01. Fortnight

Finalizada em: Janeiro de 2025

Capítulo único

POV null


Não é tão difícil ser a esposa perfeita. Você só tem que estar lá para receber seu marido com o seu melhor sorriso, portada de uma roupa de marca bonita, o cabelo sempre arrumado, e um salto um tanto quanto desconfortável para usar dentro de casa. Bom, nem sempre precisava ser assim, só quando os queridos paparazzis ficavam o esperando do lado de fora da casa para saber algo sobre um novo filme, e corria o risco de tirarem fotos da nova esposa do aclamado diretor.

Malditos paparazzis.

Exatamente por isso eu pedi a null para nos mudarmos e ele providenciou uma casa em um condomínio de luxo na Flórida, que estava virando alvo dos famosos pela privacidade garantida. E, meu Deus, era ótimo não se sentir observada o dia todo, eu podia me dar o luxo de ficar descalça na minha própria casa, usar roupas confortáveis e trocar os flashes das câmeras por um copo de whisky e um cigarro. Eu até comecei a aproveitar o ar livre e virar a própria paparazzi dos poucos vizinhos que tínhamos. Estava tão preocupada em esconder a minha vida, que não lembrava o quão divertido era observar a vida dos outros e até cheguei a me questionar se o que os paparazzis faziam era tão errado assim. Foi assim que eu vi o momento exato em que um caminhão parou em frente a casa vizinha a nossa, que estava vazia até aquele momento. Eu supus que era uma questão de horas até os novos vizinhos chegarem, e foi o que aconteceu. Eles se casaram há alguns anos atrás, a diferença de idade gritante, sem falar na rapidez que levou para o canullento, o que foi uma polêmica na época. Não tinham filhos, apesar dela já ter umas duas filhas que podiam ser namoradas dele se quisessem. Já tinha ouvido falar de como o rosto antipático dela deixava transparecer sua personalidade igual, mas ele… Ele conseguia ser o mais doce dos homens, assim como sua aparência angelical mostrava, os olhos cor de oceano contrastavam perfeitamente com os cabelos escuros, e a única coisa de diferente nele era aquele corpo, que havia mudado com o tempo, mas… quase deixei cair a xícara de café ao encará-lo, mas me recompus a tempo suficiente de dar o meu melhor sorriso e estender a mão para os outros vizinhos que caminhavam na calçada. Percebo seu olhar voltado completamente para mim, seu semblante tão surpreso quanto eu estava naquele momento. Ironicamente pensei que não era tão difícil para ele ser o marido perfeito. E, por um breve momento, também pensei se não seria melhor ter ficado com os paparazzis.
“Oi, sejam bem vindos.” Me aproximo do casal com um sorriso tímido. “Meu nome é null.” Falo, apesar dele com certeza já saber meu nome.
“Ah, prazer null. Eu sou a null e esse é meu marido…” null. É, eu com certeza lembrava o nome dele. Ela dá um sorriso, que logo se desfaz ao avistar os homens colocando algum móvel no lugar errado, e se afasta.
“Como você está?” Ele pergunta com o olhar fixado no meu, não se deixando distrair com as reclamações de null no fundo, mas eu ainda estava muito atônita para responder. “Bem, eu espero.” Sinceramente, ao vê-lo bem na minha frente naquelas circunstâncias, eu não sabia ao certo como responder aquilo. Sim, eu estava bem quando nos conhecemos naquela festa de jovens de 17 anos que estavam testando as misturas mais doidas de bebida. Eu estava bem quando você me arrastou para longe dos nossos amigos em comum e demos nosso primeiro beijo. Ah, e quando embarcamos numa viagem muito aleatória de alguns dias com os outros. Foi lá que, ocasionalmente, a gente passou a primeira noite juntos e, sim, eu estava perfeitamente bem. Eu estava ótima quando você passou no teste do papel de personagem principal daquele filme e na festa de comemoração me apresentou para seus pais. Eu não estava tão bem assim quando surgiram os boatos de namoro com uma mulher 30 anos mais velha que você e principalmente quando foi confirmado. Eu estava péssima quando soube da notícia do canullento, e foi justamente nessa época que eu encontrei null. Ele com certeza não era o melhor homem de todos, mas me fez ficar bem de novo, em meio aos boatos meio verdadeiros de que eu havia virado uma alcoólica funcional. Então, null, eu não sei se era isso que você queria ouvir, mas…
“Estou indo, e você?”
“Podemos dizer que eu também.” Ele solta um riso leve, mostrando aqueles dentes perfeitamente brancos.
“Que bom para você. Eu preciso entrar, daqui a pouco meu marido chega e não quero atrapalhar vocês.”
“Você não atrapalha…”
“Foi um prazer conhecer você e sua esposa, senhor Johnson.”
null…”
“A gente se vê por aí.” Forço um sorriso novamente ao perceber que ele já havia se desfeito há muito tempo e me viro para entrar em casa o mais rápido possível, a tempo da primeira lágrima sair.
null chegou algum tempo depois, cansado demais para falar como havia sido o seu dia, e deu apenas um beijo de boa noite e foi para o quarto. Eu mentiria se dissesse que não senti um perfume feminino vindo de sua camisa, mas talvez fosse só impressão.
Era difícil me acostumar a ter null como meu vizinho e consequentemente vê-lo quase todos os dias. Eu saía de casa e dava de cara com ele pegando alguma correspondência ou sua esposa regando as flores com aquela postura de mulher mais velha e madura, quando na verdade não passava de uma filha da puta arrogante.
“Bom dia.” Retribuo o cumprimento dela de longe antes de vê-la entrar na casa e, quase que ao mesmo tempo, null sair de dentro dela.
“Bom dia, vizinha.” Ele acena e começa a correr para o lado oposto ao meu.
Ainda fiquei alguns longos minutos o observando se afastar na rua e entro em casa, decidida a fazer qualquer coisa para me distrair. Eu havia começado a escrever depois de ter percebido que estava à mercê de null, e planejava publicá-las. Histórias de amor e drama, onde tudo era possível. Tudo o que não era mais possível fazer, pelo menos não agora. Não com ele.
Sou forçada a parar a escrita ao escutar o barulho da campainha e vou atender a porta, dando de cara com meu novo vizinho, agora com as roupas meio suadas e as bochechas coradas, devido a corrida. Será que Deus estava tentando me testar hoje?
“Oi…”
“Pensei que a gente já havia se cumprimentado.”
“Eu posso entrar?”
“Por quê?”
“Eu só quero conversar.” Abro espaço para null passar e assim ele o faz, passando os olhos por todo o cômodo antes de voltá-los a mim. “A null foi resolver umas coisas do novo filme dela e eu vou precisar me arrumar para sair também daqui a pouco. Senti que a gente precisava conversar.”
“Sobre o que exatamente?” O guio até a cozinha, sentando num dos bancos da ilha e o observo se sentar de frente a mim.
“Sobre como as coisas ficaram.”
“Como você deixou as coisas.”
“Sim, eu fui muito irresponsável.”
“Tudo bem, éramos jovens. Jovens fazem escolhas irresponsáveis. O que importa é que seguimos nossas vidas.”
“Você… É feliz com ele?”
“Claro que eu sou, null! E eu não vejo motivo de você estar perguntando isso agora. Você podia ter me procurado há muito tempo, mas, por conveniência, quando viramos vizinhos, você acha que é de bom tom vir aqui pra perguntar como estão as coisas?”
null, eu sei que…”
“Não, você não sabe! Você tem noção do que eu senti quando descobri pelo Instagram que você e aquela mulher estavam juntos? Uma mensagem, você não me mandou uma mensagem. Eu estava bem, eu estou bem, e não é você e sua culpa repentina que vão estragar tudo!” Jogo tudo na mesa, sentindo meu corpo esquentar com o efeito da mais pura adrenalina e as lágrimas se formarem nos meus olhos. Eu só não tinha percebido o quão próxima havia ficado dele e o quão errado isso era, porque null continuava irresistível.
“Me desculpa. Eu não devia ter vindo…” Seus olhos marejados enquanto encarava o chão me atingiram em cheio. Ele tinha total culpa no cartório, mas ao mesmo tempo se permitia sentir essas emoções e isso era o que havia feito eu me interessar nele.
“Eu gosto de você, null. Eu nunca deixei de gostar…”
“Eu também…”
“Mas você fez uma escolha e vai ter que lidar com ela, assim como eu. Por isso não quero saber seus motivos, nem nada do tipo. Eu só quero que você entenda.”
“E eu entendo. Você não tem noção do quão importante é para mim. Eu acabei percebendo isso tarde demais.” Suas mãos encostam nas minhas, um toque cauteloso, mas certeiro, que dura por alguns segundos, mas sendo suficiente para atingir todo o meu corpo. Só aí eu me toquei da falta que eu sentia daquele toque. Dele. E que obviamente eu tentei escondê-la ao me casar com null.
“Podemos ser amigos…” Sugiro, já sabendo que iria me arrepender da proposta.
“Você está falando sério?”
“Claro, por que não?” Talvez porque eu quisesse me jogar por cima da ilha e beijá-lo nesse exato momento, mas era apenas um detalhe.
“Amigos então.” Ele estende a mão novamente, dessa vez para um aperto, e eu faço o mesmo, sentindo novamente o arrepio por todo o meu corpo. Definitivamente Deus estava me testando hoje.
Mais alguns dias passaram e o clima entre eu e null havia melhorado consideravelmente, apesar da vontade constante que eu sentia de tê-lo para mim. Uma ótima relação entre dois vizinhos, claro.
“Que belo moletom.” null fecha a caixa de correio e vem na minha direção ao me avistar saindo de casa, apontando para o moletom. “Eu lembro que você gostava de The Cranberries, mas pensei que era uma coisa da época.”
“Ainda gosto, mas não se fazem músicas como antigamente… Não aceito que você ainda lembra.” Rio incrédula, parando de frente ao meu carro e ele lança um sorriso nostálgico.
“Como poderia esquecer? Você me fez ouvir Linger tantas vezes que eu até comecei a gostar!”
“Ah, então foi você quem se converteu! Pensava que eu estava te irritando.”
“Nunca! Suas recomendações musicais eram sempre ótimas. Falando nisso, tem alguma banda nova para me indicar?”
“Na verdade, tenho sim. Esses dias estou ficando meio viciada em The Neighbourhood.” Viciada era pouco. Eu respirava aquelas músicas. Jesse Rutherford era praticamente um novo profeta, na minha opinião.
“Ah sim, já ouvi falar deles. Vou tirar minhas próprias conclusões e depois te falo o que achei. Até mais!” Aceno com a cabeça e o observo se afastar até sua casa enquanto eu entrava no carro.
Eu nunca liguei muito para as redes sociais e as notícias que rolavam soltas na internet. Talvez por isso eu fosse a esposa perfeita para null. Então foi fácil me isolar e não saber mais notícias do aparente canullento perfeito de null e null na época, ou flagras meus com a cara inchada depois de alguma noite de bebedeira antigamente. Mas claro, até o mais isolado dos monges precisa ter contato com o exterior de vez em quando. E, sinceramente, acho que talvez tivesse até uma influência de alguma força sobrenatural que luta pelo direito das mulheres e tudo o mais, que me forçou a olhar o Instagram aquela tarde enquanto tomava chá com meus pais. O assunto mais comentado no momento? O famoso diretor null null é flagrado saindo de mãos dadas com uma loira misteriosa, que claramente não era eu. E tudo que eu conseguia pensar era na ironia disso tudo. Primeiro null, depois minha vida de alcoólatra e agora isso.

Malditos paparazzis.

Foi uma questão de alguns longos minutos até eu começar a receber as mensagens de amigos e parentes perguntando como eu estava, enquanto null não havia sequer mandado uma mensagem para tentar justificar algo. Claro que nosso canullento não era perfeito, mas traição? Me deixei ser consolada pelos meus pais, enquanto pensava em como deveria reagir a isso tudo. Seria justificável eu não querer levantar da cama pelas próximas três semanas mas eu simplesmente não conseguia. Eu não queria e nem devia parar a minha vida por null. Na verdade, arrisco dizer que a minha vida já estava parada naquela altura do campeonato. Talvez não por culpa dele totalmente, eu tinha uma grande parcela de culpa, mas foi tudo por ele. Eu realmente merecia parar a minha vida para sofrer com um copo de whisky em uma mão e um cigarro na outra, quando não era capaz de soltar uma lágrima desde que eu havia descoberto? Mas, por outro lado, a mídia adora uma corna desconsolada. E, claro, eu literalmente comecei esse monólogo falando que não ligava para as redes sociais e blá blá blá, mas null continuava sendo um filho da puta de um traidor. Ele merecia, vai.
“Como você pôde fazer isso comigo?” Essa não era bem a pergunta. null era um homem rico, famoso e influente. Ele podia fazer o que quisesse, se a gente for pegar por essa lógica. Mas há quanto tempo eu estava perdendo meu tempo me dedicando a ele? Limpei o rímel que havia borrado após saírem algumas lágrimas e me viro para o homem que se levantou assim que me viu passar pela porta.
“Então você viu?”
“Se eu vi?” Solto um riso irônico. Nem um ‘não é isso que você está pensando’? “Óbvio que eu vi, assim como estou vendo uma marca de batom na sua camisa nesse exato momento. Nada discreto, senhor null.”
“Meu amor, foi só uma aventura. Você sabe que quem eu amo é você.” Ele me segue enquanto eu subia as escadas e ia direto para o quarto. “Você veio sozinha?” Ele questiona, provavelmente por pensar que eu traria alguém comigo e, sinceramente, até eu me perguntava o motivo de ter negado toda e qualquer ajuda.
“Claro, null, eu não quero causar uma cena.” Pego a primeira mala que vejo e as roupas que estavam mais próximas no guarda roupa e jogo tudo de qualquer jeito. “Eu vou ficar nos meus pais, você já deve imaginar isso.”
“E a gente?”
“Não tem mais a gente.”
“Mas seu aniversário é daqui há algumas semanas e você sabe que eu e seu pai estávamos organizando…” Claro, a maldita festa. Onde meu aniversário era só um pretexto para promover a marca financiada por ele e pelo meu pai.
“Sinceramente? Eu não quero nem pensar nisso agora, depois a gente resolve.” Ele assente com a cabeça, aceitando que claramente eu não ficaria naquela casa.
O deixo sozinho no quarto e faço todo o caminho, deixando a porta aberta e me dirigindo até os repórteres que aguardavam ansiosos na entrada.
“Vocês não queriam uma entrevista com ele? Fiquem à vontade.” Deixo a porta aberta e observo de soslaio enquanto eles avançavam no homem, que tinha um semblante confuso à medida que todos o perguntavam há quanto tempo estava acontecendo o caso e coisas do tipo. Claro que eu já havia dado uma palhinha antes de entrar na casa. “E façam seu trabalho direito, rapazes, quero descobrir como foi isso tanto quanto vocês.” Limpo o resto do rímel que havia deixado escorrer no rosto e abro a mala para guardar tudo que havia conseguido pegar.
null!” Olho para o lado e vejo null se aproximando com um moletom e capuz, na tentativa de não ser reconhecido pelos repórteres, mas felizmente eles estavam ocupados com outra coisa. Sim, talvez tivesse sido uma decisão um tanto quanto imprudente, mas mulheres traídas agem por impulso às vezes. Entretanto, seu rosto não continha nenhum semblante irritado, mas sim preocupado. “Como você está?”
“No fundo eu sabia, só me custou perceber.” Dou um sorriso leve e toco em sua mão, já me arrependendo do feito. “Mas eu estou bem, vou ficar bem.” Acaricio sua mão e ele devolve o sorriso, fazendo o mesmo. Acho que nem ele acreditava nisso. Será que havia acreditado quando eu falei que estava feliz com null? Será que eu iria voltar a vê-lo? “Melhor a gente não prolongar muito, eles podem acabar notando algo.” Ele assente com a cabeça, soltando a minha mão, mas continuando no mesmo lugar.
“Tem razão… Mas eu não quero me afastar de você, não de novo. Sinceramente, é muito difícil ter amigos nessas circunstâncias, e você é uma ótima companhia…”
“Claro, por que não?” Talvez pelo mesmo motivo de antes, imbecil. “Você sabe onde meus pais moram, não é?” Ele assente com a cabeça novamente e sorri com o convite, e também passo meu número para trocarmos mensagem.
Eu sabia que não iria voltar a vê-lo. Claro que eu queria que ele viesse, e eu até achava que ele queria ir, mas não o julgaria se não o fizesse e, convenhamos, era melhor assim. Para mim não tenho muita certeza, mas para seu canullento, que, apesar da amável esposa dele, parecia valer alguma coisa, diferente do meu. E não é como se eu tivesse a chance de tê-lo novamente, não é? Por um momento eu até pensei que sim.



Fim.



Nota da autora: O triste caso da autora que acabou sem prazo para escrever o resto da história. Mas, pelo lado bom, essa fic com certeza vai ter continuação, então podem aguardar tão ansiosas quanto eu!! Essa talvez seja uma das minhas personagens mais elaboradas, estou extremamente feliz com o quanto eu consegui desenvolver ela e espero que vocês amem esses pp tanto quanto eu tô amando escrever sobre eles. Comentem muito!!



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.