Capítulo Único
Nota da autora: Opino que vocês coloquem Chandelier, da Sia, durante toda a leitura, quem achar chato e/ou repetitivo, coloquem só na hora e cena que preferirem. Tem uma cena fundamental da qual eu vou avisar pra colocarem, caso a pessoa não ouça no decorrer da história toda.
Caos. Era tudo o que eu via naquele quarto. Sentei na cama sentindo uma dor de cabeça deplorável, olhei ao meu redor e só via roupas de cama, roupas e meus sapatos espalhados pelo chão, escutei meu celular apitar e me levantei rapidamente, pegando-o em cima da mesa de cabeceira. Uma mensagem, de Carl. Carl era um dos chefes da redação jornalística na qual eu trabalhava, ele apenas sabia me mandar mensagens de cobranças de histórias semanais, estava pensando seriamente em me despedir, antes que fizessem isso por mim, eu não sou uma ótima trabalhadora, muito pelo contrário. Eis aqui a grande história da minha animada, e vazia, vida: Meu nome é , tenho 22 anos e trabalho numa redação jornalística da cidade de Londres, consegui esse emprego logo depois de me formar na faculdade, há uns meses atrás, não tenho muitos amigos, tenho muitos conhecidos, conhecidos de vida, de bebida, de drogas e essas coisas que só nos renegam a vida. Não tenho pais, nem avós, nem primos e nada relacionado à família, na verdade ter eu até tenho, todos tem, mas não me orgulho dos meus. Morava com meu pai e minha mãe até terminar o colegial, depois consegui passar pra uma faculdade e sai de casa, sem nenhum tipo de ressentimento por deixá-los. Meu pai era uma pessoa extremamente de difícil convívio, ele tinha distúrbio de personalidade, uma hora ele amava, outra ele odiava, já chegou a me agredir várias vezes. Minha mãe era mais uma dessas pessoas que só fez escolhas erradas e é amargurada pela vida, eu fui uma delas, com certeza.
Quando cheguei a cozinha vi na bancada um copo de wisky e uma maço de cigarro ao lado, rapidamente enchi o copo e acendi o cigarro, sábado pra mim era um dia sem preocupações, as únicas eram minhas bebidas, meu cigarro e a roupa da qual eu sairia à noite, mais um noite. Minutos depois ouvi um ritmo de batidas repetidas na minha porta.
- O que você quer, Mike? - Ralhei o olhar para Mike e um garoto que o acompanhava – que eu não conhecia – Mike era meu vizinho e eu sempre o encontrava em festas e raves.
- Quero saber o que você vai fazer hoje à noite. - O mesmo disse sorrindo.
- Sair, como eu sempre faço, pra beber, me drogar e essas coisas maravilhosas das quais eu faço. - Disse com um sorriso debochado no rosto.
- Ótimo, eu irei fazer o mesmo hoje, coincidência não? - Mike disse animado enquanto eu o olhava sem muita paciência. - E ah, esse é o , Jones, meu parceiro, ele não é muito dessas coisas porém eu estou o trazendo para o lado negro da força. - me olhou e soltou uma risada fraca. Ele era uma pessoa linda, tinha olhos azuis da cor do céu, o sorriso dele me acalmou de uma maneira estranha, retribui a risada com o máximo de sinceridade que pude, eu não era uma péssima alegre e muito menos simpática, marcas da vida, diria eu. Mas senti a necessidade de fazer o mesmo.
- Ok Mike, e aonde eu entro nisso?
- Ué, quero que você vá com a gente, você é uma das pessoas mais influenciáveis da cidade em relações as boates e festas raves, Bea queen. - Disse num tom brincalhão.
- Ok Mike, primeiro eu não te dou confiança e muito menos intimidade pra me chamar pelo apelido, muito menos pra colocar o queen em final de frase. Mas pra todo o caso eu iria sair mesmo e até a exata hora não tinha me aparecido companhia. Estejam prontos às 22:00 que eu passo no seu apartamento, se não estiveram, eu me mando e deixo vocês ai. - Disse e no momento seguinte bati a porta na cara deles, sem tempo pra ouvir respostas. Voltei o que estava fazendo antes de ser interrompida, peguei meu copo de wisky e me sentei no sofá, apoiei minha cabeça no braço do mesmo e fechei meus olhos, falei baixo para mim mesma:
- Drink, drink, drink, is the only thing you know to do well, queen.* - Me lembrei dessa frase de um filme antigo do qual eu tinha visto umas semanas atrás. Encaixava-se perfeitamente em quem eu era, em quem eu sou. Deixando as memórias me atingirem.
Flashback on.
- Pai, mãe? - Andei pela casa e ela estava totalmente fora de ordem, os móveis estavam todos espalhados por todo o caminho e eu ouvia uma discussão nada baixa vindo do andar de cima. Parei em frente à escada, incerta sobre subir ou não.
Fiquei sentada um tempo no primeiro degrau com a mochila no colo, os barulhos foram cessados do nada e eu ouvi passos se aproximando. Olhei pra cima e vi meu pai descendo com uma cara de fúria e com uma taça de uma bebida barata e qualquer, ele estava com os olhos vermelhos. Levantei-me rapidamente.
- Pai, tá tudo bem?
- Ah, minha filhinha, tão linda! - Ele disse se aproximando de mim e dando um carinho circular em minha bochecha.
- Pai? - A expressão dele foi mudando de calma por segundos para de um ódio insaciável.
- Tão linda, mas sempre que olho pra sua cara vejo o demônio da sua mãe estampada nela. - No segundo seguinte eu senti um tapa forte em minha cara. Fiquei atônita. Eu já sabia dessa personalidade bipolar do meu pai, mas ele nunca tinha chegado a me agredir, não fisicamente.
- Você é louco?! - Gritei com a mão na região dolorida.
- Eu sou louco sim, louco pra me livrar de você e da sua mãe.
Abri meus olhos, eles estavam inchados, eu chorei e nem percebi. Eu odiava essas lembranças de uma infância e uma adolescência instável, onde fui tratada como um nada, quando tudo sempre o que eu tentei fazer foi tirar meu pai da escuridão que era a vida dele, mas em uma hora, eu vi que os problemas mentais e a personalidade bipolar dele já não tinham cura, eu resolvi aceitar, e tentar, apenas tentar esquecer. Em vão. Isso tudo me transformou na pessoa horrível que sou hoje, vazia, totalmente vazia, que tenta por meio das drogas ilícitas e bebidas fechar esse buraco que eu tenho no meu coração e na minha alma. Por um milagre da vida eu consegui terminar a faculdade, milagre não, era uma coisa da qual eu gostava de fazer, trabalhei e estudei por isso, pelo menos um ramo da minha vida na qual eu me sentia realizada mesmo ultimamente eu não estar me dando muito bem no emprego. Coisas passageiras.
22h00
- , minha querida! Já estamos prontos. - Escutei assim que coloquei a mão na maçaneta, Mike e já estavam do outro lado da porta.
- O que eu disse sobre apelidos sem graça? - Ralhei mal educada.
- Desculpa , mas devo ressaltar que você está linda neste vestido. - O agradeci soltando um sorriso fraco. Pude perceber o olhar de em mim. Eu estava um vestido colado até um pouco abaixo dos seios, a partir dai ele era mais soltinho e rodado.
- E você, Jones, né? Não fala não? - Perguntei enquanto esperávamos o elevador.
- Falo sim, porém ainda não tive a oportunidade e nem algo produtivo a dizer, só gosto de ter conversas quando tenho o que conversar.
- Hum, gostei de você. - Falei lhe tocando o queixo rapidamente e entrando no elevador.
Cerca de 20 minutos depois estávamos em uma das maiorias baladas temáticas da cidade de Londres, já tinha vindo aqui algumas outras vezes, tinha lustres que me encantavam, o lugar era escuro, era perfeito pra mim. Logo, eu estava sentada no bar pedindo uma bebida qualquer já que naquela noite eu beberia todas que pudesse e aguentasse. estava sentado ao meu lado, ele me olhava como se quisesse desvendar um segredo. O olhei de volta, e ri.
- Você perdeu alguma coisa em mim, senhor Jones? - Perguntei enquanto me virava pra ele e virada um vidrinho de vodka pura. Sentindo aquilo descendo queimando pela garganta. Ai, aquela sensação.
- Perdi nada não – riu – Só estou me perguntando por que você é assim, o Mike me contou mais ou menos como você é. - O olhei parecendo meio perdida em suas palavras.
- Oi, assim como? O que o idiota do Mike falou sobre mim? Que eu sou uma vadia bêbada e que se droga? Se for isso, acredite. Porque é tudo verdade.
- Não, ele não me disse nada disse nada disso, só falou a verdade. Que você sai pra baladas praticamente todos os finais de semana, bebe, se droga. Nunca tem ninguém por perto, aparentemente não tem família e essas coisas que você sabe que faz. Mas eu acho que você não deveria fazer isso, não sei o que te leva a tais atos, mas você é muito bonita e pelo que sei tem um emprego legal como jornalista, se continuar assim só vai se prejudicar, ainda mais. - O olhei incrédula, não acreditando no quanto a facilidade era pra proferir aquelas palavras, pessoas honestas faltam em meu convívio.
- Olha só, você não é meu psicólogo e muito menos o meu amigo. A vida é minha, e se eu quiser desgraçar, eu desgraço, você nem ninguém tem que se meter, por favor, recolha-se a sua insignificância, Dito isso me levantei e fui andando em direção a pista de dança, as palavras de já bombeavam pela minha cabeça, eu odeio quando as pessoas dizem as verdades da minha vida na minha cara, só eu podia viver com esses demônios dentro de mim; Reconheci que a música que acabara de começar eu gostava, me identificava. Vi um aglomerado de pessoas bêbadas e me aproximei; Eles nem notariam minha presença mesmo.
(N/A: Coloquem a música quem não estava ouvindo.)
Fechei meus olhos e me deixei ser levada por aquele ritmo, mexia minha cintura de acordo com a sincronização da música. De longe pude ver o olhar de diretamente em mim, parecia um olhar triste, vazio, um olhar de quem sentia pena.
Party girls don't get hurt
Can't feel anything, when will I learn
I push it down, push it down
I'm the one "for a good time call"
Phone's blowin' up, they're ringin' my doorbell
I feel the love, feel the love.
Quando meu olhar cruzou o dele pude sentir pequenas gotas gordas de lágrimas descendo pelas minhas bochechas. Mas não, eu tinha que ser forte, tinha que ser forte aquela noite, pra mostrar pra que o que ele disse, era mentira. Provar uma mentira que era verdade.
I'm gonna swing from the chandelier, from the chandelier
I'm gonna live like tomorrow doesn't exist
Like it doesn't exist
I'm gonna fly like a bird through the night
Feel my tears as they dry
I'm gonna swing from the chandelier, from the chandelier
Senti uma vontade imensurável de sair correndo dali, de morrer até. Eu me balançava num ritmo leve, como se só estivesse ali eu e minha solidão. Foi como se ela tivesse me pego pra dançar. Mas como dizem, memórias não são só memórias, são fantasmas que sopram aos meus ouvidos, coisas quem nem eu quero saber.
And I'm holding on for dear life
Won't look down, won't open my eyes
Keep my glass full until morning light
'Cause I'm just holding on for tonight
Help me, I'm holding on for dear life
Won't look down won't open my eyes
Keep my glass full until morning light
'Cause I'm just holding on for tonight
On for tonight.
Quando a música acabou me senti perdida. Pude ver o olhar incerto e penoso de , mas quis ignorar, eu me senti atraída por ele, atraída fisicamente e mentalmente, ele mal me conhecia e já tinha jogado meia dúzia de verdades na minha cara, e eu nunca me permiti ser julgada assim por ninguém. Acho que todos os problemas que eu tive na minha infância e adolescência me fizeram criar uma barreira ao meu redor, me privando de tudo. Principalmente das coisas boas da vida.
Sai correndo dali quando fui parada por 1 ou 2 caras tentando me agarrar, procurava uma saída pelos fundos o mais rápido possível, quando vi uma porta, dava pra uma rua escura, vazia e calma. Escorreguei pela parede ao lado da porta e me permiti chorar, chorar alto e com soluços audíveis, colocando pra fora todo o peso do meu coração e alma. Eu não consegui largar o meu passado, aquilo era ridículo. Ouvi a porta sendo aberta e pude ver o olhar de varrer o local a minha procura, quando me encontrou agachou-se a minha frente.
- Me deixa em paz, vai atrás do Mike, vai atrás de alguma puta pra você comer. Eu nem te conheço, para de tentar bancar o psicólogo, você já me disse umas verdades, eu não preciso ouvi-las novamente, e você já viu que eu sou um louca. - Disse aquelas palavras em um quase sussurro, sendo surpreendida quando abriu os braços e me aconchegou nos mesmos. Eu não apresentei subjeção, apenas me permiti aquilo.
- Chora, faz bem a alma. - Disse enquanto acariciava meus cabelos. Eu não estava bêbada, mas o efeito das quais eu tinha bebido tinha feito um estrago no meu sistema circular. Eu estava um pouco tonta.
- Tem como me levar pra casa, por favor?
- Vamos.
**
Quando chegamos a meu apartamento eu não tinha coragem e nem o que falar a , ele tinha sido uma boa pessoa comigo nas últimas horas e eu não entendia o porquê, poucas pessoas tinham feito algo generoso em relação à mim nos últimos 22 anos.
- Você quer tomar alguma coisa? Eu acho que o Mike tem remédio pra dor de cabeça ou ressaca no apartamento dele.
- Não precisa. Eu tenho no banheiro, não estou tão mal assim. - Disse me sentando no sofá, vendo fazer o mesmo em seguida.
- , obrigada. Por ter me ajudado essa noite. Eu estou realmente um pouco mal esses últimos dias, estou exagerando nos meus exageros. - Soltei uma risada fraca.
- Sabe, eu não sei muito sobre sua vida e creio que você também não vá querer contar nada pra mim. Mas existem momentos na vida em que a melhor saída é seguir em frente. Focar em você, você e você. Deixar pra trás o que ficou pra trás. Respirar novos ares, conhecer outras pessoas, viver experiências novas. Ninguém vive de passado , você tem que aprender a deixá-lo de lado por mais difícil que seja. Feche essas suas cicatrizes, tenho certeza que assim elas não vão durar pra sempre. - Eu estava o olhando maravilhada. Ele parecia um anjo enviado pra acalmar as águas turbulentas que minha vida estava.
- Mike, você ligou pra ele? Ele deve estar nos procurando.
- Ele está bem, bem bêbado. - Riu e eu fiz o mesmo.
- Você pode dormir aqui essa noite? - Perguntei um pouco envergonhada, mal o conhecia, mas eu necessitava de uma companhia.
tinha dormido no sofá, enquanto conversávamos eu acabei caindo no sono ali mesmo, acordei na cama e pelo que eu tinha entendido ele tinha me deixado no quarto. Acordei e o vi deitado na sala, lembrei das nossas conversar de madrugada. Conversamos assuntos aleatórios, não falei nada da minha vida, admirei ter entendido essa parte. Ele contou que tinha 25 era formado em advocacia e trabalha em um dos escritórios do pai. Uma grande empresa de uma marca famosas dessas que vemos em comerciais televisivos. acordou afobado notando que eu o observava.
- Ai meu Deus, , desculpa, eu te atrapalhei dormindo aqui né? Você tem que ir ao trabalho? Ok, eu já estou indo. - Dito isso já se levantava colocando os sapatos.
- Não, hoje é domingo – ri – Não trabalho. Pode ficar pro café, se quiser, é claro.
- Ahn, se não for incomodo. - Disse coçando a nuca.
- Nenhum, forma de agradecimento. - O chamei em direção a cozinha. Fiz um café rápido com ovos, bacon e café. Comemos praticamente tudo em poucos minutos, nossa conversa fluía levemente e naturalmente, parecia que nos conhecíamos há séculos, ele era encantador, ficava mais a cada segundo, se aquilo era possível. Quando terminamos, ele me ajudou a tirar a mesa e eu lavei alguns copos, o levando até a porta.
- , eu gostei muito de você sabe – Ele falava baixo, com uma certa vergonha estampada no rosto – Eu queria saber se você aceitaria, sei lá, sair comigo pra jantar ou algo do tipo. Um encontro, talvez.
- Ah, claro. Digo... Porque não né? - Ele sorriu da maneira mais verdadeira que eu tinha visto.
- Hoje à noite eu passo aqui e te pego às 20h. Esteja linda, se isso for mais possível.
Eu não conhecia , não conhecia seus jeitos, suas manias, suas qualidades e muito menos seus defeitos, ele tinha um poder aliviador em minha alma. Podia ser apenas um encontro, podia ser o inicio de uma grande história de amor, com as dos filmes, ou podia ser o começo apenas de uma linda amizade. As poucas últimas horas que eu passei com ele eu pude ser eu sem fingir ser forte. Ele parecia mais minha fortaleza. E bom, daqui pra frente eu não sei como as coisas irão ficar, mas vou seguir seus conselhos “Existem momentos na vida que a melhor saída é seguir”. Não vou esperar pelo meu final feliz, porque talvez o meu final feliz seja só seguir em frente. Vou viver a vida, quem sabe eu encontro esse final, ou ele me encontra. Porque no fim das contas, tudo não passa de uma caixa de surpresas.
*Drink, drink, drink, is the only thing you know to do well, queen. - É uma frase do filme A Clockwork Orange, de 1971.
Caos. Era tudo o que eu via naquele quarto. Sentei na cama sentindo uma dor de cabeça deplorável, olhei ao meu redor e só via roupas de cama, roupas e meus sapatos espalhados pelo chão, escutei meu celular apitar e me levantei rapidamente, pegando-o em cima da mesa de cabeceira. Uma mensagem, de Carl. Carl era um dos chefes da redação jornalística na qual eu trabalhava, ele apenas sabia me mandar mensagens de cobranças de histórias semanais, estava pensando seriamente em me despedir, antes que fizessem isso por mim, eu não sou uma ótima trabalhadora, muito pelo contrário. Eis aqui a grande história da minha animada, e vazia, vida: Meu nome é , tenho 22 anos e trabalho numa redação jornalística da cidade de Londres, consegui esse emprego logo depois de me formar na faculdade, há uns meses atrás, não tenho muitos amigos, tenho muitos conhecidos, conhecidos de vida, de bebida, de drogas e essas coisas que só nos renegam a vida. Não tenho pais, nem avós, nem primos e nada relacionado à família, na verdade ter eu até tenho, todos tem, mas não me orgulho dos meus. Morava com meu pai e minha mãe até terminar o colegial, depois consegui passar pra uma faculdade e sai de casa, sem nenhum tipo de ressentimento por deixá-los. Meu pai era uma pessoa extremamente de difícil convívio, ele tinha distúrbio de personalidade, uma hora ele amava, outra ele odiava, já chegou a me agredir várias vezes. Minha mãe era mais uma dessas pessoas que só fez escolhas erradas e é amargurada pela vida, eu fui uma delas, com certeza.
Quando cheguei a cozinha vi na bancada um copo de wisky e uma maço de cigarro ao lado, rapidamente enchi o copo e acendi o cigarro, sábado pra mim era um dia sem preocupações, as únicas eram minhas bebidas, meu cigarro e a roupa da qual eu sairia à noite, mais um noite. Minutos depois ouvi um ritmo de batidas repetidas na minha porta.
- O que você quer, Mike? - Ralhei o olhar para Mike e um garoto que o acompanhava – que eu não conhecia – Mike era meu vizinho e eu sempre o encontrava em festas e raves.
- Quero saber o que você vai fazer hoje à noite. - O mesmo disse sorrindo.
- Sair, como eu sempre faço, pra beber, me drogar e essas coisas maravilhosas das quais eu faço. - Disse com um sorriso debochado no rosto.
- Ótimo, eu irei fazer o mesmo hoje, coincidência não? - Mike disse animado enquanto eu o olhava sem muita paciência. - E ah, esse é o , Jones, meu parceiro, ele não é muito dessas coisas porém eu estou o trazendo para o lado negro da força. - me olhou e soltou uma risada fraca. Ele era uma pessoa linda, tinha olhos azuis da cor do céu, o sorriso dele me acalmou de uma maneira estranha, retribui a risada com o máximo de sinceridade que pude, eu não era uma péssima alegre e muito menos simpática, marcas da vida, diria eu. Mas senti a necessidade de fazer o mesmo.
- Ok Mike, e aonde eu entro nisso?
- Ué, quero que você vá com a gente, você é uma das pessoas mais influenciáveis da cidade em relações as boates e festas raves, Bea queen. - Disse num tom brincalhão.
- Ok Mike, primeiro eu não te dou confiança e muito menos intimidade pra me chamar pelo apelido, muito menos pra colocar o queen em final de frase. Mas pra todo o caso eu iria sair mesmo e até a exata hora não tinha me aparecido companhia. Estejam prontos às 22:00 que eu passo no seu apartamento, se não estiveram, eu me mando e deixo vocês ai. - Disse e no momento seguinte bati a porta na cara deles, sem tempo pra ouvir respostas. Voltei o que estava fazendo antes de ser interrompida, peguei meu copo de wisky e me sentei no sofá, apoiei minha cabeça no braço do mesmo e fechei meus olhos, falei baixo para mim mesma:
- Drink, drink, drink, is the only thing you know to do well, queen.* - Me lembrei dessa frase de um filme antigo do qual eu tinha visto umas semanas atrás. Encaixava-se perfeitamente em quem eu era, em quem eu sou. Deixando as memórias me atingirem.
Flashback on.
- Pai, mãe? - Andei pela casa e ela estava totalmente fora de ordem, os móveis estavam todos espalhados por todo o caminho e eu ouvia uma discussão nada baixa vindo do andar de cima. Parei em frente à escada, incerta sobre subir ou não.
Fiquei sentada um tempo no primeiro degrau com a mochila no colo, os barulhos foram cessados do nada e eu ouvi passos se aproximando. Olhei pra cima e vi meu pai descendo com uma cara de fúria e com uma taça de uma bebida barata e qualquer, ele estava com os olhos vermelhos. Levantei-me rapidamente.
- Pai, tá tudo bem?
- Ah, minha filhinha, tão linda! - Ele disse se aproximando de mim e dando um carinho circular em minha bochecha.
- Pai? - A expressão dele foi mudando de calma por segundos para de um ódio insaciável.
- Tão linda, mas sempre que olho pra sua cara vejo o demônio da sua mãe estampada nela. - No segundo seguinte eu senti um tapa forte em minha cara. Fiquei atônita. Eu já sabia dessa personalidade bipolar do meu pai, mas ele nunca tinha chegado a me agredir, não fisicamente.
- Você é louco?! - Gritei com a mão na região dolorida.
- Eu sou louco sim, louco pra me livrar de você e da sua mãe.
Abri meus olhos, eles estavam inchados, eu chorei e nem percebi. Eu odiava essas lembranças de uma infância e uma adolescência instável, onde fui tratada como um nada, quando tudo sempre o que eu tentei fazer foi tirar meu pai da escuridão que era a vida dele, mas em uma hora, eu vi que os problemas mentais e a personalidade bipolar dele já não tinham cura, eu resolvi aceitar, e tentar, apenas tentar esquecer. Em vão. Isso tudo me transformou na pessoa horrível que sou hoje, vazia, totalmente vazia, que tenta por meio das drogas ilícitas e bebidas fechar esse buraco que eu tenho no meu coração e na minha alma. Por um milagre da vida eu consegui terminar a faculdade, milagre não, era uma coisa da qual eu gostava de fazer, trabalhei e estudei por isso, pelo menos um ramo da minha vida na qual eu me sentia realizada mesmo ultimamente eu não estar me dando muito bem no emprego. Coisas passageiras.
22h00
- , minha querida! Já estamos prontos. - Escutei assim que coloquei a mão na maçaneta, Mike e já estavam do outro lado da porta.
- O que eu disse sobre apelidos sem graça? - Ralhei mal educada.
- Desculpa , mas devo ressaltar que você está linda neste vestido. - O agradeci soltando um sorriso fraco. Pude perceber o olhar de em mim. Eu estava um vestido colado até um pouco abaixo dos seios, a partir dai ele era mais soltinho e rodado.
- E você, Jones, né? Não fala não? - Perguntei enquanto esperávamos o elevador.
- Falo sim, porém ainda não tive a oportunidade e nem algo produtivo a dizer, só gosto de ter conversas quando tenho o que conversar.
- Hum, gostei de você. - Falei lhe tocando o queixo rapidamente e entrando no elevador.
Cerca de 20 minutos depois estávamos em uma das maiorias baladas temáticas da cidade de Londres, já tinha vindo aqui algumas outras vezes, tinha lustres que me encantavam, o lugar era escuro, era perfeito pra mim. Logo, eu estava sentada no bar pedindo uma bebida qualquer já que naquela noite eu beberia todas que pudesse e aguentasse. estava sentado ao meu lado, ele me olhava como se quisesse desvendar um segredo. O olhei de volta, e ri.
- Você perdeu alguma coisa em mim, senhor Jones? - Perguntei enquanto me virava pra ele e virada um vidrinho de vodka pura. Sentindo aquilo descendo queimando pela garganta. Ai, aquela sensação.
- Perdi nada não – riu – Só estou me perguntando por que você é assim, o Mike me contou mais ou menos como você é. - O olhei parecendo meio perdida em suas palavras.
- Oi, assim como? O que o idiota do Mike falou sobre mim? Que eu sou uma vadia bêbada e que se droga? Se for isso, acredite. Porque é tudo verdade.
- Não, ele não me disse nada disse nada disso, só falou a verdade. Que você sai pra baladas praticamente todos os finais de semana, bebe, se droga. Nunca tem ninguém por perto, aparentemente não tem família e essas coisas que você sabe que faz. Mas eu acho que você não deveria fazer isso, não sei o que te leva a tais atos, mas você é muito bonita e pelo que sei tem um emprego legal como jornalista, se continuar assim só vai se prejudicar, ainda mais. - O olhei incrédula, não acreditando no quanto a facilidade era pra proferir aquelas palavras, pessoas honestas faltam em meu convívio.
- Olha só, você não é meu psicólogo e muito menos o meu amigo. A vida é minha, e se eu quiser desgraçar, eu desgraço, você nem ninguém tem que se meter, por favor, recolha-se a sua insignificância, Dito isso me levantei e fui andando em direção a pista de dança, as palavras de já bombeavam pela minha cabeça, eu odeio quando as pessoas dizem as verdades da minha vida na minha cara, só eu podia viver com esses demônios dentro de mim; Reconheci que a música que acabara de começar eu gostava, me identificava. Vi um aglomerado de pessoas bêbadas e me aproximei; Eles nem notariam minha presença mesmo.
(N/A: Coloquem a música quem não estava ouvindo.)
Fechei meus olhos e me deixei ser levada por aquele ritmo, mexia minha cintura de acordo com a sincronização da música. De longe pude ver o olhar de diretamente em mim, parecia um olhar triste, vazio, um olhar de quem sentia pena.
Can't feel anything, when will I learn
I push it down, push it down
I'm the one "for a good time call"
Phone's blowin' up, they're ringin' my doorbell
I feel the love, feel the love.
I'm gonna live like tomorrow doesn't exist
Like it doesn't exist
I'm gonna fly like a bird through the night
Feel my tears as they dry
I'm gonna swing from the chandelier, from the chandelier
Won't look down, won't open my eyes
Keep my glass full until morning light
'Cause I'm just holding on for tonight
Help me, I'm holding on for dear life
Won't look down won't open my eyes
Keep my glass full until morning light
'Cause I'm just holding on for tonight
On for tonight.
Sai correndo dali quando fui parada por 1 ou 2 caras tentando me agarrar, procurava uma saída pelos fundos o mais rápido possível, quando vi uma porta, dava pra uma rua escura, vazia e calma. Escorreguei pela parede ao lado da porta e me permiti chorar, chorar alto e com soluços audíveis, colocando pra fora todo o peso do meu coração e alma. Eu não consegui largar o meu passado, aquilo era ridículo. Ouvi a porta sendo aberta e pude ver o olhar de varrer o local a minha procura, quando me encontrou agachou-se a minha frente.
- Me deixa em paz, vai atrás do Mike, vai atrás de alguma puta pra você comer. Eu nem te conheço, para de tentar bancar o psicólogo, você já me disse umas verdades, eu não preciso ouvi-las novamente, e você já viu que eu sou um louca. - Disse aquelas palavras em um quase sussurro, sendo surpreendida quando abriu os braços e me aconchegou nos mesmos. Eu não apresentei subjeção, apenas me permiti aquilo.
- Chora, faz bem a alma. - Disse enquanto acariciava meus cabelos. Eu não estava bêbada, mas o efeito das quais eu tinha bebido tinha feito um estrago no meu sistema circular. Eu estava um pouco tonta.
- Tem como me levar pra casa, por favor?
- Vamos.
Quando chegamos a meu apartamento eu não tinha coragem e nem o que falar a , ele tinha sido uma boa pessoa comigo nas últimas horas e eu não entendia o porquê, poucas pessoas tinham feito algo generoso em relação à mim nos últimos 22 anos.
- Você quer tomar alguma coisa? Eu acho que o Mike tem remédio pra dor de cabeça ou ressaca no apartamento dele.
- Não precisa. Eu tenho no banheiro, não estou tão mal assim. - Disse me sentando no sofá, vendo fazer o mesmo em seguida.
- , obrigada. Por ter me ajudado essa noite. Eu estou realmente um pouco mal esses últimos dias, estou exagerando nos meus exageros. - Soltei uma risada fraca.
- Sabe, eu não sei muito sobre sua vida e creio que você também não vá querer contar nada pra mim. Mas existem momentos na vida em que a melhor saída é seguir em frente. Focar em você, você e você. Deixar pra trás o que ficou pra trás. Respirar novos ares, conhecer outras pessoas, viver experiências novas. Ninguém vive de passado , você tem que aprender a deixá-lo de lado por mais difícil que seja. Feche essas suas cicatrizes, tenho certeza que assim elas não vão durar pra sempre. - Eu estava o olhando maravilhada. Ele parecia um anjo enviado pra acalmar as águas turbulentas que minha vida estava.
- Mike, você ligou pra ele? Ele deve estar nos procurando.
- Ele está bem, bem bêbado. - Riu e eu fiz o mesmo.
- Você pode dormir aqui essa noite? - Perguntei um pouco envergonhada, mal o conhecia, mas eu necessitava de uma companhia.
tinha dormido no sofá, enquanto conversávamos eu acabei caindo no sono ali mesmo, acordei na cama e pelo que eu tinha entendido ele tinha me deixado no quarto. Acordei e o vi deitado na sala, lembrei das nossas conversar de madrugada. Conversamos assuntos aleatórios, não falei nada da minha vida, admirei ter entendido essa parte. Ele contou que tinha 25 era formado em advocacia e trabalha em um dos escritórios do pai. Uma grande empresa de uma marca famosas dessas que vemos em comerciais televisivos. acordou afobado notando que eu o observava.
- Ai meu Deus, , desculpa, eu te atrapalhei dormindo aqui né? Você tem que ir ao trabalho? Ok, eu já estou indo. - Dito isso já se levantava colocando os sapatos.
- Não, hoje é domingo – ri – Não trabalho. Pode ficar pro café, se quiser, é claro.
- Ahn, se não for incomodo. - Disse coçando a nuca.
- Nenhum, forma de agradecimento. - O chamei em direção a cozinha. Fiz um café rápido com ovos, bacon e café. Comemos praticamente tudo em poucos minutos, nossa conversa fluía levemente e naturalmente, parecia que nos conhecíamos há séculos, ele era encantador, ficava mais a cada segundo, se aquilo era possível. Quando terminamos, ele me ajudou a tirar a mesa e eu lavei alguns copos, o levando até a porta.
- , eu gostei muito de você sabe – Ele falava baixo, com uma certa vergonha estampada no rosto – Eu queria saber se você aceitaria, sei lá, sair comigo pra jantar ou algo do tipo. Um encontro, talvez.
- Ah, claro. Digo... Porque não né? - Ele sorriu da maneira mais verdadeira que eu tinha visto.
- Hoje à noite eu passo aqui e te pego às 20h. Esteja linda, se isso for mais possível.
Eu não conhecia , não conhecia seus jeitos, suas manias, suas qualidades e muito menos seus defeitos, ele tinha um poder aliviador em minha alma. Podia ser apenas um encontro, podia ser o inicio de uma grande história de amor, com as dos filmes, ou podia ser o começo apenas de uma linda amizade. As poucas últimas horas que eu passei com ele eu pude ser eu sem fingir ser forte. Ele parecia mais minha fortaleza. E bom, daqui pra frente eu não sei como as coisas irão ficar, mas vou seguir seus conselhos “Existem momentos na vida que a melhor saída é seguir”. Não vou esperar pelo meu final feliz, porque talvez o meu final feliz seja só seguir em frente. Vou viver a vida, quem sabe eu encontro esse final, ou ele me encontra. Porque no fim das contas, tudo não passa de uma caixa de surpresas.
*Drink, drink, drink, is the only thing you know to do well, queen. - É uma frase do filme A Clockwork Orange, de 1971.
FIM!
Nota da autora: Oi minha gente, olha que lindo eu participando de uma ficstape, ainda mais de uma das músicas desse albúm maravilhoso da Sia. 1000 Forms Of Fears tem bastantes músicas maravilhosa e tocantes. Enfim, eu não deixei a fic 100% parecida com Chandelier, apenas quis pegar a essência da letra mesmo. Que foi o problema da principal com os pais na infância e na adolescência e essa negação em esquecer e aceitar o que lhe aconteceu no passado. Quem já pesquisou um pouquinho sobre esse álbum sabe que a história dos pais e a dupla personalidade do pai é verdade. E deixei esse final mais pra imaginação de vocês mesmo. O encontro, se eles ficam juntos, se eles viram amigos ou algo do tipo. Mas o que eu quis passar criando esse principal é mostrar que sempre vamos ter alguém na vida que nos ajude a superar nossas dificuldades, por pior que elas sejam. Anyway, foi um prazer participar desse especial, e comentem pra eu saber o que vocês acharam, ok? Beijos! <3333
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