Capítulo Único
Eram meados do mês de maio em Port Angeles, e apesar de estar em plena primavera, o céu cinzento cismava em persistir na cidade e a possibilidade de chuva era cada vez mais evidente naquele dia. Mas nem mesmo o clima cinzento e o vento gélido impediram que os jovens Cullen amenizassem o término de um namoro de décadas, término o qual ninguém, nem mesmo Bella, entendia, e apesar de considerar um erro, nada vindo de Alice era precoce.
O que restava era apenas considerar o conselho maluco de Emmett e ir se divertir em uma noite entre garotos, apesar de Jasper ainda ter dificuldade em socializar com os humanos.
E não demorou muito para que chegassem ao local escolhido, um bar recém inaugurado em Port Angeles, que era o atrativo perfeito aos jovens daquela cidade e um novo deleite mais que bem-vindo aos Cullen, afinal, não era fácil viver por décadas, ou até mesmo séculos, e sempre fazer a mesma coisa.
Vampiros também se entediavam.
Fosse o que fosse, a verdade era que o local era peculiarmente confortável, e se fossem humanos, sentiriam a diferença do clima do lado de dentro para o de fora, já que dentro do local havia uma sensação reconfortante vinda do calor humano que emanava euforia.
Ainda assim, tinham sorte de estar ali dentro.
— Você tem certeza de que é seguro que eu esteja aqui? — perguntou Jasper a Edward com certa preocupação em seu tom de voz, enquanto o trio se aproximava do balcão escuro de madeira.
Apesar de estar acostumado a conviver com mais pessoas na Forks High School, fazia anos que não saía sozinho com os meninos e aquilo era, no mínimo, estranho.
— Não seja tão pessimista, Jasper, já basta o Edward carregando esse papel. — Emmett passou o braço direito sobre o ombro do irmão postiço e recebeu um olhar impaciente de Edward. Não podia deixar de pensar no quanto aquilo era perigoso expor Jasper a uma quantidade significativa de jovens bêbados, em um lugar fechado. Era um pouco estranho, apesar de Emmett garantir que se algo acontecesse, eles dariam conta. Gostava menos ainda da ideia de sair sem Bella, mas, como ela havia dito, tudo aquilo fazia parte de ser uma família.
E no caso dos Cullen, apoiar Alice no término, como também ajudar Jasper a superá-la, era essencial.
— Algum de nós tem de usar o cérebro antes dos músculos, Emmett — Edward murmurou irônico, enquanto Emmett abria um sorriso sincero de canto da boca. Mas, de certa forma, ele sabia que o irmão postiço estava certo. Ainda assim, não perderia a chance de ver Jasper se divertindo como não faziam há anos e sabia que, apesar de sua resistência, Edward também não.
Precisavam de um tempo só para os caras.
— Nada mais que dois drinques, está bem? E se você sentir qualquer desconforto, me avise. — Não era como se pudesse ficar bêbado, mas o instinto protetor de Edward nunca iria embora.
Aquilo fazia parte de quem ele era.
Após o comentário, os três se entreolharam e Emmett prontificou-se a andar em direção ao bar, sendo seguindo instintivamente por Edward e, após respirar fundo, Jasper andou a passos largos no encalço dos outros dois caras até o balcão escuro amadeirado, torcendo silenciosamente para que pudesse sentir o bom e velho gosto de um bourbon, como já havia feito diversas vezes no passado.
Mas foi Emmett, claro, o encarregado de pedir as bebidas.
Jasper observava enquanto a jovem bartender entregava três garrafas long necks de cerveja e amaldiçoou Emmett por pedir aquilo, enquanto Edward ria de forma discreta ao ler o que a garota pensava dos três em sua frente e de seus tão intrigantes olhos dourados.
Por milésimo de segundo, pensou “o que raios fazia ali”, e ao ver o semblante de Jasper melhorar, soube que estava fazendo o certo. Jasper era duro, e devido ao respeito que tinha por Alice desde muito antes de namorarem, compreendeu seus motivos, e uma hora ou outra aprenderia a dançar sem ela.
E se Jasper pudesse saber o que o irmão pensava, concordaria no mesmo instante.
Quando tomou o primeiro gole da cerveja, começou a analisar melhor o espaço onde se encontravam. Era um bar temático, sua decoração se perdia entre a mistura de bebidas e música, havia objetos simbólicos em toda a parte da decoração e quadros que representavam grandes momentos da história da música reluziam por todo o espaço. E, como se não bastasse, havia um palco de karaokê perfeito para jovens aventureiros ou embriagados.
Jasper podia jurar que se pudesse ficar embriagado o mínimo que fosse, subiria ao palco e cantaria uma música qualquer igual às antigas cantoras de cabaré que ele ouvira falar.
E foi nesse momento, em meio ao som da multidão e à música peculiar, que percebeu o som repentino e imperceptível para os humanos que vinha da campainha de aparência antiga, posicionada logo acima da porta aos fundos do bar. Aquele foi o perfeito estopim para que Jasper focasse sua atenção em algo que não fosse suas futuras noites solitárias. No mesmo instante, Edward viu os olhos do irmão se direcionarem no quarteto que acabara de adentrar no local, formado em parte, por seus colegas de escola.
Não foi difícil reconhecer os amigos de Bella. Mike e Jessica estavam à frente, e Tyler vinha logo depois, na companhia de uma garota que nenhum deles conhecia, mas que sem dúvidas era tão nova ali quanto o bar em que estavam.
Emmett então seguiu o olhar do irmão e tomou um gole de sua cerveja, se dando conta instintivamente que a morena de olhos claros, ao lado dos colegas de escola, não era dali e, assim como Edward, tornou a observar.
— I could have another you in a minute. Matter fact, he'll be here in a minute (baby) — os três observaram a novata proferir, mesmo de longe, enquanto ela permitia-se distrair por alguns segundos na letra da música, uma música que, ao seu ver, não combinava muito com o local em que estavam, mas servia perfeitamente como uma música lacradora de término. Ainda assim, a música a animava como nunca e algo a dizia que aquela noite, seria muito bem aproveitada. Beyoncé era uma deusa e nunca errava, não é mesmo?
A garota então virou para seus amigos e sorriu.
— Estão esperando o quê? — proferiu de forma animada e com o sotaque carregado. — Precisamos de bebidas, estou louca para começar essa festa de boas-vindas. — Piscou, engatando seu braço ao de Jessica, que se limitou a balançar a cabeça em afirmação, e seguiram a passos rápidos e animados até o balcão de bebida.
E antes de chegarem até o balcão, Jessica foi a primeira a notar a presença do trio e não deixou de transparecer certa surpresa ao ver pela primeira vez os Cullen separados. Edward sorriu e acenou singelamente para os amigos de sua namorada, e foi quando percebeu a expressão vinda da desconhecida, que traçava uma linha tênue entre curiosidade e admiração, e não foi difícil desvendar o que ela pensava, nem mesmo teve de ler sua mente, já que bastava seguir o olhar da garota para entender qual ou quem era o seu foco.
Quando a garota focou seu olhar para Jasper, franziu o cenho em uma tentativa miseravelmente falha de recordar-se de onde já havia visto aquela tonalidade estranha de olhos antes, e deu alguns passos para frente, juntamente aos seus companheiros. O garoto, por sua vez, sentiu-se estranhamente perdido no olhar da desconhecida, enquanto a música que tocava ao fundo ficava cada vez mais distante e ele estranhamente não sabia decifrar o que Emmett dizia.
A única coisa que era certa para Jasper naquele momento era que apenas na forma de andar ele soube que a garota em sua frente era como uma força da natureza e ele precisava saber quem ou o que ela era.
Vendo que havia sido pega, a garota desviou rapidamente seu olhar para os três amigos ao seu lado.
Não que ela já não estivesse acostumada a receber olhares excepcionais sobre si, sendo da família a qual ela era, isso era o que mais acontecia. Mas algo naqueles olhos a deixava estranhamente vulnerável.
— Quem são aqueles? — sussurrou para a amiga, com o sotaque ainda evidente. Jessica sorriu antes de responder, sentindo passar um certo déjà vu em sua cabeça.
— Aqueles são os Cullen, docinho, mas, antes que pergunte, todos são comprometidos. Bom, ou pelo menos eram — Tyler interrompeu, passando seu braço direito sobre o ombro da novata e recebeu um olhar reprovador de Jessica pelo comentário.
Dias antes, Bella quase havia deixado escapar o que estava acontecendo entre os Cullen durante uma ligação, e vê-los sozinhos naquela noite só serviu para confirmar o que ela pensava.
Jasper e Alice haviam terminado.
— Mas, para a sua sorte, eu estarei disponível a qualquer momento para você. — Tyler piscou e a garota riu, balançando a cabeça. Desde que havia decidido vir para Forks, havia sido muito bem recebida por Mike, seus familiares e seus amigos, e agradeceu mentalmente por sua família, apesar de um tanto quanto tradicional, ter sido tão complacente com sua decisão de sair da Itália por alguns meses.
— O que Tyler quer dizer, , é que você não vai querer fazer parte do “drama Cullen” — irrompeu Jessica, e a garota franziu o cenho, perguntando-se o que havia tão de especial naqueles três caras. E como se pudesse ler sua mente, Jessica prosseguiu e explicou que sua melhor amiga namorava o mais alto deles, que se chamava Edward e que, por sua vez, era irmão postiço dos outros dois, pois haviam sido adotados pela mesma família. Além disso, o moreno com músculos se chamava Emmett e namorava Rosalie, uma das duas garotas adotadas pelos Cullen, também a qual Jessica jurou pensar ser a irmã gêmea de Jasper, o último dos três caras à sua frente.
Era claro que ela não havia deixado de fora a parte que ele havia rompido seu relacionamento com a segunda garota da casa, Alice, recentemente.
E aquela confidência foi o suficiente para que ficasse mais interessada ainda em Jasper, afinal, os dois estavam no mesmo barco agora. Naquele momento, soube que a melhor coisa que ela havia feito era ter deixado seu ex namorado ir. Mais do que nunca, ela sabia que ficaria bem sozinha, mas isso não significava que ela não aproveitaria.
voltou a si quando viu que já não existia mais distância entre seus amigos e os Cullen, e que todos agora estavam com seus olhos voltados para ela, inclusive Jasper.
— Coff, coff — Mike limpou a garganta, virando-se para os Cullen. — Como eu estava dizendo, essa é . Ela estudará conosco em Forks durante alguns meses do próximo semestre.
— Olá, é um prazer — a garota limitou-se a falar de forma cordial. Estava demasiadamente interessada nos olhos de Jasper para conseguir falar mais do que apenas um “olá” desinteressante. Por esse motivo, também não havia notado o olhar cauteloso de Edward sobre si.
A verdade era que Edward tinha tido uma sensação estranhamente familiar no momento em que a garota cruzou a porta do bar, mas ele não soube decifrar o que era.
— O prazer é nosso — respondeu Emmett, apesar de ter notado que Edward era quem gostaria de falar.
— Me desculpe, , mas de onde você disse que era mesmo? — perguntou Edward.
— Na verdade, eu não disse. — Ela sorriu. — Nasci nos Estados Unidos, mas morei grande parte da minha vida na Europa. Sou da Itália, assim como minha família adotiva.
E lá vem mais uma coisa em comum, pensou a garota e deixou uma risadinha escapar.
— Eu acho que o mais importante é onde está agora — a voz de Tyler irrompeu, e ele, juntamente a Mike, Jess e , começaram a rir.
— Ok, garanhão, que tal pegar nossas bebidas agora? — Mike foi quem sugeriu, dando palminhas no ombro do amigo.
— Estraga clima. — Tyler rolou os olhos e virou-se para seguir com Mike até a bartender.
Os outros cinco se entreolharam com certo desconforto e foi Jess que resolveu quebrar o gelo.
— Então, Edward, como está Bella? Aproveitando as férias?
— Oh, ela está bem, Jess, obrigada por perguntar. Ela saiu com Rosalie e Alice essa noite — respondeu cordial, pôde jurar que ele parecia muito mais velho do que aparentava ser, e aquilo lhe soaria estranho se ela já não estivesse acostumada a ver aquele jeito maduro demais em seu irmão.
— Que bom, não vejo a hora de vê-la! — respondeu. — Ah, e, Jasper, eu fiquei sabendo. Sinto muito por você e Alice.
— Obrigado, Jess, mas não precisa se preocupar, está tudo bem — Jasper respondeu cavalheiramente, e sorriu por ele transparecer tanta confiança ao falar sobre um assunto delicado.
— Deve ser difícil para vocês, sabe, viver junto em um momento desse... — Jess continuou e mordeu o lábio, tentando não interromper, mas não teve como evitar.
— Bem, se me permite, não acho que deva ser isso difícil, é apenas intenso... — a voz de interrompeu. — Digo, por um lado, ver a pessoa todos os dias é estranho, mas saber que você pode conviver e respeitar o outro todos os dias é, no mínimo, magnífico.
A garota proferiu e, após isso, ela viu Jasper sorrir. O sorriso mais lindo que ela já havia visto na vida.
Segundos depois, Mike e Tyler voltaram com três long necks e uma dose de whisky.
— Bebida quente para alguém tão quente quanto você — Mike brincou e entregou o copo com a dose para . O garoto sabia que a amiga não era fã de bebidas geladas e como o local não servia vinho, aquela havia sido a melhor escolha.
mordeu o lábio inferior de forma marota e logo os quatros juntaram as bebidas em um brinde de boas-vindas para a garota e em seguida deram um gole generoso em suas bebidas.
— Majestoso — proferiu, após degustar da dose. Se não estivesse de olhos fechados, aproveitando a sensação de calor que a bebida lhe havia trago, observaria o olhar curioso de Jasper sobre si.
Eram raras as vezes que via garotas tomando algo que não fosse cerveja e aquilo era novamente interessante. Jasper tentou fixar seus olhos em outra que não fosse a garota, mas falhou miseravelmente naquele quesito.
— Então, vai me falar por que está encarando , ou eu terei que te forçar a isso? — sussurrou Mike de forma brincalhona, para que somente Jasper ouvisse, dando, em seguida, um gole generoso em sua cerveja. O vampiro piscou algumas vezes antes de responder o loiro, mas quando estava prestes a começar a falar, foi interrompido. — Sangue novo no pedaço é sempre interessante, não?
Mike brincou e Jasper não deixou de pensar o quanto aquilo soava irônico e reprimiu uma risada. Na escola, não falava com Mike e seus amigos de forma habitual, mas sempre soube o quanto o garoto era engraçado e sem jeito.
Simultaneamente, a música de fundo começou a tocar e Jessica sorriu para quando a viu murmurar “eu amo essa música”. Jess não pensou duas vezes antes de segurar a mão da amiga e a puxar para a pista de dança, enquanto os garotos preferiram apenas observar.
— See the people walking down the street — as garotas cantavam em uníssono enquanto sincronizavam seus corpos ao ritmo da música, e ela era perfeita para elas. — They got the beat [...]
— Sinto que teremos problemas essa noite — Mike brincou, ao observar as garotas se divertindo, e logo em seguida se juntou às duas meninas, sinalizando com a cabeça para Tyler curtir e dançar junto a eles, já que duvidava muito que os Cullen os acompanhassem.
E enquanto Emmett, Edward e Jasper limitaram-se a observar seus colegas se divertindo, o quarteto dançava sem se importar se tinham ou não habilidade para aquilo.
Mais duas músicas se passaram e em meio a vários jovens bêbados e histéricos, Jasper percebeu que exalava uma energia, como um raio de luz em meio a todo o céu cinza daquele dia. Ela dançava sob as luzes no meio da multidão e, de olhos fechados, cantava cada sílaba da música. Jasper teve certeza de que ela a conhecia de cor, pois seu corpo se mexia exatamente ao ritmo da batida da música.
E vê-la se divertir era nostálgico.
Durante a troca de música, decidiu tirar uma “pausa” para respirar, então desviou-se de seus amigos com a desculpa de que iria pegar uma bebida. A garota foi até o bar, pedindo uma garrafa de água enquanto planejava uma fuga para “aliviar a mente e o corpo”, e, após recebê-la, foi fácil passar despercebida pelos amigos no centro da pista, teria sido perfeito se ela apenas não houvesse se esquecido dos Cullen.
Sem muita dificuldade, dirigiu-se até a área externa do bar e, por sorte, a chuva ainda não havia aparecido. Encontrou um lugar para que pudesse se escorar e aproveitou o ar gélido batendo em seu corpo, já que adorava poder sentir seu corpo estremecer ao simples toque do ar gélido, e a única coisa melhor que aquilo seria se pudesse sentir o aroma das primeira gotas de chuva ao cair sobre a terra.
tomou um gole de sua água e fechou os olhos por um momento, sem imaginar que alguém estava logo atrás dela.
— Cansou de ensinar seus amigos como dançar? — questionou, mas a voz calma não foi o suficiente para evitar o susto que a garota tomou em seguida.
Em um movimento rápido, virou-se para trás e derrubou todo o restante do líquido na camiseta do ser à sua frente.
— Oh meu Deus, Jasper, me desculpe! — Tentou amenizar o estrago da camiseta com as mãos, mas foi inútil. — Eu nem sei o que estou fazendo, caramba, eu sou tão desastrada.
— Não se preocupe, está tudo bem — Jasper proferiu, sorrindo, tentando acalmar a garota. — Foi um acidente e pelo menos é apenas água.
— Tudo bem, talvez essa tenha sido a coisa mais constrangedora que já me aconteceu, sem dúvida, sem comparação — disse e mordeu o lábio inferior em uma mania involuntária que fazia sempre quando estava nervosa.
— De verdade, não se preocupe. Agora, se me permite, acho que devemos nos apresentar corretamente. — Jasper sorriu, e após vê-la sorrir concordando com a cabeça, estendeu a mão para cumprimentá-la. — Sou Jasper Hale.
segurou sua mão e não estranhou sua pele ser tão fria. Os olhos dourados de Jasper estavam fixos sobre os seus e ela pôde jurar que, se ele continuasse a olhá-la com aquela mesma intensidade, leria sua mente.
Ainda assim, conseguiu focar em uma resposta rápida.
— É um prazer, Jasper — disse de forma sútil e cordial, não deixando de escapar um riso. — Eu me chamo , Volturi.
E, ao ouvir o sobrenome da garota, Jasper sentiu seu corpo petrificar. Não podia ser coincidência, ele sabia, mas naquele momento a única coisa que teve certeza era de que aquela noite seria longa.
O que restava era apenas considerar o conselho maluco de Emmett e ir se divertir em uma noite entre garotos, apesar de Jasper ainda ter dificuldade em socializar com os humanos.
E não demorou muito para que chegassem ao local escolhido, um bar recém inaugurado em Port Angeles, que era o atrativo perfeito aos jovens daquela cidade e um novo deleite mais que bem-vindo aos Cullen, afinal, não era fácil viver por décadas, ou até mesmo séculos, e sempre fazer a mesma coisa.
Vampiros também se entediavam.
Fosse o que fosse, a verdade era que o local era peculiarmente confortável, e se fossem humanos, sentiriam a diferença do clima do lado de dentro para o de fora, já que dentro do local havia uma sensação reconfortante vinda do calor humano que emanava euforia.
Ainda assim, tinham sorte de estar ali dentro.
— Você tem certeza de que é seguro que eu esteja aqui? — perguntou Jasper a Edward com certa preocupação em seu tom de voz, enquanto o trio se aproximava do balcão escuro de madeira.
Apesar de estar acostumado a conviver com mais pessoas na Forks High School, fazia anos que não saía sozinho com os meninos e aquilo era, no mínimo, estranho.
— Não seja tão pessimista, Jasper, já basta o Edward carregando esse papel. — Emmett passou o braço direito sobre o ombro do irmão postiço e recebeu um olhar impaciente de Edward. Não podia deixar de pensar no quanto aquilo era perigoso expor Jasper a uma quantidade significativa de jovens bêbados, em um lugar fechado. Era um pouco estranho, apesar de Emmett garantir que se algo acontecesse, eles dariam conta. Gostava menos ainda da ideia de sair sem Bella, mas, como ela havia dito, tudo aquilo fazia parte de ser uma família.
E no caso dos Cullen, apoiar Alice no término, como também ajudar Jasper a superá-la, era essencial.
— Algum de nós tem de usar o cérebro antes dos músculos, Emmett — Edward murmurou irônico, enquanto Emmett abria um sorriso sincero de canto da boca. Mas, de certa forma, ele sabia que o irmão postiço estava certo. Ainda assim, não perderia a chance de ver Jasper se divertindo como não faziam há anos e sabia que, apesar de sua resistência, Edward também não.
Precisavam de um tempo só para os caras.
— Nada mais que dois drinques, está bem? E se você sentir qualquer desconforto, me avise. — Não era como se pudesse ficar bêbado, mas o instinto protetor de Edward nunca iria embora.
Aquilo fazia parte de quem ele era.
Após o comentário, os três se entreolharam e Emmett prontificou-se a andar em direção ao bar, sendo seguindo instintivamente por Edward e, após respirar fundo, Jasper andou a passos largos no encalço dos outros dois caras até o balcão escuro amadeirado, torcendo silenciosamente para que pudesse sentir o bom e velho gosto de um bourbon, como já havia feito diversas vezes no passado.
Mas foi Emmett, claro, o encarregado de pedir as bebidas.
Jasper observava enquanto a jovem bartender entregava três garrafas long necks de cerveja e amaldiçoou Emmett por pedir aquilo, enquanto Edward ria de forma discreta ao ler o que a garota pensava dos três em sua frente e de seus tão intrigantes olhos dourados.
Por milésimo de segundo, pensou “o que raios fazia ali”, e ao ver o semblante de Jasper melhorar, soube que estava fazendo o certo. Jasper era duro, e devido ao respeito que tinha por Alice desde muito antes de namorarem, compreendeu seus motivos, e uma hora ou outra aprenderia a dançar sem ela.
E se Jasper pudesse saber o que o irmão pensava, concordaria no mesmo instante.
Quando tomou o primeiro gole da cerveja, começou a analisar melhor o espaço onde se encontravam. Era um bar temático, sua decoração se perdia entre a mistura de bebidas e música, havia objetos simbólicos em toda a parte da decoração e quadros que representavam grandes momentos da história da música reluziam por todo o espaço. E, como se não bastasse, havia um palco de karaokê perfeito para jovens aventureiros ou embriagados.
Jasper podia jurar que se pudesse ficar embriagado o mínimo que fosse, subiria ao palco e cantaria uma música qualquer igual às antigas cantoras de cabaré que ele ouvira falar.
E foi nesse momento, em meio ao som da multidão e à música peculiar, que percebeu o som repentino e imperceptível para os humanos que vinha da campainha de aparência antiga, posicionada logo acima da porta aos fundos do bar. Aquele foi o perfeito estopim para que Jasper focasse sua atenção em algo que não fosse suas futuras noites solitárias. No mesmo instante, Edward viu os olhos do irmão se direcionarem no quarteto que acabara de adentrar no local, formado em parte, por seus colegas de escola.
Não foi difícil reconhecer os amigos de Bella. Mike e Jessica estavam à frente, e Tyler vinha logo depois, na companhia de uma garota que nenhum deles conhecia, mas que sem dúvidas era tão nova ali quanto o bar em que estavam.
Emmett então seguiu o olhar do irmão e tomou um gole de sua cerveja, se dando conta instintivamente que a morena de olhos claros, ao lado dos colegas de escola, não era dali e, assim como Edward, tornou a observar.
— I could have another you in a minute. Matter fact, he'll be here in a minute (baby) — os três observaram a novata proferir, mesmo de longe, enquanto ela permitia-se distrair por alguns segundos na letra da música, uma música que, ao seu ver, não combinava muito com o local em que estavam, mas servia perfeitamente como uma música lacradora de término. Ainda assim, a música a animava como nunca e algo a dizia que aquela noite, seria muito bem aproveitada. Beyoncé era uma deusa e nunca errava, não é mesmo?
A garota então virou para seus amigos e sorriu.
— Estão esperando o quê? — proferiu de forma animada e com o sotaque carregado. — Precisamos de bebidas, estou louca para começar essa festa de boas-vindas. — Piscou, engatando seu braço ao de Jessica, que se limitou a balançar a cabeça em afirmação, e seguiram a passos rápidos e animados até o balcão de bebida.
E antes de chegarem até o balcão, Jessica foi a primeira a notar a presença do trio e não deixou de transparecer certa surpresa ao ver pela primeira vez os Cullen separados. Edward sorriu e acenou singelamente para os amigos de sua namorada, e foi quando percebeu a expressão vinda da desconhecida, que traçava uma linha tênue entre curiosidade e admiração, e não foi difícil desvendar o que ela pensava, nem mesmo teve de ler sua mente, já que bastava seguir o olhar da garota para entender qual ou quem era o seu foco.
Quando a garota focou seu olhar para Jasper, franziu o cenho em uma tentativa miseravelmente falha de recordar-se de onde já havia visto aquela tonalidade estranha de olhos antes, e deu alguns passos para frente, juntamente aos seus companheiros. O garoto, por sua vez, sentiu-se estranhamente perdido no olhar da desconhecida, enquanto a música que tocava ao fundo ficava cada vez mais distante e ele estranhamente não sabia decifrar o que Emmett dizia.
A única coisa que era certa para Jasper naquele momento era que apenas na forma de andar ele soube que a garota em sua frente era como uma força da natureza e ele precisava saber quem ou o que ela era.
Vendo que havia sido pega, a garota desviou rapidamente seu olhar para os três amigos ao seu lado.
Não que ela já não estivesse acostumada a receber olhares excepcionais sobre si, sendo da família a qual ela era, isso era o que mais acontecia. Mas algo naqueles olhos a deixava estranhamente vulnerável.
— Quem são aqueles? — sussurrou para a amiga, com o sotaque ainda evidente. Jessica sorriu antes de responder, sentindo passar um certo déjà vu em sua cabeça.
— Aqueles são os Cullen, docinho, mas, antes que pergunte, todos são comprometidos. Bom, ou pelo menos eram — Tyler interrompeu, passando seu braço direito sobre o ombro da novata e recebeu um olhar reprovador de Jessica pelo comentário.
Dias antes, Bella quase havia deixado escapar o que estava acontecendo entre os Cullen durante uma ligação, e vê-los sozinhos naquela noite só serviu para confirmar o que ela pensava.
Jasper e Alice haviam terminado.
— Mas, para a sua sorte, eu estarei disponível a qualquer momento para você. — Tyler piscou e a garota riu, balançando a cabeça. Desde que havia decidido vir para Forks, havia sido muito bem recebida por Mike, seus familiares e seus amigos, e agradeceu mentalmente por sua família, apesar de um tanto quanto tradicional, ter sido tão complacente com sua decisão de sair da Itália por alguns meses.
— O que Tyler quer dizer, , é que você não vai querer fazer parte do “drama Cullen” — irrompeu Jessica, e a garota franziu o cenho, perguntando-se o que havia tão de especial naqueles três caras. E como se pudesse ler sua mente, Jessica prosseguiu e explicou que sua melhor amiga namorava o mais alto deles, que se chamava Edward e que, por sua vez, era irmão postiço dos outros dois, pois haviam sido adotados pela mesma família. Além disso, o moreno com músculos se chamava Emmett e namorava Rosalie, uma das duas garotas adotadas pelos Cullen, também a qual Jessica jurou pensar ser a irmã gêmea de Jasper, o último dos três caras à sua frente.
Era claro que ela não havia deixado de fora a parte que ele havia rompido seu relacionamento com a segunda garota da casa, Alice, recentemente.
E aquela confidência foi o suficiente para que ficasse mais interessada ainda em Jasper, afinal, os dois estavam no mesmo barco agora. Naquele momento, soube que a melhor coisa que ela havia feito era ter deixado seu ex namorado ir. Mais do que nunca, ela sabia que ficaria bem sozinha, mas isso não significava que ela não aproveitaria.
voltou a si quando viu que já não existia mais distância entre seus amigos e os Cullen, e que todos agora estavam com seus olhos voltados para ela, inclusive Jasper.
— Coff, coff — Mike limpou a garganta, virando-se para os Cullen. — Como eu estava dizendo, essa é . Ela estudará conosco em Forks durante alguns meses do próximo semestre.
— Olá, é um prazer — a garota limitou-se a falar de forma cordial. Estava demasiadamente interessada nos olhos de Jasper para conseguir falar mais do que apenas um “olá” desinteressante. Por esse motivo, também não havia notado o olhar cauteloso de Edward sobre si.
A verdade era que Edward tinha tido uma sensação estranhamente familiar no momento em que a garota cruzou a porta do bar, mas ele não soube decifrar o que era.
— O prazer é nosso — respondeu Emmett, apesar de ter notado que Edward era quem gostaria de falar.
— Me desculpe, , mas de onde você disse que era mesmo? — perguntou Edward.
— Na verdade, eu não disse. — Ela sorriu. — Nasci nos Estados Unidos, mas morei grande parte da minha vida na Europa. Sou da Itália, assim como minha família adotiva.
E lá vem mais uma coisa em comum, pensou a garota e deixou uma risadinha escapar.
— Eu acho que o mais importante é onde está agora — a voz de Tyler irrompeu, e ele, juntamente a Mike, Jess e , começaram a rir.
— Ok, garanhão, que tal pegar nossas bebidas agora? — Mike foi quem sugeriu, dando palminhas no ombro do amigo.
— Estraga clima. — Tyler rolou os olhos e virou-se para seguir com Mike até a bartender.
Os outros cinco se entreolharam com certo desconforto e foi Jess que resolveu quebrar o gelo.
— Então, Edward, como está Bella? Aproveitando as férias?
— Oh, ela está bem, Jess, obrigada por perguntar. Ela saiu com Rosalie e Alice essa noite — respondeu cordial, pôde jurar que ele parecia muito mais velho do que aparentava ser, e aquilo lhe soaria estranho se ela já não estivesse acostumada a ver aquele jeito maduro demais em seu irmão.
— Que bom, não vejo a hora de vê-la! — respondeu. — Ah, e, Jasper, eu fiquei sabendo. Sinto muito por você e Alice.
— Obrigado, Jess, mas não precisa se preocupar, está tudo bem — Jasper respondeu cavalheiramente, e sorriu por ele transparecer tanta confiança ao falar sobre um assunto delicado.
— Deve ser difícil para vocês, sabe, viver junto em um momento desse... — Jess continuou e mordeu o lábio, tentando não interromper, mas não teve como evitar.
— Bem, se me permite, não acho que deva ser isso difícil, é apenas intenso... — a voz de interrompeu. — Digo, por um lado, ver a pessoa todos os dias é estranho, mas saber que você pode conviver e respeitar o outro todos os dias é, no mínimo, magnífico.
A garota proferiu e, após isso, ela viu Jasper sorrir. O sorriso mais lindo que ela já havia visto na vida.
Segundos depois, Mike e Tyler voltaram com três long necks e uma dose de whisky.
— Bebida quente para alguém tão quente quanto você — Mike brincou e entregou o copo com a dose para . O garoto sabia que a amiga não era fã de bebidas geladas e como o local não servia vinho, aquela havia sido a melhor escolha.
mordeu o lábio inferior de forma marota e logo os quatros juntaram as bebidas em um brinde de boas-vindas para a garota e em seguida deram um gole generoso em suas bebidas.
— Majestoso — proferiu, após degustar da dose. Se não estivesse de olhos fechados, aproveitando a sensação de calor que a bebida lhe havia trago, observaria o olhar curioso de Jasper sobre si.
Eram raras as vezes que via garotas tomando algo que não fosse cerveja e aquilo era novamente interessante. Jasper tentou fixar seus olhos em outra que não fosse a garota, mas falhou miseravelmente naquele quesito.
— Então, vai me falar por que está encarando , ou eu terei que te forçar a isso? — sussurrou Mike de forma brincalhona, para que somente Jasper ouvisse, dando, em seguida, um gole generoso em sua cerveja. O vampiro piscou algumas vezes antes de responder o loiro, mas quando estava prestes a começar a falar, foi interrompido. — Sangue novo no pedaço é sempre interessante, não?
Mike brincou e Jasper não deixou de pensar o quanto aquilo soava irônico e reprimiu uma risada. Na escola, não falava com Mike e seus amigos de forma habitual, mas sempre soube o quanto o garoto era engraçado e sem jeito.
Simultaneamente, a música de fundo começou a tocar e Jessica sorriu para quando a viu murmurar “eu amo essa música”. Jess não pensou duas vezes antes de segurar a mão da amiga e a puxar para a pista de dança, enquanto os garotos preferiram apenas observar.
— See the people walking down the street — as garotas cantavam em uníssono enquanto sincronizavam seus corpos ao ritmo da música, e ela era perfeita para elas. — They got the beat [...]
— Sinto que teremos problemas essa noite — Mike brincou, ao observar as garotas se divertindo, e logo em seguida se juntou às duas meninas, sinalizando com a cabeça para Tyler curtir e dançar junto a eles, já que duvidava muito que os Cullen os acompanhassem.
E enquanto Emmett, Edward e Jasper limitaram-se a observar seus colegas se divertindo, o quarteto dançava sem se importar se tinham ou não habilidade para aquilo.
Mais duas músicas se passaram e em meio a vários jovens bêbados e histéricos, Jasper percebeu que exalava uma energia, como um raio de luz em meio a todo o céu cinza daquele dia. Ela dançava sob as luzes no meio da multidão e, de olhos fechados, cantava cada sílaba da música. Jasper teve certeza de que ela a conhecia de cor, pois seu corpo se mexia exatamente ao ritmo da batida da música.
E vê-la se divertir era nostálgico.
Durante a troca de música, decidiu tirar uma “pausa” para respirar, então desviou-se de seus amigos com a desculpa de que iria pegar uma bebida. A garota foi até o bar, pedindo uma garrafa de água enquanto planejava uma fuga para “aliviar a mente e o corpo”, e, após recebê-la, foi fácil passar despercebida pelos amigos no centro da pista, teria sido perfeito se ela apenas não houvesse se esquecido dos Cullen.
Sem muita dificuldade, dirigiu-se até a área externa do bar e, por sorte, a chuva ainda não havia aparecido. Encontrou um lugar para que pudesse se escorar e aproveitou o ar gélido batendo em seu corpo, já que adorava poder sentir seu corpo estremecer ao simples toque do ar gélido, e a única coisa melhor que aquilo seria se pudesse sentir o aroma das primeira gotas de chuva ao cair sobre a terra.
tomou um gole de sua água e fechou os olhos por um momento, sem imaginar que alguém estava logo atrás dela.
— Cansou de ensinar seus amigos como dançar? — questionou, mas a voz calma não foi o suficiente para evitar o susto que a garota tomou em seguida.
Em um movimento rápido, virou-se para trás e derrubou todo o restante do líquido na camiseta do ser à sua frente.
— Oh meu Deus, Jasper, me desculpe! — Tentou amenizar o estrago da camiseta com as mãos, mas foi inútil. — Eu nem sei o que estou fazendo, caramba, eu sou tão desastrada.
— Não se preocupe, está tudo bem — Jasper proferiu, sorrindo, tentando acalmar a garota. — Foi um acidente e pelo menos é apenas água.
— Tudo bem, talvez essa tenha sido a coisa mais constrangedora que já me aconteceu, sem dúvida, sem comparação — disse e mordeu o lábio inferior em uma mania involuntária que fazia sempre quando estava nervosa.
— De verdade, não se preocupe. Agora, se me permite, acho que devemos nos apresentar corretamente. — Jasper sorriu, e após vê-la sorrir concordando com a cabeça, estendeu a mão para cumprimentá-la. — Sou Jasper Hale.
segurou sua mão e não estranhou sua pele ser tão fria. Os olhos dourados de Jasper estavam fixos sobre os seus e ela pôde jurar que, se ele continuasse a olhá-la com aquela mesma intensidade, leria sua mente.
Ainda assim, conseguiu focar em uma resposta rápida.
— É um prazer, Jasper — disse de forma sútil e cordial, não deixando de escapar um riso. — Eu me chamo , Volturi.
E, ao ouvir o sobrenome da garota, Jasper sentiu seu corpo petrificar. Não podia ser coincidência, ele sabia, mas naquele momento a única coisa que teve certeza era de que aquela noite seria longa.
FIM
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