Capítulo Único
As gotas pesadas de chuva caíam sobre os vagões do trem enquanto ele a mantinha ali, pressionada contra o seu corpo. Olhos nos olhos, respirações se misturando. E o seu coração acelerado pela pergunta que ele havia feito, mas que ela ainda não havia respondido. Então respirou novamente e perguntou de novo, sentindo suas mãos geladas em contato com aquele corpo quente e convidativo. Ele queria tanto beijá-la, mas não o faria novamente enquanto ela não se decidisse.
- Me diz, . - ele pediu. - Me diz que você vai terminar tudo com ele. Diz que você vai ficar comigo de vez! Foge comigo. - ele implorou pela última vez.
o encarava, com os olhos arregalados. As batidas do seu coração a ensurdecendo enquanto a respiração falhava diante daqueles olhos verdes que a fitavam, determinados. Ela queria dizer “sim”, queria dizer que não se casaria com Diego, apesar de ainda nem estarem noivos, mas isso era questão de tempo, seu pai já havia insinuado o que queria, levando-o sempre para jantar em sua casa. Na verdade, ele havia sido bem direto na última discussão que tiveram.
- Não quero saber de filha minha envolvida com gente daquela laia! – o general Gusmão gritava a plenos pulmões na sala do apartamento, enquanto apertava com força o braço de , mostrando a sua verdadeira face, o lado sombrio do pai que tanto conhecia e temia desde criança. Ele nunca havia sido amoroso, era sempre rígido e sério, graças ao treinamento militar. - Onde já se viu, um fotógrafo de um jornal duvidoso! Um enxerido que deve estar se envolvendo onde não deveria e vai acabar com a boca cheia de formigas a sete palmos do chão. Trate de se afastar desse rapaz, Gusmão! Trate de me obedecer, se não quiser que ele leve uma lição de uma vez por todas. O único homem que aprovo para você é o Diego, já está tudo acertado. Não admito objeções!”
A ameaça do pai ainda estava nítida em sua memória, fazendo com que ela temesse por . Ela queria dizer que ficaria com ele, que fugiria com ele, mas estava tão confusa e tinha tanto medo por ele. Seus pais nunca permitiriam que ela ficasse com , tanto que eles já haviam prometido sua mão a Diego, mesmo eles estando em pleno século XX. E seu pai havia ordenado que ela se afastasse de , ele havia nitidamente ameaçado contra a sua vida. Ela nunca poderia ficar com ele sabendo do risco que corria. Não com a vida que ele levava, cheia de incertezas e mistérios. Não com uma profissão que seu pai abominava. Ela não queria ser tão fraca e dependente, mas infelizmente, naquele momento ela se sentia assim. E Diego também não era tão ruim, ela poderia tolerá-lo, podia se acostumar a viver ao lado dele, se isso garantisse que ficasse bem pra sempre, Diego não era o amor da sua vida, mas ele era bom pra ela, ele transmitia segurança, estabilidade. E era uma escolha do seu pai, por ser militar como ele. De repente, um desespero tomou conta do seu corpo, medo a dominou quando se deu conta de que podiam estar sendo vigiados e a vontade de fugir daquele abraço que antes a confortava tanto se fez presente e insuportável. Então, sem dar resposta alguma a , ela o empurrou com toda a força que tinha, desvencilhando-se do seu abraço, virando-se de costas e correndo sem olhar pra trás, para bem longe dele, com as lágrimas que desabaram de seus olhos dificultando sua visão. Ela não aguentaria se virar e olhar para a imagem da decepção estampada naqueles olhos verdes que iriam invadir os seus sonhos pra sempre. Disso ela tinha certeza.
***
Seis meses depois...
Curitiba, Brasil – 30 de Agosto de 1980.
Sentada sobre aquela cadeira de ferro um tanto desconfortável, observava Curitiba da sacada do apartamento simples, porém confortável, onde ainda morava com seus pais, no oitavo andar do prédio. A carta que recebera momentos antes em uma das mãos e o anel de noivado em outra. O coração batia descompassado, os pensamentos corriam soltos, a lembrança daquela última conversa a atormentando, os olhos ardiam diante das lágrimas que eram forçadas a permanecer no mesmo lugar. Ela estava confusa, triste e alegre ao mesmo tempo. Sentia raiva, mágoa, alívio e esperança diante da decisão que havia tomado. Era uma mistura de sentimentos ambulantes. Voltou seu olhar para o papel em sua mão mais uma vez. Horas antes, ela tinha a completa certeza do rumo que sua vida tomaria. Na noite anterior, ela havia se conformado com o seu destino e dito sim a Diego em um jantar que reuniu toda a família, tanto dele, como dela. Seu pai fez questão de exibir o noivado dos dois para todos os lados. Mas agora ela já não tinha tanta certeza de que iria se casar com ele afinal. E o culpado por essa mudança de pensamentos era ele, aquele que uma vez ela descobriu ser o seu melhor amigo, que intimamente era o amor da sua vida, aquele que ela havia abandonado meses atrás naquela plataforma na estação de trem, quando decidira fugir e deixar pra trás todo um futuro que a assustava, mas ao mesmo tempo a atraía tanto, que a tornou uma covarde fugitiva.
***
Paris - França, 05 de agosto de 1980.
Minha doce ,
Não sei por onde começar, mas sei que qualquer coisa que eu diga não irá diminuir a tristeza que eu sinto por tê-la afastado de mim. Sinto muito ter sido precipitado, sinto muito ter entendido tudo errado e tê-la assustado. Queria pedir perdão por isso, mas da maneira correta, cara a cara. E se as circunstâncias permitissem, eu teria voltado, teria ido atrás de você, teria tentado novamente. Mas eu não podia naquele momento. Infelizmente, meu estilo de vida acabou nos afastando. E agora sofro por não tê-la mais comigo. Sofro por não ter abdicado dos meus ideais e ter me pré-moldado para ser merecedor do seu coração. Agora tudo é tão solitário.
A vida nos faz cometer loucuras, , nos faz tomar decisões que nós pensamos ser corretas pro momento, mas que um tempo depois notamos o quão erradas foram. Eu me arrependo da atitude que tomei movido pelo medo que senti quando tive noção de tudo o que estava acontecendo comigo, de tudo o que eu estava sentindo, de como o meu futuro seria. Eu fui idiota e, agindo sem pensar, eu te afastei. Te afastei e mesmo não querendo te perder, no final acabei perdendo da mesma forma.
Eu sinto muito, fui um completo idiota, deveria ter levado os seus sentimentos em conta, não apenas os meus, deveria ter notado que pra ti tudo não passava de uma amizade. Se tivesse visto isso, hoje pelo menos ainda seríamos amigos...
***
- Ah, , nós nunca conseguiríamos manter nossa amizade apenas como tal, não quando o que você sentia por mim era recíproco, mas eu fui tão medrosa e te deixei partir sem dizer que sentia o mesmo, por causa das ameaças do grande general Gusmão e também porque eu não queria acreditar que aquele sentimento arrebatador e novo pudesse tomar conta do meu coração em tão pouco tempo. – divagava sozinha, murmurou o nome do pai com desgosto enquanto lia novamente aquelas palavras impressas na carta que havia lhe enviado – ela não sabia como, mas agradecia por aquela carta ter chegado a tempo. Ela levou o papel em direção ao peito e o pressionou ali sobre o coração, enquanto admirava a sua cidade natal daquela sacada pela última vez.
***
- Não olhe agora, mas aquele cara com a câmera de fotografia está tirando uma foto nossa, e ele não para de olhar para você de tempos em tempos. – Lucia disse e logo praguejou baixo quando se virou involuntariamente e observou o tal cara. – Você realmente não sabe ser discreta, amiga. – ela revirou os olhos quando a encarou novamente.
- Ele não está olhando pra gente, deve estar tirando fotos da paisagem. Pare com essa mania de perseguição, Lulu. – a outra respondeu rindo, enquanto terminava de organizar os panfletos com informações sobre os passeios da serra, que seriam distribuídos aos turistas durante a viagem de trem.
Lucia e estavam trabalhando como guias na excursão de trem que ocorria durante todo o final de semana pela serra do mar paranaense. Aquele era um passeio divertido pelas cidades históricas da região, onde o trem percorria por dentro da Mata Atlântica, passando por cidades como Morretes e terminando em Paranaguá. Mas o passeio no qual elas trabalhavam fazia uma parada em Morretes e se encerrava em uma volta de barco com uma visita à belíssima Ilha do Mel. Onde os turistas passavam a noite e depois partiam no dia seguinte de volta a Morretes, de onde embarcariam no trem novamente rumo a Curitiba.
Lucia e eram duas contratadas apenas para os fins de semana, onde o movimento para os passeios era mais intenso, levando à necessidade de mais guias no local. Elas não passavam a noite na ilha como os outros guias, nunca poderia passar a noite fora de casa, elas seguiam de volta com o barco e pegavam o trem para Curitiba, e no domingo estavam novamente na estação pela manhã para uma nova leva de turistas. adorava aquele trabalho, mesmo tendo que fazê-lo escondido dos pais, principalmente do pai, que não admitia que sua filha trabalhasse em algo daquele tipo, ele a queria na escola militar. Para ele, também deveria arranjar um marido, militar como ele, e ficar cuidando da casa. Como se ainda estivessem no século XVIII.
Por ele ser tão rígido, e por sua mãe não ter voz para confrontá-lo, acabava fazendo o que gostava escondido, mesmo já tendo dezenove anos e sendo maior de idade. Ter um pai militar em plena época de ditadura era terrível.
- Ele está, sim, te encarando! – Lucia exclamou novamente. E dessa vez foi quem revirou os olhos para a sua insistência.
- Pare você de encarar ele e vamos logo terminar isso aqui, Lulu. – a garota a repreendeu, mas disfarçadamente olhou na direção do tal cara e ficou surpresa quando sentiu o seu olhar cair diretamente no dela, sem desviar por vergonha de ter sido descoberto. Ele foi além e a brindou com um sorriso torto e ela rapidamente desviou o olhar, porque ela, sim, sentiu seu rosto arder de vergonha.
***
terminava de colocar as últimas peças de roupa dentro da mala, ela tinha que ser rápida, aproveitar que os pais estavam em algum evento do quartel. Cinco dias haviam se passado desde que ela recebera aquela carta. Na tarde do mesmo dia em que a obteve, ela havia entrado em contato com Fabio, um grande amigo de , com quem ela ainda mantinha certo contato e era ele quem iria ajudá-la em sua “fuga”. sabia que provavelmente estava prestes a cometer uma loucura. Ela não tinha garantias de que iria encontrar , não sabia se ele realmente a estava esperando, mas aquele sentimento que nunca saiu do seu coração a impulsionava a seguir adiante.
“Espero que você me perdoe por ter sido tão medrosa e não ter lutado por nós dois” – ela pensou, enquanto guardava a última peça, em seguida fechou a mala, olhou ao redor, despedindo-se do seu quarto, respirou fundo e enfim saiu do apartamento pra onde não pretendia voltar nunca mais.
***
- Então você é esse tipo de garota? Que se isola em um mundo particular durante viagens? - uma voz estranhamente familiar a despertou do mundo fantasioso onde a garota havia se instalado desde que se sentou naquela poltrona do trem e abriu o livro de fotografia em seu colo durante o seu intervalo na viagem.
- O quê? - perguntou confusa, virando-se de lado e dando de cara com aquele par de olhos verdes incrivelmente hipnotizantes.
- Desculpe a intromissão. - ele a olhou divertido. - Mas eu achei curioso o título do livro.
- Como você? – encarou o rapaz a sua frente, sem entender como ele sabia o que ela estava lendo.
- Eu confesso, estava te observando há algum tempo e notei o título do livro quando você o retirou da mochila. – ele sorriu.
- O que você é? Um perseguidor? – ela perguntou, tentando soar divertida, mas se sentindo um pouco desconfiada.
- Touché. – ele disse, de uma forma que poderia parecer gay saindo da boca de outros garotos, mas que foi extremamente sexy vindo dele. – Acho melhor eu agir do jeito convencional e parar de assustá-la. Olá, me chamo . – ele sorriu, estendendo-lhe novamente a mão, ele tinha um sotaque diferente, provavelmente paulista. Ela o encarou, sentindo-se completamente hipnotizada. – Sabe, de onde eu venho é falta de educação recusar um aperto de mão. – ele disse, brincando.
- Oh, me desculpe... Meu nome é . – ela disse, sorrindo estranhamente encabulada enquanto pegava em sua mão. Não, aquilo que ela sentiu não poderia ter sido um choque. E por que os pelos do seu braço pareciam ter se arrepiado? Aquelas coisas não poderiam ser reais. Confusa, a garota logo tratou de recolher a sua mão rapidamente.
- Belo nome... . – pronunciou o seu nome enquanto sorria para ela com algo que aparentava ser um sorriso sexy. A forma como ele havia dito fez com que ela sentisse um calor percorrendo todo o seu corpo.
- Obrigada. – ela disse, ainda tímida, como ela nunca havia sido. Ele sorriu. Outro sorriso. Quantos sorrisos diferentes ele teria? Ela se pegou ansiosa por descobrir todos.
- Então, , você estava me encarando mais cedo, não estava? – ele disse, provocando-a, e ela ficou séria, o achando um babaca pretensioso que sabia cortar o clima.
- Na verdade, tenho certeza de era você quem estava me encarando, até a minha amiga notou. Que tipo de maluco é você? Eu gostaria de ficar sozinha, senhor. – ela respondeu, voltando-se para o seu livro enquanto tentava ignorá-lo. riu baixo, mas não se moveu do seu lado. Ele apanhou a câmera na mochila e a preparou, mirando em seguida. – O que você pensa que está fazendo? – finalmente o encarou, parecendo irritada.
- O que fiz durante todo esse passeio. Estou tirando fotos da bela paisagem que compõe a serra, senhorita. – ele respondeu sorrindo, sem parar de tirar fotos dela.
se levantou irritada, pegando sua bolsa e seguindo em direção ao local onde os outros guias estavam reunidos. Ela se perguntava por que se sentia tão irritada pelas bobagens ditas por aquele cara. . Era um idiota. Lindo, mas idiota. E naquele momento ela não sabia, mas ele se tornaria a pessoa mais importante na sua vida, e acima de tudo um grande amigo.
***
- Você está pronta? – Fabio perguntou, assim que eles pararam diante da rodoviária. olhou ao redor ajustando o capuz do casaco sobre a cabeça, ainda com receio de que o pai surgisse de repente e a obrigasse a voltar pra casa. Respirou fundo quando notou estar segura, pelo menos por aquele momento. O país estava uma loucura com toda aquela onda de repressão. O militarismo¹ que governava o Brasil há mais de quinze anos fazia com que as pessoas se tornassem desconfiadas e medissem cada passo a ser tomado por medo de uma repreensão. Os boatos de tortura eram reais, apesar de o Governo tentar encobri-los. A censura reinava por todo o país, muitos haviam partido por medo e por quererem uma vida melhor; muitos haviam sido “convidados a se retirar” do solo brasileiro se quisessem permanecer livres e vivos. Aquele era o caso de . Mesmo ainda tendo 22 anos, ele já estava envolvido em tanta coisa por não conseguir controlar suas opiniões e o seu jeito impulsivo. Por isso, agora vivia exilado em outro continente.
- Nunca estive tão pronta pra algo em minha vida. – ela respondeu sorrindo sincera após pensar em e no quanto sentia sua falta, Fabio sorriu de volta, abraçando-a.
- Espero que tudo dê certo e que vocês consigam resolver as coisas. Aquele cara te ama, . – ele disse, ainda com ela em seu abraço.
- Eu também espero, Fabio. E também o amo, muito. – sorriu, se afastando, já sentindo um aperto no peito por deixar os poucos amigos e seu país pra trás.
- Bom, vou te repassar as coordenadas pela última vez. – ele olhou ao redor, também parecendo receoso de que alguém aparecesse, o que a deixava ainda mais paranoica. – Você irá de ônibus até a fronteira. De lá, um amigo irá te levar para Buenos Aires, de onde você pegará um voo para os Estados Unidos e em seguida para Paris. Eu já arrumei toda a sua documentação, está tudo aqui nessa bolsa, passaporte e outros documentos. – Ele disse, entregando-lhe a tal bolsa com o que imaginou serem documentos falsos. Um frio lhe percorreu a espinha com o pensamento de ser descoberta. Mas ela não podia fugir com medo novamente, agora ela tinha que ser corajosa e escutar o seu coração. Ela tinha que ir ao encontro de .
***
“Sei que eu não tenho esse direito, mas eu preciso tentar pelo menos pela ultima vez, preciso fazer com que você não cometa o erro de se casar com alguém que você não ama, apenas pra agradar aos seus pais. E mesmo que você não me ame como eu te amo, prefiro te ter aqui, perto de mim, pra que eu possa te proteger de tudo e todos. Então, mais uma vez eu lhe peço, : Não se case com ele! Recuse esse pedido, venha me encontrar em Paris. Porque eu estou esperando por você, estou esperando há tanto tempo, e acho que pra sempre vou esperar.
Temos um encontro marcado às cinco da tarde no dia oito de setembro, o dia em que nós nos conhecemos há um ano, o dia em que eu te observei pela primeira vez naquele trem e que eu tive certeza que tinha encontrado a pessoal mais especial do mundo. O dia em que eu tive certeza de que te queria na minha vida.
Eu te espero, . Às cinco, no dia oito, no ponto mais alto da Pont des Arts². Na cidade luz, lugar que nós dois planejamos conhecer tantas vezes. Por favor, não falte.
Eu te amo.
.”
***
releu aquela parte da carta mais uma vez, a proposta e aquele “Eu te amo”, que ela tanto quis dizer de volta ecoando por sua cabeça. Ela respirou profundamente e guardou a carta no bolso, nunca se desgrudando daquele pedaço de papel que era o objeto mais próximo que ela possuía de , o ônibus deu a partida e ela olhou Curitiba pela última vez antes de seguir viagem, antes de seguir seu coração, que a estava levando de volta pra casa, pra sua verdadeira casa. Ao lado de . Finalmente ela havia escolhido o seu amor.
***
Os raios solares atingiram em cheio o seu rosto, murmurou incomodado com a claridade enquanto tateava a cama à procura do corpo dela, sentindo falta do seu calor o envolvendo. Ele tinha a intenção de puxá-la novamente para os seus braços, enterrar o rosto em seus cabelos e voltar a dormir, mas ao alisar os lençóis frios ao seu lado, ele notou que estava sozinho, e isso há algum tempo, porque aquele lado da cama estava frio. Ela havia ido embora, de novo. Ela nunca passava a noite com ele, mas no fundo ele ainda tinha esperanças de que isso acontecesse algum dia. Bom, não havia sido daquela vez. Mas ele tinha tomado uma decisão noite passada enquanto a observava, sonolenta, em seus braços.
Ele daria um ultimato à , declararia o seu amor por ela e pediria para que ela partisse com ele para Paris. Ele não podia mais permanecer no Brasil, estava sofrendo ameaças e vivia paranóico. Podia ter certeza de que o pai de estava envolvido nisso.
suspirou e um sorriso tomou conta dos seus lábios ao lembrar-se do que ele e haviam feito na noite passada, na forma como os seus corpos se encaixavam, se moldavam perfeitamente. Na sincronia que eles possuíam um com o outro. Quem diria que após aquele encontro de inicio, onde ela nitidamente não havia ido com a cara dele, eles pudessem estar ali agora. Ele estava completamente apaixonado, como nunca havia ficado e como tinha certeza de que nunca mais ficaria.
Abraçando o travesseiro que ainda continha o perfume dos cabelos dela, decidiu que naquele dia, e ele fugiriam para viver juntos pelo resto da vida.
Pena que tudo não aconteceu como ele desejava.
Paris, França – 08 de setembro de 1980.
Já haviam passado alguns minutos do horário do almoço quando finalmente deixou a redação do jornal parisiense, onde havia conseguido emprego como fotógrafo meses antes com a ajuda de um amigo. Ele saiu para a rua sentindo a brisa, já um pouco mais fresca, de Paris envolver o seu rosto. Sentia-se a cada minuto mais ansioso, olhava para o relógio de pulso de tempos em tempos, não queria se atrasar para aquele compromisso tão importante para a sua vida. As memórias de tudo que havia vivido com invadiam sua mente a cada segundo, o que o deixava mais nervoso.
Ele havia se ressentido com ela naquele dia na plataforma de trem, estava tão seguro de que conseguiria partir com ela para Paris, quando tudo o que fez quando ele a questionou foi empurrá-lo e fugir dele como alguém que foge da morte. Naquele momento, ele teve a certeza de que o que ele sentia por ela era muito maior do que o que ela sentia por ele. Ela nem ao menos tentou, nem ao menos se explicou ou se despediu dele direito. Ela apenas fugiu, levando consigo uma parte importante dele: seu coração. E o deixando sozinho e decepcionado.
Ele não tinha entendido aquela atitude de , e ainda não conseguia pensar nela sem sentir mágoa, até que, pouco tempo antes, recebeu uma carta de Lucia, a melhor amiga de . Naquele pedaço de papel, Lucia lhe contara tudo, lhe contara os motivos de , lhe contara sobre as ameaças do pai dela e também contara sobre a preocupação que sentia pelo rumo que a vida da amiga estava tomando. não sabia como Lucia o havia encontrado e nem como havia conseguido seu endereço para enviar aquela carta, mas imaginava que Fabio talvez tivesse algo a ver com isso, pois o amigo era apaixonado por ela, por mais que tenha dito a ele milhares de vezes que não queria ser encontrado e que não queria notícias de quem um dia ele pensava que havia sido sua, mas que ele havia perdido no final.
não queria saber nada sobre , não queria sofrer mais, mas a carta que recebera de Lucia fez tudo o que ele havia decidido cair por água abaixo. Foi então que ele resolveu tentar mais uma vez, foi então que ele escreveu uma carta para ela onde ele diria tudo e tentaria de tudo para que ela voltasse pra ele. E foi isso o que ele fez. Agora tinha esperanças de que Fabio a havia recebido e encaminhado para . Tinha esperanças de que ela viesse encontrá-lo como ele havia pedido na carta. Ás cinco horas da tarde, em ponto, ele estaria esperando por ela no ponto central da Pont des Arts, a ponte dos apaixonados, onde os casais declaravam o seu amor eterno. Ele sabia daquela informação não por morar em Paris agora, mas porque fora quem havia lhe dito aquelas palavras meses antes e agora ele esperava que ela se lembrasse do significado daquele local e entendesse o porquê do encontro ter sido marcado ali.
***
- , volta aqui! – pediu novamente, enquanto corria para alcançá-la na saída da estação de trem. – Droga de garota geniosa! – ele murmurou baixo, acelerando a corrida e finalmente a alcançou, puxando-a para ele pelo braço.
- Me solta, seu idiota! – esbravejou, tentando se afastar dele e tentando também segurar as lágrimas que se acumulavam em seus olhos. Ela não entendia por que estava se sentindo daquela forma. Por que, de repente, sentia a necessidade de dar um murro bem no nariz daquele babaca? nunca havia sentido tanta raiva antes por alguém.
- Shhh, fica calma. – pediu quando a prendeu em seus braços e a abraçou forte, tentando contê-la e acalmá-la. – Por que você está assim? – ele perguntou baixo em seu ouvido e ela sentiu um arrepio pelo corpo ao ouvir aquela voz deliciosamente rouca tão de perto.
- Você é um imbecil, Meyer! Um safado de marca maior! Um puta galinha nojento! – se debatia furiosa. – Tire suas mãos imundas de mim e vá agarrar aquela loira de farmácia! – ela soltou aquela frase, arrependendo-se logo em seguida ao notar o olhar de sobre si.
- Você está com ciúme, ? – ele perguntou, sorrindo como um completo idiota, e ela sentiu mais raiva dele ainda.
- Por que você está sorrindo, sua anta? – ela perguntou brava. – Eu não estou com ciúme coisa nenhuma, deixe de ser imbecil! Por que eu sentiria ciúme de você? Nós somos apenas amigos! – ela se remexeu em seus braços novamente. Nunca iria admitir para , mas ela estava, sim, morrendo de ciúme, e agora ela conseguia enxergar isso. Eles eram apenas amigos, mas ela estava furiosa por ter flagrado ele cheio de sorrisos e carinhos pra cima daquela loira nojenta, quando ele deveria ter ido se encontrar com ela na lanchonete da estação meia hora antes. Céus, ela estava perdida! Talvez o que ela sentisse por não fosse mais apenas amizade. E isso fez com que ela estancasse diante dele ao chegar a essa conclusão, dando de cara com aquele olhar bobo que ele sempre direcionava a ela.
- Pare de me olhar desse jeito, você está me deixando envergonhada! – a garota reclamou, escondendo o rosto entre as mãos, já se sentindo mais calma. Ela não deveria sentir ciúme de , não aquele tipo de ciúme, ele não pertencia a ela. segurou suas mãos sorrindo e as retirou, observando seus olhos que insistiam em desviar do olhar dele, sempre fugindo.
- Você fica tão linda assim toda descabelada e cheia de raiva, senhorita. – ele sorriu quando ela o encarou finalmente. – Não desvie o seu olhar do meu, eu gosto de olhar nos seus olhos e tentar decifrar a sua alma neles. Gosto de observar você, porque é linda, . Não me prive desse prazer. – ele pediu, tocando seu rosto carinhosamente.
- Você fica sempre me encarando, desde o começo. Você é muito estranho, sabia? – ela disse o encarando petulante e ele arqueou a sobrancelha, sentindo-se ofendido com o elogio, mas logo se retratou. – Mas isso é ridiculamente adorável e foi o que me atraiu em você desde o inicio. Sem contar que você sempre sabe a coisa certa a dizer pra me deixar com as pernas feito varas de bambu e o coração acelerado. – ela confessou baixo e ele riu de sua declaração, levantando seu rosto e em seguida a encarando seriamente, dando fim ao espaço que separava os seus lábios dos dela a presenteando-a com um beijo acalorado. Um beijo que ele queria dar nela desde o começo. O primeiro beijo.
***
Eram quase seis da tarde, ela não havia aparecido e já estava conformado de que nunca mais a veria. Ele já havia esperado por quase uma hora e nada de . Derrotado, ele deixou a ponte e caminhou ao longo do rio de cabeça baixa, triste novamente por ver o amor de sua vida escapar por entre os seus dedos. Estava tão distraído, que não notou o amigo Henri o chamando. O francês que trabalhava com no mesmo jornal correu até ele quando não obteve resposta ao seu chamado, e disse em um português carregado de sotaque:
- Ora, meu grande amigo, para onde está indo assim tão distraído? – Henri perguntou, após notá-lo.
- Não sei, Henri. Não sei de mais nada nessa vida. – ele disse, sentindo-se tão triste e decepcionado novamente por causa da mesma pessoa.
- O que é isso, mon ami³! Coloque um sorriso no rosto e vamos comigo até o bar da esquina, alguns colegas estão esperando lá para uma confraternização de fim de tarde. Você saiu tão apressado da redação que nem conseguimos chamá-lo. Ainda bem que me atrasei e o encontrei caminhando por aqui! – Henri contou enquanto apenas o observava abatido.
- Não estou com cabeça para festejar hoje, cara. Desculpe-me. – ele tentou recusar o convite, mas Pierre foi insistente.
- Posso dizer pelo seu olhar triste que essa sua atitude tem algo a ver com alguma mulher. Sua cara de coração partido é evidente, mon ami! E por isso me vejo na obrigação de lhe ajudar, levando-o até aquele bar para que você possa afogar as suas mágoas, prometo que serei um bom ouvinte, certo? – Henri tentou novamente e decidiu acompanhá-lo, talvez um bom porre fosse tudo o que ele precisasse no momento para se esquecer, pelo menos por agora, de . Porque não seria tão fácil assim se esquecer dela pra sempre.
- Tudo bem, vamos encher a cara. – ele declarou, ainda desanimado.
- É assim que se fala, mon ami! É assim que se fala. – Henri sorriu concordando e guiou até o bar onde os colegas de redação os esperavam.
Uma hora e meia depois, já se encontrava completamente bêbado cantando canções de amor bregas em português, canções tristes sobre corações partidos, sendo acompanhado pelos amigos que também estavam visivelmente bêbados – apesar de não estarem tão ruins quanto - e cantavam a melodia enrolados, apesar de não entenderem uma palavra do que ele estava dizendo. O barman os havia expulsado do bar pela cantoria alta e a baderna que estava incomodando o resto dos clientes e eles compraram uma garrafa de uísque e outra de vinho e seguiram em um bando de seis homens às margens do rio Sena - o que era um tanto perigoso, já que estavam todos tão bêbados, que era bem possível que um deles caísse naquelas águas escuras e se afogasse durante a noite.
sentia a sua cabeça dar voltas, a visão completamente embaralhada, parou um pouco no meio do caminho para respirar fundo. Havia exagerado na dose, ele sabia disso, mas também sabia que precisava daquilo para seguir adiante. Precisava de um grande porre pra que a dor de cabeça na manhã seguinte o fizesse se lembrar de que amar era uma merda, e com isso ele prometeria a si mesmo que nunca mais passaria por isso de novo, nunca mais amaria alguém. No dia seguinte, ele seria outro homem. Ele iria usar e descartar, como a maioria dos seus amigos faziam, como ele fazia antes de conhecer aquela maldita garota que havia pisoteado o seu coração, após ter lhe dado ele.
- Vamos, , vamos! – Henri chamava para que ele se apressasse, estava também visivelmente mais alegre e embriagado.
Ele deixou aqueles pensamentos de lado e se pôs a caminhar de encontro aos amigos que já haviam passado pela ponte Pont des Arts, só então ele notou que estava novamente diante daquele lugar, o local do encontro, tentou apressar os passos tropeçando algumas vezes para passar logo e deixar aquela ponte pra trás, talvez nunca mais passasse por ali novamente para não se lembrar da decepção que havia sofrido mais cedo. Foi quando trombou forte em alguém e ambos foram parar no chão. Ele xingou alto, sentindo tudo doer, principalmente a cabeça, que já doía pela bebida, quando aquela voz, que ele ainda se lembrava tão bem, invadiu o ambiente e ele levantou o olhar, encontrando diante dele.
- . – Ela murmurou, parecendo tão surpresa quanto ele, de repente seus olhares se encontraram e todas as palavras não ditas pareciam estar sendo transmitidas diante daquela troca de olhar.
***
- Um dia eu ainda vou conhecer Paris. – comentou, com a cabeça deitada sobre o colo de . Eles estavam no apartamento dele, enquanto seus pais achavam que ela estava em um curso de datilografia com Lucia, que era sua cúmplice. , que acariciava suas mechas, sorriu, ouvindo os desejos da sua garota.
- E eu vou estar lá com você. – ele garantiu, sabendo que não seria fácil, mas ele faria o possível e o impossível pra realizar o desejo dela. sorriu, sentando-se diante dele e o abraçando em seguida.
- Eu não desejo que mais ninguém esteja ao meu lado a não ser você. Nós vamos nos divertir muito. Vamos passear por toda a cidade, conhecer os pontos turísticos e não turísticos, deixar um cadeado com nossos nomes pendurado na Pont des Arts... – ela falava empolgada e , não entendendo a história do cadeado, questionou-a sobre isso. – É só algo que os casais fazem quando passam por lá, para simbolizar o que sentem um pelo outro. – ela explicou, sonhadora. não se conteve mais e se aproximou, beijando-a com força. Como era bom sentir aqueles lábios sobre os seus. Ele poderia ficar ali com ela nos seus braços pra sempre. – Ok, garanhão. Você já conseguiu me deixar sem ar. – se afastou um tempo depois, sorrindo. resmungou pela separação antecipada, ele ainda queria mais dela, muito mais.
- Por que você sempre corta a parte boa da coisa? – ele reclamou, brincando, e ela o encarou, travessa.
- Pra te fazer ficar com gostinho de quero mais, querido. – piscou e em seguida lhe agarrou novamente, beijando-a de novo.
- Você é muito má, garota! – ele dizia entre o beijo. – Mas o seu propósito está sendo alcançado com sucesso. – ele concluiu e riu sonoramente, recebendo mais beijos quentes em seguida.
***
- Não posso estar tão bêbado a ponto de estar alucinando. – reclamou, levando a mão à cabeça quando a sentiu latejar. Os amigos haviam estranhamente desaparecido, haviam o abandonado e seguido caminho. Ele piscou os olhos várias vezes, mas ela continuava ali, diante dele. – Droga, eu bebi muito mesmo!
- Eu não sou uma alucinação, Meyer. – respondeu, sorrindo. – Mas você bebeu muito mesmo. – ela se levantou e estendeu a mão para ajudá-lo a se colocar de pé em seguida. – Vamos, , me ajude aqui, você é mais pesado que eu. – reclamou, tentando levantá-lo, mas ele se enrolava e caía de novo. – Quer saber, vamos conversar aqui mesmo enquanto você recobra um pouco da lucidez. – ela desistiu, sentando-se ao lado dele no chão, diante da Pont des Arts.
- É mesmo você, aqui do meu lado? – perguntou, encarando-a. – Aqui em Paris, comigo, finalmente?
- Sim, sou eu, querido. – ela respondeu, encarando-o também.
- Eu não posso acreditar, eu pensei que você tivesse desistido de vez! Eu marquei aquele encontro, aqui nessa mesma ponte, rezei para que você tivesse recebido minha carta, que viesse até mim. Eu estive aqui mais cedo, às cinco da tarde, como o combinado, mas você não apareceu e eu então imaginei que nunca mais te veria, eu tomei um porre do caralho porque imaginei que tinha te perdido pra sempre! – ele exclamou, levando as mãos à cabeça, que doía como o inferno. – Mas agora, você está aqui, e essa merda de dor de cabeça foi à toa. – ele riu, se achando patético.
- Desculpe por não ter chegado a tempo, querido. – tocou o seu rosto e fechou os olhos, sentindo e se recordando daquele toque que tanto lhe fez falta. – Juro que tentei estar aqui às cinco em ponto, mas houve uma atraso no aeroporto e quando cheguei a Paris e vi que já passavam das sete da noite eu quase desisti de vir para cá, ia direto para o hotel tentar entrar em contato com Fabio pra conseguir o seu endereço, porque eu imaginei que você já havia partido. Mas algo me fez parar aqui minutos atrás, quando o taxi se aproximava desse local. Algo me fez descer do veículo e caminhar às margens do rio, algo me trouxe até você. Mesmo com o nosso desencontro de mais cedo.
- Foi o destino. – sussurrou, ainda de olhos fechados. – O destino te trouxe de volta pra minha vida, como ele uma vez te colocou nela naquele passeio de trem. – ele sorriu e imitou o seu gesto.
- Foi o amor, meu querido. – ela contradisse. – Foi o amor que eu sinto por você, o amor que nos une que me fez vir até aqui para te encontrar finalmente e pedir perdão por ter sido tão medrosa e ter te deixado partir. – ela agora tinha lágrimas nos olhos, sentindo-se mal por tudo pelo que eles haviam passado, por causa do seu medo às ameaças do pai. – Por favor, me perdoe, ? – ela pediu.
levou uma mão em direção ao rosto dela, secando suas lágrimas, a lucidez voltando aos poucos diante daquele encontro inusitado e de toda a emoção que o envolvia. Aproximou seu rosto do dela e disse:
- Eu já te perdoei, . No momento em que eu marquei esse encontro, eu já sabia que não queria mais ninguém na minha vida além de você. Porque você é minha e eu sou seu. Você é única. É “a única”. Não importa o que os outros façam ou digam pra nos separar. O que importa é que agora você finalmente está aqui, comigo. E eu nunca mais vou permitir que você saia do meu lado. – e após essas palavras, ele a beijou com força, tentando compensar todo o tempo que passaram separados todo o tempo perdido. – Vamos pra casa, porque eu quero te amar pela noite toda, quero te amar pra sempre. – ele pediu, sentindo-se um pouco mais sóbrio, pelo menos conseguindo finalmente se levantar.
- Você precisa é de um banho bem gelado pra curar essa bebedeira. – disse, rindo.
- Contanto que você tome ele comigo. – ele respondeu com o seu sorriso safado no rosto. Como era bom tê-la de volta.
- Vou pensar no seu caso, idiota. – eles se deram as mãos e caminharam, mas parou por um momento, deixando confuso.
- O que foi? – ele perguntou, não entendendo, enquanto ela procurava algo dentro da pequena bolsa que carregava.
- Achei! – ela exclamou animada, retirando um pequeno cadeado vermelho da bolsa, fazendo com que finalmente entendesse. – Vem! – ela correu, puxando-o pela mão em direção à ponte e quando eles estavam parados sobre o ponto mais alto, parou e se virou pra ele. – Quero te dar o meu amor eterno, Meyer. Quero fazer com que você se apaixone por mim a cada dia de agora em diante, assim como eu quero me apaixonar por você. Não quero sair do seu lado nunca mais, porque eu sou sua e assim como você disse que eu sou a única pra você, eu quero que você saiba que apesar de tudo, você sempre foi o único pra mim. – ela se virou por um momento e prendeu aquele cadeado vermelho na ponte. – Uma vez eu te disse o significado desse gesto, espero que você se lembre e sempre que nós passarmos por aqui, que se recorde também desse dia, porque com esse cadeado eu estou te dando o meu amor eterno, . Quero ficar com você pelo resto dos meus dias, porque eu te amo. Muito. – ela concluiu e quem tinha lágrimas nos olhos era dessa vez, ela finalmente havia dito aquelas três palavras, pela primeira vez, ela havia confessado o que sentia.
- Eu também te amo, minha doce . – e ele a beijou novamente do alto da ponte sobre o céu estrelado de Paris, declarando o seu amor eterno. 1. A Ditadura militar no Brasil teve seu início com o golpe militar de 31 de março de 1964 e o seu fim em 1985. Foi um período em que o país sofreu com a repressão e censura imposta pelo governo militar, muitos jornalistas e artistas em geral que iam contra as atitudes do governo foram colocados em exílio, obrigados a deixar o país. Pessoas sofriam tortura e algumas desapareceram misteriosamente na época e seus parentes não tiveram noticias até hoje.
2. Pont des Arts - é uma ponte em Paris que atravessa o rio Sena. Famosa pelos cadeados que cobrem praticamente toda a sua extensão, os chamados “cadeados do amor” são colocados por casais apaixonados para simbolizar o seu amor. Em 2014 a ponte acabou desabando pelo peso de tantos cadeados e a Prefeitura de Paris decidiu retirar todos eles do local.
3. Expressão que significa “meu amigo” em português.
- Me diz, . - ele pediu. - Me diz que você vai terminar tudo com ele. Diz que você vai ficar comigo de vez! Foge comigo. - ele implorou pela última vez.
o encarava, com os olhos arregalados. As batidas do seu coração a ensurdecendo enquanto a respiração falhava diante daqueles olhos verdes que a fitavam, determinados. Ela queria dizer “sim”, queria dizer que não se casaria com Diego, apesar de ainda nem estarem noivos, mas isso era questão de tempo, seu pai já havia insinuado o que queria, levando-o sempre para jantar em sua casa. Na verdade, ele havia sido bem direto na última discussão que tiveram.
- Não quero saber de filha minha envolvida com gente daquela laia! – o general Gusmão gritava a plenos pulmões na sala do apartamento, enquanto apertava com força o braço de , mostrando a sua verdadeira face, o lado sombrio do pai que tanto conhecia e temia desde criança. Ele nunca havia sido amoroso, era sempre rígido e sério, graças ao treinamento militar. - Onde já se viu, um fotógrafo de um jornal duvidoso! Um enxerido que deve estar se envolvendo onde não deveria e vai acabar com a boca cheia de formigas a sete palmos do chão. Trate de se afastar desse rapaz, Gusmão! Trate de me obedecer, se não quiser que ele leve uma lição de uma vez por todas. O único homem que aprovo para você é o Diego, já está tudo acertado. Não admito objeções!”
A ameaça do pai ainda estava nítida em sua memória, fazendo com que ela temesse por . Ela queria dizer que ficaria com ele, que fugiria com ele, mas estava tão confusa e tinha tanto medo por ele. Seus pais nunca permitiriam que ela ficasse com , tanto que eles já haviam prometido sua mão a Diego, mesmo eles estando em pleno século XX. E seu pai havia ordenado que ela se afastasse de , ele havia nitidamente ameaçado contra a sua vida. Ela nunca poderia ficar com ele sabendo do risco que corria. Não com a vida que ele levava, cheia de incertezas e mistérios. Não com uma profissão que seu pai abominava. Ela não queria ser tão fraca e dependente, mas infelizmente, naquele momento ela se sentia assim. E Diego também não era tão ruim, ela poderia tolerá-lo, podia se acostumar a viver ao lado dele, se isso garantisse que ficasse bem pra sempre, Diego não era o amor da sua vida, mas ele era bom pra ela, ele transmitia segurança, estabilidade. E era uma escolha do seu pai, por ser militar como ele. De repente, um desespero tomou conta do seu corpo, medo a dominou quando se deu conta de que podiam estar sendo vigiados e a vontade de fugir daquele abraço que antes a confortava tanto se fez presente e insuportável. Então, sem dar resposta alguma a , ela o empurrou com toda a força que tinha, desvencilhando-se do seu abraço, virando-se de costas e correndo sem olhar pra trás, para bem longe dele, com as lágrimas que desabaram de seus olhos dificultando sua visão. Ela não aguentaria se virar e olhar para a imagem da decepção estampada naqueles olhos verdes que iriam invadir os seus sonhos pra sempre. Disso ela tinha certeza.
Seis meses depois...
Curitiba, Brasil – 30 de Agosto de 1980.
Sentada sobre aquela cadeira de ferro um tanto desconfortável, observava Curitiba da sacada do apartamento simples, porém confortável, onde ainda morava com seus pais, no oitavo andar do prédio. A carta que recebera momentos antes em uma das mãos e o anel de noivado em outra. O coração batia descompassado, os pensamentos corriam soltos, a lembrança daquela última conversa a atormentando, os olhos ardiam diante das lágrimas que eram forçadas a permanecer no mesmo lugar. Ela estava confusa, triste e alegre ao mesmo tempo. Sentia raiva, mágoa, alívio e esperança diante da decisão que havia tomado. Era uma mistura de sentimentos ambulantes. Voltou seu olhar para o papel em sua mão mais uma vez. Horas antes, ela tinha a completa certeza do rumo que sua vida tomaria. Na noite anterior, ela havia se conformado com o seu destino e dito sim a Diego em um jantar que reuniu toda a família, tanto dele, como dela. Seu pai fez questão de exibir o noivado dos dois para todos os lados. Mas agora ela já não tinha tanta certeza de que iria se casar com ele afinal. E o culpado por essa mudança de pensamentos era ele, aquele que uma vez ela descobriu ser o seu melhor amigo, que intimamente era o amor da sua vida, aquele que ela havia abandonado meses atrás naquela plataforma na estação de trem, quando decidira fugir e deixar pra trás todo um futuro que a assustava, mas ao mesmo tempo a atraía tanto, que a tornou uma covarde fugitiva.
Paris - França, 05 de agosto de 1980.
Minha doce ,
Não sei por onde começar, mas sei que qualquer coisa que eu diga não irá diminuir a tristeza que eu sinto por tê-la afastado de mim. Sinto muito ter sido precipitado, sinto muito ter entendido tudo errado e tê-la assustado. Queria pedir perdão por isso, mas da maneira correta, cara a cara. E se as circunstâncias permitissem, eu teria voltado, teria ido atrás de você, teria tentado novamente. Mas eu não podia naquele momento. Infelizmente, meu estilo de vida acabou nos afastando. E agora sofro por não tê-la mais comigo. Sofro por não ter abdicado dos meus ideais e ter me pré-moldado para ser merecedor do seu coração. Agora tudo é tão solitário.
A vida nos faz cometer loucuras, , nos faz tomar decisões que nós pensamos ser corretas pro momento, mas que um tempo depois notamos o quão erradas foram. Eu me arrependo da atitude que tomei movido pelo medo que senti quando tive noção de tudo o que estava acontecendo comigo, de tudo o que eu estava sentindo, de como o meu futuro seria. Eu fui idiota e, agindo sem pensar, eu te afastei. Te afastei e mesmo não querendo te perder, no final acabei perdendo da mesma forma.
Eu sinto muito, fui um completo idiota, deveria ter levado os seus sentimentos em conta, não apenas os meus, deveria ter notado que pra ti tudo não passava de uma amizade. Se tivesse visto isso, hoje pelo menos ainda seríamos amigos...
- Ah, , nós nunca conseguiríamos manter nossa amizade apenas como tal, não quando o que você sentia por mim era recíproco, mas eu fui tão medrosa e te deixei partir sem dizer que sentia o mesmo, por causa das ameaças do grande general Gusmão e também porque eu não queria acreditar que aquele sentimento arrebatador e novo pudesse tomar conta do meu coração em tão pouco tempo. – divagava sozinha, murmurou o nome do pai com desgosto enquanto lia novamente aquelas palavras impressas na carta que havia lhe enviado – ela não sabia como, mas agradecia por aquela carta ter chegado a tempo. Ela levou o papel em direção ao peito e o pressionou ali sobre o coração, enquanto admirava a sua cidade natal daquela sacada pela última vez.
- Não olhe agora, mas aquele cara com a câmera de fotografia está tirando uma foto nossa, e ele não para de olhar para você de tempos em tempos. – Lucia disse e logo praguejou baixo quando se virou involuntariamente e observou o tal cara. – Você realmente não sabe ser discreta, amiga. – ela revirou os olhos quando a encarou novamente.
- Ele não está olhando pra gente, deve estar tirando fotos da paisagem. Pare com essa mania de perseguição, Lulu. – a outra respondeu rindo, enquanto terminava de organizar os panfletos com informações sobre os passeios da serra, que seriam distribuídos aos turistas durante a viagem de trem.
Lucia e estavam trabalhando como guias na excursão de trem que ocorria durante todo o final de semana pela serra do mar paranaense. Aquele era um passeio divertido pelas cidades históricas da região, onde o trem percorria por dentro da Mata Atlântica, passando por cidades como Morretes e terminando em Paranaguá. Mas o passeio no qual elas trabalhavam fazia uma parada em Morretes e se encerrava em uma volta de barco com uma visita à belíssima Ilha do Mel. Onde os turistas passavam a noite e depois partiam no dia seguinte de volta a Morretes, de onde embarcariam no trem novamente rumo a Curitiba.
Lucia e eram duas contratadas apenas para os fins de semana, onde o movimento para os passeios era mais intenso, levando à necessidade de mais guias no local. Elas não passavam a noite na ilha como os outros guias, nunca poderia passar a noite fora de casa, elas seguiam de volta com o barco e pegavam o trem para Curitiba, e no domingo estavam novamente na estação pela manhã para uma nova leva de turistas. adorava aquele trabalho, mesmo tendo que fazê-lo escondido dos pais, principalmente do pai, que não admitia que sua filha trabalhasse em algo daquele tipo, ele a queria na escola militar. Para ele, também deveria arranjar um marido, militar como ele, e ficar cuidando da casa. Como se ainda estivessem no século XVIII.
Por ele ser tão rígido, e por sua mãe não ter voz para confrontá-lo, acabava fazendo o que gostava escondido, mesmo já tendo dezenove anos e sendo maior de idade. Ter um pai militar em plena época de ditadura era terrível.
- Ele está, sim, te encarando! – Lucia exclamou novamente. E dessa vez foi quem revirou os olhos para a sua insistência.
- Pare você de encarar ele e vamos logo terminar isso aqui, Lulu. – a garota a repreendeu, mas disfarçadamente olhou na direção do tal cara e ficou surpresa quando sentiu o seu olhar cair diretamente no dela, sem desviar por vergonha de ter sido descoberto. Ele foi além e a brindou com um sorriso torto e ela rapidamente desviou o olhar, porque ela, sim, sentiu seu rosto arder de vergonha.
terminava de colocar as últimas peças de roupa dentro da mala, ela tinha que ser rápida, aproveitar que os pais estavam em algum evento do quartel. Cinco dias haviam se passado desde que ela recebera aquela carta. Na tarde do mesmo dia em que a obteve, ela havia entrado em contato com Fabio, um grande amigo de , com quem ela ainda mantinha certo contato e era ele quem iria ajudá-la em sua “fuga”. sabia que provavelmente estava prestes a cometer uma loucura. Ela não tinha garantias de que iria encontrar , não sabia se ele realmente a estava esperando, mas aquele sentimento que nunca saiu do seu coração a impulsionava a seguir adiante.
“Espero que você me perdoe por ter sido tão medrosa e não ter lutado por nós dois” – ela pensou, enquanto guardava a última peça, em seguida fechou a mala, olhou ao redor, despedindo-se do seu quarto, respirou fundo e enfim saiu do apartamento pra onde não pretendia voltar nunca mais.
- Então você é esse tipo de garota? Que se isola em um mundo particular durante viagens? - uma voz estranhamente familiar a despertou do mundo fantasioso onde a garota havia se instalado desde que se sentou naquela poltrona do trem e abriu o livro de fotografia em seu colo durante o seu intervalo na viagem.
- O quê? - perguntou confusa, virando-se de lado e dando de cara com aquele par de olhos verdes incrivelmente hipnotizantes.
- Desculpe a intromissão. - ele a olhou divertido. - Mas eu achei curioso o título do livro.
- Como você? – encarou o rapaz a sua frente, sem entender como ele sabia o que ela estava lendo.
- Eu confesso, estava te observando há algum tempo e notei o título do livro quando você o retirou da mochila. – ele sorriu.
- O que você é? Um perseguidor? – ela perguntou, tentando soar divertida, mas se sentindo um pouco desconfiada.
- Touché. – ele disse, de uma forma que poderia parecer gay saindo da boca de outros garotos, mas que foi extremamente sexy vindo dele. – Acho melhor eu agir do jeito convencional e parar de assustá-la. Olá, me chamo . – ele sorriu, estendendo-lhe novamente a mão, ele tinha um sotaque diferente, provavelmente paulista. Ela o encarou, sentindo-se completamente hipnotizada. – Sabe, de onde eu venho é falta de educação recusar um aperto de mão. – ele disse, brincando.
- Oh, me desculpe... Meu nome é . – ela disse, sorrindo estranhamente encabulada enquanto pegava em sua mão. Não, aquilo que ela sentiu não poderia ter sido um choque. E por que os pelos do seu braço pareciam ter se arrepiado? Aquelas coisas não poderiam ser reais. Confusa, a garota logo tratou de recolher a sua mão rapidamente.
- Belo nome... . – pronunciou o seu nome enquanto sorria para ela com algo que aparentava ser um sorriso sexy. A forma como ele havia dito fez com que ela sentisse um calor percorrendo todo o seu corpo.
- Obrigada. – ela disse, ainda tímida, como ela nunca havia sido. Ele sorriu. Outro sorriso. Quantos sorrisos diferentes ele teria? Ela se pegou ansiosa por descobrir todos.
- Então, , você estava me encarando mais cedo, não estava? – ele disse, provocando-a, e ela ficou séria, o achando um babaca pretensioso que sabia cortar o clima.
- Na verdade, tenho certeza de era você quem estava me encarando, até a minha amiga notou. Que tipo de maluco é você? Eu gostaria de ficar sozinha, senhor. – ela respondeu, voltando-se para o seu livro enquanto tentava ignorá-lo. riu baixo, mas não se moveu do seu lado. Ele apanhou a câmera na mochila e a preparou, mirando em seguida. – O que você pensa que está fazendo? – finalmente o encarou, parecendo irritada.
- O que fiz durante todo esse passeio. Estou tirando fotos da bela paisagem que compõe a serra, senhorita. – ele respondeu sorrindo, sem parar de tirar fotos dela.
se levantou irritada, pegando sua bolsa e seguindo em direção ao local onde os outros guias estavam reunidos. Ela se perguntava por que se sentia tão irritada pelas bobagens ditas por aquele cara. . Era um idiota. Lindo, mas idiota. E naquele momento ela não sabia, mas ele se tornaria a pessoa mais importante na sua vida, e acima de tudo um grande amigo.
- Você está pronta? – Fabio perguntou, assim que eles pararam diante da rodoviária. olhou ao redor ajustando o capuz do casaco sobre a cabeça, ainda com receio de que o pai surgisse de repente e a obrigasse a voltar pra casa. Respirou fundo quando notou estar segura, pelo menos por aquele momento. O país estava uma loucura com toda aquela onda de repressão. O militarismo¹ que governava o Brasil há mais de quinze anos fazia com que as pessoas se tornassem desconfiadas e medissem cada passo a ser tomado por medo de uma repreensão. Os boatos de tortura eram reais, apesar de o Governo tentar encobri-los. A censura reinava por todo o país, muitos haviam partido por medo e por quererem uma vida melhor; muitos haviam sido “convidados a se retirar” do solo brasileiro se quisessem permanecer livres e vivos. Aquele era o caso de . Mesmo ainda tendo 22 anos, ele já estava envolvido em tanta coisa por não conseguir controlar suas opiniões e o seu jeito impulsivo. Por isso, agora vivia exilado em outro continente.
- Nunca estive tão pronta pra algo em minha vida. – ela respondeu sorrindo sincera após pensar em e no quanto sentia sua falta, Fabio sorriu de volta, abraçando-a.
- Espero que tudo dê certo e que vocês consigam resolver as coisas. Aquele cara te ama, . – ele disse, ainda com ela em seu abraço.
- Eu também espero, Fabio. E também o amo, muito. – sorriu, se afastando, já sentindo um aperto no peito por deixar os poucos amigos e seu país pra trás.
- Bom, vou te repassar as coordenadas pela última vez. – ele olhou ao redor, também parecendo receoso de que alguém aparecesse, o que a deixava ainda mais paranoica. – Você irá de ônibus até a fronteira. De lá, um amigo irá te levar para Buenos Aires, de onde você pegará um voo para os Estados Unidos e em seguida para Paris. Eu já arrumei toda a sua documentação, está tudo aqui nessa bolsa, passaporte e outros documentos. – Ele disse, entregando-lhe a tal bolsa com o que imaginou serem documentos falsos. Um frio lhe percorreu a espinha com o pensamento de ser descoberta. Mas ela não podia fugir com medo novamente, agora ela tinha que ser corajosa e escutar o seu coração. Ela tinha que ir ao encontro de .
“Sei que eu não tenho esse direito, mas eu preciso tentar pelo menos pela ultima vez, preciso fazer com que você não cometa o erro de se casar com alguém que você não ama, apenas pra agradar aos seus pais. E mesmo que você não me ame como eu te amo, prefiro te ter aqui, perto de mim, pra que eu possa te proteger de tudo e todos. Então, mais uma vez eu lhe peço, : Não se case com ele! Recuse esse pedido, venha me encontrar em Paris. Porque eu estou esperando por você, estou esperando há tanto tempo, e acho que pra sempre vou esperar.
Temos um encontro marcado às cinco da tarde no dia oito de setembro, o dia em que nós nos conhecemos há um ano, o dia em que eu te observei pela primeira vez naquele trem e que eu tive certeza que tinha encontrado a pessoal mais especial do mundo. O dia em que eu tive certeza de que te queria na minha vida.
Eu te espero, . Às cinco, no dia oito, no ponto mais alto da Pont des Arts². Na cidade luz, lugar que nós dois planejamos conhecer tantas vezes. Por favor, não falte.
Eu te amo.
.”
releu aquela parte da carta mais uma vez, a proposta e aquele “Eu te amo”, que ela tanto quis dizer de volta ecoando por sua cabeça. Ela respirou profundamente e guardou a carta no bolso, nunca se desgrudando daquele pedaço de papel que era o objeto mais próximo que ela possuía de , o ônibus deu a partida e ela olhou Curitiba pela última vez antes de seguir viagem, antes de seguir seu coração, que a estava levando de volta pra casa, pra sua verdadeira casa. Ao lado de . Finalmente ela havia escolhido o seu amor.
Os raios solares atingiram em cheio o seu rosto, murmurou incomodado com a claridade enquanto tateava a cama à procura do corpo dela, sentindo falta do seu calor o envolvendo. Ele tinha a intenção de puxá-la novamente para os seus braços, enterrar o rosto em seus cabelos e voltar a dormir, mas ao alisar os lençóis frios ao seu lado, ele notou que estava sozinho, e isso há algum tempo, porque aquele lado da cama estava frio. Ela havia ido embora, de novo. Ela nunca passava a noite com ele, mas no fundo ele ainda tinha esperanças de que isso acontecesse algum dia. Bom, não havia sido daquela vez. Mas ele tinha tomado uma decisão noite passada enquanto a observava, sonolenta, em seus braços.
Ele daria um ultimato à , declararia o seu amor por ela e pediria para que ela partisse com ele para Paris. Ele não podia mais permanecer no Brasil, estava sofrendo ameaças e vivia paranóico. Podia ter certeza de que o pai de estava envolvido nisso.
suspirou e um sorriso tomou conta dos seus lábios ao lembrar-se do que ele e haviam feito na noite passada, na forma como os seus corpos se encaixavam, se moldavam perfeitamente. Na sincronia que eles possuíam um com o outro. Quem diria que após aquele encontro de inicio, onde ela nitidamente não havia ido com a cara dele, eles pudessem estar ali agora. Ele estava completamente apaixonado, como nunca havia ficado e como tinha certeza de que nunca mais ficaria.
Abraçando o travesseiro que ainda continha o perfume dos cabelos dela, decidiu que naquele dia, e ele fugiriam para viver juntos pelo resto da vida.
Pena que tudo não aconteceu como ele desejava.
Paris, França – 08 de setembro de 1980.
Já haviam passado alguns minutos do horário do almoço quando finalmente deixou a redação do jornal parisiense, onde havia conseguido emprego como fotógrafo meses antes com a ajuda de um amigo. Ele saiu para a rua sentindo a brisa, já um pouco mais fresca, de Paris envolver o seu rosto. Sentia-se a cada minuto mais ansioso, olhava para o relógio de pulso de tempos em tempos, não queria se atrasar para aquele compromisso tão importante para a sua vida. As memórias de tudo que havia vivido com invadiam sua mente a cada segundo, o que o deixava mais nervoso.
Ele havia se ressentido com ela naquele dia na plataforma de trem, estava tão seguro de que conseguiria partir com ela para Paris, quando tudo o que fez quando ele a questionou foi empurrá-lo e fugir dele como alguém que foge da morte. Naquele momento, ele teve a certeza de que o que ele sentia por ela era muito maior do que o que ela sentia por ele. Ela nem ao menos tentou, nem ao menos se explicou ou se despediu dele direito. Ela apenas fugiu, levando consigo uma parte importante dele: seu coração. E o deixando sozinho e decepcionado.
Ele não tinha entendido aquela atitude de , e ainda não conseguia pensar nela sem sentir mágoa, até que, pouco tempo antes, recebeu uma carta de Lucia, a melhor amiga de . Naquele pedaço de papel, Lucia lhe contara tudo, lhe contara os motivos de , lhe contara sobre as ameaças do pai dela e também contara sobre a preocupação que sentia pelo rumo que a vida da amiga estava tomando. não sabia como Lucia o havia encontrado e nem como havia conseguido seu endereço para enviar aquela carta, mas imaginava que Fabio talvez tivesse algo a ver com isso, pois o amigo era apaixonado por ela, por mais que tenha dito a ele milhares de vezes que não queria ser encontrado e que não queria notícias de quem um dia ele pensava que havia sido sua, mas que ele havia perdido no final.
não queria saber nada sobre , não queria sofrer mais, mas a carta que recebera de Lucia fez tudo o que ele havia decidido cair por água abaixo. Foi então que ele resolveu tentar mais uma vez, foi então que ele escreveu uma carta para ela onde ele diria tudo e tentaria de tudo para que ela voltasse pra ele. E foi isso o que ele fez. Agora tinha esperanças de que Fabio a havia recebido e encaminhado para . Tinha esperanças de que ela viesse encontrá-lo como ele havia pedido na carta. Ás cinco horas da tarde, em ponto, ele estaria esperando por ela no ponto central da Pont des Arts, a ponte dos apaixonados, onde os casais declaravam o seu amor eterno. Ele sabia daquela informação não por morar em Paris agora, mas porque fora quem havia lhe dito aquelas palavras meses antes e agora ele esperava que ela se lembrasse do significado daquele local e entendesse o porquê do encontro ter sido marcado ali.
- , volta aqui! – pediu novamente, enquanto corria para alcançá-la na saída da estação de trem. – Droga de garota geniosa! – ele murmurou baixo, acelerando a corrida e finalmente a alcançou, puxando-a para ele pelo braço.
- Me solta, seu idiota! – esbravejou, tentando se afastar dele e tentando também segurar as lágrimas que se acumulavam em seus olhos. Ela não entendia por que estava se sentindo daquela forma. Por que, de repente, sentia a necessidade de dar um murro bem no nariz daquele babaca? nunca havia sentido tanta raiva antes por alguém.
- Shhh, fica calma. – pediu quando a prendeu em seus braços e a abraçou forte, tentando contê-la e acalmá-la. – Por que você está assim? – ele perguntou baixo em seu ouvido e ela sentiu um arrepio pelo corpo ao ouvir aquela voz deliciosamente rouca tão de perto.
- Você é um imbecil, Meyer! Um safado de marca maior! Um puta galinha nojento! – se debatia furiosa. – Tire suas mãos imundas de mim e vá agarrar aquela loira de farmácia! – ela soltou aquela frase, arrependendo-se logo em seguida ao notar o olhar de sobre si.
- Você está com ciúme, ? – ele perguntou, sorrindo como um completo idiota, e ela sentiu mais raiva dele ainda.
- Por que você está sorrindo, sua anta? – ela perguntou brava. – Eu não estou com ciúme coisa nenhuma, deixe de ser imbecil! Por que eu sentiria ciúme de você? Nós somos apenas amigos! – ela se remexeu em seus braços novamente. Nunca iria admitir para , mas ela estava, sim, morrendo de ciúme, e agora ela conseguia enxergar isso. Eles eram apenas amigos, mas ela estava furiosa por ter flagrado ele cheio de sorrisos e carinhos pra cima daquela loira nojenta, quando ele deveria ter ido se encontrar com ela na lanchonete da estação meia hora antes. Céus, ela estava perdida! Talvez o que ela sentisse por não fosse mais apenas amizade. E isso fez com que ela estancasse diante dele ao chegar a essa conclusão, dando de cara com aquele olhar bobo que ele sempre direcionava a ela.
- Pare de me olhar desse jeito, você está me deixando envergonhada! – a garota reclamou, escondendo o rosto entre as mãos, já se sentindo mais calma. Ela não deveria sentir ciúme de , não aquele tipo de ciúme, ele não pertencia a ela. segurou suas mãos sorrindo e as retirou, observando seus olhos que insistiam em desviar do olhar dele, sempre fugindo.
- Você fica tão linda assim toda descabelada e cheia de raiva, senhorita. – ele sorriu quando ela o encarou finalmente. – Não desvie o seu olhar do meu, eu gosto de olhar nos seus olhos e tentar decifrar a sua alma neles. Gosto de observar você, porque é linda, . Não me prive desse prazer. – ele pediu, tocando seu rosto carinhosamente.
- Você fica sempre me encarando, desde o começo. Você é muito estranho, sabia? – ela disse o encarando petulante e ele arqueou a sobrancelha, sentindo-se ofendido com o elogio, mas logo se retratou. – Mas isso é ridiculamente adorável e foi o que me atraiu em você desde o inicio. Sem contar que você sempre sabe a coisa certa a dizer pra me deixar com as pernas feito varas de bambu e o coração acelerado. – ela confessou baixo e ele riu de sua declaração, levantando seu rosto e em seguida a encarando seriamente, dando fim ao espaço que separava os seus lábios dos dela a presenteando-a com um beijo acalorado. Um beijo que ele queria dar nela desde o começo. O primeiro beijo.
Eram quase seis da tarde, ela não havia aparecido e já estava conformado de que nunca mais a veria. Ele já havia esperado por quase uma hora e nada de . Derrotado, ele deixou a ponte e caminhou ao longo do rio de cabeça baixa, triste novamente por ver o amor de sua vida escapar por entre os seus dedos. Estava tão distraído, que não notou o amigo Henri o chamando. O francês que trabalhava com no mesmo jornal correu até ele quando não obteve resposta ao seu chamado, e disse em um português carregado de sotaque:
- Ora, meu grande amigo, para onde está indo assim tão distraído? – Henri perguntou, após notá-lo.
- Não sei, Henri. Não sei de mais nada nessa vida. – ele disse, sentindo-se tão triste e decepcionado novamente por causa da mesma pessoa.
- O que é isso, mon ami³! Coloque um sorriso no rosto e vamos comigo até o bar da esquina, alguns colegas estão esperando lá para uma confraternização de fim de tarde. Você saiu tão apressado da redação que nem conseguimos chamá-lo. Ainda bem que me atrasei e o encontrei caminhando por aqui! – Henri contou enquanto apenas o observava abatido.
- Não estou com cabeça para festejar hoje, cara. Desculpe-me. – ele tentou recusar o convite, mas Pierre foi insistente.
- Posso dizer pelo seu olhar triste que essa sua atitude tem algo a ver com alguma mulher. Sua cara de coração partido é evidente, mon ami! E por isso me vejo na obrigação de lhe ajudar, levando-o até aquele bar para que você possa afogar as suas mágoas, prometo que serei um bom ouvinte, certo? – Henri tentou novamente e decidiu acompanhá-lo, talvez um bom porre fosse tudo o que ele precisasse no momento para se esquecer, pelo menos por agora, de . Porque não seria tão fácil assim se esquecer dela pra sempre.
- Tudo bem, vamos encher a cara. – ele declarou, ainda desanimado.
- É assim que se fala, mon ami! É assim que se fala. – Henri sorriu concordando e guiou até o bar onde os colegas de redação os esperavam.
Uma hora e meia depois, já se encontrava completamente bêbado cantando canções de amor bregas em português, canções tristes sobre corações partidos, sendo acompanhado pelos amigos que também estavam visivelmente bêbados – apesar de não estarem tão ruins quanto - e cantavam a melodia enrolados, apesar de não entenderem uma palavra do que ele estava dizendo. O barman os havia expulsado do bar pela cantoria alta e a baderna que estava incomodando o resto dos clientes e eles compraram uma garrafa de uísque e outra de vinho e seguiram em um bando de seis homens às margens do rio Sena - o que era um tanto perigoso, já que estavam todos tão bêbados, que era bem possível que um deles caísse naquelas águas escuras e se afogasse durante a noite.
sentia a sua cabeça dar voltas, a visão completamente embaralhada, parou um pouco no meio do caminho para respirar fundo. Havia exagerado na dose, ele sabia disso, mas também sabia que precisava daquilo para seguir adiante. Precisava de um grande porre pra que a dor de cabeça na manhã seguinte o fizesse se lembrar de que amar era uma merda, e com isso ele prometeria a si mesmo que nunca mais passaria por isso de novo, nunca mais amaria alguém. No dia seguinte, ele seria outro homem. Ele iria usar e descartar, como a maioria dos seus amigos faziam, como ele fazia antes de conhecer aquela maldita garota que havia pisoteado o seu coração, após ter lhe dado ele.
- Vamos, , vamos! – Henri chamava para que ele se apressasse, estava também visivelmente mais alegre e embriagado.
Ele deixou aqueles pensamentos de lado e se pôs a caminhar de encontro aos amigos que já haviam passado pela ponte Pont des Arts, só então ele notou que estava novamente diante daquele lugar, o local do encontro, tentou apressar os passos tropeçando algumas vezes para passar logo e deixar aquela ponte pra trás, talvez nunca mais passasse por ali novamente para não se lembrar da decepção que havia sofrido mais cedo. Foi quando trombou forte em alguém e ambos foram parar no chão. Ele xingou alto, sentindo tudo doer, principalmente a cabeça, que já doía pela bebida, quando aquela voz, que ele ainda se lembrava tão bem, invadiu o ambiente e ele levantou o olhar, encontrando diante dele.
- . – Ela murmurou, parecendo tão surpresa quanto ele, de repente seus olhares se encontraram e todas as palavras não ditas pareciam estar sendo transmitidas diante daquela troca de olhar.
- Um dia eu ainda vou conhecer Paris. – comentou, com a cabeça deitada sobre o colo de . Eles estavam no apartamento dele, enquanto seus pais achavam que ela estava em um curso de datilografia com Lucia, que era sua cúmplice. , que acariciava suas mechas, sorriu, ouvindo os desejos da sua garota.
- E eu vou estar lá com você. – ele garantiu, sabendo que não seria fácil, mas ele faria o possível e o impossível pra realizar o desejo dela. sorriu, sentando-se diante dele e o abraçando em seguida.
- Eu não desejo que mais ninguém esteja ao meu lado a não ser você. Nós vamos nos divertir muito. Vamos passear por toda a cidade, conhecer os pontos turísticos e não turísticos, deixar um cadeado com nossos nomes pendurado na Pont des Arts... – ela falava empolgada e , não entendendo a história do cadeado, questionou-a sobre isso. – É só algo que os casais fazem quando passam por lá, para simbolizar o que sentem um pelo outro. – ela explicou, sonhadora. não se conteve mais e se aproximou, beijando-a com força. Como era bom sentir aqueles lábios sobre os seus. Ele poderia ficar ali com ela nos seus braços pra sempre. – Ok, garanhão. Você já conseguiu me deixar sem ar. – se afastou um tempo depois, sorrindo. resmungou pela separação antecipada, ele ainda queria mais dela, muito mais.
- Por que você sempre corta a parte boa da coisa? – ele reclamou, brincando, e ela o encarou, travessa.
- Pra te fazer ficar com gostinho de quero mais, querido. – piscou e em seguida lhe agarrou novamente, beijando-a de novo.
- Você é muito má, garota! – ele dizia entre o beijo. – Mas o seu propósito está sendo alcançado com sucesso. – ele concluiu e riu sonoramente, recebendo mais beijos quentes em seguida.
- Não posso estar tão bêbado a ponto de estar alucinando. – reclamou, levando a mão à cabeça quando a sentiu latejar. Os amigos haviam estranhamente desaparecido, haviam o abandonado e seguido caminho. Ele piscou os olhos várias vezes, mas ela continuava ali, diante dele. – Droga, eu bebi muito mesmo!
- Eu não sou uma alucinação, Meyer. – respondeu, sorrindo. – Mas você bebeu muito mesmo. – ela se levantou e estendeu a mão para ajudá-lo a se colocar de pé em seguida. – Vamos, , me ajude aqui, você é mais pesado que eu. – reclamou, tentando levantá-lo, mas ele se enrolava e caía de novo. – Quer saber, vamos conversar aqui mesmo enquanto você recobra um pouco da lucidez. – ela desistiu, sentando-se ao lado dele no chão, diante da Pont des Arts.
- É mesmo você, aqui do meu lado? – perguntou, encarando-a. – Aqui em Paris, comigo, finalmente?
- Sim, sou eu, querido. – ela respondeu, encarando-o também.
- Eu não posso acreditar, eu pensei que você tivesse desistido de vez! Eu marquei aquele encontro, aqui nessa mesma ponte, rezei para que você tivesse recebido minha carta, que viesse até mim. Eu estive aqui mais cedo, às cinco da tarde, como o combinado, mas você não apareceu e eu então imaginei que nunca mais te veria, eu tomei um porre do caralho porque imaginei que tinha te perdido pra sempre! – ele exclamou, levando as mãos à cabeça, que doía como o inferno. – Mas agora, você está aqui, e essa merda de dor de cabeça foi à toa. – ele riu, se achando patético.
- Desculpe por não ter chegado a tempo, querido. – tocou o seu rosto e fechou os olhos, sentindo e se recordando daquele toque que tanto lhe fez falta. – Juro que tentei estar aqui às cinco em ponto, mas houve uma atraso no aeroporto e quando cheguei a Paris e vi que já passavam das sete da noite eu quase desisti de vir para cá, ia direto para o hotel tentar entrar em contato com Fabio pra conseguir o seu endereço, porque eu imaginei que você já havia partido. Mas algo me fez parar aqui minutos atrás, quando o taxi se aproximava desse local. Algo me fez descer do veículo e caminhar às margens do rio, algo me trouxe até você. Mesmo com o nosso desencontro de mais cedo.
- Foi o destino. – sussurrou, ainda de olhos fechados. – O destino te trouxe de volta pra minha vida, como ele uma vez te colocou nela naquele passeio de trem. – ele sorriu e imitou o seu gesto.
- Foi o amor, meu querido. – ela contradisse. – Foi o amor que eu sinto por você, o amor que nos une que me fez vir até aqui para te encontrar finalmente e pedir perdão por ter sido tão medrosa e ter te deixado partir. – ela agora tinha lágrimas nos olhos, sentindo-se mal por tudo pelo que eles haviam passado, por causa do seu medo às ameaças do pai. – Por favor, me perdoe, ? – ela pediu.
levou uma mão em direção ao rosto dela, secando suas lágrimas, a lucidez voltando aos poucos diante daquele encontro inusitado e de toda a emoção que o envolvia. Aproximou seu rosto do dela e disse:
- Eu já te perdoei, . No momento em que eu marquei esse encontro, eu já sabia que não queria mais ninguém na minha vida além de você. Porque você é minha e eu sou seu. Você é única. É “a única”. Não importa o que os outros façam ou digam pra nos separar. O que importa é que agora você finalmente está aqui, comigo. E eu nunca mais vou permitir que você saia do meu lado. – e após essas palavras, ele a beijou com força, tentando compensar todo o tempo que passaram separados todo o tempo perdido. – Vamos pra casa, porque eu quero te amar pela noite toda, quero te amar pra sempre. – ele pediu, sentindo-se um pouco mais sóbrio, pelo menos conseguindo finalmente se levantar.
- Você precisa é de um banho bem gelado pra curar essa bebedeira. – disse, rindo.
- Contanto que você tome ele comigo. – ele respondeu com o seu sorriso safado no rosto. Como era bom tê-la de volta.
- Vou pensar no seu caso, idiota. – eles se deram as mãos e caminharam, mas parou por um momento, deixando confuso.
- O que foi? – ele perguntou, não entendendo, enquanto ela procurava algo dentro da pequena bolsa que carregava.
- Achei! – ela exclamou animada, retirando um pequeno cadeado vermelho da bolsa, fazendo com que finalmente entendesse. – Vem! – ela correu, puxando-o pela mão em direção à ponte e quando eles estavam parados sobre o ponto mais alto, parou e se virou pra ele. – Quero te dar o meu amor eterno, Meyer. Quero fazer com que você se apaixone por mim a cada dia de agora em diante, assim como eu quero me apaixonar por você. Não quero sair do seu lado nunca mais, porque eu sou sua e assim como você disse que eu sou a única pra você, eu quero que você saiba que apesar de tudo, você sempre foi o único pra mim. – ela se virou por um momento e prendeu aquele cadeado vermelho na ponte. – Uma vez eu te disse o significado desse gesto, espero que você se lembre e sempre que nós passarmos por aqui, que se recorde também desse dia, porque com esse cadeado eu estou te dando o meu amor eterno, . Quero ficar com você pelo resto dos meus dias, porque eu te amo. Muito. – ela concluiu e quem tinha lágrimas nos olhos era dessa vez, ela finalmente havia dito aquelas três palavras, pela primeira vez, ela havia confessado o que sentia.
- Eu também te amo, minha doce . – e ele a beijou novamente do alto da ponte sobre o céu estrelado de Paris, declarando o seu amor eterno. 1. A Ditadura militar no Brasil teve seu início com o golpe militar de 31 de março de 1964 e o seu fim em 1985. Foi um período em que o país sofreu com a repressão e censura imposta pelo governo militar, muitos jornalistas e artistas em geral que iam contra as atitudes do governo foram colocados em exílio, obrigados a deixar o país. Pessoas sofriam tortura e algumas desapareceram misteriosamente na época e seus parentes não tiveram noticias até hoje.
2. Pont des Arts - é uma ponte em Paris que atravessa o rio Sena. Famosa pelos cadeados que cobrem praticamente toda a sua extensão, os chamados “cadeados do amor” são colocados por casais apaixonados para simbolizar o seu amor. Em 2014 a ponte acabou desabando pelo peso de tantos cadeados e a Prefeitura de Paris decidiu retirar todos eles do local.
3. Expressão que significa “meu amigo” em português.
Fim
Nota da autora: Se você chegou até aqui, obrigada por ter lido mais uma história minha, apesar de esta ser uma mais curta, fiquei muito feliz quando vi que teria uma ficstape do Ed e corri para participar. Eu particularmente amo essa canção (título e tema da história) e espero que você tenha gostado do que leu.
Nos veremos numa próxima vez! Beijos.
Ju Ribeiro.
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Nos veremos numa próxima vez! Beijos.
Ju Ribeiro.