Capítulo Único
dois meses após o acidente
Sentir falta de um passado acaba sendo raro quando a maioria tenta esquecê-lo. Não era comum e tão pouco normal, mas, quando meu passado se tratava de uma dúvida constante.
Eu não conseguia me lembrar de quem eu fui e muito menos sabia quem eu era, olhando de forma confusa e estranha para as pessoas ao meu redor, minhas memórias me enganavam tanto quanto qualquer um, principalmente você no canto esquerdo do lado de fora do quarto frio de hospital.
— Está tudo bem, querida — minha mãe, ou assim me foi dito, dizia, alisando meu cabelo de forma tranquila — você sofreu um acidente, a chuva forte começou e seu carro derrapou.
Por mais que eu colocasse minha atenção nela, meu foco me direcionava a seus ferimentos e a bolsa de soro ligada ao seu braço enquanto seus curiosos olhos me olhavam de forma enigmática de fora do quarto.
— Você estava sozinha na hora que tudo aconteceu, pelo menos é o que soubemos — meu irmão, como assim foi dito, disse.
— Certeza? — foi a primeira palavra que disse desde que havia acordado.
— Sim — eu não sabia se acreditava, a inquietude de todos ali me incomodava, não era como se eu os sentisse como família mesmo que dissessem ser, o contrário dos olhos curiosos do lado de fora do quarto.
Eles eram tão familiares quanto qualquer um outro naquele lugar, os seus olhos.
Último checkup
— Como está se sentindo hoje maninha? — de todos ele era o que mais agia estranho, o tão dito irmão, sempre fazia parecer que algo o pressionava, pelo menos todas as vezes que conversávamos eu me sentia assim e piorava nas vezes que ele te via pelos corredores, era como se um fantasma o assombrasse.
Quem era você?
Porque você é mais parte de mim do que minha própria família?
Meu corpo relacionava a você, minha pele se arrepiava, até meu coração batia mais forte e meus olhos o reconheciam, apenas minha mente não se recordava da nossa história, da qual, eu morria por saber a cada dia.
Mesmo que nenhuma das vezes que você esteve próximo, sua boca pronunciou palavras que eu reconheceria.
— A cada dia com vontade de fugir desse lugar — eu ri mas não escutei outra risada, o que me fez tirar os olhos da mala que arrumava lentamente.
O rosto sério do então dito irmão, me dizia algo.
— Você se lembrou? — ele disse baixo e eu o olhei confusa, mas seu olhar se mantia perdido meio a parede branca atrás de mim — eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, eu…
— Bom dia! — uma enfermeira disse entrando com sua prancheta em mãos no quarto — vejo que já está arrumando suas malas — ela sorriu e meu irmão saiu abruptamente do quarto — pronta para o último checkup?
Balancei a cabeça positivamente.
Minha mente divagava, eu sabia que algo estava estranho quanto te vi e sabia que algo estava fora do lugar quando a família da qual todos dizem ser a minha, soa mais distante do que as Infermeiras as vezes.
Eu havia te deixado de alguma forma?
O que eu precisava me lembrar?
— Posso te perguntar uma coisa?
A enfermeira balançou a cabeça positivamente, segurando sua prancheta contra o peito.
— Por acaso vocês ficam com a roupa ou pertences que o paciente foi admitido no hospital?
Ela riu, balançando a cabeça negativamente.
— Em alguns casos apenas, quando são envolvidos a crimes mas acidente de trânsito normalmente deixam as roupas em mal estado então pedimos permissão a família ou entregamos os pertences a eles — ela explicou.
Por um momento achei que minha resposta apareceria, talvez algo que estivesse naquela roupa, em um bolso ou carteira, qualquer coisa.
— Vou preparar os papéis para o exame e já venho te buscar — ela disse e eu apenas assenti vendo ela passar pela porta.
Meu desapontamento me incomodava, eu sequer esperava me sentir assim.
— Eu não deveria estar dizendo isso — ela disse voltando minutos depois com papéis em mãos — mas a sua chegada é um pouco difícil de esquecer, principalmente suas roupas.
A olhei confusa e ela riu.
— Passam coisas muito esquisitas nesse hospital mas não é sempre que vemos alguém chegar em um vestido de noiva, é marcante.
Ela piscou me deixando no quarto sozinha mais uma vez.
Vestido de noiva?
Complicações
— Porque ela ainda não poderá receber alta, doutor? — Doutor que cuidava de mim desde que havia acordado e provavelmente antes sorriu aos então ditos, meus pais e explicou que era necessário repouso pois ainda haviam lesões que não estavam progredindo na cura como estava programado, o que o último checkup que havia feito, havia mostrado.
— Com isso esclarecido, eu preciso conversar com a sós um momento — disse.
Por ser um amigo da família, aquela foi a única situação em que fiquei sem nenhum deles por perto, o alívio foi tão grande mesmo sem entender o motivo.
— , há algo que você não está me contando, não é? — perguntei sabendo que ele estava visivelmente inquieto.
— , preciso que você me escute com atenção Há algo que eu queria te contar há algum tempo, mas foi difícil encontrar o momento certo — ele disse com cuidado.
Não respondi, apenas assenti.
— Antes do acidente, faziam anos que você não fala com seus pais porque eles te forçaram em casamento arranjado por motivos comerciais e financeiros mas, algumas semanas atrás eles te levaram contra sua vontade e antes do acidente você ia se casar com um desconhecido, porém, você tomou a iniciativa de fugir quando veio escondido te buscar e foi assim que você acabou parando nesse hospital — explicou, aquilo não me assustava ou surpreendia, eu sabia que algo estranho partia daquela família mas não imaginava que outra pessoa estaria envolvida — e agora essa pode ser sua única chance de salvar os três.
— Três? — perguntei assustada. — Você, e o serzinho que vocês dois fizeram e que aguentou um impacto muito grande no acidente e ainda sobreviveu — Ele disse sorrindo — você precisa sair daqui o quanto antes.
Com o coração acelerado, saio do quarto de hospital e me sento em um banco nos corredores, tentando absorver tudo o que acabei de descobrir. se senta ao meu lado e, com delicadeza, segura minha mão.
Ele me conta detalhes do passado que eu havia esquecido. Meus pais, preocupados com a reputação da família e envolvidos em negócios, haviam planejado um casamento arranjado com outra pessoa. Eu estava prestes a me casar por conveniência, ignorando completamente o verdadeiro amor que representava em minha vida.
, uma pessoa da qual eu não me lembro mas meu coração sim.
— Então aquela pessoa que sempre vinha me observar do lado de fora do quarto era — comentei mais comigo mesma do que com — — o chamei — você precisa me ajudar!
— Você quem manda!
Fuga
já não estava no hospital, disse que não seria seguro que ele ficasse ali por mais tempo e mesmo assim ele havia insistido alguns dias, até meu suporto irmão ameaça-lo noites depois. Por isso, nós havíamos nos desencontrado quando eu caminhava pelo hospital em busca de saber quem ele era.
Mas não aconteceu.
, depois de dizer a minha família que uma anemia havia me debilitado umme colocou em um dos cestos de trocas de roupas limpas dos leitos de hospital com a ajuda da mesma enfermeira que me havia contado sobre o vestido de noiva.
— Pronta? — A enfermeira que levava o carrinho me perguntou antes de sairmos do quartinho.
— Sempre! — respondi recebendo dela um sorriso satisfatório.
Eu e havíamos contado toda a história e por nossa sorte ela era uma romântica incurável, mesmo que eu e olhavamos mais a situação como uma tragedia incuravel.
— Vamos tirar você de perto desse bando de abutres — ela disse me cobrindo com o pano.
Saímos e mesmo que eu não visse nada, sabia o caminho que estávamos percorrendo e que a qualquer momento passaríamos por meu irmão na máquina de snacks.
— Enfermeira! — ouvimos a voz do meu irmão e podia ter certeza de que a mesma se irrigeceu ao ouvir ser chamada, assim como a minha respiração prendeu no mesmo momento.
— Tem alguma outra dessas funcionando pelo hospital? — ele perguntou — não sei qual o problema dela, estava normal ontem.
— Que estranho, estava funcionando bem agora pouco mas sim, existe uma exatamente igual no terceiro andar, ala dois — ela respondeu levemente nervosa.
— Ah, certo! Vou pelo elevador então, obrigado — ele respondeu e eu pude ouvir seus passos se afastando.
Ela praticamente começou a correr comigo dentro do carrinho, depois disso.
— Ele vai desconfiar se ver que as duas máquinas estavam desligadas a propósito, precisamos ir mais rápido então segure-se firme que estamos chegando na saída dos fundos apenas para pessoal do hospital — ela disse inquietamente — Doutor já está te esperando com as coisas que vai precisar.
Passamos pela porta dos fundos escutando gritos pelo meu nome, ou seja, ele já havia descoberto e se ele já havia descoberto provavelmente minha família também.
— Pronto! — ela disse — pode sair, esta vindo para te ajudar já que você ainda está debilitada, eu preciso entrar e fingir que apenas estava levando os lençóis para dentro.
— Obrigado! — eu disse sorrindo assim que me descobri — te convidamos quando o casamento de verdade acontecer, peço para te levar.
— Eu ficarei muito agradecida pois eu realmente poderia pegar o buquê e quem sabe desencalhar — ela brincou.
— Vamos? — disse com pressa — nos encontrará no aeroporto, estou com suas coisas incluindo passaporte e identificações, falei que precisava para alguns trâmites do hospital.
— Ele já sabe? — perguntei me apoiando em .
— Ele precisava saber, vocês não estão a salvos vivendo aqui — ele respondeu — por isso estou mandando vocês para minha casa de verão na Flórida e já deixei o contato de uma doutora que se formou comigo, ela vai cuidar de perto esse bebezinho até que eu possa visita-los.
— — o chamei assim que nos sentamos no carro — obrigado, de verdade!
— Vocês merecem isso, já foi meu melhor amigo antes e eu sei que pisei na bola mas esse é o momento de resolver isso — o olhei confusa enquanto ele dirigia — deixei essa parte de fora ou você não confiaria em mim para te ajudar.
— Você era o noivo! — eu disse, juntando as peças.
Ele sorriu sem graça.
— Desculpa não contar antes, eu sei que pisei na bola mas quero arrumar tudo agora, vocês sempre se mereceram, desde o colégio quando nós namorávamos e você o conheceu por acidente e foi instantâneo, eu sabia que tinha te perdido ali — ele disse — e não me arrependo, porque eu encontrei alguém que eu amasse.
— Eu não fazia ideia, obrigado por me contar — respondi ainda um pouco surpresa.
— Chegamos — ele disse saindo do carro com pressa, olhando seu celular que tocava sem parar — seu irmão está me ligando sem parar então suponho que eles estarão aqui em poucos minutos, você precisa entrar na ala de embarque logo, já está esperando por você lá — disse me estendendo algumas coisas — seus documentos, dinheiro, algumas roupas que faltaram e isso.
Ele entregou a caixinha com suas alianças e uma fotinho do primeiro ultrassom.
— Ele ainda não sabe, mostre quando já estiverem seguros no ar, em direção a nova casa provisória de vocês, ele vai ficar feliz de saber que um dos maiores sonhos dele que era ter uma família, se realizou com o outro sonho dele já realizado, você.
Abraçar parecia como um adeus e eu queria que fosse como um adeus, aquela não era minha vida, ali não era meu lugar, mas dali para frente seria o meu destino.
Entrei na ala de embarque escutando gritos do lado de fora, tanto de me dizendo para ir, quanto de todos da família, que não puderam passar para a sala de embarque assim que eu pisei nela, me fazendo suspirar aliviada.
— ? — escutei a voz vinda de trás de mim — você não me deixou.
— — repeti seu nome não tão estranho assim.
— Você…
— Não, ainda não, minhas memórias irão voltando conforme o tempo…ou não — respondi entendendo o que ele queria saber.
— Podemos criar outras e esquecer essas juntos.
— Elas fazem parte de nós e provavelmente algum momento eu me lembrarei, mas eu aceito criar novas e melhores com você! — respondi sincera.
Parecia loucura acreditar em uma história assim do nada, mas me mostrou fotos, vídeos e inúmeras provas de que eu só fui feliz naquela vida enquanto estava com , eu não tinha porque duvidar.
— Prazer, eu sou o ! — ele disse sorrindo e estendendo a mão.
— Prazer, ! — respondi da mesma forma.
EPÍLOGO
— Ah! — Eu exclamei assim que me sentei — esqueci de te mostrar uma coisa.
Tirei a caixinha com as alianças da mochila e sorri com ele fazendo cara de confuso.
— Isso é um pedido de casamento? — ele perguntou rindo.
— Ainda não, mas provavelmente mais para frente seja — disse sendo sincera — além das alianças a caixa tem mais uma surpresa.
Ele abriu ela por completo, vendo um pequeno envelope grudado na parte de cima.
— O que é?
— Abre!
Ele abriu e sua primeira reação foi diferente do que ela esperava.
Ele ficou mais pálido do que ela esperava.
— Água por favor! — pedi a aeromoça que estava próxima, rindo da cara dele que agora além de pálido, chorava feito criança.
Tirei a caixinha com as alianças da mochila e sorri com ele fazendo cara de confuso.
— Isso é um pedido de casamento? — ele perguntou rindo.
— Ainda não, mas provavelmente mais para frente seja — disse sendo sincera — além das alianças a caixa tem mais uma surpresa.
Ele abriu ela por completo, vendo um pequeno envelope grudado na parte de cima.
— O que é?
— Abre!
Ele abriu e sua primeira reação foi diferente do que ela esperava.
Ele ficou mais pálido do que ela esperava.
— Água por favor! — pedi a aeromoça que estava próxima, rindo da cara dele que agora além de pálido, chorava feito criança.
FIM
Nota da autora:
Obrigado desde já pela leitura!
Xoxo Caleonis <3
Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Xoxo Caleonis <3
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