentrei a balada e sorri ao ouvir que estava na playlist worldwide. Wild Thoughts da Rihanna era berrada pelas caixas de som. Do lado direito, o bar, com a bancada branca e as prateleiras transparentes, refletindo e transpassando as cores neon do interior; do lado esquerdo, o DJ estava sobre um palco, usava um casaco jeans surrado e, quase com certeza, estava passando mal. Franzi o cenho e torci para que estivesse errada. Estalei a língua no céu da boca ao perceber que a área VIP ficava no segundo andar e parecia impossível subir as escadas com alguns casais se beijando em toda a sua extensão. Já me sentia cansada só de olhar.
Forcei meu caminho entre os mais novos, até separando um casal que praticamente se engolia nos penúltimos degraus. Quando atingi o primeiro andar, observei ao redor e percebi que a cor da parede era diferente. Gritava um roxo neon muito forte. Torci o nariz e procurei por alguma extensão da área VIP, mas não achei nada. Olhei para o próximo lance de escadas e fiquei feliz ao observar um segurança ali. A subida pela escada era proibida, pois havia paredes para o segundo andar, ao contrário de todo o restante da estrutura. Aproximei-me da figura alta e sorri, mas não fui retribuída.
– Olá, sou a Lovely. – O homem observou a lista em seu computador e assentiu.
– Liberada. – Abri um sorriso largo de vitória.
A porta foi aberta e fiquei ainda mais assustada ao perceber que o som do andar de baixo era abafado pelas paredes. Continuei os lances de escada acima, guiada apenas pela luz vermelha fosca dos degraus pretos.
Eu daria um bônus imenso à informante se ela houvesse acertado a localização de . Balancei os cabelos e assumi a personagem que havia criado. Williams. Ela era uma garota boba e divertida, mas que achava drogas uma verdadeira bobagem – não que a de verdade não achasse também – e adorava encher a cara. Uma contradição por outra.
Ao atingir o pico da escada, lutando contra minha pressão baixa, observei o quanto o espaço era mais reservado. As paredes alternavam entre o vermelho rubro e o preto, contrastando com a claridade proposta pela balada. Havia uma DJ com tranças nagô e cropped rosa no canto direito de onde me encontrava. O som era diferente, parecia melhor distribuído. A acústica era infinitamente mais agradável. O bar também alternava entre o preto e o vermelho. Havia três barmen, um deles era tão bonito que precisei de alguns segundos para absorver. Andei até o bar com um sorriso tranquilo pendente no rosto. De lá, conseguiria pensar nos meus próximos passos.
Sorri para o barman parado em minha frente e acompanhei de canto de olho alguns garçons se dirigirem até uma mesa no canto esquerdo extremo da balada. Controlei meu impulso de olhar para lá e permaneci com os olhos na tabela de preços. Gastaria metade do meu salário até o final da noite. Meu estômago embrulhou ao pensar nas contas do final do mês.
– E aí, tudo bem? Vou querer um Pink Drink, por favor. – O barman assentiu com meu pedido e bipou a pulseira, adicionando o valor da bebida.
O intuito não era beber o shot, mas parecer que sim. Encarei o colega dele, o bartender de olhos verdes e pele escura com os lábios mais bonitos que já havia visto. Ele estava arrumando algo no caixa e, quando virou, permaneci com os olhos fitados ali. Recebi um sorriso e uma piscada em retribuição. Controlei a vermelhidão em minhas bochechas e agradeci pelo shot quando o recebi em mãos.
Mesmo sendo a área VIP, ainda sim, havia muitas pessoas. Os corpos estavam irreconhecíveis pela escuridão, via apenas os contornos descendo e balançando ao som do funk brasileiro que havia ouvido em alguma rede social. Abri um sorriso perplexo ao observar uma menina fazer alguns movimentos com a bunda fisicamente impossíveis para mim.
Uma flama de esperança subiu por meu peito ao observar que havia uma boa quantidade de seguranças nas paredes. Resolvi entrar um pouco na multidão, balançando meu corpo ao som da música da maneira que conseguia ao som de Finesse. Senti uma mão em minha cintura, um homem loiro dos olhos verdes sorriu para mim e tentou me puxar para perto.
– Tenho namorado, foi mal. – Falei em seu ouvido.
Ele assentiu e deu de ombros, misturando-se à multidão novamente. Observei o entorno. Ao meu lado esquerdo, estava concentrada a maior parte dos seguranças. Segui por aquele caminho. O drink em minha mão estava seriamente ameaçado. Comemorei internamente ao sair da multidão e respirar. Peguei meu celular e abri o maior sorriso possível ao ver a mensagem de Brie, minha informante, na barra de notificações.
“Ele está na Mermaid!”
Comemorei imensamente ao perceber que estava no lugar certo e o relógio só marcava meia-noite. Poderia agilizar o processo e ir para casa antes do especial de filmes da Marvel.
Então ele estava protegido pelos cinco seguranças, sentado a uma mesa, com algumas pessoas ao seu redor. Precisava atraí-lo, mas como? Voltei a entrar na multidão, mas perto do local. Após quinze minutos e finalmente ter virado meu primeiro shot, observei um homem de black power romper pela barreira de seguranças. O mísero segundo me permitiu ver sentado nos bancos. Suspirei, o álcool esquentando meu corpo momentaneamente. Deixei o drink praticamente inteiro em cima de uma bandeja. Observei o homem andar até o bar e o segui, sempre dançando – ou o que quer que eu estivesse fazendo com meu quadril.
– Olá, vou querer um Espanhola. – Sorri para o barman enquanto ele ia atender meu pedido após bipar minha pulseira, parando ao lado do homem de pelo menos um metro e oitenta que saíra da mesa de .
Ele usava uma camisa branca justa e uma calça jeans skinny com um rasgo no joelho. Havia um lenço vermelho preso no cós de sua calça. Admirei seu estilo por um segundo, mas não passei despercebida.
– Oi. – Enrubesci ao perceber que havia sido flagrada vergonhosamente – Posso ajudar?
– Ah, desculpa, é que eu achei muito charmoso o lenço da sua calça, combina com o tom do logo da Marvel. – Comentei com uma honestidade brutal, algo que Aubrey dizia que estragava meus flertes constantemente.
O homem riu e prendeu o canto dos lábios em um sorriso. Que homem lindo!
– Obrigado. Combina com seu cabelo, que é lindo, na verdade. – Abri um sorriso genuíno.
– Obrigada.
Meu Deus, como eu continuava a partir dali? O homem acenou para um barman e pediu uma cerveja na mesma hora que meu drinque chegou. Murchei ao perceber que não sabia como continuar o papo dali. Que droga!
– Boa festa. – Acenei com um sorriso e virei-me para ir com meu drinque para o meio da pista e lamentar minha falta de capacidade para apenas dar em cima de alguém.
Não havia promoção no mundo que me tornasse capaz de dar em cima de um homem bonito.
– Ei, você quer dançar? – Arregalei os olhos ao sentir a mão extremamente macia, só para constar, do bonitinho.
Não podia acreditar em minha sorte.
– Claro! – Abri um sorriso largo e um arrepio cruzou minha espinha quando sua mão enlaçou meu quadril, acompanhando-me para uma parte mais calma da muvuca.
Bebi meu drinque em três goles e apoiei na bandeja de um garçom que passava.
– Uau, você é boa de bebida?
Não. Ia me arrepender amargamente daquilo.
– Sim, acho que sim. – Menti descaradamente e virei-me de costas para o dito cujo, rebolando meu quadril contra o seu ao som de Don’t Call Me Up, da Mabel.
– Sou o Leo, e você? – Arfei ao sentir seu quadril encontrando meu corpo, suas mãos prendendo minha cintura contra sua fronte.
Um fio de calor subiu por meu corpo e inclinei minha cabeça para trás.
– .
– Você é linda, sabia? – Revirei os olhos mentalmente e virei-me para ele, acariciando sua bochecha.
– Obrigada. – Sussurrei e puxei seu pescoço para um beijo.
Rendi-me em seus braços, suas mãos me puxando para perto. Seu cabelo em minhas mãos parecia algodão doce e seus lábios tinham gosto de cerveja e vodca. Suspirei ao nos separar, abrindo um sorriso. Leo sorriu e mordeu o lóbulo de minha orelha esquerda.
– Eu vim com uns amigos. Quer se sentar comigo? Podemos nos conhecer um pouco melhor. – Controlei um gemido quando seus lábios atingiram meu pescoço ao mesmo que sua mão apertou minha bunda.
Carambolas. Lembrei-me da voz de Aubrey em minha cabeça e recuperei a sanidade. Apertei o botão de iniciação do gravador por cima do short e sorri.
– Vamos. – Sua mão entrelaçou na minha, meu corpo tremendo pelo beijo.
Quando tinha sido a última vez que havia beijado alguém? Enquanto fazia as contas em minha mente, passamos pelos seguranças. Controlei as batidas descompassadas do meu coração ao ver sentado rindo com um menino e uma mulher, os dois de cada lado dele.
Abri um sorriso tímido. Estava na hora de botar para jogo.
– Gente, essa é a ! – Acenei para todos que me cumprimentaram calorosamente.
abriu um sorriso curioso para mim. Ele era extremamente bonito pessoalmente. Estava usando uma camisa parecida com a de Leo, os músculos dos braços delineados perfeitamente. Desviei meu olhar e sorri para Leo.
– Oi, prazer!
– Vamos buscar uma bebida. – A mulher comentou, levando seu namorado, ou o que parecia, com ela, deixando vazio os dois lados de .
Comemorei quando Leo me pediu para sentar antes que ele.
Eu estava sentada ao lado de Wright!
O gosto da promoção parecia cada vez mais doce em meus lábios rubros. Mordi meu lábio inferior ao ver o tanto de petiscos em cima da mesa. Virei-me para Leo e sorri.
– Quando você falou que veio com seus amigos, não achei que estivesse falando de uma mesa de verdade. – riu ao meu lado e virei-me para ele.
– Fico feliz que seja uma surpresa boa! – Meneei com a cabeça.
O sorriso branco era realmente galanteador. Meu pai...
– Sim, é bom sentar depois de dançar tanto. – Comentei.
Leo tomou outro gole de sua cerveja e apontou com o gargalo para o amigo.
– Podemos voltar já, já. É que é aniversário desse bastardo aqui, tenho que passar mais tempo com ele antes de sumir. – Gargalhei e assenti.
– Nesse caso, feliz aniversário! – Abri o sorriso mais desacreditado e falso que poderia. – Hoje também é meu aniversário.
– Então, um shot de presente! – Leo se antecipou e colocou um shot em minha mão.
Já estava ficando alegre, não sabia qual seria o resultado de mais uma mistura.
– Aos aniversariantes! – Exclamei e brindou comigo seu respectivo shot.
Virei de uma vez e tentei esconder a careta.
– Meu Deus, como eu odeio isso.
– Por que bebe, então? – perguntou rapidamente.
– Nossa, cara... – Leo o repreendeu.
– Porque a sensação depois é boa, mas a imediata é a pior possível. É a tempestade para, depois, vir o céu azul. – assentiu e sorriu.
– Desculpa pelo meu amigo, ele é meio sem filtro. – Leo se desculpou com certa vergonha.
– Não tem problema. O aniversariante tem direito. – Dei-lhe uma piscadela.
sorriu e assentiu, pegando o celular e digitando algo distraidamente.
Como procederia? Leo puxava papo sobre meu trabalho. Disse que era escritora fantasma. Leo não pareceu intrigado, mas , sim. Ponto para mim.
– Como você consegue vender seu trabalho?
– Eu tenho contas no final do mês, infelizmente. – Dei de ombros.
Nada além do meu nome era totalmente mentira. Eu realmente era escritora fantasma, mas também era jornalista.
– Sobre o que você escreve? – questionou.
Olhei para Leo, mas ele mexia no celular.
– Negócios, majoritariamente, mas gosto mesmo é de escrever terror. – arregalou os olhos com surpresa.
– Não parece.
– Ah, e o que parece que eu escrevo?
– Licença, gente. Uma pessoa que eu conheço acabou de chegar. – Leo comentou distraidamente.
– Tudo bem, a me faz companhia, não é? – instigou com um levantar de sobrancelha.
Dei de ombros e assenti.
– Claro, por quê não? – Leo levantou-se.
Logo, só eu e estávamos na mesa.
– Seu amigo é muito legal. – Comentei, referindo-me a Leo.
assentiu, os ombros relaxados.
– Se você não se incomodar com o estado no qual ele vai voltar, pode ficar. Senão, melhor sair, .
– Do que está falando?
– Ele vai se encontrar com o fornecedor dele. – Franzi o cenho.
– Ele vai se drogar? – Minha careta entregou meus sentimentos, havia deixado a escapar.
– É, eu também não gosto. – Comentou seriamente, levando os lábios ao copo de cerveja.
Percebi que ele só havia bebido o shot, mas sua cerveja ainda estava cheia.
– Desculpa, não tenho direito de julgar valores de ninguém. – Afirmei, a vergonha escapando em minha fala.
Eu realmente havia sido rápida em julgá-lo.
– Mas não é obrigada a achar algo certo. Fique tranquila. Mas o aviso continua. Ele não vai voltar legal e você parece ser uma garota decente. Eu daria o fora.
– Bom, acho que está certo. Afinal de contas, você espera o melhor e lida com o que recebe. – Arrumei a alça de minha blusa e sorri.
– Espera aí. Nick Fury? Você é fã da Marvel? – Assenti com um sorriso largo.
– Claro! Quem não é?
– Pessoas sem bom gosto.
Não poderia concordar mais. sorriu e aproximou-se um pouco mais.
– E do que mais você gosta além de terror e Marvel?
– Hm, acho que gosto bastante de estudar música. Costumava tocar piano quando era mais nova. – Lembrei-me da foto que ele havia postado dias atrás, sentado enquanto tocava piano.
Esperei que ele gostasse e não fosse fachada.
– Eu também toco piano! Comecei a aprender há uns seis anos.
Então ele havia começado por vontade própria. Interessante. Quase suspirei aliviada.
– Temos muito em comum, . – Direcionei meu olhar para sua boca, demorando-me ali por um tempo maior.
Voltei a encarar seus olhos, mas havia percebido. Strike. A promoção estava chegando, baby! Vou poder reformar minha cozinha!
Controlei meus ânimos e lembrei que estava pensando nas minhas jogadas mas não podia contar com a sorte. poderia não estar atraído por mim, ou então poderia não investir por medo de Leo. Muitas variáveis em jogo.
– Preciso dizer algo, espero que não se ofenda... Você é muito cheirosa. – Ri alto, apoiando a mão em meus joelhos – É sério. – Ele riu e tomou outro gole de sua cerveja.
– Meu perfume está tão forte assim? – Joguei o cabelo para o lado, deixando meu pescoço à mostra.
acompanhou meu olhar. Um dos empecilhos, a atração, havia sido descartado. Controlei minhas pernas ao vê-lo descer seu olhar para meu colo
– Quer ir dançar? – Perguntei.
Minha voz saiu rouca. Os olhos de estavam focados em mim. Um sorriso surgiu no canto de seus lábios, mas não chegaram aos olhos. Nunca me senti tão ameaçada e tão eletrizada na minha vida. aceitou meu convite.
Saí da mesa e arrumei o short, virando-me para sair. Tinha total noção de que minha bunda estava marcada. Tirei o peso de uma perna para a outra. Senti sua mão segurar a minha quando passamos pelos seguranças. Olhei para o lado esquerdo e observei Leo se agarrando com uma moça e os amigos de passaram por nós. Àquele ponto, já estava arrependida por ter bebido.
Deixei nos conduzir pelas músicas, sua mão respeitando o limite de minha cintura. Estranhei, levando em consideração o tipo de homem que achara que ele era. Mas agradeci. Soltei um grito animado quando Juicy começou a tocar. percebeu. Deixei minha cintura soltar e balancei meu corpo ao som ritmado, meus joelhos ardendo após tanto tempo sem dançar daquela maneira. Aventurei-me e rocei minha bunda contra a virilha de , o movimento ritmado para cima e para baixo. Ao fim da música, já havia até esquecido meu objetivo naquele lugar. Há muito tempo não me divertia dançando. Não tinha ânimo para aquele tipo de programa, mas não lembrava de ser tão bom.
– Você dança bem pra caramba. – elogiou quando encarei seus olhos.
– Você também sabe guiar bem. – Pisquei para ele.
Coloquei minha mão em seu pescoço, os olhos presos em sua boca. A voz de Aubrey surgiu no canto de minha mente. Estava prestes a me vender para conseguir uma promoção. sentiu minha hesitação.
– Está tudo bem? – Perguntou.
– Sim, está. – Sorri e puxei-o para mais perto, minha mão no cós de sua calça jeans e a outra em seu pescoço.
Seus lábios foram em direção ao meu pescoço, sua mão puxou minha cintura para mais perto, nossos corpos trombaram ao som da música. Fechei os olhos quando seus lábios encontraram os meus em um beijo quase desesperado. Arfei quando seus dentes prenderam meu lábio. Tombei minha cabeça para esquerda, suas mãos guiando nossos corpos no som da música, seu joelho encaixando no meio de minhas pernas. Suspirei pesadamente ao sentir a fricção do short com sua perna. Estava trêmula, o álcool em meu sangue me tornava ainda mais descarada do que já sabia ser.
– Puxa meu cabelo. – Sussurrei e fui surpreendida pelo riso de .
Afundei a ponta de meus dedos em seu pescoço quando sua mão puxou meu cabelo enquanto seus lábios voltavam beijar meu colo por cima da blusa.
– Eu moro aqui perto. – Ele comentou entre os beijos.
Assenti e suspirei contra seus lábios.
De repente, o alarme surgiu em minha mente. Minha cabeça girava e tentei me recompor. Havia perdido todas as estribeiras.
– Quer ir conhecer? Podemos continuar.
– Por favor. – Rosnei e o beijei mais uma vez – Preciso ir pagar minha comanda.
– Posso fazer isso por você, não tem problema. – Minha perna quase desvaneceu ao sentir sua mão passar por cima do tecido do short em minhas coxas.
Apenas assenti. Seria uma conta a menos no final do mês. Senti-o sorrir com os lábios nos meus e, então, puxar minha mão pela multidão até o local em que estávamos antes. Ouvi conversar com os amigos do lado de dentro e entregar-lhes minha pulseira. Logo em seguida, com um segurança. Um dos parrudos nos levou por uma saída atrás do bar. Arqueei as sobrancelhas. Pessoas com dinheiro realmente tinham suas regalias.
Descemos por uma escada lateral. Os degraus eram pretos e pequenos. Descemos cerca de três lances, a mão de segurando a minha. Achei um gesto fofo, levando em consideração que eu havia pedido para que ele puxasse meu cabelo. Meu Deus, eu havia me exposto completamente.
Quando chegamos ao térreo, estávamos na rua lateral da balada. O frio da noite me pegou de surpresa, minha perna arrepiou e riu.
– Sua mão tremeu. Já estamos chegando no carro. – Assenti e o segui até um Tucson.
O segurança parou ao lado do carro, abriu a porta para mim e correu para o lado do motorista.
– Não precisa nos acompanhar. Obrigado pelo seu trabalho.
O segurança assentiu e se despediu.
Quando o calor do carro tomou espaço, respirei aliviada. Coloquei o cinto. Estava no mesmo carro que Wright. Filho de Barnett Wright. Assassino de Kaleb Villanueva, um dos assessores de imprensa do presidente e também espião pessoal de Wright. Kaleb havia sido morto quando, de acordo com algumas fontes, ameaçou Wright sobre revelar algum segredo sujo para o próprio presidente. O ditado dizia “tal pai, tal filho”. Senti meu corpo inteiro arrepiar novamente com o pensamento de fazer comigo o que seu pai fez com Kaleb.
– Você ainda está com frio? – Perguntou quando chegamos com o carro na avenida principal.
Paramos devido ao trânsito após andar apenas duzentos metros desde a saída da balada. O relógio marcava duas e meia da manhã.
– Não. Só pensei em algo. – Menti e virei-me de lado.
precisava continuar no jogo, eu precisava daquela notícia.
– Ah, é? Em quê?
– Em você tirando minha roupa. – Sussurrei ao aproximar-me de seu corpo.
Senti seu maxilar travar sob meus beijos em seu queixo.
– Em você em cima de mim, ou contra uma janela talvez? – Olhei para baixo e sorri ao ver o volume se formando em sua calça.
Eu não estava em uma situação exatamente diferente.
– Podemos parar na praia, conheço um lugar silencioso. – Uma fagulha de pânico invadiu meu peito.
Eu precisava ir na casa dele, precisava colocar as escutas e tentar conseguir algo por lá.
– Eu sou meio antiquada, . – Verbalizei minha desculpa mais esfarrapada.
– Vamos fazer um acordo. Uma vez na praia, outra vez na minha casa. Que tal? – Minha mente funcionava a mil por hora.
Será que ele me enrolaria? Eu não queria transar com ele. Pelo menos, não daquela maneira. Não queria provar a Aubrey que ela estava certa. Não queria vender meu corpo para aquilo. E, por isso, me doeu continuar com tudo.
– Combinado. – Beijei sua bochecha e passei a mão de leve por cima de seu volume coberto.
Sentei-me novamente no banco, segurando as lágrimas de raiva subindo em meu peito. Eu não concordava com nada daquilo, nunca havia feito sexo com alguém sem algum sentimento envolvido. Eu nunca havia banalizado o sexo. Sabia que acordaria no dia seguinte com o peito dolorido, a cabeça cheia e uma sensação de derrota. Não haveria promoção que pagasse o que sentia naquele momento. Mas já havia chegado até ali, certo? Iria até o fim.
– Qual o seu personagem favorito da Marvel? – Assustei-me com sua voz após alguns segundos de silêncio.
– O Pantera Negra.
– Ah, sério? Isso é tão clichê! – caçoou e apenas arqueei a sobrancelha.
– E qual é o seu?
– O Doutor Estranho.
– Ele disputa meu coração com o Pantera! – Defendi-me e virei-me de lado, ignorando completamente a tentativa de ser sexy. – E antes do seu pré-julgamento, o Pantera é meu favorito porque é o que mais combina com minha visão de mundo. – assentiu e deu sinal para virarmos à esquerda, cada vez mais próximos do píer.
– Em que sentido?
– Ele é justo mas, às vezes, pisa na bola. É humano demais, gosto disso.
– Isso é muito bonito.
– É, na teoria. É difícil ser justo na vida real. – Igual seu pai.
Quase soltei, mas engoli minha acidez. Se um homem tinha coragem para matar alguém, tinha coragem para qualquer coisa.
– Tem razão. É muito difícil.
– Como você sabe?
Estava ali a chance. Toda a chance que eu precisava. Fui interrompida quando vi o litoral sorrir para nós. Quis socar algo. Logo quando estava chegando mais perto...
– Chegamos. – Ele comemorou ao estacionar o carro perto do píer da Far Beach.
Realmente, não havia ninguém ao nosso redor, apenas alguns carros estacionados.
Senti seu olhar sobre mim e forcei-me a sorrir de volta. Fizemos uma pausa para sairmos do carro e irmos para o banco de trás. deitou o banco, fazendo quase uma cama. Arqueei a sobrancelha para ele. Já devia ter feito aquilo várias vezes. Se não fosse assertiva, ele me enrolaria.
Soltei um gritinho sufocado quando suas mãos me puxaram para perto, deitando por cima de mim na cama improvisada. Deixei espaço para que seu joelho se colocasse no meio de minhas pernas. Não pude evitar roçar contra ele, um gemido involuntário saindo por meus lábios quando sua boca tocou meu colo novamente. Usei minhas mãos e levantei a camisa de , parando o beijo para tirá-la por completo. Parei para analisá-lo por alguns segundos, sua pele escura refletida na luz de fora do carro, seu corpo cobrindo o meu quase por completo.
Sua mão desabotoou meu short e não pude evitar meu reflexo, e fugi de seu toque. Ele sentiria o gravador. Ele não pareceu perceber mas, cada vez mais, a realidade batia à porta. Não soube se me alegrava ou gritava ao ouvir sua voz em meu ouvido.
– Você é a espiã mais gostosa que eu já peguei na vida. – Uma risada seguiu suas palavras.
– Oi?
– Conheço você, Lovely. – Segurei minha respiração.
De repente, meu corpo travou. Não sabia o que fazer.
– Do que está falando? – Perguntei, tentando ao máximo disfarçar a sensação de nervosismo em minha voz.
sorriu e me deu um selinho. Eu estava perdidamente atordoada. Dirigi minha mão para o lado esquerdo de meu corpo, atingindo o bolso do gravador, que continuava a gravar tudo.
– Você acha que não te conheço? – Gelei ao sentir algo contra minha cintura.
Não precisei abaixar o olhar para saber que havia uma arma contra meu corpo. Fechei os olhos e xinguei em vinte idiomas diferentes.
– Vai me dizer por que estamos nessa situação ou preciso arrancar de outras maneiras? Eu adoraria ver sua boca deliciosa desembuchar logo.
Merda.
***
Após o choque inicial, apontou a arma para meu peito e me mandou sentar. Obedeci com o coração descompassado. Sempre disse que saberia o que fazer em uma situação daquelas, mas não sabia. Minha mente estava em branco, meu corpo tremia e eu sabia que ele poderia me matar com um simples clique. Lembrei-me do pai dele, da forma fria com que matou seu opositor.
– Nunca imaginei apontar a arma para alguém enquanto estou excitado. Acontece. – Deu de ombros e sorriu.
Ainda estava sem camisa, com a calça ainda mais apertada.
– Você pode abaixar a arma para conversarmos, não sabe? – Praticamente sussurrei, meus olhos vidrados no cano do revólver.
Ele deve ter pego a arma no banco de trás quando estava virando o banco. Eu deveria ter ficado mais atenta. Fiquei lenta e suscetível. E excitada. Merda.
– Não. Você acha que não sei que é campeã estadual de jiu-jitsu? Não brincaria com isso.
– Como você sabe tanto sobre mim? Como sabia que eu estaria lá hoje? – Perguntei, percebendo que ele estava mais na defesa do que na ofensiva.
Eu somente precisava respirar e ser racional. Isso. Ao máximo. Evitar ser morta, de preferência. Pensei no meu gravador, em como ninguém veria aquela gravação se não procurassem na nuvem. Quase arquejei de desespero. Não poderia pegar meu spray de pimenta, ele poderia atirar da mesma maneira.
– Você acha que a única a ter informantes? – Arqueou a sobrancelha, desdenhando com o braço armado.
Lembrei de Brie e xinguei mentalmente, meu maxilar travado de ódio. Brie e eu possuíamos um acordo. Eu tinha provas incriminatórias contra ela, seria minha informante e eu não a denunciaria. Caso saísse ilesa, sabia o que a aguardava.
– Qual o seu plano? Me matar e depois o quê?
– Não pretendo te matar. Por que faria isso? Somente em último caso, se você não cooperar. Mas eu tenho certeza de que vai. Agora, se você quiser que eu abaixe minha arma, vai me dar seu gravador.
– Como sabe que estou usando um gravador? – revirou os olhos.
– Que tipo de jornalista investigativa você seria se não estivesse com um?
– Ok, só vou mover minha mão para pegá-lo, não vou tentar nenhuma gracinha. – Assegurei, levando minha mão ao short desabotoado e colocando a mão por dentro.
– Onde diabos você guardou isso? – Peguei o gravador ao lado da minha calcinha e joguei em sua direção.
pegou o objeto em mãos e assentiu. No segundo seguinte, desligou e jogou no banco da frente.
– Vou me livrar da minha arma agora, ok? – travou a arma e colocou no chão do carro.
Movimento estúpido. Estava distante demais para alcançar caso eu decidisse nocauteá-lo.
– Vejo como está olhando para a arma e, justamente por isso, quero provar que quero uma trégua. A arma foi necessária, você teria feito algo antes.
– Espero que valha a pena. – Murmurei.
De repente, o vento frio da praia, o cheiro da maresia, tudo isso invadiu meus sentidos. Estava com frio, com os lábios tremendo.
– Quer que eu ligue o aquecedor?
– Não.
– Quer que eu te dê um cobertor?
– Você vai ficar me enrolando? – Praticamente cuspi as palavras.
Eu queimava de ódio, de ressentimento e de cansaço. Duvidava de que não seria morta. Encostei minhas costas contra a porta, pensando se não a conseguiria abrir e correr o mais rápido que pudesse. Mas me atingiria pelas costas. Eu morreria na praia, com o short desabotoado e uma roupa chique que eu só havia usado uma vez na vida.
– Não, não vou. Eu sei que você tem investigado meu pai há um bom tempo, e sei que ele mandou matar o funcionário dele. – Arqueei a sobrancelha, os lábios ainda trêmulos. – E sei que veio até aqui para tirar alguma informação minha, não é? – Permaneci em silêncio, não diria nada. – Ok, como quiser. – Deu de ombros.
Mordi o interior da bochecha, as informações sobre o caso rondando minha mente.
– Quando você mandou uma mensagem para Brie, por sorte, uma colega dela, Keyla, minha informante, estava ao seu lado e viu meu nome na tela. Então veio me alertar. Plantamos um bug no celular de Brie e lemos as conversas de vocês. Coloquei alguém em seu escritório, duas semana atrás. Lembra-se? A encomenda que chegou por engano? O entregador colocou uma escuta embaixo de uma planta sua quando você foi conferir com seu chefe sobre a entrega. Brie tentou tirar de Keyla alguma informação, já que ela é minha amiga. Pedi a Keyla que dissesse as três possíveis localizações para meu aniversário. Decidiria para onde iria no dia, já que meu pai poderia descobrir algo. Oficialmente, minha festa está sendo na terceira localização, o Licor. Todos os convidados estão lá, menos eu. Pretendo ir para lá assim que acabarmos com nossa reunião. – Arqueei a sobrancelha.
– Como sabe que seu pai não sabe onde você está?
– Meu celular oficial está com meu melhor amigo na terceira festa. Para todos os efeitos, estou lá. Meus seguranças são aleatórios, não são da mesma empresa, e todas concorrentes do meu pai. – Assenti em compreensão.
Estava me acalmando, mas não sabia aonde ele queria chegar.
– Então você não veio a favor de seu pai?
– Não. E é aí que você entra, meu bem. – Torci o nariz.
– Não me chame assim.
– Como quer que eu te chame?
– Lovely.
– Você realmente quer que eu te chame de adorável? Como quiser. Não deixa de ser verdade. – Revirei os olhos e fiz sinal para que prosseguisse. – De qualquer modo, vou direto ao ponto. Quero meu pai na cadeia.
– Quê? – Não esperava por aquela, nunca estivera tão desconfiada.
– Meu pai cometeu um crime, não somente um crime qualquer: ele mandou matar alguém. Se ninguém fizer nada, ele vai continuar impune. Não posso ver isso acontecer.
– Você quer incriminar seu pai? – Ele assentiu. – E você espera que eu acredite nesse papinho seu?
– Sim, porque é a verdade.
– Você vai precisar de mais para me convencer disso, .
– Ficaria decepcionado se não precisasse. – Ele pegou o celular do bolso de trás, desbloqueou e virou a tela para mim.
Meus olhos arregalaram ao ver documentos, autópsia, mensagens trocadas, tudo ali. abriu cada arquivo e a autenticidade me fez abrir a boca em choque.
– Acredita agora?
– Você tem sangue frio para isso? – Questionei honestamente. – Seu pai vai para a cadeia por um bom tempo, especialmente nesse período próximo das eleições, .
– Eu sei. Não é fácil fazer isso. Eu quero ser governador um dia, não posso estar no poder se eu não posso ser honesto.
– Não acredito em nada do que disse, além de que quer incriminar seu pai. Eu não me importo. Quero seu pai na cadeia. Ele não pode matar alguém e sair impune. O que quer por esses arquivos?
– Quero os créditos por incriminar meu pai. – Como eu previa, políticos eram um grande clichê.
– Já imaginava. Mas qual é a pegadinha?
– Só pode ser divulgado que foi eu daqui a quatro anos. – Minha mente processou a data e compreendi.
– Você vai concorrer a governador, não vai? – assentiu. – Quer que isso saia na mídia, aparentemente por acaso, e vai poder assumir tudo, dizendo que preferiu o sigilo por ser algo difícil, mas que havia feito pois tem um senso de justiça, é isso? – Pelo olhar de , sabia que era exatamente aquilo. – Você vale tanto quanto seu pai. – Murmurei e o homem pareceu realmente afetado por aquilo, mas apenas rapidamente. – Eu aceito, mas com uma condição.
– Eu tenho uma arma, não sei se está em posição de negociação. Mas manda.
– Você vai gravar para mim que entregou os materiais, que eu não inventei nada e que se responsabiliza caso isso saia na mídia. Pode fazer seu teatro, pode dizer que não quer fazer isso, que sente muito, que chorou e refletiu muito antes de tomar essa decisão. Pouco me importa. Apenas assuma.
– Você acha que estou feliz em mandar meu pai para a cadeia, ? – Ele realmente parecia bravo, mas aquilo não significava muita coisa. – Eu amo meu pai com toda a minha vida! Ele me criou. Ele me ensinou o que é ser honesto. Agora, descubro que ele mandou matar o homem. Como acha que eu me sinto? Feliz? Alegre? – Mantive-me inexpressiva. – E não confia no que estou dizendo?
– Você me manipulou, plantou uma escuta nas minhas coisas. Eu não confio nem um pouco em você.
– Você também iria fazer a mesma coisa comigo! – Exclamou.
– Sim, mas eu nunca perguntaria se você confia em mim.
– Válido. Mas independente de confiar ou não, eu amo meu pai. Amo muito. Mas vi nisso um momento para conseguir algo. Eu denunciaria meu pai, concorrendo ao cargo de governador ou não. – parecia cansado.
Passou a mão pela cabeça e suspirou.
– Pegue meu gravador. Pode falar o que quiser, contanto que siga a parte do acordo. – assentiu e pegou a arma novamente.
– Pode sair para pegar. – Assenti e encarei o cano da arma.
Abri a porta atrás de mim, o vento frio atingindo minhas costas. Abri a porta do banco da frente e peguei o gravador no chão. Fechei a porta e voltei para o banco de trás. continuou com a arma na mão, mas agora tinha o gravador na outra.
Por cinco minutos, ouvi-o falando toda a lenga-lenga possível. Mas, quando ele começou a chorar, os ombros caíram e os lábios tremeram. Senti-me levemente sem reação. Parecia real demais. Assim como todos os vilões de filme. Convenci-me daquilo. era tão sujo quanto o pai. Tendo isso em mente, não havia como falhar. Ao fim daquilo, fechei os olhos e o encarei novamente. Estendia para mim a mão com o gravador e um sorriso triste.
– Caso eu mude de ideia até lá, vou te avisar. Não sei se vou aguentar isso por muito tempo.
– Eu nunca vou me perdoar por dizer isso caso você esteja mentindo, mas é muita coragem. Espero que não precise disso para ganhar. Não é honesto. Seu pai cometeu um crime, denunciá-lo é sua obrigação. Ganhar em cima disso é ser tão nojento quanto seu pai foi. Não se engane. Você vai cair na mesma cilada que todos os outros políticos. Espero que seja honesto de verdade, assim como você parece querer ser. – ficou quieto por alguns segundos, a arma pendendo ao lado de seu corpo, mas não me senti tentada a pegá-la. – Além do mais, quero poder dizer que já peguei um governador. – gargalhou e assentiu.
– Você tem razão. Vou tomar uma decisão.
– Espero que tome a certa.
– Também espero... – O silêncio predominou no carro por alguns instantes, a tensão estava ali, poderia facilmente cortá-la com uma faca. – Desculpe por ter apontado uma arma para você, não vi outra saída.
– Você poderia pelo menos ter terminado o serviço antes. – arqueou a sobrancelha.
– Você está no clima para isso?
– Não. – Rimos e coloquei a mão na nuca. – Foi uma noite divertida, apesar de tudo.
– É verdade. Comemoramos nosso aniversário da melhor maneira. – Sorri e assenti.
– Eu sei que isso é completamente sem noção, mas você pode me deixar em casa? Eu não sei em que ponto estamos. – riu e assentiu – Mas deixe a arma ali atrás, por favor!
– Claro. – A arma foi colocada atrás do banco, que foi levantado à posição normal.
Suspirei aliviada e só saí dali quando saiu primeiro, deixando a arma para trás. Coloquei a mão por cima de minha calcinha e amaldiçoei ao perceber a situação atual. Droga de homem. Fechei o zíper e voltei para o banco da frente.
A metade do caminho foi feita em silêncio. havia deixado que eu mesma enviasse os arquivos. Enviei o print de envio do celular, tomei todas as precauções para que não levasse a perna.
– Você deixou a minha noite infinitamente mais divertida do que qualquer outra que eu já tive. – confessou quando comecei a guiá-lo para mais perto de minha casa.
– Eu não sei se posso dizer isso. Você apontou uma arma na minha cara.
– Fora isso, não foi divertido? – Assenti.
– Senti-me como uma adolescente, de verdade. Não saio para dançar há uns cinco anos. Beijar, então? – Fechei a boca rapidamente quando começou a rir.
– Seu beijo é uma delícia, Lovely.
– O seu também. – Observei a fachada do meu prédio aproximar-se rapidamente.
Três ruas depois e estávamos parados na frente do meu edifício. Por alguns segundos, considerei as minhas opções e abri um sorriso.
– Quer subir?
– Você está me chamando para isso agora?
– Já passou da data do nosso aniversário. Eu vou acabar a noite sozinha. Você acabou de denunciar seu pai. Podemos ser o consolo um do outro. Que tal? – arqueou a sobrancelha, os olhos brilhando.
– Fechado. Onde posso estacionar? – Acenei para o porteiro, o carro foi parado atrás do meu na garagem.
– Preciso parar no térreo para pegar minha chave. – Ronronei enquanto esperávamos o elevador.
beijava meus ombros expostos, arrastava a língua por minha nuca, alternando com beijos suaves. A porta abriu e entramos. Parei no andar acima.
– Segura o elevador. Já volto. – Andei apressadamente até a portaria e abri um sorriso gigante ao encarar o porteiro. – Olá, boa noite. – Olhei para trás, não estava ali. – O homem que entrou comigo está no elevador? – O porteiro foi até a pequena tela e assentiu. – Poderia mandar as gravações da placa do carro e do elevador?
– Não sei se tenho permi...
– Ele é candidato a governador. As gravações precisam ser apagadas, mas ele precisa de uma cópia para provar qualquer álibi, enfim... Coisas de governador. – O porteiro assentiu com os olhos arregalados.
– Vou vai estar pronto em dez minutos. Quer que eu deixe na porta do apartamento?
– Não precisa. Pego aqui amanhã cedo. Pode deixar em um envelope? Obrigada.
– Feliz aniversário, dona !
– Obrigada! É um dos melhores em anos.
Sorri e deixei minha mente pensar na minha nova matéria em potencial:
“Filho de candidato a governador dorme na casa de jornalista para comprar o silêncio acerca da morte de Kaleb Villanueva. Fiquem felizes, queridos leitores, em saber que o silêncio da justiça não pode ser comprado.”
Encarei com um sorriso ao voltar para o elevador. Poderia me divertir naquele momento, não?
– Obrigada, gente. – Agradeci com um sorriso enorme.
O relógio marcava meia-noite do dia vinte de março, sexta-feira, a data do meu aniversário. Espantei o lado pessimista que dizia que, com vinte e sete anos, eu deveria estar fazendo algo útil com a minha vida. Crises.
– O que vai fazer hoje? – Mamãe questionou, suas sardas na bochecha ainda aparentes pela tela do celular.
– O de sempre. Trabalhar. Acho que vou sair com alguns amigos também. – Mentira. – E é isso. Estou morrendo de saudades. Vão dormir, vocês acordam cedo amanhã.
– Estamos indo, querida. Te amamos muito. – Robert, meu padrasto, sorriu e acenou, mandando um coração.
Retribui o gesto e despedi-me com um aceno. Estava novamente sozinha em meu apartamento quando a chamada foi encerrada. Era o dia do meu aniversário e faria turno extra.
Joguei-me na cama e resmunguei. Ser jornalista poderia ser muito cansativo, especialmente porque, no meio jornalista, quanto mais enfiado no trabalho e mais consumido pelo escritório, melhor. Não caía nesse papo – na maioria das vezes. Prefiria ser uma jornalista medíocre do que passar doze horas do meu dia naquele cubículo branco. Mas não tinha opção naquele dia. Precisava daquele furo, era parte de todo o meu trabalho e o motivo que me fez tornar-me jornalista investigativa. Além disso, receberia uma promoção imensa. A única coisa que teria a perder naquele dia seria a vida. Mas até aí, só de sair pela porta de casa já me colocava em perigo, certo? Certo.
Deitei a cabeça no travesseiro e fechei os olhos, sorrindo ao pensar em uma cafeteira nova para meu escritório.
– Feliz aniversário, ! – Mais um colega me cumprimentou com um sorriso.
Todos na redação já haviam recebido o e-mail com os aniversariantes do dia. Agradeci cordialmente e fui até minha baia. Já passava das seis da tarde, eu estava exausta após lidar o dia inteiro com a coletiva de imprensa do presidente dos Estados Unidos da América. O homem era verdadeiramente um ogro, mas consegui material o suficiente para o jornal principal e para uma matéria mais aprofundada, a qual enviei na metade da tarde.
“, venha ao meu escritório, por favor.”
Li a mensagem flutuante de meu chefe no chat do Skype e levantei-me rapidamente, indo até o cubículo de paredes transparentes.
– Entre. – Ouvi a voz seca do senhor Lob e adentrei o escritório. – Oi, . Tudo certo para hoje à noite?
– Sim, senhor. Já devo ir para casa preparar tudo. – O senhor Lob assentiu e cruzou as mãos sob o queixo.
A barba branca não fazia jus à idade que aparentava ter.
– Espero que faça um bom trabalho. Dispensada. – Assenti e comecei a fechar a porta quando o ouvi gritar apressadamente. – Feliz aniversário!
– Vamos sair para comemorar amanhã. – Prometi à minha amiga, Aubrey, pelo telefone.
Estava correndo pela casa atrás dos meus brincos. Onde estariam os benditos?
– Você vive dizendo que não depende do seu trabalho, mas acaba fazendo coisas que você não precisa fazer, ! Pelo amor de Deus! Você vai realmente oferecer sexo a um filho de político apenas para conseguir uma matéria? – Fiz uma careta, que fic substituída por um sorriso vitorioso ao achar meu par de brincos no rack da TV.
– Eu não vou oferecer sexo a ninguém...
– Ah, não? E como vai fazer para entrar na casa desse figurão?
– Eu vou improvisar.
Estava mentindo. Eu iria oferecer sexo, mas não significava que iria até o fim.
– Está mentindo! É seu aniversário, pelo amor de Deus! Combinamos há meses de nos reunirmos com as meninas. Se surgisse algo amanhã, você também iria dar um bolo na gente, não iria?
– Claro que não. Amanhã é sábado, não é dia útil. – Aubrey bufou do outro lado da linha, parecia chateada de verdade. – Eu sinto muito, Aubrey. Mas o aniversário é meu, eu é quem deveria estar estressada, não você.
– Mas esse é o problema! Você nunca demonstra estar estressada por precisar fazer essas coisas, guarda isso para si. Do que adianta passar oito horas por dia trabalhando se você passa as seguintes fazendo o que você vai fazer agora?
– É a minha chance de uma promoção, Aubrey!
– Sua promoção vai valer a sua dignidade e o seu corpo? Você realmente vai seguir por esse caminho?
Suspirei e fecho os olhos. Aubrey estava certa. Eu esquecia meus princípios quando se tratava de fazer o que fosse necessário para conseguir minha matéria. Já até havia sido detida uma vez – uma longa história envolvendo um traficante de animais e uma amiga minha veterinária que havia conhecido em Londres.
– Você tem razão. Vou pensar em alguma outra alternativa, ok?
– Bom mesmo. Boa sorte. Vou rezar por você. – Sorri e me despedi de minha melhor amiga.
Pedi desculpas novamente no grupo das meninas e reforcei o convite para o dia seguinte.
Balancei o cabelo e encarei-me no espelho. Minha pele era pontuada por várias sardinhas na bochecha, descendo para o pescoço, ombros e colo. Observei meus lábios vermelhos e arrumei um detalhe borrado. Ajeitei o decote da blusa. Estava extremamente desconfortável em deixar meus seios tão à mostra. Não estava acostumada com aquele tipo de roupa, especialmente se levasse em consideração o meu local de trabalho. Não gostava do papel ao qual me prestaria naquela noite. Nunca precisara fazer algo assim.
Peguei meus documentos e os encaixei dentro do meu sutiã. Coloquei o mini gravador próximo à minha calcinha. Minha pequena bolsa continha apenas o necessário: spray de pimenta, uma faca e um celular reserva. Estava usando um short desconfortavelmente justo que estava inutilizado em meu guarda-roupa e uma blusa prateada com glitter extravagante e mangas bufantes. Definitivamente, havia entrado na personagem. Mirei meu suéter preto em cima da cama e estremeci ao me imaginar deitada, vendo algum filme e comendo uma barra inteira de chocolate ao leite.
– Droga. – Murmurei e fechei a porta do quarto.
Não ganharia nada deixando as tentações desanimarem minha noite. Era meu aniversário, caramba. Precisava, pelo menos, me animar. Andei até a porta de casa e espirrei um pouco mais de perfume entre meus seios, esfregando o dorso da mão ali.
Minha informante, uma acompanhante de luxo de classe social alta, enviou uma mensagem listando três possíveis locais em que eu poderia encontrar Wright, filho de Barnett Wright, um dos concorrentes ao cargo de governador da Flórida. Enquanto o motorista do Uber me levava até a primeira localização, próximo a Far Beach em Key Largo, analisei novamente as informações que tinha sobre .
Não havia nada postado em seu Instagram, como o bom filho de político que era. Minha informante havia dito que Wright não costumava se expor nas redes sociais, mas era extremamente conhecido pelas festas, mas não pelas drogas. Estranhei ao ouvir aquela informação. As drogas geralmente eram o que regavam aqueles espaços, especialmente entre os engomadinhos filhos de políticos poderosos. Observei uma das fotos que havia postado, ele estava junto com seu pai, próximo a uma mesa de piquenique em algum parque fora do país.
“Momento pai e filho, apesar de achar que meu pai está ficando cada dia mais parecido com meu irmão.”
Revirei os olhos com a legenda e resolvi focar no rosto de . A pele negra era destacada por um sorriso branco radiante, os olhos ficavam pequenos quando sorria para a câmera. Possuía o porte atlético, era possível perceber por outra foto que havia postado em que carregava alguns sacos de arroz para uma fundação de caridade. tinha vinte e cinco anos. Eu sabia que parecia ser apenas um pouco mais velha, mas meu coração não deixou de se preocupar com a possibilidade de ele ser do tipo que só gosta de garotas recém saídas da puberdade. O pensamento fez com que um calafrio subisse por meu corpo. Eu não conseguiria lidar com um cara daqueles, definitivamente.
– Obrigada pela corrida, boa noite. – Agradeci o motorista ao chegar ao meu local de destino.
Observei a primeira balada. Tinha dois andares, as paredes eram transparentes, então conseguia observar perfeitamente as escadas brancas, as luzes alternando entre cores e intensidades de acordo com a música. O chão em meus pés tremia com o volume. Havia uma fila quilométrica, provavelmente de pessoas que vieram de outras cidades próximas para aproveitarem o final de semana, e agradeci ao lembrar que minha informante havia comprado os ingressos antecipadamente. Ter pessoas com influência a seu favor era muito bom.
– Oi, boa noite! – Sorri entusiasmada para o guarda.
Era um homem negro e baixo usando um terno vermelho cornalina.
– Boa noite, moça! – Ele respondeu com um sorriso.
Uau, um segurança que sorri?
– Sou a Lovely. – Ele franziu o cenho e começou a procurar na lista.
Abri um sorriso ao ter minha entrada liberada e o segurança colocou uma pulseira, parecida com um relógio, em minha mão esquerda. Do lado esquerdo, estava a saída. Não havia ninguém ali além de um segurança. Com certeza, se estivesse ali, haveria mais seguranças.
Senti-me desanimada, mas não perdi a esperança. Adentrei a balada e sorri ao ouvir que estava na playlist worldwide. Wild Thoughts da Rihanna era berrada pelas caixas de som. Do lado direito, o bar, com a bancada branca e as prateleiras transparentes, refletindo e transpassando as cores neon do interior; do lado esquerdo, o DJ estava sobre um palco, usava um casaco jeans surrado e, quase com certeza, estava passando mal. Franzi o cenho e torci para que estivesse errada. Estalei a língua no céu da boca ao perceber que a área VIP ficava no segundo andar e parecia impossível subir as escadas com alguns casais se beijando em toda a sua extensão. Já me sentia cansada só de olhar.
Forcei meu caminho entre os mais novos, até separando um casal que praticamente se engolia nos penúltimos degraus. Quando atingi o primeiro andar, observei ao redor e percebi que a cor da parede era diferente. Gritava um roxo neon muito forte. Torci o nariz e procurei por alguma extensão da área VIP, mas não achei nada. Olhei para o próximo lance de escadas e fiquei feliz ao observar um segurança ali. A subida pela escada era proibida, pois havia paredes para o segundo andar, ao contrário de todo o restante da estrutura. Aproximei-me da figura alta e sorri, mas não fui retribuída.
– Olá, sou a Lovely. – O homem observou a lista em seu computador e assentiu.
– Liberada. – Abri um sorriso largo de vitória.
A porta foi aberta e fiquei ainda mais assustada ao perceber que o som do andar de baixo era abafado pelas paredes. Continuei os lances de escada acima, guiada apenas pela luz vermelha fosca dos degraus pretos.
Eu daria um bônus imenso à informante se ela houvesse acertado a localização de . Balancei os cabelos e assumi a personagem que havia criado. Williams. Ela era uma garota boba e divertida, mas que achava drogas uma verdadeira bobagem – não que a de verdade não achasse também – e adorava encher a cara. Uma contradição por outra.
Ao atingir o pico da escada, lutando contra minha pressão baixa, observei o quanto o espaço era mais reservado. As paredes alternavam entre o vermelho rubro e o preto, contrastando com a claridade proposta pela balada. Havia uma DJ com tranças nagô e cropped rosa no canto direito de onde me encontrava. O som era diferente, parecia melhor distribuído. A acústica era infinitamente mais agradável. O bar também alternava entre o preto e o vermelho. Havia três barmen, um deles era tão bonito que precisei de alguns segundos para absorver. Andei até o bar com um sorriso tranquilo pendente no rosto. De lá, conseguiria pensar nos meus próximos passos.
Sorri para o barman parado em minha frente e acompanhei de canto de olho alguns garçons se dirigirem até uma mesa no canto esquerdo extremo da balada. Controlei meu impulso de olhar para lá e permaneci com os olhos na tabela de preços. Gastaria metade do meu salário até o final da noite. Meu estômago embrulhou ao pensar nas contas do final do mês.
– E aí, tudo bem? Vou querer um Pink Drink, por favor. – O barman assentiu com meu pedido e bipou a pulseira, adicionando o valor da bebida.
O intuito não era beber o shot, mas parecer que sim. Encarei o colega dele, o bartender de olhos verdes e pele escura com os lábios mais bonitos que já havia visto. Ele estava arrumando algo no caixa e, quando virou, permaneci com os olhos fitados ali. Recebi um sorriso e uma piscada em retribuição. Controlei a vermelhidão em minhas bochechas e agradeci pelo shot quando o recebi em mãos.
Mesmo sendo a área VIP, ainda sim, havia muitas pessoas. Os corpos estavam irreconhecíveis pela escuridão, via apenas os contornos descendo e balançando ao som do funk brasileiro que havia ouvido em alguma rede social. Abri um sorriso perplexo ao observar uma menina fazer alguns movimentos com a bunda fisicamente impossíveis para mim.
Uma flama de esperança subiu por meu peito ao observar que havia uma boa quantidade de seguranças nas paredes. Resolvi entrar um pouco na multidão, balançando meu corpo ao som da música da maneira que conseguia ao som de Finesse. Senti uma mão em minha cintura, um homem loiro dos olhos verdes sorriu para mim e tentou me puxar para perto.
– Tenho namorado, foi mal. – Falei em seu ouvido.
Ele assentiu e deu de ombros, misturando-se à multidão novamente. Observei o entorno. Ao meu lado esquerdo, estava concentrada a maior parte dos seguranças. Segui por aquele caminho. O drink em minha mão estava seriamente ameaçado. Comemorei internamente ao sair da multidão e respirar. Peguei meu celular e abri o maior sorriso possível ao ver a mensagem de Brie, minha informante, na barra de notificações.
“Ele está na Mermaid!”
Comemorei imensamente ao perceber que estava no lugar certo e o relógio só marcava meia-noite. Poderia agilizar o processo e ir para casa antes do especial de filmes da Marvel.
Então ele estava protegido pelos cinco seguranças, sentado a uma mesa, com algumas pessoas ao seu redor. Precisava atraí-lo, mas como? Voltei a entrar na multidão, mas perto do local. Após quinze minutos e finalmente ter virado meu primeiro shot, observei um homem de black power romper pela barreira de seguranças. O mísero segundo me permitiu ver sentado nos bancos. Suspirei, o álcool esquentando meu corpo momentaneamente. Deixei o drink praticamente inteiro em cima de uma bandeja. Observei o homem andar até o bar e o segui, sempre dançando – ou o que quer que eu estivesse fazendo com meu quadril.
– Olá, vou querer um Espanhola. – Sorri para o barman enquanto ele ia atender meu pedido após bipar minha pulseira, parando ao lado do homem de pelo menos um metro e oitenta que saíra da mesa de .
Ele usava uma camisa branca justa e uma calça jeans skinny com um rasgo no joelho. Havia um lenço vermelho preso no cós de sua calça. Admirei seu estilo por um segundo, mas não passei despercebida.
– Oi. – Enrubesci ao perceber que havia sido flagrada vergonhosamente – Posso ajudar?
– Ah, desculpa, é que eu achei muito charmoso o lenço da sua calça, combina com o tom do logo da Marvel. – Comentei com uma honestidade brutal, algo que Aubrey dizia que estragava meus flertes constantemente.
O homem riu e prendeu o canto dos lábios em um sorriso. Que homem lindo!
– Obrigado. Combina com seu cabelo, que é lindo, na verdade. – Abri um sorriso genuíno.
– Obrigada.
Meu Deus, como eu continuava a partir dali? O homem acenou para um barman e pediu uma cerveja na mesma hora que meu drinque chegou. Murchei ao perceber que não sabia como continuar o papo dali. Que droga!
– Boa festa. – Acenei com um sorriso e virei-me para ir com meu drinque para o meio da pista e lamentar minha falta de capacidade para apenas dar em cima de alguém.
Não havia promoção no mundo que me tornasse capaz de dar em cima de um homem bonito.
– Ei, você quer dançar? – Arregalei os olhos ao sentir a mão extremamente macia, só para constar, do bonitinho.
Não podia acreditar em minha sorte.
– Claro! – Abri um sorriso largo e um arrepio cruzou minha espinha quando sua mão enlaçou meu quadril, acompanhando-me para uma parte mais calma da muvuca.
Bebi meu drinque em três goles e apoiei na bandeja de um garçom que passava.
– Uau, você é boa de bebida?
Não. Ia me arrepender amargamente daquilo.
– Sim, acho que sim. – Menti descaradamente e virei-me de costas para o dito cujo, rebolando meu quadril contra o seu ao som de Don’t Call Me Up, da Mabel.
– Sou o Leo, e você? – Arfei ao sentir seu quadril encontrando meu corpo, suas mãos prendendo minha cintura contra sua fronte.
Um fio de calor subiu por meu corpo e inclinei minha cabeça para trás.
– .
– Você é linda, sabia? – Revirei os olhos mentalmente e virei-me para ele, acariciando sua bochecha.
– Obrigada. – Sussurrei e puxei seu pescoço para um beijo.
Rendi-me em seus braços, suas mãos me puxando para perto. Seu cabelo em minhas mãos parecia algodão doce e seus lábios tinham gosto de cerveja e vodca. Suspirei ao nos separar, abrindo um sorriso. Leo sorriu e mordeu o lóbulo de minha orelha esquerda.
– Eu vim com uns amigos. Quer se sentar comigo? Podemos nos conhecer um pouco melhor. – Controlei um gemido quando seus lábios atingiram meu pescoço ao mesmo que sua mão apertou minha bunda.
Carambolas. Lembrei-me da voz de Aubrey em minha cabeça e recuperei a sanidade. Apertei o botão de iniciação do gravador por cima do short e sorri.
– Vamos. – Sua mão entrelaçou na minha, meu corpo tremendo pelo beijo.
Quando tinha sido a última vez que havia beijado alguém? Enquanto fazia as contas em minha mente, passamos pelos seguranças. Controlei as batidas descompassadas do meu coração ao ver sentado rindo com um menino e uma mulher, os dois de cada lado dele.
Abri um sorriso tímido. Estava na hora de botar para jogo.
– Gente, essa é a ! – Acenei para todos que me cumprimentaram calorosamente.
abriu um sorriso curioso para mim. Ele era extremamente bonito pessoalmente. Estava usando uma camisa parecida com a de Leo, os músculos dos braços delineados perfeitamente. Desviei meu olhar e sorri para Leo.
– Oi, prazer!
– Vamos buscar uma bebida. – A mulher comentou, levando seu namorado, ou o que parecia, com ela, deixando vazio os dois lados de .
Comemorei quando Leo me pediu para sentar antes que ele.
Eu estava sentada ao lado de Wright!
O gosto da promoção parecia cada vez mais doce em meus lábios rubros. Mordi meu lábio inferior ao ver o tanto de petiscos em cima da mesa. Virei-me para Leo e sorri.
– Quando você falou que veio com seus amigos, não achei que estivesse falando de uma mesa de verdade. – riu ao meu lado e virei-me para ele.
– Fico feliz que seja uma surpresa boa! – Meneei com a cabeça.
O sorriso branco era realmente galanteador. Meu pai...
– Sim, é bom sentar depois de dançar tanto. – Comentei.
Leo tomou outro gole de sua cerveja e apontou com o gargalo para o amigo.
– Podemos voltar já, já. É que é aniversário desse bastardo aqui, tenho que passar mais tempo com ele antes de sumir. – Gargalhei e assenti.
– Nesse caso, feliz aniversário! – Abri o sorriso mais desacreditado e falso que poderia. – Hoje também é meu aniversário.
– Então, um shot de presente! – Leo se antecipou e colocou um shot em minha mão.
Já estava ficando alegre, não sabia qual seria o resultado de mais uma mistura.
– Aos aniversariantes! – Exclamei e brindou comigo seu respectivo shot.
Virei de uma vez e tentei esconder a careta.
– Meu Deus, como eu odeio isso.
– Por que bebe, então? – perguntou rapidamente.
– Nossa, cara... – Leo o repreendeu.
– Porque a sensação depois é boa, mas a imediata é a pior possível. É a tempestade para, depois, vir o céu azul. – assentiu e sorriu.
– Desculpa pelo meu amigo, ele é meio sem filtro. – Leo se desculpou com certa vergonha.
– Não tem problema. O aniversariante tem direito. – Dei-lhe uma piscadela.
sorriu e assentiu, pegando o celular e digitando algo distraidamente.
Como procederia? Leo puxava papo sobre meu trabalho. Disse que era escritora fantasma. Leo não pareceu intrigado, mas , sim. Ponto para mim.
– Como você consegue vender seu trabalho?
– Eu tenho contas no final do mês, infelizmente. – Dei de ombros.
Nada além do meu nome era totalmente mentira. Eu realmente era escritora fantasma, mas também era jornalista.
– Sobre o que você escreve? – questionou.
Olhei para Leo, mas ele mexia no celular.
– Negócios, majoritariamente, mas gosto mesmo é de escrever terror. – arregalou os olhos com surpresa.
– Não parece.
– Ah, e o que parece que eu escrevo?
– Licença, gente. Uma pessoa que eu conheço acabou de chegar. – Leo comentou distraidamente.
– Tudo bem, a me faz companhia, não é? – instigou com um levantar de sobrancelha.
Dei de ombros e assenti.
– Claro, por quê não? – Leo levantou-se.
Logo, só eu e estávamos na mesa.
– Seu amigo é muito legal. – Comentei, referindo-me a Leo.
assentiu, os ombros relaxados.
– Se você não se incomodar com o estado no qual ele vai voltar, pode ficar. Senão, melhor sair, .
– Do que está falando?
– Ele vai se encontrar com o fornecedor dele. – Franzi o cenho.
– Ele vai se drogar? – Minha careta entregou meus sentimentos, havia deixado a escapar.
– É, eu também não gosto. – Comentou seriamente, levando os lábios ao copo de cerveja.
Percebi que ele só havia bebido o shot, mas sua cerveja ainda estava cheia.
– Desculpa, não tenho direito de julgar valores de ninguém. – Afirmei, a vergonha escapando em minha fala.
Eu realmente havia sido rápida em julgá-lo.
– Mas não é obrigada a achar algo certo. Fique tranquila. Mas o aviso continua. Ele não vai voltar legal e você parece ser uma garota decente. Eu daria o fora.
– Bom, acho que está certo. Afinal de contas, você espera o melhor e lida com o que recebe. – Arrumei a alça de minha blusa e sorri.
– Espera aí. Nick Fury? Você é fã da Marvel? – Assenti com um sorriso largo.
– Claro! Quem não é?
– Pessoas sem bom gosto.
Não poderia concordar mais. sorriu e aproximou-se um pouco mais.
– E do que mais você gosta além de terror e Marvel?
– Hm, acho que gosto bastante de estudar música. Costumava tocar piano quando era mais nova. – Lembrei-me da foto que ele havia postado dias atrás, sentado enquanto tocava piano.
Esperei que ele gostasse e não fosse fachada.
– Eu também toco piano! Comecei a aprender há uns seis anos.
Então ele havia começado por vontade própria. Interessante. Quase suspirei aliviada.
– Temos muito em comum, . – Direcionei meu olhar para sua boca, demorando-me ali por um tempo maior.
Voltei a encarar seus olhos, mas havia percebido. Strike. A promoção estava chegando, baby! Vou poder reformar minha cozinha!
Controlei meus ânimos e lembrei que estava pensando nas minhas jogadas mas não podia contar com a sorte. poderia não estar atraído por mim, ou então poderia não investir por medo de Leo. Muitas variáveis em jogo.
– Preciso dizer algo, espero que não se ofenda... Você é muito cheirosa. – Ri alto, apoiando a mão em meus joelhos – É sério. – Ele riu e tomou outro gole de sua cerveja.
– Meu perfume está tão forte assim? – Joguei o cabelo para o lado, deixando meu pescoço à mostra.
acompanhou meu olhar. Um dos empecilhos, a atração, havia sido descartado. Controlei minhas pernas ao vê-lo descer seu olhar para meu colo
– Quer ir dançar? – Perguntei.
Minha voz saiu rouca. Os olhos de estavam focados em mim. Um sorriso surgiu no canto de seus lábios, mas não chegaram aos olhos. Nunca me senti tão ameaçada e tão eletrizada na minha vida. aceitou meu convite.
Saí da mesa e arrumei o short, virando-me para sair. Tinha total noção de que minha bunda estava marcada. Tirei o peso de uma perna para a outra. Senti sua mão segurar a minha quando passamos pelos seguranças. Olhei para o lado esquerdo e observei Leo se agarrando com uma moça e os amigos de passaram por nós. Àquele ponto, já estava arrependida por ter bebido.
Deixei nos conduzir pelas músicas, sua mão respeitando o limite de minha cintura. Estranhei, levando em consideração o tipo de homem que achara que ele era. Mas agradeci. Soltei um grito animado quando Juicy começou a tocar. percebeu. Deixei minha cintura soltar e balancei meu corpo ao som ritmado, meus joelhos ardendo após tanto tempo sem dançar daquela maneira. Aventurei-me e rocei minha bunda contra a virilha de , o movimento ritmado para cima e para baixo. Ao fim da música, já havia até esquecido meu objetivo naquele lugar. Há muito tempo não me divertia dançando. Não tinha ânimo para aquele tipo de programa, mas não lembrava de ser tão bom.
– Você dança bem pra caramba. – elogiou quando encarei seus olhos.
– Você também sabe guiar bem. – Pisquei para ele.
Coloquei minha mão em seu pescoço, os olhos presos em sua boca. A voz de Aubrey surgiu no canto de minha mente. Estava prestes a me vender para conseguir uma promoção. sentiu minha hesitação.
– Está tudo bem? – Perguntou.
– Sim, está. – Sorri e puxei-o para mais perto, minha mão no cós de sua calça jeans e a outra em seu pescoço.
Seus lábios foram em direção ao meu pescoço, sua mão puxou minha cintura para mais perto, nossos corpos trombaram ao som da música. Fechei os olhos quando seus lábios encontraram os meus em um beijo quase desesperado. Arfei quando seus dentes prenderam meu lábio. Tombei minha cabeça para esquerda, suas mãos guiando nossos corpos no som da música, seu joelho encaixando no meio de minhas pernas. Suspirei pesadamente ao sentir a fricção do short com sua perna. Estava trêmula, o álcool em meu sangue me tornava ainda mais descarada do que já sabia ser.
– Puxa meu cabelo. – Sussurrei e fui surpreendida pelo riso de .
Afundei a ponta de meus dedos em seu pescoço quando sua mão puxou meu cabelo enquanto seus lábios voltavam beijar meu colo por cima da blusa.
– Eu moro aqui perto. – Ele comentou entre os beijos.
Assenti e suspirei contra seus lábios.
De repente, o alarme surgiu em minha mente. Minha cabeça girava e tentei me recompor. Havia perdido todas as estribeiras.
– Quer ir conhecer? Podemos continuar.
– Por favor. – Rosnei e o beijei mais uma vez – Preciso ir pagar minha comanda.
– Posso fazer isso por você, não tem problema. – Minha perna quase desvaneceu ao sentir sua mão passar por cima do tecido do short em minhas coxas.
Apenas assenti. Seria uma conta a menos no final do mês. Senti-o sorrir com os lábios nos meus e, então, puxar minha mão pela multidão até o local em que estávamos antes. Ouvi conversar com os amigos do lado de dentro e entregar-lhes minha pulseira. Logo em seguida, com um segurança. Um dos parrudos nos levou por uma saída atrás do bar. Arqueei as sobrancelhas. Pessoas com dinheiro realmente tinham suas regalias.
Descemos por uma escada lateral. Os degraus eram pretos e pequenos. Descemos cerca de três lances, a mão de segurando a minha. Achei um gesto fofo, levando em consideração que eu havia pedido para que ele puxasse meu cabelo. Meu Deus, eu havia me exposto completamente.
Quando chegamos ao térreo, estávamos na rua lateral da balada. O frio da noite me pegou de surpresa, minha perna arrepiou e riu.
– Sua mão tremeu. Já estamos chegando no carro. – Assenti e o segui até um Tucson.
O segurança parou ao lado do carro, abriu a porta para mim e correu para o lado do motorista.
– Não precisa nos acompanhar. Obrigado pelo seu trabalho.
O segurança assentiu e se despediu.
Quando o calor do carro tomou espaço, respirei aliviada. Coloquei o cinto. Estava no mesmo carro que Wright. Filho de Barnett Wright. Assassino de Kaleb Villanueva, um dos assessores de imprensa do presidente e também espião pessoal de Wright. Kaleb havia sido morto quando, de acordo com algumas fontes, ameaçou Wright sobre revelar algum segredo sujo para o próprio presidente. O ditado dizia “tal pai, tal filho”. Senti meu corpo inteiro arrepiar novamente com o pensamento de fazer comigo o que seu pai fez com Kaleb.
– Você ainda está com frio? – Perguntou quando chegamos com o carro na avenida principal.
Paramos devido ao trânsito após andar apenas duzentos metros desde a saída da balada. O relógio marcava duas e meia da manhã.
– Não. Só pensei em algo. – Menti e virei-me de lado.
precisava continuar no jogo, eu precisava daquela notícia.
– Ah, é? Em quê?
– Em você tirando minha roupa. – Sussurrei ao aproximar-me de seu corpo.
Senti seu maxilar travar sob meus beijos em seu queixo.
– Em você em cima de mim, ou contra uma janela talvez? – Olhei para baixo e sorri ao ver o volume se formando em sua calça.
Eu não estava em uma situação exatamente diferente.
– Podemos parar na praia, conheço um lugar silencioso. – Uma fagulha de pânico invadiu meu peito.
Eu precisava ir na casa dele, precisava colocar as escutas e tentar conseguir algo por lá.
– Eu sou meio antiquada, . – Verbalizei minha desculpa mais esfarrapada.
– Vamos fazer um acordo. Uma vez na praia, outra vez na minha casa. Que tal? – Minha mente funcionava a mil por hora.
Será que ele me enrolaria? Eu não queria transar com ele. Pelo menos, não daquela maneira. Não queria provar a Aubrey que ela estava certa. Não queria vender meu corpo para aquilo. E, por isso, me doeu continuar com tudo.
– Combinado. – Beijei sua bochecha e passei a mão de leve por cima de seu volume coberto.
Sentei-me novamente no banco, segurando as lágrimas de raiva subindo em meu peito. Eu não concordava com nada daquilo, nunca havia feito sexo com alguém sem algum sentimento envolvido. Eu nunca havia banalizado o sexo. Sabia que acordaria no dia seguinte com o peito dolorido, a cabeça cheia e uma sensação de derrota. Não haveria promoção que pagasse o que sentia naquele momento. Mas já havia chegado até ali, certo? Iria até o fim.
– Qual o seu personagem favorito da Marvel? – Assustei-me com sua voz após alguns segundos de silêncio.
– O Pantera Negra.
– Ah, sério? Isso é tão clichê! – caçoou e apenas arqueei a sobrancelha.
– E qual é o seu?
– O Doutor Estranho.
– Ele disputa meu coração com o Pantera! – Defendi-me e virei-me de lado, ignorando completamente a tentativa de ser sexy. – E antes do seu pré-julgamento, o Pantera é meu favorito porque é o que mais combina com minha visão de mundo. – assentiu e deu sinal para virarmos à esquerda, cada vez mais próximos do píer.
– Em que sentido?
– Ele é justo mas, às vezes, pisa na bola. É humano demais, gosto disso.
– Isso é muito bonito.
– É, na teoria. É difícil ser justo na vida real. – Igual seu pai.
Quase soltei, mas engoli minha acidez. Se um homem tinha coragem para matar alguém, tinha coragem para qualquer coisa.
– Tem razão. É muito difícil.
– Como você sabe?
Estava ali a chance. Toda a chance que eu precisava. Fui interrompida quando vi o litoral sorrir para nós. Quis socar algo. Logo quando estava chegando mais perto...
– Chegamos. – Ele comemorou ao estacionar o carro perto do píer da Far Beach.
Realmente, não havia ninguém ao nosso redor, apenas alguns carros estacionados.
Senti seu olhar sobre mim e forcei-me a sorrir de volta. Fizemos uma pausa para sairmos do carro e irmos para o banco de trás. deitou o banco, fazendo quase uma cama. Arqueei a sobrancelha para ele. Já devia ter feito aquilo várias vezes. Se não fosse assertiva, ele me enrolaria.
Soltei um gritinho sufocado quando suas mãos me puxaram para perto, deitando por cima de mim na cama improvisada. Deixei espaço para que seu joelho se colocasse no meio de minhas pernas. Não pude evitar roçar contra ele, um gemido involuntário saindo por meus lábios quando sua boca tocou meu colo novamente. Usei minhas mãos e levantei a camisa de , parando o beijo para tirá-la por completo. Parei para analisá-lo por alguns segundos, sua pele escura refletida na luz de fora do carro, seu corpo cobrindo o meu quase por completo.
Sua mão desabotoou meu short e não pude evitar meu reflexo, e fugi de seu toque. Ele sentiria o gravador. Ele não pareceu perceber mas, cada vez mais, a realidade batia à porta. Não soube se me alegrava ou gritava ao ouvir sua voz em meu ouvido.
– Você é a espiã mais gostosa que eu já peguei na vida. – Uma risada seguiu suas palavras.
– Oi?
– Conheço você, Lovely. – Segurei minha respiração.
De repente, meu corpo travou. Não sabia o que fazer.
– Do que está falando? – Perguntei, tentando ao máximo disfarçar a sensação de nervosismo em minha voz.
sorriu e me deu um selinho. Eu estava perdidamente atordoada. Dirigi minha mão para o lado esquerdo de meu corpo, atingindo o bolso do gravador, que continuava a gravar tudo.
– Você acha que não te conheço? – Gelei ao sentir algo contra minha cintura.
Não precisei abaixar o olhar para saber que havia uma arma contra meu corpo. Fechei os olhos e xinguei em vinte idiomas diferentes.
– Vai me dizer por que estamos nessa situação ou preciso arrancar de outras maneiras? Eu adoraria ver sua boca deliciosa desembuchar logo.
Merda.
Após o choque inicial, apontou a arma para meu peito e me mandou sentar. Obedeci com o coração descompassado. Sempre disse que saberia o que fazer em uma situação daquelas, mas não sabia. Minha mente estava em branco, meu corpo tremia e eu sabia que ele poderia me matar com um simples clique. Lembrei-me do pai dele, da forma fria com que matou seu opositor.
– Nunca imaginei apontar a arma para alguém enquanto estou excitado. Acontece. – Deu de ombros e sorriu.
Ainda estava sem camisa, com a calça ainda mais apertada.
– Você pode abaixar a arma para conversarmos, não sabe? – Praticamente sussurrei, meus olhos vidrados no cano do revólver.
Ele deve ter pego a arma no banco de trás quando estava virando o banco. Eu deveria ter ficado mais atenta. Fiquei lenta e suscetível. E excitada. Merda.
– Não. Você acha que não sei que é campeã estadual de jiu-jitsu? Não brincaria com isso.
– Como você sabe tanto sobre mim? Como sabia que eu estaria lá hoje? – Perguntei, percebendo que ele estava mais na defesa do que na ofensiva.
Eu somente precisava respirar e ser racional. Isso. Ao máximo. Evitar ser morta, de preferência. Pensei no meu gravador, em como ninguém veria aquela gravação se não procurassem na nuvem. Quase arquejei de desespero. Não poderia pegar meu spray de pimenta, ele poderia atirar da mesma maneira.
– Você acha que a única a ter informantes? – Arqueou a sobrancelha, desdenhando com o braço armado.
Lembrei de Brie e xinguei mentalmente, meu maxilar travado de ódio. Brie e eu possuíamos um acordo. Eu tinha provas incriminatórias contra ela, seria minha informante e eu não a denunciaria. Caso saísse ilesa, sabia o que a aguardava.
– Qual o seu plano? Me matar e depois o quê?
– Não pretendo te matar. Por que faria isso? Somente em último caso, se você não cooperar. Mas eu tenho certeza de que vai. Agora, se você quiser que eu abaixe minha arma, vai me dar seu gravador.
– Como sabe que estou usando um gravador? – revirou os olhos.
– Que tipo de jornalista investigativa você seria se não estivesse com um?
– Ok, só vou mover minha mão para pegá-lo, não vou tentar nenhuma gracinha. – Assegurei, levando minha mão ao short desabotoado e colocando a mão por dentro.
– Onde diabos você guardou isso? – Peguei o gravador ao lado da minha calcinha e joguei em sua direção.
pegou o objeto em mãos e assentiu. No segundo seguinte, desligou e jogou no banco da frente.
– Vou me livrar da minha arma agora, ok? – travou a arma e colocou no chão do carro.
Movimento estúpido. Estava distante demais para alcançar caso eu decidisse nocauteá-lo.
– Vejo como está olhando para a arma e, justamente por isso, quero provar que quero uma trégua. A arma foi necessária, você teria feito algo antes.
– Espero que valha a pena. – Murmurei.
De repente, o vento frio da praia, o cheiro da maresia, tudo isso invadiu meus sentidos. Estava com frio, com os lábios tremendo.
– Quer que eu ligue o aquecedor?
– Não.
– Quer que eu te dê um cobertor?
– Você vai ficar me enrolando? – Praticamente cuspi as palavras.
Eu queimava de ódio, de ressentimento e de cansaço. Duvidava de que não seria morta. Encostei minhas costas contra a porta, pensando se não a conseguiria abrir e correr o mais rápido que pudesse. Mas me atingiria pelas costas. Eu morreria na praia, com o short desabotoado e uma roupa chique que eu só havia usado uma vez na vida.
– Não, não vou. Eu sei que você tem investigado meu pai há um bom tempo, e sei que ele mandou matar o funcionário dele. – Arqueei a sobrancelha, os lábios ainda trêmulos. – E sei que veio até aqui para tirar alguma informação minha, não é? – Permaneci em silêncio, não diria nada. – Ok, como quiser. – Deu de ombros.
Mordi o interior da bochecha, as informações sobre o caso rondando minha mente.
– Quando você mandou uma mensagem para Brie, por sorte, uma colega dela, Keyla, minha informante, estava ao seu lado e viu meu nome na tela. Então veio me alertar. Plantamos um bug no celular de Brie e lemos as conversas de vocês. Coloquei alguém em seu escritório, duas semana atrás. Lembra-se? A encomenda que chegou por engano? O entregador colocou uma escuta embaixo de uma planta sua quando você foi conferir com seu chefe sobre a entrega. Brie tentou tirar de Keyla alguma informação, já que ela é minha amiga. Pedi a Keyla que dissesse as três possíveis localizações para meu aniversário. Decidiria para onde iria no dia, já que meu pai poderia descobrir algo. Oficialmente, minha festa está sendo na terceira localização, o Licor. Todos os convidados estão lá, menos eu. Pretendo ir para lá assim que acabarmos com nossa reunião. – Arqueei a sobrancelha.
– Como sabe que seu pai não sabe onde você está?
– Meu celular oficial está com meu melhor amigo na terceira festa. Para todos os efeitos, estou lá. Meus seguranças são aleatórios, não são da mesma empresa, e todas concorrentes do meu pai. – Assenti em compreensão.
Estava me acalmando, mas não sabia aonde ele queria chegar.
– Então você não veio a favor de seu pai?
– Não. E é aí que você entra, meu bem. – Torci o nariz.
– Não me chame assim.
– Como quer que eu te chame?
– Lovely.
– Você realmente quer que eu te chame de adorável? Como quiser. Não deixa de ser verdade. – Revirei os olhos e fiz sinal para que prosseguisse. – De qualquer modo, vou direto ao ponto. Quero meu pai na cadeia.
– Quê? – Não esperava por aquela, nunca estivera tão desconfiada.
– Meu pai cometeu um crime, não somente um crime qualquer: ele mandou matar alguém. Se ninguém fizer nada, ele vai continuar impune. Não posso ver isso acontecer.
– Você quer incriminar seu pai? – Ele assentiu. – E você espera que eu acredite nesse papinho seu?
– Sim, porque é a verdade.
– Você vai precisar de mais para me convencer disso, .
– Ficaria decepcionado se não precisasse. – Ele pegou o celular do bolso de trás, desbloqueou e virou a tela para mim.
Meus olhos arregalaram ao ver documentos, autópsia, mensagens trocadas, tudo ali. abriu cada arquivo e a autenticidade me fez abrir a boca em choque.
– Acredita agora?
– Você tem sangue frio para isso? – Questionei honestamente. – Seu pai vai para a cadeia por um bom tempo, especialmente nesse período próximo das eleições, .
– Eu sei. Não é fácil fazer isso. Eu quero ser governador um dia, não posso estar no poder se eu não posso ser honesto.
– Não acredito em nada do que disse, além de que quer incriminar seu pai. Eu não me importo. Quero seu pai na cadeia. Ele não pode matar alguém e sair impune. O que quer por esses arquivos?
– Quero os créditos por incriminar meu pai. – Como eu previa, políticos eram um grande clichê.
– Já imaginava. Mas qual é a pegadinha?
– Só pode ser divulgado que foi eu daqui a quatro anos. – Minha mente processou a data e compreendi.
– Você vai concorrer a governador, não vai? – assentiu. – Quer que isso saia na mídia, aparentemente por acaso, e vai poder assumir tudo, dizendo que preferiu o sigilo por ser algo difícil, mas que havia feito pois tem um senso de justiça, é isso? – Pelo olhar de , sabia que era exatamente aquilo. – Você vale tanto quanto seu pai. – Murmurei e o homem pareceu realmente afetado por aquilo, mas apenas rapidamente. – Eu aceito, mas com uma condição.
– Eu tenho uma arma, não sei se está em posição de negociação. Mas manda.
– Você vai gravar para mim que entregou os materiais, que eu não inventei nada e que se responsabiliza caso isso saia na mídia. Pode fazer seu teatro, pode dizer que não quer fazer isso, que sente muito, que chorou e refletiu muito antes de tomar essa decisão. Pouco me importa. Apenas assuma.
– Você acha que estou feliz em mandar meu pai para a cadeia, ? – Ele realmente parecia bravo, mas aquilo não significava muita coisa. – Eu amo meu pai com toda a minha vida! Ele me criou. Ele me ensinou o que é ser honesto. Agora, descubro que ele mandou matar o homem. Como acha que eu me sinto? Feliz? Alegre? – Mantive-me inexpressiva. – E não confia no que estou dizendo?
– Você me manipulou, plantou uma escuta nas minhas coisas. Eu não confio nem um pouco em você.
– Você também iria fazer a mesma coisa comigo! – Exclamou.
– Sim, mas eu nunca perguntaria se você confia em mim.
– Válido. Mas independente de confiar ou não, eu amo meu pai. Amo muito. Mas vi nisso um momento para conseguir algo. Eu denunciaria meu pai, concorrendo ao cargo de governador ou não. – parecia cansado.
Passou a mão pela cabeça e suspirou.
– Pegue meu gravador. Pode falar o que quiser, contanto que siga a parte do acordo. – assentiu e pegou a arma novamente.
– Pode sair para pegar. – Assenti e encarei o cano da arma.
Abri a porta atrás de mim, o vento frio atingindo minhas costas. Abri a porta do banco da frente e peguei o gravador no chão. Fechei a porta e voltei para o banco de trás. continuou com a arma na mão, mas agora tinha o gravador na outra.
Por cinco minutos, ouvi-o falando toda a lenga-lenga possível. Mas, quando ele começou a chorar, os ombros caíram e os lábios tremeram. Senti-me levemente sem reação. Parecia real demais. Assim como todos os vilões de filme. Convenci-me daquilo. era tão sujo quanto o pai. Tendo isso em mente, não havia como falhar. Ao fim daquilo, fechei os olhos e o encarei novamente. Estendia para mim a mão com o gravador e um sorriso triste.
– Caso eu mude de ideia até lá, vou te avisar. Não sei se vou aguentar isso por muito tempo.
– Eu nunca vou me perdoar por dizer isso caso você esteja mentindo, mas é muita coragem. Espero que não precise disso para ganhar. Não é honesto. Seu pai cometeu um crime, denunciá-lo é sua obrigação. Ganhar em cima disso é ser tão nojento quanto seu pai foi. Não se engane. Você vai cair na mesma cilada que todos os outros políticos. Espero que seja honesto de verdade, assim como você parece querer ser. – ficou quieto por alguns segundos, a arma pendendo ao lado de seu corpo, mas não me senti tentada a pegá-la. – Além do mais, quero poder dizer que já peguei um governador. – gargalhou e assentiu.
– Você tem razão. Vou tomar uma decisão.
– Espero que tome a certa.
– Também espero... – O silêncio predominou no carro por alguns instantes, a tensão estava ali, poderia facilmente cortá-la com uma faca. – Desculpe por ter apontado uma arma para você, não vi outra saída.
– Você poderia pelo menos ter terminado o serviço antes. – arqueou a sobrancelha.
– Você está no clima para isso?
– Não. – Rimos e coloquei a mão na nuca. – Foi uma noite divertida, apesar de tudo.
– É verdade. Comemoramos nosso aniversário da melhor maneira. – Sorri e assenti.
– Eu sei que isso é completamente sem noção, mas você pode me deixar em casa? Eu não sei em que ponto estamos. – riu e assentiu – Mas deixe a arma ali atrás, por favor!
– Claro. – A arma foi colocada atrás do banco, que foi levantado à posição normal.
Suspirei aliviada e só saí dali quando saiu primeiro, deixando a arma para trás. Coloquei a mão por cima de minha calcinha e amaldiçoei ao perceber a situação atual. Droga de homem. Fechei o zíper e voltei para o banco da frente.
A metade do caminho foi feita em silêncio. havia deixado que eu mesma enviasse os arquivos. Enviei o print de envio do celular, tomei todas as precauções para que não levasse a perna.
– Você deixou a minha noite infinitamente mais divertida do que qualquer outra que eu já tive. – confessou quando comecei a guiá-lo para mais perto de minha casa.
– Eu não sei se posso dizer isso. Você apontou uma arma na minha cara.
– Fora isso, não foi divertido? – Assenti.
– Senti-me como uma adolescente, de verdade. Não saio para dançar há uns cinco anos. Beijar, então? – Fechei a boca rapidamente quando começou a rir.
– Seu beijo é uma delícia, Lovely.
– O seu também. – Observei a fachada do meu prédio aproximar-se rapidamente.
Três ruas depois e estávamos parados na frente do meu edifício. Por alguns segundos, considerei as minhas opções e abri um sorriso.
– Quer subir?
– Você está me chamando para isso agora?
– Já passou da data do nosso aniversário. Eu vou acabar a noite sozinha. Você acabou de denunciar seu pai. Podemos ser o consolo um do outro. Que tal? – arqueou a sobrancelha, os olhos brilhando.
– Fechado. Onde posso estacionar? – Acenei para o porteiro, o carro foi parado atrás do meu na garagem.
– Preciso parar no térreo para pegar minha chave. – Ronronei enquanto esperávamos o elevador.
beijava meus ombros expostos, arrastava a língua por minha nuca, alternando com beijos suaves. A porta abriu e entramos. Parei no andar acima.
– Segura o elevador. Já volto. – Andei apressadamente até a portaria e abri um sorriso gigante ao encarar o porteiro. – Olá, boa noite. – Olhei para trás, não estava ali. – O homem que entrou comigo está no elevador? – O porteiro foi até a pequena tela e assentiu. – Poderia mandar as gravações da placa do carro e do elevador?
– Não sei se tenho permi...
– Ele é candidato a governador. As gravações precisam ser apagadas, mas ele precisa de uma cópia para provar qualquer álibi, enfim... Coisas de governador. – O porteiro assentiu com os olhos arregalados.
– Vou vai estar pronto em dez minutos. Quer que eu deixe na porta do apartamento?
– Não precisa. Pego aqui amanhã cedo. Pode deixar em um envelope? Obrigada.
– Feliz aniversário, dona !
– Obrigada! É um dos melhores em anos.
Sorri e deixei minha mente pensar na minha nova matéria em potencial:
“Filho de candidato a governador dorme na casa de jornalista para comprar o silêncio acerca da morte de Kaleb Villanueva. Fiquem felizes, queridos leitores, em saber que o silêncio da justiça não pode ser comprado.”
Encarei com um sorriso ao voltar para o elevador. Poderia me divertir naquele momento, não?
Fim.
Nota da autora: "Olá, guapas! Obrigada por lerem até o final. Foi divertido escrever esse ficstape, não vou mentir. Espero que tenham gostado. Aguardo vocês nos comentários <3 "
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