01. Opening Sequence

FINALIZADA.

Capítulo Único

Dia 1,
dois meses após o acidente

Sentir falta de um passado acaba sendo raro quando a maioria tenta esquecê-lo. Não era comum e tão pouco normal, mas, quando meu passado se tratava de uma dúvida constante.
Eu não conseguia me lembrar de quem eu fui e muito menos sabia quem eu era, olhando de forma confusa e estranha para as pessoas ao meu redor, minhas memórias me enganavam tanto quanto qualquer um, principalmente você no canto esquerdo do lado de fora do quarto frio de hospital.

— Está tudo bem, querida — minha mãe, ou assim me foi dito, dizia, alisando meu cabelo de forma tranquila — você sofreu um acidente, a chuva forte começou e seu carro derrapou.

Por mais que eu colocasse minha atenção nela, meu foco me direcionava a seus ferimentos e a bolsa de soro ligada ao seu braço enquanto seus curiosos olhos me olhavam de forma enigmática de fora do quarto.

— Você estava sozinha na hora que tudo aconteceu, pelo menos é o que soubemos — meu irmão, como assim foi dito, disse.
— Certeza? — foi a primeira palavra que disse desde que havia acordado.
— Sim — eu não sabia se acreditava, a inquietude de todos ali me incomodava, não era como se eu os sentisse como família mesmo que dissessem ser, o contrário dos olhos curiosos do lado de fora do quarto.

Eles eram tão familiares quanto qualquer um outro naquele lugar, os seus olhos.

Dia 11,
Último checkup

— Como está se sentindo hoje maninha? — de todos ele era o que mais agia estranho, o tão dito irmão, sempre fazia parecer que algo o pressionava, pelo menos todas as vezes que conversávamos eu me sentia assim e piorava nas vezes que ele te via pelos corredores, era como se um fantasma o assombrasse.
Quem era você?
Porque você é mais parte de mim do que minha própria família?
Meu corpo relacionava a você, minha pele se arrepiava, até meu coração batia mais forte e meus olhos o reconheciam, apenas minha mente não se recordava da nossa história, da qual, eu morria por saber a cada dia.
Mesmo que nenhuma das vezes que você esteve próximo, sua boca pronunciou palavras que eu reconheceria.
— A cada dia com vontade de fugir desse lugar — eu ri mas não escutei outra risada, o que me fez tirar os olhos da mala que arrumava lentamente.
O rosto sério do então dito irmão, me dizia algo.
— Você se lembrou? — ele disse baixo e eu o olhei confusa, mas seu olhar se mantia perdido meio a parede branca atrás de mim — eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, eu…
— Bom dia! — uma enfermeira disse entrando com sua prancheta em mãos no quarto — vejo que já está arrumando suas malas — ela sorriu e meu irmão saiu abruptamente do quarto — pronta para o último checkup?
Balancei a cabeça positivamente.
Minha mente divagava, eu sabia que algo estava estranho quanto te vi e sabia que algo estava fora do lugar quando a família da qual todos dizem ser a minha, soa mais distante do que as Infermeiras as vezes.
Eu havia te deixado de alguma forma?
O que eu precisava me lembrar?
— Posso te perguntar uma coisa?
A enfermeira balançou a cabeça positivamente, segurando sua prancheta contra o peito.
— Por acaso vocês ficam com a roupa ou pertences que o paciente foi admitido no hospital?
Ela riu, balançando a cabeça negativamente.
— Em alguns casos apenas, quando são envolvidos a crimes mas acidente de trânsito normalmente deixam as roupas em mal estado então pedimos permissão a família ou entregamos os pertences a eles — ela explicou.
Por um momento achei que minha resposta apareceria, talvez algo que estivesse naquela roupa, em um bolso ou carteira, qualquer coisa.
— Vou preparar os papéis para o exame e já venho te buscar — ela disse e eu apenas assenti vendo ela passar pela porta.
Meu desapontamento me incomodava, eu sequer esperava me sentir assim.
— Eu não deveria estar dizendo isso — ela disse voltando minutos depois com papéis em mãos — mas a sua chegada é um pouco difícil de esquecer, principalmente suas roupas.
A olhei confusa e ela riu.
— Passam coisas muito esquisitas nesse hospital mas não é sempre que vemos alguém chegar em um vestido de noiva, é marcante.
Ela piscou me deixando no quarto sozinha mais uma vez.
Vestido de noiva?

Dia 22
Complicações

— Porque ela ainda não poderá receber alta, doutor? — Doutor null que cuidava de mim desde que havia acordado e provavelmente antes sorriu aos então ditos, meus pais e explicou que era necessário repouso pois ainda haviam lesões que não estavam progredindo na cura como estava programado, o que o último checkup que havia feito, havia mostrado.
— Com isso esclarecido, eu preciso conversar com a sós um momento — null disse.
Por ser um amigo da família, aquela foi a única situação em que fiquei sem nenhum deles por perto, o alívio foi tão grande mesmo sem entender o motivo.
null, há algo que você não está me contando, não é? — perguntei sabendo que ele estava visivelmente inquieto.
, preciso que você me escute com atenção Há algo que eu queria te contar há algum tempo, mas foi difícil encontrar o momento certo — ele disse com cuidado.
Não respondi, apenas assenti.
— Antes do acidente, faziam anos que você não fala com seus pais porque eles te forçaram em casamento arranjado por motivos comerciais e financeiros mas, algumas semanas atrás eles te levaram contra sua vontade e antes do acidente você ia se casar com um desconhecido, porém, você tomou a iniciativa de fugir quando null veio escondido te buscar e foi assim que você acabou parando nesse hospital — null explicou, aquilo não me assustava ou surpreendia, eu sabia que algo estranho partia daquela família mas não imaginava que outra pessoa estaria envolvida — e agora essa pode ser sua única chance de salvar os três.
— Três? — perguntei assustada. — Você, null e o serzinho que vocês dois fizeram e que aguentou um impacto muito grande no acidente e ainda sobreviveu — Ele disse sorrindo — você precisa sair daqui o quanto antes.
Com o coração acelerado, saio do quarto de hospital e me sento em um banco nos corredores, tentando absorver tudo o que acabei de descobrir. null se senta ao meu lado e, com delicadeza, segura minha mão.
Ele me conta detalhes do passado que eu havia esquecido. Meus pais, preocupados com a reputação da família e envolvidos em negócios, haviam planejado um casamento arranjado com outra pessoa. Eu estava prestes a me casar por conveniência, ignorando completamente o verdadeiro amor que null representava em minha vida.
null, uma pessoa da qual eu não me lembro mas meu coração sim.
— Então aquela pessoa que sempre vinha me observar do lado de fora do quarto era null — comentei mais comigo mesma do que com null — null — o chamei — você precisa me ajudar!
— Você quem manda!

Dia 22
Fuga

null já não estava no hospital, null disse que não seria seguro que ele ficasse ali por mais tempo e mesmo assim ele havia insistido alguns dias, até meu suporto irmão ameaça-lo noites depois. Por isso, nós havíamos nos desencontrado quando eu caminhava pelo hospital em busca de saber quem ele era.
Mas não aconteceu.
null, depois de dizer a minha família que uma anemia havia me debilitado umme colocou em um dos cestos de trocas de roupas limpas dos leitos de hospital com a ajuda da mesma enfermeira que me havia contado sobre o vestido de noiva.

— Pronta? — A enfermeira que levava o carrinho me perguntou antes de sairmos do quartinho.
— Sempre! — respondi recebendo dela um sorriso satisfatório.
Eu e null havíamos contado toda a história e por nossa sorte ela era uma romântica incurável, mesmo que eu e null olhavamos mais a situação como uma tragedia incuravel.
— Vamos tirar você de perto desse bando de abutres — ela disse me cobrindo com o pano.
Saímos e mesmo que eu não visse nada, sabia o caminho que estávamos percorrendo e que a qualquer momento passaríamos por meu irmão na máquina de snacks.
— Enfermeira! — ouvimos a voz do meu irmão e podia ter certeza de que a mesma se irrigeceu ao ouvir ser chamada, assim como a minha respiração prendeu no mesmo momento.
— Tem alguma outra dessas funcionando pelo hospital? — ele perguntou — não sei qual o problema dela, estava normal ontem.
— Que estranho, estava funcionando bem agora pouco mas sim, existe uma exatamente igual no terceiro andar, ala dois — ela respondeu levemente nervosa.
— Ah, certo! Vou pelo elevador então, obrigado — ele respondeu e eu pude ouvir seus passos se afastando.
Ela praticamente começou a correr comigo dentro do carrinho, depois disso.
— Ele vai desconfiar se ver que as duas máquinas estavam desligadas a propósito, precisamos ir mais rápido então segure-se firme que estamos chegando na saída dos fundos apenas para pessoal do hospital — ela disse inquietamente — Doutor null já está te esperando com as coisas que vai precisar.
Passamos pela porta dos fundos escutando gritos pelo meu nome, ou seja, ele já havia descoberto e se ele já havia descoberto provavelmente minha família também.
— Pronto! — ela disse — pode sair, null esta vindo para te ajudar já que você ainda está debilitada, eu preciso entrar e fingir que apenas estava levando os lençóis para dentro.
— Obrigado! — eu disse sorrindo assim que me descobri — te convidamos quando o casamento de verdade acontecer, peço para null te levar.
— Eu ficarei muito agradecida pois eu realmente poderia pegar o buquê e quem sabe desencalhar — ela brincou.
— Vamos? — null disse com pressa — null nos encontrará no aeroporto, estou com suas coisas incluindo passaporte e identificações, falei que precisava para alguns trâmites do hospital.
— Ele já sabe? — perguntei me apoiando em null.
— Ele precisava saber, vocês não estão a salvos vivendo aqui — ele respondeu — por isso estou mandando vocês para minha casa de verão na Flórida e já deixei o contato de uma doutora que se formou comigo, ela vai cuidar de perto esse bebezinho até que eu possa visita-los.
null — o chamei assim que nos sentamos no carro — obrigado, de verdade!
— Vocês merecem isso, null já foi meu melhor amigo antes e eu sei que pisei na bola mas esse é o momento de resolver isso — o olhei confusa enquanto ele dirigia — deixei essa parte de fora ou você não confiaria em mim para te ajudar.
— Você era o noivo! — eu disse, juntando as peças.

Ele sorriu sem graça.

— Desculpa não contar antes, eu sei que pisei na bola mas quero arrumar tudo agora, vocês sempre se mereceram, desde o colégio quando nós namorávamos e você o conheceu por acidente e foi instantâneo, eu sabia que tinha te perdido ali — ele disse — e não me arrependo, porque eu encontrei alguém que eu amasse.
— Eu não fazia ideia, obrigado por me contar — respondi ainda um pouco surpresa.
— Chegamos — ele disse saindo do carro com pressa, olhando seu celular que tocava sem parar — seu irmão está me ligando sem parar então suponho que eles estarão aqui em poucos minutos, você precisa entrar na ala de embarque logo, null já está esperando por você lá — disse me estendendo algumas coisas — seus documentos, dinheiro, algumas roupas que faltaram e isso.
Ele entregou a caixinha com suas alianças e uma fotinho do primeiro ultrassom.
— Ele ainda não sabe, mostre quando já estiverem seguros no ar, em direção a nova casa provisória de vocês, ele vai ficar feliz de saber que um dos maiores sonhos dele que era ter uma família, se realizou com o outro sonho dele já realizado, você.
Abraçar null parecia como um adeus e eu queria que fosse como um adeus, aquela não era minha vida, ali não era meu lugar, mas dali para frente seria o meu destino.
Entrei na ala de embarque escutando gritos do lado de fora, tanto de null me dizendo para ir, quanto de todos da família, que não puderam passar para a sala de embarque assim que eu pisei nela, me fazendo suspirar aliviada.

? — escutei a voz vinda de trás de mim — você não me deixou.
null — repeti seu nome não tão estranho assim.
— Você…
— Não, ainda não, minhas memórias irão voltando conforme o tempo…ou não — respondi entendendo o que ele queria saber.
— Podemos criar outras e esquecer essas juntos.
— Elas fazem parte de nós e provavelmente algum momento eu me lembrarei, mas eu aceito criar novas e melhores com você! — respondi sincera.
Parecia loucura acreditar em uma história assim do nada, mas null me mostrou fotos, vídeos e inúmeras provas de que eu só fui feliz naquela vida enquanto estava com null, eu não tinha porque duvidar.

— Prazer, eu sou o null! — ele disse sorrindo e estendendo a mão.
— Prazer, ! — respondi da mesma forma.

EPÍLOGO

— Ah! — Eu exclamei assim que me sentei — esqueci de te mostrar uma coisa.
Tirei a caixinha com as alianças da mochila e sorri com ele fazendo cara de confuso.
— Isso é um pedido de casamento? — ele perguntou rindo.
— Ainda não, mas provavelmente mais para frente seja — disse sendo sincera — além das alianças a caixa tem mais uma surpresa.
Ele abriu ela por completo, vendo um pequeno envelope grudado na parte de cima.
— O que é?
— Abre!
Ele abriu e sua primeira reação foi diferente do que ela esperava.
Ele ficou mais pálido do que ela esperava.
— Água por favor! — pedi a aeromoça que estava próxima, rindo da cara dele que agora além de pálido, chorava feito criança.



FIM



Nota da autora: Obrigado desde já pela leitura!
Xoxo Caleonis <3





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