Capítulo único
O escafandro e a borboleta. Ou melhor, o escafandro é a borboleta. Os dedos dela se mexiam volta e meia, leves como uma pluma, buscando forças para sair da prisão da consciência. Presa sem algemas, amarrada à cama por injeções que a mantinham apagada para que não sentisse dor. Que a dor ficasse comigo, então. Eu estava acostumado a tomar uma porrada atrás da outra, não precisava ser ela. Segui sendo sua sentinela dia e noite, vigiando o quarto, vigiando o leito, vigiando essa mulher irresponsavelmente corajosa.
Aqueles desgraçados com certeza estariam tão distantes a essa hora, que jamais seriam encontrados caso fossem cuidadosos; o que os impedia de enviar um pau-mandado até aqui para terminar o serviço que o escroto do Sebastian não deu conta? Consideração pela família que não era. Talvez a pergunta correta fosse "o que os motivava?". Ódio? Rancor? A humilhação de serem expostos pela princesinha que cresceu sob o teto deles? Uma crendice antiga dizia que não se devia confiar em pessoas ruivas, porque elas eram ardilosas. Seja lá quem inventou isso, estava coberto de razão.
Por experiência própria, era uma raposa astuta escondida sob a pele da mais inocente das ovelhas. Uma pena que eles nunca tivessem dado a devida atenção aos olhos espertos que mediam cada passo que davam. Uma pena para eles, no caso. Quero mais que se fodam. Podiam estar mortos, presos, qualquer coisa que me trouxesse tranquilidade, se é que esse sentimento me era permitido. Qualquer coisa que me fizesse acreditar ter o direito de pregar os olhos e dormir por mais de vinte minutos de cada vez; que me levasse a olhar para a porta sem medo de que ela fosse derrubada e os mesmos homens de preto invadissem o quarto; que me impedisse de revistar e conferir as credenciais de cada enfermeira que se aproximava de ; que me parasse quando fosse inconveniente com os médicos, questionando os medicamentos que a mantinham tão longe mesmo estando tão perto. Qualquer coisa que me devolvesse a racionalidade, porque eu vivia guiado pelo instinto desde que o chão de madeira fora lavado em carmesim com o sangue dela se misturando à gosma vermelha nojenta que escorria pelas pernas daquele filho da puta.
Os cabelos cor de fogo contrastavam com o branco pálido e doentio do travesseiro, os mesmos cachos cheios que deram vida à minha cama, que me trouxeram calor, que me fizeram acreditar que poderia viver como um cara normal um dia. Uma benção, teria sido, se eles não a tivessem tirado de mim. Ela tinha ido embora com as próprias pernas, sim, e o ódio me consumiu por isso, potencializado pelo pesar, intensificado por encarar o abandono mais uma vez; e hoje eu sei, mesmo com o custo da confiança abalada, que se estamos aqui é porque ela deixou tudo para trás há três anos. Na TV quase sem som passava “O Escafandro e a Borboleta”, rodando para quem quisesse assistir a um análogo da cena que se desenrolava na minha frente. Ataduras cobriam o pescoço onde uma linha vermelha sempre me lembraria da sensação desesperadora de te perder, a mácula na pele lisa, a cicatriz que não me deixaria desistir. Pisque para mim, . Uma vez para “sim”, duas vezes para “não” e me convença com suas palavras certeiras a não pagar sangue com sangue. Pisque para mim, . Cale a boca da minha mente que implora que eu deixe sair o que há de mais sombrio aqui dentro. Pisque para mim, , ou vou sucumbir à sede que amarga minha garganta. Pisque para mim, . Eu te amo, guarde essas palavras com você, seja onde estiver. Que a última canção que soprei no seu ouvido embale seu sono quando eu não estiver por perto. Estou no meu limite, olhando para baixo e avaliando o tamanho da queda caso salte desse desfiladeiro e mergulhe mais e mais fundo no breu. Pisque para mim, . Uma única vez antes que eu venda minha alma ao diabo para descer até o inferno em busca de vingança.
Sempre seu,
.
Aqueles desgraçados com certeza estariam tão distantes a essa hora, que jamais seriam encontrados caso fossem cuidadosos; o que os impedia de enviar um pau-mandado até aqui para terminar o serviço que o escroto do Sebastian não deu conta? Consideração pela família que não era. Talvez a pergunta correta fosse "o que os motivava?". Ódio? Rancor? A humilhação de serem expostos pela princesinha que cresceu sob o teto deles? Uma crendice antiga dizia que não se devia confiar em pessoas ruivas, porque elas eram ardilosas. Seja lá quem inventou isso, estava coberto de razão.
Por experiência própria, era uma raposa astuta escondida sob a pele da mais inocente das ovelhas. Uma pena que eles nunca tivessem dado a devida atenção aos olhos espertos que mediam cada passo que davam. Uma pena para eles, no caso. Quero mais que se fodam. Podiam estar mortos, presos, qualquer coisa que me trouxesse tranquilidade, se é que esse sentimento me era permitido. Qualquer coisa que me fizesse acreditar ter o direito de pregar os olhos e dormir por mais de vinte minutos de cada vez; que me levasse a olhar para a porta sem medo de que ela fosse derrubada e os mesmos homens de preto invadissem o quarto; que me impedisse de revistar e conferir as credenciais de cada enfermeira que se aproximava de ; que me parasse quando fosse inconveniente com os médicos, questionando os medicamentos que a mantinham tão longe mesmo estando tão perto. Qualquer coisa que me devolvesse a racionalidade, porque eu vivia guiado pelo instinto desde que o chão de madeira fora lavado em carmesim com o sangue dela se misturando à gosma vermelha nojenta que escorria pelas pernas daquele filho da puta.
Os cabelos cor de fogo contrastavam com o branco pálido e doentio do travesseiro, os mesmos cachos cheios que deram vida à minha cama, que me trouxeram calor, que me fizeram acreditar que poderia viver como um cara normal um dia. Uma benção, teria sido, se eles não a tivessem tirado de mim. Ela tinha ido embora com as próprias pernas, sim, e o ódio me consumiu por isso, potencializado pelo pesar, intensificado por encarar o abandono mais uma vez; e hoje eu sei, mesmo com o custo da confiança abalada, que se estamos aqui é porque ela deixou tudo para trás há três anos. Na TV quase sem som passava “O Escafandro e a Borboleta”, rodando para quem quisesse assistir a um análogo da cena que se desenrolava na minha frente. Ataduras cobriam o pescoço onde uma linha vermelha sempre me lembraria da sensação desesperadora de te perder, a mácula na pele lisa, a cicatriz que não me deixaria desistir. Pisque para mim, . Uma vez para “sim”, duas vezes para “não” e me convença com suas palavras certeiras a não pagar sangue com sangue. Pisque para mim, . Cale a boca da minha mente que implora que eu deixe sair o que há de mais sombrio aqui dentro. Pisque para mim, , ou vou sucumbir à sede que amarga minha garganta. Pisque para mim, . Eu te amo, guarde essas palavras com você, seja onde estiver. Que a última canção que soprei no seu ouvido embale seu sono quando eu não estiver por perto. Estou no meu limite, olhando para baixo e avaliando o tamanho da queda caso salte desse desfiladeiro e mergulhe mais e mais fundo no breu. Pisque para mim, . Uma única vez antes que eu venda minha alma ao diabo para descer até o inferno em busca de vingança.
Sempre seu,
.
Fim
Nota da autora: Oi, que bom que você chegou até aqui! Lancelot, mais do que nunca, está com sangue nos olhos e nada pode pará-lo. Ele tem pressa. Voltaremos com notícias em breve ;)
Sempre podem me encontrar nos links das redes sociais, amo bater um papo :D
Do meu coração pro seu,
Nimuë <3
Redes sociais:
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Lindezas, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
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