Capítulo Único
““Você é capaz de ser alguém que estará na minha vida?”
São Paulo, 14 de janeiro de 2015
Ao avistar um casal andando ou trocando olhares, sempre nos perguntamos onde eles se conheceram e em que momento perceberam que estavam apaixonados. Fechamos os olhos e torcemos incansavelmente para que um dia encontremos algo parecido.
Aos dezesseis anos, esbarrei com meu primeiro amor enquanto descia correndo as escadas da escola. Nossos olhares se conectaram e meu coração começou a pular como se estivesse numa escola de samba. Aqueles olhos me fizeram sair de órbita, e toda a timidez que habitava dentro do meu ser sumiu em milésimos de segundos.
— Oi, tudo bem? — acenei para ele, que já se encontrava no último degrau.
— Oi, . Tudo sim, e você? — me assustei ao ouvir meu nome. — Me chamo , sou do 3°A. Acho que você já ouviu falar da “sala do terror”!
Dei risada involuntariamente.
— Você é engraçado. Estou atrasada pra aula de Educação Física, preciso ir. A gente se vê por aí!
— Calma — ele desceu para o mesmo degrau que eu estava. — Você não pode sair assim sem antes me passar seu telefone!
Fiquei envergonhada com aquela situação. Era a primeira vez que um menino se interessava por mim.
— Vou te passar, mas promete que não vai me ligar à noite? Porque meu pai supervisiona meu celular, e ele não vai gostar muito de saber que estou falando com meninos.
Anotei meu número na palma de sua mão e agradeceu, me dando um beijo na bochecha. Então, continuei meu caminho até a quadra.
São Paulo, 14 de setembro de 2015
Já fazia oito meses que eu e estávamos namorando para valer. Depois de alguns desentendimentos causados por frustrações pessoais, resolvemos viver o maior momento das nossas vidas. Todos os meus medos e anseios foram sanados, e eu me sentia cem por cento feliz ao seu lado.
Todos esses meses foram insanos, momentos incríveis que foram marcados em nossa mente e coração. E para comemorar mais um mês juntos, resolvemos ir ao cinema assistir “Se Eu Ficar”, que contava a história de uma menina que presenciou a própria morte. não era fã de filmes dramáticos, mas sempre cedia por saber que eu amava assistir. Eu me sentia privilegiada por tê-lo em minha vida. Ele era extremamente fofo e o sonho de qualquer menina. Fiquei na sala de casa esperando ele chegar para pedirmos um Uber com destino
ao shopping mais próximo. Ao ouvir as batidas em minha porta, já comecei a ficar afoita. Me levantei e fui em direção ao hall de entrada, mas, conforme ia me aproximando, ouvi algumas vozes como se ele não estivesse sozinho. Estranhei, mas segui adiante. Ao abrir a porta, me deparei com acompanhado de Daniel e Gabriel, seus melhores amigos, e não consegui entender nada.
— Oi, amor! — ele me abraçou forte. — Trouxe os meninos para assistir o filme conosco no cinema — me virei e eles me cumprimentaram. — Sem problemas, né?
— Claro que não, amor — concordei, mas ainda tentava assimilar o que estava acontecendo. Aquele passeio tinha como objetivo comemorar o nosso tempo juntos, e não um encontro de amigos. Mas preferi ficar quieta, para não estragar ainda mais essa data tão especial.
— Você é incrível — ele segurou minha mão. — Vamos? O pai do Dan está nos esperando.
Peguei minha bolsa, fechei a porta e fomos em direção ao carro. Ao entrar, pediu para eu ir na frente, já que o carro era pequeno e os meninos cabiam no banco de trás. Permaneci calada o caminho inteiro, enquanto eles não paravam de tagarelar.
Até que recebi uma mensagem da minha melhor amiga, , perguntando como estava sendo a minha noite:
Oi, , tudo bem? Creio que não irá me responder agora, mas como está sendo o seu encontro com o ? 12:00
Oi, , estou bem e você? O encontro? Acho que
está ficando doido, porque ele simplesmente chamou o Daniel e o Gabriel pra nossa comemoração! 12:01
Como assim? Mas pelo menos ele está com você, né? 12:02
Ele está no banco de trás com os meninos enquanto estou na frente junto com o pai do Daniel. Espero que pelo menos no shopping ele fique ao meu lado. Amiga, vou ter que sair um pouco, acabamos de chegar. Depois te conto tudo! Beijooos <3 12:03
Beijos, amiga, qualquer coisa é só chamar <3 12:03
Desci do carro e fiquei esperando os meninos se ajeitarem para entrarmos. entrelaçou nossas mãos e enfim começamos a andar em direção ao cinema. Neste caminho, não trocamos uma palavra sequer, pois os três não paravam de falar sobre o jogo de Flamengo e Corinthians que aconteceria mais tarde. Aquilo estava me irritando de uma tal maneira, porque eu sonhei com aquele dia durante um mês inteiro e obviamente não estava saindo da forma que planejei.
Chegamos perto da bilheteria quando os amigos de pararam em frente ao um poster, viram que havia um filme de ação em cartaz e começaram a suplicar para assistirmos. Então, chamei-o de canto e mandei a real:
— , o que está acontecendo? — questionei, e ele me olhou confuso. — Hoje era para estarmos nós dois aqui na merda desse cinema e você traz seus amigos para o dia da nossa comemoração.
— , eu não achei nenhum problema trazê-los. Faz exatamente oito meses que não saio com os caras.
— Eu nunca impedi você de sair com os meninos, porque, primeiro, eu não sou sua dona — olhei dentro dos seus olhos. — E o nosso relacionamento não é baseado em quem manda ou desmanda. Não precisamos omitir quando estamos insatisfeitos com algo.
— Então, eu estou realmente insatisfeito — ele bufou. — Parece que minha vida é sugada por você. Nesses últimos meses eu não tive oportunidade de sair com os caras, somente vou para sua casa, ficamos juntos o tempo todo. E isso está me incomodando.
Fiquei calada depois de ter despejado sua raiva. Meus olhos ameaçaram a se encher de lágrimas, mas as contive e segui para a bilheteria. Para aliviar aquela tensão, decidi assistir o filme junto com eles. Entreguei os bilhetes para cada um e me sentei num banco próximo enquanto eles compravam pipocas e chocolates. Observei a felicidade de por estar com seus amigos e me senti culpada por privá-lo desses momentos. Sem ele perceber, me levantei, subi as escadas que davam acesso à saída do shopping e voltei para casa.
São Paulo, 18 de dezembro de 2015
O dia mais almejado chegou… Minha formatura, e nada daria errado. Estive planejando este dia desde do início no ensino médio. Estava me formando ao lado do meu namorado.
Ficamos separados por dois meses depois do acontecimento no shopping. Assim que cheguei em casa, mandei mensagem para terminando o nosso relacionamento. Fui bem cuzona, mas não tinha o que fazer. Entendi que eu estava atrapalhando sua vida e tentando controlá-lo, então decidi me afastar mais ainda. Tive certeza que ele correria atrás de mim para tentarmos nos acertar, e, no final, ele não voltou. Foram os dois meses mais agoniantes da minha vida. Nos encontrávamos pelos corredores da escola, mas não trocávamos nenhuma palavra. No fim de novembro, ele me enviou uma mensagem suplicando para que reatássemos o nosso relacionamento porque não conseguia viver sem mim, estava infeliz e tinha certeza que só conseguiria realizar meus sonhos se eu estivesse ao seu lado, e agora estávamos curtindo o nosso baile de formatura.
Fui ao banheiro para retocar a maquiagem enquanto conversava com seus amigos. Assim que entrei, fui diretamente ao espelho para verificar a minha situação. Retoquei meu batom e estava pronta para arrasar novamente. Ao sair, recebi uma mensagem dele:
Oi, amor, vem aqui na escada que nos encontramos pela primeira vez! Tenho uma surpresa para você <3 23:30
Saí correndo para encontrá-lo, e só escutava as pessoas reclamando conforme ia esbarrando nelas. Eu tinha certeza que fiz a melhor escolha de namorado – ele era extremamente romântico, amigo e compreensivo, fazia com que eu me sentisse amada, desejada e feliz.
Me aproximando, acabei vendo um movimento estranho. Ali no nosso local não havia somente ele, como também agarrada em seu pescoço enquanto se beijavam.
— Que porra é essa? — gritei, e ambos se soltaram. — O que está acontecendo aqui?
— , não é isso que está pensando — ele veio em minha direção, mas me desviei.
— Qual sua desculpa? Vai dizer o quê? — as lágrimas começaram a rolar. — Não vem querer colocar a culpa em mim como você sempre faz, porque eu estou CANSADA!
— , deixa eu explicar, por favor! — começou a chorar. — Não foi nada planejado, simplesmente rolou. Estamos juntos desde que vocês terminaram.
A minha cabeça rodava como se estivesse em algum brinquedo radical. Eu não estava acreditando nisso, meu namorado e minha melhor amiga me traindo. Nunca senti uma dor tão grande como aquela. Era para ser a noite perfeita das nossas vidas, e ver a escola toda parada observando cada reação minha me deixava com os nervos alterados.
— Não me chama de , não tem o que explicar — flashes das nossas conversas antes do meu término começaram a passar pela minha mente. — Por isso que na noite em que terminei com ele você disse que foi o melhor que fiz? Porque o caminho estava livre, não é? Você sabia de tudo! Eu te contava tudo sobre a minha vida porque você era minha melhor amiga, mas olha o que você fez… Na verdade, olha o que vocês fizeram… Eu me sinto uma palhaça, vocês se merecem!
Saí correndo sem olhar para trás. Enquanto isso, sentia os flashes passando sobre mim. Eu não conseguia parar de chorar; queria muito entender o motivo de estar passando por isso, logo eu, que sempre me dediquei para fazê-los felizes e, no fim, descobrir da pior forma que não era e nunca foi recíproco.
Los Angeles, 20 de janeiro de 2018
Fazia uma semana que eu havia me mudado para a Califórnia e ainda encarava tudo como novo. Algumas caixas estavam jogadas pela casa, e eu não tinha nenhuma vontade de arrumá-las. Depois de ter passado esses últimos anos em São Paulo sem sair direito e tendo a minha mãe ao meu lado, acabei me desacostumando em fazer as coisas sozinhas.
Os últimos anos não foram fáceis – eu me sentia cansada após as inúmeras tentativas de estar completa depois de uma decepção. A pressão da família e amigos depois do meu término era assustadora. Eu não conseguia sair de casa sem ter a sensação de medo – em qualquer lugar que eu ia, me lembrava dos momentos passados com e ficava questionando o motivo de ele estar noivo de . Foi doloroso continuar caminhando, muitas das vezes sem rumo, me sentindo um lixo como ser humano, com medo de ser feliz ou até mesmo de estar ao lado de alguém, porque mesmo não tendo um vínculo amoroso, eu me sentia dependente. Sentia que só conseguiria realizar os meus sonhos se ele estivesse ao meu lado.
Fui tirada dos meus pensamentos com a campainha da minha casa tocando. Me levantei do sofá, calcei minhas pantufas e corri para atender.
— Senhora , tudo bem? — assenti enquanto o homem carregava uma caixa. — Desculpe, nem me apresentei. Me chamo John e fui o responsável pela sua mudança. Só vim até sua residência para lhe entregar essa caixa que esquecemos em nosso estoque.
— Obrigada, John, nem me atentei a isso. Agradeço de coração.
Ele me deu o protocolo de entrega para assinar e caminhou de volta para o carro.
Fechei a porta e fui ao meu quarto carregando aquela caixa um pouco pesada e tentando imaginar o que estaria ali dentro. Sentei em minha cama e, com cuidado, a abri. Me assustei ao ver que justamente naquela caixa encontrava-se os pertences de e todas as cartas que eu escrevia para ele. Na nossa última discussão, ele me entregou todos os presentes e só falou para eu esquecer tudo o que havíamos vivido. Minha mente se perguntava o motivo dessa caixa ter retornado. Ela poderia ter sido jogada do caminhão de mudança ou ter se perdido entre tantas outras, mas ela simplesmente voltou.
Passei a tarde lendo cada uma daquelas cartas e só pensando no quanto eu era idiota em me culpar por todas as nossas brigas. Ele me tinha nas mãos e sabia muito bem que, se estalasse o dedo, eu voltaria sem pensar duas vezes. Deixaria todas as minhas dores de lado e viveria cada minuto intensamente, porque era isso que importava: estar com ele.
No fundo da caixa, encontrei meu caderno onde eu escrevia tudo o que sentia no fim das nossas brigas, e lá se encontrava o relato da minha despedida:
21 DE DEZEMBRO DE 2015
Oi, do futuro!
Você ainda está depositando seus sentimentos nesse caderno? Não sei o que está fazendo, mas, neste exato momento, me encontro à beira da varanda tentando sanar as dores que tanto nos machucam. Essa semana conseguimos sair de uma relação não tão favorável, e como doeu. É estranha a sensação de não estar mais com ele rondando os cômodos da nossa casa. foi o nosso primeiro amor, o primeiro que nos compreendeu, que ria das nossas piadas sem graça, que nos abraçava enquanto o mundo queria nos atacar. Porém, com o passar dos anos, ele se tornou a pessoa que mais nos machucou. Nosso maior vilão sempre foi nosso subconsciente (espero que tenhamos superado), que insistia em dizer o quanto éramos fracassadas por não sermos o suficiente para ele. E imaginar que todas as meninas do mundo sonhavam com aquilo que nós tínhamos em casa, mas ainda assim não nos sentíamos capazes de viver tais momentos. Nossas inseguranças nos engolem como monstros famintos. Olhar ao redor daquela casa com pequenos destroços espalhados pelo chão depois da nossa última tentativa de reconciliação fez com que meus olhos se enchessem de água. Ele nos traiu não só com pessoas, mas também com mentiras que nos fizeram enxergar um lado incrível nele. Sinto saudades do início do nosso namoro recheado de momentos incríveis, surpresas, viagens românticas para o litoral junto com nossas famílias, músicas dedicadas a mim, dos beijos apaixonados…
… Desculpe, precisei me recompor. Como ia dizendo, tudo isso nos fazia a menina mais feliz, mas ele nunca estava satisfeito com a nossa vida. Dizia com todas as letras que estava infeliz naquela relação, mas ele sempre ficava, nunca ia embora. Só que, depois de anos, eu comecei a entender que muitas das vezes a gente se prende em algumas situações, talvez por rotina ou por não ter coragem de simplesmente ir embora. Não sei por quanto tempo durará nossa decisão, mas estou orgulhosa de ter tomado esse rumo. Espero que possamos curtir um pouco das férias que nos resta, mudar nossos ares e, quem sabe, com dezoito anos possamos desfrutar dos nossos sonhos!
Espero que estejamos curadas e felizes.
Com amor, .
Lágrimas rolavam pelo meu rosto. Lágrimas de felicidade por estar bem, por ter seguido o rumo correto, mesmo tropeçando. Não tinha mais de onde tirar forças. Eu acabava sempre me levantando e lutando pela minha família, principalmente por mim.
Não foi fácil superar tudo o que me afligia. Doeu muito, mas hoje não doía mais. Todas as minhas feridas estavam curadas. Minhas asas foram cortadas todos esses anos que passei ao lado de , e sabe o mais engraçado? Eu não me arrependia de tê-lo conhecido, pois com tudo isso eu amadureci e pude conhecer uma mulher forte e destemida, e de uma vez por todas entender que eu estava mais forte sozinha.
Fim
Nota da autora: Oi leitoras lindas, tudo bem? Primeiramente quero dizer que foi um prazer participar desse ficstape ❤️ Espero que tenham gostado da história e comentem o que vocês acharam da história!!
Com amor, Mi
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Com amor, Mi
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